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Ao falarmos de currículo, nos deparamos com diferentes olhares ou concepções de

educação, isto ocorre pelo fato dele estar associado a questões culturais, as
relações, conhecimento e as práticas humanas, entre elas a de ensino e
aprendizagem. O currículo é um meio institucional de se transmitir os conhecimentos
e culturas produzidos pela humanidade, q ue foi se transformando ao longo do tempo,
representados por diferentes correntes teóricas trazendo os olhares, ideologias e
concepção de mundo do seu tempo

Podemos assim dizer que o currículo educativo representa o conjunto de saberes e


cultura, tem intencionalidade, como a de construir a identidade de um povo. Estando
assim vinculado as diferentes formas de organização da sociedade e de como esta
compreende suas relações sociais e, por conseguinte, como afirma Moreira e Silva
(1997) ele é um espaço de produção e de política cultural.

Portanto, o currículo não pode ser compreendido como um elemento neutro ou


estático, ele faz parte de um conjunto de interesses que giram em torno do sistema
educativo, e da política cultural de um povo, ele é campo ativo, vivo, que se altera
com o tempo e influencias internas e externas que sofre, ou seja, a cultura e poder
são determinantes no resultado educacional produzido pelo currículo. Lembrando
que as concepções curriculares assim como suas propostas e intencionalidade
podem ou não estar explicitadas em seus documentos.

No entanto as propostas curriculares, não explicitas, é o que se denomina de


currículo oculto, ocorrem na medida que os valores e concepções pedagógicas são
transmitidos durante a prática pedagógica, nas relações dentro e fora do espaço
escolar. Como exemplo, mesmo em espaços educativos que se denominam sócio
construtivistas, podemos muitas vezes observar práticas tradicionais na organização
escolar, como na forma de distribuição dos alunos, em fileiras, em agrupamentos
entre fracos e fortes, pela maneira de se utilizar os livros didáticos, pela hierarquia
em sala de aula entre professor e alunos, entre outras formas que são práticas de
uma educação tecnicista e tradicional. Que pode não parecer nos documentos
oficiais, mas está presente no cotidiano escolar.

Ainda que nos documentos atuais sobre educação, no Brasil, o currículo seja
abordado a partir de uma concepção de educação emancipadora, ainda hoje
observamos discursos que defendem uma pratica pedagógica voltada para ao
mercado de trabalho, o que se assemelha as teorias tecnicistas da primeira metade
do século XX, e alguns espaço observa-se uma pratica pedagógica ainda centrada
na figura do professor, uma concepção de educação tradicional, lembrando eu
segundo Tayjler e sua visão positivista, assim como Durkheim, tem uma visão
comportamental, buscando a adequação do sujeito aos interesses do mercado e
Estado, ficando ao encargo da escola a incumbência de modificar o comportamento
do indivíduo.

Já em um período em que o currículo adquire uma perspectiva crítica e pôs crítica,


assume uma complexidade, adquirindo um caráter moral e ético. Demonstrando,
mais uma vez, que não há currículo neutro, toda teoria é acompanhada de
intencionalidade, de uma conexão entre saber, identidade e o poder.

A teoria crítica, tem esta nomenclatura justamente por se contrapor a ideia


tradicionais de educação, e irá questionar o currículo que traz o conhecimento
corporificado, irá debater o papel da escola como parte da estrutura política social,
ou estrutura de poder. Althusser (1983), vai discutir a superestrutura a aparelho
ideológico de Estado, neste sentido o currículo pode ser um instrumento de
transformação ou manutenção das relações de poder. A teoria crítica traz uma
concepção de educação marxista e histórica dialética, e Apple, fundamentado nesta
concepção irá discutir o currículo oculto.

Em um questionamento a teoria crítica, a pós critica traz que poder e conhecimento


não se opõem, mas são mutuamente dependentes, e o currículo está interligado nos
processos de formação pelos quais nós nos tornamos o que somos, ou seja, o
currículo é uma questão de identidade e poder, onde Foucault traz a relação de
micro poder existente no espaço escolar. Se contrapondo a teoria de Apple do
currículo oculto.

SACRISTAN (1998) traz que “o que se ensina, se sugere ou se obriga a aprender


expressa os valores e funções que a escola difunde num contexto social e histórico
concreto”. Portanto, o currículo é um instrumento carregado de intencionalidade,
compreender as diferentes teorias e contextualiza-las é de suma importância para o
posicionamento do educador diante do trabalho pedagógico, da ação de ensino e
aprendizagem e de seu posicionamento no mundo.

Uma vez que ao se definir um currículo, define-se junto a ele a função da escola, o
papel do educador no processo de ensino e aprendizagem, é por meio do currículo
que irá se desenhar os caminhos para a prática pedagógica e seus objetivos, assim
como os valores, ética e ideologias de um tempo e/ou grupo social, ou seja, as
relações de poder que o envolve.

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