Você está na página 1de 7

AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE SANTA MARIA/RS.

Processo nº 9003696-13.2021.8.21.0027

IVONE TEREZEINHA HERMANN, já devidamente qualificada nos


autos em epígrafe, por seu bastante procurador, vem,
respeitosamente, apresentar CONTRARRAZÕES ao manifestante
protelatório RECURSO INOMINADO, requerendo que se digne
Vossa Excelência mandar processá-la para que suba a Egrégia
Turma Recursal.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Santa Maria/RS, 07 de dezembro de 2021.

CRISTIAN ROGÉRIO BALDONI BOLZAN DOS SANTOS


OAB/RS 104.945
COLENDA TURMA RECURSAL DO EGRÉGIO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Processo nº 9003696-13.2021.8.21.0027
ORIGEM: JUIZADO ESPECIAL CIVEL DA COMARCA DE SANTA MARIA/RS
RECORRIDO: IVONE TEREZEINHA HERMANN.
RECORRENTE: ITAU UNIBANCO S.A.

CONTRARRAZÕES AO RECURSO INOMINADO PELO RECORRIDO

EGRÉGIA TURMA RECURSAL

Assiste toda razão o ilustre julgador “a quo”, quando,


ao decidir, satisfez a pretensão da parte RECORRIDA,
condenando a RECORRENTE a pagar a quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) a título de reparação por danos morais,
devidamente atualizados de acordo com a taxa SELIC desde a
citação, que teve seu nome inscrito nos órgãos restritivos
de crédito.

De tal modo, a respeitável sentença prolatada, que


julgou procedente em parte o pedido da parte Recorrida
merece ser sustentada.

Houve bem o juízo “a quo”, quando, ao decidir, usou


de cuidado, de sensibilidade, de aparato legal e
jurisprudencial, para prover satisfatoriamente a pretensão
autoral de indenizar pelos danos morais sofridos pela
RECORRIDA, que foram causados, de forma e modo
irresponsáveis, pela ITAU UNIBANCO S.A.

1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente, sob as penas da Lei, e de acordo com o


disposto no art. 4º, § 1º, da Lei 1.060/50, com a redação
introduzida pela Lei 7.510/86, a Recorrida afirma não ter
condições financeiras de arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento e
de sua família, razão pela qual faz jus ao benefício da
Gratuidade de Justiça, reitera ainda que tal pedido foi
formulado em sede inaugural, onde, contam a juntada da
documentação comprobatória da referida benesse.
2. DA TEMPESTIVIDADE

De acordo com o disposto no art. 42, § 2º, da Lei nº


9.099/95, o Recurso Inominado deverá ser respondido no
prazo de 10 dias a contar da intimação do recorrido. Desta
forma, as contrarrazões são tempestivas.

3. SÍNTESE DO PROCESSO

A autora/Recorrida ajuizou a presente ação


indenizatória e pedido de exclusão de seus dados dos
cadastros de inadimplentes, em razão de inscrição indevida.

A parte ré/recorrente apresentou contestação.

Vieram os autos para réplica.

Sobreveio sentença sob parcial provimento.

O réu/recorrente propôs Recurso Inominado.

Vem a autora/recorrida apresentar contrarrazões.

4. NO MÉRITO

Trata-se de inscrição manifestamente indevida em


cadastro de inadimplentes, considerando que a Autora, por
meio do cartão de crédito da bandeira Mastercard, realizou
a compra de um notebook na loja física da Empresa Magazine
Luiza em Santa Maria – RS, mesmo após liquidação da fatura
do mês de maio de 2021, junto à lotérica correspondente da
Caixa Econômica Federal, vinculada a agencia sob o nº 2231,
em Santa Maria/RS.

Desta feita, cabe a recorrente a demonstração da


suposta legalidade das cobranças e da inscrição. In casu,
imperiosa a menção de suposta alteração junto ao recibo de
pagamento em voga, sem trazer qualquer prova ou argumento
ao alegado, pois simplesmente menciona que o comprovante de
pagamento juntado pela parte autora demonstra que a
transação foi realizada no banco 104 - Caixa Econômica
Federal, todavia, não houve repasse ao Itaú dos valores
pagos (sem provas), motivo pelo qual o pagamento não foi
processado, argumentando culpa exclusiva de terceiro. O que
é incabível no presente caso, pois a responsabilidade pelo
prestação de serviço e suas nuances são exclusivas da ré.

Assim, a recorrente não cumpriu a incumbência de


demonstrar, de forma satisfatória, a legalidade das
cobranças da inscrição. Com efeito, equivocadamente, a
recorrida apega-se aos por menores dos fatos, sem adentrar
a ilegalidade de sua conduta.

Cabe ressaltar que conforme ligações e mensagens


anexas ao procedimento comprobatório, às cobranças
permaneceram sendo realizadas por muito tempo, inclusive no
transcurso do pedido administrativo, que ao contrario do
que menciona a recorrente, foi realizado no dia 15/06/2021,
sem resposta no devido prazo regulador, vindo a ser
ajuizada como forma de garantia de direitos.

Ademais, a própria empresa reconhece o pagamento


realizado pela Recorrida, desta forma assumindo a inscrição
indevida no sistema de cadastro de crédito.

Ainda cabe lembrar que a responsabilidade civil neste


caso é objetiva, prescindindo da análise de elementos
subjetivos, conforme já comprovados na instrução.

Desta feita, trata-se de cobrança indevida, realizada


pela Empresa Recorrente que não tomou qualquer precaução no
controle de seus registros, permitindo a cobrança de
dívidas inexistentes em nome da recorrida.

Configurada a falha no serviço, nasce o dever de


indenizar, que no presente caso é consubstanciado nos
valores indevidamente cobrados, dessa forma ensejando sim o
pagamento em dobro conforme prevê o Parágrafo único do
artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor.

Portanto, Excelência, as alegações da recorrida são


verossímeis e irrefutáveis. A Recorrente não demonstrou
minimamente a legalidade das cobranças e da inscrição. In
casu, o dano moral é presumido, pois decorre do próprio
fato, sem necessidade de demonstra-lo, conforme
entendimento doutrinário e jurisprudencial.
Evidente o prejuízo moral de um cidadão cobrado e
inscrito indevidamente nos cadastros de inadimplentes
(remete-se à fundamentação da exordial).

Ademais, o quantum indenizatório pleiteado demonstra-


se proporcional ao agravo, atendendo a dupla finalidade da
condenação: punição (caráter pedagógico) e compensação.

Por não haver previsão legal para sua fixação, o


quantum indenizatório deve seguir alguns critérios
assentados pela doutrina e jurisprudência, quais sejam: a
extensão/gravidade do dano (art. 944 do CC), o caráter
punitivo e educativo da condenação, a proporcionalidade, a
razoabilidade e a condição financeira do obrigado a
indenizar.

A condenação deverá ter o efeito de produzir no


causador do mal um impacto econômico capaz de dissuadi-lo a
praticar novo ato atentatório à dignidade da vítima. Deve
ainda representar uma advertência ao lesante, de modo que
possa receber a resposta jurídica aos resultados do ato
lesivo.

No mais, reitera os fundamentos esposados na peça


exordial.

Desta feita, merece ser mantida em todos os seus


termos a respeitável sentença uma vez que o recorrente
ofendeu norma preexistente; causou dano à recorrida; e
assim existindo o nexo de casualidade entre um e outro como
poderá observa a seguir.

A falta de respeito e o desinteresse do recorrente em


resolver tal problemática ficaram evidentemente comprovados
durante todo o curso do processo, uma vez que era para
ressarcir a recorrida após esta ter atendido todas as
solicitações, e não ressarciu.

Segundo momento o caso foi ao SENACON, o recorrente


não solucionou o problema, e num terceiro momento, em
audiência de Conciliação mais uma vez não se interessou em
resolver a situação.

Após o respeitável juiz sentenciar em favor da


recorrida, o recorrente ainda interpõe o presente recurso
corroborando assim o retro mencionado o descaso e o
desrespeito. Assim sendo é de extrema importância a
manutenção da sentença do juiz de primeiro grau, para que
sirva de óbice a novos casos de condutas lesivas.

Importante ainda salientar que o código de Defesa do


Consumidor em seu artigo 6º, inciso VIII:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


(...)
VIII - a facilitação da defesa de seus
direitos, inclusive com a inversão do ônus
da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;

Neste sentido é a lição do doutrinador José Geraldo


Brito Filomeno:

[...] em geral, como se sabe, a prova de um


fato incumbe a quem alega. No caso do
consumidor, contudo, em face de sua
reconhecida vulnerabilidade, pode haver a
inversão desse ônus, ou seja, fica a cargo
do réu demonstrar a inviabilidade do fato
alegado pelo autor. (FILOMENO, Manual de
Direito do Consumidor, pag. 413, Ed. Atlas,
São Paulo, 2014).

Isto posto, ainda se deve observância o princípio da


vulnerabilidade, aquele que estabelece que o consumidor
merece, antes de tudo, ser considerado como a parte mais
débil da relação jurídica material. Ou seja, trata-se de um
“sujeito concreto vulnerável”. A Lei nº 8.078/90
flagrantemente visa proteger o consumidor. Desta forma,
havendo essa proteção direcionada a este, o princípio da
isonomia resta observado, uma vez que outrora o recorrente
encontra-se numa posição de superioridade frente a
recorrida.

Observar-se-á ainda o princípio da hipossuficiência,


que diz que Consumidor hipossuficiente é aquele que possui
uma debilidade processual, ou seja, aquele que encontra
dificuldade em comprovar seus direitos.

Assim, a recorrida além de já ser vulnerável, idosa,


também é hipossuficiente frente ao recorrente. Devendo a
este comprovar que não casou dano à recorrida, o que este
não fez durante todo o curso do processo.

Sendo assim, a recorrente não demonstrou e nem


comprovou durante todo o processo que NÃO casou dano à
recorrida. Assim sendo mais uma vez fica claro que é
direito na manutenção da respeitável sentença em todos os
seus termos, para medida de inteira justiça e caráter
educativo.

5. DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, requer que essa Egrégia


Turma Recursal:

a) Que negue provimento ao recurso inominado


interposto pela Recorrente e que seja mantida a respeitável
sentença do juiz de primeiro grau em todos os seus termos,
como forma de inteira justiça, caráter inibitório de
condutas lesivas e caráter também educativo;

b) Requer ainda, os honorários advocatícios em 20%


sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 55 da lei
9099/95;

c) Que seja concedido à gratuidade da justiça, nos


termos da Lei 1.060/50 e art. 98 do CPC, haja vista que a
recorrida não ter condições financeiras de arcar com as
custas processuais e honorários advocatícios;

Nestes termos,Pede deferimento.

Santa Maria/RS, 07 de dezembro de 2021.

CRISTIAN ROGÉRIO BALDONI BOLZAN DOS SANTOS


OAB/RS 104.945

Você também pode gostar