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Sociologia
O RACISMO ESTRUTURAL COMO
EXPRESSÃO DAS DESIGUALDADES NO
BRASIL
Caraguatatuba-SP
V.1 - 1 ANO
25/10/2021
RESUMO
Há dez anos, foi instituído o Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do senador Paulo
Paim (PT-RS). A concepção do estatuto tinha como objetivo combater a desigualdade
racial existente no Brasil. Uma década depois, o progresso nesse sentido não foi tão
significativo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
mesmo representando 55,8% da população brasileira, os negros ainda são
discriminados na grande maioria dos setores da sociedade. Em 2018, a taxa de
desocupação entre negros era de 14,1% frente a 9,5% entre brancos. Em questão de
renda, a discrepância também é gritante: em média, os negros recebiam R$ 1.608 por
mês, enquanto brancos recebiam R$ 2.796. Com relação a moradia, 42,8% da
população negra brasileira não tinha acesso a sistema de esgoto frente a 26,5% da
população branca. Na educação, só 10,1% dos negros completou o ensino superior,
enquanto 24% dos brancos alcançaram o mesmo nível educacional. A maior
desigualdade, no entanto, pode ser observada nos dados de violência e
representatividade política. Segundo o IBGE, em 2017, a taxa de homicídios de negros
por 100 mil habitantes era de 43,4, bem mais que os 16 por 100 mil entre os brancos.
Um relatório da Rede de Observatórios da Segurança também revelou que 75% dos
mortos pela polícia são negros. Já na política, por mais que quase metade dos
candidatos a deputado federal em 2018 fosse negra, apenas 24,4% dos deputados
eleitos são pretos ou pardos.
Muito disso está associado ao chamado racismo estrutural, com práticas e políticas
que, ao longo da História brasileira, contribuíram para a marginalização da população
negra no País.
“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à
justiça em todo o lugar.’’
"A Lei de Terras de 1850 é um marco importante, porque a partir daquele momento
ninguém podia mais receber terra, era preciso comprar. Isso restringiu o acesso de
pessoas negras porque não tinham o dinheiro", exemplifica ela. "As pessoas
escravizadas também não podiam frequentar a escola. E pouco antes da abolição, o
Estado brasileiro começou a negociar com outros Estados políticas de imigração com a
intenção de trazer trabalhadores europeus livres, que, naquela visão racista e
eugenista, eram as pessoas que tinham a condição de exercer o trabalho remunerado.
Esses imigrantes foram trazidos ou com emprego garantido ou com um pedaço de
terra produtivo. Essas duas coisas nunca foram oferecidas para a população negra."
"O Brasil tem uma sofisticação no seu arcabouço legal e nas suas práticas racistas que
nunca precisou ter uma placa na porta falando 'proibida a entrada de pessoas negras'.
Nunca precisou ter, porque existe uma série de mecanismos que restringem e sempre
restringiram o acesso de pessoas a determinados lugares", explica Bianca Santana.
"Isso no Brasil sempre foi feito, e esse jeito não declarado pauta o nosso racismo até
hoje."
Ela destaca que os vários estudos feitos sobre o tema e a crescente participação do
investimento social privado na agenda antirracista têm sido primordiais para a
produção de conhecimento sobre o assunto e o combate à desigualdade. "A maior
fragilidade sempre foi a participação do Estado brasileiro no combate ao racismo,
desde a formulação de políticas públicas para minorar as consequências do racismo
até a lei antirracismo, que apresenta enormes dificuldades de aplicação", completa.
Já Bianca afirma que devem ser aplicadas várias ações em conjunto para surtir algum
efeito. "Não tem nada que eu faça isoladamente que vai tornar o Brasil um país não
racista, exatamente porque o racismo se estrutura numa combinação de inúmeros
fatores. Então, para destituir o racismo, eu preciso também de muitas ações
combinadas."
Como exemplos, ela cita políticas primordiais, como ampliar a cota racial nas
universidades também para pós-graduação, garantir uma maior distribuição de
recursos para candidaturas negras nas eleições, aplicar a Política Nacional de Saúde
Integral da População Negra, prevista no Estatuto da Igualdade Racial, combater a
violência policial e o encarceramento em massa de jovens negros e demarcar os
territórios quilombolas, entre outras ações.
"Não adianta discutir, saber o que tem que ser feito e nunca fazer. A gente precisa
fazer tudo isso ao mesmo tempo com excelência para que o Brasil deixe de ser um país
racista, para que o racismo deixe de estruturar essa sociedade", completa ela.
REFERÊNCIAS
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/entenda-o-que-e-o-racismo-estrutural-e-o-seu-impacto-no-
pais,8689e7af223a8e03dc1707fe450b4f81hbia036u.html