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Análise de dados fisioterápicos com o Knesis

Brennon, GPA, glauberbrennon@gmail.com1


Graça, JN, joão.g.n91@gmail.com1
Mendes, FJJ, fabricio.mendes@hotmail.com¹
Farias, AT, arles.torquato@gmail.com¹

1 Universidade Salvador, Edf. Civil Empresarial, R. Doutor José Peroba, nº 251, 41770-230, Stiep, Salvador – BA

Resumo: As estatísticas mostram o crescente envolvimento de vítimas em acidentes que tornam necessário o
acompanhamento fisioterapêutico. Durante o tratamento o paciente é exposto a diversos tipos de exercícios físicos
visando fortificar a musculatura e, muitas vezes, recuperar movimentos. Dentre os diversos dispositivos que serão
utilizados durante o tratamento o Knesis, dispositivo proposto neste documento, se destaca como uma ferramenta de
monitoramento e análise de dados para pacientes que sofreram algum tipo de lesão no joelho.

Palavras-chave: Knesis, Sensor de Flexão, Flex Sensor, Fisioterapia, Análise de dados.

1. INTRODUÇÃO

A fisioterapia, uma das áreas mais jovens da saúde, atua na prevenção e análise de disfunções cinéticas funcionais
de órgãos e sistemas. Durante muitos anos a fisioterapia se resumiu a exercícios repetitivos com pouco ou nenhum,
método de prospecção de dados precisos além da técnica de observação do profissional responsável. Com a evolução da
engenharia o homem tornou-se capaz de desenvolver tecnologias cada vez mais sofisticadas. Hoje, no ano de 2013, os
tratamentos fisioterápicos tornaram-se muito mais rebuscados quando o assunto é tecnologia. Os eletrodos, por
exemplo, deixam de ser uma ferramenta que provoca medo e passam a ser mais um instrumento para construção de um
futuro melhor para aqueles que sofreram lesões traumáticas do aparelho locomotor.
Segundo o site “Futebol Interior”, o controle estatístico de lesões se tornou uma ferramenta imprescindível no
futebol, pois a incidência de contusões nos jogadores tem se tornado uma preocupação cada vez maior para técnicos,
fisioterapeutas e até investidores deste ramo esportivo. “As lesões nos membros superiores foram as que apresentaram
as menores incidências: cabeça (1,93%); ombro (2,65%); lombar (1,69%). Já o quadril representou 1,44%. Quanto às
lesões dos membros inferiores, a coxa foi a campeã (47,47%). As lesões de tornozelo machucaram tanto quanto as
lesões nos joelhos (14,46% x 14,22%), seguidos do adutor (7,23%); panturrilha (6,02%); púbis (2,89%) (Agência
Futebol Interior, 2013)”.
Os pacientes que sofrem de lesões motoras severas passam muitas vezes por cirurgias seguidas de um tratamento
fisioterápico baseado em exercícios físicos. A partir desta observação, a Automatronic Wearable Devices resolveu
desenvolver um sistema de medição e análise de dados, o Knesis (Knee Analysis).
O Knesis é um sistema microcontrolado com sensores e comunicação “ponto a ponto”, que tem como foco o
tratamento de pacientes que sofreram lesões motoras no joelho. O paciente que sofreu, por exemplo, um rompimento de
ligamento cruzado, será submetido a uma cirurgia corretiva e, após a cirurgia, iniciará seu tratamento fisioterápico. De
acordo com a evolução do paciente no tratamento o Knesis documentará todos os dados referentes ao joelho do
paciente, como os graus de flexibilidade atingidos, facilitando assim a análise que o médico responsável irá realizar. A
comunicação “ponto a ponto” do sistema funcionará com equipamentos baseados em tecnologia Linux, tendo enfoque
no Android por ser bem difundido nas “Smart TVs”, em minicomputadores e quaisquer outros tipos de sistemas
embarcados mais robustos.

2. DESCRIÇÃO DO SISTEMA

Observando o método de análise dos médicos e os equipamentos para contenção de movimentos, conhecido
informalmente pelo nome “Tensor”, é possível concluir que os exercícios realizados durante o tratamento de um joelho
lesionado muitas vezes se resumem ao movimento de flexão. O Knesis utiliza o estímulo motor do tratamento para atuar
em potenciômetros resistivos conhecidos como sensores flexíveis. Desta maneira é possível obter diferentes valores
para cada resistência associada a um devido grau de flexão do joelho. No momento em que o paciente flexionar a região
lesionada, se iniciará uma sequência de comandos no microcontrolador. Este recebe as informações do sensor fixado à
joelheira e, então, envia os dados lidos para a base Android através do protocolo de camada física Bluetooth. Quando os
dados alcançam o destino, a base cadastra e cataloga as evoluções do paciente. Com as informações cadastradas em
banco de dados é possível plotar gráficos para mensurar a evolução do paciente de forma mais didática e também
mostrar em tela interfaces interativas como jogos, dando assim uma visão mais lúdica ao tratamento do paciente. Todo
o procedimento descrito pode ser observado de forma simplificada na Figura 1.

Figura 1. Esquema básico do sistema.

Além da análise e prospecção de dados o Knesis é capaz de operar em outras áreas e fazer leituras também da
flexibilidade de outros membros como cotovelo e tornozelo. As únicas adaptações a serem feitas seriam as referências
para plotar gráficos no software utilizado em conjunto e também adaptar o contexto de jogos aplicados aos exercícios.

2.1. Central de Controle Computacional

Pelo fato do sistema ter autonomia para realizar leituras e interpretar o que está ocorrendo com os sensores, é
necessário incluir no escopo do projeto um chip microcontrolado para embarcar a lógica desenvolvida. O Arduino,
plataforma de desenvolvimento para microcontroladores escolhida, é um projeto “open-source” que vem apresentado
boa aceitação da comunidade devido ao fato de que é possível obter o datasheets. O tempo de desenvolvimento
investido é relativamente curto. Como pode ser observado na Figura 2, o Arduino utiliza um ATmega para fazer todo o
processamento de dados. O ATmega, chip microcontrolador, é desenvolvido pela fabricante de chips ATmel. No
Knesis, é utilizada a variação UNO do Arduino para fazer o desenvolvimento do projeto. Este, tem o ATmega328
embarcado, possuindo 32 Kbytes para armazenamento de código. Para aplicações comerciais, a plataforma de
desenvolvimento será descartada e o microcontrolador final poderá ser revisado a depender da cotação de preços e do
desempenho necessário para o sistema. O ideal será trabalhar com os chips microcontroladores LPC800 da série ARM
Cortex-M0+ que custam U$ 0,39 nas distribuidoras oficiais(Farnell), possuem alto poder de processamento e baixo
consumo.

Figura 2. Arduino UNO.

Desenvolvido pela própria Automatronic Wearable Devices, o código se baseia numa lógica simples de estruturas
condicionais. A partir dos valores passados pelo sensor o microcontrolador é capaz de enviar os dados, tornando
possível as etapas de software para plotagem de gráficos ou jogos.

2.2. Sensorização e prospecção de dados

Para monitorar os movimentos do joelho do paciente, são utilizados sensores de teor flexível que fazem a leitura de
movimentos de flexão (Figura 3).
Figura 3. “Flex Sensor”.

A todo momento dados referentes ao sensor são passados para a CCC (Central de Controle Computacional). Graças
ao procedimento de leitura desenvolvido pela equipe, o equipamento é capaz de identificar se a perna do paciente está
dobrada ou esticada, estabelecendo parâmetros para um exame de alta precisão.
Estes dados são de extrema importância para a análise do fisioterapeuta, pois ao utilizar de recursos como softwares
para plotar gráficos ou aplicar os dados a um programa de teor lúdico, jogos por exemplo, os “picos de flexibilidade”
serão detectados, permitindo ao profissional melhor adaptar o tratamento ao paciente. Tais picos de flexibilidade irão
caracterizar a evolução no tratamento do paciente, pois serão os extremos de flexibilidade alcançados pelo membro.

2.3. Recepção de dados e interpretação em plataformas embarcadas

O conceito aplicado no Knesis vai muito além de um simples sensor que irá captar o grau de flexão da perna do
paciente. Como foi dito anteriormente, os dados são enviados através de bluetooth para uma base Android. Deve-se
levar em consideração que este é um sistema operacional variante Linux e, portanto, pode rodar em quase todas
arquiteturas de processador, sendo necessário somente a compilação correta do bootloader, kernel e aplicações para a
arquitetura destino. A arquitetura escolhida para realizar tais operações foi a ARM Cortex-A8 e está descrita de forma
mais detalhada na Figura 4.

Figura 4. Arquitetura ARM Cortex-A8.


Os processadores ARM (Advanced RISC Machine) são chips com alto poder de processamento que podem ser
programados para funcionar com sistemas operacionais. Estes chips são aplicados na construção de CLPs, celulares,
Smart TVs, IHMs, tablets e muitos outros sistemas embarcados.
O kit de desenvolvimento escolhido foi a Beaglebone Black que, assim como o Arduino, é um projeto de hardware
aberto. Pode-se observar na Figura 5 que esta placa possui alguns periféricos estruturados como a porta ethernet, o que
facilita muito o desenvolvimento.

Figura 5. Beaglebone Black.

O projeto “Beaglebone” engloba diversas placas que fazem uma analogia à raça de cachorro “Beagle”
(Beagleboard, Beaglebone, Beaglebone Black) e é fomentado pela empresa Texas Instruments. A Beaglebone Black foi
escolhida por ser um kit de desenvolvimento de alta performance e baixo custo. Opera em frequência de 1GHz, possui
preço tabelado de U$ 0,50 e possui proposta semelhante à do Arduino que é a prototipagem rápida através de “shields”.
O sistema operacional Android foi escolhido em específico pelo fato dos sistemas embarcados de modo geral
estarem optando por esta distribuição Linux. “Application developers must take a few key concepts into account when
developing Android apps. These concepts shape the architecture of all Android apps and dictate what developers can
and cannot do. (Yaghmour, Karim, 2011)”, portanto os conceitos aplicados a este sistema operacional podem ser
aproveitados a qualquer variação, podendo ser utilizada a mesma aplicação em uma placa, um celular Android ou até
mesmo em uma Smart TV.

2.4. Comunicação Bluetooth

A rede bluetooth é um protocolo de comunicação para ondas de radio frequência. “Bluetooth technology operates in
the unlicensed industrial, scientific and medical (ISM) band at 2.4 to 2.485 GHz, using spread spectrum, frequency
hopping, full-duplex signal at a nominal rate 1600 hops/sec. (Bluetooth Technology Website, Acessado em 2 de Maio
de 2013)”. Para os módulos trocarem informação através do bluetooth é necessário que os dispositivos sejam pareados
segundo a relação de “Mestre x Escravo” criada pelo protocolo. O funcionamento de tal relação dita que o mestre
poderá enviar dados para o seu respectivo escravo e o este poderá responder a uma mensagem recebida. Além da
relação entre os dispositivos pareados é importante ressaltar que a existência de um sistema operacional permite o uso
de ferramentas como o BlueZ para gerenciar a chegada de mensagens. Pode se observar na Figura 6 que esta ferramenta
organiza a caixa de entradas bluetooth segundo a metodologia “FILO”(First In Last Out), também conhecida como
pilha, o que obriga o sistema a deletar as mensagens após a leitura.
Figura 6. Pilha da Caixa de Recebimentos.

3. PROGRAMAÇÃO DO SISTEMA

Tanto a Central de Controle Computacional como a base Android necessitam de uma programação em código para
ter total autonomia sobre o sistema. A programação do Arduino foi toda estruturada em uma linguagem muito próxima
do C, o que facilita o embarque da programação no sistema, pois o código fica eficiente e leve.
Tal firmware foi desenvolvido seguindo uma linha de raciocínio orientada à problemática, assim todo o código
pôde ser pensado após o brainstorming do funcionamento de todo o sistema.
O sistema que receberá os dados foi programado utilizando técnicas e metodologias mais complexas. O Android,
como dito anteriormente, é um sistema variante Linux. Portanto, se é um Linux, é possível concluir que a API nativa
está toda disponível para a linguagem C. Também foram utilizadas as tecnologias PHP e Java para maturar, estabilizar e
fazer as conexões entre a aplicação gráfica e a aplicação “nativa” que estará criando processos e lendo os dados.
Também pode se observar a presença do banco de dados SQLite para armazenar os dados lidos.
Além destas linguagens também foi aplicado um conceito semelhante ao de “multithreading” para projetar as
comunicações entre os dois dispositivos. O multithreading se resume em executar mais de uma tarefa em paralelo,
forçando uma disputa por processamento e espaço de memória no sistema.
A base e a CCC estarão funcionando de forma paralela e não trabalham na mesma frequência de operação. As
tarefas existentes em cada processo são totalmente diferentes devido ao fato de que o Arduino tem o propósito de
somente ler os sensores e enviar os dados. Já o Android precisa ler o bluetooth, conectar com o banco de dados e enviar
os dados lidos em paralelo à execução de aplicações como o software para plotar gráficos ou um jogo (Figura 7).
Figura 7. Disputa de processamento entre dispositivos.

Uma aplicação Linux denominada “Cron” é utilizada no Android para estabelecer comunicação e estabilidade entre
os processos readBluetooth.c, dbBluetooth.php e appJogo.java, além de estabilizar o espaço na memória fornecido a
estes e se certificar de que os processos estão abertos.
No software readBluetooth.c a prospecção de dados do meio de comunicação é feita através da leitura de arquivos
que são escritos pelo módulo bluetooth. A API do sistema Linux se certifica de que qualquer periférico mapeado no
sistema receberá uma estrutura de pasta para seu processo e outra para os dados que passam por aquele barramento.
Estas estruturas podem ser identificadas verificando o conteúdo dos diretórios “/proc/” (processos) e “/sys/class”
(dados).

4. PORTABILIDADE DO SISTEMA

Desenvolvido pensando na portabilidade o Knesis é extremamente portável tanto no quesito aplicativo quanto no
quesito dispositivo. Se um cliente em potencial trabalha viajando ou está saindo de férias e não deseja interromper seu
tratamento, basta este obter o Knesis-MI. O Knesis-MI é um kit com os módulos da CCC, sensor e o dispositivo
Android. Para iniciar as atividades o paciente irá vestir o sensor, ligar a CCC e ligar o dispositivo Android ao HDMI de
sua televisão. A partir deste passo o paciente acessará o aplicativo desejado e realizará seus exercícios diariamente
vestindo a joelheira sensorizada (Figura 8).
Figura 8. Dispositivo Knesis: Versão de testes com o sensor externo para fácil manuseio.

Para os consultórios de fisioterapia que desejam atuar com o sistema em suas Smart TVs o produto vendido será o
Knesis-TV. Este é um kit que possui somente o sensor, módulo CCC e aplicativo. Por consequência, neste caso a Smart
TV exercerá o papel da Beaglebone Black.
Para aqueles que desejam desfrutar do máximo de portabilidade que a Automatronic Wearable Devices
disponibiliza, o kit Knesis-MO será vendido com o propósito de ser conectado com celulares Android. Vale frizar que
no processo de compra deste kit derverão ser analisadas as especificações técnicas do telefone para evitar insatisfação
do cliente.

5. MATERIAIS UTILIZADOS E PREÇO DE CUSTO

Todos os materiais utilizados no sistema são de fácil manejo e o sensor do joelho pode ser lavado quando removida
a alimentação. Os materiais escolhidos para o desenvolvimento estão listados na Tabela 1, especificando quantidade
utilizada durante o processo e fazendo uma breve projeção comercial em relação a compra.

TABELA DE MATERIAIS REFERENTE A UMA UNIDADE TABELA REFERENTE A 100+ UNIDADES


Material: UND de Medida: Quantidade: Preço Unit: Preço Total: Preço Unit: Preço Total:
Sensores UND 2 $12.95 $25.90 $10.36 $1,036.00
Beagleboard Black UND 1 R$ 45.00 $45.00 R$ 30.00 R$ 3,000.00
Arduino M 1 $21.95 $21.95 $17.56 $1,756.00
Módulo Bluetooth UND 1 $24.95 $24.95 $19.96 $1,996.00
Patola UND 1 $1.00 $1.00 $0.80 $80.00
Tensor UND 1 $9.00 R$ 9.00 $7.20 $720.00

Tabela 1. Materiais utilizados

Ao ler a tabela de materiais utilizados, é válido frisar que em produção todos os custos seriam remanejados, o que
causaria alterações no escopo do projeto e seria levantada a discussão da fabricação de novas placas “Beagleboard” e
“Arduino” em Shenzen (China).

6. CONCLUSÃO

Neste artigo científico foi apresentado o protótipo de um projeto em desenvolvimento que tem como objetivo
primário aprimorar e melhorar a precisão dos exames fisioterápicos. Para o bem estar de toda a sociedade um
dispositivo desenvolvido para fins medicinais tem como finalidade facilitar o tratamento de pacientes que sofreram
graves traumas como fraturas, torções ou rompimento de ligamentos.
Em sua fase final, a implantação do Knesis será feita através da ativação de órgãos de utilidade pública e empresas
relacionadas a equipamentos médicos. O uso do Knesis será de suma importância para exames mais precisos e respostas
mais rápidas para os tratamentos, podendo até ser aplicado, futuramente, como material de uso obrigatório nos
consultórios.

7. AGRADECIMENTOS

A Automatronic Wearable Devices gostaria de agradecer a todos familiares, colegas e professores que de alguma
forma deram apoio, seja contribuindo com ideias ou somente valorizando o esforço dessa equipe. Um agradecimento
especial ao professor, orientador e também membro da equipe, Murilo Plínio e a professora Christianne Dalforno, que
cederam a ideia para iniciarmos o projeto e sempre estiveram próximos à equipe dando conselhos, dicas e indicando os
melhores caminhos a seguir.

8. REFERÊNCIAS

Agência Futebol Interior. “Controle estatístico de lesões virou imprescindível no futebol”, Disponível em:
<http://www.futebolinterior.com.br/news/252943+Clodoaldo_Dechichi_Controle_estatistico_de_lesoes_virou_imp
rescindivel>. Acessado em 22 de Abril de 2013.
Karim Yaghmour, 2011. “Embedded Android”, Vol. 1, No 1, 22 p.
Bluetooth Technology Website. “How it works”, Disponível em: <http://www.bluetooth.com/Pages/How-it-
Works.aspx>. Acessado em 29 de Abril de 2013.

9. DIREITOS AUTORAIS

Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído no seu trabalho.

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