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VAZA JATO

"Lava jato" combinou extradição com os LEIA TAMBÉM


EUA sem passar pelo Ministério da Justiça
1 de julho de 2020, 12h48 Imprimir Enviar VAZA JATO
"Lava jato" pediu intervenção do FBI
 Ouvir: "Lava jato" combinou extradição de investigado diretamente com EUA 0:00
no sistema da Odebrecht

ENCONTROS DE 2015
Deltan Dallagnol não informou
governo sobre reunião com EUA
Os procuradores da "lava jato" em Curitiba combinavam extradições ilegais,
sem passar pelas autoridades brasileiras, diretamente com autoridades JURISDIÇÃO SEM FRONTEIRAS
estrangeiras, como mostra uma das conversas divulgadas nesta quarta-feira EUA criam grupo para investigar
(1º/7) pela Agência Pública, em parceria com o The Intercept Brasil. corrupção na América do Sul

A relação entre a autoproclamada RELAÇÕES INFORMAIS


"força-tarefa" da "lava jato" com Revelações de ex-procurador do DoJ
autoridades americanas não é preocupam advocacia brasileira
novidade, pois já tinha sido noticiada
RELAÇÕES INFORMAIS
pela ConJur em 2018. O que as
Entrevista: Robert Appleton, ex-
conversas divulgadas agora mostram
procurador do DoJ e consultor
é a amplitude dessa "colaboração", e
como os procuradores que proclamam COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
trabalhar pelo Brasil no combate à corrupção estavam mais próximos dos FBI ampliou presença no Brasil antes
Estados Unidos do que das autoridades brasileiras. de "lava jato" ficar famosa

O diálogo, de 11 de fevereiro em 2016, é sobre um e-mail que Deltan


Dallagnol enviou ao Escritório de Assuntos Internacionais (OIA, na sigla em Facebook Twitter
inglês), negociando a possibilidade de extradição de um investigado. O e-mail
foi enviado também ao procurador Vladimir Aras (que deixou a "lava jato" em Linkedin RSS
fevereiro deste ano).

Em uma mensagem a Deltan, Aras indicou como seria desejável que o então

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juiz Sergio Moro redigisse a sentença. "Passa o nome e os dados que vamos
atrás. Fizemos isso com o advogado de Cerveró. Incluímos na difusão e
monitoramos. A decisão de Moro já tem de sair com os seguintes comandos: 1.
Prisão para fins de extradição. 2. Ordem de inclusão na lista de difusões
vermelhas 3. Autorização para a SCI e DPF/Interpol providenciarem a
execução."

Depois, indicou que a prática de negociar a extradição diretamente com as


autoridades estrangeiras era um procedimento normal. "Nosso parceiro
preferencial para monitorar pessoas tem sido o DHS, mas podemos trabalhar
com o FBI também. Quanto antes tivermos os dados, melhor."

O DHS a que o procurador se referia é o Departament of Homeland Security,


nos EUA, que lida com ameaças à segurança interna do país, como desastres
naturais e terrorismo. Já o FBI compõe uma equipe de investigações de crimes
de corrupção em países estratégicos, especialmente na América do Sul,
trabalhando com acesso direto aos procuradores e investigações em curso no
Brasil.

A ConJur pediu esclarecimentos ao procurador sobre os pontos expostos


acima, uma vez que os diálogos dão a entender, por um lado, que a equipe da
"lava jato" contava com a aquiescência de Moro; e, por outro, não deixam
claro se esse diálogo direto com autoridades americanas era feito sempre por
vias legítimas (os trechos reproduzidos a seguir indicam que não).

Em resposta, Vladimir afirmou ter sempre se baseado em boas práticas


recomendadas pelos órgãos técnicos especializados das Nações Unidas, da
OEA, da União Europeia e do Conselho da Europa. Ele explicou que, segundo
esses parâmetros, é normal haver contato direto com autoridades estrangeiras
antes da formalização de um pedido de ajuda jurídica internacional, como
forma de otimizar o trabalho e não desperdiçar recursos (leia a íntegra da
resposta ao fim do texto).

Dois caminhos
Voltando à conversa divulgada, o procurador Vladimir Aras listou para Deltan,
então, exatamente em quais termos o Ministério Público precisava pedir a
prisão dos investigados, citando um outro caso de extradição autorizado pelo
então juiz Sergio Moro. "Fundamental que o mandado de prisão saia com
indicação de "fins extradicionais". Fizemos assim com Moro no caso do Raul
Schmit, que fugiu para Portugal."

(Um parêntese: a perseguição a Raul Schmit também passou pela tática suja de
abrir uma ação contra a filha dele apenas para fazer pressão, conforme
revelaram outras conversas de fevereiro de 2018, divulgadas anteriormente
pelo Intercept. Inicialmente, o então juiz Sergio Moro não acolheu pedido para
busca contra a filha de Schmidt, por entender que não havia nenhuma suspeita
contra ela. Mas, em maio, autorizou um novo pedido, que era exatamente igual

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ao anterior.)

Algumas horas depois, ao ter lido uma resposta de Deltan à OIA, Vladimir
Aras voltou à carga e defendeu a necessidade de fazer esse pedido com
intermediação do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça (o
Deest) e do Ministério de Relações Exteriores.

Ele alertou o colega sobre as possibilidades desastrosas de insistir nessa via


"informal" para tentar obter resultados que seriam facilmente alcançados pelo
caminho legal. "Pode estar certo de que a AC americana vai informar ao DRCI
o teor do e-mail. Eles sempre fazem isso. O que se pretendeu evitar vai gerar
marola."

E complementou: "Os e-mails oficiais do MPF podem ser alvo de ordem


judicial para entrega à defesa. Já vimos que a Odebrecht tem tentado acesso a
correspondências sobre o evento suíço. Não vale a pena correr o risco.
Eficiência + técnica. Por tudo isso e sabendo de tua boa-fé e de teu desejo de
acertar, peço que façamos as coisas by the book", ou seja, respeitando a lei.

No caso da Suíça citado por Aras, a ConJur também mostrou que as


autoridades estrangeiras reconheceram que dados bancários sigilosos foram
obtidos pelo MP brasileiro de forma ilegal, uma vez que houve produção de
provas disfarçada de pedido de cooperação jurídica internacional.

"Não é bom tentar evitar o caminho da autoridade central", continuou Aras, "já
que, como vc sabe, isso ainda é requisito de validade e pode pôr em risco
medidas de cooperação no futuro e a "política externa" da PGR neste campo".

Ele avisou que, "para minorar o problema", respondeu à OIA que o MP iria
coordenar o procedimento com o Deest. "O que podemos fazer agora é ajustar
com o FBI e com o DHS para localizar o alvo e esperar a ordem de prisão, que
passará pelo DEEST. Podemos mandar simultaneamente aos americanos",
completou.

Deltan então respondeu que os procuradores "preferiam" não seguir o caminho


da legalidade. "Obrigado Vlad por todas as ponderações. Conversamos aqui e
entendemos que não vale o risco de passar pelo executivo, nesse caso concreto.
Registra pros seus anais caso um dia vá brigar pela função de autoridade
central rs", ironizou. "E registra que a própria PF foi a primeira a dizer que não
confia e preferia não fazer rs."

Vladimir insistiu: "Já tivemos casos difíceis, que foram conduzidos com
êxito."

Deltan teimou: "Obrigado, Vlad, mas entendemos com a PF que neste caso não
é conveniente passar algo pelo executivo."

Vladimir foi mais direto: "A questão não é de conveniência. É de legalidade,


Delta. O tratado tem força de lei federal ordinária e atribui ao MJ a

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intermediação."

Aras se referia a um tratado bilateral, assinado em maio de 2001, que


determina que a competência para os acordos de cooperação judicial entre os
países é do Ministério da Justiça, no Brasil, e do Procurador-Geral nos EUA,
ou alguém por ele indicado.

Procurada pela Pública, a "força-tarefa" da "lava jato" disse, por meio de nota,
que "além dos pedidos formais por meio dos canais oficiais, é altamente
recomendável que as autoridades mantenham contatos diretos. A cooperação
inclui, antes da transmissão de um pedido de cooperação, manter contatos,
fazer reuniões, virtuais ou presenciais, discutir estratégias, com o objetivo de
intercâmbio de conhecimento sobre as informações a serem pedidas e
recebidas".

Leia a íntegra da manifestação de Vladimir Aras:

Estudando e praticando cooperação internacional há quase duas décadas,


sigo sempre as boas práticas recomendadas pelos órgãos técnicos
especializados das Nações Unidas, da OEA, da União Europeia e do Conselho
da Europa, com estrita observância dos tratados de direitos humanos e dos
acordos firmados pelo Brasil.

Contatos diretos com adidos estrangeiros, com adidos brasileiros no exterior,


com procuradores e magistrados de ligação e com autoridades congêneres de
outros países são uma dessas práticas internacionalmente aceitas e
recomendadas para descobrir o paradeiro de fugitivos e para localizar ativos
a serem bloqueados no exterior. Essas boas práticas – como a obtenção de
informações sobre movimentos migratórios por exemplo – compõem a fase
chamada de “pre-MLA” e são seguidas por policiais e membros do MP em
todo o mundo, inclusive pelo MPF e pela PF há muitos anos.

É também boa prática o uso de redes (networks) que reúnem agências


policiais, órgãos do Ministério Público e outros entes do sistema de justiça
criminal. Esses mecanismos – a exemplo da Rede de Recuperação de Ativos do
GAFILAT (RRAG) – são montados exatamente para o contato direto entre
autoridades de investigação, ampliando a eficiência do Estado.

Somente depois dessa etapa de descoberta de onde estão os foragidos ou o


dinheiro sujo é que se envia pedidos à autoridade central ou ao Itamaraty, na
chamada cooperação epistolar, que se faz por rogatórias ou por solicitação de
“mutual legal assistance” (MLA). Ou seja, somente depois de concluído o
trabalho de descoberta do paradeiro do foragido é que se envia um pedido de
extradição ao país onde essa pessoa está. Seria absurdo mandar pedidos a
esmo para dezenas de países com gasto de dinheiro público e resultado pífio.

O trabalho investigativo de localização de provas, do dinheiro sujo ou de


fugitivos no exterior é sempre realizado pela Polícia ou pelo Ministério

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Público antes (faço ênfase) de se mandar um pedido ao exterior. Nada há de


novidade nisso. A autoridade central funciona basicamente como um cartório
ou uma agência postal para a intermediação das comunicações entre os países
para assegurar a autenticação documental. O DRCI não investiga.

Lembro ainda que a PGR também exerce papel equivalente ao de autoridade


central em 3 tratados, sendo dois deles de cunho criminal. E nesses casos
tanto a etapa de “pre-MLA” quanto a cooperação epistolar são feitas pela
própria PGR.

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Revista Consultor Jurídico, 1 de julho de 2020, 12h48

COMENTÁRIOS DE LEITORES
6 comentários

POSSÍVEL FALHA TÉCNICA NO CPD


Skeptical Eyes (Engenheiro)
6 de julho de 2020, 12h28

Srs., mandei dois comentários favoráveis à operação e não foram publicados.


É importante saber se houve alguma falha técnica para que eu saiba se vale
continuar comentando neste prestigiadíssimo site onde imagino não haja filtragem
exacerbada tendo em vista o teor de outros comentários bem mais incisivos.

PELO EM OVO
Skeptical Eyes (Engenheiro)
2 de julho de 2020, 14h04

Se houve queima de etapa para atingir a meta pelo menos desta vez o resultado foi
para melhor.
Sem passar pelo ministério foi tática inteligente pois muitos dos implicados eram
amigos do reinado e a burocracia poderia fazer a delícia da defesa, ou seja, a
prescrição.
Não entendo e nem quero aprender esta nossa mentalidade formalista pois se não
passando pelo ministério funcionou então nosso lento, caudaloso, formalista e
desidioso legislativo cheio de advocacionites agudas deveria modificar a regra
tornando a caça aos delinquentes mais rápida e eficaz.
Lava jato funcionou e agora tentam detoná-la inclusive pelas vias oficiais
demonstrando que ainda há algo importante a ser descoberto pois como diz o ditado
: "nobody kicks a dead dog".
Parabéns aos moços da Lava Jato.

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BRASIL CORRUPTO
Gilmar Masini (Médico)
2 de julho de 2020, 9h44

O que os advogados de um Brasil Corrupto querem é a excreção da IMPUNIDADE.

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