Você está na página 1de 10

CENTRO UNIVERSITÁRIO FIG-UNIMESP

CURSO DE DIREITO

Crimes: Mandado de Segurança

DIREITO PENAL

ALEXANDRE AMERICO DOS SANTOS – RA 15210174

GUARULHOS/SP

2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIG-UNIMESP

CURSO DE DIREITO

Crimes: Mandado de Segurança

DIREITO PENAL

Trabalho apresentado ao Centro Universitário FIG-UNIMESP


referente à disciplina de Direito Penal.
Professor: NILTON DE SOUZA VIVAN NUNES

ALEXANDRE AMERICO DOS SANTOS – RA 15210174

GUARULHOS/SP
2021
SUMÁRIO
1. MANDADO DE SEGURANÇA ............................................................................................................ 1

2. ORIGEM ........................................................................................................................................... 2

2.1. Evolução Na Legislação Brasileira ........................................................................................... 2


3. CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 7

4. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................. 7
1. MANDADO DE SEGURANÇA
INTRODUÇÃO

Todo ato ilícito, todo crime é punível com sanção e todo aquele que comete
um ato ilícito, deve ser punido. Porém para que a sanção seja justa, cumprindo a
Constituição Federal, necessário se faz que se diferencie os imputáveis dos
inimputáveis, dando tratamento isonômico aos iguais e tratando os desiguais
desigualmente.

Com base nesta introdução, estudaremos o instituto da medida de


segurança, sanção aplicada aos inimputáveis.

Inicialmente vamos determinar o que é inimputável. O Artigo 26 do nosso


código penal o descreve como sendo pessoas que, por doença ou mal
desenvolvimento mental, não podem entender que o ato cometido é um crime e, por
isso, não são penalizadas.

Para este grupo de pessoas, consideradas inimputáveis, aplica-se como


forma de sanção a medida de segurança, e suas espécies são tratadas pelo Código
Penal em seu artigo 96, a saber:

Art. 96 – As medidas de segurança são:

I – Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta,


em outro estabelecimento adequado;

II – Sujeição a tratamento ambulatorial.

Parágrafo único – extinta a punibilidade, não se impõe medida de


segurança nem subsiste a eu tenha sido imposta.

Tal qual temos para o imputáveis, também os inimputáveis podem sofrer


sanção privativa de liberdade (internação em hospital) e a restritiva (tratamento
ambulatorial).

Porém, diferentemente da sanção aos imputáveis que tem também caráter


preventivo, na tentativa de inibir que outros venham a cometer atos criminosos, a
medida de segurança tem tão somente o caráter de prevenção especial (tratamento).

1
É importante frisar que a medida de segurança, como tratamento, não pode
ser por prazo indeterminado a fim de não ferir a Constituição Federal, tendo desta
forma seu prazo máximo o prazo cominado ao crime atribuído ao agente.

2. ORIGEM
O surgimento da medida de segurança como forma de sanção penal se fez
necessário em razão do desenvolvimento dos estudos dos transtornos mentais, como
resultado da Psiquiatria Forense, a noção de não imputabilidade surgiu, tornando
injusto que a punição fosse a mesma para todos.

Assim sendo, a punição para aqueles considerados não imputáveis passou


a denominar-se de medida de segurança, deixando de ser a pena.

A primeira medida de segurança da história surgiu com os jurisconsultos


romanos, no julgamento de um indivíduo que havia matado a própria mãe, quando em
seu veredicto, disseram: "Ele já foi suficientemente punido pelo seu furor; acorrentai-
o, não para castigá-lo, mas para sua própria segurança e de seus parentes". (Autor
desconhecido)

Consoante, ensina o Professor José da Costa:

“De há muito se sentiu a necessidade de não só reprimir, mas de prevenir


o delito. O direito romano, que considerava inimputáveis o “infans” (infante, menor de
sete anos) e os “amens” ou “furiosus” (loucos), os submetiam a medidas de
prevenção, para a segurança do próximo”.

Assim sendo, denota-se que desde a Roma Antiga, o homem percebe a


necessidade de repreensão e prevenção de delitos, considerando a diferenciação na
culpabilidade dos não imputáveis.

2.1. Evolução Na Legislação Brasileira


Historicamente no Brasil, as Ordenações Filipinas ou Código Filipino, que
é uma compilação jurídica resultante da reforma do código manuelino, por Filipe II de
Espanha (Felipe I de Portugal), durante o domínio castelhano sendo, ao fim da União
Ibérica (1580-1640), confirmado para continuar vigendo em Portugal por D. João IV,
consideravam inimputáveis apenas os menores de dezessete anos, não existindo
2
previsão aos doentes mentais, contudo, estas previam que “não se poderia imputar
fato ilícito àquele que não poderia obrar com dolo ou culpa, visto ser louco, insensato
ou doente”.

O Código do Império, em 1830, considerava inimputáveis os loucos de todo


gênero, eles “por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
não possui, ao tempo da prática do fato, capacidade de entender o seu caráter ilícito
ou determinasse de acordo com esse entendimento.” (JESUS, 1998). O mesmo
Código determinava que os loucos deveriam ser entregues às suas famílias, para que
pudessem ser observados, ou as instituições que se prestassem a esse papel. Quanto
aos menores, dessa vez de 14 anos, tendo praticado o delito com discernimento para
tanto, deveriam ser recolhidos às casas de correção.

Foi somente no Projeto Sá Pereira que o instituto surgiu com o nome de


“medidas de defesa social”, posteriormente substituído pelo nome de “medida de
segurança”, quando revisto pela subcomissão legislativa.

Dessa forma leciona o jurista Ataliba Nogueira:

“É a maior novidade, a mais profunda modificação ao sistema penal


anterior, a introdução, no novo código, do instituto das medidas de segurança.
Nenhum outro assunto sobreleva a este, nenhuma novidade é maior do que esta”.
(Ataliba Nogueira)

O sistema duplo binário foi adotado no Código da República. O agente


criminoso primeiramente cumpria a pena e depois era submetido à internação em
casa de custódia e tratamento.

Entretanto, a doutrina esmagadora entendia que o sistema binário era falho


na prática, nas palavras de Damásio de Jesus:

(...) em alguns casos, a execução sucessiva da pena e da medida de


segurança detentiva significava apenas a transferência do detento de uma para outra
ala do mesmo estabelecimento penitenciário. (JESUS, 1998).

Posteriormente, o Código criado pelo Desembargador Vicente Piragibe,


que antecedeu o código de 1940, disciplinou as localidades que os doentes mentais
criminosos deveriam habitar, devendo eles serem alojados em pavilhões especiais de

3
asilos públicos durante o período em que se construíam os manicômios criminais. O
destaque de tal ordenamento consistiu “no afastamento do intervalo lúcido como
exceção do estado de loucura.” (MORAIS FILHO, 2006).

Já no Código de 1940, aos semi-imputáveis eram aplicadas penas e


medidas de segurança, cumulativamente, utilizando o sistema duplo binário, pois o
entendimento era de que eles não possuíam pleno discernimento da prática delitiva;
aos inimputáveis eram aplicadas apenas as medidas de segurança. Também previa-
se que a periculosidade não podia ser presumida por lei. Esse Código considerou
inimputável “aquele inteiramente incapaz de entender o caráter delituoso do fato e de
orientar seu atuar de acordo com aquela compreensão.” (PRADO, 2006).

A Lei 7.209/84 alterou o Código Penal de 1940 abandonando o sistema


duplo binário para adotar o sistema vicariante.

(...) somente pena ou somente medida de segurança. (...) Não podem ser
aplicadas ao condenado semi-responsável uma pena e uma medida de segurança
para a execução sucessiva; ou bem a pena, ou bem a medida de segurança, conforme
o caso.” (JESUS, 1998).

Desta feita observa-se que “a aplicação conjunta de pena e medida de


segurança lesa o princípio do ne bis in idem.”(BITENCOURT, 2006). Ou seja, sabendo
que qualquer medida restritiva de liberdade tem o seu caráter penoso, o condenado
seria penalizado duas vezes pelo mesmo fato.

A reforma penal de 1984 abandonou a previsão de medidas de segurança


para os imputáveis, reservando a estes, exclusivamente, a pena, conforme dispõem
os artigos 96 e seguintes do Código Penal brasileiro atual:

“Artigo 96, CP – “As medidas de segurança são:

Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico

ou à falta, em outro estabelecimento adequado.

II – Sujeição a tratamento ambulatorial.

Parágrafo único: “Extinta a punibilidade, não se impõe medida de


segurança nem subsiste a que tenha sido imposta.

4
O artigo 96 do CP, ao inaugurar o Título VI – Das medidas de segurança –
torna primordial salientar que a medida de segurança é uma modalidade de sanção
penal com finalidade exclusivamente preventiva e de caráter terapêutico, não por
engano que o legislador remete ao cumprimento delas em hospitais de custódia e
locais de tratamento ambulatoriais.

Isso posto, observa-se que o art. 96 apresenta duas espécies de medidas


de segurança: detentiva e restritiva. A pena detentiva em prevista no inciso I e consiste
na internação, enquanto a restritiva, mostra-se como sujeição a tratamento
ambulatorial permanecendo livre, mas devendo receber o tratamento médico
adequado.

Assim, o art. 97 do CP dispõe em seu caput o critério para escolha da


espécie de medida de segurança:

Artigo 97, CP – “Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua


internação (artigo 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com
detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

§ 1º A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo


indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e


deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da
execução.

§ 3º A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional, devendo ser


restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, prática
fato indicativo de persistência de sua periculosidade.

§ 4º Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar


a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos.

O artigo 97 do CP, por sua vez, destaca que a imposição da medida de


segurança será feita ao inimputável, cabendo ao juiz determinar sua internação ou
tratamento ambulatorial com base no artigo 26 do mesmo Código. O artigo 26,
tratando da imputabilidade penal, explicita como inimputáveis os agentes com doença

5
mental, retardo mental incompleto ou retardado incapazes de entender o caráter ilícito
ao tempo da ação ou omissão

Ainda sobre a conceituação de imputabilidade penal, discorre o artigo 98


do CP:

Artigo 98, CP – “Na hipótese do parágrafo único do artigo 26 deste Código


e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de
liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo
mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a
4º.”

Artigo 99, CP – “O internado será recolhido a estabelecimento dotado de


características hospitalares e será submetido a tratamento.”

Como consequência do art. 99, o condenado a medida de segurança não


pode ser colocado em estabelecimento prisional comum, sob pena de ser submetido
a constrangimento ilegal. Desta feita, em caso de ausência de vagas, a jurisprudência
se encarrega da questão e o Superior Tribunal de Justiça entende pela ilegalidade da
custódia em prisão de inimputável sujeito a medidas de segurança.

A atual Lei Federal 10.216 de 2001, dispõe sobre a proteção e os direitos


das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental, prescrevendo que os doentes mentais têm direito a tratamentos
realizados com humanidade e respeito, assegurando-se a proteção contra quaisquer
modalidades de exploração e o direito a receber informações concernentes à sua
doença.

Salienta-se que a referida lei age conjuntamente aos princípios


constitucionais, pois busca proteger os doentes mentais de qualquer forma de
discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política,
nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo
de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

A Lei 10.216/2001, também é conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica


e “representa um avanço, uma tentativa válida de emprestar dignidade e atenuar as
limitações sociais e econômicas e as discriminações impostas aos portadores de
transtornos mentais.” (MARCHEWKA, 2007).
6
Contudo essa Lei “não eliminará todas as violências, intolerâncias e
humilhações que eles sofrem. Por si só, a iniciativa da lei não passará de mais uma
norma sem efetividade. A implementação das políticas de saúde mental exige que
autoridades e demais cidadãos devam agir no sentido de afirmá-las.” (MARCHEWKA,
2007).

3. CONCLUSÃO
Segundo a Constituição Federal, pelo princípio da isonomia, todos são
iguais perante a lei e, portanto, aquele que comete um ato infracional cuja previsão
legal determine uma sanção, deverá ser legalmente punido. Porém não se pode punir
um ser inimputável da mesma forma que se pune o imputável, seguindo o mesmo
princípio.

Assim sendo, a forma justa de se punir o inimputável é aplicando-lhe a


medida de segurança que, por sua vez, deverá ser aplicada de acordo com o estado
do agente, podendo ser detentiva ou restritiva.

Importante frisar que, para o inimputável, diferentemente do imputável, não


há na sanção o efeito preventivo da sanção, uma vez que ele não tem a capacidade
de discernir e determinar que seu ato é caracterizado como infração, como crime.

Enfim, diante do exposto nos leva a crer que esta é a até o momento a
melhor forma de se aplicar uma sanção ao inimputável; a mais justa e humana.

4. BIBLIOGRAFIA
- Ataliba. Medidas de segurança. São Paulo: Livraria Acadêmica, 1937. p.
110-117
- COSTA Jr., Paulo José da. Curso de Direito Penal. São Paulo. Saraiva.
2010. P. 738
- HC 81.959/MG, rel. Min Maria Thereza de Assis Moura. 6T, j. 07.02.2008.

Você também pode gostar