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UESC – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

Ilhéus, 21 de Maio de 2016


Matéria: Economia Brasileira e Contemporânea II
Docente: Maria Bernadete Pereira Bezerra
Discente: André Felipe Malta Santos

Resumo: Aspectos Sociais da década de 90 no Brasil

A promulgação da Constituição em outubro de 1988 representou um passo


importante na construção de um Estado socialmente mais justo. Nela foram inseridos
diversos dispositivos de proteção visando a uma melhor distribuição das riquezas.
Tinha como foco o avanço na seguridade social (saúde, previdência e assistência
social), a descentralização, o reconhecimento da dívida social, redefinição do padrão
de regressivo de financiamento e a ampliação dos impactos redistributivos. No
entanto, esse novo arcabouço jurídico institucional não pode vir à baila por conta do
desmanche que sofreu a Constituição mesmo antes da sua regulamentação, ainda nos
marcos do governo Sarney e que continuou de forma truncada durante o Governo
Collor.
Na década de 90, mais precisamente a partir do governo FHC e da
consolidação do Plano Real, o processo iniciado anteriormente se aprofunda. O
Brasil adere de forma subalterna à globalização neoliberal, orientada pelo
Consenso de Washington, comandado pelo FMI, Banco Mundial, OMC. A prioridade
é o controle da inflação, a estabilização fiscal. As políticas macroeconômicas se
centram na financeirização da economia, privatização e abertura indiscriminada do
mercado interno. As políticas sociais implementadas a exemplo do Comunidade
Solidária nascem com o caráter de instabilidade. Mesmo o dinheiro que entra com as
privatizações não pode, em função de determinação do FMI, ser usado na área social.
Nesse sentido, na relação entre o discurso social e as políticas macroeconômicas
observou-se a preponderância das últimas.
A opção por esse tipo de política agravou a situação de ocupação e renda do
Brasil. A política explicitada anteriormente provocou o enfraquecimento industrial
que, somado à desregulamentação do mercado de trabalho precarizou ainda mais um
mercado de trabalho historicamente frouxo, fazendo o Brasil retroceder. Exportar
bens intensivos em força de trabalho e recursos naturais e importar bens intensivos
em tecnologia e capital. A década de 90 apresenta números constrangedores. As taxas
anuais de crescimento do PIB são, pouco melhores apenas do que as dos anos 80,
ficando muito abaixo de outras décadas. O crescimento da PEA e as taxas de
crescimento dos grandes setores de atividade econômica vão no mesmo caminho.
O crescimento das ocupações entre os anos de 1992-1999 foi pífio, com
rebatimento no mercado de trabalho que se precariza. O desemprego cresceu a taxa de
7,48% ao ano. Piorou a distribuição das ocupações por categoria profissional.
Cresceram as ocupações nas atividades de menores remunerações e direitos, como
nos domésticos, ao tempo que decresceu o número de ocupados nas grandes empresas
e no serviço público.
Por sua renda per capita o Brasil está colocado entre os 30% mais ricos,
entretanto tem 30% de pobres, enquanto nos países com renda semelhante essa taxa é
de 10%. Existem 53 milhões de pessoas classificadas como pobres e, dentre essas, 22
milhões estão abaixo da linha de indigência. Esse quadro praticamente se manteve
inalterado durante as duas últimas décadas, sofrendo pequenas inflexões durante o
plano cruzado e início do Plano Real, mesmo assim, de forma pouco substantiva
quando comparado com a gravidade da situação e quando percebemos que abaixo
dessas linhas virtuais situam-se vidas: crianças e velhos; mulheres e homens,
violência, mortes e desajustes de toda ordem.
A posição do PIB per capita brasileiro, cinco ou seis vezes acima da linha de
pobreza, é outro indicador de que o problema do Brasil não é falta de recursos, mas
concentração de renda. Possível mote explicativo do porquê já se gastou 21% do PIB
com a área social, os quais se mostram insuficientes para reduzir a pobreza ou mesmo
diminuir a desigualdade.
Esse foi o contexto que assistiu ao Brasil reduzir a sua grande mobilidade
social, característica dos anos 50 até 80. A mobilidade circular se sobrepõe à
estrutural como fruto da retração de economia e da redução do número de postos de
trabalho. Se existe divergência sobre a situação da desigualdade quanto ao seu
crescimento ou não, o mesmo não pode ser dito quanto ao tamanho da desigualdade
do Brasil. Os dados trabalhados são unânimes em demonstrar a reprodução de uma
tendência histórica de exclusão, e no geral, sem apresentar tendência ao declínio.

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