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Educação e Pessoa com Deficiência:
Quebrando paradigmas ao longo da História
Professora Tatiana Takeda

A palavra Educação é proveniente do latim educare/educere e significa


“conduzir para fora”. É a educação que promove, no ser humano, a compreensão
para o desenvolvimento das habilidades mentais, cognitivas e comportamentais
de modo a possibilitar o crescimento máximo da personalidade do indivíduo.
Em uma breve análise cronológica da Educação, verifica-se que, na
Antiguidade, Atenas e Esparta (cidades-estado gregas) destacaram-se
distintamente. Esparta, dotada de seu caráter guerreiro, possuía uma educação
rígida e baseada na competitividade. A busca pelo “perfeito” era a maior
característica do modo de vida espartano. Por sua vez, em Atenas, valorizava-
se a reflexão. A palavra de ordem era o logos (conhecimento) que permeava a
retórica, a polêmica e o pensamento. Mais tarde, na Idade Média, identifica-se
um pensamento conservador e submisso à Igreja Católica. Em seguida, na Idade
Moderna, o professor começa a ser considerado veículo de conhecimento e
formador de cidadãos conhecedores de seus direitos e deveres e, bem assim,
aptos a exercer sua cidadania.
Ao tecer uma análise acerca desta cronologia, percebe-se que estas
características, de certo modo, ainda são traços encontrados em práticas
educativas em determinadas regiões do mundo.
No Brasil, o Período Colonial foi marcado pela catequese dos índios (na
busca por trazê-los para o Cristianismo) e pela exclusão de outros grupos. Por
exemplo, os negros e as mulheres não possuíam direito à Educação. Mais tarde,
com a vinda da Família Real, no início do século XIX, foram criadas as
Universidades, sendo que já existiam instituições desta natureza desde o século
XVI em outros países da América Latina. Posteriormente, em épocas de Império
e República, a Educação ganha corpo e importância, mas sempre dotada de
características baseadas na centralização, formalização e autoritarismo. Com a
Era Vargas surgiram as reformas educacionais mais modernas e os intelectuais
voltaram sua atenção para a Educação, pois visavam contribuir para o

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desenvolvimento do processo de estabilização social. O movimento educacional
que marcou esse período foi denominado Escola Nova que, vindo dos Estados
Unidos, apreciava os jogos e os exercícios físicos de forma geral, desde que
servissem para o desenvolvimento da motricidade e da percepção do aluno.
Também levava-se em consideração os estudos da psicologia e buscavam-se
formas mais adequadas para provocar o interesse dos discentes, sem privá-los
da espontaneidade. Com o regime militar instaurado em 1964, o autoritarismo é
fortalecido e, após a retomada democrática, a Educação mereceu destaque na
Constituição Federal de 1988. Iniciava-se um novo ciclo da Educação brasileira.
Veja-se o que dispõe o artigo 208 da Constituição Federal de 1988:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado


mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos
17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso
na idade própria;

Este dispositivo é a prova de quebra de paradigmas. Finalmente, a


Educação é vista como elemento essencial na formação do cidadão e a sua
efetivação torna-se obrigatória ao longo da infância e da adolescência do
indivíduo.
Não demorou para que as fontes do Direito se tornassem ainda mais
eficazes. Em 1996 houve a publicação da então nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei no 9.394/1996) que, em seus 92 artigos, trouxe
disposições importantes acerca da Educação Brasileira
Com relação à pessoa com deficiência, as dificuldades também foram
homéricas.
Voltando à Antiguidade, pode-se verificar que, na Roma Antiga, os
cidadãos romanos podiam sacrificar as crianças (filhos) que nasciam com algum
tipo de deficiência. Já na Grécia, em Esparta, crianças e pessoas que possuíam
alguma deficiência eram lançadas ao mar ou em precipícios. Aliás, tanto em

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Roma, como em Esparta, as pessoas com deficiência também podiam ser
“expostas”, ou seja, serem abandonadas em lugares ermos para “esperar a
morte”. Em Atenas, região em que viveu Aristóteles, houve situação diversa, pois
se definiu a premissa jurídica de tratar os desiguais de maneira desigual. Mais
tarde, o Cristianismo liderava a religião e política, ocasião em que se adotou, em
regra, um tratamento de auxílio às pessoas com doenças ou com deficiências
que passam a ser alvo de caridade/dó, mas também entregues à própria sorte.
Na Idade Média, o Clero decidia quem ia ou não entrar no “reino dos céus” e
muitas pessoas com deficiência foram queimadas por serem consideradas
“endemoniadas”. Já na Reforma Protestante, as pessoas com deficiência eram
consideradas como “as escolhidas por Deus para pagar os pecados da
humanidade” (eram bodes expiratórios dos pecados do mundo). No século XVIII
as pessoas eram isoladas e confinadas. A partir da Idade Moderna e advento do
Renascimento, a pessoa com deficiência começa a ser vista como mão de obra
na cadeia produtiva e são desenvolvidos equipamentos assistivos como:
cadeiras-de-rodas, bengalas e próteses. O século XX inicia-se com segregação
e assistencialismo e a pessoa com deficiência continua isolada, desta vez, em
instituições específicas, para o resto de suas vidas. Com o positivismo, nasce a
concepção de que este grupo não precisa de caridade, mas sim de cuidados para
que fossem integrados ou reintegradas à cadeia produtiva e participassem do
campo das trocas sociais, tendo em vista que o ócio das mesmas configurava
desperdício de mão de obra.
De 1950 a 1980 sobressaía uma visão linear de saúde e da medicina e o
indivíduo que é acometido por uma deficiência precisa ser tratado e curado para
que possa adequar-se à sociedade. Surgem os centros de reabilitação com o
objetivo de “consertar” a pessoa com algum tipo de deficiência.
Veja-se que no decorrer da História não se fala sobre a “educação” da
pessoa com deficiência. Ocorre que, como relatado, em regra, esse grupo ou
morria ou era isolado. Não havia interesse em inseri-los no sistema educacional
por existir, principalmente até o advento do Renascimento, a compreensão de
que seria um desperdício de recursos, tendo em vista que não seriam
aproveitadas no mercado de trabalho.

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A Educação permeou a linha do tempo sofrendo progressos e regressões,
bem o próprio tratamento da pessoa com deficiência. Veja-se que os ideais
aristotélicos que pregavam a reflexão/conhecimento e o tratamento ideal às
pessoas com deficiência não vingaram, de modo que o autoritarismo e a
discriminação foram, sempre, consequências traiçoeiras para a Educação e as
pessoas com deficiência, respectivamente.
Em pleno século XXI, ainda há regiões do mundo em que a Educação é
repreendida por questões políticas e religiosas, bem como a pessoa com
deficiência ainda é sacrificada por ser considerada “um peso” para a respectiva
família ou para a própria sociedade.
Pois bem. Quando se fala em pessoas com deficiência, está-se a dispor
sobre um grupo que, como os demais, deve ser alvo da Educação livre de
autoritarismo e que esteja permeada pelas evidências científicas. Afinal, a
educação não deixa de ser “ciência”.
Para que a pessoa com deficiência consiga auferir independência e
autonomia é necessário que ela seja alvo das práticas educacionais. Ela precisa
aprender as ciências, a refletir e a perceber que todas as pessoas possuem
condição de aprender e, bem assim, de ensinar.
Inserir a pessoa com deficiência no sistema educacional, ou seja, nas
escolas, é propiciar oportunidade para que ela desenvolva suas potencialidades
e ingresse no mercado de trabalho, tornando-se, assim, mão de obra produtiva
que contribui para o desenvolvimento de um país.
Dá-se a essa inserção da pessoa com deficiência no ambiente educacional
o nome de “inclusão escolar” e é nessa situação em que todas as pessoas com
deficiência (guardadas as proporções da deficiência) devem estar incluídas. Está-
se a falar de salas de aula, junto com os demais alunos, aprendendo e ensinando,
dentro de suas limitações e com o uso de apoios e tecnologias assistivas que
propiciem a formação de futuros profissionais no mercado de trabalho.

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