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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE HISTÓRIA
HISTÓRIA DA AMÉRICA COLONIAL
DÉCIO DE ALENCAR GUZMÁN

VITÓRIA ALESSANDRA DO SOCORRO DE SOUZA BARBOSA

RESENHA - A EXPERIÊNCIA AFRO-AMERICANA NUMA PERSPECTIVA


COMPARATIVA: A SITUAÇÃO ATUAL DO DEBATE SOBRE A ESCRAVIDÃO NAS
AMÉRICAS

BELÉM
2021
RESENHA
O historiador americano Herbert Klein inicia o texto argumentando sobre a
negligência do tema que discorre a respeito da relação entre os regimes escravistas e a
realidade das sociedades pós-abolição. Sabe-se que, por mais que cada país tivesse suas
especificidades territoriais, o sistema escravocrata perpassava todas as sociedades americanas
a partir da tentativa de subverter o corpo negro a posições díspares de tratamento. No caso
estadunidense, por exemplo, observou-se práticas discriminatórias como a limitação para a
emancipação dos escravizados, a proibição do acesso ao ensino público e à liberdade
religiosa, a diferenciação judicial e política, a imposição do trabalho compulsório e de
castigos corporais. Portanto, como ressaltado pelo autor, não há plausibilidade na defesa de
encontrar contextos “melhores” ou “piores” na vivência dos escravizados dos Estados Unidos
e do restante da América, tendo em vista que se deve colocar em pauta um estudo
comparativo para compreender as diferenças e semelhanças entre tais sistemas.
Para isso, Klein descreve primeiramente as semelhanças, sendo a principal delas: a
finalidade econômica, em que o indivíduo subalterno era utilizado como peça fundamental de
força de trabalho nos diversos âmbitos sociais, como a escravidão urbana, doméstica e,
também, com finalidade para o mercado mundial. Quanto à organização desse trabalho, havia
uma diferenciação com base na faixa etária e no porte físico, divididos para a realização de
múltiplas tarefas. Contudo, nesse ponto, o mercado de trabalho mais aberto nas américas, fez
com que os países do sul tivessem um modelo mais complexo de trabalho do que nos países
do norte, porém, em ambos os casos, os escravizados eram utilizados nas diversas tarefas.
Outra similaridade refere-se à composição racial, cujo percentual de negros
escravizados era de cerca de um terço. Somando com a análise do autor, constata-se que para
conquistar a própria liberdade, os negros tinham que se guiar pela lógica capitalista pautada
na acumulação do capital, uma vez que os indivíduos tinham que dispor de sua força de
trabalho para obter o dinheiro necessário com a finalidade de adquirir a alforria.
Ao passo que o controle sobre esses indivíduos se tornava menos rigoroso na América
Latina do século XIX, nos Estados Unidos percebia-se um contexto maior de controle social,
tanto que a legislação norte-americana caminhou no sentido de restringir a compra de alforrias
e de inviabilizar o contato e a interação entre brancos e negros. Assim, nestes sistemas
escravocratas, os governos construíam mecanismos legais para tornar os indivíduos
submetidos à escravidão em “coisas” móveis, retirando-lhes direitos e, principalmente, sua
humanidade.
Vale destacar ainda a diferença entre o cenário de revoltas nos dois polos da América,
enquanto na parte sul, especialmente no Brasil, observou-se uma quantidade expressiva de
quilombos e de fugas, na parte norte devido ao maior controle social os negros escravizados
ficavam ainda mais marginalizados. Além disso, ressalta-se o fato de que, mesmo
timidamente, os negros e mesticos livres tinham mais direitos do que na América do Norte
tendo em vista a maior influência na política e na economia, como a possibilidade de votar
(restrito pela nacionalidade e pela renda) e de participar minimamente do processo judicial.
Na pauta religiosa, Herbert nos apresenta que a igreja teve um impacto indescritível na vida
dos escravizados, impondo-lhes os princípios do cristianismo e tendo um papel importante
com a atuação das irmandades religiosas.
Diante dos fatos apresentados, conclui-se a respeito da imprescindibilidade do estudo
comparado para entender a especificidade de cada território em relação à escravidão, uma vez
que as vivências econômicas e políticas se deram de maneira unívocas considerando as elites
locais. Sob essa ótica, o autor descreve que até o final do século XIX, a mobilidade social e
geográfica dos negros nos EUA era perniciosa, enquanto na realidade da América Latina
percebia-se um cenário de maior participação dos pobres e negros, por isso se faz
indispensável a análise do trabalho comparativo sobre as orientações das classes brancas
escravistas para compreender as sociedades pós-abolição nas Américas.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
KLEIN, H. S. A experiência afro-americana numa perspectiva comparativa: a situação atual
do debate sobre a escravidão nas américas. Afro-Ásia, [S. l.], n. 45, 2012. DOI:
10.9771/aa.v0i45.21251. Disponível em:
https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/21251. Acesso em: 11 dez. 2021.

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