Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Me lembro de ter lido um conto sobre um casal há algum tempo. Não tenho boa
memória, então só me recordo daquilo que realmente marca. Aquilo que me apaixona.
Estou no meu sexagésimo quarto livro do dia, tenho mais algumas centenas
para catalogar hoje e seis ou sete milhares para limpar, estou....cansado?
Não.
Estou ciente que vivo no presente, presente tão incerto, perpétuo e inconstante.
Isso me faz mal. Saber que meus erros do passado podem sempre ser repetidos
constantemente, sem pista de quem sou “eu” no fim das contas, saber que minha vida
não tem propósito, uma massa disforme em constante mudança, sem identidade
própria. Nem mesmo sei como cheguei aqui, será que já fui diferente? O quanto meu
meio foi capaz de modificar minha essência, se é que tenho uma?
Por isso me sinto assim. Pois não sou nada. Nunca serei nada. Não posso
querer ser nada. À parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Pois assim encontro liberdade para tomar qualquer forma, tão ilusória quanto
quiser. Eu sou tudo. Eu sou nada. E então deixo de ser tudo e nada para assim
tornar-me todos os sonhos do mundo. Perdido na contradição de minha verdade,
encontro estabilidade no imutável.
Aqui nesse espaço, nessas poucas palavras, versos, páginas, apenas aqui. Eu sou.