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Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE

Quantificação do Grau de Severidade de Queimada em Unidades de Conservação no


Distrito Federal por meio dos Índices Espectrais dNBR e RdNBR

Débora Teobaldo¹
Gustavo Macedo de Mello Baptista1

¹Universidade de Brasília, Instituto de Geociências - UnB/IG


Campus Darcy Ribeiro - Caixa Postal 4465 - 70910-900 -Asa Norte - Brasília- DF
deborateobaldo@gmail.com; gmbaptista@unb.br

Abstract. The aim of this study was investigate the fire severity occurs in the conservation units in the Distrito
Federal for 2010 and 2011. For this, we used the spectral indices normalized burn ratio - NBR, differenced
normalized burn ratio - dNBR and relative differenced normalized burn ratio - RdNBR. The RdNBR presents the
best results to quantify the burning biomass if it compares with the dNBR results. The dNBR overestimates the
unburned area and underestimates the other classes. New studies must be encouraged aiming better understand
the fire behavior to manage and monitor, as well as understanding the effects of fire on the Cerrado region.

Palavras-chave: Biomass, fire severity, normalized burn ratio (NBR), differenced normalized burn
ratio(dNBR), relative differenced normalized burn ratio(RdNBR), biomassa, severidade de queimada, NBR,
dNBR, RdNBR.

1. Introdução
O Cerrado brasileiro sofre degradação anual devido às queimadas, principalmente por
estar inserido num contexto climático que se apresenta com sazonalidade bem marcada e pela
existência de um período de inverno no qual a umidade relativa do ar chega em níveis críticos.
Associado à baixa umidade, a falta de chuva aumenta a energia de ativação da combustão
espontânea. O Distrito Federal é um representante desse bioma e possui porções generosas
dessa vegetação em suas unidades de conservação.
Os incêndios florestais afetam diretamente a vida dos animais silvestres. Biólogos dizem
que antes das queimadas, os animais tinham um território, após elas, eles se vêm obrigados a
buscar outro lugar que já se encontra ocupado por outros animais e que podem ser predadores
ou competidores, pois seu ambiente natural enfrenta escassez de alimento. Ou seja, os
incêndios prejudicam o bioma, ocasionando a degradação do ambiente, esgotamento das
terras, favorecendo a erosão, a perda de biodiversidade, entre outros fatores negativos.
As queimadas podem ser detectadas por dados obtidos por satélites, como focos de calor
sobre a superfície terrestre. Além disso, as áreas que foram afetadas apresentam resposta
espectral específica que pode ser monitorada por dados de sensoriamento remoto. Dessa
constatação, vários autores propuseram índices espectrais que são utilizados para avaliar o
grau de severidade das queimadas. Dentre eles encontram-se os índices de queimada por
razão normalizada (NBR), desenvolvido por Key e Benson (2006), índice diferenciado de
queimada por razão normalizada (dNBR) (ROY et al., 2006), índice relativo diferenciado de
queimada por razão normalizada (RdNBR) (MILLER e THODE, 2007). Por isso, o
sensoriamento remoto é uma ferramenta essencial para a gestão e monitoramento das
queimadas.
O presente estudo tem como objetivo avaliar o grau de severidade dos incêndios
ocorridos no Distrito Federal que afetaram as Unidades de Conservação do Parque Nacional
de Brasília e da Estação Ecológica de Águas Emendadas no ano de 2010, e da Floresta
Nacional e da Estação Ecológica do Jardim Botânico, no ano de 2011, por meio dos índices
espectrais supracitados.

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2. Material e Métodos
2.1 Pré-Processamento dos dados
O critério para escolha das imagens visando à análise das queimadas no Distrito Federal
baseou-se nas dimensões das áreas afetadas. Para tal, adotaram-se cenas do sensor Thematic
Mapper do Landsat 5 para os anos de 2010 e 2011. As imagens escolhidas do ano de 2010
foram as 07 e 23 de setembro. As áreas maiores queimadas de 2010 foram no Parque
Nacional de Brasília (PARNA Brasília) e na Estação Ecológica das Águas Emendadas
(ESEC-AE) (Figura 1).
Já para o ano de 2011 foram selecionadas as cenas das datas de 25 de agosto e 10 de
setembro. As maiores áreas queimadas em 2011 foram a Floresta Nacional de Brasília
(FLONA) e a Estação Ecológica do Jardim Botânico (ESEC-JB).
Essas áreas queimadas nos anos de 2010 e 2011 são área de grande importância para
Brasília e entorno, tendo em vista que são Unidades de Conservação que objetivam a melhoria
da qualidade de vida para a população e a proteção de espécies nativas.
No presente estudo utilizou-se o software ENVI 4.8. Para a etapa de georreferenciamento
e registro, pelo método imagem-imagem, das cenas de 2010 e 2011, utilizou-se inicialmente a
cena de 6 de abril de 1989, georreferenciada e ortorretificada, disponível no site Global Land
Cover Facility da Universidade de Maryland (http://glcf.umiacs.umd.edu/) (Figura 1).
Para corrigir os efeitos de espalhamento e absorção dos componentes atmosféricos e
transformar os dados de radiância em reflectância utilizou-se o método empírico QUAC
(QUick Atmospheric Correction) que ao contrário dos métodos baseados em modelos de
transferência radiativa, ele é implementado a partir de parametros obtidos diretamente da
cena, sem informações auxiliares.

Figura 1: Cena de 6 de abril de 1989 do Landsat TM5 do DF, destacando as unidades de


conservação investigadas no presente estudo.

2.2. ÍndicesEspectrais
Os índices escolhidos para estudar e identificar a severidade das queimadas foram o
índice de queimada por razão normalizada (NBR) (KEY e BENSON, 2006), índice
diferenciado de queimada por razão normalizada (dNBR) (ROY et al., 2006), e o índice
relativo diferenciado de queimada por razão normalizada (RdNBR) (MILLER e THODE,
2007).

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2.2.1 Índice de queimada por razão normalizada - NBR


O NBR é um índice por diferença normalizada da reflectância relativa às bandas 4 e 7 do
TM, em que realça as áreas queimadas e sua severidade. Para facilitar o escalonamento e a
posterior classificação, esse índice é multiplicado por mil, como pode ser observado na

   

 
equação 1.
 

(1)
Onde,
R4 = Reflectância relativa à banda 4 do Landsat TM 5
R7= Reflectância relativa à banda7 do Landsat TM5
2.2.2 Índice diferenciado de queimada por razão normalizada - dNBR
O índice dNBR visa avaliar a extensão e a severidade da queimada por meio da relação
entre o NBR antes da queimada e após o evento. Ele permite compreender o gradiente de
severidade, bem como, possibilita a verificação do processo de rebrota. É obtido por meio da

       


equação 2.
(2)
Com esse índice é possível isolar as áreas que sofreram mudanças provocada por fogo,
sendo possível gerar um índice contínuo de severidade, partindo das áreas não queimadas em
direção às mais severas. Para o ano de 2010 foi utilizada como cena de pré-fogo, o NBR de 7
de setembro e, para a de pós-fogo, o de 23 de setembro. A cena de pré-fogo do ano de 2011
utilizada foi o NBR de 25 de agosto e a de pós-fogo, o de 10 de setembro. Observa-se que, ao
realizar a subtração dos NBRs obtém-se uma cena que realça as mudanças entre elas,
destacando a presença das queimadas.
2.2.3 Índice relativo diferenciado de queimada por razão normalizada - RdNBR
O RdNBR, proposto por Miller e Thode (2007), é um índice que relativiza o tipo de
vegetação e a densidade da vegetação onde ocorreu a queimada. Os autores desse índice
mostraram que em áreas onde ocorrem menos indivíduos vegetais por área e o grau de
severidade da queimada é alto, quando submetidos ao dNBR, apresentam classificação
subestimada, o que levou à necessidade de relativizar esse índice pela raiz quadrada dos
valores absolutos do NBRpré-fogo divido por 1000, como apresentado na equação 3.

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3. Resultados e Discussão
A Figura 2a apresenta o resultado do dNBR e a figura 2b apresenta o resultado do
RdNBR para as datas de 7 e 23 de setembro do ano de 2010 para toda a área do DF, e suas
cores obedecem à gradação descrita na tabela 1.
Tabela1: Escala de níveis de severidade do dNBR e RdNBR
Nível de severidade Legenda do mapa Extensão
Alta rebrota -500 a -250
Baixa rebrota -250 a -100
Não queimada -100 a +100
Baixa severidade +100 a +270
Severidade moderada baixa +270 a +440
Severidade moderada alta +440 a + 660
Alta severidade +660 a +1300

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a) b)

Figura 2:Severidade das queimadas no DF para o ano de 2010 por meio do dNBR (a) e do
RdNBR (b).
A análise do DF como um todo obtida pelas figuras 2a e 2b permite inferir que o número
de focos de áreas queimadas no período investigado para o ano de 2010 é mais bem
identificado com o RdNBR que com o dNBR. Grosso modo, pode-se perceber que o dNBR
superestima a área não queimada e subestima as demais classes, deixando de fora áreas com
menor densidade vegetal e que foram submetidas à eventos de queimada. Isso corrobora com
a motivação de Miller e Thode (2007) quando resolveram relativizar esse índice, propondo o
RdNBR. Essa percepção pode ser verificada quando da análise da figura 3 que destaca o
Parque Nacional de Brasília para os dois índices espectrais. A mesma tendência se verificou
na Estação Ecológica das Águas Emendadas (Figura 4). Salienta-se, porém, que alguns pixels
considerados como áreas queimadas foram identificados dentro do espelho d’água do Parque
Nacional, o indica erro na aplicação dos índices. Sugere-se a aplicação de uma máscara para
obliterar esses pixels indevidos.

a) b)

Figura 3:Severidade das queimadas no Parque Nacional de Brasília para o ano de 2010
por meio do dNBR (a) e do RdNBR (b).

a) b)

Figura 4:Severidade das queimadas na Estação Ecológica das Águas Emendadas para o
ano de 2010 por meio do dNBR (a) e do RdNBR (b).

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Para o ano de 2011 (Figura 5), outras duas unidades de conservação foram afetadas por
incêndios florestais, a Floresta Nacional de Brasília (FLONA) e a Estação Ecológica do
Jardim Botânico. Os resultados de dNBR (Figura 5a) seguiram a mesma tendência dos dados
de 2010, e também superestimaram as áreas não queimadas e subestimaram as demais classes.
Com o uso do RdNBR (Figura 5b) foi possível identificar mais focos de incêndio
principalmente nas áreas onde predominam o estrato herbáceo, como campos, além de
algumas áreas ocupadas por pivôs de irrigação. A utilização do índice relativo (RdNBR)
fornece uma definição mais consistente da severidade da queimada permitindo comparação de
incêndios através do espaço e tempo (MILLER et al., 2006).

a) b)

Figura 5: Severidade das queimadas no DF para o ano de 2010 por meio do dNBR (a) e do
RdNBR (b).
A figura 6 apresenta o detalhe da FLONA e a 7 mostra a Estação Ecológica do Jardim
Botânico, apresentando a mesma tendência observada para todo o DF.
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a) b)

Figura 6:Severidade das queimadas na FLONA de Brasília para o ano de 2011 por meio do
dNBR (a) e do RdNBR (b).

a) b)

Figura7:Severidade das queimadas na Estação Ecológica do Jardim Botânico para o ano de


2011 por meio do dNBR (a) e do RdNBR (b).

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Por meio dos resultados do processamento dos dados, foi possível quantificar as áreas de
cada classe de dNBR e do RdNBR. As mesmas foram plotadas em gráficos apresentados na
figura 8, para o ano de 2010 e na figura 9 para o ano de 2011.

Área queimada em 2010


90.00
80.00
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00 dNBR
0.00
RdNBR

Figura 8: Percentual de área queimada do Distrito Federal no ano de 2010 para cada classe de
severidade obtidas por meio do dNBR e do RdNBR.

As inferências visuais discutidas anteriormente sobre as diferenças entre os índices se


mantiveram nos gráficos. A terceira classe, a de áreas não queimadas apresenta
superestimação e as demais subestimação, quando avaliados os resultados obtidos com o
índice dNBR. Nas classes de severidade moderada alta e de alta severidade, para o ano de
2010 (Figura 8), não foram percebidas pelo dNBR, mas com RdNBR elas foram identificas, o
demonstra uma maior eficiência para o manejo e recuperação dessas áreas consideradas mais
críticas e que seriam desprezadas pelo dNBR.

Área queimada em 2011


90.00
80.00
70.00
60.00
50.00
40.00
30.00
20.00
10.00 dNBR
0.00
RdNBR

Figura 9: Percentual de área queimada do Distrito Federal no ano de 2011 para cada classe de
severidade obtidas por meio do dNBR e do RdNBR.

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O mesmo se verificou quando da análise dos dados de 2011 e que pode ser visualizada na
figura 9.

4. Conclusões
O RdNBR, modelo proposto por Miller e Thode (2007) mostrou-se bastante eficiente para
medir a biomassa queimada em diferentes coberturas vegetais, independente de sua densidade e
do grau de severidade da queimada, de forma mais uniforme e com maior precisão,
principalmente em áreas mapeadas como de alta severidade.
O índice relativo (RdNBR) permite identificar áreas de diferentes gradações de
severidade que não aparecem nos dados obtidos pelo dNBR. O modelo do dNBR mostrou-se
inapropriado para a quantificação de severidade de queimadas pelos problemas de superestimação
de um classe e de subestimação e até de omissão de classes de maior severidade.
Ambos os índices apresentaram resposta de áreas queimadas dentro do espelho d’água do
Parque Nacional, o indica erro na aplicação dos índices. Sugere-se a aplicação de uma
máscara para obliterar esses pixels indevidos.
Novos estudos devem ser incentivados para mapear espacialmente o tamanho e o grau de
severidade da queimada e para a recuperação e compreensão dos padrões de paisagem criados
pelo fogo, bem como no monitoramento da rebrota das áreas afetadas por incêndios florestais.

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