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NATAL/RN
2016
ANNA FLÁVIA MONTENEGRO LISBÔA
NATAL/RN
2016
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Hoje realizo mais um sonho. Não foi fácil. Precisei me esforçar, ter muita de-
terminação e paciência para chegar até aqui, mas esse sonho não seria possível se
eu não tivesse pessoas tão especiais ao meu lado.
Agradeço primeiramente a Deus, força maior, a quem confio minha vida, por
nunca ter me abandonado e por ter me escutado quando em minhas orações, lhe
pedia forças para continuar seguindo em frente. Sem Ele eu não estaria aqui.
Aos meus pais, Dison e Flávia, por todo o apoio que sempre me deram, além
do amor incondicional, a confiança em mim depositada e pelo incentivo para que eu
pudesse concluir uma segunda graduação. Agradeço por me mostrarem sempre o
melhor caminho a ser seguido. É graças ao esforço de vocês em sempre me propor-
cionar o melhor que hoje cheguei até aqui.
Aos meus irmãos, Bia e Rui, pela paciência com os meus dias de estresse, de
angustia, por sempre torcerem por mim e, principalmente por todo o incentivo que
me dão.
Ao CAPS III Leste e sua equipe maravilhosa por ter me acolhido tão bem.
Sem duvidas jamais esquecerei o aprendizado adquiri ao longo dos meses em que
estive lá.
Carl Jung
RESUMO
This work aims to understand the limits, possibilities and challenges of the so-
cial worker inserted in the field of mental health, more precisely in the Center for
Psychosocial Attention Dr. André Luiz, CAPS III LESTE. For that, the phases of the
treatment destined to insanity from the beginnings of the civilizations have been dis-
cussed, alluding to historical landmarks, such as the treatments given by Phillipe Pi-
nel and the current model thought by Franco Basaglia. In this sense, it was made a
cut of institution and locality, since, it was the present situation of the network articu-
lated in mental health in the Municipality of Natal. Therefore, the importance of buil-
ding and apprehending mental health policy by the professionals involved in this area
was emphasized, as well as the importance of civil society in formulating and evalua-
ting these policies in order to build effective responses to this segment. From this, the
importance of the social workers in this policy is evaluated, evidencing their contribu-
tions from the theoretical-methodological, ethical-political and technical-operational
supports that support the profession in the most diverse socio-occupational fields,
among them in the Field of mental health.
1. INTRODUÇÂO ...................................................................................................... 9
2. A SAÚDE MENTAL NO BRASIL, BREVE RESGATE HISTÓRICO .................... 18
2.1. REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL, DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E
LUTA ANTIMANICOMIAL .......................................................................................... 18
2.2. OS DESAFIOS HISTÓRICOS DA EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE
MENTAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO .............................................................. 28
2.3. ANÁLISE DA CONJUNTURA DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL EM
NATAL/RN ................................................................................................................. 36
3. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL
EM NATAL/RN ........................................................................................................... 45
3.1. A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL
E NA LUTA POR DIREITOS ...................................................................................... 45
3.2. O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS LESTE:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS..................................................................................54
3.3. A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE
MENTAL.....................................................................................................................63
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................71
REFERÊNCIAS..........................................................................................................75
9
1. INTRODUÇÂO
1
O CAPS se constitui em um serviço público baseado na psiquiatria preventiva comunitária, por meio
de equipes de atendimento multidisciplinar formada por profissionais, que visam à inserção da família
no tratamento, bem como a permanência na comunidade onde reside o paciente. De acordo com
Ribeiro (2004) é uma ampliação da intensidade dos cuidados com as pessoas com transtornos
mentais, incluindo a diversidades dos mesmos, bem como os locais onde estão inseridos.
10
realizada nas ruas das cidades em ascensão às quais teriam que ficar livres de
fatores indesejáveis, com a omissão ao invés do fornecimento de tratamento
adequado para esta questão. (PASSOS E AMSTALDEN, 2012).
O tratamento direcionado a loucura nos manicômios se constituía
demasiadamente em violação dos direitos humanos, pois para conter surtos
psicóticos eram utilizados métodos que causavam dor e sofrimento, tais como
choques, camisas de força, banhos frios, isolamento, entre outros castigos físicos e
psíquicos.
É possível compreender que este modelo de tratamento baseado no
isolamento da pessoa com doença mental, não se tinha a pretensão de realizar os
cuidados necessários que os pacientes necessitavam, a real intenção era eliminar
do convívio social as pessoas que sofriam com transtornos psíquicos, por meio do
isolamento em hospitais psiquiátricos, e com isto, omitia-se os desdobramentos
referentes a esta questão, ou seja, escondia o real problema.
Em meio as constantes violações nos direitos das pessoas acometidas por
doença mental, no século XX foi difundida por toda e Europa, e posteriormente,
implantada no Brasil, uma forma mais humanitária destinada ao tratamento da
loucura. O tratamento hospitalar e manicomial foi sendo substituído por uma rede de
atenção ambulatorial e os pacientes mais graves em surto psicótico, seriam
atendidos em hospitais gerais.
No que tange a chegada desse novo modelo de tratamento no Brasil, tem-se
que o mesmo foi propagado em um momento de grande efervescência dos
movimentos sociais no país que havia saído de um longo e intenso momento de
cerceamento de liberdade provocado pela ditadura Militar.
Deste modo, surge o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental
(MTSM), no final de década de 1970. O intuito do movimento, composto
principalmente por trabalhadores em saúde e membros da sociedade civil era de
difundir um modelo mais humanizado para o tratamento das pessoas com doença
mental, substituindo os hospitais psiquiátricos por tratamento ambulatoriais e
denunciando a mercantilização da loucura nos serviços prestados pela rede privada
de saúde. (VASCONCELOS ET AL, 2009).
Desde as reivindicações do MSTM por políticas públicas que abarcassem
ações para tornar o tratamento destinado à loucura mais humanizado, tais como a
abertura de uma rede territorial para tratamento ambulatorial que priorizasse os
11
2
Por Questão social entende-se que seja, como assevera Iamamoto (2001), o conjunto de expressões
das desigualdades sociais presentes na sociedade capitalista madura, e impensáveis sem a
intermediação do Estado.
12
3
De acordo com os apontamentos realizado por Souza e Domingues (2012), com base na análise do
conceito elucidado Por Marx, emancipação Política diz respeito a liberdade dos homens em relação
ao Estado. Já a emancipação humana abrange superação da exploração dos homens pelos homens.
Os autores afirmam ainda que a primeira seria a emancipação parcial realizada pela burguesia, já a
segunda seria total, realizada pelo proletariado.
13
4
Evidencia-se que o serviço social possui três dimensões as quais são interligadas e não podem ser
pensadas de forma isolada. De acordo com Sousa (2008) dimensão teórico-metodológicas refere-se
a teoria e métodos utilizados pela profissão para que seja permitido enxergar a dinâmica da
sociedade; Ético-político implica dizer que o assistente social necessita assumir valores éticos morais
para balizar a sua pratica; Técnico operativa, aduz as técnicas e instrumentais utilizados para dá
respostas as requisições operativas postas pelos usuários do serviço, garantindo assim uma inserção
adequada ao mercado de trabalho.
14
social que se faz presente nos espaços sócio-ocupacionais nos quais o assistente
social é requisitado a prestar seus serviços. A categoria profissional não deve se
omitir a frente a esta questão, como também deve unir forças na luta por uma
sociedade livre de manicômios.
Para subsidiar a realização do trabalho será feito um estudo de cunho
qualitativo de delineamento bibliográfico, balizados por pesquisas já realizadas
publicadas em formato de livros e artigos e publicadas de autores como Vasconcelos
et al (2002), Vasconcelos (2007) Bravo (2002), Gama (2012), entre outros. A
concepção desses autores será fundamental para realização de reflexões a respeito
do tema posto em questão para o debate. A viabilidade da pesquisa se dará de
forma a exploração da bibliografia.
Também serão utilizados documentos produzidos pela a equipe do próprio
CAPS e relatórios emitidos pelo Ministério da Saúde, desde o ano 2000 até o
presente ano, referentes à atual situação da efetivação da política de saúde mental
no Brasil, como também serão usados dados divulgados pelo Ministério da Saúde,
com relação à implementação da lei 10.026/2001. Será realizada uma análise da
referida lei em consonância com outras iniciativas tais como a de humanização do
SUS, a assistência à Saúde prevista na Constituição Federal, entre outras.
Para situarmos o estudo, também será analisado dados referentes a
instituição com a qual se pensou a pesquisa, ou seja, será exposto dados referentes
ao perfil social e econômico dos pacientes que utilizam os serviços prestados pelo
CAPS III Leste. Seqüencialmente, será realizada uma análise com relação aos
trabalhos desenvolvidos pelo setor de Serviço Social contido na instituição.
A pesquisa terá como ponto de partida a perspectiva critico dialética para a
apreensão da totalidade do objeto a ser estudado, partindo do macrossocial para o
microssocial. De acordo com Netto (2011), se faz necessário compreender a
aparência do objeto para que possa se chegar à essência do estudo em questão.
Com isto, será utilizado o método quantitativo acerca das análises de dados
fornecidos pela instituição com a finalidade de provocar reflexões a respeito destes.
No que concerne aos objetivos da presente pesquisa, seu objetivo geral é
apreender o fazer profissional dos assistentes sociais nos Centro de atenção
Psicossocial. Já com os objetivos específicos, deseja-se analisar a atual conjuntura
da saúde mental nos CAPS, especificamente no CAPS III Leste; Discutir as
competências, habilidades e principais problemas apresentados pelos assistentes
16
como também será moldada, a partir destas visões adquiridas, possíveis soluções
para o enfrentamento da problemática discutida.
18
Franco Basaglia
Neste sentido, era comum que famílias que possuíam membros com
transtornos mentais, internassem os pacientes em asilos ou em hospitais, isolados
do convívio social e com o cerceamento da liberdade de locomoção, interação com
parentes e familiares, bem como ocorria o total desconhecimento sobre o tratamento
ofertado. Com relação as modalidades de combate ao surto, sabe-se que os mais
violentos eram acorrentados e para os mais sociáveis, era permitido à saída para
realizar mendicância nas ruas. (PASSOS E AMSTALDEN, 2012)
5
Movimento cultural Europeu que iniciou-se no século XVI até o século XVI
6
Período histórico Europeu que compreende os séculos V e XV, o qual inicia-se com a queda do
Império Romano e estende-se até a idade Moderna.
20
. Nesta mesma linha de raciocínio, Rosa (2000) reitera que foi a partir da
Revolução Francesa com “pressupostos alienistas” que Phillippe Pinel forneceu
bases para o entendimento da loucura como uma doença mental no centro dos
princípios iluministas baseados na igualdade e na liberdade. O alienismo de Pinel
pregava um tratamento moral a partir do trabalho balizado no princípio terapêutico,
firmado na disciplina com o acompanhamento de banhos e duchas e isolamento
terapêutico através da exclusão do paciente do convívio em sociedade.
Todavia, apesar desse novo método tratar a loucura de forma moral, com o
passar do tempo, engessou-se e tornou-se vazio de idéias originais, e foi substituído
por tratamentos corretivos dos hábitos dos pacientes. Com isto, no século XIX, eram
utilizados nos tratamentos medidas tais como, chicotadas, sangrias, banhos frios e
máquinas giratórias.
7
A Santa Casa de Misericórdia foi criada na cidade de Santos, região litorânea do Estado de São
Paulo, quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal, no ano de 1543. O intuito da criação do
Hospital era atender as pessoas que aqui residiam.
21
8
Pondera-se que na sociedade capitalista a concepção de cidadania é reduzida, posto que não pode
ser ampliada neste modo de produção. Portanto, é limitada, principalmente a determinados
segmentos populacionais.
24
trabalhadores da área da saúde mental, com também familiares das pessoas com
patologias de ordem psicológica. O intuito do movimento não era apenas de
denunciar o manicômio como um ambiente violento e danoso para os pacientes,
mas de substituí-lo por um modelo em que se respeitasse os direitos destas pessoas
acometidas por transtornos mentais.
9
A reforma sanitária constituiu-se em um movimento reivindicatório que, de acordo com Bravo (2000),
contou com a participação de novos sujeitos sociais na discussão das condições de vida da
população brasileira com o intuito de provocar transformações necessárias para a melhoria da
qualidade de vida da população, bem como ofertar melhores condições de saúde para os
trabalhadores desta área.
27
Por conseguinte, busca-se tecer novos caminhos para que os direitos das
pessoas com transtorno mental sejam efetivados em uma sociedade repleta por
antagonismo de classe que reflete em descriminação e opressão nos mais
diversificados segmentos minoritários e oprimidos.
Em seu texto original, no artigo 196, a CF aduz sobre o SUS enfatizando que
as ações e os serviços públicos estão dispostos de forma regionalizada 11 e
hierarquizada12 e que constituem um Sistema Único de Saúde, que possui como
diretrizes a descentralização13, a participação comunitária e o atendimento integral,
com prioridade para as atividades de prevenção a saúde.
10
De acordo com o código de ética do serviço social uma sociedade livre de exploração de classe
não seria possível em uma sociedade que adota o modo de produção capitalista, contudo estes
direitos assegurados teoricamente são limitados, bem como não são efetivados de forma ampla para
todos.
11
Regionalização significa dizer que os atendimentos são estruturados a partir de regiões de saúde,
as quais têm em comum, rede de transporte público interligada, aspectos populacionais, índices de
vulnerabilidade social, entre outros.
12
A hierarquização está dividida em atenção primária (estratégia de saúde da família (ESF),
secundária (média complexidade, como centro especializados) e terciária (internação em grandes
hospitais).
13
Descentralização refere-se a forma de financiamento a qual é realizada pelos três entes
federativos, Governo federal, Estadual e Municipal.
30
entre CAPS I15, CAPS II16, CAPS III17, CAPSi II18, CAPS AD II19, todas estes centros
estão destinados a atendimento de um público diversificado para tratamento de
transtornos mentais20.
15
O Centro é determinado como sendo porte I quando atende uma população entre 20.000 e 70.000
habitantes. O atendimento deve ser realizado em 2 (dois) turnos, de segunda a sexta-feira, das 8 h às
18 h, com o atendimento máximo de 30 pacientes por dia.
16
O Centro determinado como sendo de porte II quando atende uma população adscrita entre 70.000
mil e 200.000 mil habitantes. O atendimento deve ocorrer em 2 (dois) ou 3 (três) turnos, este último
estendido até as 21 h, com o atendimento máximo de 45 pacientes por dia.
17
O Centro determinado como sendo de porte III quando atende uma população adscrita acima de
200 mil habitantes. O funcionamento deve ocorrer durante 24 h, diariamente, incluindo finais de
semana e feriados, limitando-se a atender no máximo 60 pacientes por turno.
18
Centro de Atendimento Psicossocial infantil destinada a atender crianças e adolescentes com
transtornos mentais. O Serviço deve funcionar em dois turnos, iniciando às 8 h até as 18 h, podendo
ainda funcionar em um terceiro turno até as 21 h. O limite máximo de pacientes atendidos por dia são
de 25 (vinte e cinco) pacientes.
19
Centro de Atendimento Psicossocial destinado a atender pessoas com transtornos mentais
provocados pela dependência química gerada a partir do consumo abusivo de Álcool e outras drogas.
O Serviço deve funcionar em dois turnos, sendo das 8 h até as 18 h, podendo ser estendido até um
terceiro turno, funcionando das 18 h até as 21 h. O limite máximo de pacientes atendidos por dia é de
25 (vinte e cindo)
20
Fonte: Portaria GM 336/02 de 2002. Disponível em:
http://www.saude.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=322
32
21
A política neoliberal é oriunda da crise estrutural do capital, sobretudo em períodos de recessão,
nos quais pessoas tendem a ter maiores problemas relacionados a transtornos mentais, fruto do
acirramento das desigualdades sociais, do avanço da violência, intensificação das expressões da
questão social que muitas vezes são vistas e/ou resolvidas por perspectivas alienadas e
conservadoras.
22
De acordo com Montaño (2002), há um isolamento mediante setorialização de esferas da
sociedade, deste modo, ocorre a mistificação da sociedade civil, definida como terceiro setor, a qual
aparente ser popular, homogênea e sem contradições de classes e que buscaria um bem comum em
oposição ao Estado, primeiro setor, considerado burocrático e ineficiente, e ao mercado segundo
setor, que angaria lucros e contribui para facilitar a hegemonia do capital na sociedade.
33
A questão que se traz a baila é que a sociedade ainda possui uma visão muito
limitada e conservadora a respeito do uso de algumas drogas consideradas ilícitas
no Brasil. A proibição do uso de algumas substâncias entorpecentes faz com que
não se tenha controle da qualidade do produto ofertado, e com isto muitas pessoas
fazem uso irrestrito destes psicoativos, mesmo que seja proibido o consumo e a
comercialização.
Nesta ótica, o CAPS III Leste, Dr. André Luiz, é mantido com recursos muni-
cipais e recebe investimentos através da Prefeitura Municipal do Natal. O centro faz
parte da atenção básica de saúde, ou seja, da atenção primária, que visa tratar e
prevenir agravos decorrentes de surtos provocados por transtornos mentais severos
e continuados. A demanda atendida pela instituição é oriunda de moradores das
áreas de abrangência das Zonas Sul e Leste da cidade. O atendimento em saúde
mental é realizado com pessoas de baixa renda.
No que se refere a equipe presente na instituição sabe-se que esta deve ser
composta por uma equipe multidisciplinar assim com está descrita na legislação es-
pecífica para pessoas que são acometidas por transtornos mentais. Deste modo, a
equipe pode ser composta por profissionais de nível superior e nível médio, como
elencado a seguir:
Os serviços ofertados pelo centro são prestados por etapas iniciando pela tri-
agem, passando pelo atendimento individual, oficinas terapêuticas, dispensação de
medicamentos, escuta da família e assembléias, acolhimento noturno, matriciamento
e visitas domiciliares.
Com isto, as áreas mais distantes da cidade, que em geral onde residem as
pessoas pertencentes aos segmentos mais populares da sociedade que não se
mostram carentes apenas de recursos financeiros, mas também a acesso a forma-
ção e a bens de serviços, não contam com este tipo de serviço.
Por esta ótica, observa-se que existe a dificuldade de uma família que possui
membro com transtorno mental e necessita realizar tratamento diário em um Centro
que esteja localizado em lugares distantes, dificulta o acesso ao serviço fornecido, e
com isto, reporta-se ao passado, no hospício Dom Pedro II, quando os pacientes
membros das classes mais ricas desempenhavam atividades e tinha uma recupera-
ção mais rápida, enquanto que os membros das camadas mais pobres da sociedade
eram obrigados a realizar tarefas e com isto, mantinha seu tratamento prolongado.
Este fator viola a lei 10.216/2001 que visa proteger os direitos das pessoas
acometidas por transtorno mental, uma vez que, a legislação prevê que este seg-
mento terá acesso ao melhor tratamento fornecido pelo SUS, no entanto, o trata-
mento que deve ser fornecido pelo ente governamental não é suficiente para atender
a demanda.
Neste sentido, tem-se que há reais dificuldades para que haja uma efetivação
da política de saúde mental na cidade de Natal, posto que, os serviços ofertados não
são oferecidos de modo que comporte o atendimento de toda a demanda posta para
os centros. Concorda-se com Pessoa Júnior (2011), em seus apontamentos, quando
o autor afirma que “entre os mais de 20 anos decorrentes do processo de Reforma
Psiquiátrica brasileira, amarga mais desafios do que conquistas efetivas”.
Ainda de acordo com Pessoa Júnior (2011), são elencados em sua pesquisa
três principais elementos que se constituem como desafios postos para a continui-
dade do serviço. O autor menciona a ausência ou a frequência irregular de profissio-
nais, o número insuficiente de CAPS, e a dificuldade de implementação do serviço
em cidades de pequeno e médio porte.
que nesse serviço a demanda é bem maior do que a quantidade de consultas ofer-
tadas pela quantidade de profissionais.
Esta afirmação pode ser constatada com o fato de que o CAPS III do municí-
pio de Natal não realiza atendimentos noturnos pela ausência de médico psiquiatra
que realize plantões noturnos. Isto posto, atualmente, o referido centro está tempo-
rariamente impedido de abrir novos prontuários para atender pacientes recém-
chegados pela ausência de profissionais.
dos médicos e consultas, porém essas demandas culminam por contribuir com a
superlotação da referida unidade de saúde.
Ademais, no ano de 1995, foi sancionada a lei Estadual 6.758 aos dias 4
(quatro) de janeiro, a qual dispõe sobre a adequação dos hospitais psiquiátricos, lei-
tos psiquiátricos em hospitais gerais, construção de unidades psiquiátrica e dá ou-
tras providências. Já em seu primeiro artigo a lei proíbe a criação de novos hospitais
no modelo asilar, bem como a criação de novos leitos nestas unidades de saúde.
24
Na década de 1970, mais precisamente no ano de 1979, o Serviço Social, em consonância com
todos os movimentos de efervescência que ocorriam na América Latina, assume um posicionamento
em favor da defesa dos direitos da classe trabalhadora. Há uma transformação radical nas bases
teóricas do curso que passa se direcionar através do pensamento de Karl Marx, rompendo com o
tradicionalismo arraigado a profissão desde os primórdios da sua criação.
48
25
Nos apontamentos de Netto (1992), o capitalismo Monopolista corresponde a fase mais latente
desse sistema, quando este já se encontra em sua fase madura. Nesta fase, ocorre uma maior
concentração do exército industrial de reserva, aumento da exploração, alienação e da desigualdade
social. Tais fatores agudizam ainda mais as expressões da questão social.
26
A globalização financeira pode ser definida como um processo de interligação dos mercados de
capitais aos níveis nacionais e internacionais, conduzindo ao aparecimento de um mercado unificado
do dinheiro à escala planetária. (PHILON, 2007, p. 01).
27
O Neoliberalismo corresponde a uma política econômica que visa a intervenção mínima do estado
na efetivação de direitos sociais. Para Vasconcelos (2009), este almeja diminuir a regulação social
deixando que a sociedade seja regida através das leis naturais de mercado, qual seja, a lei da oferta
e da procura.
28
A reestruturação produtiva ocorre na terceira fase da revolução industrial após a segunda metade
do século XX, com a declinação do sistema de produção fordista/taylorista. Deste modo, a produção
49
Para o autor, a soma desses fatores contribui para que haja um avanço do
neoliberalismo e com isto, a desresponsabilização do estado em fornecer serviços
básicos através de políticas públicas, provocando um desmonte social de direitos e o
não reconhecimento dos movimentos sociais que reivindicam por seus direitos,
transferindo a responsabilidade do fornecimento de serviços para o terceiro setor.
(VASCONCELOS, 2009).
é realizada conforme a demanda do mercado, como também o empregado passa a executar várias
funções dentro do ambiente de trabalho. (Pena, 2011).
29
intervenção do Estado no âmbito do atendimento das necessidades sociais básicas dos cidadãos,
respondendo a interesses diversos, ou seja, a Política Social expressa relações, conflitos e
contradições que resultam da desigualdade estrutural do capitalismo. Interesses que não são neutros
ou igualitários e que reproduzem desigual e contraditoriamente relações sociais, na medida em que o
Estado não pode ser autonomizado em relação à sociedade e as políticas sociais são intervenções
condicionadas pelo contexto histórico em que emergem. (YAZBECK , 2010, P. 04).
50
Por esta ótica, enxerga-se que a política social é essencial para combater as
expressões provocadas pela tensão entre capital e trabalho. E que estas se
constituem em um meio essencial para que os cidadãos tenham acesso à bens e
serviços, e que principalmente, é o reconhecimento de que o Estado deve efetivar os
direitos sociais dos indivíduos.
Este acontecimento nos faz retroceder a velha lógica capitalista, oriunda dos
governos militares, da época da ditadura, que argumentava que era necessário
“deixar o bolo crescer para poder repartir” 31. Contudo, esta lógica fomenta a
30
A presidenta eleita democraticamente no ano de 2014, Dilma Rousseff, filiada ao Partido dos
Trabalhadores (PT), foi alvo de um processo de impeachmant quando caminhava para o seu segundo
ano de mandato. Contudo, esse processo de retirada do presidente previsto em constituição só pode
ocorrer quando é comprovado que o governante praticou um ato ilícito, o qual não pode ser
sustentado por divergência ideológica ou pela crise econômica que o país vivencia. Diante da crise,
seu vice-presidente, Michel Temer filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB),
rompeu com a ex-presidenta, e com isto, após o processo de impechmant assumiu a presidência da
república mesmo não sendo eleito democraticamente.
31
Política econômica dos governos Militares dos presidentes Arthur da Costa e Silva, Emílio
Garrastauz Medici e João Figueiredo, instituída por Antonio Delfim Netto. O ex-ministro ficou famoso
após comparar o crescimento econômico a um bolo. Ele foi responsável pelo “Milagre econômico”
brasileiro, ocorrido entre os anos de 1968 a 1973, quando o PIB cresceu 10% ao ano. Apesar do
crescimento, a desigualdade se perdurava, uma vez que era baseada na elevação das tarifas
públicas e no congelamento dos salários.
51
Neste entendimento, tem-se que nas mais simples ações realizadas pelos
assistentes sociais, é imprimido o direcionamento político do profissional, o qual
pode contribuir ou não para o favorecimento do projeto hegemônico ou do contra-
hegemônico, este direcionamento dependerá exclusivamente do comprometimento
do profissional com projeto ético-político da profissão. Por esta ótica, complementa-
se que:
Com isto, tem-se que o assistente social pode realizar diversas ações no
campo da saúde mental, entre elas contribuir para a consolidação dos preceitos da
reforma psiquiátrica, contribuindo para que esta comungue com os objetivos do seu
projeto ético e político, com ênfase para as determinações sociais e culturais do
paciente. Por este viés, cabe ao assistente social realizar diversas ações
desafiantes, tais como o trabalho com a família, a geração de emprego e renda,
controle social e a efetivação do acesso a benefícios. (CEFESS, 2010, p. 41).
respaldo para que seja necessário a efetivação dos direitos das pessoas acometias
por transtornos mentais como também para as propostas da reforma psiquiátrica
sejam consolidadas no nosso país, mesmo diante do desmonte de direitos
intrínsecos a atual conjuntura política.
campo profissional o CAPS, necessita que ter apreensão dos direitos assegurados,
vistos que são os mais solicitados pelos usuários que chegam em forma de
requisição para o serviço social da instituição.
De acordo com o estudo realizado por Vasconcelos (2009), os assistentes
sociais se inserem, no campo da saúde mental, principalmente em serviços
substitutivos do modelo hospitalocentrico de natureza pública que integram a
seguridade social, e com estes serviços integrados, se faz necessário uma
intervenção que possa apreender todas as demandas postas pelos pacientes.
Posteriormente, no início da década de 1990, para endossar o direito à saúde,
contido na CF, é promulgada a lei 8.080/90 que aduz sobre a promoção, proteção e
recuperação da saúde, organiza os serviços constitutivos, bem como dá outras
providências. Reconhece também que a saúde é um direito de todo o cidadão que
deve ser efetivado pelo Estado, o qual deve manter condições indispensáveis para o
seu funcionamento. (BRASIL, 1990).
No entanto, o conceito de saúde é abrangente e não se resume apenas a
ausência de doença, como está posto no artigo 3º, da lei supracitada:
Para ingressar no serviço, o (a) usuário (a) precisa ser uma pessoa que
possui transtornos metais graves, severa e persistente, como também precisa residir
em bairros da área de abrangência dos distritos Leste e Sul, ter idade mínima 18
anos e estar acompanhado por um familiar ou responsável.
Os (as) usuários (as) que chegam ao serviço são acolhidos e posteriormente
passam por uma triagem realizada por dois profissionais ou um profissional e um
estagiário. Atualmente as triagens estão encerradas por conseqüência do grande
número de usuários (as) atendidos (as) e da pequena quantidade de médicos (a)
psiquiatras existentes no serviço, porém eram realizadas nas terças e sextas-feiras.
Após a triagem é aberto um prontuário que norteia toda a equipe com relação
ao usuário que está ingressando na instituição. Para um possível atendimento com o
serviço social, não é necessária uma nova triagem ou uma diferente da já realizada
no acolhimento, a família e o usuário serão atendidos prontamente através da
demanda espontânea ou da busca ativa realizada pelo (a) profissional que enxergue
uma demanda que possa ser orientada e/ou resolvida para a melhora na qualidade
de vida do (a) usuário e caso seja necessário, a assistente social solicita ao usuário
(a) ou familiar, dados necessários para sua internação.
Contudo, na realização do atendimento pelo serviço social, surgem outras
demandas que se articulam com o atendimento de saúde. Um significativo número
de pacientes do centro apresentam demandas previdenciárias, de emissão de
documentos, por habitação, inserção em programas sociais para obtenção de renda,
solicitação de cartões para passagens gratuitas no transporte coletivo, entre outras.
Nesta linha de raciocínio, observa-se que o assistente social, em seu
processo de trabalho contribui para que esse conceito abrangente de saúde contido
na lei orgânica da saúde seja efetivado por meio das identificações das
necessidades que contribuam para o acesso a bens e serviços que ultrapassam a
questão da ausência de doença e alcançam o bem estar social por meio de serviços
essenciais para a manutenção das necessidades básicas do ser humano.
Seguindo esta linha tênue, Vasconcelos (2009), aduz que:
mental.
Outro importante fator da equipe multidisciplinar é trabalhar com a questão da
intersetorialidade. Os profissionais das áreas distintas que atuam no campo da
saúde mental devem manter contato para que haja uma relação das atividades
desempenhadas pelos entes das esferas governamentais, visto que, de acordo com
a lei orgânica da saúde, as ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde
devem ser regionalizadas e hierarquizadas. No CAPS isto se materializa através de
assembléias realizadas pelos profissionais junto aos pacientes e familiares e em
reuniões internas da instituição.
De acordo com o estudo de Bredow e Dravanz (2010), intersetorialidade pode
ser identificada como:
psíquicos.
Em consonância ao código de ética do assistente social pode-se também
fazer alusão a lei do SUS que aduz sobre o controle social, a de número 8.142/90. A
referida lei dispões sobre a participação da comunidade no Sistema único de saúde
e sobre as transferências governamentais nos recursos de saúde. Neste sentido, a
lei traz deliberações para as composições dos Conselhos estaduais e municipais de
saúde.
Por conseguinte a legislação direciona, sobre a composição dos conselhos de
saúde:
Por este viés, percebe-se que o estímulo a participação dos usuários nos
conselhos estaduais e municipais de saúde, para que possa ser discutido também
as questões que abarcam a saúde mental, se constitui em uma ferramenta essencial
para efetivação de direitos desses segmentos. Os representantes da sociedade civil,
juntamente com os trabalhadores da saúde podem formular e propostas para serem
postas aos representantes do estado.
Portanto, o trabalho do assistente social no CAPS III Leste se constitui
desafiador, com diversos limites e possibilidades. Contudo, para que o profissional
possa efetuar os direitos do usuário se faz necessário que atue nas demandas
postas com o senso crítico perante as demandas colocadas.
No referido campo sociocupacional o profissional encontrará os desafios da
atuação junto a equipe multidisciplinar, o desmonte de direitos frente a ofensiva da
política neoliberal, a dificuldade do trabalho em rede e da intersetorialidade entre os
entes federados. Com tudo, existem possibilidades de atuação, tais como o incentivo
ao controle social das demandas de saúde, e a defesa intransigente dos direitos
humanos por meio do código de ética da profissão e o projeto ético e político do
Serviço Social. Isto posto, evidencia a importância desse profissional no campo da
saúde mental.
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Respaldados pelo código de ética profissional, bem como pela lei que
regulamenta a profissão do serviço social, espera-se que o profissional desta área
seja comprometido com os interesses da classe trabalhadora e veja nas
organizações dos movimentos sociais uma ferramenta contundente de luta por uma
sociedade mais igualitária e justa. Diante do exposto, verifica-se que:
Nesta linha de raciocínio, a saúde mental também faz parte das expressões
da questão social posto no processo entre capital e trabalho. Como os assistentes
sociais também se inserem nessa dinâmica de trabalho, também são fadados a
serem atingidos por esta lógica. É neste sentido que a profissão, juntamente com
outras categorias, tem assegurada por lei a garantia de jornada diária de trabalho de
seis horas, como previsto no Art. 5o-A. A duração do trabalho do Assistente Social é
de 30 (trinta) horas semanais. (BRASIL, 1993).
Por este viés, o profissional de serviço social por ser assalariado e necessita
vender sua força de trabalho, também está exposto ao risco do processo de
adoecimento que atinge a sociedade capitalista madura, principalmente nas relações
de trabalhos nos mais diversos espaços sociocupacionais. Como assevera Raichelis
(2001):
Essa dinâmica de flexibilização/precarização atinge também o
trabalho do assistente social, nos diferentes espaços institucionais
em que se realiza, pela insegurança do emprego, precárias formas
de contratação, intensificação do trabalho, aviltamento dos salários,
pressão pelo aumento da produtividade e de resultados imediatos,
ausência de horizontes profissionais de mais longo prazo, falta de
perspectivas de progressão e ascensão na carreira, ausência de
políticas de capacitação profissional, entre outros. (RAICHELIS,
2001, p. 01)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
este, Dr. André Luiz. Postos para a reflexão, infere-se que o assistente social pode s
e utilizar das suas atribuições de mobilização social para cobrar dos entes federativo
s boas condições de trabalho, como também de atendimento para os usuários do se
rviço prestado.
Por esta ótica tem-se que o assistente social não terá que mobilizar não some
nte os usuários do serviço e seus familiares, mas também terá que articular os trabal
hadores de saúde mental na busca de cumprir efetivamente os preceitos instituídos
pela reforma psiquiátrica, na busca por um atendimento humanizado, regionalizado
e substitutivo do modelo hospitalocentrico.
Contudo, para estimular a participação da sociedade civil, se faz de suma imp
ortância que o assistente social desperte o interesse de usuários, familiares e trabalh
adores em saúde mental, a participarem da formulação de políticas públicas voltada
s para as pessoas acometidas por transtorno mental, a participação nos conselhos d
e saúde, e no controle social destas políticas.
Outro grande desafio posto ao assistente social que atua na área da saúde m
ental é o estimulo de vínculos familiares, que na maioria das vezes, é rompido devid
o à ausência de informações e mitos que ainda circundam a questão do tratamento
destinada a pessoas com transtornos psíquicos.
Para intervir nesta área, é necessário realizar um trabalho de base com os fa
miliares, informando os novos preceitos oriundos da reforma psiquiátrica, explicando
que para uma melhor efetividade do tratamento é necessário o apoio da família, bem
como da convivência familiar, evitando ao máximo a internação em hospitais destina
dos à internação de pessoas com transtornos mentais. Nestes casos de crises que s
ejam necessários a internação, é mister explicar que é preferível que o tratamento o
corra em leitos de hospitais gerais.
Estas medidas são necessárias para que não haja mais no país violação de di
reitos de pessoas com transtornos mentais, como ocorria nos grandes manicômios b
rasileiros. Por esta ótica, seria viável que os hospitais como o Dr. João Machado que
ainda apresenta o modelo hospitalocentrico de tratamento fosse gradativamente rem
anejado pelos serviços substitutivos de tratamento destinado a loucura.
Todavia, essa substituição só seria possível se a rede de atendimento de saú
de mental do estado fosse realmente eficaz e comportasse toda a demanda. Porém,
não há número de prontuários ofertados para o tratamento, como também não há u
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REFERÊNCIAS
PESSOA JÚNIOR. João Mário. Trajetória do hospital dia dr. Elger Nunes: Um
recorte historio da psiquiatria e saúde mental no Rio grande do Norte. Natal/RN:
UFRN, 2011. Disponível em: http://www.natal.rn.gov.br/bvn/publicacoes/JoaoMPJ.pdf
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ROSA, Lúcia C. dos Santos. Transtorno mental e o cuidado na família..2 ed. São
Paulo, Cortez, 2008.