Efeitos do chumbo na contaminação do meio ambiente
Marciele de Oliveira Faculdade de Tecnologia de Curitiba marciele.oli.fernandes@gmail.com
O chumbo (Pb) é um metal pesado com alto potencial poluente
atmosférico e toxicológico. Embora o chumbo possua várias aplicações econômicas, como no revestimento de baterias automotivas, de cabos elétricos, na composição de canos, soldas e lâminas, na fabricação de PVC, na pigmentação de tintas, esmaltes, extração comercial, entre outras, sua utilização vem sendo restrita por causa de seu potencial tóxico. O chumbo é liberado por meio de gases industriais no meio ambiente através de processos industriais, principalmente na indústria química, automotiva e atividades de construção e mineração, e ao se sedimentarem, podem contaminar ar, solo e água. Até os anos 90, a adição de chumbo (CTE) para aumentar a octanagem da gasolina era comum, fazendo com que os automóveis fossem considerados a maior fonte de poluição do ar por chumbo. No Brasil, o CTE foi banido da gasolina em 1989, no entanto, grande parte da contaminação de solos por chumbo ainda pode ser atribuída a seus usos no passado, já que essa substância é capaz de permanecer no solo e rios durante décadas. A contaminação do meio ambiente com chumbo pode decorrer, ainda, de acidentes e da destinação inadequada de resíduos, como consequência disso, A contaminação de solos e rios, prejudica a natureza e o ser humano, pois estamos no topo da cadeia alimentar e, ao ingerirmos alimentos contaminados, o chumbo vai se acumulando no organismo, desencadeando doenças que alteram o sistema nervoso, o funcionamento dos rins, provoca anemia, impotência, debilita os ossos e até perda de memória. É possível entender a gravidade das consequências da contaminação do chumbo, acompanhando o caso de uma mineradora, no recôncavo da Bahia, no Brasil, que foi condenada pela Justiça Federal a pagar indenização pelos danos ambientais e sociais por conta da contaminação de chumbo na cidade. A fábrica operou durante 33 anos e foi fechada em 1993, produzindo cerca de 900 mil toneladas de barras de chumbo, que contaminou a população da cidade, em razão dos resíduos da produção serem descartados de maneira inadequada e, deste modo, a cidade se transformou em uma "das mais poluídas por chumbo no mundo e com vários ecossistemas degradados", pois mesmo com o fechamento da fábrica, a área não foi isolada, o que possibilitou a entrada de pessoas e animais na área. Quando funcionava, a fábrica doava para quem quisesse o lixo da produção, a escória do chumbo, e com o material venenoso que a Prefeitura de Santo Amaro pavimentou boa parte da cidade, sendo possível ainda hoje ver os resíduos do chumbo, em qualquer área pavimentada, contribuindo para a contaminação de 18 mil pessoas. Diversos operários da fábrica contraíram doenças provocadas pelo contato com o chumbo, sendo que, aqueles que estão no estágio avançado de contaminação têm uma qualidade de vida inferior, desenvolveram problemas de pressão, fadiga, dor muscular e nas articulações, insuficiência renal crônica. Das 3.500 pessoas que trabalham na fábrica, 948 já morreram. Os parâmetros quanto aos limites, exigências e procedimentos na emissão e uso de chumbo na indústria, podem ser encontrados na Constituição Federal, em leis específicas como a Lei dos Crimes Ambientais, Portarias e Resoluções dos órgãos competentes, como o CONAMA e a CETESB. No estado do Paraná, temos resoluções e decretos que estabelecem valores para emissão de chumbo, como por exemplo, a Resolução SEMA nº 34 de 24/06/2008, estabelece critérios, procedimentos e premissas para o Licenciamento Ambiental de Empreendimentos com fundição de chumbo, considerando o armazenamento, estocagem, destinação, monitoramento e tratamento. Já a Resolução CONAMA nº 401 de 04/11/2008, estabelece os limites máximos de chumbo para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado, e dá outras providências. O limite estabelecido, indica que essas pilhas e baterias devem conter traços de até 0,1% em peso de chumbo. A Resolução nº 491, de 19 de novembro de 2018, dispõe sobre padrões de qualidade do ar, estabelecendo que, o chumbo no material particulado é um parâmetro a ser monitorado em áreas específicas, em função da tipologia das fontes de emissões atmosféricas e a critério do órgão ambiental competente, sendo o padrão final, para médias aritméticas anuais, de 0,5 mg/m³. Para mitigar os riscos e minimizar a contaminação de solos, ar e rios com chumbo, entendo que uma medida importante a se tomar é a otimização do monitoramento, no controle de emissão de gases e destinação dos resíduos, além de legislação mais rigorosa para as indústrias, com medidas de despoluição dos gases atingindo valores de padrão final menores. E nós como consumidores, podemos buscar consumir cosméticos, e utilizar materiais para construção que não possuam chumbo na sua composição.