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DOI 10.5935/1806-0013.20160087
ABSTRACT RESUMO
BACKGROUND AND OBJECTIVES: The interest on Ani- JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Cresce o interesse sobre
mal-Assisted Activity, Education and Therapy is growing in Bra- Atividade, Educação e Terapia Assistida por Animais no Brasil.
zil. Only in the last decade, Brazilian investigators have started Somente na última década, pesquisadores brasileiros iniciaram
scientific studies aiming at evaluating the effectiveness of Animal- investigações científicas com vistas a avaliar a efetividade do
Assisted Activity, Education and Therapy as from international trabalho com Atividade, Educação e Terapia Assistida por Ani-
literature references. The methodological option of developing mais, a partir de referências da literatura internacional. A opção
this project in hospital environment comes to meet the increas- metodológica de desenvolver esse projeto em ambiente hospi-
ing interest of such institutions in introducing animals during talar vem ao encontro do interesse crescente dessas instituições
the hospitalization period of patients, especially children. The em introduzir os animais durante o período de hospitalização
presence of animals seems to produce significant socioemotion- dos pacientes, especialmente as crianças. A presença dos animais
al benefits as adjuvant to clinical management of hospitalized parece produzir benefícios sócioemocionais significativos como
patients. This study aimed at evaluating the effects of Animal- adjuvante ao tratamento clínico de pacientes hospitalizados. O
Assisted Activity on pain sensation of hospitalized children and objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da Atividade Assistida
adolescents. por Animais na sensação de dor em crianças e adolescentes hos-
METHODS: This is an intervention, quantitative and qualita- pitalizados.
tive research. Participated in the study 17 patients aged as from MÉTODOS: Trata-se de pesquisa de intervenção, de natureza
7 years, hospitalized in the Hospital Infantil Sabará, with pain quantitativa e qualitativa. Participaram do estudo 17 pacientes a
complaints. Participant co-therapist dogs were Bruce (large size) partir de 7 anos de idade, hospitalizados no setor de internação
and Sheep (small size). Pain numerical scale was applied before do Hospital Infantil Sabará, com queixa de dor. Os cães cotera-
and after Animal-Assisted Activity, Education and Therapy. peutas participantes foram Bruce (porte grande) e Sheep (porte
RESULTS: There are evidences, in the studied population, that pequeno). A escala numérica de dor foi aplicada antes e depois da
this activity was effective to decrease patients’ self-referred pain, Atividade, Educação e Terapia Assistida por Animais.
in addition to improving emotional aspects of hospitalization, RESULTADOS: Na população estudada, há evidências de que
confirming literature data on the subject. a esta atividade demonstrou eficácia quanto à redução da dor
CONCLUSION: There has been significant pain decrease after autorreferida pelos pacientes, além de melhorar aspectos emocio-
intervention with dogs, confirming some international studies nais sobre a hospitalização, corroborando dados bibliográficos de
carried out on the subject. pesquisas realizadas sobre o tema.
Keywords: Adolescent, Animal-assisted therapy, Hospitaliza- CONCLUSÃO: Houve diminuição significativa da sensação de
tion, Hospitalized children, Pain. dor após a intervenção com o cão, corroborando com alguns es-
tudos internacionais já realizados sobre o tema.
Descritores: Adolescente, Criança hospitalizada, Dor, Hospitali-
zação, Terapia assistida por animais.
INTRODUÇÃO
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Faculdade de Ciências Humanas e da
Saúde, Programa Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia, São Paulo, SP, Brasil.
Esta pesquisa tematiza o efeito da Intervenção Assistidas por Animais
Apresentado em 18 de maio de 2016. (IAA) e sensação de dor, no contexto da hospitalização de crianças e
Aceito para publicação em 01 de novembro de 2016. adolescentes. Observa-se o crescente interesse sobre Atividade, Edu-
Conflito de interesses: não há – Fontes de fomento: Bolsa CNPq.
cação e Terapia Assistida por Animais (AAA, EAA e TAA) no Brasil.
Endereço para correspondência: Contudo, em alguns países como Estados Unidos, Canadá e França,
Tatiane Ichitani
Rua Assungui, 700/191 a introdução de animais no tratamento da saúde das pessoas já data
04131-001 São Paulo, SP, Brasil. de algumas décadas.
E-mail: tatiane.ichitani@gmail.com
A instituição americana International Association of Human-Animal
© Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor Interactions Organizations (IAHAIO) tem a missão de suprir lider-
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Atividade assistida por animais e sensação de dor Rev Dor. São Paulo, 2016 out-dez;17(4):270-3
em crianças e adolescentes hospitalizados
anças internacionais no avanço do campo da interação homem-ani- Tabela 2. Caracterização dos pacientes
mal, apoiando pesquisas, educação e colaboração entre os membros Paciente Idade Gênero CID Doença/sintoma *
e outras organizações que se interessam por esse assunto. Nomeia e 1 11a 01m F R 10 Dor abdominal
define a IAA como abordagem com objetivo orientado e estruturado 2 08a 11m F R 10 Dor abdominal
que incorpora os animais às áreas da saúde, educação e serviço social 3 10a 08m F R 52 Dor aguda
de humanos, com propósito de benefício terapêutico. Engloba Tera- 4 12a 04m M R 10 Dor abdominal
pia, Educação e Atividade Assistida por Animais1 (Tabela 1). 5 12a 06m F R 51 Cefaleia
6 09a 11m M R 10 Dor abdominal
Tabela 1. Definição das modalidades de Intervenção Assistida por
Animais1 7 17a 04m F R 51 Cefaleia
Terapia Assistida por Animais: intervenção terapêutica orientada, 8 13a 04m M D 58 Esferocitose hereditária
estruturada e planejada, com propósitos definidos e acompanhada 9 10a 04m F J 18 Broncopneumonia não
por profissionais da área da saúde. especificada
Educação Assistida por Animais: intervenção com objetivo orienta- 10 14a 06m M J 03 Amigdalite estreptocócica
do, estruturado, planejado e diretamente ligado à educação, sem-
pre acompanhada por um professor e/ou pedagogo1. 11 17a 04m M L 03 Celulite de dedos das
Atividade Assistida por Animais: intervenção e visitação informal, mãos e dos pés
porém planejada, com propósitos educacionais, motivacionais e 12 07a 06m M R 10 Dor abdominal
recreacionais. 13 11a 10m F R 10 Dor abdominal
14 13a 00m F R 10 Dor abdominal
Considerando que a hospitalização é um dos eventos mais es- 15 14a 08m F M 30 Poliartrite nodosa
tressantes para as crianças gerando altos níveis de ansiedade e medo2,
16 08a 10m M A 90 Dengue
o desenvolvimento deste estudo em ambiente hospitalar vem ao en-
17 11a 01m M R 10 Dor abdominal
contro do interesse crescente dessas instituições em introduzir ani- * Baseada no CID que consta no prontuário.
mais durante o período de internação dos pacientes, especialmente
as crianças. A presença dos animais pode produzir benefícios sócio-
emocionais significativos como adjuvante ao tratamento clínico de Os critérios de exclusão foram pacientes internados em isolamento,
pacientes hospitalizados3. com alergia grave ao pelo e saliva de cães, imunocomprometido
Há poucos estudos nesse cenário que articula a questão da dor e a grave, com medo de interagir com cães e dificuldade de comunica-
IAA em crianças e adolescentes hospitalizados, todos com resultados ção via linguagem oral.
que favorecem o emprego da técnica4-8.
A partir dessas considerações, estabelece-se o objetivo desta pesquisa: Animais coterapeutas
avaliar o efeito da AAA na intensidade da dor em crianças e adoles- Participaram dois cães coterapeutas, Bruce, da raça Old English
centes hospitalizados. Sheepdog (grande porte), 8 anos e Sheep, da raça Shih-tzu (pequeno
porte) 6 anos, ambos castrados. Ambos passam por constantes aval-
MÉTODOS iações de comportamento e saúde para sua própria segurança e a dos
sujeitos. O número de cães foi estabelecido em 2 para que houvesse
Trata-se de pesquisa de intervenção, de natureza quantitativa, real- revezamento entre eles, garantindo o bem-estar dos animais durante
izada de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de pes- o período de coleta de dados.
quisas envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde,
resolução 196/96. Procedimento
Participaram da pesquisa apenas os pacientes autorizados pelos pais Para garantir a segurança durante a coleta de dados, foram seguidos
ou responsáveis, de acordo com assinatura do Termo de Consenti- alguns itens importantes de saúde e comportamento baseado em
mento Livre e Esclarecido (TCLE), realizada no Hospital Infantil protocolos internacionais, a saber9:
Sabará (HIS) em São Paulo/SP, centro de referência no atendimento a) Higiene das mãos:
pediátrico, no setor de internação, no período de outubro de 2014 • Higienização das mãos do paciente, acompanhante e equipe antes
a abril de 2015. e depois do contato com o animal;
A amostra foi de conveniência, participando do estudo 17 crianças/ • Higienização das mãos do pesquisador antes e depois de cada in-
adolescentes hospitalizados, de ambos os gêneros, com idade a partir tervenção com paciente;
de 7,0 anos (Tabela 2). b) Temperamento do animal:
Os critérios de inclusão foram crianças e adolescentes hospitalizados • Avaliação do temperamento e comportamento do animal, veri-
no setor de internação (quartos individuais), com capacidade de ex- ficando: reações frente a desconhecidos; reação a som alto e/ou es-
pressão verbal (o que justifica a idade estabelecida), com queixa de tímulo novo; reação a voz agressiva ou gestos ameaçadores; reação
dor associada a qualquer doença de base, aceitação do contato com a locais lotados de pessoas; reação a afagos vigorosos e desajeitados;
cães, estado físico que possibilite a interação com o animal, cognição reação a forte abraço; reação a outros animais; habilidade em obede-
preservada, acordada e consciente, em condições de responder o cer a comandos do condutor;
questionário e preencher as escalas (mesmo que não possa se deslo- • Suspender as visitas caso o animal tenha comportamento de medo
car de seu leito). ou agressividade.
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Rev Dor. São Paulo, 2016 out-dez;17(4):270-3 Ichitani T e Cunha MC
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Atividade assistida por animais e sensação de dor Rev Dor. São Paulo, 2016 out-dez;17(4):270-3
em crianças e adolescentes hospitalizados
Tabela 4. Análise quantitativa da dor antes e depois da atividade assistida por animais, segundo uso de analgésicos
Variáveis Momento n Média (DP) Mediana Mínimo Máximo Valor de p*
Dor Antes 17 5,6 (2,4) 5 2 10 0,004
Depois 17 4,0 (3,2) 4 0 10
Dor sem uso Antes 9 4,7 (2,4) 4 2 8 0,030
de analgésico Depois 9 3,7 (2,6) 4 0 7
Dor com uso Antes 8 6,6 (2,2) 7 4 10 0,041
de analgésico Depois 8 4,4 (3,8) 4,5 0 10
* Teste t de Student pareado.
O tempo de internação apresentou grande variação: média de ração/redirecionamento de um problema, uma explicação possível
3,3±4,6 dias, mediana de 1, variando entre menos de 24 horas e para a diminuição da dor.
16 dias. Os benefícios da AAA em relação à sensação de dor constatados
Em relação ao desfecho, observa-se que houve diferença estatistica- nesse estudo devem ser analisados/avaliados na perspectiva de que a
mente significativa entre os momentos antes e depois da AAA. A mé- proposta não é a de indicar a intervenção como opção isolada para o
dia de dor antes da intervenção foi de 5,6±2,4 e após a AAA passou tratamento de dor, mas como terapia complementar14.
para 4±3,2, apresentando uma redução de 1,6 pontos (p=0,004).
Para assegurar esses resultados, a análise foi estratificada segundo o CONCLUSÃO
uso de analgésico e, da mesma forma, verificou-se redução estatisti-
camente significativa nos níveis de dor após a AAA (Tabela 4). Houve diminuição significativa da sensação de dor após a interven-
ção com o cão, corroborando alguns estudos internacionais já real-
DISCUSSÃO izados sobre o tema, demonstrando a importância da continuidade
de novas pesquisas na área, ainda escassas no Brasil.
Na população estudada, há evidências de que a AAA demonstrou
efetividade quanto à redução da dor autorreferida pelos sujeitos, REFERÊNCIAS
corroborando dados bibliográficos de pesquisas realizadas sobre o
1. IAHAIO. IAHAIO White Paper, 2014. Disponível em: http://www.iahaio.org/new/
tema4,5,7. Sem a introdução da AAA, as crianças estão sujeitas a utili- fileuploads/4163IAHAIO WHITE PAPER- FINAL - NOV 24-2014.pdf. Acesso em
zar mais fármacos para dor, o que pode acarretar indesejáveis efeitos 05/08/2015.
2. Mahat G, Scoloveno M. Comparison of fears and coping strategies reported by Nep-
adversos4. alese school-age children and their parents. J Pediatr Nurs. 2003;18(5):305-13.
Mesmo que não se tenha observado diminuição da sensação de dor 3. Morales LJ. Visita terapêutica de mascotas em hospitales. Rev Chil Infect.
2005;22(3):257-63.
em alguns sujeitos, pode-se sugerir que há promoção de distração, 4. Sobo EJ, Eng B, Kassity-Krich N. Canine visitation (pet) therapy: pilot data on de-
prazer, entretenimento, acolhimento e calma4. Algumas pesquisas creases in child pain perception.J Holist Nurs. 2006;24(1):51-7.
5. Braun C, Stangler T, Narveson J, Pettingell S. Animal-assisted therapy as a pain relief
não constataram diminuição significativa na sensação de dor, porém intervention for children. Complement Ther Clin Pract. 2009;15(2):105-9.
sugerem que crianças com vínculos afetivos seguros obtiveram maior 6. Barker SB, Knisely JS, Schubert CM, Green JD, Ameringer S. The effect of an an-
diminuição, sugerindo que o afeto pode ser uma variável importante imal-assisted intervention on anxiety and pain in hospitalized children. Anthrozoos.
2015;28(1):101-12.
para ser investigada e levada em consideração6, além de reduzir so- 7. Calcaterra V, Veggiotti P, Palestrini C, De Giorgis V, Raschetti R, Tumminnelli M, et
frimento e melhorar a função cognitiva, física, social e emocional8. al. Post-operative benefits of animal-assisted therapy in pediatric surgery: a random-
ized study. PLoS-ONE. 2015;10(6):0125813.
Observou-se que a maioria das atividades realizadas durante a AAA 8. Vagnoli L, Caprilli S, Vernucci C, Zagni S, Mugnai F, Messeri A. Can presence of
foi “fazer carinho” e “conversar”. Tal resultado pode estar associado a dog reduce pain and distress in children during venipuncture? Pain Manag Nurs.
2015;16(2):89-95.
a efeitos metabólicos advindos desse tipo de interação já que, du- 9. Lefebvre SL, Golab GC, Christensen E, Castrodale L, Aureden K, Bianchowski RN,
rante o contato com o animal, há alterações hormonais que podem et al. Guidelines for animal-assisted interventions in heath care facilities. Am J Infect
Control. 2008;36(2):78-85.
explicar a diminuição da dor, a saber: estímulo da produção de en- 10. Cole KM, Gawlinski A. Animal-assisted therapy: the human-animal bond. AACN
dorfina10, aumento de ocitocina, prolactina e dopamina após 5 a 24 Clin Issues. 2000;11(1):139-49.
minutos acariciando o animal11,12. Além disso, o aumento da ocito- 11. Odendaal JS, Meintjes RA. Neurophysiological correlates of affiliative behaviour be-
tween humans and dogs. Vet J. 2003;165(3):296-301.
cina por meio da IAA provoca diminuição do nível de estresse e de 12. Handling L, Sandberg EH, Nilsson A, Ejdeback M, Janson A, Uvnas-Moberg K.
ansiedade, estimulando interações sociais e intensificando a saúde Short-term interaction between dogs and their owners – effects on oxytocin, cortisol,
insulin and heart rate – an exploratory study. Anthrozoos. 2001;24(3):301-15.
humana13. 13. Beetz A, Uvnäs-Moberg K, Julius H, Kotrschal K. Psychosocial and psychophysiologi-
Também pode haver melhora nos fatores fisiológicos como redução cal effects of human-animal interactions: the possible role of oxytocin. Front Psychol.
2012;3:234.
dos batimentos cardíacos, da pressão arterial, da temperatura cor- 14. Marcus DA, Bernstein CD, Constantin JM, Kunkel FA, Breuer P, Hanlon RB.
poral, do nível de respiração e constrição pupilar sinalizando relaxa- Animal-Assisted Therapy at an outpatient pain management clinic. Pain Med.
2012;13(1):45-57.
mento10, indicadores associados à diminuição da sensação de dor. 15. Odendaal JS. Animal-assisted therapy-magic ou medicine?J Psychosom Res.
Do mesmo modo, pesquisas sugerem que a IAA pode levar à dist- 2000;49(4):275-80.
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