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Informativo Técnico do Sindicato dos

Trabalhadores em Assistência Técnica e


Extensão Ruraldo Estado de Minas Gerais

Ano 3 | Edição nº 11 | Março de 2011

www.sinter-mg.org.br

Na foto, encosta com Vetiver (mais nas páginas 3 e 4). Essa é uma técnica agroecológica.
Fotografia de André Henriques

DESTAQUE

Os problemas gerados pela erosão


hídrica pág. 03

OUTRAS NOTÍCIAS

Bio Dicas: Saiba mais sobre


02 O alho como
antibiótico natural
04 a Biorremediação
Vetiver
Edição nº 11 | Março de 2011 | Ano 3
02

Editorial Bio Dicas


O Agroecológico voltou! Já fazia qua- Uso de Alho (Allium sativum) para controle fitossanitário
se uma década que este periódico
que informa e divulga assuntos relacio- O alho é considerado um antibiótico natural e pode ser usado como inibidor ou
nados à agroecologia estava sumido, repelente de parasitas de plantas ou animais. A seguir seguem algumas dicas
parado. Atendendo uma demanda exis- sobre maneiras de fazer preparados caseiros a base de alho e como usá-los.
tente, o Sinter-MG decidiu pela reto-
mada, seguindo a numeração da últi- Receita 1
ma edição, de 2001, infelizmente não 3 cabeças de alho - 1 colher grande de sabão de coco picado - 2 colheres
impressa no informativo de fevereiro. de sopa de parafina líquida
Amassar as cabeças de alho misturando em parafina líquida. Diluir este pre-
Aliás, se havia esta demanda foi por- parado para 10 litros de água, com o sabão picado. Pulverizar logo em seguida.
que os idealizadores e os técnicos que Indicação: Repelente de insetos, bactérias, fungos, nematóides, inibidor de
contribuíram na década de 90 para digestão de insetos e repelente de carrapatos.
colocar disponível um espaço para di-
vulgar o pensamento agroecológico o Receita 2
fizeram com exímia eficiência. Cons- 100g de alho - 0,5 litro de água -10g de sabão de coco - 2 colheres (de
tatamos isso quando encontramos café) de óleo mineral
em muitos escritórios da Emater-MG Os dentes de alho devem ser finamente moídos e deixados em repouso por
alguns periódicos do Agroecológico 24h em 2 colheres de óleo mineral. À parte, dissolver 10g de sabão em 0,5L
que estão guardados e sendo utiliza- de água. Misturar então todos os ingredientes e filtrar. Antes de usar o pre-
dos como material de consulta. parado, diluir o mesmo em 10L de água, podendo, no entanto, ser utilizado
em outras concentrações de acordo com a situação.
Com base neste pensamento de divul-
gação da agroecologia, mas também Receita 3
como divulgador de resultados e in- 1 pedaço de sabão de coco (50g) - 4 litros de água quente - 2 cabeças de
formações técnicas é que estamos de alho finamente picadas - 4 colheres pequenas de pimenta vermelha picada
volta. Uma roupagem nova, conteúdo Dissolver um pedaço de sabão do tamanho de um polegar (50g) em 4L de
técnico. A cada mês teremos matérias água. Juntar 2 cabeças picadas de alho e 4 colheres de pimenta vermelha
técnicas, bio dicas e muito mais. picada. Coar com pano fino e aplicar.

O Agroecológico é nosso. Dê suges- Indicação para receitas 2 e 3: Trips, pulgões, mosca doméstica, lagarta do
tões, mande material, com sua parti- cartucho do milho (Spodoptera sp.), mosquito da dengue (Aedes aegypti),
cipação e apoio na divulgação da agro- Xanthomonas campestris, míldio, brusone, podridão do colmo e da espiga,
ecologia, tenho certeza que estaremos mancha de Alternaria, macha de Helminthosporium, podridão negra, ferru-
contribuindo para um mundo melhor. gem, mosca dos chifres e mosquitos.

Antônio Domingues Fonte: STOLL (1989), SABILLÓN & BUSTAMANTE (1996) - Receitas publicadas em: ABREU JUNIOR, H. de (coord.) Práti-

Diretor de Comunicação do Sinter-MG cas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura: coletânea de receitas. Campinas: EMOPI, 1998. 115 p.

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Edição nº 11 | Março de 2011 | Ano 3
03

Estabilização de solos e controle de ero-


são com Vetiveria zizanioides (L.) Nash
Por André Henriques

A erosão hídrica é um dos mais graves problemas 525 municípios, ou seja, 47% dos que informaram a
ambientais decorrentes do mau uso do solo. As es- degradação. Dos 366 municípios que declararam ter
tatísticas sobre perdas físicas de solo em todo o mun- sofrido alteração ambiental devido ao deslizamento
do revelam que, a cada ano, bilhões de toneladas de de encostas, só 30% (ou 110) praticaram alguma
terra fértil são erodidas e transportadas para os rios. ação voltada à contenção de encostas.
No Brasil as perdas já atingem 840 milhões de tone-
ladas anuais. O drama não é só brasileiro, é mundial, A erosão do solo – segundo problema ambiental
e particularmente grave nas regiões tropicais. mais mencionado – causou prejuízo à agricultura em
43,1% dos municípios. Em 95% dos municípios bra-
No passado, as perdas de solo arável arruinaram civi- sileiros, a agricultura foi considerada uma atividade
lizações inteiras, como os Maias na América Central. importante, mas em 36,3% deles (1.919) houve pre-
A queda do Império Romano tem provável relação juízos na atividade, por problemas ambientais.
com a exaustão dos solos, pelo arraste das camadas
férteis. “As nações só duram o que dura o seu solo”. A biorremediação Vetiver

As partículas de solo, em A biorremediação é o


suspensão na água, trans- processo no qual organis-
portam nutrientes, matéria “No passado, as perdas de solo mos vivos, normalmente
orgânica e sementes, o plantas ou microorganis-
que causa empobrecimen- arável arruinaram civilizações mos, são utilizados tecno-
to do solo agrícola, elevan- logicamente em interven-
do os custos de produção
inteiras, como os Maias na ções ambientais. Este
podendo, inclusive, resul- processo tem sido inten-
América Central.” sivamente pesquisado, e
tar no abandono de áreas
anteriormente produtivas. recomendado pela comu-
nidade científica como uma alternativa viável para o
Além do prejuízo na reposição dos nutrientes perdi- tratamento de ambientes degradados.
dos, outro grande problema decorrente é o assorea-
mento de corpos de água. O assoreamento afeta não O Vetiver é bastante conhecido desde os mais remo-
só o abastecimento de água potável à população ru- tos tempos da Antiguidade, cultivado há pelo menos
ral e urbana, como as atividades agrícolas e industri- 6.000 anos, foi largamente propagado ao redor do
ais, e, também, a produção de energia elétrica, tendo mundo pela importância na produção de óleo essen-
em vista que mais de 95% da energia produzida no cial aromático e por seus “poderes mágicos”. Atual-
país provém de hidrelétricas. mente é encontrado em quase toda região Pantropi-
cal do planeta.
Segundo o IBGE, os desastres ambientais mais
comuns no Brasil são deslizamentos de encostas e O Vetiver é uma planta herbácea e perene (pode vege-
erosão. Entre os anos 2000 e 2002, 2.263 municí- tar durante séculos). A espécie é constituída por tou-
pios brasileiros (41% do total) declararam ter sofrido ceiras de arquitetura ereta, com folhas e hastes lon-
algum tipo de alteração ambiental que afetou as con- gas, delgadas e bastante resistentes e consistentes.
dições de vida da população. Dos 1.954 municípios
(35%) que informaram alteração da paisagem, 676 A origem do Vetiver é ainda desconhecida, segundo
municípios (35%) disseram que a causa foi a erosão alguns autores é proveniente das regiões pantanosas
do solo (voçorocas, ravinas e deslizamentos). A do subcontinente indiano (Vietnã, Sri Lanka & Sul da
ocupação irregular de áreas frágeis foi indicada por Índia). Atualmente é muito cultivado na Indonésia e
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Índias Ocidentais. relativa das suas raízes (6–10 kPa/Kg por m³ de solo),
volume muito superior a cobertura realizada pelas raí-
Saiba mais sobre a Biorremediação Vetiver zes das árvores (3,2–3,7 kPa/Kg por m³ de solo).

Espécie pioneira, o Vetiver apresenta características A resistência da raiz do Vetiver aumenta com a redução
eco-fisiológicas únicas no mundo. A capacidade de do diâmetro, ou seja, raízes novas já conferem a pro-
estabilizar o solo e controlar a erosão, aliada a exce- teção do solo. As raízes do Vetiver apresentam força
pcional adaptação ás mais diversas e inóspitas con- tensil que variam de 40–180 [Mpa]. As raízes com
dições bioedafoclimáticas, o que a torna possível se diâmetros de 0,2–2,2mm têm uma força tensil média
desenvolver onde nenhuma outra planta sobreviveria. de 75 [Mpa], equivalente a 1/3 da força tensil do aço,
Extremamente rústica, o Vetiver é simultaneamente hi- só que as raízes de Vetiver jamais enferrujam.
drófilo e xerófilo, além de resistir a extremos hídricos
(300–3.000 mm/ano), também tolera extremos térmi- Caso o Vetiver venha a ser enterrado, pelo deslo-
cos (-14ºC a +55ºC). camento e o acumulo de sedimentos, os seus nós
emitem novas raízes, que nivelam a planta com a nova
A fixação biológica de nitrogênio atmosférico e do superfície do terreno. Os incríveis atributos e a versa-
fósforo, através da associação de bactérias e fungos tilidade conferem o status ao Vetiver de “uma das es-
simbióticos das raízes, permite ao Vetiver vegetar em pécies mais úteis e promissoras à Humanidade deste
praticamente qualquer tipo de terreno, tolerando solos século”.
de baixa fertilidade, e com valores extremos de pH, sa-
linidade e toxidez. Alternativa tecnológica

A complexa rede de bainhas e folhas do Vetiver retém Em áreas perturbadas, onde os métodos convencio-
a translação de sedimentos, dos mais finos aos mais nais de proteção ambiental, geralmente, consistem em
grosseiros, estabelecendo barreiras naturais, que re- soluções complexas e pouco práticas, de custo ele-
duzem a velocidade das enxurradas e aumentam a vado, e de eficiência questionável, a “Biorremediação
capacidade de infiltração d’água no solo, controlando Vetiver” oferece uma alternativa tecnológica simples,
a erosão até mesmo em grandes inclinações (150º). eficaz, segura, e de reduzidos custos operacionais e
econômicos.
As raízes do Vetiver são extensas e profundas, cres-
cem até 3cm por dia e atingem de 2 a 3m de profundi- O Vetiver é produzido no Horto Municipal de Caxam-
dade no primeiro ano de plantio, podendo alcançar até bu, o que permite a criação de “ferramentas vivas” a
6m de extensão. As raízes não entram em dormência, serem empregadas na estabilização de solos e con-
mesmo em baixas temperaturas do solo (15Cºdia e trole da erosão, nas proteções de mananciais, e nas
13Cºnoite), mesmo nestas condições foram registra- contenções em áreas frágeis de encostas habitadas.
das taxas de crescimento radicular de 1,26 mm/dia. Nos trabalhos de Biorremediação Vetiver desenvolvi-
dos na zona rural, são disponibilizadas plantas matri-
O extenso alcance das raízes do Vetiver, em profun- zes de Vetiver para serem cultivadas e multiplicadas
didade, lhe confere uma surpreendente capacidade pelos produtores, e posteriormente utilizadas nas in-
de resistência à seca prolongada, e uma extraordinária tervenções ambientais. Na zona urbana, como o es-
capacidade de recuperação após sofrer estresses, paço físico das residências geralmente é limitado para
como queimada, pastoreio intensivo, alagamentos, a produção de mudas, são disponibilizadas todas as
etc. A espécie já demonstrou uma enorme qualidade plantas exigidas nas contenções.
de resistência ao ataque de pragas e doenças, e ao
acamamento por fortes ventos. O espaçamento de plantio à produção de mudas de
Vetiver é de 50cm entre plantas e entre linhas. Nas
A raiz do Vetiver apresenta um impressionante poder intervenções ambientais, o espaçamento de plantio
de penetração, de tamanho vigor, que pode inclusive mais indicado, é de 10–15cm entre plantas, posicio-
transpor camadas com impedimentos rochosos. O nadas em faixa, e plantadas no sentido horizontal, de
sistema radicular agregante de solo, forma um gram- “cortar as águas”. O número e o intervalo entre as filei-
peamento natural muito difícil de ser desalojado, como ras de Vetiver variam conforme as características do
“pregos do solo”. lugar, podendo variar de 2–5m entre as fileiras.

A excepcional capacidade na estabilização de solos André Cesar Henriques


pelas raízes do Vetiver advém da grande densidade É engenheiro agrícola da Emater-MG.

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