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sentimentos profundos — algo tão fundamental precisa de atenção, de cuidados, de interesse e do


investimento de todos. Não pode faltar empenho, vontade e ação.

2— A CULTURA BRASILEIRA
2.1 Mestiçagem
Segundo o atual Ministro da Cultura Senhor Gilberto Gil — O processo de formação da
cultura brasileira, tem como marca principal a mestiçagem, isto é, a mistura e a reciclagem
permanente de valores, referências, sentimentos, signos e raças. Essa mestiçagem produziu uma
cultura tão intensa quanto diversa. E fez das múltiplas expressões culturais de nosso povo o
principal fator de diferenciação e de valorização do Brasil no mundo globalizado.

2.2 A formação da identidade brasileira


A formação da identidade brasileira emana do emaranhado da soma de muitas
identidades isoladas. Existem fortes raízes indígenas, africanas, européias e mais recentemente de
imigrantes como italianos, japoneses, árabes e asiáticas. Elas em seu conjunto fizeram de nós um
povo que soube reunir muitas vozes, muitas faces e muitas cores numa só alma. E é essa alma
que os brasileiros expressam através de sua arte, de sua cultura.
A diversidade da cultura brasileira é resultante do encontro e do confronto de diferentes
etnias, não apenas colonizadores portugueses, índios, escravos africanos, mas diferentes e
particulares grupos culturais que para aqui vieram em épocas distintas.
É dessa diversidade cultural, de raízes tão amplas e profundas que nasceu a identidade
do povo brasileiro; esse povo dinâmico que sempre soube renovar sua expressão - com grande
agilidade e em alta velocidade sem jamais perder suas raízes — uma cultura aberta, que recebe e
assimila influências sem perder em nenhum momento seu eixo, seu tônus vital.
A enorme capacidade de assimilação faz com que nessa cultura existam muitas formas

de se expressar.
São influências que recebemos, assimilamos, adaptamos e devolvemos, como por
exemplo, o Barroco trazido de Portugal; a Bossa Nova, ritmo musical brasileiro, reelaborado com
fortes influências do Jazz Norte-americano, e numa linguagem cultural essa nossa voz pode ser
percebida em todas as expressões das artes, mesmo daquelas que nos chegaram já delineadas e
supostamente prontas — da pintura modernista ao balé, da literatura ao cinema, do rock à música
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sinfônica, traduzindo com nitidez o enriquecimento da diversidade que nos moldou. Daí emana a
facilidade da cultura brasileira dialogar com outras culturas, enriquecendo-se e enriquecendo-as.
A imaginação criadora do povo brasileiro, que explode nas obras dos nossos artistas,
revela a nossa verdadeira face. As nossas mazelas e as nossas grandezas estão nas nossas artes, na
nossa cultura, nas nossas verdadeiras faces contraditórias, diversas, ágeis, estimulantes. Na voz
que abrange mil vozes, no canto de mil cânticos, na cor de todas as cores. Nossa memória
coletiva, nosso imaginário, nossas fantasias, nossos sonhos, as dores e derrotas, as alegrias e as
conquistas, as pequenas vinganças contra o dia-a-dia feito de distâncias e injustiças, as fontes de
nossas esperanças!... Tudo está nas canções e nos poemas, nas dramatizações e nos brinquedos,
nas pinturas e nas danças, nas lendas e nas histórias elaboradas, inventadas, reproduzidas e
transmitidas ao longo dos tempos.
De Norte a Sul encontramos expressões artísticas e linguagens que nos unem e nos
identificam.
No resultado da força criadora da nossa cultura, expressa através dos nossos artistas,
nos diversos segmentos da arte, está a nossa verdadeira cara, a síntese mais esclarecedora da
nossa verdadeira identidade — nossa digital única e irrepetível.

2.3 A cultura popular brasileira


Podemos repensar a história de nossa formação, reconhecer as diferenças culturais e
sociais e relaciona-las às situações que vivemos e observamos hoje em nosso país.
Quando falamos sobre cultura popular estamos nos referindo não apenas às
manifestações festivas e às tradições orais e religiosas, mas ao conjunto de suas criações, às
maneiras como se organiza e se expressa, aos significados e valores que atribui ao que faz, aos
diferentes modos de trabalhar, aos jeitos de falar, aos tipos de música que cria, às misturas que
faz na religião, na culinária, na brincadeira.
Não é muito fácil definir "Cultura Popular". Podemos indica-la como um conjunto de
crenças coletivas sem doutrinas; práticas coletivas sem teoria e em outras palavras, tudo que
aprendemos e transmitimos de forma não oficial, fora de todas as concepções pré-determinadas,
fixadas por textos e escalas, durante a mais simples convivência social, na família, nas ruas e nas
conversas. A maneira como comemoramos determinada festa; determinado prato cuja receita,
com variações, todo mundo conhece; a maneira com que lidamos com a religiosidade; as
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supertições; certas brincadeiras; certos e vários jeitos que temos para elogiar ou xingar
acontecimentos e pessoas; os modos com os quais expressamos nossas indignações; o linguajar
coloquial do dia-a-dia, dos apelidos entre outras mil coisas.
A cultura popular brasileira guarda fortes, profundas e nítidas raízes populares, isto é,
tem também as influências das raízes populares das quais está impregnada. A cultura popular é a
arte que mostra o que recebe, o que vê e o que não vê, mas existe, é palpável e abre espaço para a
sua interpretação e para compreensão da realidade. E conhecendo a realidade podemos
transformá-la.

2.4 Origens e Fontes


A cultura brasileira tem múltiplas origens e/ou fontes. Ela, apresenta inúmeras facetas e
pode ser descrita como um sistema de várias culturas por vezes regionais e por vezes locais
enraizadas em três fontes e suas tradições: A indígena, a portuguesa e a africana.
Sabemos que não existe só urna tradição indígena, mas sim, muitas e diferentes entre si.
Além disso, italianos, árabes, alemães, poloneses e japoneses, entre outros povos, já fazem parte,
com suas culturas e visão de mundo, de nossa paisagem cultural. Como se vê, a nossa cultura é
legada de um universo imenso e variável.
Uma outra fonte é o elemento folclórico. A cultura popular como hoje é entendida não
existia, existindo, no entanto uma cultura folclórica.
Esta cultura persiste na nossa sociedade, seja em forma de anedotas ou de calão, as quais
se espalham pela população de boca em boca, tal como sempre aconteceu.

2.5 Características
A cultura popular está constantemente a mudar e é específica quanto ao local e ao
tempo.
Dentro da cultura popular, forma-se correntes, na medida em que um pequeno grupo de
indivíduos terá maior interesse numa área da qual a cultura popular mais generalizada se
apercebe apenas parcialmente da existência.
Os ícones da cultura popular tipicamente atraem uma maior quantidade de público;
ocasionalmente, têm um cunho esotérico e como exemplo temos a maçonaria.
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Existem razões porque os itens que atraem as massas dominam a cultura popular. Por
um lado, as companhias que produzem e vendem os seus itens de cultura Popular tentam
maximizar os seus lucros, enfatizando itens que agradam a todos e por outro lado, a cultura
popular é aureolada por uma forma de seleção natural — os seus itens com maior probabilidade de
sobreviver, são aqueles que atraem maior quantidade e variedade de público, propagando-se mais
eficazmente.
Ela é alimentada principalmente às custas das indústrias que têm lucros a inventar e
promover material cultural, entre elas encontra-se a indústria da música popular, do cinema, da
televisão, do rádio, bem como das editoras de livros e de jogos de computador.

2.6 A herança cultural dos brasileiros


A nossa cultura popular é legada de um universo rico, imenso e variável de onde
provem as contribuições fundamentais que imperou na formação da cultura popular brasileira.
Entre todas a contribuições destacamos as primordiais: a herança cultural indígena, a portuguesa
e a africana (em quase todos os brasileiros está presente a miscigenação dessas três raças), e a
herança dos imigrantes.

2.6.1 A raça amarela


Representada pelo índio nativo. A liberdade, uma das características básicas da
formação do caráter do homem brasileiro, foi herdada do indígena, que reagiu ao trabalho que o
português quis lhe impor, fugindo para o interior do país.
Há na herança indígena, legados de ordem material e não material. Entre os tantos de
ordem material podemos citar:
Alimentos - o uso da mandioca, seu cultivo e suas aplicações; a prensa de tipiti, cesta
usada no preparo da farinha de mandioca — é um engenho caboclo acionado por um processo de
parafuso sem fim e por peso para comprimir a massa em seu interior. Essa cesta cilíndrica ainda é
encontrada nas casas de farinha e no meio rural de muitas regiões. O milho e suas aplicações, o
guaraná, o palmito;
índios conheciam e separavam da floresta brasileira.
Objetos como rede de dormir, esteira, cestos, jangada, canoa, armadilha de caça e
pesca, instrumentos musicais (maracá, chocalho, tambores);
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Danças dramáticas — Caboclinhos OU cabocolinhos, Caiapós, Guerreiros, Cateretê e


Cururu (em Minas Gerias, Goiás, e São Paulo, onde a influência indígena foi marcante).
Lendas, mitos e supertições;
Vocabulário (inúmeras palavras como: abacaxi, amendoim, arara, caju, jacaré,
mandioca, milho, pipoca, piranha, sabiá, tatu, urubu / nomes de pessoas: Araci, Iara, beira,
Malra, Moema, Ubirajara... / nome de lugares: Chapecó, Cuiabá, Curitiba, Goiás, Guanabara,
Guaratinguetá, Ipanema, 'piranga, ltajubá, Manaus, Paraná, Roraima, Tapajós, Ubá, Crixás...).
Hábitos (o uso do tabaco, o banho diário, o uso de cores fortes e enfeites).
Em relação à população indígena, a permanência do ambiente não foi suficiente para
compensar a destruição das muitas sociedades tribais. Subsistiram muitas das técnicas e dos
produtos agrícolas, mas inseridos em novos modos de produção, e apenas algumas crenças
relativas à flora, à fauna e aos acidentes geográficos foram conservadas, de forma fragmentária e
incorporadas ao novo folclore de formação.

2.6.2 A raça branca


Representada pelos nossos colonizadores portugueses. Para o Brasil, eles trouxeram
seus hábitos, seus costumes, tradições e sua música. Foi a maior influência cultural que
recebemos. Os brasileiros herdaram dos portugueses:
A língua portuguesa;
A organização social, jurídica e administrativa;
O conhecimento científico e artístico europeu;
A religião católica com suas diversas manifestações (igrejas, procissões, devoção aos
santos, festas religiosas);
Grande parte dos costumes sobre alimentação, vestuário e moradia;
Diversas danças e músicas (festa do Império do Divino, as festas juninas, as festas
nas quais se executavam danças, folguedos, ritos propiciatórios e cantigas de trabalho, as
brincadeiras de roda, serenatas, coretos, cavalhadas,...)
Danças dramáticas (Bumba-meu-boi, Cheganças, Pastoris, Folias de Reis, Folias do
Divino Espírito Santo, Cordão de Bichos);
Instrumentos (guitarra, violão, viola, cavaquinho e flauta);
As técnicas de cultivo próprias da Europa.
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As festas populares, nas quais se executavam danças, folguedos, ritos propiciatórios,


cantigas de trabalho e outros folguedos.
O folclore luso e a cultura popular européia em geral resultaram de um processo de
sedimentação que decorreu durante séculos. Estava de tal modo associado às condições tão
diversas de vida da ladeia campesina que não poderia subsistir em condições tão diversas como
as oferecidas pelo Brasil, em primeiro lugar, climáticas e as técnicas de cultivo próprias da
Europa. As festas populares — nas quais se executavam danças, folguedos, ritos propiciatórios e
cantigas de trabalho — acompanhavam um ritmo agrícola associado às estações do ano. A divisão
do espaço e sua associação a espíritos e entidades sobrenaturais estavam vinculadas ao tipo
particular de oposição entre campo cultivado e floresta. O folclore europeu, rural em grande
parte, dependia de formas de sociabilidade, de relações de trabalho próprias da estrutura de
aldeia, com sua concentração populacional, formas de divisão do trabalho, homogeneidade
cultural e relativa indiferenciação social da população.
No Brasil, ao contrário, as pessoas dispersam-se nos grandes espaços do interior ou
concentram-se em unidades rigorosamente estratificadas, de composição étnica diversa, como é o
caso o cultivo e aproveitamento de grande número de plantas medicinais que os dos engenhos,
alterando assim a própria natureza da vida social.

2.6.3 A raça negra


Representada pelos africanos trazidos como escravos para os trabalhos pesados nas
fazendas. À noite recolhia-se à senzala (casa dos escravos), e para esquecer os maus tratos e
trabalho duro do dia-a-dia, cantavam e dançavam os ritmos de sua pátria distante.
A influência africana é percebida nos brinquedos e brincadeiras; na religião; nas festas e
nos usos e costumes.
O povo brasileiro herdou dos africanos que muito contribuíram no desenvolvimento do
Brasil Colônia:
Alimentos (diversos doces e pratos da cozinha baiana como cocada, pé-de-moleque,
quindim, vatapá, acarajé, caruru);
Religião com o candomblé, benzeduras e todos os objetos místicos (crenças religiosas
que deram origem ao samba, maracatu e maxixe).
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Instrumentos musicais (Adufe, Agogô, Atabaque ou tabaque, Berimbau, Carimbo,


Caxambu, Chocalho, Cucumbi, Cuíca ou Puíta (zabumba, em Portugal e Espanha), fungador,
Ganzá ou cuíca (balafo, na África), Quiçanje, Reco-Reco, Roncador, Socador, Tambor ou tambu,
Triângulo, Ubatá, Vuvu ou vu, Xequeré ou Xequedê);
Nas festas com as danças dramáticas (Maracatu, Congo ou Congada, Bumba-meu-boi,
lundu, samba, capoeira, Taieira, Quilombo);
Vocabulário (banana, caçula, xingar, fubá, moleque, cachimbo, quitanda, cachaça).
Com os africanos o processo de desagregação de representações foi muito mais violento,
mesmo com a semelhança dos ambientes geográficos, brasileiro e africano, a escravidão destruiu
completamente o mundo tribal dos negros e ao mesmo tempo dificultou o desenvolvimento de
novas formas de sociabilidade espontânea. Reuniu representantes das mais diversas culturas, pois
as tribos não falavam a mesma língua de origem. Em alguns lugares, onde, com o tempo
concentraram-se grandes massas de escravos e libertos, possibilitou o encontro de grupos de
origem semelhante, e através do contato permanente com a África (importação de escravos),
reconstitui-se parte da cultura original.

2.6.4 Os imigrantes
Eles trouxeram de suas pátrias de origem uma grande contribuição: enriqueceram nossa
língua com novas palavras, ensinaram-nos suas danças, músicas, artes, crenças, orações, lendas,
anedotas e remédios caseiros.
Na formação da nossa língua portuguesa houve o aproveitamento de várias palavras de
outros idiomas. Muitas foram aportuguesadas, outras guardam a grafia de sua língua originária.
Podemos citar algumas palavras de outras línguas que foram incorporadas ao português
(Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antenor Nascentes, 1932):
Açougue (árabe), berinjela (persa), biombo (japonês), buldogue (inglês), burocracia
(francês), calouro (grego moderno), chá (chinês), crocodilo (egípcio), escorbuto (russo), edredão
(sueco), escuna (holandês), estopim (catalão), galera (italiano), gongo (malaio), pandeiro

(espanhol), sandália (turco).

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