DOCENTE: RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO DISCENTE: RODRIGO DE SOUZA ALVES
OS X-GAMES
O contexto sociocultural e midiático dos últimos anos do século XX revolucionou o
esporte em uma escala global. Nessa época, particularmente os esportes radicais não tinham tanto lugar nas relações sociais na mesma proporção que presenciamos hoje. Sabe-se que o movimento norte americano de contracultura foi vantajoso para fortalecer e influenciar o esporte, assim como a gênese de práticas corporais na natureza que antes ocorriam à margem de uma sociedade conservadora, ou por meio de fuga da esfera urbana e que agora ocupa lugar nas diferentes intersecções do cotidiano. Considerando esses aspectos como herança “contra-cultural” dos desportos radicais, o processo de esportivização das práticas corporais de aventura culminou num evento que conhecemos hoje como “X Games”, inaugurado em 1995 e transmitido pela rede norte americana de programação e entretenimento em esportes ESPN – líder em audiência quando se refere a grande parte do mercado mundial da programação esportiva. O evento é apoiado por uma série de patrocinadores corporativos transnacionais (Thorpe, Wheaton, 2011). No tocante ao antes chamado “Extreme Games” criado pela ESPN, as celebrações anuais dos esportes de ação se compuseram em atividades competitivas sazonais de verão e inverno. Os X Games desempenhou um papel significativo na difusão global e expansão da indústria de esportes de ação e cultura, apropriando-se da filosofia dos esportes não convencionais e incrementando-os no programa olímpico. No entanto a união entre esportes de ação alternativos e os jogos olímpicos não têm sido muito simples, pois muitos praticantes concebem essas atividades como estilos de vida alternativos e não como esportes, ou seja, bem diferente dos valores disciplinares, hierárquicos e nacionalistas que são vivenciados no regime olímpico (Wheaton, 2004). Após a realização do “Extreme Games” inaugural em Rhode Island na costa norte dos Estados Unidos, dois anos depois fora transmitido a primeira edição dos “ X Games” de inverno na cidade de Big Bear Lake, Estado da Califórnia. Desde essa época o evento esportivo expandiu-se e conquistou destaque mundial nas celebrações de esporte radicais e ainda, tendo ascensão como Movimento Olímpico tornando-se muito atrativo para o público mais jovem. Após tornar-se a maior competição de esportes de ação do mundo é interessante sabermos que o Brasil também compõe uma das localidades onde o evento acontece. Foz do Iguaçu tornou-se a capital brasileira dos esportes radicais e sediou o evento em 2011. A competição conta com diferentes modalidades realizadas em cenários variados e locais extraordinários, sendo uma disputa de altíssima qualidade. Cada esporte de ação possui a sua história, especificidade, identidade e maneira de desenvolvimento. Modalidades como Mountainbike, BMX freestyle, Skateboard (Street, Park), Rally Car, Moto X, Surf, Patinação, Snowboard (inverno), entre outras, fazem parte da competição e subdividem em programas, assim como o seu público competidor é diversificado entre sexos e grupos etários. A surpreendente Rayssa Leal de 12 anos, campeã brasileira na modalidade Street, se tornou a mais jovem skatista a conquistar o primeiro lugar na SLS (Mundial de Skate Street) em Los Angeles. Dividindo o pódio com Pâmela Rosa, Rayssa Leal ficou em 2º lugar na etapa Street League em São Paulo, (etapa que valeu mais pontos na corrida pela colocação na equipe olímpica), ela obteve também a terceira colocação no mundial de Londres. Sua participação no X Games de 2019 realizado em Mineapolis como competidora surpreendeu o público. Rayssa literalmente voa nas manobras que são variações de ollies (bater no tail até que ele toque o chão e saltar pra frente mantendo o pé dianteiro colado ao shape) e o shove-it realizando flip no chão, heelflips, BS Rockslides (subindo na rampa) e os grabs (quando a skatista dá um ollie e depois segura o skate em qualquer lugar do shape, além dos grinds que são as manobras feitas pela skatista em “curbs” (muros, parapeitos, corrimões quadrados ou cilíndricos de rampas e escadas) esses elementos são específicos da modalidade street. Escolhi falar sobre a Rayssa, pois ela se tornou um exemplo de superação e um prodígio no skate, bem como nos X Games. O skate é uma modalidade que ultrapassou as fronteiras do espaço urbano e a quebra dos estereótipos que antes recebia sob o olhar da vigilância comportamental imposta pela sociedade. O skate um símbolo de ocupação e resistência traduzida pelo público mais jovem, acredito que a modalidade possui um grande potencial educativo.
Referências:
THORPE, Holly; WHEATON, Belinda. 'Jogos da Geração X', esportes de ação e o movimento
olímpico: Compreendendo as políticas culturais de incorporação. Sociologia , v. 45, n. 5, pág. 830-847, 2011.
WHEATON, Belinda. Introduction: Mapping the lifestyle sport-scape. In: Lifestyle sport:
Consumption, identity and difference. Routledge, 2004. p. 1-28. SKATER, Saucy. 11 Year Old Rayssa Leal at SLS LA Final (All Runs). (2019) (3m34s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jn-q9kKpY-4 acesso em 19 de Novembro de 2020