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Historias... Tantas histórias.

Me lembro de ter lido um conto sobre um casal há algum tempo. Não tenho boa
memória, então só me recordo daquilo que realmente marca. Aquilo que me apaixona.

Eles se conheciam desde a infância, desde a época em que brincadeiras bobas


traziam as mais ricas gargalhadas, uma época onde amor era muito mais do que um
jogo de conquista e sexo, era algo puro, divino até, sei lá.

A verdade é que eu não sei como é o final da história, só lembro de me sentir


parte de uma família, parte de um conto de alegria e amor, e dessa emoção que não
sei se consigo descrever: uma felicidade utópica, tal como uma lembrança antiga de
algo que tive quando criança, os restos de um pensamento que há longo se esvaiu,
transformado em um sentimento nostálgico sobre algo que nunca aconteceu.

De vez em quando penso nessas histórias ao meu redor. Andando pelas


prateleiras infindáveis, limpando a poeira dos livros sujos, catalogando os novos. Me
pergunto se este lugar teve um começo ou fim, mas acho que não me lembraria deles
se existissem. Não sei se esqueci de muito, mas diria que sim, não tenho certeza.

Estou no meu sexagésimo quarto livro do dia, tenho mais algumas centenas
para catalogar hoje e seis ou sete milhares para limpar, estou....cansado?

Não.

Cansado não é a palavra certa. Triste, depressivo, estou caindo em pedaços.

Leio sempre tantas histórias sobre personagens, cenas, épocas e contextos


completamente diferentes e mesmo assim sempre encontro a mesma semelhança
entre todos esses livros.

A imutabilidade de seus destinos, de suas definições. De suas vidas.

Estou ciente que vivo no presente, presente tão incerto, perpétuo e inconstante.
Isso me faz mal. Saber que meus erros do passado podem sempre ser repetidos
constantemente, sem pista de quem sou “eu” no fim das contas, saber que minha vida
não tem propósito, uma massa disforme em constante mudança, sem identidade
própria. Nem mesmo sei como cheguei aqui, será que já fui diferente? O quanto meu
meio foi capaz de modificar minha essência, se é que tenho uma?
Por isso me sinto assim. Pois não sou nada. Nunca serei nada. Não posso
querer ser nada. À parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo.

E se pudesse me expressar em palavras. Ah, se eu pudesse me expressar em


palavras. Se pudesse reter minha definição em poucos versos... Que sonho seria.

Pois assim encontro liberdade para tomar qualquer forma, tão ilusória quanto
quiser. Eu sou tudo. Eu sou nada. E então deixo de ser tudo e nada para assim
tornar-me todos os sonhos do mundo. Perdido na contradição de minha verdade,
encontro estabilidade no imutável.

Aqui nesse espaço, nessas poucas palavras, versos, páginas, apenas aqui. Eu sou.

E assim, adiciona-se mais um livro, na grande biblioteca.

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