AQ
MATTEO BAZZI / EPA
T U
AE
6 NOVEMBRO 2021
Suplemento integrante do Jornal de Notícias.
Não pode ser vendido separadamente.
Na hora / Formação
Adolescentes com empresários
e patrocínios de vedetas P2/3
Reportagem / Ginástica artística
Os segredos de Filipa Martins,
a ginasta voadora portuense P6/7
Dossiê / Treinadores de futebol
Há 28 portugueses pelo Mundo
a dar cartas ao mais alto nível P4/5
CONCEIÇÃO APROVA MAIS
UM CENTRAL EM JANEIRO
Treinador do F. C. Porto dá luz verde ao reforço da defesa na reabertura
do mercado. SAD está na posse de vários dossiês e estuda a melhor opção
“O mercado fica à porta do atento às oportunidades tem quatro centrais de ori- Braga. Há, portanto, um es-
Olival”, é um clássico de de reforçar o plantel. A rea- gem: Pepe, Marcano, paço por preencher e com o
Sérgio Conceição quando é bertura do mercado, em ja- Mbemba e Fábio Cardoso. calendário a não dar tré-
confrontado com questões neiro, aproxima-se a pas- A contratação do coreano guas e os objetivos princi-
sobre reforços. O slogan já
ficou no ouvido, mas o
sos largos e o JN sabe que a
contratação de um defesa
Kim Min-jae não se chegou
a consumar, tendo o defe-
pais intactos, a Administra-
ção procura dar mais um ar-
treinador do F. C. Porto, central merece a validação sa rumado ao Fenerbahçe, gumento para o técnico
em sintonia com a Admi- do treinador portista. de Vítor Pereira, e Diogo atacar com ambição em to-
nistração da SAD, está Atualmente, o plantel Leite foi emprestado ao das as frentes. A.M./N.L.
2 ATAQUE 6 de novembro de 2021 Jornal de Notícias

NA HORA

JOGADORES ADOLESCENTES JÁ
TÊM HÁBITOS DE VEDETAS ADULTAS

Eduardo Pedrosa Costa te a rentabilização do su-
eduardo.p.costa@jn.pt cesso ao alto nível. Os em-
presários também ajudam
FORMAÇÃO O cenário em- os atletas nas escolhas des-
presarial no futebol entra portivas, acompanham-
na vida dos jogadores cada -nos aos jogos longe de casa
vez mais cedo. Muitos jo- e até comparticipam em
vens dos 10 aos 15 anos já exames médicos ou requi-
são agenciados por empre- sitam trabalhos com pre-
sários e, em alguns casos, paradores físicos especiali-
até patrocinados por gran- zados. Auxiliam ainda os
des marcas desportivas. pais a gerirem a carreira
Os agentes garantem a dos filhos, até porque mui-
representação dos futebo- tos deles olham para os
listas em idades precoces, descendentes como uma
de forma a evitarem a con- garantia de futuro.
corrência e tendo em men- O contexto familiar que
certos jogadores vivem fá-
-los, por vezes, querer de-
sistir do futebol e esta von-
tade acentuou-se durante a
pandemia devido à inter-
rupção dos treinos. Peran-
te estas situações, os agen-
tes também procuram mo-
tivar os futebolistas e, em
certas ocasiões, “até inter-
vêm na sua educação”, se-
gundo revelou o agente
Sérgio Leite, ao JN. No en-
tanto, um contrato de re-
presentação entre agente e
jogador, que tem de ser as-
sinado também pelos pais,
não tem validade legal em
idades inferiores a 16 anos.
“Alguns agentes guardam
esses contratos e não os re-
gistam na Federação Portu-
guesa de Futebol, o que por
norma cria litígios quando
o jogador quer mudar de
empresário”, revelou Sér-
gio Leite.
Atualmente, as grandes
marcas desportivas procu-
ram patrocinar os jogadores
desde cedo e entre eles sur-
gem Gonçalo Moreira (Ben-
fica), Rodrigo Mora (F. C.
Porto) e Gabriel Silva (Spor-
ting), o primeiro deles com
15 anos, os outros dois com
14. Basta ver as redes sociais
dos três para perceber como
aproveitam os milhares de
seguidores para divulgarem
o material desportivo das
marcas. Muitas delas obser-
vam os jogadores adoles-
centes para avaliarem as
suas capacidades; outras
medem as interações nas re-
des sociais. Em troca, as
marcas oferecem anual-
mente material desportivo
até um determinado valor
que, apurou o JN, pode au-
mentar se, por exemplo, o
jogador representar a sele-
ção nacional ou até se for
campeão. Em casos raros, o
futebolista pode receber um
prémio de rendimento com
remuneração monetária.
O agenciamento e os pa-
trocínios são algo familiar
para estes jovens. “São situa-
ções normais e não é por isso
que vão deixar de trabalhar.
Sabem que sem dedicação
dificilmente vão triunfar no
futebol”, disse João Plantier,
antigo treinador na acade-
mia do Sporting, ao JN. 
 Jornal de Notícias 6 de novembro de 2021
Muitos futebolistas
de 14 e 15 anos são
representados por
empresários e até
patrocinados por
marcas desportivas
KEVIN DODGE / GETTY IMAGES
MARKETING
MARCAS ESTÃO DE
OLHO NO FUTURO
Expectativa e esperança no ta-
lento. É esta a filosofia das gran-
des marcas desportivas na altura
de patrocinar um jovem futebo-
lista. O plano passa por apostar
em jogadores em idades muito
precoces, que já sejam promes-
sas, de forma a colherem os fru-
tos do investimento mais tarde.
Esta estratégia tem um custo fi-
nanceiro menor, quando compa-
rado em fazer um contrato com
um atleta já consolidado. “É
tudo menos um trabalho aleató-
rio. As marcas têm equipas pro-
fissionais para determinar os jo-
gadores que vão apostar”, expli-
cou o especialista em marketing
Daniel Sá, ao JN. Geralmente, o
critério de seleção destas empre-
sas passa por três aspetos: o des-
portivo, onde há uma avaliação
do potencial do atleta; a visibili-
dade, sobretudo no trabalho fei-
to nas redes sociais; e a persona-
lidade, que tem de ir ao encon-
tro dos atributos da marca. “As
pessoas associam o jogador à
imagem que a marca representa,
então é normal que estas se
queiram associar a atletas que
tenham atitude e espírito de
Muitos jovens conquista”, referiu o diretor do
em Portugal IPAM. Para o futebolista, ter um
já são contrato de patrocínio numa
procurados idade tão jovem cria um “senti-
por agentes mento de satisfação pessoal” e
e marcas dá uma “injeção de confiança”,
desportivas tendo em conta que é uma for-
ma de “validar o potencial” do
jogador. “Com a visibilidade que
estes jovens começam a ter nas
redes sociais, acabam por se tor-
nar micro-influenciadores e o
mundo vive destas pequenas re-
ferências, não são apenas os jo-
gadores mais famosos que ven-
dem os produtos das grandes
marcas”, disse Daniel Sá.
ATAQUE 3
Promessas
com patrocinadores
Caso de Neymar
abriu as portas
a Felicitas Flores
Xavi Simons Kauan Basile
 18 anos  8 anos
Menina argentina, de oito anos, tornou-se
 PSG  Santos
na jogadora mais jovem a ser patrocinada
 Médio  Avançado
O nome homenageia Chamou à atenção da
PUBLICIDADE Em 2005 pre a ser patrocinado. Tam-
Xavi Hernández e o Nike como jogador
Neymar entrou para a histó- bém no Santos, o talento de
cabelo faz lembrar da equipa de sub-9 ria do futebol, muito antes Rodrygo fez com que a mar-
Valderrama. As quali- do Santos, na moda-
de brilhar nos grandes pal- ca apostasse no brasileiro,
dades atraíram a Nike lidade de futsal. Assi- cos europeus. O brasileiro que viria a juntar-se ao Real
a patrocinar Xavi Si- nou um contrato de superou o registo de Messi, Madrid em 2019, com 18
mons a partir dos 9 três anos, com opção que aos 14 anos se tornou anos.
anos. Desde os 14 que de mais dois, com a parceiro da Adidas. Com A vontade da Nike em
é observado por Raio- conhecida marca apenas 13 anos de idade, as- aliar-se a jogadores cada vez
la, famoso agente. desportiva. sinou um contrato de patro- mais jovens culminou em
cínio com a Nike, fruto do setembro, quando assinou
talento que já demonstrava um vínculo com Felicitas
dentro do campo, que se vi- Flores, de apenas oito anos.
ria a confirmar poucos anos A jovem jogadora argentina
depois, tendo-se estreado compete nos escalões de
na equipa principal do San- formação do Estudiantes La
tos com 17 anos. Esta aposta Plata e tornou-se, a par de
Shane Kluivert Willian Nascimento da Nike foi histórica, visto Kauan Basile, na futebolis-
 12 anos  11 anos que nunca um jogador tão ta mais jovem a ter um con-
 Barcelona  Flamengo jovem se tinha tornado pa- trato de patrocínio. Apesar
 Avançado  Avançado trocinado por uma grande da idade bastante prematu-
marca desportiva. Este “tiro ra, não escondeu o orgulho
Filho do antigo cra- É um dos destaques no escuro” revelou-se acer- na parceria. “A assinar con-
que do Barcelona Pa- do futsal do Flamen- tado, tendo em conta que trato de três anos com a
trick Kluivert, her- go (enquanto não Neymar se tornou um dos Nike”, escreveu no Insta-
dou a veia goleadora. passa para o futebol) melhores jogadores do gram, acrescentando que “o
Assinou um contrato e tornou-se patroci- Mundo e um dos mais fa- mais bonito é que está es-
de longa duração com nado pela Nike aos mosos do planeta, com cen- crito ‘jogadora de futebol’.
a Nike aos 9 anos de 10 anos, tendo fecha- tenas de milhões de segui- Obrigada a todos os que
idade. Já tem mais de do o contrato junta- dores nas redes sociais. apoiam o meu sonho”.
100 mil seguidores mente com os pais e O contrato abriu portas a Curiosamente, Felicitas
no Instagram. o empresário. outros nomes, como foi o Flores tem Lionel Messi
exemplo de Rodrygo. Em como ídolo, a quem dedi-
2012, com apenas 11 anos de cou um vídeo a fazer mala-
idade, assinou com a Nike, barismos com a bola. O
superando Neymar como o avançado respondeu e cha-
jogador mais jovem de sem- mou-lhe de “genial”. 
Enzo Peterson Arthur Lima
 11 anos  11 anos
 São Paulo  Santos
 Avançado  Médio
Uma das grandes fi- Várias vezes cam-
guras do futsal juve- peão na América do
nil, já conquistou Sul ao serviço do
torneios internacio- Santos, referiu que
nais e acumulou “é um orgulho” ser
prémios indivi- patrocinado pela
duais. Assinou con- Adidas, sobretudo
trato com a Nike por ter alcançado
quando tinha ape- esse feito aos 11
nas 10 anos de idade. anos de idade.
Felicitas beneficiou do patrocínio precoce a Neymar
4 ATAQUE 6 de novembro de 2021 Jornal de Notícias

DOSSIÊ

Treinadores portugueses nas primeiras ligas internacionais

Por idade, clube e classificação
- Número de títulos Treinou na Primeira Liga Portuguesa

Finlândia
Ricardo Duarte 41 anos - Oulu (despromovido)

Hungria Rússia
João Janeiro 40 anos - Kisvárda (1.º) Rui Vitória 51 anos - Spartak Moscovo (9.º) 8
Lituânia
Inglaterra Miguel Moreira 37 anos - FK Riterial (6.º)
2 Bruno Lage 45 anos - Wolverhampton (7.º) David Afonso 31 anos - Banga Garzdai (9.º)

Luxemburgo Turquia
Carlos Fangueiro 44 anos - Dudelange (1.º) Vítor Pereira 53 anos - Fenerbahçe (7.º) 8
Pedro Resende 44 anos - Differdange (5.º)
Usbequistão
Itália
Micael Sequeira 48 anos - Lokomotiv Tashkent (6.º)
25 José Mourinho 58 anos - Roma (4.º)
Qatar
Malta
Luís Castro 60 anos - Al Duhail (2.º) 1
Honduras Tozé Mendes 42 anos - Valleta FC (4.º)
Fernando Mira 59 anos - CD Vida (1.º)
Omã
Sudão Bruno Pereira 39 anos - Al Nasr (1.º)
1 Ricardo Formosinho 65 anos - Al-Hilal Om. (1.º)

Angola
Alexandre Santos 44 anos - Petro Luanda (1.º)
Paulo Torres 49 anos - Recreativo Libolo (5.º) Arábia Saudita
3 Leonardo Jardim 47 anos - Al Hilal (4.º)
Equador 3 Pedro Emanuel 46 anos - Al Nassr (7.º)
Renato Paiva 51 anos - Ind. Del Valle (1.º) Daniel Ramos 50 anos - Al-Faisaly (10.º) Indonésia
Hélder Cristóvão 50 anos - Al-Hazm (11.º) 1 Eduardo Almeida 43 anos - Arema (3.º)
Brasil 1 José Gomes 51 anos - Al-Taawon (16.º)
Abel Ferreira 42 anos - Palmeiras (2.º) Moçambique
1 Hélder Duarte 39 anos - Black Bulls (1.º)
2
Nélson Santos 37 anos - Ferroviário de Nampula (10.º)

TREINADORES PORTUGUESES
INFOGRAFIA JN

Onde a pegada portugue-

sa, que nunca mais foi a
mesma desde o fenómeno
José Mourinho, mais se faz

CONTINUAM A DAR CARTAS

sentir é na Arábia Saudita,
país cujo principal campeo-
nato conta com cinco trei-
nadores lusos. Seguem-se
os campeonatos de Angola,
Lituânia, Moçambique e
Luxemburgo, que contam
com dois patrícios cada um.

CONCEITUADOS SOFREM
Ao todo, há 28 técnicos espalhados pelo Mundo, a comandar equipas Na Rússia e na Turquia mo-
em primeiras divisões. Dois são campeões e cinco líderes ram dois dos mais sonantes
treinadores portugueses,
mas a vida não está famosa
Vasco Samouco fora. A causa, contudo, con- se sabe, nem há como sa- e a Premier League exigem campeões em Moçambique para Rui Vitória e Vítor Pe-
desporto@jn.pt tinua a ter vários defenso- ber, mas não restam dúvi- – se não diária pelo menos e no Sudão, respetivamen- reira. O ex-treinador do
res, espalhados até aos lu- das de que continuam a ter semanal –, outros, a maio- te, ao mesmo tempo que Benfica ainda não conven-
Nuno Espírito Santo não gares mais improváveis e mercado e a ser desejados. ria, constroem a carreira manda olhar para a Hun- ceu no Spartak Moscovo e,
foi feliz no Tottenham e re- muitos a terem impacto Das Honduras à Lituânia, quase incógnitos, mas na gria (João Janeiro), para o ao fim de 13 jornadas, ocu-
cebeu guia de marcha ao positivo. A contagem do JN do Sudão à Indonésia, do mesma sobre troféus, títu- Equador (Renato Paiva), pa o nono lugar e está mais
fim de quatro meses no co- encontrou 28 técnicos lusi- Equador ao Uzbequistão, los e feitos que mantêm o para o Luxemburgo (Carlos perto da zona de descida do
mando técnico. Depois de tanos em ação na principal de Malta à Finlândia. Não treinador português em Fangueiro), para as Hondu- que do primeiro lugar. Já
um trabalho relevante no divisão de vários países e estão em toda a parte, mas alta consideração. A segun- ras (Fernando Mira) e para Vítor Pereira, campeão no
Wolverhampton, eis um em quase todos os conti- quase. E se José Mourinho, da metade de 2021, por Omã (Bruno Pereira), cujos F. C. Porto, até começou
percalço na carreira que nentes. Se são os melhores em Itália, e Bruno Lage, em exemplo, já fez de Hélder campeonatos são coman- bem, mas o Fenerbahçe co-
também tira força à defesa do Mundo, como defen- Inglaterra, recebem a aten- Duarte (ver página ao lado) dados por equipas que fa- meçou a perder gás e leva
do treinador português lá dem os mais ferrenhos, não ção mediática que o Calcio e de Ricardo Formosinho lam português no banco. três derrotas seguidas. 
Jornal de Notícias 6 de novembro de 2021 ATAQUE 5

FLASH

6.º lugar
Posição média
“Tocou-me muito
numa liga com
20 equipas receber os parabéns
América 46,7 do presidente da FPF”
3 Europa Idade média
11
África Treinador Hélder Duarte
28 mais velho Treinador do Black Bulls (Moçambique)
5 treinadores 65 anos
ativos
Ricardo
Formosinho O que significa ser o atletas que não vivem na be. Ganhámos vários tro-
Al-Hilal,
Al Hilal, Su
Sudão mais recente membro academia... A ideia do pro- féus na formação e todo
Ásia/Oceânia de uma lista restrita de jeto, que é muito alavan- esse trabalho culminou
treinadores portugue- cado na formação de joga- agora com este título.
9 ses que são campeões no dores, era tentar ter a
56
Títulos
estrangeiro?
É um orgulho. Estamos a
equipa principal no Mo-
çambola (I Divisão) para
Espera que este feito lhe
traga mais visibilidade?
falar de treinadores com haver mais exigência para É normal que isso aconte-
Treinador muito nome e prestígio, os miúdos, mas nunca ça, mas quando vemos
mais novo
estar nesse lote significa pensamos ser campeões. que em Portugal há tantos
31 anos muito. Infelizmente, nin- treinadores sem traba-
David Afonso guém acompanha o fute- E como é que o Hélder lho... Acredito que pode
Banga Gargzdai, bol moçambicano e por Duarte chegou aqui? abrir portas, mas também
Lituânia isso tocou-me especial- Comecei a treinar na for- tenho a noção de que é di-
mente ter recebido uma mação do Paredes, depois fícil chegar a uma I ou II
carta do presidente da Fe- tive uma experiência com Divisão portuguesa. Já
José Vítor Rui deração Portuguesa de Fu- o mister Fernando Valen- houve vários treinadores
Mourinho Pereira Vitória tebol (Fernando Gomes) a te e entrei na formação do portugueses campeões
25 títulos 8 títulos 8 títulos dar-me os parabéns. F. C. Porto e foi nessa altu- aqui e estão sem clube.
ra que vim a Moçambique Quando se sai para fora é
O Black Bulls é um clu- pela primeira vez, em difícil. A minha expecta-
be fundado em 2008 e 2016, fazer um trabalho tiva é apenas continuar a
Paulo Fonseca, NES e que só esta época se es-
treou na I Divisão de
de prospeção de talentos.
Através disso, tomei co-
evoluir.

André Villas-Boas à espera Moçambique. Como se

Nova época tirou alguns ilustres das amarras do desemprego, mas
três dos mais conceituados continuam a aguardar pela proposta certa
SEM CLUBE Esta temporada
trouxe novos capítulos às
carreiras de José Mourinho,
Rui Vitória, Marco Silva,
Bruno Lage ou Luís Castro,
alguns dos que acabaram a
época anterior já sem clube
ou a saber que o desempre-
go os esperava. Mas outros
mantêm-se no impasse e na
ignorância quanto ao futu-
ro próximo. Este lote alar-
gou-se recentemente, com
Nuno Espírito Santo a jun-
tar-se a Paulo Fonseca e a
André Villas-Boas, três dos
nomes mais fortes da causa
portuguesa. Pedro Caixinha
e José Morais também
aguardam pelo proposta
certa, se é que ela existe,
para voltarem ao ativo.
No fundo, é a vida de trei-
nador. Ter as malas sempre
prontas, esperar que o telefo-
ne toque e não renegar qual-
quer perspetiva. Para uns,
muitos, agarrar-se a qualquer
coisa é uma necessidade; há
outros, poucos, que podem
dar-se ao luxo de escolher.
André Villas-Boas ainda esta
semana reafirmou o desejo
de estar num Mundial. Tam-
bém Paulo Fonseca pode dar-
-se ao luxo de esperar, depois
de cinco anos entre Shakhtar
Donetsk e Roma. Nuno Espí-
rito Santo também é, agora,
um alvo apetecível, susten-
tado pelos anos à frente do
Wolverhampton.
Entre os desempregados
contam-se outros nomes
de peso, alguns deles com
títulos de campeão para se
valorizarem: Pedro Caixi-
nha, sem clube desde janei-
ro, foi campeão no México;
José Morais vem de três tí-
tulos em três anos (dois na
Coreia do Sul e outro na
Arábia Saudita). Destaca-se
ainda Rui Faria, ex-adjunto
de José Mourinho e que
teve a primeira, e única, ex-
periência como treinador
principal no Al-Duhail (Ca-
tar). Está sem clube desde
janeiro de 2020.
explica o sucesso?
A qualidade das infraes-
truturas e as condições de
trabalho fazem a diferen-
ube tem condições
ça. O clube
nhum outro tem.
que nenhum
Temos tudo e vamos ao
nor, algo que não é
pormenor,
muito habitual por aqui.
Temoss uma academia
com trêsês campos relva-
sas para os atletas
dos, casas
viverem,m, departamentos
médicos os e de nutrição,
chefes de cozinha, giná-
emos autocarros
sios, temos
para ir buscar e levar os
nhecimento deste proje-
to e vim para cá em defi-
nitivo em 2018 para coor-
denar a academia do clu-
Quem o contratar fica
com que tipo de treina-
dor?
Eu sou professor de for-
mação e gosto de ensinar,
faz evo-
de explicar, de fazer
treinad que
luir. Sou um treinador
gosta de ter bola e de ferir
o adversário, mas as mi-
nhas equipas estão prepa-
pa jogar
radas para tudo, para
de várias formas e para
p ex-
so
plorar diversas soluções.
Defensivamente, a ideia é
sempre recuperar a bola o
mais rápido possí
possível, de
preferência logo no meio-
-campo ofensivo. 
6 ATAQUE 6 de novembro de 2021 Jornal de Notícias

REPORTAGEM

O LADO “B”
lelas assimétricas dos mun-
diais. Mas nada foi feito sem
sacríficio, muito pelo contrá-
rio. Por trás da criadora do
ca e eu acredito que posso fa- guesa, como arroz de maris-
zer mais. Sei que fiz coisas co. “Nos mundiais do Japão,
que ainda ninguém tinha a comida não era grande coi-
conseguido, mas tento não sa. Tive saudades da nossa co-

DA VOADORA
movimento “Martins”, há
concentração, exigência e
muito, muito esforço de
uma atleta tímida mas que
me conformar. Penso sem- mida”, conta, entre risos. O
pre no que posso alcançar a cuidado com a alimentação
seguir e centrar-me nos é constante – embora não te-
meus objetivos”. nha uma dieta muito rígida,

PORTUENSE
Filipa Martins treina todos os dias, estuda Ciências
do Desporto, gosta de arroz de marisco e adora ténis
Sofia Esteves Teixeira
desporto@jn.pt
GINÁSTICA Filipa Martins ti-
nha apenas quatro anos
quando começou a praticar
ginástica. O caminho come-
çou bem cedo e por ideia dos
pais, que a decidiram inscre-
ver na modalidade por ser
uma criança com muita
energia, inquieta e travessa.
O que parecia ser apenas
uma brincadeira tornou-se
num caso sério e hoje, passa-
dos 21 anos, a ginasta natural
do Porto fez história ao con-
seguir o que até então nin-
guém havia conseguido no
nosso país: sétimo lugar no
all-around e oitavo nas para-
quer sempre mais. “Fiz mui-
tos sacrifícios. Na escola, os
meus amigos iam sempre
lanchar e combinavam coi-
sas mas eu nunca podia ir,
porque tinha treinos. Não
me arrependo de nada!”, diz,
orgulhosa, ao JN.
Filipa Martins concilia a gi-
nástica com a licenciatura na
FADEUP em Ciências do
Desporto, curso que vai aca-
bar este ano. Quando termi-
nar a carreira, quer continuar
ligada à modalidade e ser
treinadora. Mas o fim, esse,
ainda está longe para a atle-
ta de 25 anos: “Há cada vez
mais longevidade na ginásti-
A atleta, que também gos-
ta de fotografia, passa mui-
tas horas, como é de esperar,
no Acro Clube da Maia e, por
isso, opta sempre por espa-
ços abertos para passear
quando não tem sessões de
trabalho. Os treinos são sem-
pre feitos com as “playlist”
que criou no Spotify e o trei-
nador é como família. “Aca-
bam por ser como os nossos
segundos pais, porque esta-
mos muito tempo com eles.
O nosso sucesso é o sucesso
deles e acabamos por ter
uma relação familiar”, subli-
nha. Bom garfo, Filipa é fã de
comida tipicamente portu-
tem cuidados – e, no que aos
sonhos diz respeito, está
mais do que realizada: dese-
java participar nos Jogos
Olímpicos, feito que já con-
seguiu duas vezes. “Mas
quero ir a mais”, advertiu.
Apesar de não a ter visto
competir, Dominique Mo-
ceanu é a referência de Filipa
na modalidade, mas não é só
a ginástica que chama a aten-
ção da portuense: “Gosto de
ténis, saltos para a água e na-
tação sincronizada. O Rafael
Nadal também é uma gran-
de referência para mim”. Tal
como Filipa já deve ser para
muita gente. 
Jornal de Notícias 6 de novembro de 2021 ATAQUE 7

FLASH

PHILIP FONG / AFP

“É uma atleta muito

focada, profissional
e experiente. Sabe
bem o que quer”

5
José Ferreirinha
Treinador

IVO PEREIRA/GLOBAL IMAGENS

medalhas
A ginasta tem cinco me-
dalhas em Taças do Mun-
do de ginástica artística:
uma de ouro, outra de
prata e três de bronze. A
de ouro foi garantida na
trave, em 2019, na cidade
de Guimarães.

2
Jogos Olímpicos
A atleta, de 25 anos, do
Quando é que conheceu
a Filipa?
Já a conheço há muitos
anos. Eu era treinador ad-
cebe quem consegue e vai
vingar. Mas ela sempre
foi talentosa.

Acro Clube da Maia par- junto no Sport Clube de Treinar em pandemia foi
ticipou nos Jogos Olím- Porto, onde ela treinava um desafio?
picos do Rio de Janeiro com a Cristina Gomes, Foi muito complicado
2016, garantindo o 37. º durante cinco ou seis para todos. E aí a Filipa
lugar. Em Tóquio 2020 anos. Depois, vim para o também se destacou pela
ficou na 43.ª posição. Acro Clube da Maia. E, em forma como encarou e se
janeiro de 2019, a Filipa preparou. Aproveitou
mudou-se para aqui tam- para recuperar de algumas
bém. É um privilégio tê-la lesões nas costas e os pés.
no clube. Foi muito complicado en-
Um dia normal na vida de uma atleta de elite quanto não pudemos ir ao
Como é que é trabalhar ginásio. Mas quando pu-
com ela? demos, houve também
É uma atleta muito foca- muito tempo sem compe-
07.00 08.15 10.15 16.00 19.00 22.30 da, profissional e expe-
riente. Sabe muito bem o
tições. Houve momentos
mais difíceis do que ou-
que quer, conhece bem o tros. O ano de 2020 foi
corpo. Tem algumas limi- muito complicado.
Cedo Começa Vai para Há mais Termina o Hora de tações e tem tido alguns
erguer o treino as aulas um treino dia no clube ir dormir constrangimentos, mas Como treinador, como
lida muito bem com isso. se sente por ver uma gi-
O dia de Filipa Pouco depois Terminada a Depois de um Se o segundo Dependendo É uma adulta e uma mu- nasta chegar tão longe?
Martins come- das oito da ma- sessão de tra- dia de aulas, a treino do dia da hora a que lher. É muito diferente É muito bom, dá-nos um
ça bastante ce- nhã, Filipa balho da ma- ginasta de 25 for às 16 horas, termina a se- treinar uma adulta, com- grande conforto. É uma
do. Se tiver Martins come- nhã, Filipa anos sai da fa- Filipa regressa gunda sessão parando com uma atleta recompensa pelos sacri-
treino de ma- ça a treinar. A Martins segue culdade para à casa às 19 ho- de trabalho no mais jovem. fícios que fazemos. Ela é
nhã, a atleta ginasta prepa- depois para a fazer mais um ras. Caso tenha clube, Filipa especial. Porque apesar
acorda às sete ra-se todos os FADEUP (Fa- treino. A ses- aulas até mais Martins deita- Esperava que ela chegas- de ter 25 anos, uma ida-
horas para co- dias mas há três culdade de são da tarde é tarde e come- se entre às se tão longe? de considerada avançada
meçar o dia. em que tem Desporto da mais longa – çar a treinar às 22.30 e às 23 No início, não. Há muitas na ginástica, ainda tem
Toma o peque- duas sessões de Universidade pode durar três 19, a sessão de horas. A atleta jovens que começam aos uma margem de evolu-
no-almoço e sai trabalho. Cada do Porto), onde horas, depen- trabalho termi- valoriza muito cinco/seis anos, há sem- ção. E isso tem sido mo-
para mais uma treino da ma- está a tirar a li- dendo das ho- na às 21.30 ho- o descanso pre atletas mais talento- tivo de comentários com
sessão de traba- nhã tem uma cenciatura em ras a que sai ras. Segue-se o para estar na sas do que outras e só pas- treinadores de outros
lho no Acro duração de Ciências do das aulas na jantar e o des- melhor forma sado os anos é que se per- países . 
Clube da Maia. duas horas. Desporto. universidade. canso. possível.
8 ATAQUE
MOTOGP
FALCÃO VOA PARA TENTAR
MELHORAR E FAZER HISTÓRIA
No GP de Portugal, Miguel Oliveira
veira tenta superar
poca passada
o nono lugar do Mundial da época
Ricardo Rocha Cruz
desporto@jn.pt
MOTOGP Duas semanas depois
de Fabio Quartararo (Yamaha)
ter garantido o título em Misa-
no, as altas velocidades do Mun-
dial de motociclismo estão de
regresso ao Autódromo Inter-
nacional do Algarve para um
Grande Prémio que reúne vá-
rios ingredientes de luxo.
No asfalto onde no ano passa-
do fez magia e conquistou, de
ponta a ponta, a versão 2020 do
GP de Portugal, Miguel Olivei-
ra terá, uma vez mais, a oportu-
nidade de somar pontos precio-
sos para melhorar a história.
Com 16 provas disputadas, o
Falcão da KTM chega à penúlti-
ma prova do ano na 10.ª posição,
fruto dos 92 pontos que já arre-
cadou e, matematicamente,
ainda pode alcançar o sexto lu-
gar, que atualmente é ocupado
por Marc Márquez (Honda). O
piloto espanhol, seis vezes cam-
peão do mundo, tem 142, mas
vai falhar a corrida algarvia de-
vido a lesão.
Com 50 pontos ainda em dis-
puta, o piloto natural de Alma-
da está a 14 do nono posto (lu-
gar que alcançou na época pas-
sada e melhor de sempre de um
português) e que atualmente é
ocupado por Maverick Viñales
(Aprilia). Já o espanhol Aleix Es-
pargaró, também da Aprilia, é
oitavo, a 21 pontos do portu-
guês. E, neste momento, tudo é
possível para Miguel Oliveira,
que tem especial gosto pela par-
te final da época.
Basta olhar para o histórico:
em 2015, ainda em Moto3, con-
seguiu dois segundos lugares e
três vitórias nas últimas cinco
corridas ; em 2017 venceu as úl-
timas três provas do Mundial de
Moto2; em 2018, aindanda em Mo-
to2, conquistou um segundo lu-
gar e uma vitória nasas duas últi-
mas provas; e o ano o passado, já
hou a época
na classe rainha, fechou
garve.
com o triunfo no Algarve.
idual de Oli-
Além da luta individual
veira, o GP do Algarverve poderá
ser decisivo em mais is duas ba-
talhas: o título de equipas e
epois
de construtores. Depois
de ter conquistado oa
principal coroa,
Quartararo quer,
agora, ajudar a
Monster Energy
Yamaha, que che-
ga ao Algarve com
13 pontos de avan-
ço em relação à Du-
cati Lenovo, a vencerr
o título de equipas. Já
no Mundial de Cons- ns-
trutores é a Ducatii que
leva vantagem, com m mais
maha. 
12 pontos que a Yamaha.
TREINOS LIVRES
PRIMEIRO DIA ACABA
COM O 19.º LUGAR
GAR
Miguel Oliveira terminou
minou
no 19.º lugar o primeiro
meiro dia
de treinos livres, que
ue foi
ncês Fa-
dominado pelo francês
bio Quartararo (Yamaha),
maha),
que já assegurou o título
mundial. Depois dee ter
eira ses-
sido o 18.º na primeira
orou o
são, Oliveira melhorou
935 mi-
registo para 01.40,935
ndos do
nutos, a 1,545 segundos
meira
mais rápido. A primeira
fase de qualificaçãoo arran-
ras, e a
ca hoje, às 14.10 horas,
segunda disputa-se 25 mi-
nutos depois.
6 de novembro de 2021 Jornal de Notícias
Época com
altos e baixos
28 março
Na estreia como piloto da
equipa de fábrica da KTM, Mi-
guel Oliveira conseguiu um
13.º lugar. O piloto luso ainda
chegou a rodar no top-10, mas
acabou por perder ritmo na
segunda metade da corrida
que abriu a época 2021.
18 abril
De regresso ao Algarve,
on
onde em 2020 fechou a
époc com uma vitória, Oli-
época
veir teve um dia para es-
veira
quec Caiu na sexta volta
quecer.
ape de ter terminado a
e apesar
Miguel Oliveira corr
corrida não conseguiu me-
(KTM) venceu o lh que o 16.º lugar.
lhor
Grande Prémio de
Portugal em 2020 16 maio
Em França,
F na quinta corri-
d temporada, o Falcão
da da
acab por desistir depois
acabou
ca na 12.ª volta. Na oi-
de cair
tava e nona provas e, mais
recentemente, na 16.ª, Oli-
recen
veir também abandonou
veira
por quedas.
30 maio
primeiro grande momen-
O pri
to de
d 2021 ocorreu em Itá-
lia, com Miguel Oliveira a
sub
subir ao segundo lugar do
pódio. Viria a repetir o
resultado em junho,
no circuito de Sa-
chsenring, Alemanha.
06 junho
Foi na vizinha Espa-
nha que Miguel Oli-
veira viveu o melhor
m
momento em 2021. De-
po
pois de partir em quarto,
o Fal
Falcão voou para a vitória
num
numa corrida que o mesmo
ap
apelidou de “perfeita”.
Jornal de Notícias 6 de novembro de 2021
INQUÉRITO
DA SEMANA
POR Ricardo Rocha Cruz
Após a última jornada da Liga
dos Campeões, acredita no
apuramento do trio português?
Henrique Calisto
Treinador
F. C. Porto
e Sporting
têm exibido
melhor futebol
Acreditar, acredito. Sendo
que uns têm mais possibili-
dades que outros. O F. C.
Porto depende de si mesmo
e tem condições para seguir
em frente. O jogo com o Li-
verpool é, teoricamente, o
mais difícil, mas na derradei-
ra jornada vai ter pela frente
o Atlético de Madrid e, no
Dragão, o F. C. Porto é ainda
mais forte. O Sporting está
numa situação semelhante e
até pode garantir a passagem
já no próximo jogo. Já o Ben-
fica tem uma tarefa mais
complicada, mas não me pa-
rece que seja impossível. Em
termos de jogo jogado, F. C.
Porto e Sporting têm estado
melhor e ambos apresentam
uma qualidade de jogo que
aumenta as perspetivas
quanto ao possível sucesso.
O Benfica ainda vai a tempo
de mostrar o seu melhor e de
sair também feliz.
Vasco Seabra
Treinador
São capazes
de jogar com
qualidade e
competência
Sim. Acredito que todas as
equipas têm condições de
seguir em frente. Benfica vai
ter teste decisivo com o Bar-
celona, mas tem possibilida-
des de ser competitivo e dis-
cutir o jogo. F. C. Porto e
Sporting têm também de-
monstrado nos seus grupos
que vão discutir todos os jo-
gos e dessa forma acumular
pontos. Naturalmente os
embates com Atlético Ma-
drid e Dortmund assumem
importância elevadíssima
porque são neste momento
os adversários a competir
pelo lugar que dá acesso aos
oitavos. Mas as nossas três
equipas na Champions estão
a mostrar que podem, e con-
seguem, estar a bom nível.
Em alguns jogos com algu-
ma infelicidade no resultado
pelo que produziram, mas
capazes de jogarem com
qualidade e competência.
Rui Quinta
Treinador
Contra as
expetativas
caminham
nesse sentido
Contra todas as expetativas,
as três equipas portuguesas
estão a caminhar nesse sen-
tido. Em grupos altamente
desafiadores, mas a duas jor-
nadas do fim, e por mérito
próprio, todas elas têm con-
dições para poderem avan-
çar para os “oitavos”. É difí-
cil fazer comparações por-
que são realidades e adversá-
rios distintos. O que mostra-
ram até aqui foi que são ca-
pazes de o conseguir. A di-
mensão da Champions é gi-
gantesca e esta é uma opor-
tunidade extraordinária para
os jogadores crescerem. Por-
que só se pode evoluir em
contextos de adversidade.
Não olho para o folclore que
por vezes se faz em torno
dos resultados. Só me inte-
ressa o desempenho. E aí,
nesse ponto específico, as
três equipas têm estado
muito bem.
João Aroso
Treinador
Sim, mas com
níveis de
possibilidades
diferentes
O F. C. Porto vai a Liverpool,
que com o primeiro lugar ga-
rantido deverá poupar joga-
dores. Frente ao Atlético
Madrid, jogando ao nível ha-
bitual na Champions tem
tudo para vencer. Antes da
estreia com Ajax, considera-
va que o Sporting tinha ca-
pacidade de se bater com os
neerlandeses e o Dortmund.
No rendimento habitual
com Amorim, tem tudo para
bater o Dortmund e pontuar
frente a um Ajax com o pri-
meiro lugar assegurado. O
Benfica jogará em Barcelona
já com Xavi à frente da equi-
pa. Apesar do pouco tempo
para implementar ideias,
face à paragem para sele-
ções, haverá a tal “chicotada
psicológica”. Se perder, fica
fora. Se vencer, basta ganhar
ao Kiev em casa. Se empatar,
ficará dependente do que o
Barça fizer em Munique.
ATAQUE 9
OPINIÃO
ADRIANO ROCHA
Editor-Adjunto
Silêncio e sede
de protagonismo
na arbitragem
“Mínima interferência, máximo benefício”. É
com este sugestivo título que a página da Fe-
deração Portuguesa de Futebol nos fala da in-
trodução do vídeo-árbitro. Se é verdade que a
interferência do VAR tem sido mínima – aliás,
começam a ser demasiadas as vezes em que,
qual Pôncio Pilatos, lava as mãos em vez de aju-
dar a defender a verdade desportiva –, o bene-
fício, que existe, está longe de ser máximo.
Pelo contrário.
Os árbitros continuam, semana após sema-
na, nas bocas do mundo, e pelas piores razões.
Por mais queixinhas que a Associação Portu-
guesa de Árbitros de Futebol (APAF) faça na
justiça desportiva, nunca tirará a razão a quem
se lamenta dos erros grosseiros dos seus asso-
ciados, sejam eles juízes de campo ou vídeo-ár-
bitros. Esta rápida intervenção corporativista
da APAF, às vezes por declarações banais de
quem se sente prejudicado – “Não tem compe-
tência ou precisa de ir ao oculista”, como dis-
se, por exemplo, Sérgio Conceição –, mais não
parece do que uma desesperada tentativa para
desviar a atenção de erros de palmatória que,
incompreensivelmente, já nem o VAR parece
ter interesse em emendar, apesar da panóplia
tecnológica que tem ao dispor. Foi o que se pas-
sou no F. C. Porto-Boavista, um dos últimos jo-
gos em que o árbitro (Tiago Martins) e o VAR
(Nuno Almeida) fizeram um péssimo trabalho.
Era com a qualidade das arbitragens que a
APAF devia realmente preocupar-se, em vez de
criar cortinas de fumo. Mas se a sede de prota-
gonismo da APAF começa a roçar o rídiculo,
também se lamenta o silêncio do Conselho de
Arbitragem (CA). Não basta mandar Tiago Mar-
tins e Nuno Almeida para a jarra. Gostaria de sa-
ber que critérios levaram o CA a achar que Tia-
go Martins era o árbitro indicado para apitar o
F. C. Porto-Boavista após a polémica atuação
como VAR, apenas duas jornadas antes, na re-
ceção dos dragões ao Paços de Ferreira. Até pa-
rece que gosta de apagar fogos com gasolina...
10 ATAQUE 6 de novembro de 2021 Jornal de Notícias

DIA
DO CLUBE

DIREITOS RESERVADOS
PLANTEL Guarda-redes: Leonardo e Fábio Mesquita Defesas: Francisco Ferreira, Tomazi, Tojó, Quiñones, Pedro Santos, Diogo Castro, Emanuel e Miguel Silva Médios: Diogo
Barbosa, Ibrahima Guirassy, Vieirinha, Diogo Pereira e Aranha Avançados: Ângelo, Niang, Adul Seidi, Miguel Pereira, Ruben Silvestre, Gustavo Tocantins e Mário Correia

ESTÃO IMBATÍVEIS MAS

Até lá há muito por jogar. Nuno
Pedro, treinador de ideias progres-
sistas, tem sabido extrair o melhor
dos jogadores. “Mudamos o esque-

PENSAM POUCO NISSO

S. João de Ver ainda não perdeu na Liga 3. Momento
moraliza, mas a equipa sabe que há muito por jogar
Rui Almeida Santos
desporto@jn.pt
LIGA 3 Haverá um segredo para in-
vencibilidade? A chave dessa com-
plexa equação estará no contexto.
O do S. João de Ver, única equipa
ainda imbatível na Liga 3, ao cabo
de sete jornadas, engloba um equi-
líbrio perfeito entre “divertimen-
to e trabalho”, assinala o técnico,
Nuno Pedro, que lidera “um grupo
que acredita nas ideias” que lhes
são passadas e que se empenha
para conseguir “aliar bons resulta-
dos a boas exibições”.
Depois, é preciso relativizar um
pouco as coisas. Aranha, por exem-
plo, até há pouco tempo desconhe-
cia que os “malapeiros” eram os
únicos ainda sem perder no cam-
peonato. “Não é algo em que este-
jamos muito focados”, admite o
capitão, reforçando que “os objeti-
vos continuam a ser claros e pas-
sam por ir ganhando jogo a jogo”.
Em apenas dois anos, o S. João de
Ver passou dos distritais de Aveiro
para a Liga 3. O salto foi grande e,
esta época, foi necessário “cum-
prir com uma série de requisitos,
como criar uma sala antidoping e
outra de conferência de impren-
sa”, explica o diretor, Joel Silva, sa-
tisfeito por o clube mostrar que é
“capaz de andar nestes campeona-
tos e, quem sabe, um dia, chegar
um bocadinho mais acima”.
FIGURA
André Aranha
Médio
Único sobrevivente da equi-
pa que disputou os distritais,
há dois anos, é o capitão dos
“malapeiros” e leva dois go-
los na Liga 3
ma durante os jogos e a equipa não
perde rendimento. É o ADN das
minhas equipas”, assinala.
Essa reação ao desconhecido fi-
cou patente na resposta dada à
primeira derrota da época, para
Taça de Portugal, frente ao Lei-
xões (3-1), da Liga 2. “Sofremos o
golo que nos colocou fora da eli-
minatória aos 117 minutos. Me-
recíamos, no mínimo, as grandes
penalidades, mas a equipa não se
deixou ir abaixo. Mentalmente,
temos tido estabilidade”, elogia
o técnico.
Também por isso, Nuno Pedro
crê que o primeiro desaire na Liga
3, chegue ele quando chegar, será
encarado com naturalidade pelos
jogadores. “Estamos preparados
para isso, mas trabalhamos todos
os dias para adiá-lo o mais possí-
vel”, acrescenta Aranha.
Um final feliz para esta história
seria “fazer algo de inesperado”,
aponta Nuno Pedro, e apurar o S.
João de Ver para a fase de subida à
Liga 2. “Sabemos que é muito di-
fícil, mas quem trabalha muito e
bem tem o direito a sonhar”, sa-
lienta o treinador. 
BILHETE
DE IDENTIDADE
Fundaçao: 25-06-1929
Local de jogos: Estádio do S. C.
São João de Ver
Sócios: 400
Palmarés: Campeão Distrital
de Aveiro (1963/64, 1973/74 e
1993/94), Vencedor da Taça de
Aveiro (2018/2019)
CURIOSIDADES
Plantel não é profissional
Numa Liga 3 com várias equipas
profissionais, os jogadores do
S. João de Ver conciliam o traba-
lho e os estudos com treinos ao
final do dia.
Ascensão meteórica
Em apenas duas temporadas, os
“malapeiros” passaram da Divi-
são de Elite de Aveiro para a Liga
3, onde ainda não perderam.
Jornal de Notícias 6 de novembro de 2021
INTERNACIONAL
QUINAS EM PESO NO
DÉRBI DE MANCHESTER
Cinco internacionais portugueses no grande
duelo entre United e City, em Old Trafford
Bruno Fernandes e Ronaldo enfrentam Rúben Dias, Cancelo e Bernardo Silva
Nuno A. Amaral
nuno.a.amaral@jn.pt
INGLATERRA A 11.ª jornada
da Premier League tem
como prato forte o dérbi de
Manchester, que United e
City disputam hoje à hora
de almoço, em Old Trafford.
Antes de rumarem à seleção
portuguesa para as últimas
decisões da fase de apura-
mento do Mundial, Bruno
Fernandes e Cristiano Ro-
naldo, de um lado, Rúben
Dias, Cancelo e Bernardo
Silva, do outro, entram em
ação num dos embates mais
aguardados da temporada.
O dérbi tem uma série de
condimentos imperdíveis,
desde logo por ser o primei-
ro de Ronaldo desde que re-
gressou ao United, diante da
equipa à qual chegou a ser
apontado antes de assinar
pelos “red devils”. Em alta
nos últimos jogos (marcou
na vitória da semana passa-
da sobre o Tottenham e bi-
sou no duelo da Champions
com a Atalanta, salvando o
M.U. da derrota), o interna-
cional português reencon-
tra Pep Guardiola, técnico
do City, com o qual teve du-
ras batalhas ao serviço do
Real Madrid, quando o cata-
lão orientava o Barcelona,
no início da década passada.
Pela enorme rivalidade,
mas também porque é fun-
damental não deixar fugir
ainda mais a concorrência
na luta pelo título, este é
um duelo que nenhuma das
equipas pode perder. O
Manchester United salvou
a face, e provavelmente
também o emprego do trei-
nador Ole-Gunnar Sol-
skjaer, na jornada anterior,
diante do Tottenham, após
a histórica goleada sofrida
em casa perante o Liverpool
(0-5), mas está a oito pontos
do líder Chelsea. Quanto ao
City, foi derrotado há uma
EPA/PETER POWELL
semana na receção ao Crys-
tal Palace (0-2) e precisa de
dar uma resposta à altura,
até porque também já se en-
contra a cinco pontos do pri-
meiro classificado.
Para CR7, este é um dérbi
com o seu quê de novidade,
tendo em conta que, quan-
do saiu de Inglaterra, em
2009, o City não era um ri-
val à altura do United. En-
tretanto, as coisas mudaram
radicalmente de figura, mas
Guardiola está avisado. “O
United é uma boa equipa e
já constatámos isso na épo-
ca passada [o City empatou
fora e perdeu em casa nos
dois jogos do campeonato
de 2020/21 com o vizinho].
Agora, eles têm no plantel
um dos melhores jogadores
da história, uma máquina
de marcar golos, capaz de fa-
zer coisas únicas, mas nós
temos um plano e quere-
mos fazer o nosso jogo”, dis-
se o treinador catalão. 
ANÁLISE
Futebol não profissional
POR Vasco Oliveira
Treinador
Talento falsificado
O futebol habitou-se a identificar ta-
lentos como quem identifica um ani-
mador de semáforo com jeito para
manusear umas laranjas e deitar fogo
pela boca. O talento parece estar ao
virar da esquina, parece fácil demais
encontrar um talento e depositar os
devidos créditos ao “descobridor”
que descortinou tal diamante, mais
uma medalha para o Cristóvão Co-
lombo do “scout” que descobriu mais
uma ilha no meio de tantas outras. O
talento não pode ser encontrado em
qualquer parte do mundo, ouro e dia-
mantes não andam por aí aos ponta-
pés, são escassos e valiosos, sabemos
onde estão, mesmo assim são difíceis
de encontrar.
A inata aptidão talentosa de um jo-
gador de futebol não pode ser sufi-
ciente para este ser considerado e
identificado como um talento,
quanto muito poderá ser apontado
como um jogador de grande futuro
com habilidades a aptidões que tra-
balhadas e desenvolvidas podem le-
var o jogador a um patamar de ele-
vado destaque no futebol.
A magia do talento tem de ser ge-
nial, deve reter em si uma enorme in-
teligência, uma perspicácia domi-
nante com vários olhos, a sua arte e
mestria vão além do malabarismo
com a bola. Leonardo da Vinci é con-
siderado um génio, pois utilizava o
seu talento nas Artes, Medicina, En-
genharia, Arquitetura e Física, isto é
um exemplo indiscutível do que é
um verdadeiro talento.
No futebol de hoje, o talento tem
um preço, falsos talentos emergem
para o sucesso inacreditavelmente,
enquanto verdadeiros talentos des-
vanecem no tempo e na oportunida-
de, tanto jogadores como treinado-
Positivo & Negativo
 Descobrir um talento é algo que
toca aos predestinados, só um talen-
to tem a capacidade de identificar
outro talento. É uma linguagem
divina, um talento reconhece outro
talento pela frequência sagrada,
depois é só coloca-lo em palco,
o universo faz o resto.
ATAQUE 11
res. O exemplo de Ronaldinho Gaú-
cho que não serviu ao Estrela da Ama-
dora, mas serviu ao planeta futebol,
inacreditável como a perceção de ta-
lento de uns é o oposto da de outros,
onde há crime há talento e às vezes
onde há talento há crime.
Há maus jogadores que tantas vezes
os metem a jogar que um dia eles co-
meçam a jogar bem, tantos golos fa-
lham que a dada altura começam a fa-
zer golos com os joelhos, tantas ve-
zes insistem que a determinado mo-
mento a determinação da insistência
vira algum talento. Chamemos-lhe o
fenómeno da insistência.
Com os treinadores acontece algo
parecido, tantas vezes perdem que
um dia começam a ganhar, tantas ve-
zes descem de divisão que se conti-
nuarem a treinar um dia até sobem.
Esses compraram um “visto gold”,
pois das imensas derrotas passam às
vitórias e das vitórias passam a ser ta-
lentosos, esse talento é falsificado,
foi comprado, é o passe que garante a
permanência das carreiras.
Maradona, Pelé, Cruijff, Messi e
Ronaldo são prodigiosos talentos no
futebol, contudo, acredito que mui-
tos mais se tenham perdido do que
aproveitado. Se não entrarmos em
palco, a peça nunca poderá ser dada a
conhecer ao mundo, nunca poderá
ser aplaudida e avaliada.
Nos dias de hoje, a probabilidade de
sucesso é muito maior no talento fal-
sificado que no talento verdadeiro.
O autêntico terá sempre muito mais
impacto e esplendor se o deixarem
entrar em palco, no entanto haverá
mais talentos falsificados que genuí-
nos no futuro. Quem decreta sobre
talento no futebol, terá algum talen-
to na sua vida?
 Talento é oportunidade,
é a chance de poder estar no sítio
certo à hora certa. Esse momento
compra-se, é pago a peso de ouro
e transformado em “talento”.
Hoje funciona assim.
12 ATAQUE 6 de novembro de 2021 Jornal de Notícias

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