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BEM AVENTURADOS OS
MISERICORDIOSOS
Rev. Edilson Botelho Nogueira,
I.P.I de Pirapozinho, 24/10/2021

Bem-aventurados os misericordiosos, porque


alcançarão misericórdia. - Mateus 5:7

Numa das fábulas de Esopo, conta-se que um


jumento achou a pele de um leão deixada por
um caçador.

O jumento vestiu a pele do leão e saiu


assustando todo mundo que o via imaginando
que era mesmo um leão.
Tão embriagado com o seu sucesso o jumento
ficou que zurrou bem alto...

Nesse momento os animais que fugiam com


medo, pararam e começaram a rir...
– é só um jumento, jumento não é de nada...

Hoje, vamos estudar a bem-aventurança da


misericórdia.
Vamos aprender que o ser vem antes do fazer.
Jesus vai falar de uma virtude essencial, é uma
mentalidade que gera um comportamento.
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O crente é alguma coisa, antes de fazer qualquer
coisa; e assim, precisamos ser crentes, antes de
podermos agir como crentes.
... Ser é mais importante do que fazer, e as atitudes
são mais importantes do que os atos.
Lloyd-Jones, David Martyn. Estudos no sermão do monte (p. 124). Editora
Fiel

Jones afirma, que não o crente que controla o


cristianismo que ele vive, mas é o cristianismo
que controla o crente.

O que eu penso, o que eu sinto, o que eu digo,


o que eu faço é controlado pelo que eu sou.

Ser misericordioso é o teste final do estilo de


vida do Reino de Cristo.

Ninguém se torna misericordioso sem que antes


tenha experimentado ser humilde de espirito,
chorado por seus pecados, manso para com os
seus semelhantes, faminto e sedento da justiça
que o transforma para o encontro com Deus,.

Mas o que é ser misericordioso?

Vamos começar mostrando o que não é


misericórdia.
Misericórdia não é complacência:
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A ideia de complacência indica uma certa


inercia diante de uma situação que sabemos é
contrária à lei ou injusta.

Complacência é o contrário da tolerância zero.


Um dos fenômenos da segurança pública é a
aplicação da TZ – corrija as pequenas infrações e
não terá de punir os grandes crimes.

Algumas autoridades são complacentes com os


pequenos erros, com o ‘todo mundo faz’...

Misericórdia não é tolerância inclusiva.

Hoje vivemos um tempo em que os desvios da


conduta moral são tolerados, sustentados,
apoiados pela ideia do inclusivismo – ou seja,
todos tem direito a ser o que querem, mesmo que
isso ofenda o bom senso, a moral, a sociedade.

Tolerância inclusiva é a autorização do mundo


pra alguém dizer o que quiser, fazer o que quiser,
ser o que quiser, viver do jeito que quiser. Nada
é errado mesmo que seja feito por uma minoria.
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Por que misericórdia não pode ser
complacência com o erro, a tolerância
indiscriminada?

Porque a verdadeira misericórdia é um atributo


de Deus.
Ora, Deus é rico em misericórdia, mas jamais
tem por inocente o culpado.
A misericórdia de Deus está essencialmente
ligada à sua justiça.

- Misericórdia sem justiça, é acomodação de


interesses.
- Misericórdia sem retidão, é cumplicidade no
erro.
- Misericórdia sem santidade é hipocrisia.

Ora, Deus jamais poderia emanar esse tipo de


misericórdia corrompida. A misericórdia de
Deus é santa e pura.

Era disso que salmista falava:


Salmos 85:10 – Encontraram-se a graça e a
verdade, a justiça e a paz se beijaram.

Então, o que é ter misericórdia?

Agir com misericórdia é trazer o miserável para


o coração, oferecendo-lhe alívio no sofrimento.
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Para entender esse conceito, vamos ter que


começar com sequência que Jesus estabeleceu
nas bem-aventuranças.

Tudo começou quando entendi quão necessário


era ser humilde de espírito, uma vez que estava
completamente despido de qualquer justiça ou
retidão diante de Deus.

Fui a Cristo e enxerguei a mim mesmo com os


olhos de Deus, vi todo o meu pecado, a
iniquidade, então chorei por ser tão repugnante
aos olhos de Deus, então Ele me consolou.

Em seguida, aprendi a ser manso, entregando a


defesa de todos os meus direitos a Deus, vendo
que ninguém realmente podia me fazer qualquer
mal, nem dizer algo tão horrendo de mim que
eu já não saiba.

Nesse ponto, eu fui confortado com a Justiça de


Cristo, Cristo foi perfeito, obedeceu a lei, viveu
como justo, e pegou toda essa perfeição e me deu
gratuitamente pela fé.
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Eu comecei a ter fome e sede da justiça de
Cristo, porque somente ela satisfazia a minha
necessidade. A justiça de Cristo me transforma
à imagem de Jesus, meu Salvador.

Nesse ponto eu passei a enxergar os homens de


maneira diferente.

Passei a vê-los com os olhos de Deus, os mesmos


olhos com que eu vi minha ruína, minha
iniquidade, minha falência.

O cristão genuíno vê agora o ser humano como


ele realmente é – uma criatura sob o domínio do
pecado, do mundo e de satanás.

E nesse momento, ele vê a si mesmo como era


antes que a graça de Deus o alcançasse.

E assim como Cristo teve misericórdia dele,


quando devia condenar, ele agora sente
compaixão dos pecadores, mesmo que eles o
persigam, maltratem ou o matem.

O misericordioso sente compaixão por aqueles


que andam cegos pelo deus deste século.

O misericordioso sente compaixão por aqueles


que são escravos do pecado.
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O misericordioso sente compaixão por aqueles


que, merecendo o castigo, são amados,
perdoados, são alvo de suas orações.

Misericórdia então é ver os pecadores como


Deus me via antes que sua graça me alcançasse.

Pense que um cristão esteja numa situação em


que, ele tem a pessoa que o ofendeu, que o
difamou, que o feriu, que lhe causou grandes
perdas, essa pessoa está sob seu controle, sob
seu juízo.

A vida dá muitas voltas.


No mundo real, isso frequentemente acontece.
De repente, uma pessoa humilhada, destituída,
roubada, ou até mesmo inutilizada, agora tem o
causador de todas as calamidades em suas
mãos.

Com uma assinatura, com um voto, com uma


palavra, lá se vai o culpado para a punição.

Ali está o transgressor, agora em desvantagem,


o poder mudou de mão, agora é a vítima que
tem o destino de sua vida nas mãos.
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O culpado está aflito, sabe que é a chance da
vítima vingar-se do que sofreu.

Mas nesse momento, o cristão vê a si mesmo no


transgressor, lembra que já esteve na mesma
posição, não como culpado diante de uma
vítima, mas diante do Deus Todo-Poderoso.

Então ele retribui ao criminoso, não com justiça,


não com vingança, mas com misericórdia.

Era a misericórdia que Jesus ensinou na Cruz


dizendo:

- Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que


fazem!(Lc 23:34)

Estevão foi injustamente acusado e sentenciado


à morte. Lá está ele sendo apedrejado.

Nesse momento, os céus se abrem para Estêvão


e ele vê “...o Filho do Homem, em pé à destra de
Deus.

O que poderia ter feito aquele santo homem de


Deus?
Ora ele estava diante do Juiz de Toda a terra.
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Estêvão poderia ter pedido qualquer coisa ao
Todo Poderoso, inclusive que ele interviesse
naquela injustiça.

Poderia ter exigido vingança.

Mas, Estêvão, o misericordioso orou:


Senhor, não lhes impute este pecado! (Atos 7:60)

Os olhos de Jesus, os olhos de Estevão, os


olhos de todos aqueles primeiros cristãos que
foram torturados...passaram pela prova de
escárnios e açoites, sim, até de algemas e
prisões. Foram apedrejados, provados, serrados
pelo meio, mortos a fio de espada; andaram
peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de
cabras, necessitados, afligidos, maltratados
(homens dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos, pelos montes, pelas
covas, pelos antros da terra. - (HB 11:38)

Todos estes sofreram dores lancinantes sem


proferir uma palavra sequer de maldição sobre
aqueles que os afligiam.
Por quê?
Porque haviam aprendido a ver os pecadores
com outros olhos.
Podiam distinguir o pecado do pecador.
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Podiam odiar a abominação que praticavam,
mas ao mesmo tempo orar para que viessem a se
converter do mal que praticavam.

A misericórdia nascia da perspectiva de terem


visto a si mesmos assim como eram vistos por
Deus.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque


alcançarão misericórdia. - Mt 5:7

Aqui chegamos ao glorioso prêmio da


misericórdia – a misericórdia no dia final.

Ora isso não significa que a misericórdia de


Deus para conosco dependa da dispensação de
nossa misericórdia aos que nos fizeram sofrer.

Se fosse assim, nenhum de nós seria realmente


perdoado.

Por último é necessário mostrar o benefício de


sermos misericordiosos: sermos alvos da
misericórdia de Deus.

Foi assim também na oração que nos ensinou:

Porque, se perdoardes aos homens as suas


ofensas, também vosso Pai Celeste vos perdoará;
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se, porém, não perdoardes aos homens [as suas
ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as
vossas ofensas. - (Mt 6:14-15)

Você pode pensar então: - Ah! entendi tudo!


Então se eu quiser ser perdoado terei que
perdoar também, assim Cristo só faz se eu fizer.

NÃO, SE PENSAR ASSIM NÃO TERÁ ENTENDIDO


NADA!

Perdão é o ato glorioso da graça de Deus!

A glória do Evangelho é essa:


“... Deus prova o seu próprio amor para conosco,
pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós
ainda pecadores” (Romanos 5:8):
“... quando inimigos, fomos reconciliados com
Deus...” (Romanos 5:10):

Deus é soberano na distribuição da sua


misericórdia.

Romanos 9:15 – Terei misericórdia de quem me


aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de
quem me aprouver ter compaixão.

O que significa – alcançarão misericórdia?


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Quando nós reconhecemos os nossos pecados,
quando a tristeza segundo Deus nos leva ao
verdadeiro arrependimento, quando somos
objetos da misericórdia de Deus, que tendo todo
o direito de nos condenar, nos perdoa com base
nos méritos de Cristo...

Imediatamente a Misericórdia se torna o centro


do nosso coração...

Cristo me torna misericordioso como ele, ele me


empresta os seus olhos, eu vejo os seres
humanos como pecadores, escravos, aflitos e
oprimidos...

Tudo que posso oferecer a eles, é misericórdia...


Levamos os miseráveis para o coração e a eles
oferecemos alívio de nossas orações, de nosso
perdão, de nossa compaixão.

Conta-se que em certo acampamento feito de


tendas no deserto da Arábia, um jovem fugindo
de um grupo de homens enfurecidos escondeu-
se na tenda de um velho beduíno.

Quando os homens chegaram disseram ao


ancião da vila:
- Ahmed, sabemos que o rapaz está em sua
tenda, traga-o para fora.
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O velho ancião saiu à porta de sua tenda e disse:

– Por que estão atrás dele?

– É um assassino, viemos prende-lo.

O ancião surpreendeu a todos dizendo:

– Não vou entregar esse jovem a vocês, ele está


assustado e temeroso, além do mais, ele está em
minha tenda, eu dou minha proteção a ele.

– Ahmed, você está louco, só está fazendo isso


porque não sabe quem esse rapaz matou...

– A quem ele matou?

– Ele tirou a vida do seu próprio filho.

O velho ancião silenciou, baixou a cabeça e


começou a chorar, mas sem dizer nada...
Todos os homens ficaram em silencio esperando
que Ahmed os deixasse entrar e prender o rapaz.

Mas depois de um tempo, Ahmed se recompôs e


disse:

– Foi ao meu filho que ele matou?


– Sim, ele mesmo...
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– Então nesse caso, eu o criarei como se fosse o
meu próprio filho.

Isso é misericórdia.
Foi isso que Cristo fez por todos nós.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque


alcançarão misericórdia. - (MT 5:7)

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