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As autoras
De acordo com Penteado (1984), seu livro de EMC era um trabalho feito a
partir da perspectiva das Ciências Sociais. O manual pretendia ser um instrumento
de trabalho para professores, permitindo lidar com os alunos, tendo como ponto de
partida seus valores morais e cívicos, “visando transpor a visão etnocêntrica do
mundo e assim alargar a compreensão humanística do próprio ser humano”. Para
explicar a função da disciplina EMC, Penteado apresenta a definição de moral:
Civismo e cidadania
As definições de civismo e cidadania eram muito próximas. Em geral o
cidadão deveria ter consciência dos direitos políticos e civis e cumprir os deveres
cívicos, principalmente: a obediência às leis, o voto, o Serviço Militar, o respeito aos
bens públicos, o pagamento de taxas e impostos e contribuir para o progresso do
país.
De modo geral a definição de civismo estava relacionada com o homem em
sua prática de cidadão brasileiro. O programa curricular elaborado pela CNMC
apresentava a definição de civismo como sendo caráter, patriotismo e ação.
Observou-se que o civismo deveria ser não somente a atuação consciente do
cidadão para o bem comum, mas a atuação do bom cidadão. O civismo foi
compreendido como uma virtude moral, e como a moral é religiosa grande parte dos
livros apresentavam a dicotomia entre bem e mal. Os livros que se basearam
diretamente no programa da CNMC expõem esta definição de civismo.
Entretanto, foram publicados livros, com definições diferentes da apresentada
pela CNMC. Penteado (1984) definiu civismo como a consciência dos direitos e
deveres do ser humano dentro das fronteiras do seu país. A autora não se baseou
na acepção religiosa de moral, predominando a concepção de civismo ligado ao
Estado, ao cumprimento das leis, dos direitos e deveres do homem.
A cidadania é definida pelos livros didáticos como o gozo dos direitos e
deveres civis e políticos do cidadão de um país. Cada direito corresponderia a uma
obrigação a ser cumprida. A cidadania deveria ser exercida, praticada pelos
educandos desde a escola. O bom exercício da cidadania pressupunha ações como:
participar, colaborar, cooperar e conviver.
Os vultos nacionais
O culto aos vultos nacionais era considerado essencial para a EMC, pois
servia como exemplo de civismo para os alunos. Eram pessoas que viveram para o
engrandecimento do Brasil, que exerceram suas funções do melhor modo possível
ou que tiveram grande produção intelectual, cientifica, artística, etc. Os nomes que
mais apareciam nos livros didáticos eram: Tiradentes, José Bonifácio de Andrada e
Silva, Visconde de Mauá, Duque de Caxias, Carlos Chagas, Rui Barbosa, Santos
Dumont, Ana Néri, Olavo Bilac, Oswaldo Cruz, Castro Alves, Princesa Isabel,
Marechal Rondon, José de Anchieta, Villa-Lobos, Marechal Deodoro da Fonseca, D.
Pedro I, D. Pedro II, Euclides da Cunha, Visconde do Rio Branco, Benjamim
Constant, Floriano Peixoto, etc.
Alguns poucos livros consideravam além das pessoas tradicionais, outros
nomes como vultos nacionais. O livro de Penteado (1984) é um destes casos. A
autora expõe toda uma explicação sobre o significado dos vultos nacionais:
a grandeza de um povo pode ser percebida, entre outras coisas, pelo conjunto de
homens ilustres, de pessoas que, através dos tempos, se destacaram em todos
os campos da atividade humana, seja na literatura, nas artes, na vida militar, na
ciência, na economia e nos demais campos. Essas pessoas foram consideradas
pela história como vultos nacionais.
Os vultos nacionais são, portanto, cidadãos que se destacaram no conjunto da
população de um país, deixaram seus nomes registrados na memória do povo e
devem ser conhecidos e respeitados por todos. (1984: 85)
Além dos nomes que já haviam sido edificados pela história como vultos
nacionais, Penteado acrescenta pessoas contemporâneas, que estavam vivas e em
alguns casos tinham participado da luta contra a Ditadura Militar: Mário Cravo, Jorge
Amado, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Lima
Barreto, Carlos Diegues, Glauber Rocha, Paulo Freire e Plínio Marcos.
Estado Brasileiro
Dornelles (1971), ao discutir as formas de governo, descreve que um bom
governo deveria providenciar meios para que o povo pudesse trabalhar em paz,
produzir, ter o seu trabalho pago por um preço justo, para que pudesse obter as
coisas de que precisasse. Um bom governo deveria ajudar o povo a melhorar o seu
trabalho, a sua saúde, a sua educação. Para fazer tudo isto, o governo precisaria de
dinheiro que seria obtido por meio de taxas e impostos. (1971: 36). Com isso o
governo produziria serviços para o bem comum, para o povo, providenciando
recursos e meios de ajudar os cidadãos a produzir mais e viver melhor (1971: 38).
Penteado esclarece de uma maneira interessante como as leis surgem:
“quando uma norma se torna muito importante para um grande número de pessoas,
ela dá origem a leis, criadas pelas autoridades” (1984: 44). E qual a sua finalidade:
“As leis existem para garantir os direitos e estabelecer os deveres que as pessoas
têm, por viverem num município, num estado, num país, no mundo (leis
internacionais)” (1984: 46).
Dornelles esclarece a função das leis: “Para garantir o bom viver das
pessoas, existem certas regras, ou normas, ou regulamentos, a que chamamos de
leis. As leis são feitas pelos homens com a finalidade de ajudar as pessoas a viver
bem umas com as outras” (1971: 70).
Muitos livros apresentam detalhadamente o Poder Legislativo e o Poder
Executivo. Ao tratar das formas de eleição, esclarecem que os representantes do
Poder Legislativo eram escolhidos pelo voto direto da população, mas o Presidente
da República era eleito de forma indireta, pelos senadores e deputados.
Ao definir a função do Poder Legislativo, o Senado e a Câmara dos
Deputados, Dornelles esclarece que são eles os responsáveis por fazer as leis, e
entre elas, a Constituição do Brasil. Mas esclarece também, que “a Constituição
pode ser feita pelos legisladores, como pode ser feita pelo Poder Executivo, em
condições especiais” (1971: 79). A autora não explicita quais são essas “condições
especiais”, mas é possível aferir que ela referia-se à Emenda Constitucional n° 1, de
17 de outubro de 1969, outorgada pela Junta Militar.
Ao tratar do Poder Executivo os manuais explicam como é realizada a eleição
para Presidente da República. O dever do voto era constantemente ressaltado nos
livros didáticos, mas a população desde 1965, por meio do AI-2, não votava mais
para presidente da república. Segundo Dornellles, “a atual Constituição (1967)
determina que o presidente seja eleito pelas pessoas que formam o poder legislativo
– deputados e senadores. Esse tipo de eleição é chamado eleição indireta, porque o
povo escolhe os legisladores e, depois, os legisladores escolhem o presidente”
(1971: 81).
Dornelles, de modo interessante, define a função do Governo:
para que um governo seja bom e útil para os cidadãos, é importante que os três
poderes – legislativo, executivo e judiciário – tenham os seus poderes iguais, isto
é, que um não seja mais poderoso, não mande mais que os outros – esta é uma
importante regra do jogo. Outra idéia importante é lembrar que cabe aos
cidadãos, isto é, ao povo, organizar o seu governo e dele participar, seja no
município, no estado ou território, ou no país em que você vive (1971: 84).
O Povo Brasileiro
Os livros que tratam do povo brasileiro, de modo geral, iniciam descrevendo a
sua formação. Apresentam as três principais raças ou etnias formadoras – o branco,
o índio e o negro –, suas características, contribuições e heranças para a
constituição da nacionalidade brasileira. São citados também outros imigrantes
como: os italianos, os japoneses, sírios, árabes, turcos, libaneses, espanhóis,
alemães, russos, etc. Todas essas raças teriam contribuído para a formação do
homem brasileiro.
Dornelles foi uma das únicas autoras a descrever a forma como os negros
foram “incorporados” ao povo brasileiro:
Para fazer nossa moradia, abrigar o nosso corpo, conseguir nossa comida e
armazená-la, criar os nossos filhos seguimos “normas” de comportamento
inventadas pelo próprio homem e que variam de lugar para lugar e de um tempo
para outro. O conjunto dessas normas constitui o que chamamos de Moral (1984:
30).
Para Penteado, a moral não é universal, variando “de lugar para lugar e de
um tempo para outro”. E ela é criada pelo homem, não por Deus.
Uma das discussões mais interessantes presentes nos livros didáticos diz
respeito a questão da moral como algo universal. Nos livros em que a religião é a
base da moral sempre é afirmado que a moral é universal, pois os preceitos
religiosos os são. Porém, os livros que não relacionam diretamente moral à religião,
consideram essa última apenas uma das formas de transmitir códigos morais.
Penteado (1984) propõe uma definição de moralidade humana enfocada no contexto
histórico e social:
Religião
Alguns autores discutiram a religião como uma instituição cultural que faz
parte da sociedade e que se propõe a ajudar o homem a enfrentar seus problemas.
Penteado compreendeu a religião como uma manifestação característica do ser
humano, que existia tanto entre os povos primitivos da atualidade como entre povos
civilizados e altamente desenvolvidos (1984: 123). A religião seria uma forma de
conhecimento e de explicação da realidade. A autora afirmou que as religiões
sofreram mudanças ao longo dos tempos. Para exemplificar a afirmação, penteado
descreve as mudanças por que passou a religião cristã e suas várias divisões: igreja
católica, protestantismo, calvinismo, igreja ortodoxa, espiritismo.
O Candomblé e a Umbanda foram apresentados em poucos livros. A CNMC
procurava, nas avaliações dos livros didáticos, retirar qualquer menção a essas
religiões. Somente alguns livros da segunda metade dos anos 80 em diante
descreveram-nos. A maioria dos autores consideravam o Candomblé e a Umbanda
como rituais de magias, típicos do Nordeste, principalmente da Bahia, influenciados
pelo grande número de escravos negros que lá se introduziram. Eram vistos
simplesmente como folclore, tradições e costumes regionais. Penteado (1984)
modifica essa visão ao discutir o sincretismo religioso: “Foi a mistura dos elementos
religiosos contidos na religião dos portugueses, dos índios, e dos africanos que deu
origem à religião conhecida entre nós como Umbanda” (1984: 150).
A família
Diversos livros didáticos faziam críticas à instabilidade da família moderna,
que por diversos motivos estaria ameaçada: as condições da vida urbana que não
permitiriam mais famílias numerosas; a emancipação da mulher; a necessidade da
mãe ter que trabalhar fora de casa; a interferência do Estado em funções que eram
de direito da família - como a educação. Estas críticas eram as mesmas definidas
pelo General Moacir Araújo Lopes (membro da CNMC e um dos principais
idealizadores da disciplina EMC), como causas da desestruturação familiar (LOPES,
1971).
Todavia, Penteado (1984) ressaltou a família por uma perspectiva distinta. A
autora relatou as diferentes organizações familiares existentes: famílias poligâmicas
ou monogâmicas; famílias simples (pai, mãe, filhos) ou compostas (parentes,
descendentes de várias gerações morando juntos), a concepção de família de
acordo com as diversas culturas. Penteado procurou mostrar que existiam muitas
idéias de organização familiar. Cada povo, em um determinado tempo, constituía um
tipo de família.
Bibliografia