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DOUTO JUÍZO DA _ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ITABIRA/MG

Autos sob o n° (...)

IDIOTA DE TAL, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por sua


advogada ao final subscrita, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS SOB A FORMA DE MEMORIAIS,
com fulcro no artigo 403, §3° do CPP, pelas razões de fato e de direitos a seguir
expostas.

I. RELATÓRIO

Idiota de tal foi denunciado pela prática dos delitos tipificados nos artigos o Art. 213,
§1º c/c Art. 14, inciso II, c/c Art. 61, inciso II, alínea f, todos do CP, porque,
supostamente, teria tentado estuprar a vítima Florzinha.

Ocorre que, durante a instrução criminal, o réu não foi intimado para a primeira
Audiência de Instrução e Julgamento.

Apesar disso, encerrada a instrução criminal, o Ministério Público, em seus


memoriais, pediu a condenação do suposto réu.

II. NULIDADES
A) GARANTIAS DO ACUSADO

Conforme se estabelece no texto constitucional, é garantido ao acusado o


contraditório durante toda a instrução processual, vide art. 5º, LV, da CF/88.

O contraditório é o direito que o acusado possui de tomar conhecimento das


alegações da parte contrária e contra eles poder se contrapor, podendo, assim,
influenciar no convencimento do julgador.
Assim, os artigos 185, §4° c/c art. 400 do CPP asseguram ao acusado o direito de
acompanhar a produção de provas orais, e, elencam também a ordem para que tais
provas sejam produzidas.

No momento da audiência de instrução, o acusado tem o direito de estar presente,


quer porque seria desumano deixá-lo à margem de ato que pode resolver os rumos
de sua vida, quer para orientar a defesa técnica acerca de perguntas e estratégias
de defesa.

Assim, na medida em que o suposto acusado não foi intimado para a audiência de
instrução e julgamento, e, em decorrência disso, deixou de ter contato com o
depoimento da suposta vítima e possíveis testemunhas dos fatos, tem se completa
lesão ao que compreende o princípio do contraditório.

Nesta feita, é irrósório que as provas produzidas na instrução venham a convencer


este magistrado.

Assevera-se que o defensor do acusado demonstrou-se inconformado com a não


intimação do seu cliente para a referida audiência, protestando pela declaração da
nulidade antes mesmo de serem inquiridas as testemunhas. Apesar disso,
prosseguiu-se o feito.

Assim, é seguro destacar que o fato de o suposto acusado não ter tido
conhecimento sobre as declarações das testemunhas e da vítima na primeira
audiência gerou indubitável prejuízo ao seu interrogatório.

Neste sentido é o entendimento do Egrégio Tribunal de Minas Gerais:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO MAJORADO - AUSÊNCIA DE


INTIMAÇÃO DO RÉU ACERCA DA REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO - CERCEAMENTO DE DEFESA - NULIDADE DECLARADA.-
A não efetivação da intimação do réu (presente, com endereço certo
informado nos autos), seja acerca da realização da audiência de
instrução onde foram colhidas as provas utilizadas para sua
condenação, seja sobre sua concordância sobre a forma de
interrogatório (se na Comarca onde o feito foi processado ou naquela
de sua residência, através de Carta Precatória) enseja a nulidade do
feito, resultando em evidente prejuízo, cerceando o seu direito de
defesa. (TJMG - Apelação Criminal 1.0134.18.004148-2/001, Relator(a):
Des.(a) Cássio Salomé , 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em
27/01/2021, publicação da súmula em 29/01/2021) (GRIFO NOSSO)
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. LESÃO CORPORAL E AMEAÇAS NO
ÂMBITO DOMÉSTICO PRELIMINAR DE OFÍCIO. NULIDADE
PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO RÉU PARA AUDIÊNCIA
DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA
AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. CARACTERIZAÇÃO.
ANÁLISE DO MÉRITO DO RECURSO PREJUDICADA. - Violam os
princípios da ampla defesa e do contraditório a ausência de intimação
do réu para comparecimento à audiência de instrução e julgamento. -
Tratando-se o interrogatório de efetivo meio de defesa realizado pelo
acusado, é patente o vício do procedimento, tudo a ensejar, assim, a
nulidade do processo. - Análise meritória prejudicada. (TJMG - Apelação
Criminal 1.0024.19.047601-0/001, Relator(a): Des.(a) Nelson Missias de
Morais , 2ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 28/01/2021, publicação da
súmula em 05/02/2021) (GRIFO NOSSO)

Portanto, diante de tais ilegalidades, a decretação da nulidade do feito é medida que


se impõe.

III. MÉRITO
A) DA ATIPICIDADE DA CONDUTA

No presente caso concreto, vê-se que o suposto acusado foi abordado pelas
autoridades policiais antes de a conduta criminosa vir a ser consumada, e até
mesmo antes de que fosse iniciada a modalidade tentada.

O art. 14, inciso II do Código Penal prevê que o crime será tentado quando, iniciada
a execução, não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Neste mesmo sentido é o entendimento da doutrina, destaca-se abaixo o


posicionamento do célebre jurista Rogério Greco 1:

“Acreditamos que o início da execução pode ser apontado com a prática de


atos que importem no reconhecimento do constrangimento sofrido pela
vítima, mesmo que o agente, no momento em que foi surpreendido, v.g.,
ainda não se encontrasse em estado de ereção, capaz de possibilitar a
penetração necessária ao coito por ele pretendido. Assim, com base nos
atos de constrangimento, levados a efeito mediante o emprego de violência
ou grave ameaça, já poderá ser responsabilizado pela tentativa de estupro.”
(GRECO, p. 613)

Assim, vê-se claramente que razão não assiste ao Ilustre Membro do Ministério
Público, vez que o código e a jurisprudência destacam de maneira contumaz a
diferença entre atos preparatórios e atos de execução.

1 GRECO, R. Código Penal: Comentado. 11. ed. Niterói, RJ: Editora Impetus, 2017.
Na hipótese em tela, não se verificou qualquer ato de execução, mas somente a
cogitação e os atos preparatórios do acusado que confessou tão somente a intenção
de manter relações sexuais com Florzinha. Descabida, pois, a imputação do crime
de estupro tentado.

B) DA NÃO INCIDÊNCIA DA QUALIFICADORA DO ART. 213, §1° DO CP.

A redação do art. 213, §1° DO CP estabelece qualificadora para o crime de estupro.


Assim, caso a vítima da violência sexual possua a época dos fatos idade entre 14 a
18 anos, incidirá a presente qualificadora, desde que fique comprovado a ciência do
acusado acerca de tal situação.

Assevera-se que na presente lide a idade da vítima não restou comprovada na fase
pré-processual, em sede de delegacia, e tampouco na fase judicial, em sede de
contraditório e ampla defesa.

Isto porque, em nenhuma das aludidas fases a vítima apresentou documento hábil
para tanto, como por exemplo a sua Identidade Nacional, ou o CPF, ou a certidão de
nascimento, nada disso foi apresentado aos autos, restando às meras alegações da
acusação e tão somente mera cópia da matrícula escolar da vítima.

Ora excelência, a de se levar em conta que a relação de convívio entre o suposto


acusado e a vítima se deu em uma faculdade, local em que o acusado labora.
Assim, logicamente, pela característica do ambiente, o denunciado deduziu que
Florzinha tratava-se de pessoa maior de idade.

Outrossim, caso viesse a ficar comprovado o fato de a suposta vítima possuir idade
entre 14 a 18 anos, necessário também seria que estivesse demonstrado nos autos
o conhecimento do acusado acerca da idade da vítima, o que também não ocorreu
na presente lide.

Assim, imprescindível se faz que tal qualificadora não incida na pena do suposto
acusado.

C) DA NÃO INCIDÊNCIA DA AGRAVANTE DO ART. 61, INCISO II, ALÍNEA F.


Pugna a acusação para que não seja aplicada na pena a agravante do art. 61, inciso
II, alínea F, do CP. Visto que, na hipótese dos autos não vislumbra-se ofensa ao que
prevê a lei 11.340/06, não sendo portanto cabível tal agravante.

IV. PEDIDOS

Ante todo o exposto, pugna a defesa:

A) Pela decretação da nulidade absoluta da audiência de instrução e julgamento,


fulcro no art. 564, IV do CPP, tendo em vista que esta advogada manifestou-
se no momento oportuno, sendo atestado também o prejuízo à defesa,
conforme delimita o art. 563 do mesmo diploma legal;

B) Caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência, requer que seja
reconhecida a atipicidade da conduta, com a consequente absolvição do
acusado, vide art. 386, inciso III do CPP, pelas razões expostas no tópico III-
A;

C) Caso este ainda não seja o entendimento deste Magistrado, que não seja
aplicada a qualificadora prevista no art. 213, §1° do CP, conforme
argumentado no tópico III-B, bem como não seja também aplicada a
agravante prevista no art. 61, inciso II, alínea F do CP;

D) Em tempo, caso este juízo entenda pela condenação do suposto acusado,


uma vez que trata-se indivíduo primário, com bons antecedentes, requer que
a pena seja fixada no mínimo legal, sendo iniciado o cumprimento da pena no
regime semiaberto, conforme delimita art. 33, §2°, alínea b, do Código Penal.

E) Que seja aplicada a diminuição da pena em ⅔, tendo em vista a modalidade


tentada, devendo ser contabilizada a atenuante da confissão espontânea;

Nestes termos, pede deferimento.

Itabira, 08 de outubro de 2021.

Advogada XXX
OAB XXX

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