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EXCELENTÍSSIMO(A) SR(A). DR(A).

JUIZ(A) DE DIREITO DA 3ª JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA COMARCA DE JOINVILLE – SANTA CATARINA.

Autos n.º 0024420-68.2007.8.24.0038

Ademar Rodrigues, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem por meio
de seu advogado abaixo assinado, propor a presente

RÉPLICA

Diante dos novos fatos alegados em contestação.

BREVE RELATO DOS FATOS

Em síntese, a requerida busca eximir-se do pólo passivo da presente ação e


justifica ser o Poder Judiciário o verdadeiro culpado dos erros que geraram
transtornos significativos para o requerente. Ademais, impugnou o pedido de justiça
gratuita e também o valor sugerido como dano moral.

1. Da impugnação à justiça gratuita

Pois bem Excelência, a parte requerida aduz que a concessão do benefício


da gratuidade de justiça em favor da parte autora é indevida, sob o argumento de
que não foram apresentados documentos pelo requerente em sua exordial que
indicassem não possuir renda suficiente para arcar com os custos do processo sem
comprometer o sustento próprio e de sua família, não sendo a mera declaração de
pobreza suficiente para o deferimento da benesse.

Entretanto, dispõe o art. 98 do Código de Processo Civil que "A pessoa


natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para
pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito
à gratuidade da justiça, na forma da lei."

Com efeito, "(...) Consoante previsão do artigo 5º, LXXIV, da Constituição


Federal, é dever do Estado prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos, donde se extrai que a declaração firmada
pelos Autores quanto a sua impossibilidade em arcar com as despesas processuais,
por si só, é capaz de conferir a concessão do benefício (...)" (Agravo de Instrumento
n. 4025458-15.2017.8.24.0000, de São José, rel. Des. Joel Figueira Júnior)

Portanto, para a concessão do benefício basta a simples alegação da parte


requerente (art. 98 do Código de Processo Civil), o que fulmina o argumento da
parte ré no sentido contrário.

Contudo, é cediço que a presunção de pobreza possui natureza relativa, ou


seja, admite que a parte contrária a desconstitua.

Acerca do tema, assentou o Superior Tribunal de Justiça:

"Agravo regimental. Justiça gratuita. A parte que requer o benefício da


assistência judiciária gratuita goza, em tese, de presunção de pobreza, que,
entretanto, poderá ser elidida por prova em contrário." (Agravo Regimental
no Agravo de Instrumento n. 272675, Rel. Min. Eduardo
Ribeiro)

Porém, para a impugnação de sua concessão, afigura-se necessária a prova


das assertivas.

Neste norte:

"APELAÇÃO CÍVEL. IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA.


IMPROCEDÊNCIA NA ORIGEM. AVENTADA TESE NO SENTIDO DE QUE
A CONSTITUIÇÃO DE ADVOGADO PARTICULAR PRESSUPÕE
RENÚNCIA AO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA. INACOLHIMENTO.
GRATUIDADE DA JUSTIÇA QUE, AO CONTRÁRIO DO QUE BUSCA SE
VALER O APELANTE, NÃO SE RESTRINGE ÀS PESSOAS ASSISTIDAS
PELA DEFENSORIA PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE QUE O FATO DE O
IMPUGNANTE DECLARAR IMPOSTO DE RENDA POR TER RENDA
SUPERIOR À MAIORIA DA POPULAÇÃO DEVERIA OBSTAR O
DEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA. SEM RAZÃO O RECORRENTE.
IMPUGNADO ACOSTOU AOS AUTOS DA DEMANDA PRINCIPAL
DOCUMENTOS SUFICIENTES A COMPROVAR SUA ALEGADA
HIPOSSUFICIÊNCIA FINANCEIRA. AUSÊNCIA DE PROVA CAPAZ DE
DERRUIR A SITUAÇÃO DE HIPOSSUFICIENTE DA PARTE IMPUGNADA.
DECISUM MANTIDO. APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. (Apelação
Cível n. 0009904-44.2014.8.24.0023, da Capital, rel. Des. André Carvalho)

E, ainda:

“A impugnação à assistência judiciária só deve ser acolhida se revestida de prova


contundente capaz de descaracterizar a declaração de pobreza emitida pelo
assistido. Destarte, a simples afirmação da parte impugnante de que teria o
beneficiado condições de arcar com as despesas processuais, diante da renda
auferida por aquele, não prevalece frente à declaração feita na petição inicial.”
(Apelação cível n. 2003.000816-0, de Concórdia, rel. Desa. Salete Silva Sommariva)

Deste modo, frisa-se que a parte requerida não comprova que o requerente
tenha condições de arcar com as custas do processo sem prejuízo de seu sustento
e de sua família. Vejamos bem, conforme já comprovado pelo requerente e
novamente juntado aos autos, o valor de sua aposentadoria é de R$1.922,00 (um
mil, novecentos e vinte e dois reais), ou seja, menor que dois salários mínimos
atualmente.

Destarte, a impugnação do requerido é absolutamente controversa com a


finalidade da justiça gratuita, qual seja, garantir o amplo acesso à Jurisdição às
pessoas notoriamente menos favorecidas. Assim, ratifica-se o pedido para
concessão da justiça gratuita.

2. Do responsável pelo erro de homônimo

Em sede de contestação, a parte requerida assume ter ocorrido o erro de


homônimo e afirma que o real devedor é o senhor Ademar Rodrigues (CPF
293.540.139-53), conforme observamos:
Desta forma, fica incontestável que existiu erro. Nesse diapasão, o requerido
justifica ser culpa exclusiva do Poder Judiciário o erro, vejamos:

Contudo, de acordo com a própria requerida, os fatos narrados induziram o


requerido ao erro, ou seja, assume também existir erro por parte do requerido.

Por fim, a base das argumentações do requerido consistem em substituir o


culpado pelo notável erro, justificando ter sido induzido por erro pertencente ao
Poder Judiciário.

3. Da impugnação aos danos morais

Em síntese, o Requerido indica não ter sido comprovado efetivo prejuízo ao


Requerente para que ensejasse reparação.

Vejamos que o requerente, senhor Ademar Rodrigues, é idoso com idade de


69 anos e nunca figurou pólo passivo de nenhuma ação judicial. Nesse sentido, o
Requerido foi ao banco para retirar sua aposentadoria mensal, como faz todos os
meses e, totalmente surpreendido, descobriu que o valor teria sido bloqueado. Ora,
Excelência, um senhor idoso ao descobrir que sua aposentadoria estava bloqueada
pela justiça, sem ao menos entender do que se tratava e precisando, obviamente,
de sua remuneração mensal para a manutenção de sua vida, entrou em pânico
imediato.

Desta forma, precisou recorrer à parentes para que o ajudassem


financeiramente até que seus problemas fossem resolvidos na justiça. Destaca-se
que sua aposentadoria ficou bloqueada pelo período de 39 dias. Por mais
extraordinário que possa aparentar, um senhor de 69 anos ficou 39 dias com sua
aposentadoria bloqueada pela justiça em função de um erro de homônimo.

É evidente que os transtornos causados não formam mero dissabor.


Ademais, é preciso salientar que além da inclusão equivocada do Requerente no
pólo passivo dos autos de n° 5001293-98.2016.8.24.0038, também configurou um
ato atentatório à dignidade do Requerente o bloqueio de valor IMPENHORÁVEL,
qual seja, sua aposentadoria.

Em caso semelhante, conclui o Egrégio Tribunal:

Apelação cível. Danos morais. Execução fiscal. Bloqueio judicial


de conta de homônimo. Valor inferior a quarenta salários mínimos.
Impenhorabilidade, Inteligência do art. 649, X, do Código de Processo Civil.
Indenização devida. Falta de cautela do Município. Provimento. A quantia
depositada em caderneta de poupança, inferior a 40 (quarenta) salários
mínimos, é impenhorável, por proteção do artigo 649, X, do CPC. É devida
a indenização por danos morais como compensação pelo abalo
emocional sofrido e os aborrecimentos advindos de indevida
execução, servindo inclusive para que o Município tome maiores
precauções para que situações como essas não se repitam ( TJSC, AC
n. 2005.005821-9, de Balneário Camboriú, rel. Des. Francisco Oliveira
Filho, j. 12.4.2005).

Destarte, conforme descrito pela exordial e ratificado em réplica, não há a


menor dúvida dos danos sofridos pelo aposentado, bem como a responsabilidade
objetiva do Requerido. Apenas o fato de ter arrolado o autor indevidamente no
processo já justificaria o dano moral. Não obstante, ainda houve a constrição da
aposentadoria, o qual gerou um prejuízo ainda maior.

É de bom alvitre, também, destacar que o dano moral, em virtude de sua


natureza subjetiva, prescinde de demonstração, da prova do dano, sendo suficiente,
para sua caracterização, a existência de três elementos essenciais: o dano, o ato
culposo e o nexo causal. Todos presentes no caso sub judice.
4. Do quantum indenizatório

Por fim, sem controvérsias em relação à existência dos erros e suas


consequências. Há a discussão acerca do quantum indenizatório. Pois bem, de
forma insistente e com absoluta ausência de empatia, o Requerido insiste não haver
abalo moral nos episódios ocorridos com o Requerente. Assim, devemos recorrer
aos ensinamentos jurisprudenciais para estabelecer o adequado cálculo de dano
moral. Conforme critérios pontuais levantados, a indenização por dano moral deve
ser moderada e razoável, levar em conta o grau de culpa, o nível socioeconômico
das partes envolvidas, as circunstâncias fáticas e desestimular o ofensor.

Portanto, é fundamental sua razoabilidade e o argumento do Requerido com


o intuito de evitar enriquecimento ilícito é consenso. Contudo, também deve-se
considerar o nível socioeconômico das partes envolvidas e o desestímulo com a
repetição das práticas danosas. Nesse diapasão, ao discriminar o nível
socioeconômico das partes, observamos a discrepância entre um senhor
aposentado com rendimentos mensais inferiores a 2 salários mínimos e uma
empresa “Com mais de 2.300 funcionários (atualização em 15/10/2020), presente
em 9 municípios, atendendo uma área geográfica de mais de 1,6 milhão de
pessoas” de acordo com seu próprio site. (https://www.ambiental.sc/quem-somos/).
Ademais, o desestímulo do ofensor consiste em evitar que as práticas danosas se
repitam, portanto, um valor ínfimo para uma empresa do tamanho da Ambiental
Limpeza Urbana e Saneamento não cumpriria a finalidade de tal critério. Pelos
argumentos mencionados, o Requerente ratifica o quantum indenizatório almejado
pela exordial.

Nestes termos, ratifica-se os pedidos presentes na petição originária.

Daniel Kyoshi
OAB/SC 33120

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