Você está na página 1de 19

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE HUMANIDADES E SAÚDE


CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

ALICE BISPO CARVALHO


ALINE CYPRIANO PRADO
ALEXIA ALVES MAURICIO
JULIANA BRITO PINTO
KAMILLY RIBEIRO CRESPO DOS SANTOS
MATHEUS CÂNDIDO DA SILVA COUTINHO DE SOUZA
MIRIAM D’AGUILA OLIVEIRA FURTADO

AMOR, RELAÇÕES DE PODER E CONTEMPORANEIDADE

RIO DAS OSTRAS


2018
ALICE BISPO CARVALHO
ALINE ALINE CYPRIANO PRADO
ALEXIA ALVES MAURICIO
JULIANA BRITO PINTO
KAMILLY RIBEIRO CRESPO DOS SANTOS
MATHEUS CÂNDIDO DA SILVA COUTINHO DE SOUZA
MIRIAM D’AGUILA OLIVEIRA FURTADO

AMOR, RELAÇÕES DE PODER E CONTEMPORANEIDADE

Trabalho Acadêmico apresentado à disciplina


de Psicologia Social II do curso de Psicologia
da Universidade Federal Fluminense, como
parte das exigências da disciplina.

Orientadora: Profª Drª Alessandra Daflon

Rio das Ostras, RJ


2018
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................4

2. AMOR NO BRASIL COLÔNIA............................................................................................5

3. SÉCULO XIX.........................................................................................................................9

4.  SÉCULO XX.......................................................................................................................12

5. AMOR E A CONTEMPORANEIDADE.............................................................................14

CONCLUSÃO..........................................................................................................................18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................19
4

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo iniciou-se partindo de uma abordagem histórica das primeiras


manifestações do amor, e tem como objetivo demonstrar a perspectiva de como esse se
evidencia no Brasil. Posteriormente, foi feita uma correlação entre o amor e a
institucionalização do mesmo, bem como as relações de poder que se exercem essa trama. Por
fim, houve um levantamento da concepção de amor na contemporaneidade, e quais caminhos
podem ser percorridos nessa construção.
Para esta proposta de trabalho, tomamos como objeto de estudo a obra História do
Amor no Brasil, de Mary Del Priore, pautado na descrição de práticas, ideias e modos
amorosos no Brasil ao longo de 450 anos, em busca de compreensão desse afeto. Além disso,
para tratar de uma nova concepção do amor, utilizamos Amor: O Impossível...E uma nova
suavidade, de Suely Rolnik, que traz a ideia de desterritorialização, mostrando que no século
XXI há uma apropriação, fazendo um  questionamento acerca da possibilidade de viver a dois
em um mundo onde a liberação sexual tornou-se uma norma social.
5

2. AMOR NO BRASIL COLÔNIA

Até a fundação da Cidade do Salvador, o Brasil era a terra dos índios, reivindicada por
Portugal, com alguns povoados no litoral, e explorada por franceses. A colonização efetiva do
Brasil começou depois da fundação da primeira capital, quando finalmente Portugal passou a
executar um projeto eficiente de colonização, administração e defesa das terras que
reivindicava no Novo Mundo, além de um grande processo de catequização da Igreja Católica
dos povos que ali viviam. Na bagagem da chegada ao Novo Mundo, os portugueses trazem
também sua maneira de vivenciar o amor.
As relações de poder eram mantidas tanto no engenho, entre patrão e escravos, quanto
dentro da própria casa, entre marido, mulher e filhos. O papel principal da esposa era “cuidar
da casa, cozinhar, lavar a roupa e servir ao chefe da família com seu sexo” (DEL PRIORE,
2006, p.17). Na colônia, praticamente não havia privacidade, ao contrário do que começava a
acontecer na metrópole.
Na época, segundo a historiadora Alzira Campos, o amor na cidade de São Paulo
podia ser dividido em dois: o amor no casamento, casto, e o amor-paixão, vivido fora do
casamento e nos prazeres carnais. (CAMPOS apud DEL PRIORE, 2005) E para se ter um
casamento ideal, era preciso que houvesse idade, condições financeiras, saúde e outras
qualidades parecidas, mas não era o que acontecia de fato. Era muito comum mulheres se
casando com homens dez anos mais velhos. Havia também bastantes relações de junção de
casais na mesma casa, fora do casamento, ainda que a Igreja não permitisse e punisse. O
matrimônio era algo que durava o resto da vida, estabelecido pela Igreja Católica e o cônjuge
devia ser escolhido através da razão (e não por amor).
A Igreja tentava controlar a vida sexual dos casados através de catecismos e guias
confessionais. O sentimento de obrigação e de disciplina refletia o patriarcado em relação às
mulheres, bem como a seus sentimentos, dentro ou fora do matrimônio. Não havia alternativa
à esposa senão estar sujeita ao marido, reverenciando-o, querendo-o, cobrindo-o de vontades
e, com seu exemplo e paciência, ganhando-o para Deus. Os sentimentos entre os casados
deviam ser nitidamente objeto de uma educação dos instintos da carne, levando a santificação
um do outro. O prazer era exclusivamente a ejaculação para a procriação.
O modelo de conflito sensual se contrapõe à necessidade de compostura que devia ser
obedecida até a força. Se o castigo não for humano, será Divino. Quase não havia espaço para
o amor erotizado e as mulheres se entregavam aos maridos por amor a Deus, pois Ele deve ser
o eixo da vida humana. A Igreja publicou inúmeras obras a fim de impor uma norma
6

conjugal. O amor se definia, segundo o vocabulário Português e Latino: desde o trono de


Deus até a mais ínfima das criaturas, tudo no mundo é amor. No homem — geralmente
falando — é uma inclinação da vontade para o que lhe parece bem, ou por via do
entendimento, que assim o julga, ou pelas potências e sentidos externos que assim o
representam. Destas duas fontes de amor se derivam outros muitos amores, a saber, amor de
complacências, e que consiste em querer, por querer, e por amor do próprio bem-amado e não
por outra razão. Amor de concupiscência é querer bem em ordem ao bem, convivência ou
gosto de quem ama. Amor de benevolência é querer bem para o bem da pessoa amada. (DEL
PRIORE, 2006, p.32)
Ao se tratar do Brasil Colônia, pode-se observar a existência de um espaço aberto para
amantes, uma confrontação dos corpos. Além disso, um fato era que nem sempre o vínculo
estabelecido pelo matrimônio tinha fim com a morte natural de um dos cônjuges, pelo
contrário, em 1795, quatro mulheres foram presas por assassinar seus maridos. A grande
contradição aqui é apresentada por uma forma de seguro social que os indivíduos de melhor
condição apresentavam. Estes tinham a chance de cuidar da sua causa em liberdade, diferente
de gente de cor, que se entendia que não se tinha a honra de defendê-los. Além disso, na
legislação lusa e na sociedade colonial, mulheres não tinham o direito ou possibilidade de
serem desculpadas por matarem seus maridos adúlteros, muitas vezes, inclusive, eram
mandadas para o convento. Entretanto, por outro lado, os homens tinham total defesa de
honra, encontravam apoio inclusive nas leis. Tanto a plebeia quanto a nobre poderiam ser
mortas pelos maridos. Desde então já era possível perceber a falsa concepção do homem ser
superior a mulher, comprovando a veracidade disso nas relações que eram marcadas por
maus-tratos. Muitas mulheres foram assassinadas por mera suspeita ou promessas de
casamento não cumpridas. Ademais, a forma de tratamento a mulheres negras escravas, forras
ou mulatas era de extrema diferença se comparada a mulheres brancas. Os homens eram
rudes, utilizavam de uma linguagem chula, e estas recebiam convites diretos para a
fornicação, sendo vistas como alvos fáceis de investidas sexuais, de outro lado, as mulheres
brancas recebiam galanteios ou palavras amorosas.
Outro fator é a importância da compreensão da organização das famílias. Em primeiro
momento, cita-se que africanos e afrodescendentes souberam organizar famílias, cuidar de
suas proles. Além disso, casamentos e uniões dentro de uma mesma etnia incitavam-se com
os que reuniam africanos de diferentes origens. O casamento proposto pela Igreja Católica
também era conveniente por evitar a separação. Ainda acerca da formação de famílias, as
áreas de mineração eram de escassez de mulheres, instabilidade e insegurança, tornando as
7

relações instáveis e incomuns. O sistema plantation contribuiu para que o escravo encontrasse
sua parceira em fazendas e latifúndios monocultores. Não se sabe em que medida a escolha da
companheira contribuiu para a composição social mestiça. A escolha de parceiros tinha
critério seletivo que concernia a naturalidade. Um em cada cinco casamentos reunia etnias
diferentes, porém esse padrão foi rompido devido ao tráfico no século XIX, com a vinda cada
vez maior de indivíduos de diferentes origens.
Em busca de sinais amorosos nos mais diferentes documentos, Mary Del Priore foi em
busca dessas informações na Europa. As manifestações de amor já eram presentes em 1750
Antes de Cristo. Na idade Média ocorrem mudanças que nos interessam, como no fim do
século XI, os trovadores introduzem novas formas de relações entre homens e mulheres, o
amor era puro, cantado em versos. Exigia enaltação carnal e espiritual nas relações, que eram
idealizadas. Nessa lógica trovadoresca, havia uma submissão do amante à dama, que era posta
em um pedestal, e o homem se esforçava para ganhar seus favores. Nota-se aqui uma
mudança drástica, agora a dama não era mais colocada como um objeto, era preciso merecê-
la. O amor era traduzido como uma série de provas, um método de purificação do desejo. A
maioria dos esforços terminava em um beijo, os deveres eram de satisfazer vontades, agradar,
em não amar mais ninguém. Outro fator é que o trovador sempre anunciava a promessa de
uma felicidade futura, sempre um amor de longe, impossível. A alegria do trovador visa o
encontro impossível do amante e da amada, essa tensão entre alegria admirada e erotismo foi
considerada o princípio da poesia amorosa medieval.
Em outro momento, a reforma gregoriana no século XI definiu que casados deveriam
respeitar a monogamia, e os clérigos se manter celibatários. Essas decisões conquistaram as
normas comunitárias que regulavam as uniões conjugais no ocidente cristão. Os ritos
matrimoniais refletiam uma aliança entre interesses ligados a transmissão do patrimônio, bem
como distribuição do poder e conservação de linhagens. Antes, era uma associação entre duas
famílias para resolver contratempos acerca do econômico e social, sem padre nem altar, e por
outro lado, hoje é uma associação entre duas pessoas.
Em meados do século XVI já existiam dois diferentes objetivos a partir do casamento,
que era reafirmá-lo enquanto sacramento, e convertê-lo em instituição básica da vida dos fiéis,
sendo agora necessária uma cerimônia oficial, com padre e altar. Construía-se, na idade
moderna, um tipo de amor no casamento, e outro fora. Nesse momento, o casamento não
necessariamente tinha a ver com sentimentos, o amor se escondia. Um homem sábio devia
amar sua mulher com discernimento, não com paixão, de forma a controlar seu desejo, não se
8

deixando levar pelo prazer do sexo. A concepção cristã e hebraica era preocupada em eliminar
o amor-paixão do casamento, e a impor à mulher sua obediência ao marido.
Em torno de 1700, as cortes galantes nutrem novamente o ideal do amor impossível. O
romance se via tomado por temas amorosos, como se a modernidade tivesse feito surgir uma
linguagem literária cada vez mais amorosa, enquanto o amor se tornava um desejo distante.
Hoje não imaginamos um casamento sem amor-paixão, porém no passado as duas coisas eram
quase incompatíveis. O amor estava sim presente nos matrimônios, porém, submetido a mil
coibições, inclusive de ordem sexual.
No século XV e XVI, as viagens ultramarinas possibilitaram a expansão,
principalmente em Portugal, da gastronomia à base de afrodisíacos, trazendo uma sexualidade
contrária ao modelo cristão que estava sendo implementado. Essa nova gastronomia foi vista
como uma forma de escape à repressão da Igreja sobre a sexualidade da população, tornando-
se muito popular. Se até o século XVII o coito praticado com regularidade e sem exageros era
recomendado, a partir desse período começa-se uma censura do amor, fazendo com que no
século XVIII seja cada vez mais recomendado o uso de anafrodisíacos – substâncias capazes
de diminuir a libido – para inibir os desejos e reprimir a luxúria. A partir de então, a medicina
junta-se à Igreja nesta guerra contra o amor. Enquanto a Igreja via o amor excessivo como um
pecado, a medicina o via como um causador de doenças, pois na época acreditava-se que o
coração produzia um calor devido aos seus sentimentos e esse calor tornava as pessoas
irracionais, e nesse estado cometiam seus piores atos e crimes. Portanto, esse calor causado
pelo amor excessivo devia ser combatido.
Ainda nessa época, acreditava-se que o amor entrava nos organismos através da cobiça
com os olhos, devido ao fato de estes serem "a janela da alma", e assim se espalhava como
uma infecção no sangue, começando o que se chamava de febre amorosa, doença contraída
devido ao amor excessivo, e que segundo a medicina da época, atacava inicialmente os olhos,
passava pelas veias e o fígado até chegar ao coração e atacar a razão do infectado. Por esse
motivo, acreditava-se que as pessoas castas viviam mais, pois não estavam expostas a tais
perigos. Devido a esses fatos, criam-se dois tipos de conduta sexual: a conjugal, onde o sexo
só tinha a finalidade de procriação, e o casamento só era bem visto se trouxesse ganho de
bens, e o extraconjugal, caracterizado pela paixão amorosa e pela busca do prazer.
Somente no século XIX isso começa a mudar lentamente, de forma que o erotismo
extraconjugal deveria entrar no casamento, acabando assim com esse costume do sexo
somente para procriação. Cria-se então o amor-paixão, um ideal que aproxima as duas formas
de amor que antes eram tradicionalmente opostas, colocando em xeque essa separação.
9

3. SÉCULO XIX

No século XIX o casamento era como uma negociação, no qual a tradição religiosa
ditava a divisão de papéis: o marido possuidor de necessidades sexuais e as mulheres
submetidas ao papel de reprodutoras. Beleza, não punha mesa nesses tempos. O que contava
era o dote! Era um período onde os casamentos eram pautados pelos interesses, sendo
considerado um negócio tão sério que não envolvia gostos pessoais, e foi assim consolidado
entre as elites durante todo o século. As esposas eram escolhidas na mesma paróquia, família
ou vizinhança, e ritos sociais organizavam então o encontro dos jovens casais que após alguns
poucos encontros logo chegavam ao casamento. O período de namoro era muito pouco ou
nenhum, e toda a escolha era feita segundo os critérios dos pais.
As janelas nas casas eram mediadoras de olhares, de recados murmurados, de rápidas
declarações de amor e do som das serenatas. Elas eram o meio de comunicação entre a casa e
a rua. Outro local para tais encontros era na igreja, na missa dominical, onde os solteiros
poderiam ter a oportunidade de observarem uns aos outros, mas sempre com completa
discrição. Fora a troca de olhares e os cochichos na missa, raramente um homem tinha ocasião
de falar com a mulher a qual se interessava antes de tê-la pedido em casamento, apenas
quando os pais da jovem não eram muito severos, e mesmo assim só na presença deles. Até o
fim do século o namoro foi dificultado. Em 1890, a educadora Marie Robinson Whrigt
observava que a inteira liberdade de namoro que já era concedida nos Estados Unidos naquela
época continuava desconhecida no Brasil. Havia uma aproximação um pouco mais facilitada
nas classes populares quando comparadas as elites, onde não havia posses e a cor era algo
bem menos importante, demonstrando então que entre os escravos e pobres, poderia emergir
relações e casamentos mais próximos do gosto dos pretendentes, e de certa forma mais
duradouros e felizes. (DEL PRIORE, 2006)
Com ritos amorosos tão curtos e alheios à vontade dos envolvidos, amantes recorriam
a outros códigos para se comunicar. O beijo, por exemplo, substitui a linguagem. O primeiro
beijo representava algo único, assim como o olhar que tinha uma enorme importância, embora
a mulher discretamente pudesse cruzar seu olhar com o do homem, pois um olhar feminino
livre era percebido como um olhar obsceno. A escolha era de domínio exclusivamente
masculino, ele escolhia, identificava e definia aquela a quem pretendia cortejar. Os encontros
representavam o lugar de relações de dominação, de poder e força, inclusive sexual. O mais
importante das relações não era a paixão ou o amor, mas sim os compromissos sociais. Com
isso, uma mulher nunca seria feliz fazendo seu pai infeliz, então elas aceitavam o marido que
10

lhes era proposto e compreendiam que era possível viver com alguém, para sempre, de forma
amigável sem qualquer sentimento mais forte. Um problema muito presente na época eram os
casamentos com consanguinidade, a fim de manter a pureza da linhagem e dos grupos
familiares, que por vezes geravam filhos doentes.
O flirt — palavra que aparece no início do século XIX para designar amores mais ou
menos castos — era feito nas ruas principais de cada cidade, em festas comemorativas na
cidade ou nos banhos de mar. Os homens mais cobiçados eram os filhos de senhores de
engenho ou com muitas posses para que pudesse aumentar o patrimônio da família. Já o ideal
de mulheres na época eram as filhas de fazendeiros, bem jovens como entre 12 e 16 anos, pois
as de 20 anos já eram consideradas velhas e aos 25 já não teriam muita oportunidade de casar-
se, deviam ser herdeiras de escravos, gados e terras. Dentre as características físicas havia um
grande esforço para manter o corpo das mulheres cobertos com muitos volumes de tecido,
como seda e rendas, a cintura bem apertada dentro de espartilhos, que chegavam a prejudicar
os pulmões e a respiração causando-lhes algumas doenças, e com os seios bem espremidos
para aumentar o volume. Somente as mulheres casadas precisavam se vestir de preto e não
precisavam se perfumar, visando ser o mais indesejável possível a outros homens.
Após o casamento, a noite de núpcias servia como uma prova, o momento rude da
iniciação feminina por um marido. O quarto do casal devia ser um santuário e a cama como
um altar onde celebrava a reprodução. Fazia-se amor no escuro e os corpos deviam estar
sempre cobertos, pois a nudez estava associada ao sexo no bordel. Tinha de ser um momento
breve porque acreditavam favorecer as concepções e os homens contabilizavam o número de
vezes que faziam sexo com suas esposas para não desperdiçar o sêmen e mantê-las ocupadas
com as gestações. Não se importava com o prazer da mulher, esta não tinha nenhuma
educação sexual, era substituída pela exortação à castidade, piedade e auto repressão. Devia
ser uma boa dona de casa, cuidar da educação dos filhos, comandar bem os escravos
empregados, praticar bordado, cantar e tocar piano, além de ser reservada e evitar contato com
divorciadas e separadas.
“No Brasil, a fidelidade do marido não apenas era considerada utópica, segundo os
viajantes, mas até ridicularizada.” (DEL PRIORE, 2006, p.189). As famílias eram constituídas
por um homem branco cuja companheira era uma escrava ou mestiça e a esposa tinha de se
submeter a tal situação. Não havia punição para as infidelidades dos homens casados, nem
para os concubinatos de escravas com seus senhores. “A fidelidade conjugal era sempre tarefa
feminina; a falta de fidelidade masculina vista como um mal inevitável que se havia de
suportar. E sobre a honra e a fidelidade da esposa que repousava a perenidade do casal.”
11

(DEL PRIORE, 2006, p.195). Dessa forma, o adultério perpetuava: fazia-se amor com a
esposa quando se queria descendência e o restante do tempo era com a outra. Caso ocorresse
alguma infidelidade por parte da mulher, os homens eram tachados como “cornos” e suas
honras desfaziam-se, sendo perdoados até crimes contra essas infiéis.
Segundo Mary del Piore (2006), os adultérios não ocorriam apenas com as negras ou
mestiças, mas também com as europeias que chegavam ao Brasil e se prostituiam. Eram
chamadas “mulheres bonitas” e não “senhoras”, como se a beleza, o prazer e o erotismo só se
encontrasse nas “mulheres perdidas”. Elas agiam por dinheiro e colocavam em perigo as
grandes fortunas e honra das famílias. Os homens que frequentavam os prostíbulos tinham
que ter cuidado para não transmitirem algumas práticas às suas esposas, já que elas nada
deveriam saber sobre sexo. Dessa forma, “uma série de teses e memórias médicas preocupa-se
com a prostituição no Rio de Janeiro, durante o século XIX.” (DEL PRIORE, 2006, p.208).
Dentre elas a sífilis, com desdobramentos nos rins, fígados e sistema nervoso, causando
inúmeras mortes.
A homossexualidade também era uma preocupação, pois essa era associada a uma
herança mórbida, “o homossexual não era mais um pecador, mas um doente, a quem era
preciso tratar.” (DEL PRIORE, 2006, p.222). Embora fosse a moralidade e não a medicina o
remédio para lutar contra as “aberrações da natureza”. Outro terreno considerado
perigosíssimo, segundo os médicos da época, seria a sexualidade feminina. Para eles, depois
de iniciada as práticas sexuais, elas não poderiam deixar de exercê-la, pois assim surgiria os
sintomas de histeria, tais como a paixão por outro homem que não o marido, a linguagem
livre e outras características físicas como lábios vermelhos, boca grande, muitos pêlos e etc.
Elas tinham de ser frágeis, admiráveis, boas mães, submissas e doces e qualquer uma que
revelasse o oposto seria considerada um ser antinatural, pois acreditava-se que o instinto
materno anulava o instinto sexual, logo, aquela que sentisse desejo ou prazer sexual seria
anormal. “Os remédios eram os mesmos há 200 anos: banho frio, exercícios, passeios a pé.
Em casos extremos, recomendava-se — pelo menos em tratados médicos — a ablação do
clitóris ou a cauterização da uretra.” (DEL PRIORE, 2006, p.219). Como observado, o amor
nesse século era algo distante e irrealizável, então muitas vezes ele se expressava na
linguagem. Amava-se o amor e não propriamente as pessoas. “O amor parece ser, como foi
com o livro de Rousseau no início, uma epidemia.” (DEL PRIORE, 2006, p.225).  Fazia com
que as pessoas sofressem e suspirassem no papel de apaixonadas, tudo em silêncio, sem ação.
Segundo a autora, tal sentimento era visto como o caos do mundo moral. Onde ele reinasse
absoluto, se perdia o controle da sociedade e das instituições. A mulher que fosse apenas
12

coração ou amor se tornava um ser ameaçador que devia ser tutelado pelo homem. Na metade
do século, brancos e negros deixavam-se influenciar pela moda erótica da época, como almas
de pastor enamorado faziam da bem amada sua heroína, cantando-lhe a beleza do rosto ou dos
pés. O romantismo é o momento de eclosão da poesia afro-brasileira, uma forma que
encontraram para superar a linha de cor e dizer coisas do amor. “A presença de intelectuais
negros nas letras, em prosa, verso, jornalismo e oratória era grande e se fez sentir até antes da
Abolição.” (DEL PRIORE, 2006, p.229).
Tempo de desejos contidos e desejos frustrados, o século tido como hipócrita que
reprimiu o sexo, mas foi por ele obcecado, que impunha regras ao casal, mas liberava bordéis,
vigiava a nudez, mas olhava pelos buracos da fechadura. Contudo, ao longo dele o amor foi se
configurando até configurar-se como amor romântico descrito nos romances e em outras
formas de escrita e leitura. Era um século feito de namoros atrás das portas e com raríssimas
oportunidades de realização sentimental ou da escolha do cônjuge ser vista como condição de
felicidade. Homens e mulheres não eram próximos emocionalmente no casamento, a relação
era em torno não de atender as necessidades sentimentais, mas sim de ordem prática, na qual
o casal era um mero instrumento para manutenção da vida em sociedade.

4.  SÉCULO XX

A passagem do século XIX para o século XX foi marcado por repletas mudanças,
inovações, modernização e evoluções. Era o tempo em que se consolidava a República no
Brasil, e que os indivíduos entraram em um processo de libertação da família, igreja, trabalho
e sua comunidade. Esse processo permitiu novos comportamentos e transformações na
economia e no meio social, quais resultaram em uma nova forma de viver e pensar.
Em meados do século XX, houve uma ruptura na história das relações entre homens e
mulheres, pois os mesmos não aceitavam os modelos que lhes eram impostos, exemplo disso,
a mulher que antes precisava aceitar tudo, começa a negar e a dizer “não”. E com isso, o
casamento muda, como mostra Del Priore, M. (2006 p.242): “Os casais começam a se
escolher porque as relações matrimoniais tinham de ser fundadas no sentimento recíproco”.
Ou seja, agora o amor era é base do casamento.
A expansão do capitalismo, assim como a revolução científico-tecnológica, mudaram
as formas de relacionamentos. Os brasileiros foram fortemente influenciados pela a
industrialização, pela migração. Nesse tempo, foi essencial uma educação sexual, uma das
características da consciência sanitária. Porém, essa educação partia de duas correntes, a
13

“verdade evangélica” e pelos preceitos de “pureza sexual”, para que assim os jovens se
afastassem das aventuras sexuais (DEL PRIORE, 2006).
Além disso, havia muita discordância em opiniões sobre o casamento entre negros,
mulatos e brancos, sendo que a maioria não aceitava e não queria um casamento “com
pessoas de cor”, e ainda depois de muitas mudanças, como a República, o casamento civil era
visto como “coisa de branco” (DEL PRIORE, 2006). Isso, como outras opiniões era uma
herança do século anterior.
Ainda no início do século XX, um novo padrão de beleza da mulher surge, fruto da
moda do esporte, “O encontro dos sexos em ocasiões esportivas era, sem dúvida, signo de
mudança nas relações sociais.” (DEL PRIORE, 2006). A questão do corpo fica mais visível, e
as mulheres começaram nadar, jogar tênis e a pedalar, a autora aponta que o esporte estava
muito em alta para a mulher e o homem.
Nas primeiras décadas do século XX, a ideia do casamento era de ser eterno, e a
ameaça ao mesmo, era alvo de muitas críticas, como por exemplo, o divórcio, que por muito
tempo foi considerado imoral. E no código civil de 1916, a mulher era considerada incapaz de
exercer qualquer atividade que não seja doméstica, e se mantinha em posição de dependência
do marido. (DEL PRIORE, 2006). Tanto que a autora aponta “Era indisfarçável o
conformismo da maioria das mulheres diante da condição de sujeição imposta pela lei e pelos
os costumes: serva do marido e dos filhos, sua única realização aceitável acontecia no lar”
(DEL PRIORE, 2006, p.262).
Mary Del Priore em seu livro, precisamente no capítulo sobre o século XX, destaca
que a quantidade de crimes passionais registrados pelas delegacias brasileiras era enorme.
Nesta época tal crime era visto como um crime comum nas camadas mais desfavorecidas,
assim como homens e mulheres que criavam filhos que não tinham sido gerados dentro da
relação monogâmica do casal. Os homens muitas vezes abandonavam as mulheres para
trabalhar em outras cidades e estados e a Mulher que era vista como desvirginada e não
poderia mais encontrar um “bom” marido.  A autora retrata como até legalmente o Adultério
era visto de forma diferente, na qual no Código Penal de 1890, só a mulher era penalizada e
punida com prisão de até 3 anos, e o homem só era considerado adultero caso possuísse um
relacionamento extra conjugal no qual ele sustentasse outro lar.
Os anos 1930, 1940, 1950 e a chegada das indústrias e o êxodo-campo cidade fizeram
com que uma nova rede de relações se formasse. Nela as mulheres passaram a ganhar espaço,
trabalhar fora começou a se tornar mais aceitável, embora muitas vezes as mulheres tivessem
que provar que os empregos fossem dignos.   Os anos de 1940 trouxeram o romance para as
14

telas dos cinemas, beijar começou a ser sinônimo de namorar. Depois da segunda guerra mais
transformações, jovens passavam mais tempos juntos sem tanta supervisão dos pais. Em 1955
as revistas femininas davam dicas de como se comportar para conseguir um bom marido, ou
como se livrar dos que não queriam compromisso, as mesmas criticavam o rock’nroll, o
carnaval, e a liberdade do cinema.  Não havia ali nada de muito novo, a mulher ainda devia
servir o homem, não deveria perturba-lo e nem encanar com traições consideradas “bobas”,
nas brigas as mulheres deveriam se resignar em nome da felicidade conjugal.
Nos Anos 1960 e 1970 eclode a “revolução sexual”, e a pílula  anticoncepcional chega
ao Brasil. Músicas rebeldes criticam os valores e autoridades do mundo adulto. A moral
sexual se flexibiliza e casais não casados eram mais aceitos, podendo circular juntos sem
grandes criticas. A Igreja Católica começa a falar em amor conjugal: o amor entre esposos
como um bem incalculável para os filhos, a interação entre amor físico e espiritual e a
renovação contínua do amor. Feminismo e homossexualidade começam a ganhar pequenos
espaços nas revistas, em 1970 os movimentos feministas ganham força e o papel do homem e
sua identidade começa a ser problematizados. Mas a televisão que chegou a casa da população
brasileira continuava, e continua até hoje, a martelar o ideal de amor romântico. Mulheres
eram dividas entre as certas (que não davam) e as erradas (que davam). No último capítulo de
seu livro, A vitória do indivíduo, Mary Del Priore resume bem todas as transformações dos
últimos anos de 1970 até os atuais e levanta um questionamento. Vejamos:

Em toda a história do amor, o casamento e a sexualidade estiveram sob


controle; controle da Igreja, da família, da comunidade. Só o sentimento,
apesar de todos os constrangimentos, continuava livre. Podia-se obrigar
indivíduos a viver com alguém, a deitar com alguém, mas não a amar
alguém. Apesar dos riscos da aids — descoberta popularizada nos anos 80
—, a sexualidade foi desembaraçada da mão da Igreja, separada da
procriação graças aos progressos médicos e, mais, foi desculpabilizada pela
psicanálise e mesmo exaltada. De forma oposta, a ausência de desejo é que
passa a ser perseguida. O casamento, fundado sobre o amor, não é mais
obrigatório e ele escapa às estratégias religiosas ou familiares; o divórcio não
é mais vergonhoso e os cônjuges têm o mesmo tratamento perante a lei. A
realização pessoal coloca-se acima de tudo: recusamos a frustração e a culpa.
Mas tudo isso são conquistas ou armadilhas? Os historiadores de amanhã o
dirão. (Del Priore, M. – Historia de amor no Brasil, pg333.)

5. AMOR E A CONTEMPORANEIDADE

Amor: O impossível…E uma nova suavidade apresentado no livro  Micropolítica:


cartografias do desejo (GUATTARI e ROLNIK, 1986)  traz ideias para se pensar o momento
15

atual e o desenrolar da construção e desconstrução de uma ideia de amor, impossível talvez e


de novas formas de se relacionar. Neste texto, Rolnik deixa claro que a ideia da família
tradicional “implodiu” em suas palavras, e que o que se restou foi uma certa ideia
determinada de homem e mulher e dessa relação conjugal. Porém, esta certa ideia também
vem se desfazendo, se desterritorializando, e dentro desta desterritorialização 1, ela trata de
duas formas que este vem acontecendo, a primeira seria um apego obsessivo as formas antigas
de se relacionar, e a segunda seria a criação de outros territórios de desejos. Este apego
obsessivo gera o medo da desterritorialização, e um enclausuramento em uma simbiose, uma
supervalorização do familialismo, um endurecimento. Já no outro extremo, quando não é
possível resistir a desterritorialização, as relações passam a ser puro movimento, total
desprendimento, mas Rolnik vê o problema nisso quando o mesmo passa ser o fim e não o
meio de criação para um novo território. Acontece que esses dois extremos podem coexistir
na vida da mesma pessoa.
Para demonstrar esses dois extremos que configuram as relações conjugais, ou seja, o
apego obsessivo que causa enclausuramentos e a desterritorialização, Suely Rolnik (1986)
apresenta a mitologia grega de Penélope e Ulisses. Segundo a mitologia, Pénelope e Ulisses
casaram-se e permaneceram juntos por um ano, até que Ulisses teve de ausentar-se em partida
para a Guerra de Tróia. Enquanto Ulisses guerreava em outras terras e seu destino era
desconhecido, o pai de Penélope sugeriu que sua filha casasse-se novamente, mas por ser uma
mulher apaixonada e fiel ao seu marido, recusou dizendo que esperaria a volta de Ulisses. Ao
longo do tempo, muitos duvidavam que Ulisses ainda estivesse vivo, portanto, apareciam
diversos pretendentes para Penélope, mas ela, ainda esperançosa, recusava a todos ou criava
desculpas para ganhar mais tempo. Um de seus artifícios foi o de alegar que estava
empenhada em tecer uma tela para o dossel funerário de Laertes, pai de seu marido,
comprometendo-se em fazer sua escolha entre os pretendentes quando a obra estivesse pronta.
Durante o dia, aos olhos de todos, Penélope trabalhava tecendo, mas à noite, secretamente
desfazia o trabalho feito. Após descoberto sua artimanha, Penélope propôs outra condição ao
seu pai para que finalmente pudesse escolher outro pretendente: casaria-se com aquele que
vencesse uma prova que apenas Ulisses seria capaz de vencer. De fato, nenhum pretendente

1
O território pode ser relativo tanto a um espaço vivido, quanta a um sistema percebido no seio do
qual um sujeito se sente “em casa”. O território é sinônimo de apropriação, de subjetivação fechada
sobre si mesma. Ele é o conjunto dos projetos e das representações nos quais vai desembocar,
pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de Investimentos, nos tempos e nos espaços
sociais, culturais, estéticos, cognitivos. (GUATTARI e ROLNIK, 1986, p. 319)
16

conseguira tal façanha, apenas Ulisses disfarçado de mendigo e já no interior do palácio o


conseguiu, retornando após longos dez anos.
Segundo Rolnik (1986), as Penélopes tecem, mas sempre o mesmo: amor por Ulisses.
Obra que lhes toma todo o tempo e espaço, tornando seus mundos absolutos, condenadas à
vontade de ficar, negando-se a aventuras. “A desterritorialização é traduzida como sensação
de estar se desagregando de tanto que Ulisses lhes falta. E, melancolicamente, Penélope o
acusa: “você me destrói com a sua vontade de ausência”. (GUATTARI e ROLNIK, 1986,
p.285). Essa sensação de destruição junto à esperança do retorno de Ulisses é a condição de
existência das Penélopes, segundo a autora. Enquanto que os Ulisses negam-se a tecer, andam
por toda parte sem estar em parte alguma, tornando seus mundos também absolutos,
condenados à vontade de partir. “A desterritorialização é traduzida como sensação de estar
sendo devorado por Penélope. E, fobicamente, Ulisses a acusa: “você me destrói com essa sua
carência, vontade de presença”. (GUATTARI e ROLNIK, 1986, p.285). Demonstrando
também que a sensação de destruição indissociável à esperança do alívio perante a ausência
de Penélope, condena a existência dos Ulisses. Portanto, os dois precisam tanto do abandono,
quanto do grude, configurando assim o pacto simbiótico. Esse pacto precisa ser renovado
todos os dias por ambos e eles precisam ver para crer que o tecido se faz e desfaz quantas
vezes forem possíveis.
O controle de Penélope é do tempo, sempre a espera de seu amado, enquanto Ulisses
controla o espaço, em busca de aventura, e é essa diferença que os fazem completos e estarem
em equilíbrio. A falta que ela sente o faz sentir-se homem e sua volta a faz sentir-se mulher. E
eles nem sempre são os mesmos, mas a trama é a mesma: “há uma mulher que desempenha o
papel de Penélope para ele, sempre um homem que desempenha o Ulisses para ela (ou vice-
versa)” (GUATTARI e ROLNIK, 1986, p.287).
Contudo, se um dia o Ulisses resolve se desapegar de Penélope definitivamente, ele se
entrega por completo à desterritorialização, não sente mais medo, não precisa se ver na
espera dela e de mais ninguém, e se entrega totalmente aos encontros. Dando origem o
conceito de máquinas celibatárias, que caracterizam pessoas que seguem de encontro a
encontro, experienciando o novo, onde tecem e se tecem, e a cada novo encontro elas
esquecem e se esquecem. Na eterna busca, vão perdendo suas identidades, não buscam mais
construir territórios, pois são movidas pela paixão, assim vão à contramão do pacto simbiótico
de Penélope e Ulisses, seguem alçando voos mais altos e distantes experimentando universos
inimagináveis.
17

Mesmo com a alegria e a expansão que a vida ganha nesta desterritorialização, há uma
perda da capacidade de criar algo que alimente a alma e o corpo, causando mazelas
consequentes desta busca desenfreada de tecer com tantos fios, onde nunca se pousa sobre
nenhuma paisagem, excluindo a possibilidade de se reorganizar e construir algum território
que possa gerar benefícios desta nova relação mais desprendida com as pessoas no mundo.
Ficando suscetíveis a perder a possibilidade do envolvimento nos encontros, sendo assim nem
a necessidade do pacto simbiótico e nem a desterritorialização seriam os únicos caminhos
possíveis. Dessa forma, Rolnik (1986) propõe uma reflexão: talvez haja algo entre esses dois
extremos que deva ser buscado e construído nas relações, pois nestas duas perspectivas o que
se perde é justamente o amor.
Chega-se então a uma nova espécie de amor, não tão demasiadamente humana ao
ponto de reduzir seu mundo em uma pessoa e nem demasiadamente desumana ao ponto de
não construir territórios para si, ou seja, um amor com a autonomia das máquinas celibatárias,
porém que está disposto a construir territórios. Entretanto, ao mesmo tempo deve-se aceitar o
fato que todos temos um pouco de Ulisses, de Penélope e de máquinas celibatárias em nós.
No momento que aceitamos a convivência entre esses dois territórios e nos propomos a
reconfigura-los, temos como resultado uma nova suavidade.
18

CONCLUSÃO

Neste trabalho abordamos o assunto sobre o amor, a partir de uma análise histórica no
Brasil, sendo assim, conseguimos visualizar as transformações pelas quais passou a sociedade
brasileira. Pode-se dizer que, foi uma grande evolução, onde o amor e o prazer se tornaram
obrigatórios, visto que, o sentimento e a atração sexual recíproca passaram a ser a base do
casamento. Isso foi resultado de reorganizações das atividades cotidianas, a modernização e
urbanização do país, além da liberdade e a realização pessoal, que ajudaram mudar a história e
tradição do amor, como à escolha dos pares e às formas de dizer amor.
Organizamos o nosso trabalho em quatro capítulos. O capítulo um, intitulado “Amor
no Brasil Colônia”, tem como propósito registrar as primeiras manifestações que se dão, na
qual se tinha um amor casto no casamento, e o amor-paixão, vivido fora dele, o que
proporciona prazeres carnais. No capítulo dois, pretende-se descrever as mudanças, mesmo
que mínimas, no século XIX. Pôde-se observar que o casamento continuava como uma
negociação, porém o amor continuava não sendo o ponto mais importante nas relações, e sim
os compromissos sociais. O amor era algo distante e irrealizável, muitas vezes sendo expresso
na linguagem. Amava-se o amor, e não propriamente as pessoas. No terceiro capítulo,
trouxemos observações acerca do século XX, assim como as modificações de
comportamentos, na economia e no meio social, resultando em novas formas de viver e de
pensar. Houve uma ruptura na história das relações entre homens e mulheres, relações
precisavam ser fundadas no sentimento recíproco, ou seja, o amor tornou-se a base. Por fim,
no quarto e último capítulo, analisamos a apropriação do devir do outro, responsável pelo
nascimento desses espaços sufocantes, fechados. O amor, na contemporaneidade, torna-se
inacessível, dessa maneira, buscamos a compreensão da existência de dois extremos, um amor
por medo, que teme ficar sozinho, encontrar-se consigo mesmo em um mundo assustador, e
do outro, um amor que foge, viaja, um amor onde nada falta, mas que também nada constrói.
Sendo assim, concluímos que se faz necessário ter essa visão sobre a história do amor, e sobre
o que acontece nessa contemporaneidade para que se possa então construir um novo território
e uma forma de se relacionar amorosamente mais saudável.
19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DEL PRIORE, Mary. História do Amor no Brasil: 2. Ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006

GUATTARI, F.; ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes,


1986

Você também pode gostar