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JOÃO PESSOA
2018
1
JOÃO PESSOA
2018
2
Aprovada em............/............/...............
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Profª. MSc. Virgiane da Silva Mélo Amaral
Orientadora – UNIPÊ
_________________________________________
Profª. MSc Vanessa Negreiros de Medeiros
Examinadora – UNIPÊ
_________________________________________
Prof. Dr. Antônio da Silva Sobrinho Júnior
Examinador – UNIPÊ
4
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Com a percepção que a água é um bem finito e escasso, o homem, para melhor
aproveitar os recursos hídricos, passou a construir represas, denominadas barragens.
O presente trabalho tem como objetivo constituir diretrizes para o dimensionamento
de uma barragem de terra homogênea, inicialmente, apresentando conhecimentos
necessários para embasar tal feito, como, por exemplo, conceitos, classificações,
critérios de escolha, elementos constituintes. Por conseguinte, expôs-se as
orientações para calcular uma barragem de terra, aplicando o que foi explanado,
redimensionando a Barragem Conceição, e, procedendo uma análise técnica sobre a
mesma, onde observou-se resultados discrepantes que caracteriza um
superdimensionamento e acarreta elevação do custo da obra, finalizando a pesquisa
com a apresentação gráfica da barragem em estudo já redimensionada, respeitando
a segurança e a relação custo benefício.
ABSTRACT
With the perception that water is a finite and scarce good, man started building barriers,
so-called dams, to better harness water resources. This work aims to constitute
guidelines for design of a homogeneous earth dam, initially, presenting necessary
knowledge to support this approach, such as, concepts, classifications, selection
criteria, constituent elements. Therefore, the orientations to calculate an earth dam
were exposed, applying what was explained, resizing Conceição Dam and proceeding
a technical analysis about it, in which discrepant results were observed characterizing
an oversizing and increasing work cost, finalizing the research with the graphic
presentation of the resized dam, respecting security and the cost-benefit relation.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 14
2.1 Objetivo geral .................................................................................................... 14
2.2 Objetivos específicos........................................................................................ 14
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15
3.1 Conceito de barragem....................................................................................... 15
3.2 Critério para escolha do tipo de barragem ..................................................... 15
3.3 Principais tipos de barragens .......................................................................... 16
a) Barragens de terra ................................................................................................ 16
b) Barragens de enrocamento ................................................................................... 17
c) Barragens de concreto .......................................................................................... 17
3.3.1 Barragens de terra homogênea ........................................................................ 17
3.4 Elementos constituintes de uma barragem de terra homogênea ................. 18
3.5 Roteiro do dimensionamento de uma barragem de terra homogênea ......... 20
3.5.1 Rendimento pluvial da bacia ............................................................................ 20
3.5.2 Cálculo do volume afluente .............................................................................. 20
3.5.3 Capacidade do reservatório ............................................................................. 22
3.5.4 Vazão máxima secular ou Cheia máxima de projeto ....................................... 22
3.5.5 Vazão de demanda .......................................................................................... 22
3.5.6 Volume útil (cota-área-volume) ........................................................................ 24
3.5.7 Área da bacia hidráulica ................................................................................... 25
3.5.8 Altura total da barragem ................................................................................... 25
3.5.9 Folga (f) ............................................................................................................ 26
3.5.10 Largura da crista (LC)..................................................................................... 27
3.5.11 Inclinação dos taludes .................................................................................... 27
3.5.12 Largura da base (b) ........................................................................................ 30
3.5.13 Proteção do talude de montante: Rip-Rap ..................................................... 30
3.5.14 Proteções do talude de jusante ...................................................................... 32
3.5.15 Proteção do coroamento ................................................................................ 33
3.5.16 Extravasador .................................................................................................. 34
3.5.17 Descarga de fundo ......................................................................................... 34
3.5.18 Tomada d’àgua .............................................................................................. 35
11
1 INTRODUÇÃO
A engenharia civil é uma ciência responsável por buscar soluções aos
impasses surgidos na vida dos seres humanos, principalmente, quando se relaciona
a questões cruciais como sobrevivência e melhoria de práticas que beneficie a
coletividade, proporcionando uma otimização no aproveitamento dos recursos
existentes no planeta.
A Terra, também conhecida como “Planeta Água”, possui cerca de 72% da sua
extensão coberta por esse líquido precioso que está presente em múltiplas atividades
do ser humano, tal como, o abastecimento doméstico e público, as aplicações
agrícolas e industriais e a produção de energia elétrica, sem mencionar que o homem
necessita de ingerir água numa quantidade diária de dois a quatro litros para
manutenção do corpo (ALVES, 2010).
Apesar de cobrir cerca de 2/3 da superfície do planeta, a maior parte da água
não se encontra disponível para utilização humana. Para a sua sobrevivência e
suporte das suas atividades, o homem conta com apenas 0,62% da água do mundo,
a que está associada aos rios, lagos de água doce e aquíferos subterrâneos (ALVES,
2010).
Desde o princípio, o homem procura habitar próximo às fontes de água
existentes, para suprir suas necessidades. Quando o líquido é em excesso ou falta,
os indivíduos buscam racionalizá-los através da construção de diques, que, quando
se destinam à acumulação do recurso hídrico, constituem-se nas barragens
(CARVALHO, 1983).
Portanto, a insuficiência de água para atender as demandas da população fez
com que as primeiras obras visando a retenção da substância líquida fossem
executadas, pesquisas apontam construções de barramento por volta de 5.000 anos
A.C., com as mais diversas finalidades, de modo que o aproveitamento fosse o maior
possível (CARVALHO, 1983).
A barragem de Jawa construída na Jordânia, há cerca de 5.600 anos, é a mais
antiga que se tem notícia. Já no território brasileiro, o barramento mais remoto foi
construído onde atualmente é a área urbana do Recife, em Pernambuco,
possivelmente no final do século XVI, conhecida nos dias de hoje como açude
Apipucos, já aparecia em um mapa holandês de 1577. A barragem original foi alargada
e reforçada para permitir a construção de uma importante via de acesso ao centro da
cidade (MELLO, 2011).
13
2 OBJETIVOS
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Além desse critérios, deve ser considerada uma série de fatores físicos que
governam a seleção do tipo de barragem.
a) Barragens de terra
- Homogêneas:
As barragens homogêneas são constituídas predominantemente por um único
material, excluindo-se as proteções dos taludes e coroamento. Nesse caso, trata-se
de um material suficientemente impermeável, com taludes inclinados suavemente,
para uma estabilidade adequada. Se prestam para qualquer tipo de fundação, desde
a rocha compacta até terrenos construídos de materiais inconsolidados (MARANGON,
2004).
- Zoneadas:
As barragens zoneadas trata-se de um núcleo central com um melhor solo, e
solos mais fracos para aterros estabilizadores. Ocorre quando não existem solos
apropriados, em quantidade suficiente, para todo o maciço (TOMAZ, 2011).
17
b) Barragens de enrocamento
- com núcleo impermeável:
Na barragem de enrocamento, o material rochoso é predominante e a vedação
da água, nesse caso, é feita por um núcleo argiloso que pode ficar centralizado ou
inclinado para montante (COSTA, 2012).
- com face impermeável:
Nesse tipo, a vedação da água é garantida pela impermeabilização da face de
montante da barragem, podendo ocorrer por uma camada de asfalto, por uma placa
de concreto, ou ainda, por uma chapa de aço (COSTA, 2012).
c) Barragens de concreto
- gravidade:
São barragens maciças de concreto, com pouca armação, caracterizada por ter
sua estrutura trabalhando apenas à compressão. É o tipo de barragem mais resistente
e de menor custo de manutenção, contudo, sua altura é limitada pela resistência das
fundações (COSTA, 2012).
- arco:
São aquelas em que a curvatura ocorre em duplo sentido, tanto na horizontal,
quanto na vertical, podendo ser arcos simples ou múltiplos (COSTA, 2012).
- em contraforte:
Trata-se de uma estrutura mais leve, com pequena área de fundação, exigindo
uma maior armação. Das três barragens, é a que apresenta menor volume de concreto
(COSTA, 2012).
H2 −(400H)+230.000
R% = (1)
55.000
Onde:
H = precipitação pluviométrica local anual (mm);
R = Runoff (porcentagem).
Onde:
H = precipitação pluviométrica local anual medida em metros (m).
Onde:
R% = rendimento pluvial da bacia (em casas decimais);
H = altura da chuva (m), é a precipitação pluviométrica local anual dividida por
100;
U = coeficiente de correção do rendimento superficial, extraído da tabela de
Ryves (tabela 1);
A = área da bacia hidrográfica (m2).
Onde:
Rmm = rendimento pluvial da bacia (mm);
U = coeficiente de correção do rendimento superficial, extraído da tabela de
Ryves (tabela 1);
A = área da bacia hidrográfica (m2).
Onde:
Vafl = volume afluente anual, numa determinada seção da bacia hidrográfica,
num ano (m3).
1.150 A
Q= (7)
(√LC)(120+(KLC))
Onde:
A = área da bacia hidrográfica (km2);
L = comprimento do talvegue principal (km);
C = fator de variação da veloc. média do escoamento superficial (tabela 1);
K = coeficiente em função da ordem dos rios que existem na bacia (tabela 1).
usos, contidas na tabela 2, acrescida de, no mínimo, 25% para suprir as deficiências
nos meses mais secos.
Onde:
X = parâmetro de irrigação;
Y = representa a área que deseja-se irrigar em hectares (ha).
ℎ
Vn = (Sn-1 + Sn) 2 (9)
Onde:
Sn-1 = área relativa à altura da lâmina de água anterior ao que está calculando;
Sn = área correspondente à altura da lâmina de água que está determinando;
h = altura da lâmina de água em análise.
b) Volume útil:
Onde:
Var = volume acumulado na cota da altura da lâmina de água represada;
Vdf = volume acumulado na cota da altura da descarga de fundo.
H = Hn + He + f (11)
Onde:
Hn = altura da lâmina de água represada (m), denominada altura normal;
He = altura máxima da lâmina de água que atravessa o extravasor (m), por
ocasião das cheias máximas;
f - folga = diferença entre a lâmina máxima de enchente e a crista da barragem
(m).
26
4
h = 0,75 + 0,34√𝐿 – 0,26 √𝐿 (12)
Onde:
h = altura da onda (m);
L = comprimento do talvegue principal (km).
Onde:
V = velocidade da onda (m/s);
h = altura da onda (m).
27
𝑉²
f = 0,75h + (Fórmula empírica de Stevenson) (14)
2𝑔
Onde:
V = velocidade da onda (m/s);.
g = aceleração da gravidade (m/s²).
Onde:
H = altura total da barragem (m).
LC = 1,65 √H (16)
Onde:
H = altura total da barragem (m).
finos)
intermediárias
CASCALHOS
em tamanho (++)
Cascalhos de granulometria Predominantemente um tamanho
desfavorável, misturas ou variedade de tamanhos com
GP
cascalho-areia, poucos ou alguns tamanhos intermediários
nenhum finos faltando
Finos não plásticos ou finos com
dade apreciá-
vel de finos) Cascalhos siltosos, misturas
GM baixa plasticidade (para
200 (+)
cascalho-areia-silte
identificação veja ML - abaixo)
Solos de granulometria grossa
Areias de granulometria
grãos e quantidades substanciais
SW favorável. Areias c/ cascalho,
é menor que a peneira 4, em
intermediárias
Areias de granulometria Predominantemente um tamanho
tamanho (++)
SP
cascalho, poucos ou nenhum alguns tamanhos intermediários
finos faltando
Finos não plásticos ou finos c/
Areias c/ finos
apreciável de
SM
silte procedimento identificação veja
finos)
ML abaixo)
Finos plásticos (para
Areias argilosas, misturas
SC procedimentos de identificação
areia-argila
veja CL abaixo)
Procedimento de identificação
para frações menores que a
peneira de tamanho 40
SILTES E ARGILAS
Tensão a seco
Limite líquido menor que 50
(característica
próxima a PL)
s de esmaga-
(consistência
(Reação a
Dilatância
agitação)
Mais da metade do material é menor que a peneira nº 200 (+)
Dureza
mento)
magras
Siltes orgânicos e argilas Bastante
Bastante
OL siltosas orgânicas de baixa baixa a Lenta
Limite líquido maior que 50
baixa
plasticidade média
Siltes inorgânicos, solos
Bastante Bastante
SILTES E ARGILAS
Onde:
c = LC = largura da crista (m);
Zm = projeção horizontal no talude de montante;
Zj = projeção horizontal no talude de jusante;
H = altura da barragem (m).
O dimensionamento dos blocos de pedras se fará de modo que seu peso seja
compatível com a energia oferecida pelas ondas da represa.
A espessura da camada de blocos de pedras que se constituirá o “Rip-Rap”
é função do “Fetch”, maior comprimento tomado, de um ponto qualquer na
barragem, medido sobre o espelho d’água formado pela represa, já utilizado
no cálculo da folga.
Sobre o sistema drenante, Carvalho (1983) ensina que é “constituído por calhas
coletoras que descarregam em bermas, que por sua vez desaguam em novas calhas
e assim por diante, até o dreno de pé, daí, sendo as águas encaminhadas para o
antigo leito do rio”.
Para pequenas barragens, costuma-se dar um espaçamento de 30 m para o
primeiro lance das canaletas, 20 m para os demais lances. As calhas são situadas a
cada diferença de cota igual a 10 m, como já exposto na figura 5 (CARVALHO, 1983).
Com auxílio do projeto eletrônico, utilizando um software adequado, é possível
extrair os quantitativos de gramas e calhas coletoras.
3.5.16 Extravasador
Tem a finalidade de eliminar o excesso de água que chega na barragem,
oriundas tanto de vazão normal como de enchentes. Também é denominado de
sangradouro, vertedouro, vertedor, descarregador de superfície. Pode ocorrer de três
formas: por canal lateral, sobre o corpo da barragem e, por dispositivos especiais
(MATOS, 2000).
No caso de extravasamento em canal lateral por declividade, o vertedouro é
dimensionado como um canal qualquer, podendo-se usar equações como a de
Manning para o seu dimensionamento:
Qmáx
Ls = (18)
1,77 x He x √He
Onde:
Ls = largura do canal (m);
Qmáx = vazão máxima secular (m³/s);
He = altura máxima da lâmina de sangria.
10,641×𝑄1,85 1/4,87
𝐷=[ ] (19)
𝐶 1,85×𝐽
Onde:
D = diâmetro do desarenador (m);
Q = vazão escoada (m³/s);
35
10,641×𝑄1,85 1/4,87
𝐷=[ ] (21)
𝐶 1,85 ×𝐻𝑙/𝐿
Onde:
D = diâmetro da tomada d’água (m);
Q = vazão de demanda (m3/s);
C = coeficiente de Hazen-Willians (tabela 4);
Hl = diferença de altura entre as cotas do nível d’água no reservatório e do local
de saída de água da tubulação (m);
L = comprimento da tubulação de condução da água (m).
36
a) linha freática
Segundo Carvalho (1983) “chama-se de linha freática à linha que, na seção
transversal da barragem, limita a área em que há um escoamento constante d’água
através do maciço”. E seu cálculo é feito por meio das equações abaixo:
Y0 = √H² + d² – d (22)
Onde:
H = altura da barragem;
d = LC = largura da crista.
37
𝒀𝒐 𝜶
𝐚=( ) × (𝟎, 𝟓 + 𝟑𝟔𝟎° ) (23)
𝟏−𝒄𝒐𝒔(𝜶)
Onde:
∝ = ângulo do talude de jusante.
b) vazão de infiltração
Onde:
Q = vazão de infiltração (m³/s/m);
KV = permeabilidade vertical do solo da barragem (m/s);
Kh = permeabilidade horizontal do solo da barragem (m/s);
a = linha freática;
∝ = ângulo do talude de jusante.
c) altura capilar
A exata previsão da ascensão capilar ocorrida num solo é muito complexa,
notadamente nos solos coesivos face à variação estrutural que ocorre, ainda que nos
de mesma origem, logo, com a finalidade de facilitar o cálculo, Bowles indicou a
determinação do diâmetro médio do tubo capilar, que insere na fórmula da altura
capilar (CARVALHO, 1984):
0,297
ℎ𝑐 = (26)
𝑑
1
sendo, d = D10 (27)
5
38
Onde:
d = diâmetro médio do tubo capilar (mm);
hc = altura capilar (mm);
D10 = diâmetro correspondente a 10% do material que passa no ensaio de
granulometria do material da base (mm).
𝟏 𝒉𝒄 𝒉𝒄 𝟐 𝒉² 𝟏 𝒉²
𝑳𝒕 = × [𝒃 + − √(𝒃 − ) − 𝒌²] + 𝟒 × ( ) (28)
𝟐 𝒌 𝒌 𝟏 𝒉𝒄 𝒉𝒄 𝒉²
[𝒃− {{𝒃+ −√(𝒃− )²− }]
𝟐 𝒌 𝒌 𝒌²
Onde:
Lt = comprimento do tapete filtrante (m);
b = largura do talude de jusante mais o coroamento (m);
k = vertical/horizontal - relação de inclinação do talude de montante;
hc = altura capilar (m);
h = altura máxima da lâmina de água (m).
2 𝑙 𝑄𝑏
e=2√ (29)
𝑘𝑓
Onde:
e = espessura do filtro (m);
l = comprimento do filtro (m);
Qb = vazão de descarga freática (m³/s/m);
Kf = coeficiente de permeabilidade do material do filtro (m/s).
3.5.20 Enrocamento-de-pé
Rock-fill, como conhecido, constitui-se de um dreno de pé, com a finalidade de
baixar a linha freática, e, consequentemente, evitar a saturação da face de jusante da
barragem (CARVALHO, 1984).
40
H
Rf = (30)
3
Onde:
H = altura da barragem (m).
41
4 METODOLOGIA
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesse tópico será apresentado os valores que constam nos projetos da
Barragem Conceição e os valores desenvolvidos, tal dados serão expostos através
do quadro 4, que servirá de base para análise técnica comparativa que realizar-se-á:
Vertedouro ou Sangradouro
O primeiro parâmetro apresentado foi a vazão máxima de projeto, que
corresponde a cheia máxima provável que pode ocorrer na região. Para esse cálculo
leva-se em consideração as características hidrográficas do local que deseja-se
construir o barramento, sendo elas a área da bacia hidrográfica, o comprimento do
talvegue principal e os aspectos da bacia através dos coeficientes hidrométricos
desenvolvidos por Ryves.
A bacia em estudo é do tipo 4, caracterizada como ligeiramente acidentada, e
seus coeficientes hidrométricos são U = 0,80, K = 0,278 e C = 1,05, conforme a tabela
1, de Ryves, já exposta anteriormente. Essas grandezas foram consideradas tanto
para o memorial descritivo da barragem como para os cálculos desenvolvidos para
realizar a análise técnica.
Na determinação da vazão, ambos os cálculos utilizaram o mesmo método, a
equação 7 supramencionada, contudo, a área da bacia hidrográfica e o comprimento
do talvegue foram diferentes.
Para efetuar os cálculos da barragem extraiu-se os quantitativos do projeto de
levantamento topográfico planialtimétrico obtendo uma área da bacia hidrográfica
igual a 1,22 km2 e um comprimento de 1,5 km do talvegue principal, alcançando uma
vazão de 9,28 m3/s, como exposto a seguir:
1.150 A
Q= = 9,28 m³/s (31)
(√LC)x (120+(KLC))
Onde:
A = área da bacia hidrográfica = 1,22 km²;
L = comprimento do talvegue principal = 1,5 km;
C = fator de variação da velocidade média do escoamento superficial = 1,05;
K = coeficiente em função da ordem dos rios que existem na bacia = 0,278.
1.150 A
Q= = 16,78 m³/s (32)
(√LC)x (120+(KLC))
45
Qmáx
Ls = = 5,24 m ≅ 5,5 m (33)
1,77 x He x √He
Onde:
Qmáx = vazão máxima secular = 9,28 m³/s;
He = altura máxima da lâmina de sangria = 1,0 m.
Qs
L= = 10 m (34)
mH x √2gH
Onde:
QS = descarga máxima de enchente = 16,78 m³/s;
m = coeficiente = 0,385;
H = lâmina de sangria = 1,0 m;
g = aceleração da gravidade = 9,81 m/s².
Tomada d’água
A vazão de demanda, um dos parâmetros para o cálculo da tomada d’água,
trata-se da quantidade de água que será necessária extrair do reservatório para
empregar na finalidade projetada, que no caso da barragem em estudo é, como alvo
principal, o armazenamento de água para irrigação, mais especificamente da cana-
de-açúcar, logo, calcula-se a vazão levando-se em consideração o tipo de aguagem
que deseja-se aplicar e a área que pretende-se beneficiar.
47
Onde:
X = parâmetro de irrigação = aspersão de 3 mm.dia-1;
Y = área a beneficiar = 160 ha.
Onde:
Q = vazão de demanda = 0,05556 m3/s;
C = coeficiente de Hazen-Willians = 120;
Hl = diferença de altura entre as cotas do nível d’água no reservatório e do local
de saída de água da tubulação = 10 m;
L = comprimento da tubulação de condução da água = 86 m.
H = Hn + He + f = 14m (37)
Onde:
Hn = 12m;
He = 1m;
f = 1m.
Largura do coroamento
A largura do coroamento trata-se do tamanho do topo da barragem, para seu
dimensionamento tem-se como parâmetro a altura total do barramento, valor esse que
foi idêntico tanto no memorial descritivo como nos cálculos realizados para análise
técnica comparativa.
Na determinação da largura da crista, ambos os cálculos consideraram o
mesmo método, a equação 15 supracitada, como exposto a seguir:
Onde:
H = 14m.
insumo, e esse tipo de veículo costuma oscilar de um eixo para outro, sendo
recomendado uma folga na via para evitar possíveis acidentes.
E outra questão relevante para se analisar sobre esse tópico é que o memorial
descritivo está conforme os cálculos e a doutrina, o que divergiu foi a largura
encontrada no projeto executivo, documento este utilizado por quem executa a
construção, onde raramente consulta-se os cálculos por acreditar está conforme o
memorial descritivo, tendo em vista que este deveria ser uma extensão do outro. No
mínimo, pode-se mencionar que não houve compatibilização do memorial com o
projeto de engenharia da barragem.
Largura da base
Para se estimar a base de uma barragem, emprega-se como parâmetros a
largura do coroamento, a altura do barramento e as projeções dos taludes. Tais
critérios foram aplicados na equação 17 supracitada, onde obteve-se uma largura da
base na ordem de 82 m, conforme demonstração a seguir:
Onde:
c = LC = 5 m;
Zm = 3;
Zj = 2,5;
H = 14 m.
51
O memorial descritivo não expressa nenhuma menção sobre esse tópico, nem
no detalhamento dos cálculos nem em seu quadro de resumo geral, logo, buscou-se
essa informação no projeto executivo para realizar tal comparação, onde foi possível
extrair uma largura de 92 m da base, 10 m a mais do que o cálculo proposto,
representando um acréscimo de 12% na dimensão necessária.
Apesar de não saber como tal valor foi obtido, o que causa uma indagação é
que o memorial descritivo apresenta os mesmos quantitativos nos critérios que foram
utilizados nos cálculos elaborados, um coroamento de 5 m (a divergência do valor é
no projeto executivo), inclinações de taludes idênticas tanto de montante, 3:1, como
de jusante, 2,5:1, e uma altura do barramento de 14 m, que com a simples substituição
na fórmula mencionada iria alcançar a largura de 82 m, como foi apresentado.
Por conseguinte, vale ressaltar que o superdimensionamento da largura da
base acarreta gastos consideráveis no custo total da obra, tendo em vista que o
volume de aterro do maciço movimenta um aporte relevante das despesas na parte
de terraplanagem, bem como, influencia no comprimento das obras acessórias:
sangradouro, descarga de fundo e tomada d’água, encarecendo ainda mais os custos.
Na questão da descarga de fundo a influência é maior, tanto no cálculo do
diâmetro, que a largura da base é utilizada como parâmetro para o cálculo, como no
comprimento, tendo em vista que o dispositivo atravessa todo o maciço para eliminar
a água a jusante do barramento.
Proteções
A barragem de terra é uma obra que requer atenção nesse tópico de proteções,
onde se faz necessário proteger seu maciço contra as intempéries das águas da
chuva, das pequenas ondulações das águas do reservatório, bem como, do tipo de
tráfego a que si destinará.
O primeiro critério para determinar os tipos de proteções é averiguar a
disponibilidade de materiais próximos, pois, a distância das jazidas vão definir a
viabilidade do que pretende-se empregar.
A proteção do talude de montante dá-se, normalmente, por Rip-Rap, que foi o
tipo de proteção adotada tanto pelos cálculos elaborados como pelo memorial
descritivo. O Rip-Rap consiste de uma camada dimensionada de blocos de pedra,
servindo de obstáculo à fuga dos materiais mais finos da composição do maciço.
52
como dito anteriormente, valores que são indispensáveis para a composição de custo
da obra.
A figura 10 apresenta o detalhamento da proteção do talude de jusante e do
coroamento, especificação necessária para os gestores que irão administrar a
construção da obra.
Por fim, apresenta-se, na figura 11, a barragem redimensionada com base nos
cálculos propostos elaborados:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa objetiva-se constituir diretrizes para o dimensionamento de uma
barragem de terra homogênea, tendo em vista a escassez da literatura sobre tal
assunto, que contemple de maneira sequencial e completa os procedimentos
necessários a serem considerados para obter êxito no cálculo de um barramento que
atenda aos critérios de segurança e custo benefício.
Inicialmente, explanou-se sobre a importância da água para manutenção da
vida humana, de forma direta e indireta, mostrando que é um bem finito e cada dia
mais escasso, evidenciando que, desde os primórdios, o homem busca aproveitar da
melhor forma possível o líquido precioso, seja habitando próximo as fontes existentes,
seja construindo reservatórios para acumulá-la.
A partir daí, apresentou-se conceitos de barragem, suas classificações, os
critérios de escolha que devem ser considerados para determinar o tipo a ser adotada,
e os elementos constituintes do barramento, que são informações relevantes para o
dimensionamento que expôs-se a seguir.
Buscou-se dissertar de maneira sucinta e objetiva os cálculos necessários para
estimar uma barragem de terra homogênea, e destarte, contribuir com o meio
acadêmico na elaboração de instruções a serem seguidas para obter as dimensões
do barramento.
Como as diretrizes descritas, refez-se os cálculos da Barragem Conceição, e,
procedeu-se uma análise técnica dos projetos que foram cedidos pelos responsáveis,
onde foi possível observar algumas lacunas.
O projeto da barragem foi elaborado sem a execução dos ensaios geotécnicos,
acredita-se que utilizaram como base algumas barragens que já foram executadas
nas redondezas, entretanto, vale ressaltar a importância desses ensaios em um
momento preliminar ao projeto, tratando de forma particular cada terreno e não
generalizando a região, podendo vir a comprometer a segurança e/ou o custo da obra,
devido a características inesperadas que distanciam-se ao que já foi ensaiado em
localidades próximas.
É de grande relevância a conscientização da individualidade de cada projeto,
respeitando suas particularidades, visando dimensionar de modo a minimizar os
gastos da construção e atendendo a segurança, sem minorá-la, nem
superdimensionar por ausência de estudos preliminares indispensáveis que
proporcionam melhor custo benefício, como também, não projetar de maneira
55
repetitiva, e de certo modo até negligente, apenas por ser uma barragem particular,
que muitas vezes não são nem computadas como existentes.
Nos resultados e discussões, verificou-se a incompatibilização dos projetos de
engenharia da barragem com seu próprio memorial descritivo, onde o projeto
executivo tinha medidas divergentes das que foram calculadas no memorial, e, como
dito, os gestores tomam como parâmetro as plantas no momento da construção da
obra, remetendo-se ao documento escrito apenas em caso de dúvidas.
Como também, observou-se um superdimensionamento de alguns elementos
da barragem, como, por exemplo, o sangradouro, a tomada d’água, a largura da base,
que acarreta uma elevação desnecessária no gasto final da obra, bem como, ausência
de quantitativos dos materiais das proteções do maciço, que são relevantes para a
composição dos custos finais do barramento.
Por fim, o trabalho finaliza atendendo aos objetivos a que se propôs, tanto geral
como específicos, apresentando diretrizes capazes de dimensionar uma barragem de
terra homogênea e expondo os cálculos que permitiram o redimensionamento da
barragem em estudo, embasado na doutrina vigente sobre o tema e nas informações
verídicas cedidas pelos responsáveis técnicos.
Como continuação da pesquisa, sugere-se a elaboração da planilha detalhada
de custo da barragem redimensionada e sua análise técnica comparativa com a
planilha de quantitativos e preços constante no memorial descritivo da barragem em
estudo.
56
REFERÊNCIAS
CARVALHO, David de. Barragens: uma introdução para graduandos. São Paulo:
FEAGRI, 2011.
COSTA, Walter Duarte. Geologia de barragens. São Paulo: Oficina de textos, 2012.
MATOS, Antônio Teixeira de; SILVA, Demetrius David da; PRUSKI, Fernando Falco.
Barragens de terra de pequeno porte. Viçosa: UFV, 2000.
MELLO, Flávio Miguez de. A história das Barragens no Brasil – CBDB: 2011.
Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgEhMAG/a-historia-das-
barragens-no-brasil-cbdb?part=2>. Acesso em: 20 abr. 2018.
TOMAZ, Plínio. Capítulo 88: pequenas barragens de terra. In: Curso de manejo de
águas pluviais - 2011. Disponível em:
<http://www.pliniotomaz.com.br/downloads/livro_calculos/capitulo88.pdf>. Acesso
em: 18 out. 2017.
57
H2 −(400H)+230.000
R% = = 18,19% = 0,1819
55.000
Onde: R% = 0,1819;
H = 1,1 m;
U = 0,8;
A = 1.226.619,72 m².
- Capacidade do reservatório
1.150 A
Q= = 9,28 m³/s.
(√LC)x (120+(KLC))
L = 1,5 km;
C = 1,05;
K = 0,278.
- Vazão de demanda
TABELA COTA-ÁREA-VOLUME
VOLUME VOLUME
ALTURA COTAS ÁREA (m²)
PARCIAL (m³) ACUMULADO (m³)
0 51 23,97 11,99 11,99
1 52 866,40 445,19 457,17
2 53 2.746,06 1.806,23 2.263,40
3 54 5.525,11 4.135,59 6.398,99
4 55 10.271,95 7.898,53 14.297,52
5 56 18.366,23 14.319,09 28.616,61
6 57 25.122,78 21.744,51 50.361,11
7 58 32.357,56 28.740,17 79.101,28
8 59 41.415,83 36.886,70 115.987,98
9 60 50.082,92 45.749,38 161.737,35
10 61 60.263,19 55.173,06 216.910,41
11 62 71.290,66 65.776,93 282.687,33
12 63 83.474,00 77.382,33 360.069,66
13 64 99.795,16 91.634,58 451.704,24
14 65 118.328,15 109.061,66 560.765,90
15 66 136.473,92 127.401,04 688.166,93
16 67 155.431,17 145.952,55 834.119,48
FONTE: elaborado pelo autor (2017)
Onde:
= cota da altura da lâmina de água represada;
= cota que foi posicionada a descarga de fundo.
60
700.000,00 688.166,93
600.000,00
Volume Acum.(m³)
560.765,90
500.000,00
451.704,24
400.000,00
360.069,66
300.000,00
282.687,33
200.000,00 216.910,41
161.737,35
100.000,00 115.987,98
79.101,28
50.361,11
28.616,61
14.297,52
0,00 457,17
11,99 6.398,99
2.263,40
50 55 60 65 70
Altura Lâmina da àgua (m)
H = Hn + He + f = 14 m
61
Onde:
Hn = 12 m;
He = 1 m;
f = 1 m.
- Folga (f)
4
h = 0,75 + 0,34√𝐿 – 0,26 √𝐿 = 0,88 m
Onde: h = 0,88 m.
𝑉²
f = 0,75h + = 1,2 m
2𝑔
Para pequenas barragens, tem-se adotado, na prática, uma folga de 1,0 a 1,5
m. Neste cálculo, considerou-se uma folga de 1,0 m.
Onde: H = 14 m.
b = c + (Zm + Zj) H = 82 m
Onde: c = LC = 5 m;
Zm = 3;
Zj = 2,5;
H = 14 m.
- Extravasador
Qmáx
Ls = = 5,24 m ≅ 5,5 m
1,77 x He x √He
He = 1,0 m.
- Descarga de fundo
10,641×𝑄1,85 1/4,87
𝐷=[ ] = 1,09148 ≅ 1,0 m = 1.000 mm
𝐶 1,85×𝐽
Onde:
Q = 9,28 m³/s;
C = 120;
Hn = 10 m;
b = 82 m.
- Tomada d’água
Como trata-se de uma barragem pequena, será considerada uma mesma
estrutura para tomada d’água e descarga de fundo, situada na cota 53, a 2 m de altura.
10,641×𝑄1,85 1/4,87
𝐷=[ ] = 0,136804 m = 136,8 mm = 150 mm (diâmetro comercial)
𝐶 1,85 ×𝐻𝑙/𝐿
Onde:
Q = 0,05556 m3/s;
C = 120;
Hl = 10;
L = 86.
- Tapete drenante
a) linha freática:
Y0 = √H² + d² – d = 9,86 m.
64
Onde: H = 14 m;
d = LC = 5 m.
𝒀𝒐 𝜶
𝐚 = (𝟏−𝒄𝒐𝒔(𝜶)) × (𝟎, 𝟓 + 𝟑𝟔𝟎° ) = 75,98 m.
Onde: ∝ = 22º;
b) vazão de infiltração:
Onde:
KV = 2,2 x 10-7 m/s;
Kh = 3,3 x 10-7 m/s;
a = 75,98 m;
∝ = 22°.
c) altura capilar:
0,297
ℎ𝑐 = = 99 mm
𝑑
1
sendo, d = D10 = 0,003 mm
5
Observação: em D10 foi utilizado valor hipotético pela ausência dos ensaios
geotécnicos.
65
𝟏 𝒉𝒄 𝒉𝒄 𝟐 𝒉² 𝟏 𝒉²
𝑳𝒕 = × [𝒃 + − √(𝒃 − ) − 𝒌²] + 𝟒 × ( )≅5m
𝟐 𝒌 𝒌 𝟏 𝒉𝒄 𝒉𝒄 𝒉²
[𝒃− {{𝒃+ −√(𝒃− )²− }]
𝟐 𝒌 𝒌 𝒌²
Onde:
b = 40 m;
k = 1:3;
hc = 0,099 m;
h = 12 m.
- Rock Fill
𝐻
Rf = = 4,67 ≅ 5 m
3
Onde: H = 14 m.