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TRANSFORMADORES – ENROLAMENTO Cu x Al

Carlos Alberto de Moura Saraiva


Engº Mecânico e Eletricista - Consultor

São bastante freqüentes as dúvidas referentes às diferenças de desempenho de transformadores de força


e distribuição com enrolamentos de cobre e alumínio. Na tentativa de trazer alguns esclarecimentos
básicos sobre o assunto seguem alguns comentários baseados na prática corrente dos fabricantes e
usuários de transformadores.

Esses comentários se aplicam a transformadores da classe de 15 a 34,5 kV, com potência até 5000 kVA,
para uso externo ou interno, de uso industrial. Estamos supondo também que os referidos
transformadores trabalharão com um fator de carga de 50% ou maior. Outro ponto importante a ser
considerado na comparação entre enrolamentos de cobre e alumínio é o tipo de isolação do
transformador, isto é, seco ou imerso em óleo. No caso da isolação do tipo seco, é necessário considerar
uma série de outros fatores, tais como: local da instalação (abrigada ou ao tempo), grau de poluição do
local (atmosfera úmida, poeira, fumos, vapores químicos, atmosfera com gases explosivos, etc.),
temperatura ambiente e variação da mesma, altitude, elevação de temperatura do material isolante, tipo
do material isolante, isto é, a sua classe de temperatura. Os transformadores secos com enrolamento em
alumínio são bastante usados pelas industrias e concessionárias no país. Para a nossa comparação
vamos considerar apenas o caso dos transformadores imersos em óleo isolante. A discussão da escolha
entre enrolamentos de Cu e Al é um assunto cercado de muita polêmica e má informação. Vamos deixar
de lado este aspecto do problema e vamos nos concentrar apenas nos fatos mais objetivos sobre o
assunto.

A elevação de temperatura dos enrolamentos conforme as normas é o fator determinante para se


dimensionar os condutores dos enrolamentos de um transformador.

Na tabela abaixo listamos alguns fatores importantes que adotaremos como critério para fazer a
comparação entre enrolamento de Cu e Al em transformadores para uso industrial. Estes critérios também
valem para transformadores de força e distribuição, dentro de certos limites.

As propriedades físicas do Cu e Al indicadas na tabela abaixo dependem do tipo da liga usada.

Critérios usados para a comparação Cobre Alumínio


Resistência à tração – kgf/mm2 35,2 22,5
Resistência à tração para a mesma ampacidade (kgf/mm2) 35,2 35,2
Massa para a mesma condutividade (kg) 45,4 24,5
Seção reta para a mesma condutividade (%) 100 156
Condutividade elétrica em % IAS a 20 ºC 101 61
Condutividade térmica em BTU/ft/hr/ft2/°F at 20°C 222 126
Coeficiente de dilatação térmica (por °C x 10-6) 16,6 23
Seção reta e peso dos condutores para a mesma corrente, menor maior
potência e elevação de temperatura
Diferença de perdas em carga e em vazio, rendimento (1) Pouca influência Pouca influência
Diferença de Impedância e regulação Não Não
Suportabilidade aos esforços das correntes de c. circuito (2) Boa Boa
Dimensões da parte ativa (3) menor Maior
Dilatação térmica nos condutores do enrolamento (4) menor Maior
Diferença de custo de aquisição (5) maior (6 a 10%) Menor
NOTAS:
(1) – Para a mesma elevação de temperatura, 55 ºC ou 65 ºC sobre a temperatura ambiente máxima a 40
ºC, o enrolamento de alumínio deverá ter uma seção reta maior e inversamente proporcional a diferença
de condutividade entre a liga de Cu e de Al usada. Conforme se pode ver a condutividade do Cu é 65,6
maior que a do Al. Desta forma pode-se fazer o enrolamento de Al com as mesmas perdas bastando
escolher para o Al uma seção cerca de 61% maior. Outro ponto a ser considerado é a estratégia de
projeto do fabricante em função da penalização das perdas capitalizadas impostas pelo comprador.
(2) - A propriedade mais importante nesta comparação é a resistência à tração. O que interessa aqui é a
capacidade do condutor suportar as forças resultantes das correntes passantes de curto-circuito e os
efeitos acumulativos das mesmas. Pode-se ver também que, embora o Al tenha uma menor resistência à
tração que o cobre, ele tem a mesma resistência mecânica a tração para a mesma ampacidade (35,2
kgf/mm2).Com um dimensionamento adequado os enrolamentos podem ter a mesma suportabilidade
mecânica.

(3) - Do ponto de vista das dimensões do transformador podemos ver pela Tabela que o alumínio tem uma
seção reta 56% maior que a do cobre para a mesma capacidade de condução de corrente, o que significa
menores dimensões para o transformador com enrolamento de cobre, ou seja, menor área ocupada,
menor custo de fundações, menor volume de óleo, menor tamanho da bacia coletora de óleo. Outro ponto
que influencia nas dimensões é a dissipação de perdas. Como o Cu tem melhor condutividade térmica isto
significa melhor dissipação, mas na comparação com o Al tendo em vista que este tem seção maior, a
dissipação mais eficiente vai depender dos critérios de projeto adotado. Portanto, sob o aspecto de
dissipação térmica podemos dizer que os condutores de Cu e Al têm o mesmo desempenho.

(4) - O coeficiente de dilatação térmica do Al é bem maior do que o do Cu para a mesma variação de
temperatura. Isto é importante porque o enrolamento é construído para ter uma certa altura e para isto ele
é prensado para manter a altura fixa. Em função da carga a temperatura do enrolamento aumenta ou
diminui ocasionando expansão e compressão do enrolamento. Isto é agravado quando ocorre um curto-
circuito passante. Estes efeitos são mais pronunciados no enrolamento de Al que no de Cu devido à
diferença do coeficiente de dilatação. Para evitar isto muitos fabricantes usam arruelas de compressão
especiais e molas para manter a pressão constante nos enrolamentos de Al. Isto tem influência no custo e
é claro, depende do fabricante usar ou não estes recursos. Outro ponto a ser levado em conta é que o Al
tem maior tendência à oxidação e, portanto, precisa de mais cuidados com a limpeza durante a fabricação
das juntas e emendas.

(5) – Estamos falando aqui de custo inicial de aquisição do transformador. Em uma avaliação econômica,
devido a outros fatores a diferença de custo pode ser mais favorável ao enrolamento de cobre. A diferença
de custo entre condutores de Cu e Al costuma ser significativa, pois estes materiais são “commodities” e
estão sujeitos às oscilações do mercado, mas este fator não é o determinante do custo. O Cu oferece
outras vantagens, por exemplo, é mais trabalhável que o Al na fabricação do enrolamento, não é
corrosivo,exceto pelo enxofre presente no óleo, que pode ser avaliado pelo ensaio de enxofre corrosivo.

Conclusão:
Baseado nos fatos acima indicados parece-nos difícil estabelecer através dos critérios adotados uma
preferência entre um tipo e o outro de condutor para os transformadores considerados na comparação. Na
nossa opinião não há problema entre o uso de Cu ou Al para o enrolamento, desde que na especificação
do equipamento se estabeleça o critério de projeto para uso de um ou o outro material. Sem isto, achamos
arriscado aceitar enrolamentos de alumínio baseado apenas na discrição dos fabricantes, pois é claro que
estes vão usar o material que for mais conveniente para obter maior vantagem econômica na venda.

Referência-
1- A Comparison of Aluminum Versus Copper as Used in Electrical Equipment.
Larry Pryor, P.E. – Sr. Specification Engineer, GE Consumer & Industrial; Rick Schlobohm, P.E. – Sr.
Specification Engineer, GE Consumer & Industrial; Bill Brownell, P.E – Specification Engineer, GE
Consumer & Industrial

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