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Paulo Menegasso
Departamento de Física, Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
Universidade Estadual Paulista (Rio Claro, SP)
Antonio Seridonio
Departamento de Física e Química
Universidade Estadual Paulista (Ilha Solteira, SP)
FoTo INFormIGUELCArrEÑo/WIKImEDIA CommoNS
Mariano de Souza
Departamento de Física, Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
Universidade Estadual Paulista (Rio Claro, SP) e
Instituto de Semicondutores e Física de Estado Sólido,
Universidade Johannes Kepler (Linz, Áustria)
A TEorIA DA
rELATIVIDADE
100 anos de uma nova
maneira de ver o universo
N
o início do século passado, acre- desses cinco artigos são hoje conhecidos
ditava-se que tudo que houvesse como teoria da relatividade restrita (ou es-
para ser descoberto na física já pecial) e contribuíram fortemente para
havia sido explorado. Se ainda encontramos que se abrissem outras frentes de pesquisa
cientistas trabalhando com física hoje, isso na física.
se deve ao fato de que aquela conclusão es-
tava equivocada. onda ou corpúsculo? Na natureza,
Nesse contexto, o trabalho de Einstein existem duas manifestações distintas da
foi fundamental para revigorar a física na- matéria: corpuscular e ondulatória. A pri-
quele início de século e fazê-la avançar. meira, mais intuitiva, está associada a en-
Em 1905, seu Annus Mirabilis, Einstein tidades físicas que transportam massa; a
publicou cinco artigos que mudariam não outra (não tão intuitiva) manifesta-se quan-
só a face da física, mas também da ciência do entidades se movem sem que haja trans-
e da sociedade nas décadas seguintes. Dois porte de massa. >>>
A ondulatória pode ser mais bem compreendida por Sabemos que a luz no vácuo viaja a cerca de 300 mil
meio de um exemplo: pense em uma pedra atirada na km/s – daqui em diante, será representada pela letra c.
água. As ondulações formadas dão a impressão de que a A luz é tão rápida que pode deslocar-se da Lua à Terra
água se afasta do ponto onde a pedra caiu. Mas, em re- em cerca de 1 segundo.
alidade, a água se movimenta para cima e para baixo, Suponha que você está em uma nave espacial, via-
transferindo a energia da pedra, mas sem se mover na jando com velocidade correspondente à metade da velo-
direção desta última. Essa transferência de energia sem cidade da luz (c/2). Passa por você um feixe luminoso,
que a matéria seja transportada é chamada de onda. com velocidade c. Analogamente ao caso dos carros, você
No caso da água, é extremamente fácil observar a for- deveria ver a luz passando com velocidade c/2. Entre-
mação das ondas, enquanto, no caso da luz, é bem mais tanto, isso não ocorre. Razão: uma pessoa, independen-
complicado. No século 17, estabeleceu-se uma grande temente de sua velocidade, sempre observará a luz via-
divergência de interpretação nessa questão: o físico britâ- jando com velocidade c.
nico Isaac Newton (1642-1726) acreditava que a luz era Esse Gedankenexperiment (em alemão, experimento
composta por partículas, enquanto o holandês Christiaan mental) nos leva ao principal postulado da teoria da re-
Huygens (1629-1695) defendia sua natureza ondulatória. latividade: “A velocidade da luz é a mesma em qualquer
Essa questão foi esclarecida no início do século 19, por sistema de referência inercial”. Em uma primeira leitu-
meio do famoso experimento da dupla fenda, no qual ficou ra, esse postulado parece não afetar diretamente a me-
demonstrado que a luz se comporta como uma onda. cânica (entenda-se, massa, distância, tempo, energia
Em 1905, Einstein resolveria o problema do efeito fo- etc.) da maneira que a conhecemos. Entretanto, façamos
toelétrico, que consiste na emissão de elétrons por uma a seguir um estudo mais detalhado.
superfície metálica atingida pela luz. Para dar uma ex-
plicação consistente desse fenômeno, o então jovem físi- corpos em movimento Será que as propriedades
co alemão mostrou que a luz deveria ter natureza cor- de um objeto mudam quando ele está em movimento? A
puscular. resposta mais intuitiva para essa pergunta é não. Afinal,
Esse impasse se estendeu pelas duas décadas seguin- os objetos que se movimentam ao nosso redor não mudam
tes, quando resultados teóricos e evidências experimen- de forma, cor ou tamanho. Mas, segundo a teoria da re-
tais mostraram a dupla natureza corpuscular-ondulató- latividade, o tamanho e a massa de um objeto mudam
ria da luz, a qual viaja segundo as propriedades das on- conforme o objeto se desloca.
das, mas interage como uma partícula – tal partícula é Contudo, antes de discutirmos esses pontos, vejamos
hoje denominada fóton, que, sem massa, desloca-se com como se comporta uma das grandezas mais fundamen-
a velocidade da luz. tais da física: o tempo.
Além de sua natureza, outra questão importante so- Para esse nosso novo Gedankenexperiment, preci-
bre a luz é sua velocidade, questão também discuti- samos de um relógio especial, chamado relógio de luz.
da por Einstein em 1905 e que veremos Na teoria, ele é bem simples: trata-se de
a seguir. uma haste que contém, em cada uma
das pontas, um espelho plano (figu-
a velocidade da luz ra 1A). Um feixe luminoso é apri-
Você já deve ter ouvido sionado nesse relógio. O feixe
a frase “Tudo é relati- luminoso leva exatamente
vo”. Contudo, ela é
incompleta. O corre-
to seria: “Tudo é re-
lativo, exceto a velo-
cidade da luz”.
Pense na seguinte
situação. Você está em
um carro, viajando a 90
km/h, enquanto passa por você
um segundo veículo, a 100 km/h. Se-
gundo os conceitos de física básica, a
velocidade relativa entre os dois veículos é 10
km/h, ou seja, se você estivesse parado e o
segundo carro o ultrapassasse a 10 km/h, não haveria
diferença alguma no movimento visto por alguém den-
tro dos carros.