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Relatorio 3 Brasil Contemporaneo - Carolina Gonçalves Nº 58364
Relatorio 3 Brasil Contemporaneo - Carolina Gonçalves Nº 58364
3º RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO
ANÁLISE DAS CARICATURAS DE BELMONTE
De facto, o Brasil dos anos 20 é tido como um país de uma modernidade periférica
herdada e ainda em desenvolvimento, proveniente de uma antiga ordem rural patriarcal,
a elite carioca, que se via agora a experienciar o mundo urbano, dotados de um modus
vivendi novo, onde as modas, os modos, os costumes e hábitos metamorfosearam-se no
reforço da ideia de classe e pertença social. Sob um olhar geograficamente micro, o rio
de Janeiro, na periferia de um sistema económico ocidental, dispôs-se a reforçar os laços
neocoloniais, com as nações centrais do Hemisfério Norte. Esta matriz europeia assim
acumulada nas primeiras décadas do século XX, criou a necessidade de uma aproximação
à influência americana, em sequência do pós- primeira Guerra Mundial. Paralelamente a
este fenómeno, as elites intelectuais e a bibliografia a si correspondente denotam a
emergência de uma consciência nacional, que apesar de não ser exclusiva ao Brasil, era
sinal da necessidade de identificação e identidade nacional sob então a paulatina
sobreposição da influência cultural norte Americana. Para as elites3, o fim da primeira
Guerra significou a abertura a novas possibilidades e margens de lucro, aqui,
acompanhadas do processo de urbanização e industrialização, dos incentivos à imigração
estrangeira, do fim definitivo da escravatura, e o investimento da economia do café. À
margem deste paradigma aparentemente otimista, estavam problemas que se assentavam
1
Como é passível de se observar na charge em anexo (imagem 1)
2
BELMONTE, Assim falou Juca Pato, Aspectos divertidos de uma confusão dramática, Companhia
editora Nacional (ed.), S. Paulo, 1933, pp.6
3
Como negociantes, políticos, financistas, burocratas,.que na maioria seriam descendentes de famílias
proprietárias rurais.
na preocupante crise inflacionária, no agravar do custo de vida4, e a própria estrutura
politica Republicana que se via corrompida pelo compadrio, pela corrupção eleitoral5,
troca de favores, e abusos de poder que ampliou, inconscientemente, novas matizes
politicas ideológicas e aversão ao sistema instituído, que é aliás exemplificado pelo
surgimento do Partido comunista Brasileiro em 1922, pelo movimento feminista de
Bertha Lutz, pelas rebeliões tenentistas que marcaram a revolta dos 18 do Forte de
Copacabana em Janeiro de 1922 e a Revolta de 1924 em S. Paulo. Como nos elucida
GORBERG “(…) em meio a crises políticas e econômicas, essas revistas cariocas mantinham
o foco sobre a “vida social”: eventos festivos, competições esportivas, chás dançantes,
bailes comemorativos e soirées teatrais pareciam ter maior influência e importância para
os leitores do que qualquer outro assunto”6.
4
Estas noções da realidade política brasileira não foram esquecidas por Belmonte, pelo que a seguinte
charge (ver Anexo figura 3) não deixa duvida da critica subjacente à imagem irrealista do Brasil pintado
aos olhos de Getúlio Vargas como que “em progresso” quando na realidade a fome e desnutrição eram
vivencias naturais para a maioria dos brasileiros.
5
Percetível aliás na satírica ilustrada por Belmonte (ver anexo, imagem 5)
6
GORBERG, Marissa, Um Olhar Sobre As Caricaturas De Belmonte (1923-1927), Rio de Janeiro, Janeiro
de 2018 Pp.33
7
Alvo de evidente critica por Belmonte na seguinte charge (ver anexo, imagem 4)
social e a disseminação do consumo individual8 como reflexo da esfera social,
codificam simbolicamente o paradigma do mundo urbano em S. Paulo, onde aliás
o artista se identificava como sujeito-autor-narrador e etnógrafo da cidade como
nos explica Marissa Gorberg “(…) testemunhavam os contrassensos de uma época
percebida pelos encantados como tempos eufóricos, oferecendo a eles,
ironicamente, contra-narrativas disfóricas”9 A sua capacidade de mobilização e
intervenção social a si aleadas, também pelo aflorar da cultura de massas tornaram
a caricatura um meio de expressar o presente de outrora, assim como fez a cronica.
Estas duas expressões artísticas coincidem na ideia de que ambas são criações
subjetivas quanto narrativas do seu tempo, que alheadas ao desenvolvimento e a
expansão da imprensa conseguiram evoluir e tornarem-se representações mais
objetivas, concretas, mais leves e simples no seu método e linguagem visual.
Sob esta perspetiva, e deste modo concluir esta prevê redação, as charges
apresentam-se para os historiadores como espectadores e atores das mutações
sociais e aquilo que elas acarretavam de positivo e negativo “não são, pois,
documentos os objetos de pesquisa, mas instrumentos dela: o objeto é sempre a
sociedade. Por isso, não há como dispensar aqui, também, a formulação de
problemas históricos, para serem encaminhados por intermédio de fontes visuais,
8
Como é passível de se observar na charge em anexo (imagem 2)
9
GORBERG, Marissa, Um Olhar Sobre As Caricaturas De Belmonte (1923-1927), Rio de Janeiro,
Janeiro de 2018, Pp.13
associadas a quaisquer outras fontes pertinentes.” (MENESES, 2003, p. 28) Para
Belmonte “a questão está em tomar um assunto complicado e difícil, digeri-lo,
simplificá-lo e torná-lo acessível ao grande público. Resumir numa charge, por
exemplo, um problema econômico ou financeiro, eis o ideal(...) fazer arte para ser
entendido por algumas pessoas é criar uma aristocracia artística." Sendo esta
expressão artística corrente na atualidade por ilustrar em moldes humorísticos
problemas enraizados nas sociedades em que se integra, foi com naturalidade
promovida pela História Cultural e integrada na investigação para a produção de
conhecimento histórico.
Bibliografia:
BELMONTE, Assim falou Juca Pato, Aspectos divertidos de uma confusão dramática,
Companhia editora Nacional (ed.), S. Paulo, 1933
GORBERG, Marissa, Um Olhar Sobre As Caricaturas De Belmonte (1923-1927), Rio de
Janeiro, Janeiro de 2018