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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

INTRODUÇÃO

Tão difícil definir o significado da palavra “espiritualidade” é encontrar um conceito


comum a respeito do que ela representa. Mais difícil ainda é analisar o processo
histórico de desenvolvimento da espiritualidade cristã no âmbito da igreja brasileira.

Enquanto a conceituação secular de espiritualidade está relacionada com a busca


vaga do sagrado pelo ser humano, a conceituação cristã diz respeito diretamente à
maneira pela qual se vive o “conhecer a Deus”, uma vida de comunhão com o Deus
das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. A espiritualidade é de cunho
pessoal que cada um experimenta a sua maneira em seu cotidiano.

ESPIRITUALIDADE E IMAGEM DE CRISTO

Para evangélicos, em especial, a forma de expressão dessa espiritualidade está


subordinada a sua essência, em conformidade à imagem de Cristo. Além disso, em
cada época e em cada época e em cada lugar onde a igreja tem sido plantada,
cristãos vivem diferentemente seu relacionamento com Deus.

BASES HISTÓRICAS DA ESPIRITUALIDADE BRASILEIRA


Espiritualidade e contexto histórico

Algumas características importantes da espiritualidade cristã sobressaem em


determinadas épocas da história, ainda que sejam menos valorizadas em outras.
Certamente tradições e práticas espirituais são afetadas, por exemplo, pelo
temperamento do crente ou pelo contexto histórico em que ele vive.

SENSO GERAL DE ESPIRITUALIDADE NACIONAL

O consenso geral é que nosso legado nacional, no que diz respeito à teologia e à
espiritualidade evangélicas, consiste em herança pietista, evangelical, sobreposta
numa base que remonta à Reforma Protestante, a Calvino e Lutero.

LUTERO

Tendo sido monge, tinha uma formação mística que se fez refletir em sua vida
devocional de louvor sincero a Deus pelos benefícios da justificação pela fé, pela
realidade da graça de Deus e da liberdade do cristão.

CALVINO

Definiu a piedade como “um zelo puro e verdadeiro que ama a Deus plenamente
como Pai, que o reverencia verdadeiramente como Senhor, que abraça sua justiça,
e que teme ofendê-lo mais do que teme morrer”.
ESPIRITUALIDADE E ILUMINISMO/RACIONALISMO
Pré Modernismo X Modernismo

O tempo se encarregou de transformar as conceituações bíblicas e práticas dos


primeiros reformadores em fé fria e estéril, que predominou durante os séculos XVII
e XVIII.

FÉ FRIA E ESTÉRIL
Sagrado X Secular

A Bíblia cedeu lugar à racionalidade humana; a fé viva cedeu lugar a um código de


comportamento sem vida, um mero dever religioso.

ESPIRITUALIDADE E PIETISMO

Foi neste clima que surgiu na Alemanha, o movimento pietista, uma reação ao
protestantismo sem o Espírito e sem espiritualidade. Tratava-se de um movimento
focado na experiência religiosa, um tipo de devoção anti-intelectual, com uma
espiritualidade missionária, conforme praticada pelos corajosos morávios.

ESPIRITUALIDADE E “EVANGELICALISMO”

A palavra “evangelical” é utilizada hoje para referir-se ao revigoramento protestante


que se deu com o avivamento encabeçado por João Wesley, de cuja conversão, em
1738, os morávios participaram.

ESPIRITUALIDADE NO SÉCULO XIX

A espiritualidade no séc. XIX pode ser sintetizada como uma espiritualidade prática
(O Peregrino – John Bunyan), sendo as Escrituras Sagradas a origem da mensagem
que transformou-lhes a vida, através de uma experiência marcante de conversão.

Aprenderam a estudar a Palavra de Deus. Descobriram como cantar sobre sua


espiritualidade, a “pensar nesse lar lá no céu”, a recordar que “Cristo breve do céu
virá”. Aprenderam a orar, mas não o “Pai nosso” da tradição católica, deixado de
lado junto com símbolos tradicionais, como a cruz.

ESPIRITUALIDADE NO SÉCULO XX

Com a chegada do novo século, a espiritualidade evangélica no Brasil passou a


apresentar novas ênfases:
1 – forte interesse na revelação através de sonhos;
2 – interesse renovado na oração;
3 – Bíblica como base da espiritualidade;
4 – formação de Cristo no caráter da pessoa, a partir da centralidade da Palavra.

Enfoque direcionado – Jovens


Formação de Missões para-eclesiásticas que proliferaram a partir da década de
1950 – Mocidade para Cristo, Aliança Bíblica Universitária, Palavra da Vida, Cruzada
Estudantil, entre outras.

Essas Missões se esmeraram em forjar uma espiritualidade para a juventude


brasileira.

Missões para-eclesiásticas

Na força mobilizadora de seus muitos acampamentos, reforçaram disciplinas


centrais da espiritualidade: leitura bíblica, tempo a sós com Deus, ética pessoal e
serviço cristão.

Enfoque direcionado – Crianças

- Trabalho da Aliança Pró-Evangelização das crianças;

- Trabalho dos Clubes Bíblicos em Seminários. Desses clubes saíram muitos


pastores e missionários, mas sobretudo uma espiritualidade juvenil que não
precisava de terno e gravata para ser levada a sério.

Espiritualidade e Proibições

Além de cobrar o uso de terno e gravata, igrejas de todas as denominações fizeram


várias proibições, entendendo tratar-se de comportamentos mundanos
inapropriados. Tais proibições duraram até o final da década de 1970 e constituem
aspecto importante da espiritualidade evangélica do século XX.

Movimento de Renovação Espiritual

Nos anos de 1960, a preocupação geral era outra: o movimento da renovação


espiritual, que teve forte impacto nas igrejas e na espiritualidade evangélica.

Problema: Pseudo-autoridade excessiva de alguns líderes. Legalismo e enganos


teológicos.

Surgimento do Neopentecostalismo

Espiritualidade distorcida devido à práticas litúrgicas, devocionais e eclesiológicas –


fenômeno de mercantilização da fé.

Terreno fértil, tendo em vista o desejo de liberdade gerado pela opressão da


ditadura militar.

Surgimento do Neopentecostalismo

Misticismo expresso na inclusão de símbolos e subterfúgios, como óleos bentos,


bênçãos para copos d’água, rosas especiais e muitos outros. Caminho para o
divórcio entre a teologia e a espiritualidade e quando tal divórcio ocorre ambas
perdem.
ESPIRITUALIDADE NO SÉCULO XXI
Divórcio entre Teologia e Espiritualidade

Este caminho parece ser o preferido de evangélicos de hoje. A solitude e o silêncio


simplesmente não fazem parte da história documental de nossa espiritualidade.

Os futuros historiadores precisarão explicar uma espiritualidade evangélica que


exalta celebridades e faz provocações ao diabo, contribuindo para remover os
“marcos antigos” postos por nossos pais (Pv 22.28).

CONCEITUAÇÃO
Conceitos Básicos

Espiritualidade: conjunto de princípios e práticas que caracterizam a vida de um


grupo de pessoas referido ao divino, ao transcendente; à vida no Espírito - o que se
faz com aquilo em que se acredita; as diferentes maneiras pelas quais se
experimenta a transcendência - o modo segundo o qual a vida é concebida e vivida.

Espiritualidade Cristã: vida no Espírito Santo, ou a própria vida cristã (orientar-se


para Deus, através de Cristo, no Espírito Santo); as diferentes maneiras de
experimentar e fomentar a vida em Cristo; realidade vital que se edifica sobre o dom
da graça; uma crescente comunhão com Deus, na qual a força do Espírito Santo
conduz a uma progressiva espiritualização.

Mística: mystikós = que foi iniciado nos mistérios (realidade secreta, escondida ao
conhecimento ordinário); realidade escondida que se propõe a um tipo de
experiência que conduz à união com o absoluto.

Experiência mística: iniciativa de Deus que faz com que a pessoa participe de seu
próprio mistério, embora na obscuridade de um conhecimento inadequado à sua
transcendência; estado da vida espiritual em que Deus se manifesta à pessoa de
modo sensível - a intensidade do sentimento da presença de Deus é tão clara, que o
místico tem totalmente a certeza de que Deus está nele.

Experiência Espiritual: podemos definir a experiência espiritual como um


conhecimento, a partir de dentro, da presença e da ação do Espírito.

EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL NO VELHO TESTAMENTO

Em sua estrutura profunda, a Bíblia é também um texto de espiritualidade que se


apresenta como promotor de vida espiritual. Sua proposta, no entanto, não é a de
um tratado: a espiritualidade da Bíblia está confiada a um processo evolutivo e à
busca progressiva de equilíbrios.

- Espiritualidade da Torah: Torah é a forma concreta da salvação, sua


materialização, sua imersão na consistência do tecido social; é o contramundo de
Deus que se eleva ante as sociedades do mundo estruturado a partir do pecado.
- Espiritualidade Profética: o profeta exalta a fidelidade à revelação intra-histórica
de Deus. Sua missão consiste em comunicar a palavra de Deus para coordenadas
históricas bem precisas. Reage contra as degenerações sacrais, objetivando a
recuperação da dimensão ética do culto.

- Espiritualidade dos Salmos: os Salmos são a oração de Israel. Uma corrente


anônima de poetas é a imagem mais realista sobre os autores de tais peças. As
várias circunstâncias da vida e da história explicam a variedade de suas formas:
hinos de ação de graças, súplicas, ato de confiança, salmos régios, penitenciais,
meditações.

O Deus que aparece nos salmos é um Deus pessoal. A relação interpessoal é


expressa por símbolos — sede e fome exprimem os desejos da alma em relação a
Deus; rocha e fortaleza significam a proteção divina. O tempo é posto sob o signo de
Deus, a história invade a oração, e as súplicas traduzem a espiritualidade do
sofrimento, do silêncio, do mal.

O Saltério é o coração da espiritualidade bíblica. No Sl 76.1 o salmista exclama: “Em


Judá Deus é conhecido; o seu nome é grande em Israel”. Este conhecimento vital de
Deus estende-se por todo o Saltério que, como escrevia Claudel, “é quase um
retrato místico do rosto de Deus”.

O Deus que aparece nos Salmos é um Deus “pessoal”: o adjetivo “meu/nosso”


dirigido ao Senhor é usado 75 vezes; cerca de 50 vezes Israel é chamado “seu
povo”; 10 vezes, sua “herança” e 07 vezes, “seu rebanho”.

- Espiritualidade Sapiencial: a espiritualidade se desloca para novas direções,


atentas não mais aos grandes eventos salvífico, mas às epifanias divinas secretas
no cotidiano e na natureza.

A trama das relações Deus-ser humano, ser humano próximo, ser humano-mundo, é
o âmbito no qual atua o projeto da sabedoria. O ser humano infringe-a e constrói um
projeto de anti-sabedoria.

É um convite a não cair na loucura do pecado (retribuição imanente) e um apelo a


valorizar toda realidade humana e terrestre numa perspectiva encarnacionista. Ser
Espiritual é ser cada vez mais humano.

EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL NO NOVO TESTAMENTO

- Espiritualidade de Jesus e dos Sinóticos: as raízes dessa espiritualidade estão,


evidentemente, afundadas no terreno do Antigo Testamento, como atestam
explicitamente as declarações programáticas sobre a “plenitude da Lei e dos
Profetas” (Mt 5.17-19).

Nas páginas do Sermão da Montanha manifesta-se rigorosamente que, ao lado da


continuidade, configura-se uma descontinuidade da proposta cristã. Esta se
expressa, sobretudo, em algumas perspectivas e em alguns temas.

Perspectivas:
Da radicalidade: “Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”
(Mt 5.48).

Da urgência da decisão: intimamente unida ao anúncio do Reino, esta escolha está


já base das primeiras palavras de Cristo: “Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Mc
1.15).

Do cotidiano. o Reino de Deus está nomeio de nós e, portanto, transparece nos


sinais do mundo e da História , nas aves do céu e nos lírios do campo, no banquete
de um rei e na pobre casa de uma mulher que perdeu uma dracma...

...na crise de um filho rebelde e na paixão pela justiça de uma viúva, no trabalho dos
agricultores e dos pescadores, e no grande gesto de amor de um samaritano, nos
pecados perdoados de um publicano arrependido e na atividade condenada de um
rico estulto.

Temas:

O Reino de Deus.
O coração do anúncio de Jesus é: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está
próximo” (Mc 1.15).

A oração.
Um tema tipicamente espiritual ao qual queremos aludir, é o da oração de Jesus e
da Igreja. Jesus é apresentado como modelo orante no qual a comunidade dos
discípulos que “louvam a Deus” devem espelhar-se.

Todos os momentos mais solenes da vida de Cristo são, na verdade, assinalados


pela oração ao Pai: do batismo (Lc 3.21) à retirada no deserto (5.16); do momento
da escolha dos Doze (6.12) à confissão de Pedro (9.18); da transfiguração (9.28s.)
ao “Pai”, oração característica do cristão (11.1); do grande louvor do assim chamado
“lóghion” Joânico dos Sinóticos (Lc 10.21s.; Mt 11.25-27) à cena exemplar do
Getsêmani (Lc 22.40-46) até as últimas invocações na cruz, sobretudo àquela que
Lucas refere baseado no Sl 31.6: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc
23.46).

- Espiritualidade da Comunidade Cristã: “Eles se dedicavam ao ensino dos


apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações” (At 2.42). Este programa
espiritual sustenta-se, portanto, sobre 04 pontos firmes.

1 - “didaqué”.
A catequese trata-se de uma formação perfeitamente Cristológica documentada por
uma coleção de discursos distribuídos ao longo do livro (nesse caso, no livro de Atos
— At 2.1ss.; 7; 10; 13.1ss. 17; 20.17ss.; 22.1-11; 24.10ss.; 26). Por outro lado,
porém, enriquecem e aprofundam a vida interior e a fé do crente.

2 - “koinonía”.
Elemento exaltado entusiasticamente nos Atos dos Apóstolos (At 2.44s.; 4.32-35);
quem violar este compromisso de comunhão fraterna, como parece sugerir o relato
de Ananias s Safira (At 5), é automaticamente “excomungado” e considerado “morto”
pela comunidade.

Os cristãos são reiteradamente apresentados como tendo “um só coração e uma só


alma”, expressão esta, usada pelo Deuteronômio para a adesão a Deus e à Lei (Dt
4.29; 6.5s.;).

3 - “Fração do pão”.
A comunhão com Cristo e a comunhão com os irmãos interagem fortemente, como
Paulo frisa em 1Co 10-11. Sem o “ágape/Koinonia fraterna”, o “agape/Koinonia” com
Cristo e com seu corpo” torna-se um sacrilégio.

4 - “Orações”(At 2.42).
A assembléia orante dos primeiros cristãos aparece frequentemente nos Atos dos
Apóstolos: “Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o
pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade
de coração (At 2.46).

Todos os que creram costumavam reunir-se no Pórtico de Salomão (At 5.12). É uma
oração ancorada nas próprias raízes espirituais (o Templo), mas floresce, também,
nas novas situações, assim como na perseguição: “unânimes, elevaram a voz a
Deus” (cf. At 4.23-31).

- A Espiritualidade Paulina

O ponto de partida é a revelação do amor de Deus em Jesus Cristo: À irrupção da


graça divina na História, por meio de Cristo morto e ressuscitado, deve responder o
homem com a fé: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por
nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta
graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de
Deus” (Rm 5.1-2).

O homem renasce como criatura nova, revive a mesma vicissitude do Cristo (Rm
6.1-11).

O homem torna-se filho de Deus no Filho: “E, porque vocês são filhos, Deus enviou
o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: “Abaa, Pai” (Gl 4.6; cf. Rm
8.15-17).

A espiritualidade paulina tem como meta a constituição da “nova criatura”: “Portanto,


se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que
surgiram coisas novas!” (2Co 5.17 cf. Gl 6.15).

- A Espiritualidade Joanina

É precisamente sobre uma série de verbos e sobre o seu valor simbólico que
podemos tentar elaborar um esboço sintético da espiritualidade joânica, com
referência, sobretudo, ao evangelho e à primeira carta.
Na raiz de tudo está naturalmente a Encarnação - “E o Verbo se fez carne e habitou
entre nós” (Jo 1.14) - o fundamento construtivo da salvação e, portanto, de qualquer
experiência espiritual.

Os Verbos:

Ver. Não é somente um ver físico, é um ver em profundidade, um intuir na visão de


Jesus o mistério de sua pessoa. “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito,
que está junto do Pai, o tornou conhecido” (Jo 1.18).

Amar. Ele percorre toda a proposta espiritual Joânica. É um amor que parte do Pai
(Jo 10.17), manifesta-se em Jesus que nos ama até o fim (Jo 13.1), no sacrifício da
cruz e se irradia nos discípulos, tornando-se o sinal distintivo de sua pertença a
Cristo.

Permanecer. É um “permanecer” recíproco do Cristo e do fiel: “Todo aquele que


come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6.56).
A epifania do Cristo no fiel torna-se um abrir-se do fiel a ele.

DISCIPLINAS ESPIRITUAIS

“A superficialidade é a maldição de nosso tempo. A doutrina da satisfação


instantânea é, antes de tudo, um problema espiritual. A necessidade urgente hoje
não é de um maior número de pessoas inteligentes, ou dotadas, mas de pessoas
profundas.”

“As Disciplinas clássicas da vida espiritual convidam-nos a passar do viver na


superfície para o viver nas profundezas. Elas nos chamam para explorar os
recônditos interiores do reino espiritual. Instam conosco a que sejamos a resposta a
um mundo vazio” (Richard J. Foster - Celebração da Disciplina).

Meditação

Significado da palavra: estudar o pensamento, a maneira, o aspecto, o conteúdo de;


pensar sobre; ponderar. “A meditação, ou oração mental, é a oração discursiva, ou
seja, a utilização de nossa mente e imaginação para unirnos a Deus”.

“A meditação Oriental é uma tentativa para esvaziar a mente; a meditação cristã é


uma tentativa para esvaziar a mente a fim de enchê-la. As duas idéias são
radicalmente diferentes”.

“A meditação cristã leva-nos à inteireza interior necessária para que nos


entreguemos livremente a Deus, e também leva-nos à percepção espiritual
necessária para atacar os males sociais”.

Oração

A oração arremessa-nos à fronteira da vida espiritual. É pesquisa original em


território inexplorado. A meditação introduz-nos na vida interior; o jejum é um recurso
concomitante, mas a Disciplina da oração é que nos leva à obra mais profunda e
mais elevada do espírito humano.

A oração verdadeira cria e transforma a vida. “Orar é mudar. A oração é a avenida


central que Deus usa para transforma-nos. Se não estivermos dispostos a mudar,
abandonaremos a oração como característica perceptível de nossas vidas”.

A verdadeira oração é algo que aprendemos. “Certo dia Jesus estava orando em
determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse: “Senhor,
ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele” (Lc 11.1).

“As aparências enganam: a oração nunca é a primeira palavra, é sempre a segunda.


Deus diz a primeira. A oração é a réplica, não o primeiro “discurso” e, sim, a “réplica”
(Eugene Peterson).

“Silenciamos na primeira hora do dia porque queremos que Deus tenha a primeira
palavra. Silenciamos antes de nos recolhermos, pois também a última palavra do dia
pertence a Deus” (Dietrich Bonhoeffer).

“Ou a comunidade cristã vive da intercessão mútua de seus membros, ou então ela
morre. Não se pode condenar ou odiar um irmão pelo qual se ora, por maiores que
sejam os problemas que ele nos cause” (Dietrich Bonhoeffer).

Simplicidade

“Simplicidade é liberdade. Duplicidade é servidão. A simplicidade traz alegria e


equilíbrio. A duplicidade traz ansiedade e temor”.

“Simplicidade é uma retidão de alma” (François Fénelon).

“Pureza de coração é desejar uma só coisa” (Kierkegaard).

“Quem compra o extraordinário vê-se obrigado a vender o necessário” (Cora


Coralina).

Solitude

“Jesus chama-nos da solidão para a solitude”.

“Podemos cultivar uma solitude e um silêncio interiores que nos livram da solidão e
do medo. Solidão é vazio interior. Solitude é realização interior. Solitude não é antes
de tudo, um lugar, mas um estado da mente e do coração”.

“Sem silêncio não há solitude. Muito embora o silêncio às vezes envolva a ausência
de linguagem, ele sempre envolve o ato de ouvir”.

“A finalidade do silêncio e da solitude é poder ver e ouvir. O controle, e não a


ausência de ruído, é a chave do silêncio”.
“Sob a Disciplina do silêncio e da solitude aprendemos quando falar e quando
refrear-nos de falar. O controle é a chave”.

“O silêncio é a disciplina que nos favorece ir além do entretenimento em nossas


vidas” (H. Nouwem).

Serviço

“Aprenda esta lição: se você tem de fazer o trabalho de um profeta, você precisa não
de um cetro mas de uma enxada” (Bernardo de Clairvaux).

Como a cruz é o símbolo da submissão, assim a toalha é o símbolo do serviço.


Assentando-se, Jesus chamou os Doze e disse: “Se alguém quiser ser o primeiro,
será o último, e servo de todos” (Mc 9.35).

“O orgulhoso não sente prazer em possuir algo, mas só em possuir algo mais do que
o próximo” (C. S. Lewis).

“Quem, alguma vez em sua vida, experimentou a misericórdia de Deus, dali por
diante só desejará servir” (Bonhoeffer).

“Quem quer aprender a servir precisa, primeiramente, aprender a pensar pequeno


de si mesmo” (Bonhoeffer).

“Por isso, pela graça que me foi dada digo a todos vocês: Ninguém tenha de si
mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um
conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé que Deus lhe concedeu” (Rm
12.3).

Confissão

“A confissão de obras más é o primeiro começo de obras boas” (Agostinho).

“Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para
serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg 5.16).

“Quem tem condições de ouvir nossa confissão? Aquele que vive sob a cruz de
Cristo. Onde estiver viva a palavra da cruz, ali também se praticará a confissão
fraternal” (Bonhoeffer).

Adoração

A adoração como prática essencial da Igreja (João 4.1- 26).

“A Igreja existe, não para oferecer entretenimento, encorajar vulnerabilidade,


melhorar a auto-estima ou facilitar amizades, mas, para adorar a Deus” (Plilip
Yancey).

1 - A verdadeira adoração parte de um conhecimento verdadeiro do objeto da


adoração.
1.1 - O objeto de adoração da Igreja é Deus. E Deus é adorado por meio de Jesus
Cristo, que também é adorado por ser Deus.

Algumas perguntas pertinentes:

1 - Quem é o Deus que é objeto de adoração da Igreja? O Deus revelado nas


Escrituras. Só podemos conhecer a Deus se Ele mesmo se revelar. Ele se revelou, e
essa revelação está registrada nas Escrituras.

2 - Qual a importância das Escrituras para uma verdadeira adoração? Essencial.


Sem uma leitura cuidadosa e contínua das Escrituras, a Igreja não poderá adorar a
Deus verdadeiramente.

3 - Qual a necessidade de conhecermos Jesus por meio das Escrituras?


Fundamental. É por meio D’ele que nos aproximamos de Deus. “Cresçam, porém,
na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a
glória, agora e para sempre! Amém” (2 Pe. 3.18).

1.2 - Um verdadeiro conhecimento do objeto da adoração da Igreja evitará uma


adoração falsa.

1.2.1 - Conhecendo verdadeiramente a Deus, nos submeteremos a Ele, colocando-


nos sob o seu governo e autoridade. “Adorar é lembrar Quem é o dono da casa”
(Philip Yancey). Durante a adoração não há lugar para alguém se tornar em uma
celebridade.

1.2.2 - Conhecendo a Deus, evitaremos uma adoração voltada para as nossas


satisfações, sensações, auto-realizações.

1.2.3 - Conhecendo a Deus evitaremos a idolatria.

2 - Só é possível adorar verdadeiramente a Deus impulsionado pelo Espírito Santo.

2.1 - O Espírito, responsável pelo novo nascimento (Jo 3.5-8), é também


responsável por uma adoração verdadeira (Jo. 4.24).

2.2 - O Espírito é livre. Não há como manipulá-lo por meio de liturgias elaboradas
com capricho e por capricho (Jo 3.8).

2.3 - O Espírito conduz o crente a adorar a Deus em verdade. Adorar em verdade é


adorar segundo a revelação em Jesus Cristo (Jo 4.24).

3 - A adoração como um estilo de vida.

3.1 - Adorar não é o resultado de sentimentos impulsionados por fatores externos,


como: Música, Dança, Coreografia, Sentimentalismo provocado por insinuações
psicológicas, etc.
3.2 - Adorar é o resultado do reconhecimento por meio de revelação, de que o Deus
da Bíblia é o único Senhor existente.

3.3 - Adoramos a Deus com tudo o que temos, com tudo o que somos e com tudo o
que fazemos. “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua
alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças” (Mc 12.30).

Disciplinas Espirituais

“Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para
a glória de Deus” (1 Co 10.31).

“Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façamno em nome do Senhor


Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Cl 3.17).

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

BOMILCAR, Nelson. O Melhor da Espiritualidade Brasileira. São Paulo: 1 ed.


Mundo Cristão, 2005.

BONHOEFFER, Dietrich. Vida em Comunhão. São Leopoldo: Sinodal, 1997.

BRIZOTTI, Alan. O Privilégio dos Íntimos: é possível ter intimidade com Deus?
Goiânia: Estação da Fé, 2016.

FOSTER, Richard. Celebração da Disciplina. São Paulo: Vida, 2000.

GUSMÃO, Aziel M. Espiritualidade Cristã. Roteiro de Estudo. Belo Horizonte:


2007.

YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus lia. São Paulo: Vida, 2003.

STEVENS, R. Paul. A Espiritualidade na Prática. Encontrando Deus nas coisas


simples e comuns da vida, Viçosa: 1 ed. Ultimato, 2006.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

BETO, Frei; BOFF, Leonardo. Mística e Espiritualidade. Rio de Janeiro: Rocco,


1994.

BOFF, Leonardo. Crise: oportunidade de crescimento. Campinas: Versus, 2002.

DE SOUZA, Ricardo Barbosa. Janelas para a Vida: espiritualidade do cotidiano.


Curitiba: Encontro, 1999.

HOUSTON, M. Orar com Deus: desenvolvendo uma transformação e poderosa


amizade com Deus. São Paulo: Abba Press, 1995.

MOLTMANN, Jürgen. A Fonte da Vida: o Espírito Santo e a teologia da Vida, São


Paulo: Loyola, 2002.
YANCEY, Philip. Rumores de outro mundo: a realidade sobrenatural da fé. São
Paulo: Vida, 2004.

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