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A CRIANÇA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Ana Paula de Souza


Franciele Rozanscki
Prof. Orientador Gabriella Araújo Souza Esteves
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Curso Pedagogia Turma PED 1478 – Trabalho de Graduação
23/10/2019

RESUMO

Este trabalho de graduação tem como tema: A criança e o processo de alfabetização, o qual visa
contribuir para que se entenda melhor como acontece e o que envolve processo de alfabetização.
Dentro desse processo veremos a importância do que o lúdico representa, o papel do desenho, os
"erros" das crianças que podem ser trabalhados, o ler e o escrever que devem evoluir como
linguagem e não como instrução programada. Procuramos também elucidar algumas formas de
alfabetização, onde falamos dos tipos de métodos a serem aplicados, assim como alguns exemplos.

Palavras-chave: Alfabetização; Métodos; Lúdico.

1 INTRODUÇÃO

A alfabetização é um assunto muito rico e abrangente, pois o mesmo envolve educador e


educando num passe de mágica, onde ambos aprendem e trocam suas experiências, as crianças vêm
para a escola com uma bagagem rica de conhecimentos que podem e devem ser utilizados no
processo da alfabetização.

O processo de aquisição da linguagem se dá desde muito cedo, antes mesmo da criança


entrar na escola, tendo como base a fala e os gestos, que fazem parte, naturalmente, do seu dia a dia.
O processo de alfabetização na sala de aula requer domínio de conteúdo por parte do
professor e também uma boa percepção para que no decorrer do seu trabalho, esteja apto a
identificar em que fase do desenvolvimento da alfabetização a criança se encontra. Caso haja algum
problema, o professor deve identificar o que atrapalha no aprendizado de seu aluno para que possa
interferir da melhor maneira possível. Cada aluno tem suas aptidões e particularidades no processo
de aprendizagem.
Dentro desse processo não se deve ignorar que o lúdico e dentro dele, o desenho,
desempenha um importante papel no processo que antecede a alfabetização, pois permite que a
criança expresse o que ela sente, vive, pensa sem mesmo utilizar o código linguístico, trabalha
também a coordenação motora fina, imaginação, interpretação, criatividade podendo através de
desenhos construir um texto sem obrigatoriamente utilizar as letras do nosso alfabeto. O desenho
pode ajudar a criança a se soltar e ter pensamento livre, sem se preocupar com as opiniões dos
outros, podendo refletir suas inseguranças, medos e experiências expressas através do mesmo.

A alfabetização deve proporcionar às crianças, a aquisição de novas competências, para que


gradativamente possa compreender o mundo que a cerca tornando-se um cidadão crítico, reflexivo,
capaz de argumentar e defender suas ideias.

Mas qual é o caminho que a criança percorre no processo de aquisição da linguagem escrita?
“A alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é, na maioria dos
casos, anterior à escola e que não termina ao finalizar a escola primária (Ferreiro 2003, p.47).”

Por meio dos estágios podemos entender um pouco mais sobre a importância da educação
infantil para o processo da alfabetização. É na educação infantil que se trabalha a coordenação
motora fina, a oralidade e o desenho que são etapas que antecedem a escrita e são de suma
importância para o desenvolvimento da alfabetização e a aquisição da escrita. Importante também é
que não devemos pular etapas, pois estas vêm a interferir no desenvolvimento da alfabetização das
crianças. É necessário que o professor, além da formação específica, saiba como desenvolver o
processo de alfabetização em sala de aula procurando sempre acompanhar as fases de
desenvolvimento das crianças.

A alfabetização é um processo muito rico e de fundamental importância para a formação da


criança, é um trabalho que se inicia na educação infantil e continua nos anos iniciais do ensino
fundamental, o que demonstra mais uma vez que a educação infantil é realmente o alicerce do
desenvolvimento infantil e que, se bem trabalhado, pode trazer grandes benefícios para a formação
da criança, ou, caso contrário, pode comprometer todo o processo de desenvolvimento da mesma.

As crianças desde muito pequenas estão diretamente em contato com a linguagem escrita.
Estando em um meio social muito diversificado de letras, números e palavras, através de jornais,
revistas, televisão, outdoors, rótulos, embalagens, etc, proporcionando o interesse e curiosidade das
crianças pela língua escrita, tentando interpretar os diversos textos que encontram ao seu redor.
Quando a criança entra na educação infantil ela trás consigo essas vivências, mesmo ela ainda não
sabendo ler a criança é capaz de levantar hipóteses sobre certas palavras por meio de desenhos que
fazem parte do seu cotidiano.

Por isso, é necessário que o professor estimule os aspectos motores, cognitivos e sociais. A
alfabetização para ter sentido, ser um processo interativo, a escola necessita trabalhar com o contexto
da criança, com histórias e com intervenções das próprias crianças para que assim proporcione uma
aprendizagem significativa e esta venha a ter sentido para as crianças.

“As crianças são facilmente alfabetizáveis deste que descubram, através de contextos sociais
funcionais, que a escrita é um objeto interessante que merece ser conhecido” (FERREIRO 2003,
p.25).

Os "erros" das crianças podem ser trabalhados, ao contrário do que a maioria pensa, esses
"erros" demonstram uma construção, estes também fazem parte do processo de alfabetização, pois
através dos erros também é possível aprender. Com o tempo os erros vão diminuindo, pois as
crianças começam a se preocupar com outras coisas (como ortografia) que não se preocupavam
antes, pois estavam apenas descobrindo a escrita. O que dificulta a aprendizagem muitas vezes é
inibir que a criança tente mesmo errando, pois este é um processo para a construção e evolução da
escrita. Muitas vezes a correção imediata pode impedir a reflexão e a interpretação, tanto pela
criança quanto pelo professor.

Em língua escrita todas as metodologias tradicionais penalizam continuamente o erro,


supondo que só se aprende através de reprodução correta, e que é melhor não tentar
escrever, nem ler, se não esta em condições de evitar o erro. A consequência inevitável
é a inibição: as crianças não tentam ler nem escrever e, portanto não aprendem
(FERREIRO, 2003, p. 31).

O ler e o escrever devem evoluir como linguagem e não como instrução programada, por
isso é fundamental a participação ativa da criança. À medida que o contato com situações de escrita
aumentam, o material gráfico se transforma em algo que desperta a curiosidade e atenção onde
então se tem como resultado a construção de ideias e hipóteses que contribuem para este processo
de construção da alfabetização.

Os gestos também fazem parte do processo de construção da escrita, pois este vem a ser uma
forma de a criança pensar e reproduzir suas interpretações, antecedentes à escrita.
A influência dos gestos manuais sobre o desenvolvimento posterior a escrita é uma
maneira de pensar que esta fundamentada em uma certa perspectiva teórica a respeito
dos processos de aprendizagem. Tal fundamentação intervém desde o planejamento da
situação experimental, envolve a descrição dos comportamentos, e chega até as
interpretações dos resultados colhidos (SEBER 1997, p.208).

Os rabiscos também exercem importante função nesta etapa do processo sendo que através
deles a criança procura representar e construir seus conceitos mais complexos. Depois os rabiscos
são substituídos pelos desenhos, é quando surge a escrita pictográfica, pois a criança traduz
graficamente as frases que lhes são ditas em desenhos para assim poderem representar suas
interpretações e gradativamente esses desenhos vão dar lugar à escrita alfabética. A criança antes de
conseguir produzir um texto escrito através do alfabeto ela é capaz de produzir textos representados
pelo desenho de maneira bem complexa e com suas ideias colocada em uma sequência como forma
de texto, só que invés de a criança utilizar o alfabeto ela utiliza o desenho como meio de
representação. A criança mostra por meio do desenho que as coisas estão representadas de forma
significativa e com sentido para ela.

A figuração apresentada no desenho é dotada de significado e, como produto de uma


atividade mental da criança, reflete sua cultura e seu desenvolvimento intelectual.
Quanto mais privilegiado for o ambiente cultural da criança, maior será sua
possibilidade de criar figurações. Quanto mais a criança amplia suas relações
intersubjetivas e culturais, maiores as probabilidades de aumentar o seu repertorio de
imagens mentais (FERREIRO 2003, p.440).

A criança representa em seu desenho tudo aquilo que conhece do objeto que ela está
simbolizando, por isso, o desenho de memória pode ser considerado como uma narração de texto. O
seu desenho é produto do seu pensamento, a criança simboliza o que faz sentido para ela. A
realidade que tem no desenho é a realidade significativa, isto é, a realidade que tem sentido para a
criança.

A alfabetização das crianças envolve muitos estágios os quais passam, até compreenderem o
ler e o escrever. Diversos autores descrevem e estudam estes estágios, dentre eles, podemos
destacar principalmente: Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, que se preocuparam em entender as
estratégias que a criança utiliza para se chegar à construção da língua escrita.
A educação infantil, também tem um papel fundamental neste processo de alfabetização,
cabe, a escola e professores, dar todo apoio e incentivo a criança na construção deste processo. Um
dos objetivos da educação infantil é trabalhar e desenvolver as diferentes linguagens (corporal,
musical, plástica, oral e escrita), ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de
forma a compreender e ser compreendido, expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e
desejos e avançar no seu processo de construção de significados, com isso, contribuindo para a
aquisição da linguagem escrita. A construção da alfabetização inicia antes mesmo de a criança
ingressar na educação infantil e continua o seu processo no ensino fundamental, sendo este um
processo sem fim, estando sempre apto a receber novas contribuições. “Considero a alfabetização
não um estado, mas um processo. Ele tem início bem cedo e não termina nunca” (FERREIRO,
2003, p.28).

2 A HISTÓRIA DA ESCRITA

A utilização da escrita para o registro do saber produzido pelo homem é acompanhada por
uma transformação progressiva nos mecanismos de transmissão do conhecimento. Inicia-se então,
um processo de acumulação do saber, gerando a possibilidade de criação de conhecimentos novos a
partir do acervo já disponível. Se, de início, a escrita é apenas um suporte gráfico da memória
auditiva, com a chegada da escrita, a palavra é retirada do seu universo sonoro e transformada numa
representação no espaço da página impressa.

A escrita vai surgir no mundo antigo, num momento histórico caracterizado pelo
desenvolvimento simultâneo de uma série de elementos diversos, a que chamamos de civilização.
Segundo Barbosa (1991) a escrita é considerada um marco da passagem da pré-história para a
história. É principalmente a partir do registro escrito que se recompõe a forma de vida de um povo
em uma determinada época. A escrita tem origem no momento em que o homem aprende a
comunicar seus pensamentos e sentimentos por meio de signos, os quais devem ser compreensíveis
por outros homens que possuem ideias sobre como funciona esse sistema de comunicação.

A pintura foi um antecedente da escrita. O desenho passa a ser utilizado como símbolo para
identificar símbolo ou objeto. Esta é considerada uma etapa descritiva. A descrição evolui para uma
etapa de escrita mnemônica ou representativa. Nesta etapa o mesmo desenho representa sempre o
mesmo objeto para todos os homens que entendem esse sistema de representação.
De acordo com Barbosa (1991), a Suméria é considerada o berço da escrita. O primeiro
registro que se conhece é o de uma lápide, encontrada nos alicerces de um templo em Alubaid. O
construtor do templo escreveu nela o nome do seu rei. Esse rei pertenceu a uma dinastia entre 3150
e 3000 a.C.a mais primitiva escrita sumeriana era ideográfica, ou seja, composta de sinais que
representam idéias e não palavras. Mais tarde com o avanço da economia a escrita evolui para o
sistema cuneiforme onde o signo passa a ter valor fonético. Estes são sinais gráficos em forma de
cunha, traçados em tijolos de argila por meio de instrumentos de metal. Esses sinais são em grande
parte silábicos.

A partir da representação silábica herdada do povo semítico os gregos desenvolveram o


alfabeto, o qual representa um conjunto de sinais da escrita que expressa os sons individuais da
língua. Para isto os gregos desenvolveram um sistema de vogais, que ao se unirem aos signos
silábicos formam as sílabas simples dos signos consonânticos. Assim surge um completo alfabeto
formado por 27 letras. O nosso alfabeto latino também se desenvolveu a partir do alfabeto grego. A
evolução da escrita é marcada pela necessidade de intercomunicação entre os povos.

Aprender a língua escrita é mais do que aprender um instrumento de comunicação e,


sobretudo, construir estruturas de pensamento capaz de abstrações mais elaboradas. Tendo em mãos
esse desafio, cabe, uma análise mais detalhada dos elementos envolvidos nesse processo, que são
fundamentalmente o aluno, professor e a língua escrita. A forma como percebemos cada um desses
elementos, determina um ou outro procedimento metodológico a ser trabalhado. Assim, faz parte
deste procedimento, o método sintético e analítico, que faz um trabalho diferenciado em relação à
maneira de como trabalhar a alfabetização com a criança.

3 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO

3.1 SINTÉTICO

O método sintético caracteriza-se pela escolha de uma “palavra chave”, para ensinar a letra inicial
desta palavra e sua combinação com as vogais. O método segue esta ordem: o aluno aprende as
letras, depois as silabas, as palavras, as frases e por último o texto completo. Isto é parte do mais
simples para o complexo. Não podendo avançar, a criança trabalha sobre fragmentos e
consequentemente sua aprendizagem fica reduzida a decifrações. Na maioria das vezes, o ato de ler
torna-se um exercício de articulação oral.
Esses são alguns dos processos de alfabetização do método sintético:
1- Processo da Abelhinha: este é basicamente fonético, parte do som das palavras, por
meio de uma historia em capítulos, onde aparecem cinco sons de cada vez. Os sons são definidos
com os barulhos que ocorrem, e estes, correspondem a um personagem ou elemento de uma
história, sendo escolhido porque o som inicial de seu nome é representado por uma letra que se
assemelha a forma do desenho. Após a representação dos sons, procede-se à junção dos sons,
formando palavras. Posteriormente, o aluno lera expressões e frases.
2- Processo Caminho Suave: utiliza palavra-chave como pretexto para a silabação.
Centra a aprendizagem na visualização repetida da inter-relação entre o desenho e a letra. Partindo
da palavra-chave, procede-se ao estudo da silaba (consoante, vogal, consoante e outras vogais).
3- Processo Casinha Feliz: é basicamente fonético. Utiliza a fonação condicionada e
repetida para a memorização das unidades sonoras, que são representadas através de uma história
em capítulos.
4- Processo Montessori: também é fonético, apresentam as vogais e suas combinações,
consoantes, palavras, frases de maneira individualizada, respeitando a autonomia, liberdade com
limites e respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades físicas, psíquicas e sociais da
criança.

Todos esses processos pressupõem que cada letra corresponde a um som, o que se constitui
num equivoco, pois, na representação gráfica da língua portuguesa, nem sempre uma única letra
corresponde a um único som e vice-versa.

“O método sintético propõe que a criança analise as palavras decompostas


em seus elementos mínimos, esquecendo-se de que ela pode muito bem
reconhecer de imediato a palavra inteira, num lance de
olhar”(BARBOSA,1991,p.50).

Se tal situação não for bem trabalhada, acaba gerando confusão na cabeça do aluno. O aluno
não é levado a perceber que as palavras são compostas de combinações de letras, limitando-se a
reproduzir sons e sílabas isoladas e criar frases estereotipadas de acordo com o modelo. A forma de
como é direcionada a leitura e a escrita, cria barreiras para o surgimento da criação espontânea, uma
vez que a criança não pode ir alem do proposto.

Pressupõe-se que, nenhuma metodologia é perfeita e atingira todos os alunos de maneira


igual, pois, sabe-se das diferenças individuais de cada um dentro do processo que envolve a
aprendizagem.
Sabendo disso, o educador deverá observar seus alunos e refletir sempre sua prática, buscando
aprofundar seus conhecimentos, para assim, compreender o ritmo e atender as necessidades e o
interesse de cada aluno durante o seu processo de aprendizagem. Para ajudar um aluno a ler, deve-
se estar sensibilizado pela complexidade do processo e das fases que envolvem o mesmo e também
a da própria infância.

3.2 ANALÍTICO

O método analítico surge do pressuposto de que a criança tem uma visão global das coisas
para, depois, deter-se nos detalhes. A polemica destes métodos, ora é privilegiar um ora outro modo
de se alfabetizar, ou mesmo fazendo a junção deles o que são chamados métodos mistos.
Esses são alguns dos processos de alfabetização do método analítico:
1- O Processo do professor Erasmo Piloto, parte das palavras que são decompostas em
sílabas, levando ao estudo das famílias silábicas, composição de novas palavras e formação de
sentenças. Parte do pressuposto de que ler é saber a correspondência entre o símbolo gráfico e o
som.
2- O Processo Global ( Miriam Bittencourt), inicia a alfabetização por meio de cartazes
de experiência, onde os alunos são induzidos a formar pequenas histórias de acordo com a
experiência vivida, organizando um vocabulário básico. Numa fase posterior o aluno reconhece o
perfil de algumas palavras, procede-se a analise fonética, ou seja, das silabas e a formação de novas
palavras, frases e historias.
3- O Processo Lúdico segue passos pré-determinados para trabalhar com a palavra-
chave, universalização da palavra-chave, leitura da frase, do texto, das silabas, formação de novas
palavras, leitura silenciosa e oral das palavras. É chamado de Lúdico porque é sistematizado do
inicio ao fim através de jogos, brincadeiras, utilizando como material de apoio à cartilha.
4- O Processo Natural (Heloisa Marinho), parte de que o domínio da linguagem oral
precede e consolida o domínio da escrita. Utiliza palavras do vocabulário próprio do aluno.
Apresenta palavras, procede à decomposição em unidades sonoras, formação de novas palavras e
frases. Esses processos analíticos trabalham com uma visão pobre de texto, tornando-o como mero
pretexto para a representação das famílias silábicas.

3.3 ANALÍTICO-SINTÉTICO

O método analítico-sintético ou método misto como também é chamado por muitos autores
se dá através do trabalho conjunto dos dois métodos citados anteriormente, pois muitas vezes esses
métodos são utilizados em conjunto, ora privilegia-se um ora outro modo de se alfabetizar, ou
mesmo fazendo a junção deles formando assim o método misto.

4 O DESENVOLVIMENTO DO GRAFISMO

As garatujas e os desenhos são as primeiras formas de expressão escrita representadas pela


criança onde através do desenho é possível a representação de um texto com inicio, meio e fim sem
que a criança faça necessariamente o uso das letras alfabéticas.

Segundo Lowenfeld (1977), o desenho infantil passa por vários estágios os quais são muito
importantes serem bem trabalhados pelo educador com seus alunos, pois, esta é uma das primeiras
etapas gráficas da criança se expressar com o mundo exterior. De acordo com Lowenfeld (1977) são
elas:

4.1 A FASE DAS GARATUJAS

A interação da criança com o meio é muito importante para o seu desenvolvimento, e o


desenho possibilita esta interação, pois as vivencias do meio interferem na atividade artística da
criança. Quando a criança já consegue segurar o lápis e fazer rabiscos e traçados, o que chamamos
de garatujas, que não tem marcas de expressão é simplesmente por prazer sensório-motor. Esse
primeiro rabisco é um importante passo para o seu desenvolvimento, pois é esse inicio da expressão
que conduzira o desenho, a pintura e a escrita.
De acordo com Lowenfeld (1977, p. 177):

O primeiro rabisco é um importante passo no seu desenvolvimento, pois é o inicio da


expressão que a conduzira não só ao desenho e a pintura, mas também a palavra escrita. A
forma como essas primeiras garatujas forem recebidas pode ter enorme importância em seu
continuo crescimento.

5 JEAN PIAGET E SUAS CONTRIBUIÇÕES

Segundo Cócco (1996), Jean Piaget (1896-1980) foi um educador, psicólogo, biólogo e
filosofo suíço. Um dos autores contemporâneos mais citados reformulou em bases funcionais as
questões sobre o pensamento e a linguagem. Ao mesmo tempo pensador e cientista experimental,
foi um psicólogo a quem interessava uma visão transformadora da epistemologia.

Para Piaget o modelo pedagógico é o de aprender a aprender e não o de ensinar, e o de


construir e não o de instruir. Dai ter como base fundamental, teorias construtivistas, que têm, em
Piaget, o teórico de maior expressão. Uma das hipóteses centrais para o trabalho de Piaget foi a de
que todos os homens são inteligentes e que esta inteligência serve para buscar e encontrar respostas
para seguir vivendo. Por isto mesmo, a inteligência apresenta duas condições inerentes para nós: a
organização e a adaptação em um mundo em constante transformação.

Segundo Piaget, a inteligência, pelos mecanismos de assimilação e acomodação, é que


permite que as mais diferenciadas interações aconteçam. Estas interações, hoje, são intensificadas
pela disponibilização, crescente de recursos tecnológicos a faixas mais amplas da sociedade.
Segundo Piaget, conhecer é atuar sobre a realidade, modificando-a mediante esquemas de ação e
esquemas representativos aplicados para lhe dar sentido. Este movimento de assimilação é,
inevitavelmente, acompanhado de um movimento de acomodação destes esquemas, em função das
resistências que a própria realidade oferece para se deixar assimilar. Conhecer, então, significa
atuar, pois assim os alunos aprendem como desenvolver suas inteligências vivenciam processos
solidários de troca, perguntam e buscam respostas a problemas de seu interesse e do coletivo, enfim,
constroem conhecimento, desenvolvem novos esquemas de ação e representação.

Piaget identifica como a busca constante do equilíbrio, através de trocas entre sujeito e
meio, trocas estas que podem ser caracterizadas como uma sucessão de estados temporários de
equilíbrio, separados por fases de desequilíbrio e busca de novos equilíbrios, em novos patamares.
Alunos e professores têm evidenciado uma compreensão de mundo onde tudo está conectado e em
renovação contínua, formando um todo não mais possível de ser fragmentado. O mundo é visto e
compreendido sob uma ótica holística e ecológica. Este novo posicionamento tem facilitado o
desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares, construídos em processos de interação à distância.

Nesta visão de educação, aluno, professor e os processos de aprender passam a ter novos e
significativos papéis. O aluno passa a ser o foco do processo de aprender. É considerado como um
sujeito original, diferenciado em suas inteligências, dotado de estilos próprios de aprender, que
trazem, como consequência, diferentes formas e caminhos de resolução de problemas. É, também,
considerado um sujeito coletivo, que influência e é influenciado por ações e pensamentos,
reconhecendo o potencial do outro em processos cooperativos de construção. Ele é o protagonista.
O professor, além de especialista, passa a ser o articulador, o orientador e o parceiro. Cabe a
ele ajudar a combinar interesses, necessidades e estilos de aprender dos alunos com as
possibilidades curriculares que diferentes ambientes de aprendizagem, isto faz com que alunos e
professores fiquem em constante interação, a fim de reconhecerem os momentos em que podem
envolver seus esquemas de operação e de representação individuais, dos quais, muitas vezes são
extraídos algo significantes que acabam por produzir o coletivo. Neste processo, o professor precisa
conhecer a fundo o conhecimento, para compreender em que ponto está o aluno e assim, poder fazer
perguntas inteligentes, desafiadoras e desequilibradoras que estimulem a indagação e a busca para o
aprender.

Hoje, o indivíduo precisa desenvolver suas capacidades de intuir, imaginar, levantar


hipóteses, refletir, analisar, organizar e selecionar para uma tomada de decisão consciente. Precisa
desenvolver novos talentos que possibilitem novas formas autônomas de criação, comunicação e
expressão para assim desenvolver atitudes de solidariedade, cooperação e reciprocidade,
contribuindo para o aumento da consciência social. Precisa aprender a entregar-se com alegria à
aventura de soltar a imaginação e a inteligência para criar e construir o novo, sempre disposto a
reconstruir, na medida em que entende a relatividade do produzido.

A construção do conhecimento, nesta perspectiva, tem, entre suas características, a de ser


contextualizada e formalizante, atingindo patamares de formalização cada vez mais elevados, à
medida que os sistemas de representação do sujeito vão formando redes, conectando conceitos,
teorias e modelos. Este processo se desenvolve enquanto ele refaz a história de construção deste
conhecimento, a partir de objetos e ações que fazem sentido para ele, propiciando a superação das
barreiras disciplinares e das sequências hierárquicas de conteúdos.

Para Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde nosso
nascimento, nem como resultado do simples registro de percepção e informação. Resulta das ações
e interações do sujeito com o mundo em que vive. Todo o conhecimento que temos já vem sendo
construído desde a infância, através da interação que temos com o meio e com os objetos que
procuramos conhecer, seja no mundo físico ou cultural.

Considerando que a criança passa por várias fases durante o seu desenvolvimento, tanto
cognitivo como motor durante a aquisição da escrita é importante lembrar as fases do
desenvolvimento infantil, ou seja, os estágios cognitivos, segundo Piaget, os quais servem como
contribuição para que os educadores possam estar desenvolvendo atividades de acordo com a faixa
etária da criança com a qual está trabalhando, respeitando o seu crescimento, amadurecimento e sua
fase, as quais são assim classificadas por Piaget, segundo BARROS (1991):

6.1 Período Sensório-Motor

Compreende do nascimento aos 2 anos, aproximadamente.


       A ausência da função semiótica é a principal característica deste período. A inteligência
trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos deslocamentos
do próprio corpo. É uma inteligência eminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia
(repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que quer beber água) já que não
representa mentalmente o objeto e as ações. Sua conduta social, neste período, é de
isolamento e indiferenciação (o mundo é ele).

6.2 Período Simbólico

Inclui o período dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente.


Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho,
da imitação, da dramatização, etc. Podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou
da ação é o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de
formar imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer (uma caixa
de fósforos em carrinho, por exemplo). É também o período em que o indivíduo “dá alma”
(animismo) aos objetos ("o carro do papai foi 'dormir' na garagem"). A linguagem está ao
nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem que respondam as
argumentações dos outros. Duas crianças “conversando” dizem frases que não têm relação
com a frase que o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro
do coletivo. Não há liderança e os pares são constantemente trocados.
Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas
aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo, o
nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação
(“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”). A criança é egocêntrica nas representações
mentais, desenvolvendo a percepção centrada, sem considerar o ponto de vista do outro.
Pouco esforço faz em adaptar a sua linguagem às necessidades do ouvinte. Não consegue
pensar sobre o seu próprio pensamento.

6.3 Período Intuitivo

Faz parte deste período a fase dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente.
 Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”,
pois o indíviduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a
fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de
vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no entanto incluir conjuntos menores
em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). Quanto à linguagem não
mantém uma conversação longa, mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do
companheiro. A linguagem é nessa época um acompanhamento da ação, baseada em
imagem.

Os símbolos disponíveis para a manipulação mental e expressada em linguagem têm


a propriedade de um preconceito. Preconceito é o intermediário entre o símbolo imaginado e
o conceito propriamente dito e é definido como "... ausência de inclusão dos elementos em
um todo e identificação direta dos elementos parciais entre si sem a mediação do todo”.Os
Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-
Operatório.

6.4 Período Operatório Concreto

Engloba fase dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente.


É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número, substância, volume e
peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos,
organizando então o mundo de forma lógica ou operatória. Sua organização social é a de
bando, podendo participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem
compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A conversação torna-se
possível (já é uma linguagem socializada), sem que, no entanto possam discutir diferentes
pontos de vista para que cheguem a uma conclusão comum.

6.5 Período Operatório Formal

Destaca-se neste período dos 11 anos em diante


o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento
hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma
probabilidade, libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro.
É, finalmente, a “abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é
possível a dialética, que permite que a linguagem se dê em nível de discussão para se chegar
a uma conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e
reciprocidade.

6 MATERIAL E MÉTODOS

Segundo Cócco (1996) as investigações sobre a psicogênese da língua escrita permitem ao


professor atuar como mediador no processo ensino-aprendizagem e fornecer pistas para o aprendiz
tornar-se alfabético.

Para auxiliar nestas investigações a sondagem diagnóstica é um importante recurso que pode
ser utilizado pelo professor para que assim ele possa conhecer e conhecer as hipóteses das crianças
envolvidas no processo de alfabetização e identificar em que nível silábico a criança se encontra.

Para realizar uma sondagem diagnóstica escolhem-se quatro palavras sendo uma polissílaba,
uma trissílaba, uma dissílaba e uma monossílaba e uma frase que envolva o mesmo assunto. O
professor pede para que a criança escreva como ela souber as palavras solicitadas. Com o material
coletado o professor pode identificar o nível silábico em que a criança se encontra, para assim poder
lhe oferecer atividades diversificadas as quais incentivem a elaboração de novas hipóteses feitas
pela criança, contribuindo na aprendizagem do código linguístico.
7 CONCLUSÃO

Este trabalho destacou-se como tema: A criança e o processo de alfabetização, no qual o


presente estudo propiciou compreensão das estratégias utilizadas no processo de alfabetização pela
criança e os níveis que a mesma passa até o entendimento da escrita. Ficou claro que a criança
demonstra desde cedo um enorme interesse pelo mundo da escrita, pois, desde muito pequena ela já
gosta de manusear lápis, caneta, papel para realizar suas primeiras garatujas. É importante destacar
que o desenho da criança tem um papel muito importante frente à alfabetização, sendo que o mesmo
tem um grande valor para a criança e se o professor souber aproveitar esta oportunidade estará
facilitando a aquisição do processo de alfabetização, pois o desenho também faz parte deste
contexto de aquisições. Por meio do desenho a criança é capaz de representar uma infinidade de
idéias, hipóteses e até mesmo um texto com início, meio e fim, ou seja, com total coerência, mesmo
sem fazer o uso das letras do nosso alfabeto, este pode ser considerado como uma das primeiras
formas de a criança expressar suas ideias no papel.

Quanto mais estímulo à criança receber mais facilmente será alfabetizada. Por isso destaco
que o professor exerce uma função de grande valor, porque cabe a ele envolver as crianças nesta
etapa e junto a isto incluir no trabalho em sala de aula a realidade em que seus alunos estão
inseridos, favorecendo assim, uma aprendizagem mais significativa. O presente trabalho deixou
claro que a construção do conhecimento acontece também dentro e fora da escola também, de
maneira informal e é de extrema importância que ele seja valorizado, pois, a criança o tem como
algo valioso e seguro. Sendo este um requisito essencial para que novas aprendizagens ocorram de
maneira positiva, favorecendo para que aconteça muitas vezes uma troca de informações. Sabemos
o quanto é possível aprender com as crianças, mas para isto o professor tem de estar aberto para
aprender e ensinar, respeitando os estágios de desenvolvimento em que seus alunos se encontram e
sempre valorizando cada nova conquista adquirida pelas crianças. Esta pesquisa veio apontar o
quanto é importante o trabalho realizado na educação infantil e como esta etapa deixa suas marcas,
sendo elas positivas ou negativas, ou seja, demonstra mais uma vez que a educação infantil é
realmente o alicerce do desenvolvimento infantil e que, se bem trabalhado, pode trazer grandes
benefícios para a formação da criança, ou, caso contrário, pode comprometer todo o processo de
desenvolvimento da mesma. Por isto, é muito importantes que o professor seja capacitado e o
mesmo esteja constantemente buscando formação continuada. E o mais importante goste do que
faz.
Com este trabalho pude compreender o caminho o qual a criança percorre para a aquisição
da linguagem escrita e entender quando Emilia Ferreiro cita que a alfabetização inicia bem cedo,
mas não termina nunca, pois estamos sempre recebendo novas informações, conhecimentos, e
ampliando assim nossa bagagem de conhecimentos estando sempre prontos para aprender e ensinar.
O verdadeiro sábio ensina, mas também aprende junto às crianças, pois com elas pode-se aprender,
e muito.

Cabe, a nós, sermos o mediador desta aprendizagem, incentivando a imaginação e


criatividade que envolve a infância, pois esta proporcionará que se aguce o desejo de conhecer e
aprender que as crianças têm neste período de suas vidas.

8 REFERENCIAS

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