Matéria: Economia Brasileira e Contemporânea II Docente: Maria Bernadete Pereira Bezerra Discente: André Felipe Malta Santos
Resumo: Aspectos Sociais da década de 90 no Brasil
A promulgação da Constituição em outubro de 1988 representou um passo
importante na construção de um Estado socialmente mais justo. Nela foram inseridos diversos dispositivos de proteção visando a uma melhor distribuição das riquezas. Tinha como foco o avanço na seguridade social (saúde, previdência e assistência social), a descentralização, o reconhecimento da dívida social, redefinição do padrão de regressivo de financiamento e a ampliação dos impactos redistributivos. No entanto, esse novo arcabouço jurídico institucional não pode vir à baila por conta do desmanche que sofreu a Constituição mesmo antes da sua regulamentação, ainda nos marcos do governo Sarney e que continuou de forma truncada durante o Governo Collor. Na década de 90, mais precisamente a partir do governo FHC e da consolidação do Plano Real, o processo iniciado anteriormente se aprofunda. O Brasil adere de forma subalterna à globalização neoliberal, orientada pelo Consenso de Washington, comandado pelo FMI, Banco Mundial, OMC. A prioridade é o controle da inflação, a estabilização fiscal. As políticas macroeconômicas se centram na financeirização da economia, privatização e abertura indiscriminada do mercado interno. As políticas sociais implementadas a exemplo do Comunidade Solidária nascem com o caráter de instabilidade. Mesmo o dinheiro que entra com as privatizações não pode, em função de determinação do FMI, ser usado na área social. Nesse sentido, na relação entre o discurso social e as políticas macroeconômicas observou-se a preponderância das últimas. A opção por esse tipo de política agravou a situação de ocupação e renda do Brasil. A política explicitada anteriormente provocou o enfraquecimento industrial que, somado à desregulamentação do mercado de trabalho precarizou ainda mais um mercado de trabalho historicamente frouxo, fazendo o Brasil retroceder. Exportar bens intensivos em força de trabalho e recursos naturais e importar bens intensivos em tecnologia e capital. A década de 90 apresenta números constrangedores. As taxas anuais de crescimento do PIB são, pouco melhores apenas do que as dos anos 80, ficando muito abaixo de outras décadas. O crescimento da PEA e as taxas de crescimento dos grandes setores de atividade econômica vão no mesmo caminho. O crescimento das ocupações entre os anos de 1992-1999 foi pífio, com rebatimento no mercado de trabalho que se precariza. O desemprego cresceu a taxa de 7,48% ao ano. Piorou a distribuição das ocupações por categoria profissional. Cresceram as ocupações nas atividades de menores remunerações e direitos, como nos domésticos, ao tempo que decresceu o número de ocupados nas grandes empresas e no serviço público. Por sua renda per capita o Brasil está colocado entre os 30% mais ricos, entretanto tem 30% de pobres, enquanto nos países com renda semelhante essa taxa é de 10%. Existem 53 milhões de pessoas classificadas como pobres e, dentre essas, 22 milhões estão abaixo da linha de indigência. Esse quadro praticamente se manteve inalterado durante as duas últimas décadas, sofrendo pequenas inflexões durante o plano cruzado e início do Plano Real, mesmo assim, de forma pouco substantiva quando comparado com a gravidade da situação e quando percebemos que abaixo dessas linhas virtuais situam-se vidas: crianças e velhos; mulheres e homens, violência, mortes e desajustes de toda ordem. A posição do PIB per capita brasileiro, cinco ou seis vezes acima da linha de pobreza, é outro indicador de que o problema do Brasil não é falta de recursos, mas concentração de renda. Possível mote explicativo do porquê já se gastou 21% do PIB com a área social, os quais se mostram insuficientes para reduzir a pobreza ou mesmo diminuir a desigualdade. Esse foi o contexto que assistiu ao Brasil reduzir a sua grande mobilidade social, característica dos anos 50 até 80. A mobilidade circular se sobrepõe à estrutural como fruto da retração de economia e da redução do número de postos de trabalho. Se existe divergência sobre a situação da desigualdade quanto ao seu crescimento ou não, o mesmo não pode ser dito quanto ao tamanho da desigualdade do Brasil. Os dados trabalhados são unânimes em demonstrar a reprodução de uma tendência histórica de exclusão, e no geral, sem apresentar tendência ao declínio.