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Valentín Nikoláevitch

Volóchinov:
detalhes da vida e da obra
encontrados em arquivos
Sheila Vieira de Camargo Grillo
USP/CNPq – sheilagrillo@usp.br
GRILLO, S. V. C.; AMERICO, E. V. . VALENTÍN
NIKOLÁIEVITCH VOLÓCHINOV: DETALHES DA VIDA E DA
OBRA ENCONTRADOS EM ARQUIVOS. ALFA: REVISTA
DE LINGUÍSTICA (UNESP. ONLINE), v. 61, p. 255-281,
2017.
GRILLO, S. V. C.; AMERICO, E. V. Registros de Valentín
Volóchinov nos arquivos do ILIAZV. In: VOLOCHINOV, V.
A palavra na vida e a palavra na poesia. Trad. S. Grillo
e E. V. Américo. São Paulo: Editora 34, 2018. p. 7-56.
Pesquisa realizada em São
Petersburgo
1) Fotocópia dos artigos assinados por
Volóchinov e dos textos citados nesses artigos;
2) Trabalho no arquivos do ILIAZV (Instituto da
História Comparada das Literaturas e das
Línguas do Ocidente e do Oriente) e no arquivo
pessoal de Volóchinov:
2.1 Ingresso e participação de Valentín Volóchinov
no ILIAZV
2.2 Tradução, descrição e análise dos relatórios de
Valentín Volóchinov
Apresentação e justificativa

> 1ª. divulgação de arquivos de Valentín


Nikoláievitch Volóchinov - 1995, no número 2
da revista Dialog, Karnaval, Khronotop por
Nikolái A. Pankóv
> Volóchinov era “um pessoa real e não um
mito” ou mesmo um alter ego de Bakhtin
(VASSÍLIEV, 1995, p. 5)
> Filial de São Petersburgo do Arquivo da
Academia Russa de Ciências (Sankt-
Peterbúrgski Filial Arkhiva RAN)
O artigos e livros assinados por Volóchinov
fizeram parte dos relatórios de atividades
apresentados no Instituto

O atuação de Valentín Nikoláievitch


Volóchinov entre os anos de 1924 e 1932,
no ILIAZV, que em 1930 passou a se
chamar Instituto Estatal da Cultura
Linguística (GIRK - Gossudárstvennyi Institút
Retchevói Kultúry)
Reedição da obra de Volóchinov nos anos 1990 na
Rússia
1995 2000
Reprodução do questionário de ingresso de V.
Volóchinov no ILIAZB (1924)
(Fond 302, op. 2, no. 51, folha 3)
Tradução de parte do questionário de
ingresso
Data e local de nascimento: 18 de junho de 1895 em São Petersburgo
Lcal e data de finalização do curso superior: Universidade de Leningrado em
1o. de junho de 1924.
Em quais outras instituições de ensino superior estudou e quando se formou?
Na Universidade de São Petersburgo (Faculdade de Direito) de 1913/1914 até
1916/17. Não terminei por sair da universidade.
Textos publicados à época: revistas «Iskússtvo» 1921 e «Zapíski Peredvijnógo
Teatra» 1922-1923.
Sua opinião sobre o marxismo como método científico: Considero que ele é o
único método aceitável.
Quais obras marxistas estudou:
Além do próprio Marx, li os trabalhos de Plekhânov, Bukhárin etc.
Filiação partidária atual:
Sem partido.
Especialização: Metodologia da Literatura.
Orientador científico: V. A. Desnítski.
“Projeto de regulamento dos Institutos de
Pesquisa Científica e das Associações dos
Institutos” (29/01/1925) - tradução:
1. Geral para todo o Instituto: O manifesto comunista.- Marx. Capital, t.
1.- Borchárdt. Capital/exposição em 3 tomos/- Engels. Anti-Dühring.-
Plekhânov. Questões fundamentais do marxismo.- Plekhânov. Sobre a
questão do desenvolvimento do materialismo monista.- Bukhárin.
Materialismo histórico.- Lenin. Imperialismo, como a mais nova etapa
do capitalismo.- Lenin. Estado e revolução.
2. Para a seção de Literatura: Plekhânov. Artigos sobre literatura e
arte/Coletânea, edição do Instituto K. Marx e F. Engels, t.t. 5,6,10,14/.-
Mering. Literatura mundial e proletariado.- Voróvski. Panorama crítico-
literário.- Nerevérzev. Dostoiévski ou Gógol.- A resolução do Comitê
Central do Partido Comunista Russo sobre a literatura/Imprensa e
Revolução, 1925, N. 5-6; Zvezdá, 1925, N. 4/.
Para especialistas em literatura russa: Plekhânov. “História do
pensamento social russo, t.t. 1,2,2 e ensaios sobre a literatura do
século XIX”, ed. Pribói, 1924. (Fundo 302, Op. 1, n. 223, folha 6)
Laboratórios e seções, cujo conteúdo versava
explicitamente sobre teorias marxistas
1) “Laboratório de literatura da época do imperialismo e da revolução
proletária” (Kabiniet literatury epokhi imerializma i proletárskoi revoliútsii)
(Fond 302, Op.275, folha 10);
2) “Laboratório de Metodologia” (Kabiniet metodológuii) (1929-1930) no
qual, entre outros, trabalhava-se sobre a formação de um fichário com as
citações dos clássicos da teoria marxista (Fundo 302, Op. 1, no. 270, folha
10) e com diversos temas ligados à teoria marxista na literatura, conforme
podemos atestar no excerto a seguir “Plano de trabalho do Setor de
Metodologia da Literatura” (Out.-Dez. 1930):
A investigação do problema levantado por Plekhânov sobre os estudos
literários e a análise crítica com base na metodologia marxista a respeito
das principais tendências da teoria literária da Europa Ocidental. Nos
próximos três meses estão previstas as seguintes palestras: E. Kislítsina
«Plekhânov sobre a literatura russa», Berkóvski «A Estética de Hegel»,
Ioffe «A teoria da arte livre», Azadóvski «A escola de Sauer», Volóchinov
«Hirt e a teoria dos gêneros».
Além disso, nos seminários continuaremos a elaboração da história da
crítica literária marxistas sob a orientação de V. A. Denístski. Além disso,
propõe-se desenvolver o tema plekhaniano com base nos materiais da
Casa de Plekhânov. (Fundo 302, op. 1, n. 271, folha 1)
3) No “Plano de Atividades do Setor de Literatura do
Instituto Estatal da Cultura Linguística” (GIRK, 1932 – Fundo
302, Op. 1, no. 56, folha 73-75), a participação de
Volóchinov consta em dois laboratórios e em um grupo que
se fundamentam em teorias marxistas. O primeiro deles é o
“Laboratório do processo literário” (Kabiniet literatúrnogo
protsessa), que, inclusive, aborda os gêneros literários de
uma perspectiva marxista. O segundo é o “Laboratório do
Método de Criação” (Kabiniet tvórtcheskogo miétoda) no
qual se objetivava, entre outros, elaborar uma história
marxista dos sistemas poetológicos. O “Grupo de Literatura
Antirreligiosa” (Gruppa antireliguióznoi literatury) que visava
lutar contra a religião com base em textos literários.
Volóchinov participa em publicações
dedicadas à teoria marxista
O Em 1928, foi publicado o artigo As mais novas correntes do
pensamento linguístico no Ocidente (Novéichie tetchéniia
lingvistítcheskoi mýsli na Západe) na revista Literatura e
marxismo (Literatura i marksizm) dedicada à teoria e história
da literatura.
O Em 1930, Volóchinov publicou o artigo Sobre as fronteiras
entre a poética e a linguística (O granítsakh poétiki i
lingvístiki) em um livro organizado por seu orientador de
doutorado, Vassíli Desnítski, em que se afirmava a
necessidade da abordagem marxista nos estudos literários:
Na luta pelo marxismo na ciência literária (V borbié za
marksízm v literatúrnoi naúke), volume que fazia parte da
coleção Questões de metodologia e teoria da linguagem e da
literatura (Vopróssy metodológuii i teórii iazyká i literatúry).
Área de especialização de Volóchinov:
metodologia da literatura
1) No relatório de atividades como pós-graduando
do período 1925-1926 (Fond 302, Op. 2, no. 51,
folha 9), o trabalho desenvolvido por Volóchinov
está inserido na Subseção de Metodologia da
Literatura.
2) No relatório de atividades como pós-graduando
do período 1928-1929 (Fond 302, Op. 2, no. 51,
folha 12), Volóchinov relata que desempenhou a
função de secretário da Subseção de
Metodologia da Literatura, auxiliando seu
orientador científico Vassíli Desnítski.
Poética Sociológica
O Volóchinov e Medviédev integraram a maioria
dos grupos e linhas de pesquisa em poética
sociológica
O essa orientação transcendia a atuação deles :
1) A sociologia dos gêneros na literatura russa
moderna organizada pelo professor G. Gorbatchióv
e pelo pós-graduando M. Maizel;
2) A morfologia e a sociologia dos gêneros
literários e do seu desenvolvimento no Ocidente,
organizado pelo professor V. Chichmarióv e V.
Jirmúnski.
Cronologia da atuação de Volóchinov
primeiramente no ILIAZV e depois no
GIRK
O é aceito no ILIAZV em 10 de março de 1925 na condição de
pesquisador colaborador (sverkhchtátnyi sotrúdnik)

O no início de 1927 (Fond 302, op. 2, no. 51, folha 17), ele foi
aceito como doutorando do Instituto sob a orientação
científica de Vassíli Desnítski

O em 1 de outubro de 1929, ocorre a defesa da tese de


doutoramento (Fond 302, op. 2, no. 51, folha 18)

O em 1930-31 torna-se professor pesquisador efetivo (Fond


302, op. 1, no. 56, folha 71)
Atividades de Volóchinov antes e
fora do Instituto:
1) De 1919-1922, foi professor (liéktor) na Escola
Profissional do Departamento da Educação Política da
Província (Gubpolít-prosvet) em Vítebsk;
2) De 1922 a 1923 foi professor (liéktor) no Sindicato
dos Trabalhadores das Estradas de Ferro de
Petrogrado (Dorprofsoj);
3) De 1925-1928 foi professor no Departamento da
Educação Política da Província (Gubpolitprosviet);
4) A partir de 1925 ensina na Escola Estatal Técnica
Industrial e Artística de Leningrado.
Produção bibliográfica anterior ao
ingresso no ILIAZV
1) Poema (sem título). Zápiski peredvíjnogo teátra, n. 37, p. 3, Petrogrado, 6 nov. 1922;
2) Soneto e resenha do livro E. M. Braudo. Nietzsche. Filósofo-músico, Ed. Atenei, 1922.
Zápiski peredvíjnogo táatra, n. 38, p. 3, Petrogrado, 14 nov. 1922;
3) Resenha do livro Igor Gliébov Piotr Tchaikóvski. Sua vida e obra. Petrograd, Ed. Mysl,
1922, 183 p. Zápiski peredvíjnogo teátra, n. 42, p. 5, Petrogrado, 12 dez. 1922;
4) Resenha do livro E. M. Braudo. Aleksandr Porfírievitch Borodin. Sua vida e obra.
Petrograd, Ed. Mysl, 1922, 183 p. Zápiski peredvíjnogo teátra, n. 43, p. 5, Petrogrado,
19 dez. 1922;
5) VOLOCHINOV. V. O problema da obra de Beethoven. Zápiski peredvíjnogo teátra, n.
44, p. 2-3, Petrogrado, 26 dez. 1922.
6) VOLOCHINOV. V. O problema da obra de Beethoven. Parte final. Zápiski peredvíjnogo
teátra, n. 44, p. 3-4, Petrogrado, 16 jan. 1923.
7) VOLOCHINOV. V. O problema da obra de Beethoven. Parte final. Zápiski peredvíjnogo
teátra, n. 44, p. 3-4, Petrogrado, 8 maio, 1923.
8) Resenha do livro Romain Rolland. Os músicos dos nossos dias. Ed. “Mysl”. Zápiski
peredvíjnogo teátra, n. 56, p. 8, Petrogrado, 8 maio, 1923.
9) VOLOCHINOV. V. Sobre o estilo dos concertos. Zápiski peredvíjnogo teátra, n. 58, p. 1-
2, Petrogrado, 5 jun. 1923.
10) Resenha do livro Prof. K. A. Kuznetsov. Introdução à história da música. Gossizdat,
1923, 128 p, Zápiski peredvíjnogo teátra, n. 67, p. 9, Petrogrado, 20 dez. 1923.
Primeiro relatório (1925-1926)
Na parte dedicada à pesquisa científica, destaca-se a
importância dos trabalhos já publicados ou que se
encontram no prelo, a saber:
1) O longo artigo Do outro lado do social (crítica à
psicanálise do ponto de vista do materialismo dialético),
publicado na revista Zvezdá, 1925, n. 5;
2) Outro extenso trabalho, A palavra na vida e a palavra na
poesia (resumo expandido do livro Ensaio de poética
sociológica, também na revista Zvezdá, 1926, n. 6;
3) O livro Freudismo: um esboço crítico, a ser publicado na
editora Lenotguíz;
4) Preparação para publicação do livro Ensaio de poética
sociológica.

A seguir, transcrevemos a tradução do plano de “Ensaio de Poética
Sociológica”:
Ensaio de Poética Sociológica
Sociologia da forma
Capítulo I . Panorama das tendências atuais da teoria geral da arte e da
poética na Europa Ocidental
Pluralismo metodológico. A ruptura entre as disciplinas teóricas e
históricas – os principais defeitos dessas tendências. A reavaliação do
significado do material – A inclinação formalista. A reavaliação do
aspecto psicológico subjetivo.
Capítulo II. O estado atual da poética na URSS
A crítica da orientação psicológica na poética (Potiebniá e sua escola). A
crítica da orientação linguística (dos diferentes tipos de método formal).
A crítica do método histórico cultural (dos epígones de Vesselóvski). A
crítica das posições do professor Sakúlin.
Capítulo III. A palavra na vida
O enunciado cotidiano real como um fenômeno sócio-histórico concreto.
O fenômeno linguístico como uma abstração. A necessidade de
aplicação das categorias sociais e históricas para a compreensão dos
aspectos formais do enunciado real. O meio extra-verbal e a situação do
enunciado determinam a sua forma e o seu significado.
Capítulo IV. A análise do enunciado
A parte não-verbal (“subentendida”) do enunciado. O
horizonte social único do enunciado. Os componentes
espacial, temporal e valorativo desse horizonte. O enunciado
como produto da interação social dos falantes com base no
horizonte comum. O “autor” do enunciado; a “co-autoria” do
interlocutor-ouvinte; a apresentação do protagonista.

Capítulo V. A palavra como avaliação social


O conceito de entonação expressiva. A entonação e a
avaliação. As metáforas entonacional e gestual. O caráter
secundário da metáfora semântica. A metáfora entonacional e
o mito. O meio social da metáfora. A palavra como uma
avaliação social. A condensação da avaliação no aspecto
artístico formal do enunciado.
Capítulo VI. O reflexo do horizonte social nas formas da língua e na estrutura da imagem
• reflexo das relações sociais entre os falantes na morfologia e na sintaxe das línguas
primitivas e as formas excepcionais do plural nas línguas australianas. Os diferentes
significados das palavras “nós”, “outro” etc. e os seus reflexos na língua. As diferentes
formas optativas e imperativas. A posição social do falante e do ouvinte determinam a
escolha da construção. Os procedimentos estilísticos que equivalem a essas formas nas
línguas novas. A imagem e a sua orientação social. A imagem como a vivificação ou
renovação da avaliação social na palavra.

Capítulo VII. O conceito de estilo


O estilo como um conjunto das avaliações verbais. Análise sociológica dos motivos
fundamentais do estilo. O reflexo da hierarquia social em sua estaticidade e dinamicidade –
no léxico, na epitetologia, nas alterações semânticas (metafóricas, metonímicas etc.).
A unidade do estilo como unidade e firmeza da posição socioavaliativa do falante.

Capítulo VIII. A sociologia do gênero


A classificação das formas do gênero do ponto de vista da posição dos principais
participantes do evento da criação: do autor, do ouvinte, do protagonista. Os fatores técnico-
materiais e sociológicos do gênero. O grau de abrangência do horizonte social que determina
o gênero. Os gêneros maiores e menores (“de câmara”). O grau de abrangência do horizonte
social e o seu reflexo na estrutura do gênero. Os gêneros dialéticos e não-dialéticos. A
arquitetônica do gênero e a arquitetônica sócio-política. A evolução do poema como gênero
do século XVII ao XX. A evolução do romance nos séculos XVII e XIX. A morte dos gêneros. O
problema do romance moderno. A evolução dos gêneros líricos.
Capítulo IX. Os resultados da análise sociológica da forma
A forma artística como um sistema de avaliações sociais. As
avaliações sociais formadoras e não-formadoras da forma. A
técnica da forma condicionada pela natureza do material
linguístico. Os fatores biológicos da forma (do ritmo). O
problema da inter-relação entre a forma e o conteúdo. A forma
como avaliação do conteúdo. Os métodos sociológicos de
análise do conteúdo.

Capítulo X. O caráter de classe das avaliações formadoras de


forma
A avaliação formadora de forma como uma avaliação
constante, essencial. Os agrupamentos ocasionais não são
dotados de forças artístico-criativas. O caráter superficial e
abstrato de todas as avaliações entre classes e extra-classes.
A arte “nacional” e arte de classes. (Fond 302, op. 2, no. 51,
folha 14-15)
Comentários sobre o plano de “Ensaio
de Poética Sociológica”
1) As sete seções do artigo A palavra na vida e a
palavra na arte. Sobre as questões de poética
sociológica correspondem aos capítulos III, IV, V, VI
e VII do plano acima;
2) Os planos dos capítulos I e II são muito
próximos da parte inicial do livro assinado por
Medviédev O método formal nos estudos literários.
Introdução crítica a uma poética sociológica
(2012[1928]);
3) Parte dos temas abordados em Marxismo e
filosofia da linguagem se fazem presentes nos
planos dos capítulos III a X
4) Semelhanças de temas relacionados no plano com temas de
obras posteriormente publicadas e assinadas por Mikhail
Bakhtin, a saber:
O a monografia sobre Dostoiévski e os longos trabalhos sobre o
romance dos anos 1930 que se aproximam dos conteúdos A
evolução do romance nos séculos XVII e XIX. A morte dos
gêneros. O problema do romance moderno. A evolução dos
gêneros líricos, bem como do capítulo VII O conceito de estilo;
O o ensaio Os gêneros do discurso, escrito por Bakhtin nos
anos 1950, aproxima-se de temas presentes no plano do
capítulo VIII A sociologia do gênero. Além da tematização do
conceito de “gênero”, chama a atenção a presença do termo
“arquitetônica”, que é recorrente nos textos assinados por
Bakhtin desde o início dos anos 1920, mas está ausente dos
textos publicados por Volóchinov.
Realização de duas palestras
O A construção temática da ode de
Lomonóssov. Análise sociológica do sistema
valorativo da ode russa (Tematítcheskaia
konstrúktsia ódy Lomonóssova.
Sotsiologuítcheski análiz tsénnostnoi
sistiémy rússkogo odízma)
O Liénski como paródia do romantismo
sentimental (Liénski kak paródia na
sentimentálnyi romantizm)
trabalho pedagógico
O disciplinas História da Cultura Material,
Materialismo Histórico e História da
Literatura na Escola Estatal Técnica,
Artística e Industrial
O proferiu palestras combinadas com
concertos de piano sobre história da
cultura, sociologia da música e história da
literatura para o Comitê de Educação da
Província que realizava trabalho educacional
em associações de trabalhadores
Defesa da tese e avaliação da
atuação de Volóchinov
O Por um lado, encontramos um documento assinado
pelo diretor do ILIAZV, Nikolái Derjávin, na pasta
pessoal do autor, que menciona a defesa da tese de
doutorado de Volóchinov em primeiro de outubro de
1929 (Fond 302, op. 2, no. 51, folha18)
O Por outro, não localizamos nenhuma menção ao título
da tese nem ao relatório da defesa com as avaliações
da banca. Vassíliev (1995, p. 13) escreve que o tema
da tese de Volóchinov foi “provavelmente” a
transmissão do discurso alheio e suas relações com a
linguística e a poética, mas não fornece o título exato
do trabalho nem outros detalhes concretos.
Na bibliografia de Valentín Volóchinov
também encontramos informações
contraditórias.
O Por um lado, o biógrafo de Valentín Volóchinov, N. L.
Vassíliev escreve que “Volóchinov trabalhava nessa
época em uma dissertação cujo tema coincidia com o
tema desse capítulo, isto é, o discurso indireto livre”
(VASSÍLIEV, 2003, p. 74), referindo-se ao quarto capítulo
da terceira parte do livro MFL.
O Por outro, Alpátov, um eminente historiador russo da
linguística e estudioso da obra do Círculo de Bakhtin,
afirma que entre 1925 e 1930, época em que
Volóchinov integrava o ILIAZV, “o sistema de teses foi
abolido, porém os doutorandos deveriam,
periodicamente, prestar constas das atividades
realizadas.” (2012, p. 181)
Descobertas da pesquisa em
arquivo
1) Antes do seu ingresso no ILIAZV, Valentín Volóchinov foi
músico, compositor bem como produziu poemas,
resenhas e pequenos artigos sobre música. Vassíliev
(1995) relata que, ainda em Vítesbsk, Volóchinov desistiu
de ser poeta, por compreender que não tinha grande
talento, preferindo manter suas atividades de músico,
compositor e crítico de música;
2) Já em meados dos anos 1920, a teoria marxista tinha
se tornado hegemônica e constava das leituras
obrigatórias para ingresso no ILIAZV, o que pode explicar a
presença da teoria marxista em obras de Valentín
Volóchinov;
3) Os relatórios de Valentín Volóchinov evidenciam
um modo de trabalho recorrente em que
primeiramente ele publicava um extenso artigo em
uma revista, para depois expandi-lo em um livro com
a mesma temática;
4) O plano geral da obra Introdução à Poética
Sociológica constante do 1o. relatório (1925-26)
revela que o conteúdo dos capítulos compreendia
temas tratados mais tarde tanto por Mikhail Bakhtin
quanto por Pável Medviédev, podendo indicar a
estreita colaboração acadêmica dos autores entre
1925 e 1929, quando os três se encontravam em
Leningrado;
5) Valentín Volóchinov atuou intensamente na Seção de
Metodologia da Literatura, tanto em atividades
administrativas quanto científicas, apesar de duas de
suas obras mais conhecidas no Brasil – O freudismo: um
esboço crítico (1927) e Marxismo e filosofia da
linguagem. Introdução crítica a uma poética sociológica
(1929) – tratarem de temas mais próximos do campo de
estudos da filosofia da linguagem e da linguística. Nesse
aspecto, é bom lembrar que, segundo carta de Iakubínski
de 1933 (Fundo 302, op. 1, n. 97, folha 3), o ILIAZV é o
único instituto de pesquisa da União Soviética à época,
onde ocorriam pesquisas tanto da área de literatura,
quanto de linguística. Consequentemente, os limites
imprecisos entre teoria da literatura e linguística e a
riqueza daí decorrente das obras de Valentín Volóchinov,
Pável Medviédev e mesmo Mikhail Bakhtin podem ter se
beneficiado desse contexto acadêmico;
6) Em mais de um documento constante dos arquivos do
ILIAZV, aparecem comentários bastante elogiosos à atuação e
à produção científica de Valentín Volóchinov, que atestam seu
talento pessoal para produzir as obras assinadas por ele.
Por outro lado, porém, observamos lacunas, insolúveis até o
momento, sobre esses mesmos temas:
Ø o que teria acontecido com o livro Introdução à Poética
Sociológica citado nos três primeiros relatórios?
Ø Por que o livro Marxismo e filosofia da linguagem saiu em
janeiro de 1929, conforme pesquisa de Alpátov (2010, p.
91), e a defesa da tese ocorreu em outubro de 1929,
segundo documentos encontrados nos arquivos?
Ø Por que o tema da tese de doutorado de Volóchinov bem
como a ata de defesa não foram encontrados nos
arquivos?
Ø Qual foi a resposta da Academia de Ciências da União
Soviética ao pedido da direção do ILIAZV de aceitar
Volóchinov como pós-graduando?
Referências
ALPATOV, V. The Bakhtin Circle and problems in linguistics. In: BRANDIST, C.; SHEPHERD, D.; TIHANOV,
G. The Bakhtin Circle: in the master’s absence. Manchester: Manchester University Press, 2004, p.
70-96.
ALPATOV, V. M. Volóchinov, Bakhtin i Lingvística. Moscou: Iazík Slaviánskikh Kultur, 2005.
BRANDIST, C.; SHEPHERD, D.; TIHANOV, G. The Bakhtin Circle: in the master’s absence. Manchester:
Manchester University Press, 2004
BAKHTIN, M.M. Bakhtin pod máskoi. Moscou: Labirínt, 2000. [Organização e preparação de I. V.
Pechkov e comentários de I. V. Pechkov e V. L. Mákhlin].
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO OCIDENTE E DO ORIENTE
(ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, F. 302, op. 1, no. 223.
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO OCIDENTE E DO ORIENTE
(ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, F. 302, op. 275, no. 51.
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO OCIDENTE E DO ORIENTE
(ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, F. 302, op. 1, no. 223.
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO OCIDENTE E DO ORIENTE
(ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, Fundo 302, op. 1, no. 270.
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO OCIDENTE E DO ORIENTE
(ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, Fundo 302, Op. 1, no. 56.
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO OCIDENTE E DO ORIENTE
(ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, Fundo 302, op. 1, n. 97.
INSTITUTO DA HISTÓRIA COMPARADA DAS LITERATURAS E LÍNGUAS DO
OCIDENTE E DO ORIENTE (ILIAZB). Filial ARAN, São Petersburgo, Fundo 302,
op. 1, n. 271.
MEDVIÉDEV, P. N. O método formal nos estudos literários. Introdução crítica a
uma poética sociológica. Trad. E. V. Américo e S. C. Grillo. São Paulo: Contexto,
2012.
PANKOV, N. A. Mifologuema Volóchinova (nieskolko zametchánii kak by na
póliakh arkhívnykh materiálov) (Mitologia de Volóchinov – algumas
observações sobre os materiais de arquivo), Dialog, Karnaval, Khronotop, 2,
Vítebsk, p. 66-69, 1995.
VASSÍLIEV, N. L. V. N. Volóchinov: biografítchekii ótcherk (V. N. Volóchinov:
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VOLOCHINOV, V. H. Novéichie tetchéniia lingvistítcheskoi mýsli na Západe,
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______. O granítsakh poétiki i lingvístiki. In: DESNÍTSKII, V. V borbié za
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VOLOCHINOV, V. N. Lítchenoe delo (Trabalho pessoal), Dialog, Karnaval,
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