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Hidrologia

Interceptação da Água de Chuva

Aula 10

1
Conceitos

• A interceptação é a retenção de parte da precipitação acima


da superfície do solo;
• A interceptação pode ocorrer devido a vegetação ou outra
forma de obstrução ao escoamento como em depressões do
solo. Este volume retido é perdido por evaporação;
• Este processo interfere no balanço hídrico da bacia
hidrográfica, funcionando como um reservatório que
armazena uma parcela da precipitação;
• A tendência é de que a interceptação reduza a variação da
vazão ao longo do ano, retarde e reduza o pico de cheias.

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Interceptação vegetal
A interceptação vegetal depende de vários fatores:
• Características da precipitação e condições climáticas;
• Tipo e densidade da vegetação; e,
• Período do ano.

As características principais da precipitação que interferem na


interceptação são:
• Intensidade;
• Volume precipitado; e,
• Chuva antecedente.
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Relação Interceptação e Total Precipitado

Observe que com o aumento da intensidade (com o


mesmo total precipitado), a interceptação diminui.
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Características

O tipo de vegetação caracteriza a quantidade de gotas


que cada folha pode reter e a densidade da mesma
indica o volume retido numa superfície de bacia.
As folhas geralmente interceptam a maior parte da
precipitação, mas a disposição dos troncos também
contribui significativamente.
Em regiões em que ocorre uma maior variação climática, ou
seja, em latitudes mais elevadas, a vegetação apresenta
uma significativa variação da folhagem ao longo do ano, que
interfere diretamente na interceptação.
A época do ano também pode caracterizar alguns tipos de
cultivos que apresentam diferentes fases de crescimento e
colheita.
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Equação da Continuidade

A equação da continuidade do sistema de interceptação pode ser descrita por:


Si = P - T - C
Onde: Si = precipitação interceptada; P = precipitação; T = precipitação que
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atravessa a vegetação; C = parcela que escoa pelo tronco das árvores.
Medições das variáveis
Dentro desses estudos, existem 3 medições utilizadas:
• Precipitação: postos em clareiras (próximas a área de interesse)
e no topo das árvores;
• Precipitação que atravessa as árvores: Esta precipitação é
medida por drenagem especial colocada abaixo das árvores e
distribuída de tal forma a obter uma representatividade
espacial desta variável; Deve-se utilizar cerca de dez vezes mais
equipamentos para a medição da precipitação que atravessa a
vegetação do que para a precipitação total;
• Escoamento pelos troncos: Esta variável apresenta uma parcela
pequena do total precipitado (de 1 a 15% do total precipitado),
e em muitos casos está dentro da faixa de erros de amostragem
das outras variáveis. A medição desta variável somente é viável
para vegetação com tronco de magnitude razoável.
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Quantificação da Interceptação

Pode-se utilizar Fórmulas conceituais como a de Meriam (1960) que realizou


uma adaptação na equação original de Horton (1919), ao introduzir a
variável precipitação:

Si  Sv . (1 - e -P/Sv
)  R.E.td
Si = precipitação interceptada (mm)
Sv = capacidade de armazenamento da vegetação para a área (mm)
P = precipitação (mm)
R = Av / A onde: Av = área da vegetação e A = área total
E = evaporação da superfície de evaporação (mm/h)
td = duração da precipitação em horas
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Quantificação da Interceptação
Pode-se ter Equações empíricas que utilizam regressões relacionando as
principais variáveis, ajustando-as aos diferentes tipos de dados e usada para
eventos.
Si  a  b. P n

Si = precipitação interceptada (polegadas); P = precipitação (polegadas)


a, b e n = parâmetros ajustados ao local;
Cobertura vegetal a b n
Pomar 0,04 0,018 1,00
Carvalho 0,05 0,18 1,00
arbustos 0,02 0,40 1,00
pinus 0,05 0,20 0,50
h = altura da planta em pés; Feijão, batata e outras 0,02h 0,15h 1,00h
pequenas culturas
pasto 0,005h 0,08h 1,00
forrageiras 0,01h 0,10h 1,00
pequenos grãos 0,005h 0,05h 1,00
milho 0,05h 0,005h 1,00
Quantificação da Interceptação

Ainda, pode-se utilizar a relação entre a capacidade de


interceptação e o tipo de vegetação, com base no
Índice de Área Foliar (IAF).

Exemplo:
Um IAF igual a 4 significa que cada m² de área de solo está
coberto por uma vegetação em que a soma das áreas
das folhas individuais é de 4 m².
Quantificação da Interceptação
Tipo de Cobertura IAFmédio
A lâmina interceptada
Coníferas 6,0
durante um evento de chuva
Floresta decídua 6,0
pode ser estimado por:
Soja irrigada 7,5
Soja não irrigada 6,0
Sil  Fi . IAF Floresta Amazônica 6 a 9,6
Pastagem amazônica (estiagem) 0,5
Sil = capacidade do reservatório de Pastagem amazônica (época 3,9
interceptação (mm) úmida)
Cerrado (estiagem) 0,4
Fi = parâmetro de lâmina de
interceptação que varia de 0,1 Cerrado (época úmida) 1,0
a 0,7 (vamos adotar nos Campo e pastagem 2-3
exercícios uma constante = 0,2 Florestas 6-9
mm) Cultivos anuais 0-6
IAF = índice de área foliar (0 durante o preparo do solo e 6
no desenvolvimento máximo)
Capacidade Máxima de Interceptação

Crawford e Linsley através de estudos da interceptação em


modelos conceituais, sugeriram os seguintes valores máximos
de interceptação em função da cobertura vegetal:

Tipo de Cobertura Vegetal Capacidade máxima (mm)

Campo, prado 2,50


Floresta ou mato 3,75
Floresta ou mato denso 5,00

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Armazenamento em depressões
Nas bacias hidrográficas existem obstruções naturais e artificiais
ao escoamento, acumulando parte do volume precipitado .
Depressões em áreas de inundação reduzem a vazão à jusante
devido a retenção do escoamento nessas áreas inundadas
(exemplo: Pantanal).
O volume retido pelas depressões do solo após o início da
precipitação é retratado pela equação empírica (admite-se que
no início da precipitação as depressões estão vazias):

Onde:
Vd = volume retido;
Sd = capacidade máxima;
Vd  Sd (1- e -k . P
)
P = precipitação;
k= coeficiente equivalente a 1/Sd
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Armazenamento em depressões

A Figura apresenta
um exemplo do
armazenamento de
escoamentos
superficiais em
pequenas bacias
impermeáveis,
indicando uma
forte correlação
entre a capacidade
das depressões e a
declividade do
solo.
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Impactos Antrópicos
As alterações sobre o uso e manejo do solo da bacia podem ser
classificados quanto:
I) ao tipo de mudanças;
II) ao tipo da superfície;
III) a forma de desmatamento.
Classificação Tipo
Desmatamento
Mudança da superfície Reflorestamento
Impermeabilização
Urbanização
Reflorestamento para exploração sistemática
Uso da superfície Desmatamento para extração de madeira, cultura de
subsistência, culturas anuais, cultura permanentes
Através de queimadas
Método de alteração Manualmente
Com equipamentos 15
Desmatamento

O desmatamento é um termo geral utilizado para as diferentes


mudanças de cobertura.
Os principais elementos do desmatamento são:
• O tipo de cobertura no qual a floresta foi substituída; e,
• O procedimento utilizado para o desmatamento.
Quanto ao uso da superfície, pode-se ter:
• Extração de madeira;
• Plantio de subsistência (35% do total).

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Impacto do Desmatamento

Esc. Superficial

17
Impacto do desmatamento

O efeito do desmatamento sobre o escoamento deve


ser separado de acordo com o efeito sobre a:
I. vazão média;
II. vazão mínima.

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Impacto do desmatamento

Vazões média:
• A redução da cobertura de floresta aumenta a vazão média;
• O estabelecimento de cobertura florestal em áreas de
vegetação esparsa diminui a vazão média;
• A resposta a mudança é muito variável e na maioria das
vezes, não é possível prever.

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Impacto na Vazão Média

Tipo de desmatamento Preparo Área das bacias Escoamento anual


ou (ha) (mm/ano)
tipo de plantio 1979 1979-1981

Floresta sem alteração *** 16 0 ***

Desmatamento tradicional Plantio direto 2,6 3,0 6,6

Limpeza manual sem preparo do solo 3,1 16,0 16,1

Limpeza manual Preparo 3,2 54,0 79,7


convencional
Trator com lâminas sem preparo 2,7 86,0 104,8

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Relação: Mudança da Cobertura x Vazão Média
Esse tipo de variação apresentada na Figura abaixo, em média ocorre até três
anos depois de desmatada, mas tudo vai depender da recuperação da área e dos
métodos utilizados no seu manejo.

Aumento na
mudança da
área coberta,
aumento das
vazões médias.

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Impacto do desmatamento

Vazões mínimas:
• Pode-se aumentar ou diminuir, vai depender muito das
características reais do solo.
• Quando as condições de infiltração após o desmatamento
ficam deterioradas, por exemplo o solo fica compactado pela
energia da chuva, a capacidade de infiltração pode ficar
reduzida e aumentar o escoamento superficial, com a
redução da alimentação do aquífero.
• Se a água que não é perdida pela floresta, atinge o solo e
infiltra, o aquífero tem uma maior recarga, aumentando as
vazões mínimas.

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Culturas permanentes

As culturas permanentes são plantações que não sofrem


alterações frequentes na sua estrutura principal, como
plantações de café, fruticultura, pasto, entre outros.
Após o seu desenvolvimento, o balanço hídrico depende do
comportamento da cultura e o balanço hídrico tende a se
estabelecer num outro patamar.

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Culturas anuais

As culturas anuais envolvem a mudança da cobertura


anualmente ou sazonalmente com diferentes plantios.
Esse processo envolve a preparação do solo (aragem) em
determinadas épocas do ano, resultando na falta de
proteção do solo em épocas que podem ser chuvosas.
O plantio sem nenhum cuidado com a conservação do solo
tende a aumentar consideravelmente a erosão, com grande
aumento no escoamento com relação as condições prévias
de floresta.

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Práticas de plantio

Entre as práticas, destacam-se:


• Conservacionista que utiliza o terraceamento, que
acompanha as curvas de nível, para direcionar o escoamento
e evitar a erosão e o dano as culturas;
• O plantio direto que não revolve a terra e é realizado
diretamente sobre o que restou do plantio anterior. A
tendência é de que praticamente toda a água se infiltre e o
escoamento ocorra predominantemente na camada sub-
superficial por comprimentos (que dependem das
características de relevo) até chegar ao sistema de drenagem
natural.

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Método de Desmatamento

Lal (1981) mostrou que um aumento do escoamento


superficial, utilizando desmatamento manual, uso
de tratores de arraste e tratores com lâminas para
arado são, respectivamente, 1%, 6,5% e 12% da
precipitação.

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Métodos de Avaliação
Entre os métodos de avaliação, estão 3 tipos possíveis estudos:
• Estudos de correlação: análise de correlação entre bacias de
diferentes características de clima, cobertura, solo e
morfologia;
• Estudos de uma única bacia: para uma bacia experimental
busca-se estabelecer as condições prévias da relação entre a
climatologia e o comportamento da bacia;
• Estudos experimentais com pares de bacias: Selecionando
duas bacias de características similares. Uma é submetida a
alteração do uso do solo, denominada de experimental e
outra é mantida preservada denominada de bacia de
controle.
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Alterações da precipitação com o
desmatamento
Entre as principais consequências do desmatamento, quanto as
precipitações, estão:
• Aumento do albedo: A floresta absorve maior radiação de
onda curta e reflete menos;
• Maiores flutuações da temperatura e déficit de tensão de
vapor das superfícies das áreas desmatadas;
• O volume evaporado é menor devido a redução da
interceptação vegetal pela retirada das árvores;
• Menor variabilidade da umidade das camadas profundas do
solo, já que a floresta pode retirar umidade de profundidades
superiores a 3,6 m, enquanto que a vegetação rasteira, como
pasto, age sobre profundidades de cerca de 20 cm.
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Identificação no Método de
Dupla Massa

indicativo de
alteração do regime
anterior

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Comparação entre Bacia Preservada e
Desmatada em Taiwan

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Aumento da Vazão com a Precipitação

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Aumento da Vazão com a Precipitação
Tipo de cobertura Mudança para Mudança para cada
100% de 10% de retirada
remoção (mm) (mm)
Conífera 330 23
Eucaliptos 178 6
Floresta tropical 213 10

Cultura mantida após o Aumento da vazão média


Desmatamento (mm/ano)
Cultura anual 300-450
Vegetação rateira 200-400
Plantações de chá, borracha, cacau 200-300
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Urbanização

Em áreas urbanas ocorre um aumento das vazões médias de


cheia (em até 7 vezes, Leopold,1968) devido ao aumento
da capacidade de escoamento através de condutos e
canais e impermeabilização das superfícies.
Devido aos processos utilizados durante a urbanização, ocorre
um aumento da produção de sedimentos devido à
desproteção das superfícies e à produção de resíduos
sólidos (lixo).
Como consequência, inicia-se a deterioração da qualidade da
água superficial e subterrânea, devido à lavagem das ruas,
ao transporte de material sólido, às ligações clandestinas
de esgoto cloacal e pluvial, e à contaminação direta de
aquíferos;
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Urbanização

Ao mesmo tempo, pode-se criar artificialmente áreas de


retenção do escoamento em função de aterros, pontes e
construções.
A somatória destas perdas se reflete na redução da
vazão média e no abatimento dos picos de
enchentes.

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• Alterações no balanço hídrico.
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• Aumento nos picos de vazão e tc menores.
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• Inundações mais frequentes.
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