Você está na página 1de 7

2 (1), 2007

revista educação

A unidade necessária entre o ensino e a pesquisa em história.

The necessary teaching and research unit in history.

Everaldo de Oliveira Andrade

Resumo: As áreas de ensino e a pesquisa em História embora façam parte de um mesmo núcleo comum
de reflexões, comportam atualmente um espaço de importantes polêmicas. Nos limites deste artigo
pretende-se apresentar as linhas gerais destes debates: licenciatura e bacharelado, ensino e pesquisa,
relação universidade-educação básica, que longe de afetarem apenas o ambiente propriamente acadêmico
e universitário, dizem respeito a questões reais e vivas com as quais se confrontam os professores e
pesquisadores em História nas diferentes dimensões da sua atividade profissional.

Abstract: Although the areas of education and research in History are part of the same common
nucleus of reflections, they behave presently in a space of overwhelming controversies. This article attempts
to present the general lines of such debates, that far from affecting only the proper academic and college
environments, says something about real and questions with which both professors and researchers of
History confront themselves as they venture in different dimensions of the professional activities.

Palavras-chave: Ensino de historia. Professor-pesquisador. Licenciatura de história.

Keywords: History education. Teacher-researcher. History teacher.

O ensino de história no Brasil sofreu profun- básicos, os processos de inovação eram limita-
das mudanças com o fim da ditadura militar em dos, senão contraditórios. A ampliação da escola-
1985, mas o processo de renovação dos estudos rização nos anos 1970 foi acompanhada da cria-
históricos começou antes e de forma descom- ção das licenciaturas curtas em estudos sociais a
passada nos seus diferentes níveis de ensino. partir de 1972, incorporando história e geografia
Assim, enquanto nas universidades e nos cursos num único curso universitário, o que desqualifica-
de pós-graduação já se desenvolviam as rupturas va as especificidades do conhecimento histórico.
com o positivismo expresso na história factual e A proposta esvaziava e descaracterizava a função
elitista, incorporando inovações metodológicas e do professor de história na opinião de numerosos
temáticas desde a década de 1960, na área de autores da época. O movimento que propôs a su-
formação de professores voltados para os níveis peração da dicotomia licenciatura versus bacha-

Professor doutor, diretor do curso de história da UnG


Avenida Anton Philips, 1 Prédio A, 1o andar
6424-1616 (ramal 126)
eoandrade@ung.br

revista educação 18
2 (1), 2007

revista educação

relado, com a integração entre ensino e pesquisa toriadores que buscavam a cientificidade para
(trazendo para a formação de professores as ino- suas abordagens historiográficas. Buscava-se dar
vações dos cursos superiores), guardava relação continuidade às reflexões de Michel Foucault, um
com a resistência ao estabelecimento desses cur- dos autores utilizados para questionar o caráter
sos de licenciatura curta. Tratava-se de reconhe- emancipatório da escola e a noção de verdade
cer um campo de atuação comum como base para objetiva presente no conhecimento transmitido.
diferentes possibilidades de atuação profissional, Para essa abordagem relativista, o conheci-
que possuía como origem comum a concepção de mento só pode ser avaliado no contexto cultural
ensino e pesquisa intrinsecamente ligados. Essa em que é produzido. Porém, se todos os dis-
questão também estava ligada às propostas de re- cursos fossem igualmente justificados, a busca
gulamentação da profissão de historiador. pelo aperfeiçoamento e pelo desenvolvimento
Assim, a década de 1980 foi marcada por da reflexão histórica se tornaria irrelevante. O
tentativas de ajustes de conta entre as pesquisas relativismo impede ou dificulta a existência de
de ponta em história nas universidades e o ensino qualquer referência didática para o estudo da
na educação básica. O ambiente de redemocrati- história no ensino básico. De outro lado, o his-
zação marcou o período, trazendo propostas que toriador neomarxista inglês Edward Thompson
buscavam fazer da disciplina história um instru- foi utilizado como apoio para as iniciativas que
mento de conscientização que permitisse ao aluno propunham a construção de uma história do co-
entender e agir sobre a realidade vivida. Em 1986, tidiano como alternativa ao abandono dos pe-
o ponto culminante desses debates se cristalizou ríodos lineares da história (história antiga, me-
em São Paulo na proposta inicial da Coordena- dieval, moderna, contemporânea).
doria Estadual de Normas Pedagógicas (Cenp), O referencial de trabalho dos professores de
órgão da secretaria de estado da educação, que, história passou a ser marcado pelas propostas de
em linhas gerais, visava à renovação das formas descartar os livros didáticos e abolir a história cro-
de ensinar história. A proposta envolveu uma nova nológica factual, substituídos pelo ensino de história
geração de professores que buscavam superar a com base em eixos temáticos e materiais didáticos
história factual baseada na memorização por meio alternativos. Nesse sentido, a partir da experiência
de novas alternativas pedagógicas, recusando a dos alunos é que se construiriam as relações en-
simples transmissão dos conhecimentos consa- tre presente, passado e presente. No entanto, na
grados e prontos, objetivando fazer do espaço pe- ausência completa de qualquer referencial crono-
dagógico um lugar de luta social em que o aluno lógico, a possibilidade de trabalhar a história com
se visse como sujeito do seu conhecimento e da base na noção de processo também era sacrifica-
sua história presente. A proposta da Cenp surgia da. Com isso, mesmo as sugestões para utilização
aparentemente com uma imagem progressista e didática da história comparativa a partir de eixos ou
inovadora, embora seus pressupostos teóricos e temas (como a escravidão na antiguidade romana
suas conseqüências práticas não fossem nítidos e no Brasil colonial) se inviabilizava na prática, pois
para muitos professores (Gusmão, 2003). os alunos não possuíam referenciais para efetivar
A Cenp propunha a pesquisa do aluno qualquer comparação. Desse modo, rompia-se
como referencial de aprendizagem. As bases te- qualquer diálogo entre o conhecimento histórico
óricas das inovações sugeridas estavam ligadas existente e a realidade do aluno.
aos autores do pós-modernismo, que, nas áreas Essas propostas foram questionadas não
de humanidades, relativizavam noções de cien- apenas pelos críticos do pós-modernismo, mas
tificidade, de busca da verdade e do estabeleci- também por aqueles que defendiam uma peda-
mento de leis de explicação da dinâmica social. gogia popular. A proposta para o ensino de his-
Na área de história, essas idéias se opunham a tória da Cenp opunha-se ao legado pedagógico
muitos dos pressupostos que orientavam os his- de Paulo Freire (2003), principal representante da

revista educação 19
2 (1), 2007

revista educação

pedagogia popular. Para esse autor, não se tra- gressão do aluno nos limites de sua zona poten-
ta de negar o conhecimento científico, erudito ou cial de aprendizagem.
universitário em nome do aperfeiçoamento peda- Outro aspecto desse debate encontra-se
gógico permitido pela proximidade com temáticas na proposta de um grupo específico de pesqui-
do cotidiano do aluno. Ao contrário, seria neces- sadores que discordam da identidade comum
sário sempre estabelecer o diálogo entre a cultura entre as áreas de ensino e pesquisa em história.
erudita e a popular: Entre eles, Kátia Maria Abud (2006), autora re-
Para o educador, educando, ferencial nos debates sobre ensino de história,
dialógico, problematizador, o conteú- afirma que “as características da história ensi-
do programático da educação não é nada permitem que ela se estabeleça como um
uma doação ou imposição (um con- novo campo de pesquisa que se afasta da matriz
junto de informes a ser depositado disciplinar em pontos fundamentais”. Equivoca-
nos educandos), mas uma devolução damente, a autora opõe o desenvolvimento da
organizada, sistematizada e acres- consciência histórica por meio do aprendizado,
centada ao povo daqueles elemen- da ciência histórica:
tos que este lhe entregou de forma (...) a ciência histórica mantém
desestruturada. A educação autênti- um quadro de referências de interpre-
ca, repitamos, não se faz de A para tação e de regras de procedimento de
B ou de A sobre B, mas de A com acordo com as quais as teorias são
B, mediatizados pelo mundo. Mundo concretizadas pela experiência histó-
que impressiona e desafia a uns e a rica. O ensino de história tem como
outros, originando visões ou pontos perspectivas orientadoras as teorias
de vista sobre ele. do aprendizado histórico, que explica
o processo evolutivo da consciência
A proposta que busca construir o conhe- histórica dos adolescentes, cuja for-
cimento a partir da sala de aula e da pesquisa mação é objetivo maior no ensino de
do aluno aparentemente se apresenta como pro- história.
gressista, democrática e inovadora, questionan-
do não apenas a cientificidade e a objetividade, Contudo, a consciência histórica é um pro-
conteúdos consolidados pelo desenvolvimento da cesso social e coletivo que pressupõe uma rela-
ciência histórica, mas particularmente o diálogo ção dialética entre a experiência concreta e prática
proposto por Freire entre o conhecimento produ- dos indivíduos em sociedade e a reflexão teórica
zido no ensino superior e aquele emanado das permitida pela ciência histórica pelo conhecimen-
práticas pedagógicas na educação básica. Um to por ela sistematizado. O professor de história é
conjunto de pesquisas recentes demonstrou a o agente de contato entre as duas esferas, permi-
existência de uma progressão lógica no desen- tindo que o conhecimento prévio do aluno se con-
volvimento da compreensão, da explicação e do solide em contato com a ciência histórica. Para
raciocínio histórico de jovens e crianças (Barca, Abud, no entanto, a nova disciplina “ensino de
2006). Essa progressão é possível pela interação história” teria como perspectiva “trabalhar a histó-
entre um conjunto de conhecimentos que o aluno ria vivida e experimentada no cotidiano, a história
traz da sua experiência de vida e a ação do pro- não experimentada, transmitida cientificamente
fessor, apresentando conceitos e explicações já ou não, além da história apresentada pela ciência
sistematizados do passado. O ensino de história histórica”. Para a autora, o conjunto da experiên-
apóia-se num conjunto de conceitos elaborados cia do cotidiano já se constitui como história. Ex-
por critérios científicos. Nesse sentido, o lugar do clui-se a problematização que constrói o conheci-
professor de história é central para permitir a pro- mento histórico. Trata-se de uma investida contra

revista educação 20
2 (1), 2007

revista educação

a trajetória que permitiu a história consolidar-se ais, à academia permaneceu cabendo


como área específica do conhecimento. o papel de pesquisar o ensino de his-
De fato, se há múltiplas formas de constru- tória enquanto à escola coube o papel
ção e transmissão do conhecimento histórico e de “praticá-la”. As pesquisas são feitas
se o aprendizado de história se confunde com o pelos professores universitários ou por
próprio cotidiano, é preciso se perguntar: existe a seus orientandos em programas de ini-
história? Sim, a construção do conhecimento his- ciação científica e pós-graduação.
tórico considera a experiência vivida, da qual, de
fato, partem as indagações do historiador ao pró- Certamente, essas deficiências existem.
prio passado. Entretanto, o conhecimento teórico Mas o caminho será renunciar a colaboração para
se consolida no diálogo do pesquisador com os avançar na divisão? A argumentação do autor
documentos e as fontes, sem os quais teríamos possui bases mais pragmáticas que teóricas para
apenas especulação e criação literária sobre o destacar diferenças que seriam intransponíveis à
passado. Assim, como afirmou o historiador Henri unidade do conhecimento histórico:
Marrou (1975): Universidade e escola como
O progresso do conhecimento permeáveis, e essa permeabilidade é
realiza-se através desse movimento constituída primeiro pelo posicionamen-
dialético, circular, ou melhor, helicoi- to dos envolvidos em ter como desejo,
dal, no qual o espírito do historiador como utopia, a superação da dicotomia
passa sucessivamente do objeto da entre os papéis de professor e pesqui-
investigação ao documento que cons- sador (...), mas os espaços de sua fron-
titui o seu instrumento e reciproca- teira estão dados, significam por vezes
mente. A pergunta que desencadeou a necessidade de coexistir com as ten-
o movimento não permanece idêntica sões entre “o pessoal da prática” e os
a si mesma. Ao contato dos dados do “teóricos da universidade”, das secre-
documento, não cessa de se transfor- tarias de educação e de instituições de
mar. pesquisa e normatização da educação.
(Cerri, 2006)
A divisão da área de história na perspectiva
de criação da especificidade do “ensino de histó- Avançando na mesma direção, o autor pro-
ria” também é uma das questões centrais de Luiz põe a divisão e a diluição não apenas da história
Fernando Cerri (2006), para quem a “especifici- e do seu campo específico de trabalho, mas dos
dade desse saber é conjugar as duas preocupa- espaços específicos de construção e de transmis-
ções: correlação educativa com saber histórico”. são do saber (como a escola e a universidade),
O autor busca enfatizar as diferenças entre: saber além da profissionalização que permite consoli-
histórico e ciência histórica, ensino de história e dar a área. para o autor, trata-se não apenas de
história, professores de história e historiadores. relativizar a ciência histórica. O próprio ensino de
Para ele, trata-se de se adaptar às deficiências história deveria ser relativizado:
das redes de ensino em sua relação difícil com É importante compreender a
a produção acadêmica, render-se à realidade su- história que se aprende fora da rela-
postamente intransponível da colaboração entre ção pedagógica escolar, porque esta
universidades e educação básica: é apenas um dos componentes do
(...) a lógica do sistema educa- aprendizado da história por parte dos
cional infelizmente não obedece aos alunos: muitas das suas noções e va-
desejos do grupo que milita nessa lores sobre o tempo, sobre a identida-
área, e, fora algumas exceções pontu- de, sobre o passado são aprendidos

revista educação 21
2 (1), 2007

revista educação

antes, fora e concomitantemente ao res e pesquisadores em história. segundo Maria


ensino formal. Os alunos chegam à Carolina Galzerani (2006), a maior parte dos do-
escola já carregados de uma história cumentos governamentais que orientam a forma-
cujo aprendizado não foi controlado ção dos professores de história, com orientação
pelo professor ou pela escola, mas que distinta da formação de bacharéis, estaria volta-
teve origem na experiência pessoal, no da para consolidar uma situação de flexibilização
convívio com os mais velhos, na práti- permanente do emprego. Dois documentos ser-
ca da religião, no contato diário com os vem de bases para essas afirmações: os Parâme-
meios de comunicação. (Cerri, 2006) tros Curriculares Nacionais (ensino fundamental
e médio) para a área de história, de 1997 e 1998,
evidentemente, trata-se de uma argumen- e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a For-
tação relativista desenvolvida a partir da orien- mação de Professores da Educação Básica, de
tação teórica dos pós-modernistas. Porém, o co- 2001. Esses documentos teriam coerência com
nhecimento histórico como ciência sistematizada os ideais de globalização, liberalização e desre-
não deve ser confundido com as experiências vi- gulamentação da economia e do emprego. Nessa
vidas, que são múltiplas no tempo e no espaço. perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais
As experiências dos indivíduos podem favorecer para a Formação de Professores da Educação
o aprendizado da reflexão histórica (e devem ser Básica buscariam impedir a uniformização da for-
utilizadas didaticamente). A história, no entanto, é mação dos profissionais em história ao propor li-
um saber sistematizado, construído coletivamen- cenciaturas para a formação de professores com
te, que busca resgatar, por diferentes fontes, as identidade própria e distinta dos bacharelados,
experiências do passado para transformá-las em separando os campos específicos de produção
ciência histórica, em conhecimento novo, com- científica de saber daqueles supostamente dife-
provado, sistematizado e organizado, que, mes- rentes da formação dos professores de história, o
mo não sendo perene, é passível de ser transmi- que aprofundaria ainda mais o fosso entre o saber
tido pelos sistemas escolares por meio de uma produzido na universidade e aquele ensinado no
relação dialógica. Afirmar que toda experiência ensino básico, rompendo os laços frágeis entre
pessoal é um saber histórico seria diluir o conhe- esses dois elos.
cimento histórico como sociologia ou confundi-la O pensamento predominante na Associa-
com o jornalismo do cotidiano. Nesse sentido, o ção Nacional de História (Anpuh), particularmente
autor propõe a flexibilização completa do saber após a aprovação da nova Lei de Diretrizes e Ba-
histórico, a sua fragmentação: “(...) Estender as ses da Educação Nacional, em 1996, foi propor a
fronteiras para muito além da prática de ensino superação das divisões na área (ensino/pesquisa,
e da educação formal (...), assumir essa agenda professor/historiador, licenciatura/bacharelado). É
passa por aceitar o desafio de pensar ensino de importante pontuar ainda que, ao mencionar o
história não mais privilegiadamente na sala de perfil dos formandos em história, as diretrizes es-
aula e na escola”. pecíficas para os cursos de graduação em histó-
As propostas da Cenp eram apenas passos ria apresentam uma orientação unificada para os
iniciais. Estamos agora diante de uma ruptura de futuros profissionais:
natureza mais profunda e de conseqüências mais O graduado deverá estar ca-
dramáticas. As contribuições de Abud e Cerri, en- pacitado ao exercício do trabalho de
tre outros autores com orientação semelhante, historiador em todas as suas dimen-
para além das matrizes teóricas comuns que des- sões, o que supõe pleno domínio da
tacamos, guardam coerência e balizam um con- natureza do conhecimento histórico
junto de normas institucionais que mantêm uma e das práticas essenciais de sua
nebulosa ambigüidade na formação de professo- produção e difusão. Atendidas essas

revista educação 22
2 (1), 2007

revista educação

exigências básicas e conforme as professor. Como afirma Joana Neves (2006):


possibilidades, necessidades e inte- (...) a questão central nessa dis-
resses das instituições de ensino su- cussão é a relação ensino–pesquisa.
perior, com formação complementar Essa relação, no curso superior de
e interdisciplinar, o profissional esta- história, não deve ser simplesmente
rá em condições de suprir demandas teórica e formal ou tema para debates,
sociais específicas relativas ao seu mas deve constituir em expressão das
campo de conhecimento (magistério ações didáticas adotadas por todas as
em todos os graus, preservação do disciplinas do currículo. E essas ações
patrimônio, assessorias a entidades didáticas deverão ser tais que, ao lon-
públicas e privadas nos setores cul- go do curso de graduação, capacitem
turais, artísticos, turísticos, etc. o estudante para a produção do co-
nhecimento nos diversos campos e
De acordo com Galzerani, a perspectiva de áreas da história, tendo como efeito
dar ênfase às competências mais vinculadas aos sua qualificação para o exercício des-
sistemas de trabalho sobrevalorizaria a dimensão sa relação quando, como professor,
prática em detrimento da pesquisa e até mesmo atuar em outros níveis de ensino.
da relação entre teorias e práticas, apoiando-se
numa visão individualizada do próprio trabalho A relação entre professor e pesquisador,
e tendo como alvo somente a produtividade e a consagrada na formulação professor/pesquisa-
eficiência. além disso, a ênfase na técnica e nas dor, não significa subordinar, simplificar ou banali-
avaliações padronizadas tenderia a desqualificar zar o ato de ensinar em relação ao conhecimento
o espaço da reflexão, da dúvida e da investiga- científico. Trata-se de reconhecer a prática docen-
ção, que conduzem à construção do conhecimen- te como construção de conhecimento que implica
to. Como destaca a autora: reflexão, troca de experiências e produção siste-
(...) formar docentes na área de matizada de novos conhecimentos. Formar pro-
história é encará-los como produtores fessores de maneira desconectada da produção
de saberes específicos ao seu traba- do conhecimento científico significaria transformar
lho (a partir da orientação colocada o professor dos ensinos médio e fundamental em
em ação pelo docente da universida- mero transmissor de conhecimentos produzidos
de), isto é, como capazes de articular ou em organizador das experiências do cotidiano
saberes relativos às suas pesquisas e da memória histórica dos alunos, mas sem re-
historiográficas e educacionais aos ferenciais teóricos e científicos para seu trabalho.
saberes das práticas escolares ou O professor deve ser um mediador dos conheci-
educacionais lato sensu. mentos científicos e teóricos produzidos no ensi-
no superior e de práticas e conhecimentos surgi-
É preciso, de fato, resistir para garantir o es- dos na atividade pedagógica no ensino básico, na
paço para o pensamento reflexivo e criar um espa- ação criativa e dialógica que lhe permite formular
ço comum que supere a diferenciação artificial en- hipóteses e perspectivas novas para o avanço da
tre bacharelado e licenciatura e preserve o núcleo ciência histórica.
profissional e científico que dá identidade à área A formação única dos profissionais de his-
de história, permitindo um ensino de história efe- tória preserva o diálogo necessário entre a ciên-
tivamente inovador. Assim, na opinião de muitos cia sistematizada ou produzida na universidade e
autores, a efetiva consolidação da perspectiva uni- seu desenvolvimento criativo na educação bási-
ficada de formação do profissional de história deve ca. Não se trata, portanto, de separar a formação
estar inserida na própria formação universitária do pedagógica do professor da formação científica

revista educação 23
2 (1), 2007

revista educação

do historiador, mas de uni-las numa perspectiva seja a meta central dos cursos superiores de his-
formativa comum. O diálogo com a área peda- tória e condicione sua pedagogia. A capacidade
gógica deve ser muito mais profundo, permitindo pedagógica deve estar inserida na formação do
que, dialogando com a ciência histórica existente, próprio historiador, capacitando-o para o exercí-
a capacidade do aluno em todos os níveis de en- cio da pesquisa e do magistério como componen-
sino para a produção do conhecimento histórico tes indissociáveis.

Referências bibliográficas:

ABUD, Katia Maria. Combates pelo ensino de His- GALZERANI, Maria Carolina Boverio. Políticas pú-
tória, In: Arias Neto, José Miguel (org.). Dez anos blicas e ensino de História. In: Arias Neto, José
de pesquisa em ensino de história. Londrina: Miguel (org.). Dez anos de pesquisa em ensino
Finep, 2006. p. 55-56. de história. Londrina: Finep, 2006. p. 157-167.

BARCA, Isabel. Educação histórica: uma nova GUSMÃO, Emery Marques. Memórias de quem
área de investigação. In: Arias Neto, José Mi- ensina história. São Paulo: Editora da Unesp,
guel (org.). Dez anos de pesquisa em ensino de 2003.
história. Londrina: Finep. p. 15-25.
MARROU, H. I. Do conhecimento histórico. São
CERRI, Luis Fernando. Didática da história: uma Paulo: Martins Fontes, 1975.
geografia do saber histórico nas sociedades. In:
Arias Neto, José Miguel (org.). Dez anos de NEVES, Joana. A graduação em história: etapa
pesquisa em ensino de história. Londrina: Fi- do ensino de história voltada para a formação do
nep, 2006. p. 136-144. professor/pesquisador. In: Arias Neto, José
Miguel (org.). Dez anos de pesquisa em ensino
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São de história. Londrina: Finep, 2006. p. 60-76.
Paulo: Paz e Terra, 2003.

revista educação 24

Você também pode gostar