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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

BULLYING: UMA ANALISE COMPARATIVA DA INCIDÊNCIA


ENTRE ALUNOS DA QUINTA E OITAVA SERIE

BULLYING: A COMPARATIVE ANALYSIS OF INCIDENCE BETWEEN


PUPILS OF THE FIFTH AND EIGHTH SERIES

Cinthia Perdoncini¹
Elizangela Rozanski¹
Jocilaine F. Ferreira¹
Keila F. do Nascimento¹
Willian R. do Amaral¹
Cloves Amorim²

RESUMO

O fenômeno bullying é uma das formas mais recorrente de violência escolar. O objetivo desta
pesquisa foi comparar a incidência do bullying em alunos da quinta série com alunos da oitava
série, numa escola pública estadual de um bairro periférico da cidade de Curitiba – PR.
Participaram 40 alunos, com idades entre 10 e 16 anos, sendo que 53% é do sexo masculino e 47%
do sexo feminino nas 5º series, e nas 8º series 57% são do sexo masculino e 43% do sexo feminino
Nomes ofensivos, intrigas e exclusão são as formas mais freqüentes de conduta agressiva; enquanto
que a agressão física, humilhação e nomes ofensivos caracterizam as agressões assistidas nas duas
últimas semanas. A motivação principal foi vingança Conclui-se que a freqüência do bullying não
diminui com o avanço das séries, mas modifica de físico para social ou indireto.

Palavras–Chave: Bullying, violência entre pares, agressividade, alunos.

ABSTRACT

The bullying phenomenon is one of the most recurrent of school violence. The goal of this research
was to compare the incidence of bullying in the fifth grade students with students from the eighth
grade, public school State a peripheral district of the city , Curitiba-PR.40 students Participated,
with ages ranging from 10 years to 16 years, of which 53% is male and 47% females in series 5, and
8 series 57% are male and 43% female. Offensive Names, intrigues and exclusion are the most
frequent forms of conduct aggressive; while the physical aggression, humiliation and offensive
names characterise the assisted assaults in the last two weeks. The main motivation was revenge. It
is concluded that the frequency of bullying does not diminish with the advance of the series, but
modifies physical to social or indirect.

Key Words: Bullying, peer violence, aggression, students.

1
Acadêmicos do Curso de Graduação em Psicologia da Faculdade
Evangélica do Paraná. Aprovado em: 05/03/2012
2 Autor para correspondência: Cloves Amorim
Mestrando em Educação PUCPR (2011) Professor Titular da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná e da Faculdade Contato: cloves.amorim@pucpr.br
Evangélica do Paraná.

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INTRODUÇÃO

O termo Bullying surgiu em meados de 1970, quando as escolas demonstravam pouco


interesse pelo assunto e desvalorizavam suas consequências entre os estudantes. Em 1990, houve o
reconhecimento do problema e de suas consequências. Desde então, tornou-se alvo de inúmeras
pesquisas, sendo frequentemente exposto pela mídia de um modo geral, além de ser atualmente uma
das principais preocupações de pais, professores e alunos das escolas públicas e privadas.
O bullying define-se como o fenômeno pelo qual uma pessoa é sistematicamente exposta a,
um conjunto de atos agressivos e repetidos, que ocorrem sem motivação aparente, mas de forma
intencional, protagonizados por um ou mais agressores, causando dor, angústia e sofrimento numa
relação desigual de poder.
Atualmente é possível verificar na mídia a exposição do Bullying, representando a
importância que tem este fenômeno social, que pode surgir em diferentes contextos, como parte da
deterioração das relações sociais nos mais diversos níveis da sociedade, porém, centrada nas
escolas, entre crianças e adolescentes vítimas e agressores. Ambos com a necessidade de uma
intervenção multidisciplinar não apenas nas instituições de ensino, mas em todos os segmentos da
sociedade. (1)
O bullying tem sido considerado um problema mundial desde a década de 70, quando Dan Olweus
iniciou suas investigações nas escolas da época sobre os problemas encontrados entre agressores e
vítimas. Apesar das escolas não se interessarem pelo assunto, em 1989 surgiram os primeiros
resultados informados por Olweus e Roland. (2)
O interesse das instituições de ensino pelo assunto teria sido fortemente despertado quando
três rapazes entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio, o que parecia ter sido provocado por situações
intensas de bullying. Na década de 90, as pesquisas aumentaram consideravelmente na Europa, e
campanhas foram realizadas para reduzir a incidência de comportamentos agressivos nas escolas. (3)
Para Severo, o fenômeno de “bullying” é, atualmente, uma das formas mais recorrentes de
violência na escola. (4)
É possível identificar na literatura atual pelo menos duas ou três classificações básicas para
o Bullying. Martins, citado por Antunes e Zuin(5), identifica o Bullying em três tipos. Segundo a
autora, baseando-se no estudo teórico de produções na área, o que se chama por Bullying é dividido
da seguinte maneira: Diretos e físicos, que inclui agressões físicas, roubar ou estragar objetos dos
colegas, extorsão de dinheiro, forçar comportamentos sexuais, obrigar a realização de atividades
servis, ou a ameaça desses itens; diretos e verbais, que incluem insultar, apelidar, “tirar sarro”, fazer
comentários racistas ou que digam respeito a qualquer diferença no outro; e indiretos que incluem a
exclusão sistemática de uma pessoa, realização de fofocas e boatos, ameaçar de exclusão do grupo
com o objetivo de obter algum favorecimento, ou, de forma geral, manipular a vida social do
colega. (5)
Todos os atos violentos encontrados nestes três níveis são também mencionados por outros
autores, como Lisboa e Maciel, mesmo nas situações onde não ocorre uma hierarquização dos atos
que podem constituir a agressividade que engloba o fenômeno. (3-6)
O Bullying como fator de deterioração nos diversos níveis de relações tem sido focado nas
escolas, onde geralmente crianças e adolescentes de nível fundamental são objeto de estudo do
problema. Para isto, diversos autores tem demonstrado ser a escola o local de maior incidência deste
fenômeno. (3, 7:9)
O bullying é definido como um subtipo de comportamento agressivo que gera atos
violentos, e na maioria das vezes, ocorre dentro das escolas. As vítimas geralmente possuem uma
posição mais fragilizada, ou uma postura que pode ser descrita como pouco sociável, inseguras,
com baixa autoestima, caladas e que não apresentam reação diante dos agressores. (3)
Uma pesquisa realizada por Severo (4) em uma escola do Rio Grande do Sul. Com 69
meninas (48,3%) e 74 meninos (51,7%), com idade média de 10,87 anos. Foi utilizado o Peer
Assessment que consiste em uma lista de trinta afirmativas que descrevem características
comportamentais de amigos/ colegas da sala de aula. Os resultados obtidos revelaram que 26,57%

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(n = 38) dos alunos da amostra já se envolveram em alguma situação de bullying. Em uma análise
interturmas, percebe-se que o padrão de número de vítimas e algozes varia, pois, em uma turma de
quinta série, havia mais algozes que vítimas, sugerindo que uma vítima pode ser agredida por mais
de um algoz. Em outras duas turmas (quinta e sexta séries), o número de agressores é menor que o
de vítimas, sugerindo que cada algoz tem mais de uma vítima. Finalmente, em uma turma da sexta
série, o número de agressores é igual ao de vítimas. Dentre os indivíduos que participaram de
episódios de bullying, ou seja, como vítimas ou como agressores, 73,69% eram do sexo masculino e
26,31% correspondiam ao sexo feminino. (4)
Uma das características marcantes nos atos agressivos que compõe este fenômeno é o abuso
de poder, o que nos fez verificar a presença do mesmo em outros segmentos da sociedade, além das
escolas. A explicação de Almeida, citado por Francisco e Libório (10), diz que: “Os maus tratos se
distinguem de outras formas de agressão por seu caráter repetitivo ou sistemático, pela intenção de
causar danos ou prejudicar alguém; que é habitualmente percebido/a como mais fraco/a ou está em
uma posição fragilizada e dificilmente pode se defender. A recorrência, a intencionalidade e a
assimetria caracterizam as situações de agressão como abuso de poder, no entanto, também pode
acrescentar-se que estes comportamentos e atitudes não são necessariamente provocados pelas
vítimas”. (10).
As características dos atos agressivos encontrados no bullying, principalmente os verbais e
indiretos, são muito parecidas com os atos encontrados no assédio moral que ocorre no local de
trabalho. Este se diferencia do bullying em decorrência do termo, que no inglês foi utilizado para
descrever as mesmas situações de constrangimento no trabalho, só que com crianças e adolescentes
nas escolas. (6)
Segundo um estudo realizado por Francisco e Libório(10) em duas escolas públicas de
Presidente Prudente – SP, com alunos do ensino fundamental. Uma das escolas localiza-se na região
periférica da cidade. Os alunos desta escola viviam no mesmo bairro e conviviam além dos muros
da escola. Na outra escola, que ficava localizado no centro da cidade, os alunos se relacionavam
apenas durante o período de aulas. A pesquisa foi realizada com 283 sujeitos, alunos das duas
escolas públicas selecionadas, com autorização do Dirigente regional de Ensino. O questionário
aplicado tinha 28 questões de múltipla escolha e duas questões abertas, e era uma adaptação de
estudos de Elliot (1992) e Olweus (1991). De um modo geral cerca de 13,90% dos participantes da
pesquisa encaixaram-se no perfil de vítimas de bullying, sendo que nas 5as séries da escola da
periferia, 17,00% dos entrevistados encaixaram-se no perfil de vítimas, e na escola central, esse
número equivale a 12,80% dos participantes da pesquisa. (10)
Esta pesquisa mostra que possivelmente os fatores econômicos, sociais e culturais estão
relacionados com uma incidência maior de vitimização na periferia, mas não é possível dizer que
essas sejam as únicas causas. Outros fatores como temperamento, influências familiares, de colegas,
da escola e da comunidade devem ser considerados. Outro fator importante a ser considerado é uma
das principais características das vítimas dos atos violentos, que é a falta de reação diante das
agressões, o que dificultaria inclusive à identificação e consequentemente a prevenção e combate às
agressões. (11)
Outra questão importante considerada aqui são as implicações que as vítimas vão ter de
enfrentar diante das situações constrangedoras geradas pelo bullying. Segundo um estudo realizado
por Carlyle e Steimanman, citado por Severo (4), os sintomas depressivos e abuso de substancias
eram mais frequentes em meninas, do que em meninos: “Uma das possíveis explicações para esta
diferença é que, embora as vítimas do sexo masculino sejam mais frequentes, as meninas tendem a
utilizar formas psicológicas de agressão, como ocorre no bullying indireto, o que leva a produzir
efeitos mais prejudiciais ao indivíduo do que as formas de violência direta, como em situações de
agressões físicas”. (4)
Então, o fato de meninas utilizarem as formas mais sutis, fica difícil identificar a ocorrência
de Bullying entre meninas. “Ressalta-se a importância de pesquisas que avaliem, além da presença
de situações de bullying, o impacto das consequências deste para suas vítimas” (4). Nesta pesquisa,
ao serem analisados os comportamentos pró-sociais dos meninos, estes apresentaram escores mais

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elevados do que as meninas, contrapondo achados de outros estudos anteriores e a literatura até
então publicada. As consequências encontradas foram baixa autoestima e prejuízos sociais e
escolares. Então observou-se que o bullying pode trazer ainda efeitos mais sérios, “como o
desenvolvimento de psicopatologias, como a depressão, a Fobia Social e, até mesmo, a tentativa de
suicídio para aqueles indivíduos que são vitimizados, assim como a manifestação de Transtorno de
Conduta (na adolescência) e o Transtorno da Personalidade Antissocial na vida adulta”. (4-12)
Como vemos acima o desenvolvimento de psicopatologias e alguns transtornos como as
intenções homicidas e suicidas, são consequências drásticas que o bullying quando praticado de
forma intensa e constante pode provocar. (2)
As formas de combate e prevenção do bullying em qualquer contexto cultural depende(4) de
diversos fatores como uma intervenção multidisciplinar nos agressores e nas vítimas de Bullying, e
a busca incessante por métodos preventivos que visem proteger o desenvolvimento emocional, e a
saúde mental destes indivíduos. A escola contribui ensinando e denunciando toda e qualquer prática
de violência física e psicológica, delimitando seu espaço como sendo apropriado apenas para
ensino-aprendizagem. A negação deste fenômeno por parte de escolas e instituições de ensino
apenas contribui para que o problema da violência se espalhe de forma sutil à outras esferas sociais
como a família, gerando traumas e doenças emocionais que impedirão o desenvolvimento saudável
de crianças e adolescentes. Somente ações preventivas podem, de forma objetiva minimizar as
consequências deste fenômeno nas escolas, e maximizar os resultados mais positivos em relação à
qualidade do ensino e à proteção da saúde dos alunos no seu estado psicológico.(4)
Lopes Neto (1) ressalta que “é obrigação dos educadores, profissionais da saúde e familiares
atentarem e identificarem possíveis situações de dificuldades entre a criança e/ou adolescente com
os jovens de seu convívio social”. (1)
Guzzo, citado por Severo (4), também afirma que a escola tem um papel fundamental na
prevenção e combate aso atos agressivos que caracterizam o bullying: “Dessa maneira, ressalta-se a
importância de que esses comportamentos agressivos, manifestados pelas crianças e adolescentes,
sejam combatidos prioritariamente na escola, uma vez que intervenções corretivas ou terapêuticas,
que focalizem a pessoa individualmente, sem trabalhar seu contexto de vida, são ineficientes” (4).
Os estudos verificados através da presente pesquisa indicam que o bullying está bastante
presente na sociedade atual, principalmente nas escolas, e que muitos jovens estão expostos a
situações em que o risco de se tronarem vítimas deste fenômeno é bastante regular. A escola, lugar
onde os alunos devem aprender a se desenvolver, e a exercer a cidadania, tem se tornado em alguns
casos, em um lugar de exposição ao risco de sofrer violência.
A abordagem psicológica é tão importante porque em conjunto com o aperfeiçoamento de
técnicas de manejo dos profissionais de educação, e se fazendo presente nas escolas, pode
proporcionar aos alunos a possibilidade de intervenção, através da qual se busque a modificação ou
a não perpetuação desses comportamentos agressivos ou antissociais. Esta pesquisa tem como
objetivo identificar qual é a incidência de Bullying em alunos da quinta série e oitava série.

MÉTODO

Participantes: A amostra foi composta por duas turmas do ensino fundamental, de ambos os sexos,
de 10 a 14 anos, alunos da quinta e da oitava serie.

Instrumento: Foi realizada aplicação do Inventário de Bullying Freire, Simão e Ferreira(13).


Através deste instrumento foi possível identificar as vítimas e os agressores de Bullying entre os
estudantes. O questionário contém 22 itens de múltipla escolha e duas questões abertas, para medir
a relação que as crianças e adolescentes tem com o tema e se conseguem identificar se são
agressores ou agredidos. Este questionário contém 4 itens que são de opção sim ou não, 2 itens com
2 opções de resposta, 4 itens com 4 opções de resposta, 3 itens com 5 opções de resposta, 1 item
com 11 opções de resposta, 1 item com 6 opções de resposta podendo escolher mais de uma opção,

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3 itens com 7 opções de resposta podendo escolher mais de uma opção e 2 itens com 11 opções de
resposta podendo escolher mais de uma opção. Existe também 10 opções de resposta como “outros”
onde nestes casos deve-se justificar a resposta. (13)

Procedimento: O estudo seguiu princípios éticos, foi primeiramente estabelecido contato com a
direção da escola, a fim de explicar o objetivo da pesquisa e pedir a autorização para realizá-la.
Obtida a autorização agendou-se o dia da aplicação, No dia da aplicação da pesquisa, antes de seu
início, foram fornecidas instruções claras aos entrevistados sobre a melhor forma de discorrer sobre
o tema, bem como o tempo que terão para fazê-lo. Solicitou-se a entrega do termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE), assinado pelo pai ou responsável.

Análise de Dados: Para os itens com resposta Likert, o desempenho dos participantes foi analisado
com o teste não-parametrico U de Mann-Whitney. Os itens dicotômicos foram analisados com o
teste de Fisher, além disso, foram utilizados gráficos de intervalo de confiança da média e estatística
descritiva, considerando os dados sociodemagráficos. O valor de α proposto foi de 5%.

RESULTADOS

Este estudo consistiu em verificar qual a incidência de Bullying em alunos da quinta e oitava série.
Neste estudo participaram 40 alunos, sendo que 53% são do sexo masculino e 47% do sexo
feminino nas 5º series, já nas 8º series 57% são do sexo masculino e 43% do sexo feminino. Os
dados dos participantes também serão demonstrados como na tabela a seguir, a fim verificar a
frequência das idades (média de 14 anos, desvio-padrão de 0,7 anos para 8º series e média de 11
anos, desvio-padrão de 0,77 anos para 5º series).

Tabela 1. Distribuição de freqüência em função sexo e faixa etária.

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Ao se questionar o número de irmãos que os participantes têm, 8% afirmaram que não tem
irmãos, 47% tem um irmão, 30% tem dois irmãos, 10% tem três irmãos e 5% tem quatro ou mais
irmãos.
Outro dado diz respeito ao bairro onde o participante reside, onde 73% dos participantes
residem no bairro Boqueirão, 13% no Xaxim, 3% no Sitio Cercado, 3% no Alto Boqueirão e 8% em
outros bairros.
A figura 1 representa as características que os participantes possuem segundo opinião,
podendo assinalar mais que uma opção.

Figura 1: Comparações das características dos alunos de 5º e 8º series.

Ao serem questionados sobre quem são seus melhores amigos, verificou-se que 52% dos
alunos informam ser da sua classe, 24% informaram ser da sua rua, 7% da igreja e 17% de outros
lugares. Dentre esses demais lugares, informaram ser de outras cidades e outras escolas.
Na pergunta seguinte os participantes foram questionados quanto a existência de pessoas
consideradas não amigos e 49% informaram que eles são da rua, 35% da classe, 4% da igreja e 12%
relativo a outros ou resposta em branco.
Quando questionados quais são os momentos mais agradáveis durante o período na escola,
42% informaram ser o momento do recreio, 27% a aula, 13% a saída, 10% a entrada e 8% outros
momentos. E quando foram questionados sobre os momentos mais desagradáveis, 42% dos
participantes responderam ser a aula, 20% a entrada, 15% a saída, 8% o recreio e 15% outros
momentos.
Na questão de número 10, foi questionado aos participantes se nas duas últimas semanas,
tinham sofrido determinadas agressões. Percebeu-se que a maioria sofre com agressões verbais,
seguidas por intrigas. A figura 2 apresenta o resultado das agressões que os participantes já
sofreram:

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Figura 2: Comparações das agressões sofridas nas duas últimas semanas.

Também foi questionado em que locais ocorrem as situações de agressões, 32%


responderam ser no recreio, 32% em sala de aula, 21% nos corredores e escadas do colégio, 11%
não respondeu, 3% na cantina e 3% responderam ser em outros lugares.
Quando questionados sobre as agressões que assistiram durante as duas ultimas semanas,
percebeu-se que a maioria dos alunos assistem o outro sofrer por agressões verbais, seguido pela
ação de agressão física, assim como ser humilhado e testemunhar roubo.
Na questão de número 16, procurou-se saber qual a atitude das testemunhas, frente a
agressões aos colegas. A figura 3 apresenta o resultado das atitudes das testemunhas:

Figura 3: Atitudes das testemunhas frente a agressões aos colegas.

Verificou-se que a maior parte das testemunhas não faz nada para ajudar a vitima, talvez
pelo fato de sentirem-se acuadas e com medo de se tornarem vitimas, onde segundo Antunes e
Zuin(5), há três tipos de Bullying que podemos identificar como: os diretos e físicos, os diretos e
verbais e os indiretos, que incluem a exclusão sistemática de uma pessoa. Foi também identificado
que estas agressões são realizadas com 43% em grupo e 36% a pessoa sozinha. Foi levantado quais

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os locais em que testemunhavam a incidência das agressões, 43% informaram ser no recreio, 38%
na aula, 15% informaram ser em outro lugar e 5% não responderam.
Quando questionados se haviam perseguido ou agredido algum dos colegas nas duas últimas
semanas, 95% informaram que não e 5% que sim. Na figura 4 apresenta quais são as ações que
motivaram as condutas de agressividade:

Figura 4: Comparações das ações que motivaram as condutas de agressividade dos alunos de
5º e 8º series.

Ao serem questionados quanto aos sentimentos pelos colegas que agridem ou perseguem na
escola, percebeu-se que 24% sentem raiva, 20% sentem pena, 15% não sentem nada, 8% sentem
desprezo, 3% carinho, 5% responderam sentir outra coisa e 25% não responderam.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

O fenômeno Bullying é universal, variando sua freqüência, mas lamentavelmente o Brasil


foi reconhecido como campeão nesta prática. Bullying é o desejo consciente e deliberado de
maltratar uma pessoa e colocá-la sob tensão. O cenário do Bullying é composto pela vítima, pelo
agressor e pelas testemunhas. As vítimas são prudentes, sensíveis, tranqüilos,
reservados/introvertidos e tímidos; são ansiosos, inseguros, infelizes e com baixa autoestima. São
depressivos e apresentam maior tendência a ideação suicida do que os seus pares; normalmente não
tem um bom amigo e se relacionam melhor com os adultos do que com os seus pares; se são
meninos, normalmente são mais frágeis fisicamente do que os seus pares.
Enquanto os agressores são impulsivos e raivosos; apresentam pouca empatia como os
estudantes vitimizados; costumam ser desafiadores e agressivos com os adultos, incluindo pais e
professores; costumam apresentar outras condutas antissociais como vandalismo, delinquência e
consumo de drogas. Os meninos costumam ser mais fortes fisicamente do que o resto dos
companheiros em geral, e das vítimas em particular; não possuem problemas especiais com sua
autoestima. Um terceiro segmento são as testemunhas, Na compreensão de Fante e Pedra(14), “Eles
não sofrem e nem praticam bullying, mas sofrem as suas conseqüências, por presenciarem
constantemente as situações de constrangimento vivenciadas pelas vítimas”.
A figura 1, que representa as características dos participantes do estudo, já sugere que os
alunos da quinta série são mais espontâneos e menos controlados pelo mecanismo da desejabilidade

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social. Provavelmente ao responder que se achem bonitos e seguros, caracterizam ainda o momento
do ciclo vital da pré- adolescência. Enquanto os adolescentes são mais sensíveis à expectativa
social e por isso mais vulneráveis a opinião do grupo, seja favorável, seja hostil.
Ao analisar as condutas violentas se observa que os alunos das oitavas séries tem sido mais
submetidos à violência psicossocial (bullying indireto): Nomes feios, intrigas e exclusão e mágoa.
Segundo Beane(15) “Quando os pais pensam sobre o bullying, a maioria imagina maus-tratos
físicos e verbais. Não percebem que a agressão também pode ser social ou relacional”. O autor cita
como exemplo excluir o indivíduo de um grupo, constrangimento e humilhação.
Na figura 2 pode-se observar que o extravio de objetos e mesmo o roubo é mais frequente na
quinta série, enquanto calúnias e intrigas são mais frequentes na oitava série. Pode-se inferir que na
oitava série se encontra mais a dimensão social, que caracteriza as agressões “diretas e verbais, e
indiretas.”(5)
Apesar da baixa freqüência, pode se afirmar que as conseqüências são dolorosas e resultam
em sequelas para toda a vida. É necessário estar atentos aos agressores e às vítimas, porque os dois
grupos precisam de ajuda. Outro dado relevante é o local onde ocorre o bullying. Nesta pesquisa
chama atenção que 32% das situações de agressão ocorrem no recreio e também na sala de aula.
Provavelmente ocorra no momento em que os professores trocam de turma e no recreio pela
ausência da monitoria de um adulto.
A omissão e o silêncio das testemunhas é uma das condições para a perpetuação do
fenômeno. Por isso, em função da natureza silenciosa do evento, seria de fundamental importância
que os pais estivessem alertas aos sinais indicativos do bullying: perda de matérias de forma
frequente, ferimentos físicos inexplicáveis, alteração brusca de humor; queda no rendimento
escolar, recusa em ir a escola; raiva e irritabilidade, dificuldades para dormir, rejeição à escola. (15)
Zoar, tirar sarro, “brincadeiras de mau gosto”, são frequentes com a mesma incidência na
quinta e na oitava série, talvez por isso, 24% dos alunos referem sentir raiva pelos colegas que
agridem ou perseguem outros na escola.
Finalmente pode se concluir que estamos diante de um grande desafio, “Educar para a
(16)
Paz” e, que se o fenômeno permanece nos diferentes níveis de ensino talvez tenhamos uma pista
da necessidade de programas de intervenção para que a escola seja uma ocasião de desenvolvimento
total dos que passam por ela.

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