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O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma comparação entre transformadores imersos em
óleo mineral isolante e transformadores secos e estabelecer critérios de escolha entre os mesmos para
aplicação em áreas industriais, por exemplo, de mineração ou siderurgia.
Esta escolha às vezes é muito fácil, por exemplo, em edifícios comerciais onde o risco de incêndio é uma
restrição séria não há duvida que o transformador do tipo seco é o mais indicado por razões técnicas e
econômicas. Por outro lado, em uma área industrial de mineração onde o grau de poluição é na maioria
dos casos muito severa esta escolha não é simples e, é necessário estabelecer critérios para a escolha.
No que se segue apresentamos alguns fatos importantes para se fazer esta escolha da melhor forma
possível.
Os transformadores a óleo têm normalmente melhor rendimento que os do tipo seco e, usualmente tem
maior vida útil. O óleo é um meio mais eficiente para dissipação das perdas permitindo melhor
refrigeração do transformador além de reduzir a temperatura dos pontos quentes nos enrolamentos. Esta
característica permite uma maior capacidade de sobrecarga. Entretanto possuem desvantagens também,
por exemplo, para uso interno requer maior proteção contra incêndio, pois o óleo comum é inflamável e
apresenta risco de explosão. Também apresentam risco ambiental devido a vazamentos de óleo e por
esta razão tem maior custo de instalação devido ao uso da bacia de contenção de óleo e caixa
separadora de água e óleo. Transformadores secos exigem menos proteção contra incêndio.
Os transformadores imersos em óleo praticamente para uso industrial não têm limite quanto à tensão e
potência.
Outra característica importante dos transformadores em óleo é ter menores perdas, maior rendimento e
menores dimensões físicas. Apenas a título de exemplo indicamos abaixo uma comparação de perdas
totais entre transformadores imersos em óleo e transformadores secos. Pode-se ver facilmente a grande
diferença entre os dois casos. A diferença das perdas avaliadas economicamente tem grande impacto no
custo final do transformador.
Transformadores imersos em óleo não têm limites de tensão e potência o que não ocorre com os do tipo
seco, o limite de potência mais comum é de 10 MVA e tensão máxima de operação no primário até 36 kV
sendo a de 15 kV mais comum no Brasil. As tensões secundárias podem ser 7,2 kV, 4,16 kV, 480 V, etc,
sem problemas. Para uso externo o tipo predominante escolhido é o a óleo.
Os transformadores imersos em óleo têm vida útil operativa maior, tipicamente da ordem de 25 a 35
anos. Tem menor custo de manutenção, sendo esta mais simples que os do tipo seco. São também de
mais fácil reparo e no caso de perda total e preço de revenda da sucata é maior.
Transformadores secos são usualmente mais usados para uso interno em edifícios de escritórios, em
indústrias e em local onde o risco de incêndio é uma preocupação.
Os transformadores secos podem também ser para uso externo, porém neste caso é necessário o uso
de um invólucro metálico com grau de proteção elevado contra poeira, água e penetração de pequenos
animais. Estes invólucros devem ser bem ventilados e no caso de ambientes com alto grau de poluição
requerem limpeza constante para não restringir a ventilação e dificultar a dissipação de calor no
transformador. O custo do invólucro tem um peso significativo no custo do transformador seco e também
no custo de manutenção e operação, pois toda vez que se for fazer a limpeza no invólucro é necessário
desenergizar o transformador. Dependendo do grau de poluição no local da instalação como no caso de
mineração de ferro isto pode trazer grandes problemas.
Estes transformadores têm limitação de uso em tensão nominal e potência. Dependendo do tipo podem
ser fabricados para tensões até 36 kV e potências de até 30 MVA. O mais usual é o uso em tensões
primárias da classe de 15 kV e potências variando de 500 a 2500 kVA.
Na sua construção são usados materiais não inflamáveis e, portanto não apresentam risco de incêndio
quando são usados em ambientes internos ou subterrâneos. O correto uso dos materiais isolantes e um
pleno conhecimento do sistema de resfriamento são imperativos, especialmente quanto aos limites de
elevação de temperatura para que o transformador seja projetado corretamente. A elevação de
temperatura é uma especificação de quão quente o enrolamento ficará quando estiver em plena carga. A
elevação é especificada sobre a ambiente máxima de 40 ºC com uma tolerância adicional para o ponto
mais quente interno de 30 ºC. A soma da temperatura ambiente máxima de 40 ºC mais 30 ºC do ponto
mais quente mais a elevação de temperatura não deve nunca exceder a temperatura da classe da
isolação. A classe da isolação é a temperatura nominal real da isolação do enrolamento. As elevações
típicas de temperatura para transformadores secos são: 80 ºC, 115 ºC ou 150 ºC. Notar que a elevação
de temperatura não é uma indicação própria da quantidade de calor gerada pelo transformador, uma vez
que isto depende das perdas, mas de qual valor a temperatura vai chegar devido a estas. A temperatura
causa o envelhecimento mais rápido do transformador. Para se ter uma menor elevação de temperatura
é necessário uma melhor dissipação de calor, ou seja, melhor resfriamento ou mais área de dissipação
ou um meio de transmissão de calor melhor. Os materiais isolantes dos transformadores secos não são
um bom meio de transmissão de calor.
A premissa da construção da Tabela acima é aumentar a vida útil do transformador. Para isto é muito
comum especificar a classe do material isolante H e projetando o transformador para elevação de
temperatura de 80 ºC, 115 ºC ou 150 ºC, daí os termos opcional e normal, usados na Tabela. Para se
conseguir isto é necessário projetar um transformador de perdas mais baixas para ter menor geração de
calor. É claro que transformadores projetados desta forma são mais caros. Especificar a elevação de
temperatura de um transformador seco é bem mais complicado do que os dos transformadores a óleo.
Um grande problema na compra de transformadores secos é o fato que transformadores de uma mesma
especificação não são iguais do ponto de vista de qualidade, desempenho dependendo da tecnologia de
fabricação usada pelo fabricante. É preciso comparar a tecnologia de fabricação dos diferentes
fabricantes para se garantir que a compra esteja de acordo com o especificado.
Existem relativamente poucos dados sobre a confiabilidade de transformadores do tipo seco. Segundo o
IEEE a taxa de falha dos transformadores secos é cerca de 20% maior que a dos imersos em óleo. Um
estudo feito pela Eindhoven University of Technology da Holanda, intitulado “Literature Search for
Reliability Data of Components in Electric Distribution Networks- M.H.J. Bollen” nos fornece os seguintes
dados comparativos sobre a confiabilidade dos transformadores em óleo e seco:
MTTF = 175 anos com intervalo de confiança de 95% – Faixa de 120 a 300;
nº componentexnº anos
MTTF = ;
nº falhas
1
A correlação entre a taxa de falha λ e a MTTF é: MTTF = ;
λ
Uma MTTF de 1000 anos não significa que o componente vai ter um tempo esperado de falha 1000
anos, mas que a cada ano, 1‰ ou 0,001 da população vai apresentar uma falha nos próximos anos. Este
é conceito de confiabilidade adotado no estudo da Eindhoven. Portanto, baseado nos dados acima
podemos dizer os transformadores imersos em óleo são mais confiáveis que os secos. Os dados acima
indicados são apenas comparativos, eles variam com o tamanho da amostra e os anos de serviço,
portanto não podemos afirmar que são exatos.
Quanto aos sistemas de isolação dos enrolamentos os transformadores secos são dos seguintes tipos:
A bobina é impregnada com verniz de poliéster de alta temperatura a vácuo sob pressão. Este processo
é uma versão melhorada da impregnação convencional a vácuo, usada na fabricação dos
transformadores secos ventilados. A bobina é processada sob pressão melhorando a penetração do
verniz e aumentando a resistência a descargas parciais. É o tipo mais comum de transformador seco
usado. É usado em instalações internas comerciais e industriais, possui boa suportabilidade mecânica de
curto circuito e não apresenta perigo de incêndio ou explosão. A impregnação do enrolamento o protege
contra contaminação por umidade e poluentes do ar. A figura abaixo mostra um transformador do tipo
descrito que é também chamado de transformador tipo VPI. O custo deste tipo de transformador para
uso interno é da ordem de 1,15 pu (dado da ABB) comparado com os imersos em óleo. Para uso externo
o transformador requer um invólucro protetor bem ventilado com grande aumento de custo, conforme
abaixo ilustrado.
Bobinas encapsuladas sob pressão a vácuo – VPE
Este tipo de transformador seco foi desenvolvido para atender aos requisitos rigorosos de aplicação em
navios da marinha americana, sendo também usados em usinas eólicas. A isolação possui excelente
proteção contra umidade em atmosferas agressivas, névoa salina, poeira e contaminantes da industria
química. Os selantes usados na resina conferem ao material alta rigidez dielétrica e vida útil extendida
comparada com os transformadores do tipo anterior.
A bobina é encapsulada em resina sob pressão e vácuo. Este método é superior ao processo descrito no
parágrafo anterior. A bobina é imersa diversas vezes na resina a base de silicone no processo de
encapsulamento e as camadas são curadas em forno. Isto elimina vazios que podem ocasionar o
aparecimento de DP. O verniz de silicone tem alta rigidez dielétrica e suporta temperaturas elevadas de
220 ºC ou mais. O núcleo e as estruturas de pressão são protegidos com uma camada de selador para
proteção contra umidade e corrosão. O enrolamento possui ótima resistência mecânica a curto circuito e
não apresenta risco de incêndio ou explosão. O custo deste tipo de transformador é elevado, sendo da
ordem de 1,38 pu (dado da ABB) comparado com os imersos em óleo. A aparência física do
transformador é a mostrada abaixo. Este transformador também pode ser usado para uso externo em
invólucro metálico como o da figura acima.
Um transformador de moldado típico de BT consiste de: barramento de BT (1), parafusos de aperto (2),
barramento de AT (3), bobina de BT (4), núcleo (5), enrolamento de AT (6), derivações (7), terminais das
derivações (8), base (9), alças para levantamento (10), canal para circulação de ar (11), condutores do
enrolamento de AT (12) e condutores do enrolamento de BT (13).
Cada um dos tipos de transformadores secos descritos acima é adequado para um tipo particular de
ambiente. Portanto é importante entender onde é melhor usar cada um dos tipos descritos.
O custo de um transformador moldado em epóxi é cerca de 50% maior que os tipos encapsulados ou
impregnados acima descritos. Os transformadores moldados em epóxi são mais adequados para uso
externo com alto grau de poluição, desde que protegidos por invólucro de proteção bem ventilado, que os
outros dois tipos.
Para uso externo é necessário que o transformador seja protegido por um invólucro metálico com grau
de proteção IP adequado resistente a intempéries. Todas as partes energizadas devem ser protegidas
contra contacto. Aberturas de ventilação devem ser protegidas por grades, barreiras ou outro meio para
impedir a entrada de água, chuva, poeira ou pequenos animais. Um ponto importante é que se o
transformador estiver em local de alto nível de umidade, quando se for desenergizá-lo o invólucro deve
possuir resistência de aquecimento com potência adequada, operada manual ou automaticamente para
manter a temperatura acima da temperatura ambiente de forma a evitar condensação de umidade na
isolação do transformador.
Para se fazer uma comparação válida entre transformadores do tipo seco e transformadores imersos em
liquido isolante é necessário fazer a comparação levando-se em conta os mesmos atributos:
1- Flexibilidade da instalação: transformadores secos não necessitam usar bacia coletora nem caixa
separadora de água e óleo e sistema de proteção fixa contra incêndio.
2- Desempenho: os pontos importantes a serem observados são o rendimento, capacidade de
sobrecarga, elevação de temperatura, nível de ruído.
A elevação de temperatura permissível depende do tipo do material dos condutores Alumínio ou Cobre,
da classe de temperatura do material da isolação e do tipo de ventilação para refrigeração do
transformador. Transformadores com isolação classe A têm elevação de temperatura limitada a 60 °C.
Os de classe B são considerados resistentes ao fogo até certo ponto porque usam papel de poliaramida
aromática de alta temperatura. Os mais modernos de classe C são a prova de fogo porque usam o
material isolante Nomex para isolação dos condutores. Nestes transformadores é usual prover dutos de
ventilação de maiores dimensões entre as bobinas e camadas de condutores para melhorar a
refrigeração e aumentar a vida útil.
Transformadores secos têm nível de ruído maior que os imersos em óleo, pois não tem o óleo para
amortecer o som.
3- Acessórios para monitoramento: transformadores secos em geral não possuem acessórios para
monitoramento devido a dificuldade de colocação dos mesmos.
4- Capabilidade da isolação: suportabilidade dielétrica, resistência a descargas parciais, resistência a
harmônicos, etc.
Nos transformadores de classe C devido aos dutos de ventilação de maiores dimensões entre os
enrolamentos e à impedância de surto dos mesmos o fenômeno de “chopping current” (interrupção
prematura da corrente antes da passagem pelo zero) muito comum nas manobras de disjuntores a vácuo
podem produzir tensões transitórias de valor elevado com eventual dano ao transformador.
5- Custo total do ciclo de vida: custo inicial, custo de instalação, custo das perdas, custo de manutenção,
confiabilidade e impacto ambiental. Os transformadores secos causam menos impacto ao meio ambiente
que os transformadores imersos em óleo. Deve ainda ser levado em conta o custo de reparo. Os
transformadores do tipo moldado e os do tipo encapsulado sob pressão e vácuo não permitem reparos
nos enrolamentos. Se falharem a perda é total. Os descartes destes tipos de transformadores causam
problemas ambientais, pois os mesmos não são recicláveis e os materiais dos mesmos não são
degradáveis. Já os do tipo impregnados sobre pressão e vácuo e os imersos em óleo permitem reparos e
o descarte dos mesmos no meio ambiente não são tão problemáticos, pois os mesmos permitem algum
tipo de reciclagem. A tabela abaixo reproduzida do trabalho “Determination Analysis of Energy
Conservation Standards for Distribution Transformers de Barnes, P. R et al” publicação do Oak Ridge
National Laboratory ORNL-6847, July 1996 para DOE (Department of Energy) do governo norte
americano mostra o custo total do ciclo de vida típico para três tipos de transformadores, sendo dois do
tipo seco comparado com o imerso em óleo.
Como se pode ver os transformadores secos são mais caros que o imerso em óleo para a mesma
potência em kVA acima indicada, contudo não podemos generalizar a afirmação acima uma vez que o
custo e as perdas estão muito ligados ao que o usuário especifica para a compra. Além disto temos a
questão da tecnologia de fabricação e a qualidade dos materiais empregados o que conforme dissemos
varia muito entre os diversos fabricantes.
6- Eficiência energética: os transformadores secos são piores que os imersos em óleos. A Tabela abaixo
retirada da mesma referência acima citada mostra claramente isto.
Avaliação Perdas Seco tipo VPI Resina Moldada Imerso em óleo
Perdas em carga – kW 21,00 18,52 16,38
Perdas a vazio – kW 7,00 7,55 2,66
Perdas Totais – kW 28,00 26,07 19,04
Rendimento em % 98,89 98,97 99,24
Valor presente das 79.500 70.100 62.000
perdas em carga – US$
Valor presente das 41.400 44.700 15.700
perdas em vazio – US$
Valor presente total das 120.900 114.800 77.700
perdas – US$
NOTA: O valor presente total das perdas é baseado em um transformador de 2500 kVA, operando por
30 anos com carga de 80%, 6 centavos de dólar por kWh e taxa de juros anual de 8%.
7- Vida útil: em paises de clima tropical como o Brasil a vida útil do transformador seco é menor devido a
menor capacidade de refrigeração das bobinas de BT causadas pela restrição do fluxo de ar natural nos
dutos de ventilação causando redução da eficiência do resfriamento. Os transformadores imersos em
óleo não têm estes problemas e, portanto tem maior vida útil.
Como se pode ver são muitos os atributos a serem levados em conta na escolha de um bom critério de
decisão para escolha entre os diversos tipos.
Do nosso ponto de vista a escolha entre transformador seco e imerso em óleo para aplicação em
subestações de empresas de mineração o imerso em óleo é sempre a melhor escolha.