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NITERÓI CATÓLICO 3

A VOZ DO PASTOR + D. José Francisco Rezende Dias


Arcebispo Metropolitano de Niterói

UMA ESPIRITUALIDADE BÍBLICA


Irmã os e irmã s, queridos de Deus: defendia o neoplatonismo. Essa é a rimentar, com todos os sentidos, a espiritualidade bı́blica. tenha conseguido escapar dos con-
Eu ainda era seminarista, grande novidade bı́blica: o mais realidade daquele que vem. O desa- Certa vez li uma frase que dicionamentos histó ricos de seu
quando fui tomado de um forte espiritual nã o acontece de outra fio é atirar-se para os braços da me fez pensar e que nos faz pensar: momento, embora o armazena-
desejo: o de mostrar à s pessoas que forma senã o na mediaçã o do mais vida e escutar aı́ o bater de um gran- “Cada época deve reinventar para si mento e a recuperaçã o dos dados
acreditar em Deus nã o é carolice, corpó reo. “Em verdade lhes digo de Coraçã o. Sem fugas nem ideali- um projeto de espiritualidade”. Rein- tenha coincidido muitas vezes com
que perceber a sensibilidade de que vocês verão o céu aberto e os zaçõ es. Os braços da vida, e só , e ventar nã o significa descobrir do os interesses dos poderosos, nada
Deus nã o é feito de gente desocupa- anjos de Deus subindo e descendo como ela é . nada. Significa reler, encontrar uma disso enfraqueceu o poder trans-
da, que entender cada sopro da sua sobre o Filho do Homem” (Jo 1,51). A Bı́ b lia já sabia disso, nova interpretaçã o, arriscar uma formador da Palavra.
Palavra nã o é regredir ao passado. Essa é que continua sendo a grande desde quando os primeiros textos nova sı́ntese, propor uma nova E%impressionante como o
Pelo contrá rio! Nó s, que cremos, novidade bı́blica, a inalterada e tomaram forma. Em vá rias socie- gramá tica sapiencial. A Carta a Tito povo de uma minú scula regiã o,
somos homens e mulheres do futu- ainda nã o percebida novidade dades ocidentais acontece hoje, um já dizia isso: “A graça de Deus, fonte esquecida pelos grandes do mun-
ro. Nó s habitamos uma terra que bı́blica. encantamento, com os prodı́gios de salvação, manifestou-se a todos do, aprisionada em si mesma por
ainda nã o foi descoberta. Nó s habi- operados por té cnicas modernas. os homens, ensinando-os a viver tantas falhas e fracassos, conseguiu
tamos a terra da promessa que já se Sem lhes tirar a grandeza do neste mundo” (Tt 2,11). extrapolar seus pró prios limites e
realizou, mas nã o ainda totalmen- empreendimento, a Bı́blia já sabia O Mê s da Bı́blia chegou. alcançar os limites do mundo há
te. Enquanto realizada, essa pro- disso, e desde muito lá atrá s. Setembro é quando a pri- quase quarenta sé culos. Nenhum
messa é o nosso presente. Enquan- Mas nã o precisamos ali- mavera retorna, quando os pá ssa- texto fica em cartaz por tanto tem-
to promessa, é o nosso futuro. Nó s mentar ilusõ es com prazo vencido. ros fazem ninhos, e os peixes po, nenhuma histó ria sobrevive
já estamos lá sem sair daqui. Mas Precisamos criar Certos radicalismos nã o tê m espı́ri- sobem leitos caudalosos em busca tanto, a menos que tenha algo rele-
estar aqui só é possı́vel enquanto to bı́blico. A espiritualidade bı́blica de lugares para a reproduçã o. vante para dizer, a menos que essa
estivermos lá . uma espiritualidade vive no momento presente. Nem se Setembro é quando a vida retorna. relevâ ncia tenha tornado relevante
O realismo narrativo que a dependura no cabide frouxo de um Nã o poderia haver mê s melhor també m a vida de muitos homens,
Bı́blia adota nã o deixa de surpreen- bíblica forte e real, futuro ainda porvir, nem pega caro- para celebrar a vida que a Sagrada em muitos tempos e lugares.
der, e isso acontece desde o começo na no ô nibus de um passado, que já Escritura conté m e transborda. “Se queres ser universal,
de tudo. No nú cleo da revelaçã o que faça frente nã o passa mais. Quem vive nostá l- O tema do Mê s da Bı́blia começa por pintar a tua aldeia”
bı́blica nã o encontramos as disso- gico do passado esqueceu de estar ajuda-nos a aprofundar nosso (Leon Tolstó i).
ciaçõ es, que se tornaram presentes aos modismos ... aqui. Quem se enreda no futuro, conhecimento e vivê ncia da Pala- A Bı́blia é isso: uma aldeia
no mundo ocidental entre alma e també m. vra de Deus. Poré m, mais impor- que se tornou universal, por ter
corpo, interno e externo, prá tica Precisamos criar uma espi- captado a essê ncia do humano.
religiosa e vida comum. No centro ritualidade bı́blica forte e real, que Porque, afinal, só a essê ncia conta.
da Bı́blia está a vida e ponto. E essa faça frente aos modismos, tanto Porque, no fim, só a essê ncia per-
vida Deus ama. Porque Ele “não é O nosso corpo é a lı́ngua dos que querem destruir tudo em manece.
um Deus de mortos, mas de vivos” materna de Deus. A vida é um labo- nome de um nã o-sei-quê , quanto Que este Mê s da Bı́blia seja
(Lc 20,38).
Desde o primeiro sopro
rató rio de atençã o, para notar o dos que se enclausuraram num
passado idealizado, em busca de
Que o mesmo um mê s para se redescobrir a
essê ncia do perfume humano. Pre-
imperceptı́vel.
vital que transformou o homem
num ser vivo, no princı́pio dos prin-
E%preciso sensibilidade e uma restauraçã o, que també m nã o-
sabem-de-quê . Isso só pode ser
alimento que cisamos imensamente dessa expe-
riê ncia, numa é poca em que o chei-
espanto para perceber, a cada novo
cı́pios, ficou estabelecida, e para
sempre, uma fascinante e inque-
instante, por precá rio que seja, fruto de um analfabetismo perante
as expressõ es fundamentais da
restaurou ro nã o anda dos melhores.
Que o mesmo alimento que
uma nova oportunidade do aconte-
brantá vel aliança, aquela que une
espiritualidade divina e vitalidade
cimento da Presença: sã o os passos vida. Quem mora nas pontas per-
deu o cerne.
vidas também restaurou vidas també m restaure a
nossa.
do pró prio Deus. Ele anda pelo cair
humana. O Espı́rito de Deus nã o é Precisamos olhar a espiri- Irmã os e irmã s, peço-lhes a
experimentado senã o no extremo
da tarde em nosso jardim interno,
e, como se fô ssemos homens e tualidade bı́blica como uma arte
restaure a nossa. caridade de suas oraçõ es.
da carne tornada viva. O sopro vital mulheres ainda na manhã da Cria- integral do ser. Quanto mais nossa Que Deus os abençoe, com
é percebido a partir do barro. A çã o, Ele vem e pergunta a cada um fé for bı́blica, mais ampliará a capa- toda sorte de bê nçã os.
tangı́vel passagem de Deus em de nó s: onde você está ? cidade de hospitalidade daquilo Que a Virgem que acolheu
nossa vida se faz atravé s do que já “Este mistério radical é que somos e daquilo que podere- e fez germinar a Palavra em terreno
somos e de onde nó s estamos. sempre de proximidade, nunca de mos ser. “Ser cristão não significa tante que o tema é a pró pria Bı́blia. bom irrigue, com sua proteçã o de
E%isso que nem sempre as distância; sempre amor que se dá a ser religioso de uma certa maneira E%a Bı́blia que importa como proje- Mã e, tudo o que houver de arenoso
pessoas entendem. si mesmo, nunca juízo” (Karl Rah- nem se converter numa determina- to de espiritualidade de um tempo no terreno de nossas vidas.
A Bı́blia se afasta dessas ner). da classe de pessoa por um método sempre para HOJE e de uma expe- Que a Palavra que nã o
versõ es espiritualistas, que distor- Ele só quer algo de nó s: a determinado – de pecador a peni- riê ncia sempre para AGORA. retorna vazia (Is 55,11) complete o
cem a intençã o de Deus. A Bı́blia nossa presença à sua Presença. tente e santo. Ser cristão significa Embora a Escritura tenha que falta em todos nó s e nos encha
defende uma visã o unitá ria do ser Deus espera por nó s em tudo o que ser pessoa, não um tipo específico de nascido no solo arenoso da vida, de alegria e paz.
humano. O corpo deixou de ser encontramos. Nã o se trata de reen- pessoa, mas o humano que Cristo embora o solo arenoso da vida pro- A todos o meu carinho e a
visto como uma prisã o da alma, trar na esfera ı́ntima e esquecer do cria em nós” (Dietrich Bonhoeffer). duza espinhos e escorpiõ es, embo- minha bê nçã o.
uma decadê ncia da alma, como resto. O desafio é estar em si e expe- E%essa justamente a proposta da ra nem sempre o escritor bı́blico

Dom José Francisco Diácono: um serviço


permanente para a Igreja
ordenará três sacerdotes No dia 10 de agosto, a Igreja comemorou o Dia do Diá cono,
festa de Sã o Lourenço, diá cono e má rtir, patrono dos diá conos.
No sá bado, 30 de setembro, a O diá cono é uma vocaçã o ministerial para o serviço e seu
Arquidiocese de Niteró i, atravé s do Semi- nome vem do termo 'diaconia', que significa serviço. O ministé rio
diaconal tem trê s dimensõ es: o serviço da Palavra de Deus, o
ná rio Arquidiocesano Sã o José , pela impo-
serviço da Caridade e o serviço da Liturgia.
siçã o das mã os do Arcebispo Metropolita-
O ministé rio diaconal vem crescendo nas comunidades, à
no de Niteró i, Dom José Francisco, ordena- medida que se compreende o seu valor e contribuiçã o para uma
rá 3 padres: Bruno de Sousa Marinelli, Igreja cada vez mais servidora. O Documento de Puebla manifesta a
Leonardo de Oliveira Gonçalves e Marcos missã o confiada aos diá conos.
Vinı́cius Santana. “O diá cono, colaborador do bispo e do presbı́tero, recebe uma
A Celebraçã o, sob a presidê ncia do graça sacramental pró pria. O carisma do diá cono, sinal
Arcebispo de Niteró i, Dom José Francisco, sacramental de Cristo-Servo, tem grande eficá cia para a realizaçã o
será realizada na Bası́lica Nossa Senhora de uma Igreja servidora e pobre, que exerce sua funçã o missioná ria
Auxiliadora, à s 9h30. A Paró quia está situ- com vistas à libertaçã o integral do homem” (Puebla, 697).
ada na Rua Santa Rosa, 216, Santa Rosa, Os diá conos podem ser transitó rios ou permanentes. O
Niteró i. diaconato transitó rio é o primeiro grau do Sacramento da Ordem.
O sacramento da Ordem é consti- Os diá conos transitó rios assim permanecem, por um perı́odo
tuı́do por trê s graus: episcopal, presbiteral especı́ f ico, até completar a formaçã o e serem ordenados
e diaconal. Cada qual tem um rito de orde- sacerdotes. O diá cono permanente é a expressã o do ministé rio
naçã o pró prio, poré m o comum entre eles ordenado, colocado o mais pró ximo possı́vel da realidade laical e
é a imposiçã o das mã os e a prece de orde- do protagonismo dos leigos.
naçã o. O diá cono permanente realiza atividades essenciais para a
O segundo grau do ministé rio da vida da Igreja. Podem administrar os sacramentos do Batismo,
Matrimô nio e Eucaristia, e colaborar nas funçõ es litú rgicas, como
Ordem é o presbiteral, denominado tam-
servir o altar, proclamar o Evangelho, convidar os fié is para o
bé m, sacerdotal. Segundo o Pontifical
abraço da paz e fazer a despedida da missa.
Romano, a ordenaçã o presbiteral é consti-
Neste ano de 2017 serã o comemorados os 52 anos da
tuı́da de seis partes: eleiçã o do candidato, restauraçã o do Diaconato Permanente. A data lembra que o
homilia, propó sito do eleito, ladainha, ministé rio, mesmo existindo desde os primó rdios da Igreja, foi
imposiçã o das mã os e prece de ordenaçã o, deixado de lado, permanecendo apenas o diaconato transitó rio. O
unçã o das mã os e entrega da patena e do Concı́lio Vaticano II trouxe novamente a relevâ ncia desse serviço
cá lice. para a Igreja.
Como as demais ordenaçõ es, a Para saber mais sobre o serviço prestado pelos diá conos no
sacerdotal é realizada dentro da Eucaris- Brasil, visite o site: http://www.cnd.org.br (Comissã o Nacional dos
tia. Logo apó s a Liturgia da Palavra, dá -se Diá conos).
inı́cio ao Rito de Ordenaçã o Presbiteral. O Bispo Auxiliar, Dom Luiz Ricci, presidiu uma Santa Missa na
Por João Dias Paró quia Sã o Lourenço. Por João Dias

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