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Direito Agrário:

2021.1
Prof. Dr. Fernando
Joaquim Ferreira Maia
Possui Doutorado (2012) e Mestrado
(2008) em Direito pela Universidade
Federal de Pernambuco, Especialização
em Direito Processual Civil pela mesma
Universidade (2002) e Graduação em
Direito pela Universidade Católica de
Pernambuco (1998).
Você pode me encontrar em:
fernando.joaquim@academico.ufpb.br

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Monitora: Wesla Maria de
Holanda

Graduanda em Direito pela Universidade


Federal da Paraíba.

Você pode me encontrar


em:
weslamholanda@gmail.co
m
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Direito Agrário
Horário: Critérios de avaliação
Quarta-feira das 19h às 22h20min
1.Participação do aluno em sala de aula
Métodos didáticos de ensino: 2.Seminários em equipe
Seminários 3.Provas escritas
Leitura Dirigida
Execução de pesquisa

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Avaliações
1ª unidade 2ª unidade 3ª unidade
15/09/2021 29/09/2021 24/11/2021
Prova objetiva com Seminários e 3º Colóquio de
20 questões produção de Direito Agrário
conteúdo

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DESAPROPRIAÇÃO POR
INTERESSE
SOCIAL PARA FINS DE
REFORMA AGRÁRIA
2.1 Conceito e objetivos
▪ Prevista no artigo 184 da Constituição Federal, regulamentada
pela Lei nº 8.629/93 c/c Lei Complementar nº 76/93, é o
instrumento processual que permite a aquisição originaria da
propriedade, no qual a União exclui do seio social o imóvel rural
que não cumpre a sua função social, mediante a prévia e justa
indenização, em dinheiro, das benfeitorias úteis e necessárias e
em Títulos da Divida Agrária (TDAs) o valor da terra nua, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de
até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão.

▪ Estão imunes a este instrumento a pequena e média


propriedade rural, desde que seja a única, e ainda a
propriedade produtiva.
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▪ Objetivos, previstos no art. 18 do Estatuto da Terra:

a) Condicionar o uso da terra à sua função social;


b) Promover a justa e adequada distribuição da propriedade;
c) Obrigar a exploração racional da terra;
d) Permitir a recuperação social e econômica de regiões;
e) Estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e
assistência técnica;
f) Efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos
recursos naturais;
g) Incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural;
h) Facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou a
outros recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades
predatórias.
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2.2 Bens objeto da desapropriação para fins
de reforma agrária
▪ Serão passíveis de desapropriação para fins de reforma agrária as
propriedades rurais que não estejam cumprindo com a sua função social,
como tal definidas as que não cumprem os requisitos do art. 9º da Lei nº
8.629/1993 e art. 186 da Constituição Federal de 1998, bem como nas
hipóteses do art. 243 da CFRB.
▪ As pequenas e médias propriedades somente serão passíveis de
desapropriação acaso o seu proprietário possua outra, mas no caso de
ocorrer a hipótese do trabalho escravo, e plantas psicotrópicas, não se
aplica qualquer exceção, por prever o constituinte qualquer direito à
indenização.
▪ Em todo caso, a desapropriação deverá recair sobre a propriedade
improdutiva, de vez que é vedada pela Constituição Federal
desapropriação sobre imóveis produtivos.
▪ As áreas escolhidas para desapropriação para fins de reforma agrária
deverão passar por prévia avaliação de viabilidade econômica de
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exploração, pois só assim poderão cumprir com a sua finalidade.
2.3 Fase administrativa do processo de
desapropriação

▪ Fase na qual se obtém o levantamento dos dados necessários à


edição de Decreto de Interesse Social para fins de reforma
agrária, está basicamente prevista na Lei nº 8.629/93.

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2.3.1 Vistoria
▪ Se realiza o levantamento de dados e informações, antecedida
de prévia comunicação escrita ao proprietário, preposto ou
representante, e se ausentes, mediante a comunicação por
edital, publicado 3 vezes consecutivas em jornal de grande
circulação da capital do estado, como previsto no art. 2º, §§2º e
3º, da Lei nº 8.629/1993.

▪ Não se considera qualquer modificação quanto ao domínio,


dimensão e as condições de uso do imóvel, introduzida ou
ocorrida até 6 meses após a data da comunicação da vistoria
(artigo 2º, §4º, da Lei nº 8.629/93)
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2.3.1.1 Vistoria e características do Manual
de Obtenção de Terras do INCRA
▪ De acordo com o Manual de Obtenção de Terras do INCRA, a fase de
levantamento preliminar tem por objetivo:
a) apurar a produtividade e fiscalizar o cumprimento da função social da
propriedade, segundo os parâmetros estabelecidos em lei e em normas
internas;
b) fundamentar parecer sobre a viabilidade técnica e ambiental para sua
inclusão no Programa de Reforma Agrária;
c) identificar qualificar e dimensionar benfeitorias, úteis, necessárias e
voluptuárias (esse procedimento será adotado nos casos de flagrante
condição de improdutividade do imóvel e sua prestabilidade para
assentamento de trabalhadores rurais);
d) aferir a veracidade dos dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural
(SNCR), declarado pelos proprietários, titulares de domínio útil ou
possuidores, promovendo ex ofício a atualização cadastral dos imóveis, com
dados que retratem sua real e atual situação, conforme as condições de 12
exploração verificadas, além de incluir novos dados que não estejam ainda
2.3.2 Pagamento das TDAs
▪ Após devidamente observado o processo competente, será
realizado o pagamento da indenização referente às TDAs, que
são resgatáveis a partir do 2º ano de sua emissão, com
cláusula de preservação do valor real, em até 20 anos.

▪ Regra geral as TDAs somente podem envolver o pagamento do


valor da terra nua, porém o proprietário pode aceitar o
pagamento integral da indenização em TDAs.

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2.3.2.1 Pagamento da terra pelo beneficiário da
reforma agrária

▪ Um mito muito comum é a falsa ideia de que o cliente da


reforma agrária não deve pagar pela terra, que recebe um
presente do Poder Público, mas na verdade o beneficiário
paga o valor da terra em prestações anuais, em até 20 anos,
com carência de 3 anos, ao pagar as prestações no
vencimento há redução de 50% do valor da correção
monetária da respectiva prestação.
▪ São isentas de impostos as operações de transferências de
imóveis desapropriados para fins de reforma agrária, e não se
cobra custas ou emolumentos para registros dos títulos e
transferência aos beneficiários (art. 26 da Lei nº 8.629/93).
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2.4 Desapropriação judicial por interesse
social para fins de reforma agrária

2.4.1 Decreto
▪ O interesse social para fins de reforma agrária deve ser
declarado através de Decreto Presidencial, que deverá
instruir a petição inicial.

▪ Ocorre a caducidade do Decreto Presidencial após 2


anos da sua edição, impedindo o direito de ação da
União Federal.

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2.4.2 Requisitos e características da
ação judicial
▪ A ação de desapropriação por interesse social para fins
de reforma agrária possui caráter preferencial e
prejudicial em relação a outras ações, independe de
preparo e emolumentos e atrai por dependência as
ações que tenham por objeto o imóvel desapropriando
para a Vara Federal (art. 18 da LC nº 76/93).

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a) Petição Inicial e Citação
▪ A Petição Inicial da ação de desapropriação além dos
requisitos de 282 do CPC exige a oferta do preço, devendo
ser instruída com:
a) Decreto Presidencial de Interesse Social,
b) Certidões atualizadas do imóvel,
c) laudo de vistoria e avaliação administrativa,
d) Comprovante de TDAs para o VTN,
e) Comprovante Bancário Oficial do Valor ofertado das
benfeitorias úteis e necessárias. (artigo 5º da LC 76/93).

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▪ O artigo 7º da Lei Complementar nº 76/93, traz as regras sobre a citação do
desapropriando, considerando a situação de domínio da área, objeto de decreto
de interesse social, ditando as seguintes regras:
1. O expropriando será devidamente citado na pessoa do proprietário do bem, ou de
seu representante legal, obedecidas as regras do Código de Processo Civil.
2. Existindo si tu ações de mais de um titular sobre o bem imóvel, deverá ser
obedecida na citação de todos os interessados.
3. Havendo enfiteuse ou aforamento, serão citados os titulares do domínio útil e do
domínio direto, exceto quando for contratante a União, pois neste caso, deve
haver a articulação prévia do INCRA com a Gerência do Patrimônio da União.
4. No caso de espólio, inexistindo inventariante, a citação será feita na pessoa do
cônjuge sobrevivente ou na de qualquer herdeiro ou legatário que esteja na posse
do imóvel.
5. Serão intimados da ação os titulares de direitos reais sobre o imóvel
desapropriando.
6. Serão ainda citados os confrontantes que, na fase administrativa do procedimento
expropriatório, tenham, fundamentadamente, contestado as divisas do imóvel
expropriando.
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b) Contestação
▪ A contestação não pode discutir o mérito da desapropriação,
mas apenas o valor da indenização, segundo regra tradicional
do direito brasileiro, excluída a apreciação do interesse social,
e deve ser protocolada no prazo de 15 dias.

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2.4.3 Procedimentos da instrução e
julgamento
▪ Após devidamente citados os desapropriados, o juiz deve
promover a audiência de conciliação, que deve ocorrer após
10 dias da citação. Esta audiência não suspende o curso da
ação.
▪ Infrutífera a conciliação, somente será objeto de perícia os
pontos impugnados do laudo de vistoria administrativa, e que
deve ser feita em prazo fixado pelo juiz, não podendo
exceder 60 da data do compromisso do perito (art. 9º).
▪ A Audiência de Instrução e Julgamento deverá ocorrer em
até 15 dias depois de concluída a perícia, sendo que a
sentença deverá ser proferida em audiência ou até 30 dias
após a audiência de Instrução e Julgamento, quando se
define o valor da indenização com base nos laudos e outros 20
meios objetivos, inclusive pesquisa de mercado.
2.4.4 Recursos e execução
▪ Da sentença da ação de desapropriação cabe o Recurso de
Apelação, que terá apenas o efeito devolutivo se interposto
pelo expropriado e em ambos os efeitos se pelo expropriante.
Somente ocorre a remessa ex officio se a condenação da
indenização for em valor superior a 50% do oferecido na
inicial. Não há revisor na apreciação destes recursos.

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2.5 A justa indenização na ação de
desapropriação por interesse social para fins
de reforma agrária

▪ A justa indenização prepondera o tradicional olhar do prejuízo


do privado, como se este estivesse sofrendo um prejuízo por
ação do Poder Público, quando em muitas situações a
intervenção do Poder Público ocorre justamente porque há uma
inação do particular que não cumpre o ônus constitucional da
função social, elemento fundador e constitutivo do direito de
propriedade.

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2.6 Avaliação das terras - Correta
metodologia - Impossibilidade de se avaliar
bens naturais como um valor próprio -
Independente da intervenção humana

▪ Deve ser refutada a tradicional contestação da injustiça


da indenização de áreas desapropriadas que excluem
do cálculo as áreas de floresta como um critério à parte
do valor da terra nua, por não estarem aplicadas a um
uso econômico, pois não estão "considerando o lucro
potencial dos recursos naturais ali existentes".

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2.6.1 Exclusão de espécies arbóreas e terras
sem efetivo uso - Meras potencialidades não
geram direitos a lucros cessantes

▪ Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC -


Lei nº 9.985/2000) cujo artigo 45 estabeleceu regras especiais,
no que tange a indenização referente à regularização fundiária
das unidades de conservação, derivadas ou não de
desapropriação, para excluir do seu cálculo, quatro hipóteses:
1. As espécies arbóreas declaradas imunes de corte pelo Poder
Público;
2. Expectativas de ganhos e lucro cessante;
3. O resultado de cálculo efetuado mediante a operação de juros
compostos;
4. As áreas que não tenham prova de domínio inequívoco e
anterior à criação da unidade. 24
2.6.2 Exclusão de indenização de áreas cujo legislador define como
fora do uso econômico – Espécies arbóreas declaradas imunes de
corte - art. 45, inciso III, da Lei nº 9.985/2000 c/c Regras da Lei nº
12.651/201 2 – Código Florestal - Sobre as áreas de preservação
permanente e reserva legal
▪ A Lei nº 9.985/2000, exclui do valor da indenização a ser paga na
regularização fundiária de unidades de conservação, decorrentes de
desapropriação ou não, as espécies arbóreas declaradas imunes de
corte pelo Poder Público (art. 45 caput, c/c inciso III).
▪ Não se pode, no cálculo da indenização, incluir áreas cujo legislador
define como de preservação e sujeitas a restrições legais, o que deve ser
observado e ser excluída do suposto dano indenizatório, sendo assim,
qualquer pleito neste sentido deve ser julgado totalmente improcedente.
▪ A exclusão destas áreas do quantum indenizatório se faz por justiça, sem
que se possa considerar como prejuízo ao proprietário, pois interditadas
ao uso econômico, o art. 7º do Código Florestal expressamente
determina que a vegetação situada em Área de Preservação Permanente
deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a
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qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
2.6.3 Impossibilidade de indenização de lucros cessantes
ou compensatórios de áreas sem efetivo uso
econômico - Não se indeniza meras potencialidades
- Somente o trabalho gera riqueza e direitos
indenizáveis

▪ Art. 45 da Lei do SNUC que exclui da indenização as


expectativas de ganhos e lucro cessante, e que refletem
a prática jurisprudencial que exclui do valor indenizatório
aqueles elementos da área que não foram objeto do
trabalho humano, ensejando uma especial modalidade
de enriquecimento sem causa, caso fossem indenizados
bens apenas produzidos pela natureza e que o
proprietário não explorava, mas que no processo de
desapropriação direta ou indireta pretende ver
indenizado, e que na linguagem jurisprudencial chama-
se Juros Compensatórios.
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2.8 Domínio e indenização
▪ A quarta hipótese do art. 45 da Lei do SNUC: excluir da
indenização as áreas que não tenham prova de domínio
inequívoco e anterior à criação da unidade, esta hipótese foi
resultado da tomada de consciência de fragilidade dos registros
de imóveis, em que, através da prática da grilagem, particulares
se apossaram de áreas do patrimônio público, sem demonstrar
uma origem no desmembramento deste patrimônio privado

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Notas conclusivas
▪ Somente a partir de um juízo de discricionariedade por parte do Chefe
do Executivo o Estado Membro pode decidir em intervir em situações
de conflito entre propriedade e interesse social no campo,
especialmente quando presente demanda judicial tutelando o direito
de propriedade, ainda que provocado pelo judiciário, mediante os
seguintes mecanismos:
1. Pode ser adotada a decisão tradicional sob a conveniência de atender
o interesse público mediante o mecanismo da desapropriação da área
por interesse social, na forma da Lei nº 4.132/62 c/c Decreto-Lei nº
3.365/41 .
2. A intervenção mediante o requerimento de decretação judicial de
perda da propriedade pelo não cumprimento da função social da
propriedade, na forma do art. 1228, §4º e §5º, do Código Civil de
2002.
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Obrigada!

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