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Educação do Campo:
Semiárido, Agroecologia, Trabalho e Projeto Político Pedagógico
PREFEITO
Leandro Rodrigues Duarte
DIRETORA PEDAGÓGICA
Iara Reis
EXPEDIENTE
PRODUÇÃO
Prefeitura Municipal de Santa Maria da Boa Vista - PE
Secretaria Municipal de Educação
Coordenação da Educação do Campo
ORGANIZAÇÃO
Erivan Hilário
COLABORAÇÃO
Maria Neuma de Vasconcelos Freitas
Rivanildo Adones dos Santos
DIAGRAMAÇÃO
Fábio Carvalho
IMPRESSÃO
Gráfica Progresso
TIRAGEM
1.000 exemplares
FOTOS
Gilmar Araújo
Arquivo Coord. Educação do Campo
Wllyssys Wolfgang
PREFÁCIO
Clarice Aparecida dos Santos 7
APRESENTAÇÃO 11
O Semiárido Brasileiro
Silvana Lucia da Silva Lima 41
ANEXOS
(documentos sobre Educação do Campo)
Madrugada camponesa,
faz escuro ainda no chão,
mas é preciso plantar.
A noite já foi mais noite
a manhã já vai chegar.
Thiago de Mello
Abraços fraternos,
* Notas iniciadas a propósito do II Encontro Nacional de Pesquisa sobre Educação do Campo, Brasília/DF, 6 a 8 de agosto 2008 e
concluídas a partir da exposição feita no minicurso sobre Educação do Campo na 31ª Reunião Anual da ANPED, programação do
Grupo de Trabalho Movimentos Sociais e Educação, Caxambu 20 e 21 de outubro de 2008 e para debate no Coletivo Nacional de
Educação do MST em reunião realizada de 11 a 14 de novembro 2008, Guararema, SP. Elaboração concluída em novembro 2008.
1
Este texto está sendo finalizado no momento em que a Via Campesina, movimento mundial de organizações camponesas, ao
divulgar os documentos finais de sua V Conferência Internacional, realizada em Maputo, Moçambique, de 19 a 22 de outubro de
2008, reafirma diante da crise global do sistema capitalista seu compromisso de resistência e de luta pela vida e pela agricultura
camponesa, definindo a soberania alimentar e a Reforma Agrária genuína e integral como bandeiras de luta fundamentais para o
enfrentamento da crise desde a perspectiva da classe trabalhadora. “Aqui estamos nós, camponeses e camponesas do mundo, e nos
negamos a desaparecer“. Soberania Alimentar já! Com a luta e a unidade dos povos! (Carta de Maputo, outubro 2008). Como a Educação
do Campo se moverá em relação a esta agenda política?
2
Sobre a crítica como princípio metodológico em Marx, tomo por base especialmente a interpretação de Enguita, 1993.
3
No texto “Sobre Educação do Campo” de outubro de 2007 desenvolvo um pouco mais o que chamo de “materialidade de
origem” da Educação do Campo.
4
Precisamos ter presente que a educação na Reforma Agrária, especialmente nas práticas e reflexões do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), não pode ser vista hoje como outra coisa, mas é sim uma particularidade dentro do próprio movimento
da Educação do Campo; só que não é qualquer particularidade porque é justamente a sua materialidade de origem e hoje o que
representa a explicitação mais forte da perspectiva de luta e de identidade de classe para a Educação do Campo.
5
Para uma análise histórica da educação rural e o que representa é importante uma retomada dos documentos principais da
articulação nacional por uma Educação do Campo e suas referências bibliográficas principais, a começar pelo texto de Calazans,
Maria Julieta Costa. Para compreender a educação do Estado no meio rural – traços de uma trajetória, (Therrien e Damasceno, 1993).
6
“... a crítica há de se construir sobre a base de que não existem nem o homem abstrato, nem o homem em geral, mas o homem que
vive dentro de uma dada sociedade e num dado momento histórico, que está determinado pela configuração social e pelo
desenvolvimento histórico concretos, independentemente de que, por sua vez, possa e deva atuar sobre eles” (Enguita, 1993, p. 79).
7
As expressões “como assim”, “desgarrados da terra” e “levantados do chão” se referem à indagação irônica da poesia militante
de Chico Buarque de Holanda na canção “Levantados do Chão” feita para o MST, também homenageando a obra de José
Saramago e a exposição “Terra” do fotógrafo Sebastião Salgado.
8
Aqueles que defendem a educação na perspectiva da classe trabalhadora, mas que sem vacilação acreditam ainda hoje que dizer
educação é igual a dizer escola (ou que a escola é a referência necessária para pensar qualquer processo educativo mais avançado)
sentem-se desconfortáveis em relação à Educação do Campo. E que bom que seja assim. Porque se o do campo for entendido como
um tipo específico de escola poderá justificar estragos consideráveis na educação dos trabalhadores (sentido que certamente não
corresponde à visão dos próprios trabalhadores em questão).
9
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, criado em 1998, no mesmo contexto de luta dos Movimentos Sociais que
constituíram a Educação do Campo.
10
Considerar que a Pedagogia do Movimento foi na origem da Educação do Campo sua mediação fundamental, enquanto
concepção pedagógica, de educação.
11
Desenvolvo uma reflexão sobre a Pedagogia do Movimento e sua relação com a concepção de práxis como princípio educativo
no texto “Teses sobre a Pedagogia do Movimento” (2005): na concepção da “práxis como princípio educativo” em Marx cabem
diferentes matrizes pedagógicas: o trabalho, a cultura, a luta social, a organização coletiva. E seu raciocínio nos ajuda a compreender
que nenhuma matriz pedagógica deve ser vista isoladamente ou deve ser absolutizada como matriz central ou única (de uma vez
para sempre, a qualquer tempo e lugar); nenhuma das matrizes tem força material suficiente para dar conta sozinha da complexidade
(que se revela cada vez maior) da formação humana. O ser humano se forma pela ação combinada, que às vezes é também
contraditória, de diferentes matrizes pedagógicas; dependendo das circunstâncias a influência principal pode vir de uma ou de
outra matriz, mas nunca a educação de uma pessoa, ou de um coletivo, será obra de um único sujeito pedagógico. É verdade que
existem diferenças de natureza entre as matrizes formadoras. O trabalho é a prática social básica de constituição do ser humano
(embora não a esgote) e para Marx tem centralidade na própria conformação da práxis.
12
Experiência aqui utilizada no sentido trabalhado por Thompson em suas obras, e particularmente no texto “Educação e
experiência” (2002).
13
Do ponto de vista do nosso balanço projetivo da Educação do Campo cabe perguntar se é essa a reflexão predominante hoje nas
assim chamadas “escolas do campo” ou como se move o debate pedagógico feito em torno delas, pelos seus diferentes sujeitos.
14
Não se confunda esta posição com a visão de um pós-modernismo que defende a eliminação do universal em favor do
particular, o que é a própria expressão da armadilha ideológica do neoliberalismo: cultuo o particular matando-o como possibilidade
de ser incluído no universal, já que supostamente a universalidade não mais importa...
15
Uma análise da ofensiva das empresas transnacionais sobre a agricultura, já dentro dos marcos da crise recente do capital
financeiro pode ser encontrada no texto produzido por João Pedro Stedile, do MST, para a V Conferência Internacional da Via
Campesina, outubro 2008.
16
Algumas referências para este debate específico: Stedile, maio 2008, Carvalho, julho 2007 e Christoffoli, 2008.
17
Especialmente a partir de 2003 começaram iniciativas do governo federal para garantir levantamento de dados específicos sobre
a situação educacional da população do campo. A partir de 2005 as pesquisas do INEP (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), vinculado ao Ministério da Educação, incluem também o recorte de dados sobre escolas
de assentamentos de Reforma Agrária.
18
É importante ter presente que a Educação do Campo se desenvolve exatamente no período do capitalismo em que se consolida
o predomínio do capital monetário (ou “financeiro”) que, como nos ajuda a analisar Virgínia Fontes (2008), é uma forma bastante
peculiar de fusão dos diferentes tipos de capital (industrial, comercial, bancário) que traz implicações fundamentais sobre a
forma das relações sociais necessárias para a reprodução do capital e que atingem, particularmente hoje, a agricultura.
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É preciso levar em conta que a tradição pedagógica vinculada a processos sociais emancipatórios historicamente teve pouca
influência sobre os educadores brasileiros, especialmente sobre os professores de escola e sobre as instituições responsáveis pela
sua formação inicial. Neste sentido, não é algo pouco importante que através da Educação do Campo certas reflexões e certos
textos da tradição pedagógica socialista e popular sejam não apenas retomados, mas passem a ser conhecidos por educadores
que de outra forma não teriam acesso a eles.
20
Políticas focais no sentido de programas específicos que se colocam na perspectiva de políticas, a exemplo hoje do PROCAMPO
(cuja ação principal é a Licenciatura em Educação do Campo) e do Programa Saberes da Terra.
21
É preciso ter presente nesta discussão um aspecto que não será aprofundado neste texto, mas que integra a agenda de estudos
e debates da Educação do Campo: a identificação “camponesa” indica aqui um contraponto político e econômico de lógicas de
produção e de inserção social, que não se compreende sem a ressignificação ou mesmo a rediscussão do conceito de camponês que
integra o debate atual sobre projetos de campo. Ou seja, a agricultura camponesa entendida como uma categoria teórica e política
no contexto do confronto de projetos (agronegócio X agricultura camponesa) e não em si mesma.
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Acesso ampliado no duplo sentido: de massificação, ampliação quantitativa e de dimensões da educação: escolarização, mas
também acesso às produções culturais e a atividades diversas de formação ao longo da vida e relacionadas às diferentes matrizes
de educação do ser humano.
1
Fala de Chico de Oliveira citada por Barcelar.
Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, pedra fundamental para a criação da Sudene – Superintendência do
3
Desenvolviemnto do Nordeste.
Referências Bibliográficas
Erivan Hilário
1
Para ampliar essa informação conferir, entre outros, ENGELS, FRIEDRICH. A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra.
São Paulo: Editora Boitempo, 2008.
2
SILVA, Francisco Carlos Lopes da. O trabalho infanto-juvenil na sociedade capitalista. (artigo disponível no site: http://
www.educaremrevista.ufpr.br/arquivos_15/lopes_da_silva.pdf - acessado no dia 10 de janeiro de 2008.
3
SOUZA, Emiliene Leite de. Um outro olhar sobre o trabalho infantil: o caso das crianças de Capuxu. UFPB, 2004.
4
Os elementos que se seguem nos três tópicos estão presentes no Boletim de Educação do MST de nº. 04, 1994.
Vertente País
Pensador/es Características
Período
Esse método preconizava a moderna abordagem sistêmica,
entendendo a propriedade como um organismo sadio, onde solo,
BIODINÂMICA Alemanha Rodolf Steiner planta, animais e o homem convivem em harmonia e a fertilidade
1924 é a base de sua auto-suficiência. Steiner ressaltou a importância
das relações entre o solo e as forças de origem cósmica da natureza,
recomendou o uso de preparado biodinâmico elaborado por ele.
Este método foi difundido pelos praticantes da antroposofia.
Albert Fundamenta-se no uso de composto orgânico, aproveitando os
Inglaterra Howard resíduos internos do local. Howard inventou o processo “indore”
ORGÂNICA 1925 a 1930 & de compostagem, que aprendeu com agricultores indianos.
Jerome Irving
Rodele
Preconiza a menor alteração possível no funcionamento natural
dos ecossistemas. Não usa aração, rotação de culturas, nem o uso de
Japão
NATURAL Mokiti Okada compostos oriundos de estercos animal. Mais recentemente, a
1930 a 1940 agricultura natural tem se concentrado no uso de um preparado
biológico, EM (Micro organismos Eficazes). Essa corrente é ligada e
difundida pela igreja Missiânica e pelo mestre Masanobu Fukuoka.
FERNANDES, B. M. . Os campos da
pesquisa em educação do campo: espaço e
território como categorias essenciais. A
pesquisa em Educação do Campo,v. XX, p.
X-I, 2006.
Nair Casagrande
1
Curiosidade: sentido etimológico (origem da palavra): “o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo
projicere, que significa lançar para diante”.
2
A consciência de classe é entendida enquanto formação de uma consciência da situação de classe na história, a partir de um
processo dialético no qual o movimento da história é tornado consciente pelo conhecimento de sua situação de classe. A consciência
de classe aparece enquanto uma possibilidade objetiva, ou seja, a expressão racional dos interesses históricos do proletariado.
Madrugada camponesa,
faz escuro ainda no chão,
mas é preciso plantar.
A noite já foi mais noite
a manhã já vai chegar.
Breve há de ser
sinto no ar
tempo de trigo maduro
vai ser tempo de ceifar
Já se levantam prodígios
chuva azul no milharal,
estala em flor o feijão
um leite novo minando
no meu longe seringal.
Madrugada da esperança
já é quase tempo de amor
colho um sol que arde no chão,
lavro a luz dentro da cana
minha alma no seu pendão.
Madrugada Camponesa
faz escuro (já nem tanto)
vale a pena trabalhar
faz escuro, mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh‘alma recebeu o batismo dos
tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho
novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Na minh‘alma ficou
o samba Do mesmo modo que te abriste à alegria
o batuque abre-te agora ao sofrimento
o bamboleio que é fruto dela
e o desejo de libertação e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
(*)CNE. Resolução CNE/CEB 1/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de 2002. Seção 1, p.
32.Acesso a este documento no link: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB012002.pdf
QUEM SOMOS
Temos denunciado a grave situação vivida pelo povo brasileiro que vive
no e do campo, e as conseqüências sociais e humanas de um modelo de
desenvolvimento baseado na exclusão e na miséria da maioria. Temos
denunciado os graves problemas da educação no campo e que continuam hoje:
O QUE DEFENDEMOS
O QUE QUEREMOS
Ricardo Henriques
Secretário da SECAD/MEC
(*) Publicada no Dou de 29/4/2008, Seção 1, p. 25-26. Acesso a este documento no link: http://
portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2008/rceb002_08.pdf
RESOLVE:
I- A educação infantil;
II- O ensino fundamental;
III- O ensino médio;
IV- A educação profissional técnica de nível médio, integrada ou
não com o ensino médio;
V- A educação de jovens e adultos.
1. Considerações iniciais
2. Contexto
Do município
Santa Maria da Boa Vista, além das riquezas naturais, como bioma
da caatinga, é uma terra marcada por uma formação de seu povo bastante
rica, desde na sua história ter a forte presença de indígenas, quilombolas,
vaqueiros, pescadores, agricultores, pequenos comerciantes. Uma
população que surge entre o rio a caatinga, tendo assim sua população
basicamente residindo: na sede do município, na grande faixa de terra
chamada de sequeiro, e ainda uma considerável população vivendo as
margens do rio.
Da Educação do Campo
1
Esses assentamentos de Reforma Agrária vinculados ao INCRA alguns são acompanhados pelo
Sindicato dos Trabalhadores Rurais ligados a FETAPE, e sua maioria é ligado ao Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST que entre os Assentamentos destaca-se o Catalunha pelo
número de famílias assentadas 604, sendo considerado o maior assentamento de Pernambuco.
2
Essas entidades promotoras da conferência se constitui como uma Articulação Nacional Por uma
Educação Básica do Campo, sendo que anos depois foram incorporadas outras entidades na medida
em que o debate foi ganhando visibilidade de outros sujeitos coletivos.
3
É um Programa do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA do Ministério do
Desenvolvimento Agrário. O programa funciona a partir de parceria do INCRA com Instituições de
Ensino Superior e Movimento Sociais do Campo.
4
Essa II Conferência foi articulada e promovida pela CNBB - MST - UNICEF - UNESCO -UnB -
CONTAG - UNEFAB - UNDIME - MPA -MAB - MMC - MDA/INCRA/PRONERA - MEC - FEAB -
CNTE - SINASEFE - ANDES - Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados – Frente
Parlamentar das CEFFA´S - SEAP/PR - MTE - MMA - MinC - AGB - CONSED - FETRAF - CPT - CIMI
- MEB - PJR - Cáritas - CERIS - MOC - RESAB - SERTA - IRPAA - Caatinga - ARCAFAR SUL/NORTE.
4. Das proposições/Desafios