X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2010 – UFRPE: Recife, 18 a 22 de outubro.

TEORES DE N, P E K EM FOLHAS DE DEZ ESPÉCIES VEGETAIS

DE CAATINGA
Mozart Duarte Barbosa1, Luiz CarlosMarangon2, Ana Lícia Patriota Feliciano3, Fernando José Freire4
Jaciane Rosa Maria de Souza 5, Ricardo Nunes Souza6, Arlindo de Paula Machado Neto7, Gildete Maria Tenório
Duarte8

Introdução A. Local da coleta

De acordo com Nimer [1], as espécies vegetais
constituintes das regiões semi-áridas apresentam
características anatômicas, morfológicas e funcionais
adaptadas as condições adversas do clima quente, com
altas temperaturas, precipitações escassas e irregulares.
A análise foliar é uma técnica útil para a diagnose
nutricional e fornece subsídios importantes para a
compreensão da ciclagem de nutrientes e do
metabolismo das plantas [2]. No entanto, Magalhães &
Blum [3], afirmam que sua aplicação ainda é restrita
em silvicultura, devido à falta de padrões bem
estabelecidos.
A avaliação dos teores de nutrientes das plantas,
considerando o ambiente natural circundante é
relevante por vários motivos: é parâmetro de referência
para programas de manejo nutricional, visando à
identificação de deficiências nutricionais; serve como
subsídio para recuperação de áreas degradadas; é
ferramenta auxiliar na correção de solo e na adoção de
programas de reflorestamento com espécies florestais
nativas. Segundo Medeiros et al.[4], a literatura que
aborda sobre o estado nutricional de plantas da
Caatinga é ainda muito escassa .
Apenas a análise do solo é insuficiente como critério
para garantir uma nutrição adequada das plantas. A
existência no solo de um nutriente, mesmo que em
quantidades disponíveis e suficientes não garantem a
satisfação nutricional das plantas, haja vista que muitos
fatores podem influenciar na absorção do nutriente pelo
vegetal [5].
Diante do exposto o presente trabalho teve por
objetivo avaliar os teores de nitrogênio (N), fósforo (P)
e potássio (K) nas folhas diagnósticas das dez espécies
vegetais de maior valor de importância (VI) em um
fragmento de Caatinga no semi-árido pernambucano.
Material e métodos
A coleta de material vegetal foi realizada em um
fragmento florestal no município de Arcoverde que está
localizado em uma altitude de 689 m, com predomínio
de clima, segundo a classificação de Köppen, do tipo
Bshs’ (clima seco de estepe de baixa latitude com
chuvas de outono-inverno) com temperatura média
anual de 24 °C, precipitação pluviométrica média anual
de 1.058,8 mm, tendo como meses mais chuvosos
março e abril.
O município de Arcoverde está localizado na
microrregião do Sertão do Moxotó, na transição entre o
Agreste e o Sertão, distante 256 Km do Recife,
margeado pela BR-232; tendo como limites o Estado
da Paraíba, ao Norte; os municípios pernambucanos de
Buíque e Pedra, ao Sul; Pesqueira, a Leste e Sertânia, a
Oeste. Apresenta uma bacia hidrográfica banhada pelos
Rios Moxotó, Ipanema e Ipojuca [6].
O fragmento de onde as plantas foram amostradas
possui uma extensão de 35 hectares, solo do tipo
Argissolo Vermelho Amarelo, apresentando uma
vegetação de caatinga hipoxerófila preservada que a
cerca de 52 anos não sofre corte raso ou queimada,
entretanto, vem sendo utilizada para criação de bovinos
em regime semi-extensivo. O fragmento localiza-se nas
coordenadas 08º01’03,6’’S e 034º56’44,1’’W, cortado
por um riacho temporário, denominado de Riacho do
Beija Mão. A referida área, pertencente à fazenda
Cavalcanti, localizada no povoado de Ipojuca, as
margens da PE 219, distante 22 Km do município sede,
Arcoverde/PE.
B. Amostragem e Análise foliar
Para a amostragem foliar foram coletadas folhas
recém maduras do terço médio da copa das espécies
arbóreo-arbustivas de maior VI, de acordo com o
levantamento fitossociológico realizado, tendo como

________________
1. Doutorando em Ciências Florestais da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE,
CEP: 52171-900. E-mail:barbosamd@ig.com.br
2. Professor Adjunto do Departamento de Ciência Florestal, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N,
Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.
3. Professora Adjunto do Departamento de Ciência Florestal, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N,
Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.
4. Professor Adjunto do Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois
Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.
5. Graduanda de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP:
52171-900. bolsista PIBIC-CNPq.
6. Graduando de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP:
52171-900. Bolsista ITI.
7. Engenheiro Florestal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900.
8. Bióloga, Centro de Ensino Superior de Arcoverde, Avenida Gumercindo Cavalcanti, S/N, São Cristóvão, Arcoverde, PE, CEP:56500-000.
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nível de inclusão o CAP ≥ 10 cm [7]. O material
botânico fértil foi coletado, prensado, seco em estufa e
levado ao Herbário Professor Vasconcelos Sobrinho -
PEUFR do Departamento de Biologia da UFRPE, onde
foram identificados e tombados.
Para cada uma das dez espécies de maior VI do
fragmento foram coletadas aleatoriamente folhas recém
maturas de 4 plantas. Esse procedimento se repetiu três
vezes, totalizando 12 plantas amostradas nas 40
parcelas.
Para cada repetição e em cada planta foram retiradas
25 folhas perfazendo um total de 100 folhas por
espécie, caracterizando a amostra composta. Como as
folhas na Caatinga caem no verão, a coleta ocorreu na
segunda metade do inverno. As folhas coletadas foram
acondicionadas em sacos de papel e armazenadas em
caixa de isopor contendo gelo, posteriormente foram
levadas a estufa de circulação forçada de ar, à
temperatura de 65 ºC até peso constante e,
posteriormente moídas [8].
As análises foram realizadas no Laboratório de
Química do solo do Departamento de Agronomia da
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.
Os nutrientes P e K foram mineralizados por digestão
nítro-perclórica e o N por digestão sulfúrica [9]. O P
foi dosado por colorimetria [10], o K determinado por
fotometria de chama e o N por titulometria.
Resultados e Discussão
Pelo levantamento fitossociológico, no fragmento de
Caatinga estudado, as dez espécies com os maiores VI,
em ordem decrescente são: Mimosa ophthalmocentra
Mart. Ex. Benth. (jurema de imbira / Mimosoideae)
29,26%, Caesalpinia pyramidalis Tul.(catingueira /
Caesalpinoideae) 26,70%, Acacia bahiensis Benth.
(jurema carcara / Mimosoideae) 5,30%, Schinopis
brasiliensis Engl.(baraúna / Anacardiaceae) 5,30%,
Acacia paniculata Wild.(jurema rasga beiço /
Mimosoideae) 4,62%, Croton tricolor Klotzsch ex.
Baill (marmeleiro / Euphorbiaceae) 4,46%, Jatropha
mollissima (Pohl) Baill. (pião bravo / Euphorbiaceae)
3,46%, Spondias tuberosa Arruda (umbuzeiro /
Anacardiaceae) 2,91%, Mimosa tenuiflora (Wild.)
Poir.(jurema preta / Mimosoideae) 2,15% e Piptadenia
stipulaceae (Benth.) Ducke (jurema avoador /
Mimosoideae) com 2,10% (Figura 1).
Para as dez espécies avaliadas, o teor de nitrogênio
(N) nas folhas variou de 16,98 a 33,32 g.kg-1; dentre as
espécies , aquelas que apresentaram os maiores teores
de N foi Acacia paniculata (33,32 g.kg-1), seguido de
Schinopis brasiliensis (29,58 g.kg-1) Piptadenia
stipulaceae (27,53 g.kg-1), Mimosa ophthalmocentra
(27,44 g.kg-1), Croton tricolor (25,29 g.kg-1), Jatropha
mollissima (24,64 g.kg-1), Caesalpinia pyramidalis
(23,98 g.kg-1), Spondias tuberosa (21,37 g.kg-1),
Acacia bahiensis (19,88 g.kg-1) e Mimosa tenuiflora
(16,98 g.kg-1).
Os resultados dos teores de nitrogênio foram
semelhantes ao encontrado por Medeiros, Santos &
Tertuliano [4] com folhas de dez espécies arbórea-
arbustivas de Caatinga, no semi-árido paraibano, em
que os teores de N foi de 16,1 a 31,4 g.kg-1.
Os teores de fósforo (P), na biomassa foliar das
espécies estudadas, apresentaram teores que variaram
de 2,87 a 7,38 g.kg-1; as espécies que apresentaram os
maiores teores de P foram: Jatropha mollissima (7,28
g.kg-1), Croton tricolor (6,43 g.kg-1), Piptadenia
stipulaceae (5,14 g.kg-1), Schinopis brasiliensis (4,07
g.kg-1), Caesalpinia pyramidalis (3,89 g.kg-1), Acacia
paniculata (3,85 g.kg-1), Mimosa ophthalmocentra
(3,65 g.kg-1), Spondias tuberosa (3,38 g.kg-1), Mimosa
tenuiflora (2,92 g.kg-1) e Acacia bahiensis(2,87 g.kg-1).
Os valores das concentrações de P foram superiores ao
encontrado por Medeiros, Santos & Tertuliano [4] que
foi de 1,1 a 3,3 g.kg-1.
As duas espécies que se destacaram quanto a
concentração de P, foram espécies arbustivas da família
Euphobiaceae, Jatropha mollissima e Croton tricolor,
é provável que seja uma característica da família
Euphorbiaceae de apresentar concentrações maiores de
P. No trabalho citado anteriormente outra espécie de
Euphorbiaceae, o Croton sonderianus Mull. Arg.,
esteve entre as três espécies com os maiores teores de
fósforo.
Quanto aos teores de potássio (K), houve uma
variação de 1,08 a 2,65 g.kg-1, as espécies que
apresentaram os maiores teores de K foi Croton
tricolor (2,65 g.kg-1), Jatropha mollissima (2,59 g.kg-
1
), Piptadenia stipulaceae (1,98 g.kg-1), Acacia
paniculata (1,74 g.kg-1), Schinopis brasiliensis (1,73
g.kg-1), Mimosa ophthalmocentra (1,48 g.kg-1), Acacia
bahiensis (1,45 g.kg-1), Caesalpinia pyramidalis (1,42
g.kg-1), Mimosa tenuiflora (1,26 g.kg-1) e Spondias
tuberosa (1,08 g.kg-1).
Podemos observar, que três espécies estiveram entre
as cinco essências florestais que obtiveram os maiores
teores de N, P e K, Croton tricolor, Piptadenia
stipulaceae e Schinopis brasiliensis. No trabalho de
Medeiros, Santos & Tertuliano [4] o Croton
sonderianus esteve na terceira colocação nos teores
destes três macronutrientes.
Os teores dos macronutrientes avaliados nas folhas
das dez espécies de maior VI seguiram a ordem:
N>P>K (Tabela 1).
A média dos teores de N, P e K para as
dez espécies arbórea-arbustivas encontradas no
fragmento de Caatinga foram de 25,00, 4,00 e 1,74
g.kg-1 respectivamente.
Agradecimentos
Aos proprietários da fazenda Cavalcanti, por ceder
a área e oferecer toda a logística necessária para a
realização do trabalho e a todos que fazem o
Laboratório de Química do solo da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, por disponibilizar a sua
estrutura, tornando possível a realização das análises.
Referências
[1] NIMER, E. 1977. Clima. In: IBGE. Geografia do Brasil; região
Nordeste. Rio de Janeiro, 48p.
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[2] BELL, D. T. & WARD, S. C. 1984. Foliar and twig
micronutrients (N, P, K, Ca and Mg) in selected species of
Eucalyptus used in rehabilitation: sources of variation. Plant
and Soil. 81:363-376.
[3] MAGALHÃES, L. M. S.& BLUM, W. E. H. 1999.
Concentração e distribuição de nutrientes nas folhas de
espécies florestais, na Amazônia Ocidental. Floresta e
Ambiente, 6:127-137.
[4] MEDEIROS, M. L. D. de; SANTOS, R. V. dos;
TERTULIANO, S. S. X. 2008. Avaliação do estado nutricional
de dez espécies arbóreas ocorrentes no semi-árido paraibano.
Caatinga, Mossoró-PB, 21: 31-39.
[5] VELOSO, C.A.C.; ARAÚJO, S. M. B.; VIEGAS, I. de J. M. &
OLIVEIRA, R. F. de. O. 2004. Amostragem de plantas para
análise química, informativo técnico. EMBRAPA. n.121.
[6] IBGE. 2000.Censo do Município de Arcoverde-PE. Arcoverde
8p.
[7] MARANGON, L. C.; SOARES, J. J.; FELICIANO, A. L. P.&
BRANDÃO, C. F. L. S. 2008. Regeneração natural em um
fragmento de floresta estacional semidecidual em Viçosa,
Minas Gerais. Revista Árvore, Viçosa, 32:183-191
[8] MALAVOLTA, E. ; VITTI, G.C. & OLIVEIRA, S.A. de. 1989.
Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e
aplicações. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa
Potassa e do Fosfato. 210 p.
[9] BATAGLIA, O.C.; FURLANI, A. M.C.; TEIXEIRA, J. P. F.;
FURLANI, P. R.: GALLO, J. R. 1983. Métodos de análise
química de plantas. Campinas, São Paulo, Instituto
Agronômico, 48 p. (Boletim Técnico, 78).
[10] BRAGA, J.M. & DEFELIPO, B.V. 1974. Determinação
espectrofotométrica de fósforo em extrato de solo e material
vegetal. Revista Ceres, 21:73-85.
.

Figura 1: As dez espécies com os maiores valor de importância (VI), encontradas no fragmento de Caatinga no semi-
árido pernambucano.

Tabela1: Teores de N, P e K em folhas de dez espécies vegetais de Caatinga no semi-árido pernambucano.

Espécies vegetais N P K
-------------------g.kg-1-----------------
Mimosa ophthalmocentra 27,44 3,65 1,48
Caesalpinia pyramidalis 23,98 3,89 1,42
Acacia bahiensis 19,88 2,87 1,45
Schinopis brasiliensis 29,58 4,07 1,73
Acacia paniculata 33,32 3,85 1,74
Croton tricolor 25,29 6,43 2,65
Jatropha mollissima 24,64 7,28 2,59
Spondias tuberosa 21,37 3,38 1,08
Mimosa tenuiflora 16,98 2,92 1,26
Piptadenia stipulaceae 27,53 5,14 1,98