Caroline de Oliveira Primo Pollyana Ferreira Lopes
Segundo Hugo Eiji e suas reflexões acerca da identidade e cultura surda, o
conceito de cultura é amplo, onde a “cultura surda” se encontra. A partir do autor, podemos compreender a importância do entendimento a respeito dessa cultura, uma vez que análises errôneas sobre esse universo podem colaborar para a construção de estereótipos. Portanto, afirmar as culturas surdas implica em reconhecer sua legitimidade e as expressões características desse grupo. A cultura surda, assim como tantas outras, é um processo, que possui sua historicidade. Dessa forma, essa ideia funda-se na forma de examinar uma realidade, cuja experiência visual e o uso da língua de Libras (visual-gestual) configura o discurso. A respeito do indivíduo surdo, é necessário elaborar que a cultura surda aparece como uma maneira de fugir à normatização ouvinte, onde essa cultura é multifacetada e varia de acordo com a nacionalidade, sendo a cultura surda brasileira diferente da cultura surda japonesa. A cultura surda, assim como muitas outras, também está sujeita à ser vítima de estereótipos, onde muitas vezes seus indivíduos são vistos como portadores de algum empecilho para uma vida plena. Portanto, é importante a conscientização das pessoas acerca dos variados indivíduos que são surdos e exercem sua influência na vida de tantos outros, tornando acessível o discurso contra uma patologização da surdez. A identidade surda aparece, então, como uma como a força motriz das lutas desses grupos, onde o fator biológico não é visto como uma determinante para sua formação, mas variados sujeitos com suas singularidades que juntos pertencem a uma identidade, que forma uma cultura. Portanto, a identidade surda é múltipla e transitória, não é rígida. A partir da discussão entre cultura e identidade surda e a singularidade dos sujeitos que as compõem, é possível o estudo acerca de 3 influencers surdos que colaboram para a quebra dos estereótipos referentes à cultura surda. No blog “Casa 1” podemos acompanhar a trajetória e influências de várias pessoas surdas, como Leonardo Castilho, de 32 anos, que é educador e trabalha no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP), ministrando aulas inclusive para ouvintes. Dessa forma, Castilho, ao ensinar arte para surdos e ouvintes, consegue romper o estereótipo construído acerca de sua identidade, muitas vezes vista como menos competente para exercer certos cargos. O educador, que também é artista, mostra em sua conta do Instagram uma vida ativa, que possui sua identidade e singularidade expressas em seu modo de viver e não por sua condição biológica. No segundo caso temos do Gabriel Isaac, um goiano designer de 23 anos. Ele aos 12 postou um vídeo importantíssimo a respeito das dificuldades de comunicação da comunidade surda em geral. Hoje tornou-se um incrível portal de lifestyle, música e conteúdo pop. Gabriel fez parte de um dos projetos audiovisuais de Anitta levando também, a visibilidade a um patamar importante. Ao pensar em identidade, a inclusão de um “Homem Surdo e Gay” sentindo-o sujeito, e representado remonta que através de uma comunicação fundamental na música ao ouvidos de todos, um olhar de naturalização e preparo. Relacionar o trabalho e a busca de Gabriel em lutar contra os estereótipos é reconhecer e ampliar através das plataformas digitais o engajamento natural e leve de um jovem adulto que inspira uma geração jovem a uma produção orgânica. A música, as entrevistas e também a linguagem visual de Gabriel entram em uma ampliação da identidade competente e envolvente no qual não há barreiras, a não ser as impostas pelo próprio Gabriel. O Terceiro caso nos remete a arte. A Drag surda Kitanna Dreams, possui um perfil voltado para maquiagem, tutoriais, conteúdo audiovisual inclusivo e a vivência de um homem LGBTQI+ drag queen. Leonardo usa da interação, vídeos e lives para se conectar com seu público, com um perfil de mais de 33 mil seguidores, Leonardo, nos chamou atenção ao trazer sua opinião a cerca de um dos filmes que se encontram no cinema atualmente Eternals, no qual uma de suas heroínas é uma personagem surda. O bacana, é que através dele Leonardo engaja seu público para um momento importante e histórico nos cinemas. A primeira personagem surda no universo dos quadrinhos mais querido da atualidade. Conectar esses casos a identidade presente no filme, encontramos através da paixão e o amor a música os obstáculos de sua família surda muda que se coloca em condições de inferioridade ao pensar no mundo no qual, eles sozinhos conseguiriam se comunicar e se manter sem a sua porta voz, a filha e protagonista Paula Bélier, que busca enfatizar suas origens e aqueles que são os mais importantes no seu nicho, seus pais e irmão. Sendo assim, os medos latentes de seus pais, a ambientação e a busca de se tornar uma voz potente reporta a necessidade do fortalecimento da identidade visual e da inclusão audiovisual. A linguagem de sinais, a identidade cultural inclusiva ganhou e ganha cada vez mais patamares mínimos, em que traz em patamar de igualdade fundamental.