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arma de fogo
Com efeito, suposto não haver, ou pouquíssimas são, pessoas que nunca tenham ouvido n’um
noticiário, ou nas folhas públicas, acerca daquele frio assassinato sendo investigado, ou de
violências a mão armada que provocaram lesões às vítimas; penoso é saber, que ao mesmo
passo, poucos seriam capazes de, diante de uma cena de lesão por projéteis de arma de fogo,
identificar as peculiaridades da lesão, e a partir dela deduzir informações concernentes a forma
do disparo, que parecem pairar evidentes, ou pouco implícitas, quando consideradas as noções
científicas elucidadas no campo da medicina legal.
O escopo do presente trabalho é traçar as noções gerais das lesões e mortes por projéteis de
arma de fogo, proponho a análise, desde a anatomia de um cartucho, até as noções
propedêuticas de balística forense e perícia criminal.
Para além de meras conceituações cientificas, são trazidas à baila as distinções práticas que
viabilizam a identificação de lesões típicas de determinadas proedimentações nos disparos;
como as orlas, que permitem identificar lesões de entrada (a partir da orla de enxugo ou anel
de Fish), distância do tiro (a partir da presença de elementos do cano de dispersão), ângulo do
disparo (a partir dos centros das orlas componentes do anel de Fish) e etc; mas, que não se
adiante os sucessos, não é com pura pachorra que se introduz ao tema, e é crendo que preferível
o conteúdo aos cumprimentos preambulares, que passamos ao mesmo subsequentemente.
DAS PARTICULARIDADES DO PROJÉTIL
São resultantes dos tiros à curta distância, da ação dos gases, seus explosivos,
de resíduos da combustão da pólvora e de micro - projéteis.
Orla de enxugo
Cabe ratificar que a orla de enxugo/limpadura não está presente nas lesões de
saída, somente nas lesões de entrada, ora, se o projetil sai do cano da arma carregando as
substâncias, e a partir da entrada no corpo o mesmo se limpa, logo, quando sair do corpo, não
deixará orla de enxugo ( formada pelas substancias que o mesmo inicialmente carregava do cano
de dispersão), cumpre destacar, contudo, que embora a orla de enxugo importe em lesão de
entrada, sua ausência não significa ser lesão de saída, por duas essenciais razões, primeiramente
porque o tiro pode ter sido dado com anteparo (por exemplo um travesseiro onde o projétil se
limpa no mesmo, e posteriormente perfura o crânio da vítima), sendo assim, uma lesão de
entrada sem orla de enxugo, a segunda razão é que pode haver 2 entradas no corpo ( o projétil
atravessa alguma parte do corpo primeiro se limpando das substâncias, e depois atravessa
outra, não deixando orla de enxugo).
Orla de escoriação
Quando passa pela pele, atinge a derme e depois a epiderme. Escoriação tem
por definição o arrancamento traumático da epiderme com exposição da derme sem, contudo,
ultrapassa-la.
Quando o projetil passa ele gerará uma primeira orla, chamada orla de enxugo
conforme supracitado, podendo gerar uma segunda orla, que é a orla de escoriação, ao redor
do orifício de entrada, gerando o arrancamento traumático da epiderme com exposição da
derme sem, contudo, ultrapassa-la, cabendo ratificar que a orla de escoriação não é formada
pela rotação do projétil, podendo estar presentes também quando dos disparos de projéteis
oriundos de armas de alma lisa .
O conjunto destas duas orlas (de enxugo e escoriação) forma o conceito de
anel de fish, que é justamente o somatório das orlas de enxugo e escoriação. Cabendo frisar
que pode haver escoriação na lesão de saída, quando há anteparo inviabilizando a saída do
projétil, mas o anel de fish só estará presente na lesão de entrada, já que a lesão de enxugo
não estará presente na lesão de saída.
Quando as duas orlas (de enxugo e escoriação) tem o mesmo centro, formam o
anel de fish concêntrico, isto significa, do ponto de vista médico – legal, que o projetil quando
entrou no corpo, formou um ângulo de 90 graus.
Quando as orlas (de enxugo e escoriação) tem centros diferentes, formam o anel
de fish excêntrico, isto significa que o projétil entrou no corpo com determinada inclinação.
Orla de equimose
A equimose tem por definição, um trauma onde o sangue que fica dentro dos
vasos extravasa e se infiltra nas malhas dos tecidos adjacentes à lesão e é visto e é visto pela
transparência de uma membrana (normalmente a pele).
O orifício de entrada nas mortes e lesões por projéteis de arma de fogo, tem
borda investida, isto é, a borda da lesão voltada para dentro. Quando o projetil sair, a borda será
evertida, isto é, a borda voltada para fora.
Nos tiros com cano encostado em locais com plano ósseo por baixo, pegando
como exemplo a têmpora ( abóbora craniana), quando é efetuado o disparo, o projetil quebra
os ossos do crânio, e entra no encéfalo, juntamente com o projetil, os elementos do cano de
dispersão batem no osso e explodem à pele para fora, gerando assim uma lesão com bordas
irregulares, evertidas ( voltadas para fora), e um impregnamento centralizado de pólvora, o que
é chamado de sinal de boca de mina de Hoffmann.
Sinal de Benassi
Se dá em tiros com cano encostado, em locais sem plano ósseo por baixo, o
projétil sai do cano da arma, a boca do cano da arma causa um impacto na pele, marcando a
boca da arma, a massa de mira, na pele.
Não está ligado a distância do disparo, mas sim a incidência do disparo, isto
é, determinabilidade do trajeto, onde é a lesão de entrada e saída.
O ser humano possui 206 ossos no corpo, alguns ossos possuem duas tábuas
ósseas que se sobrepõem (como é o caso do crânio), em casos de tiros nestes ossos, o projétil
é disparado, seguindo uma trajetória, encontra a primeira tábua óssea causando um orifício,
se desestabilizando, e quando encontra a segunda taboa óssea causa um segundo orifício
maior do que o primeiro, uma vez dentro do crânio, o projetil segue um trajeto, e em sua
saída, encontra a primeira taboa óssea gerando um orifício, desestabiliza-se, e ao encontrar a
segunda taboa óssea causa gera um orifício maior do que o primeiro, assim têm-se dois
troncos e cone, um na lesão de entrada e um na lesão de saída, sendo que este tem a base
maior para fora do crânio, e aquele tem a base maior para dentro do crânio.
O projetil de arma de fogo quando atinge uma parte do corpo, afasta os tecidos,
e “cava um túnel de passagem”, este “túnel de passagem” é chamado cavidade permanente,
logo, pode ser conceituada como um túnel que o projetil faz por dentro dos tecidos ao longo do
seu trajeto. Além da cavidade permanente, existe a cavidade temporária, causada pela onda de
pressão advinda do deslocamento na passagem do projetil.
CONCLUSÃO
Ante todo o supracitado, conclui-se que os mecanismos advindos do campo da medicina legal,
representam subsídio essencial a perícia criminal e a balística forense; decerto, fazem-se
essenciais na carreira do operador do direito, sobretudo aqueles que pretensos à atuação no
Direito Penal, mormente os que anseiam pelas carreiras policiais.
A partir das teorias que foram esposadas, das conceituações e elucidações que permeiam o
presente trabalho, crê-se com veemência que edificara-se novo saber onde antes inerte restava
à ignorância, isto porque, antes de aqui trabalhados estes ensinamentos, foram eles
aprendizados.
A partir das distinções traçadas até aqui, o efeito médico legal se dá no plano concreto à partir
da identificação em casos práticos das peculiaridades como se deram os disparos, o que pode
ser utilizado não só na alçada investigativa, mas também nas sustentações e defesas nos
processos criminais, na inquisição dos criminosos, e principalmente para a promoção justa e
efetiva das medidas punitivas dos criminosos; por mais Hollywoodiano que possa parecer, a
medicina legal não torna o operador do direito “um Sherlock Holmes”, mas permite-o saber,
que até mesmo o “disparo perfeito”, ainda que não deixe indícios de sua autoria, deixará rastros
da forma com que o mesmo se deu; por fim, espera-se, lucidamente, que o presente trabalho
tenha contribuído para aprendizagem, e aprimoramento daqueles que buscam se aventurar no
campo da Medicina Legal.