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2.

CÁLCULO DE PREDICADOS DE 1a ORDEM

O cálculo de predicados é a teoria que, além dos operadores lógicos, inclui as noções
de quantidade expressas pelos termos ‘todo’ e ‘algum’. Dizendo a mesma coisa de outra
maneira, o cálculo de predicados é a teoria cujos termos lógicos são os operadores lógicos e
os quantificadores, que são as noções formalmente definidas que substituirão os termos ‘todo’
e ‘algum’ nessa teoria. O cálculo de predicados contém, portanto, o cálculo proposicional, de
modo que os termos lógicos específicos do cálculo de predicados, por assim dizer, são os
quantificadores, razão pela qual o mesmo é também chamado de teoria da quantificação.
No nível sintático, isso significa que o alfabeto do cálculo de predicados incluirá
novos símbolos para representar os quantificadores, o que vai resultar em novas expressões e
fórmulas. Em sistemas formais axiomáticos, teremos axiomas e regras de inferência
envolvendo quantificadores, e, no caso de sistemas de dedução natural, haverá regras de
introdução e eliminação para cada quantificador, resultando, portanto, em novos teoremas.
Entretanto, os quantificadores não são os únicos responsáveis pelas diferenças
sintáticas entre o cálculo de predicados e o cálculo proposicional. Enquanto no cálculo
proposicional as fórmulas atômicas eram variáveis, cujo valor de verdade tinha de ser
atribuído arbitrariamente por cada valoração, no cálculo de predicados as fórmulas atômicas
possuem estrutura interna. Assim, se queremos representar em L(A) um argumento formulado
em português, tal como ‘Todas as baleias são mamíferos, Joana é uma baleia, donde se segue
que ela é um mamífero’, teremos que representar as premissas e a conclusão utilizando
variáveis proposicionais, já que essas sentenças não são compostas por meio do uso de
nenhuma expressão portuguesa passível de ser representada por um operador lógico 1. O
resultado será uma forma de argumento do tipo: B, J├ M. Essa forma de argumento é
inválida, já que há uma valoração v tal que v (B) = v (J) = 1, e tal que v (M) = 0. Não obstante,
o argumento em português do qual extraímos essa forma de argumento é claramente válido.
No caso da primeira premissa, ainda podemos entender que ‘todas as baleias são mamíferos’ é
uma sentença sinônima de ‘se algo é uma baleia, então isso será um mamífero’, e formalizar
tal sentença como B → M. Nesse caso, entretanto, como M formaliza ‘isso é um mamífero’,
teríamos que formalizar ‘Joana é um mamífero’ com uma variável proposicional diferente, F,
digamos. A forma de argumento resultante, B → M, J├ F, continua inválida, como é fácil de
verificar. Ademais, como ‘isso é um mamífero’ não é uma sentença independente, que possa
assumir um valor de verdade independentemente do valor de verdade de outras sentenças que
1
De fato, as três sentenças em questão são períodos simples do português.
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determinem o que ‘isso’ denota, é duvidoso que possamos representá-la por meio de uma
variável proposicional.
Esse exemplo não evidencia nenhuma deficiência do cálculo proposicional em termos
de correção, já que provamos que o cálculo proposicional é correto em um sentido muito
razoável do termo ‘correto’. No entanto, o exemplo em questão de fato nos mostra que o
cálculo proposicional é insuficiente para estabelecer a validade de argumentos do tipo do
proposto acima. Isso era de se esperar, já que o argumento do exemplo ou não envolve
expressões passíveis de ser representadas por operadores lógicos, ou, em todo caso, tem sua
validade dependente de algo mais do que esses operadores. Mas, nesse caso, do que depende a
validade do argumento sob consideração?
Está claro que o fato de estarmos falando sobre baleias, mamíferos e sobre Joana é
irrelevante para a validade do argumento. Por exemplo, se estivéssemos falando sobre
brasileiros, paranaenses e sobre João, e formulássemos o seguinte argumento: ‘todos os
paranaenses são brasileiros, João é paranaense, e logo João é brasileiro’, o mesmo continua
válido, e isso ocorre pela mesma razão que fazia com que o anterior fosse válido. De fato,
embora os dois argumentos falem sobre coisas diferentes, ambos compartilham a mesma
forma, que pode ser representada por um esquema quando substituirmos os termos ‘baleia’,
‘mamífero’, ‘Joana’, ‘brasileiro’, ‘paranaense’ e ‘João’ nesses argumentos, por símbolos
como S, P e A. O esquema resultante é o seguinte: todo S é P, A é S, logo A é P. Parece
óbvio que a validade de argumentos que se encaixam nesse esquema depende de duas coisas.
Primeiro, depende da presença da palavra ‘todo’, na primeira premissa. De fato, se o esquema
fosse ‘algum S é P, A é S, logo A é P’, os argumentos que se encaixam aí não seriam válidos.
Mas, além disso, a validade desses argumentos depende também dos fatos de que o sujeito da
conclusão é o mesmo que o sujeito da segunda premissa, e o predicado da conclusão é o
mesmo que o predicado da primeira premissa. Sem dúvida, se o esquema fosse ‘todo S é P, A
é S, logo B é P’, ou ‘todo S é P, A é S, logo A é Q’, os argumentos que se encaixam em tais
esquemas, de novo, não seriam válidos. Como o cálculo proposicional não possui recursos
para representar noções de quantidade como ‘todo’ e ‘algum’, e nem para representar a
estrutura interna das proposições atômicas, de modo que, por exemplo, as fórmulas resultantes
da formalização de sentenças como ‘Joana é uma baleia’ e ‘Joana é um mamífero’ possam
manter o que há de comum entre essas sentenças, não é realmente surpreendente que ele seja
insuficiente para estabelecer a validade de argumentos como os que se encaixam no esquema
que tem nos servido de exemplo.
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Como já mencionamos, as diferenças sintáticas entre o cálculo proposicional e o


cálculo de predicados estão precisamente no fato de que este último possui os recursos para
representar essas noções de quantidade e a estrutura interna das proposições atômicas, donde
se pode esperar que argumentos como os considerados nos parágrafos precedentes possam ser
adequadamente formalizados e avaliados no cálculo de predicados.
Na sequência, vamos especificar a sintaxe do cálculo de predicados de 1ª ordem.
Embora a semântica que vai estabelecer o sentido das estruturas sintáticas que vamos
introduzir vá ser especificada de modo preciso mais adiante, cabem aqui algumas
considerações intuitivas sobre quais são essas estruturas sintáticas, bem como sobre o que as
mesmas vão representar. Em adição aos operadores lógicos e sinais de pontuação do cálculo
proposicional, o alfabeto do cálculo de predicados vai incluir constantes predicativas,
funcionais e individuais, além de variáveis individuais e quantificadores. Já falamos sobre os
quantificadores mais acima. Quanto às constantes e variáveis mencionadas, seu papel será a
representação da estrutura interna das proposições atômicas, sobre a qual também estivemos
falando.
No geral, pode-se considerar que uma sentença simples de uma língua natural como o
português é constituída por um predicado, que representa uma propriedade que um ou um
conjunto de indivíduos possuem, ou uma relação entre indivíduos ou conjuntos de indivíduos,
e por termos que representam o indivíduo ou conjunto de indivíduos que possui tal
propriedade, ou os indivíduos ou conjuntos de indivíduos que estão em tal relação. Por
exemplo, em uma sentença como ‘Gottlob é um matemático’, o predicado é ‘é um
matemático’, que indica uma propriedade de um indivíduo representado pelo termo ‘Gottlob’.
Já em uma sentença como ‘os números pares são divisíveis por 2’, o predicado é ‘são
divisíveis por’, que indica uma relação entre um determinado conjunto de indivíduos,
representado pelo termo ‘os números pares’, em um indivíduo, representado pelo termo ‘2’.
Na linguagem formal que vamos introduzir para o cálculo de predicados, indivíduos
determinados como Gottlob e Paris serão representados por constantes individuais, ao passo
que predicados como os representados pelas expressões portuguesas ‘é um matemático’ e ‘são
divisíveis por’ serão representados por constantes predicativas. As variáveis individuais serão
utilizadas para representar um indivíduo não-determinado. Como veremos, a quantificação de
uma variável vai nos permitir falar sobre todos os indivíduos de um dado conjunto, ou sobre
um indivíduo não-determinado desse conjunto. Retomando os dois exemplos do parágrafo
precedente, a sentença portuguesa ‘Gottlob é um matemático’ poderá ser formalizada,
utilizando a linguagem que vamos introduzir para o cálculo de predicados, tomando-se uma
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constante individual para ‘Gottlob’, e uma constante predicativa para ‘é um matemático’. No


caso da sentença ‘os números pares são divisíveis por 2’, considerando que ela é sinônima da
sentença ‘se algo é um número par, então isso é divisível por 2’, podemos formalizá-la
tomando uma constante predicativa para ‘número par’, outra para ‘é divisível por’, uma
constante individual para ‘2’, e uma variável individual quantificada para ‘algo’ e ‘isso’.
Vamos utilizar letras minúsculas do início do alfabeto latino como constantes individuais,
letras minúsculas do fim do alfabeto latino como variáveis individuais, e letras maiúsculas do
alfabeto latino como constantes predicativas. Assim, podemos usar ‘g’ parar representar
Gottlob, e ‘M’ para formalizar ‘é um matemático’, de modo que a sentença portuguesa
‘Gottlob é um matemático’ pode ser formalizada pela fórmula ‘Mg’. Vamos sempre
posicionar a constante predicativa no início de cada fórmula atômica, e em seguida serão
dispostas as constante individuais. Constantes predicativas que representam propriedades
serão chamadas de monádicas, ou de constantes predicativas de grau 1. Já constantes
predicativas que representam relações entre dois ou mais indivíduos ou conjuntos de
indivíduos – isto é, generalizando, constantes predicativas que representam relações entre n
indivíduos ou conjuntos de indivíduos – serão chamadas de constantes predicativas n-ádicas,
ou de constantes predicativas de grau n. Assim, a sentença ‘os números pares são divisíveis
por 2’, ou ‘se algo é um número par, então isso é divisível por 2’, pode ser formalizada pela
quantificação apropriada da fórmula ‘Px → Dxa’, com ‘a’ representando o número 2, e ‘P’ e
‘D’ representando, respectivamente, os predicados ‘número par’ e ‘é divisível por’, sendo a
primeira uma constante predicativa monádica e a segunda uma constante predicativa binária
(2-ádica).
Os indivíduos podem ser representados por constantes individuais e variáveis
individuais, como vimos, mas também será possível representá-los por constantes funcionais
n-ádicas seguidas por uma sequência de n expressões que denotam indivíduos, às quais
chamaremos conjuntamente de termos, posta entre parênteses. Intuitivamente, termos dessa
forma vão representar o valor de uma função n-ádica representada pela constante funcional,
quando aplicada aos n objetos representados pelos termos na sequência entre parênteses.
Vamos utilizar letras minúsculas do meio do alfabeto latino como constantes funcionais, de
modo que, por exemplo, o número 16 pode ser representado pelo termo ‘f (a)’, com a
constante funcional ‘f’ representando a função ‘o quadrado de’ (isto é, a função f, digamos, de
N em N, tal que f (x) = x2), e com a constante individual ‘a’ representando o número 4. O
mesmo número também poderia ser representado pelo termo ‘f (f (b))’, com ‘f’ representando
a função ‘o quadrado de’, e ‘b’ representando o número 2.
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Antes de passarmos à especificação da sintaxe do cálculo de predicados de 1ª ordem,


vamos tecer alguns comentário sobre a expressão ‘de 1ª ordem’. Interessantemente, embora
tenhamos constantes individuais e constantes predicativas no cálculo de predicados de 1ª
ordem, só temos ali variáveis individuais. Como os quantificadores serão aplicados às
variáveis, isso implica que a linguagem formal do cálculo de predicados de 1ª ordem só
poderá ser utilizada para falarmos sobre todo ou algum indivíduo de um determinado
conjunto de indivíduos. Não poderemos falar, então, sobre uma função não-determinada de
um conjunto de funções dado, ou sobre todas as relações de um determinado conjunto de
relações, já que o cálculo de predicados de 1ª ordem não possui variáveis funcionais ou
variáveis predicativas. Além disso, o cálculo de predicados de 1ª ordem também não possui
constantes predicativas de 2ª ordem, que representem propriedades de propriedades de
indivíduos, ou relações entre funções cujos domínios são conjuntos de indivíduos. Como
consequência, uma linguagem formal para o cálculo de predicados de 1ª ordem não pode ser
utilizada para formalizar uma sentença como ‘a derivada da função 3x 3 + 5x2 é a função 9x2 +
10x’, ou a sentença ‘dois objetos são iguais somente se possuem as mesmas propriedades’. No
caso da primeira dessas sentenças, podemos usar as constantes funcionais ‘f’ e ‘g’ para
representar as funções mencionadas, e uma constante predicativa ‘I’ para representar a relação
de igualdade, mas não temos nenhuma constante funcional de 2ª ordem que possamos usar
para representar a função ‘é a derivada de’, cujo domínio e contradomínio incluem funções de
1ª ordem. Para tanto, será necessário construir uma linguagem formal para o cálculo de
predicados de 2ª ordem, que não será estudado aqui. No caso da sentença ‘dois objetos são
iguais somente se possuem as mesmas propriedades’, ela pode ser formalizada em uma
linguagem formal para o cálculo de predicados de 2ª ordem pela fórmula ‘xy (Ixy ↔ Z
(Zx ↔ Zy))’, sendo ‘’ o quantificador para ‘todo’, ‘I’ uma constante predicativa para a
relação de igualdade, x e y duas variáveis individuais, e Z uma variável predicativa. Como
não temos variáveis predicativas no cálculo de predicados de 1ª ordem, a sentença em questão
não é formalizável nessa teoria.
Generalizando que foi dito no parágrafo precedente, no cálculo de predicados de 1ª
ordem possuímos constantes individuais, ou constantes de ordem 0, e variáveis individuais, ou
variáveis de ordem 0, além de constantes predicativas que representam predicados de
indivíduos, ou constantes predicativas de ordem 1, e constantes funcionais que representam
funções cujo domínio só possui indivíduos, ou constantes funcionais de ordem 1. Desse
modo, no cálculo de predicados de 1ª ordem só podemos falar sobre indivíduos e suas
propriedades e relações, e só podemos quantificar sobre indivíduos. Já no cálculo de
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predicados de 2ª ordem possuímos variáveis individuais, ou variáveis de ordem 0, e variáveis


que representam predicados não-determinados de indivíduos, ou variáveis predicativas de
ordem 1, e variáveis que representam funções não-determinadas cujo domínio só possui
indivíduos, ou variáveis funcionais de ordem 1. Além disso, possuímos aí constantes
individuais, ou constantes de ordem 0, constantes predicativas que representam predicados de
indivíduos, ou constantes predicativas de ordem 1, constantes funcionais que representam
funções cujo domínio só possui indivíduos, ou constantes predicativas de ordem 1, além de
constantes predicativas que representam predicados de predicados de indivíduos (ou
predicados de funções de 1ª ordem), ou seja, constantes predicativas de ordem 2, e constantes
funcionais que representam funções cujo domínio só possui indivíduos ou predicados de 1ª
ordem, ou ainda funções de 1ª ordem, ou seja, constantes funcionais de ordem 2. Assim, no
cálculo de predicados de 2ª ordem podemos falar sobre indivíduos, sobre suas propriedades e
relações, bem como sobre propriedades e relações dessas últimas, e podemos quantificar
sobre indivíduos e suas propriedades e relações. Generalizando, no cálculo de predicados de
nª ordem, possuímos variáveis de ordem 0, e variáveis, predicativas e funcionais, de ordem 1,
de ordem 2, ..., e de ordem n-1, bem como constantes de ordem 0, e constantes, predicativas e
funcionais, de ordem 1, de ordem 2, ..., e de ordem n. Intuitivamente, uma constante
predicativa de 3ª ordem, por exemplo, representa um predicado de predicados de predicados
de indivíduos.

2.1. SINTAXE

DEF. 2.1.1: Um alfabeto de 1a ordem é um conjunto de símbolos B = {Fn, Gn, Hn, ..., a, b,
c, ..., fn, gn, hn, ..., x, y, z, ..., , ~, , ), (}, onde {Fn, Gn, Hn, ...} é um conjunto enumerável
não-vazio de constantes predicativas n-ádicas, para todo n tal que 1  n < ; {a, b, c, ...} é um
conjunto enumerável de constantes individuais; {fn, gn, hn, ...} é um conjunto enumerável de
constantes funcionais n-ádicas, para todo n tal que 1  n <  {x, y, z, ...} é um conjunto
denumerável de variáveis individuais;  e ~ são chamados ‘operadores lógicos’;  é
chamado ‘quantificador universal’, e ) e ( são sinais de pontuação.

Os numerais sobrescritos às letras maiúsculas do meio do alfabeto latino, no caso das


constantes predicativas, e às letras minúsculas do meio desse alfabeto, no caso das constantes
funcionais, indicam a aridade de cada uma dessas constantes. Assim, a rigor, a expressão ‘Px
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→ Dxa’, que utilizamos como exemplo mais acima, deve ser escrita do modo seguinte: ‘P 1x
→ D2xa’. Como o número de termos2 na sequência de uma constante predicativa, ou dentro
do par de parênteses que segue uma constante funcional, já determina a aridade da constante
em questão, esses sobrescritos podem ser dispensados.
Note-se que a def. 2.2.1 estabelece a quantidade de cada tipo de símbolos no alfabeto
B. Assim, temos uma quantidade denumeravelmente infinita de variáveis individuais ali, e
uma quantidade enumerável, isto é, denumerável ou finita, mas diferente de zero, de
constantes predicativas de grau n, para cada ordinal finito n. Já sobre o conjunto das
constantes individuais, bem como sobre aquele das constantes funcionais, a def. 2.2.1 só diz
que são enumeráveis, o que significa que podem ser vazios. De fato, como veremos quando
formos estudar a semântica do cálculo de predicados de 1ª ordem, as constantes predicativas
denotarão propriedades e relação n-ádicas entre indivíduos, para qualquer ordinal finito n, e
essas relações serão entendidas como conjuntos de n-uplas ordenadas de indivíduos. As
propriedades serão entendidas como relações monádicas (isto é, 1-ádicas), e portanto como
conjuntos de indivíduos.
Ora, como as constantes individuais vão denotar indivíduos, será possível substituí-las
por constantes predicativas monádicas que denotam conjuntos unitários. Por exemplo, falando
intuitivamente, em vez de utilizarmos a fórmula ‘Pa’ para dizer que o indivíduo denotado por
‘a’ possui a propriedade denotada por ‘P’, podemos dizer o mesmo utilizando a fórmula ‘x
(Fx & Px)’ – cujas únicas constantes são predicativas – com ‘F’ denotando uma propriedade
satisfeita apenas pelo indivíduo denotado, na outra fórmula, por ‘a’. Intuitivamente, a última
fórmula diz que existe um indivíduo que possui as propriedades ‘F’ e ‘P’, o que, considerando
que o indivíduo denotado por ‘a’ é o único indivíduo que possui a propriedade denotada por
‘F’, equivale a dizer que o indivíduo denotado por ‘a’ possui a propriedade denotada por ‘P’.
A equivalência entre ‘Pa’ e ‘x (Fx & Px)’, no caso sob consideração, pode ser demonstrada
semanticamente, mostrando-se que ‘Pa ↔ x (Fx & Px)’ é verdadeira em qualquer estrutura
em que a constante predicativa ‘F’ seja interpretada como denotando um conjunto unitário
cujo elemento é o indivíduo denotado por ‘a’ (ex. 2.2.1) 3. A mesma equivalência pode ser
demonstrada sintaticamente, mediante a prova, em um sistema formal para o cálculo de
predicados de 1ª ordem, de que ‘Pa ↔ x (Fx & Px)’ é uma consequência lógica de ‘x (Fx

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Confira abaixo a definição formal de ‘termo’.
3
Para generalizar o resultado, podemos mostrar que ‘n1... c ...n-1 ↔  ( & n1......n-1)’ é verdadeira em
qualquer estrutura em que a constante predicativa ‘’ seja interpretada como denotando um conjunto unitário
cujo elemento é o indivíduo denotado por ‘ c ’, para qualquer constante predicativa n-ádica n, qualquer
constante individual c , e quaisquer variáveis individuais 1, ..., n-1 e .
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↔ x = a)’ (ex. 2.1.3 e), uma fórmula que, intuitivamente, afirma que um indivíduo possui a
propriedade denotada por ‘F’ somente se esse indivíduo é o mesmo que aquele denotado por
‘a’.
Para nos livrarmos completamente de uma constante individual, como ‘a’, em nosso
exemplo, devemos então assegurar que as fórmulas em que ocorre a constante predicativa ‘F’,
que utilizaremos em lugar de ‘a’, só sejam verdadeiras em estruturas nas quais ‘F’ denota um
conjunto unitário. Uma fórmula como ‘x (Fx & Px)’ afirma que há ao menos um indivíduo
que possui as propriedades denotadas por ‘F’ e ‘P’, e, se queremos eliminar completamente as
constantes individuais de nossa linguagem formal, não podemos estabelecer que ‘F’ denota
um propriedade satisfeita por um único indivíduo por meio da fórmula ‘x (Fx ↔ x = a)’, que
possui uma ocorrência da constante ‘a’. Em vez disso, vamos utilizar em lugar de uma
fórmula qualquer como ‘Pa’ uma outra como ‘x ((Fx & y (Fy ↔ y = x)) & Px)’. Essa
última fórmula, intuitivamente falando, afirma que há um indivíduo x que possui a
propriedade denotada por ‘F’, que qualquer indivíduo que possuir tal propriedade é o mesmo
que x, e que esse indivíduo possui a propriedade denotada por ‘P’, o que equivale a dizer que
um único indivíduo possui a propriedade denotada por ‘F’, e que esse indivíduo possui a
propriedade denotada por ´P’. Fórmulas da forma 1 ((1 & 2 (2 ↔ 2 = 1)) & 1)
costumam ser abreviada para ‘! ( & )’ – com a notação ‘!’ devendo ser lida como
‘existe um único indivíduo tal que’ – e servem aos nossos propósitos de eliminar as constantes
individuais de nossas linguagens formais.
No caso das constantes funcionais n-ádicas – que vão denotar funções n-ádicas,
entendidas como conjuntos de n+1-uplas ordenadas de indivíduos tais que duas n+1-uplas
ordenadas (o1, ..., on, p) e (o1, ..., on, q) pertencem a um desses conjuntos somente se p = q – é
também fácil perceber que poderão igualmente ser substituídas por constantes predicativas, já
que funções são relações de um determinado tipo. Assim, uma fórmula como ‘Pf(a)’, que
intuitivamente afirma que o valor da função denotada por ‘f’ aplicada ao indivíduo denotado
por ‘a’ possui a propriedade denotada por ‘P’, pode ser substituída pela fórmula ‘y (Ray &
Py)’, em que ‘R’ denota uma relação que um indivíduo x qualquer só possui com o valor da
função denotada por ‘f’ aplicada a x. Intuitivamente, essa última fórmula afirma que há um
indivíduo y com o qual o indivíduo denotado por ‘a’ possui a relação denotada por ‘R’, e que
esse mesmo indivíduo y tem a propriedade denotada por P, o que – considerando que um
indivíduo qualquer só possui a relação denotada por ‘R’ com o valor da função denotada por
‘f’ aplicada a tal indivíduo – equivale a dizer que o valor da função denotada por ‘f’ aplicada
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ao indivíduo denotado por ‘a’ possui a propriedade denotada por ‘P’. Formalmente, a
equivalência entre as fórmulas ‘Pf(a)’ e ‘y (Ray & Py)’, nas condições mencionadas, pode
ser demonstrada, usando métodos semânticos, mostrando-se que ‘Pf(a) ↔ y (Ray & Py)’ é
verdadeira em qualquer estrutura em que a constante predicativa ‘R’ seja interpretada como
denotando um conjunto de pares ordenados que contém o par (x, y) somente se y é o valor da
função denotada por ‘f’ aplicada a x (ex. 2.2.2)4. Sintaticamente, a mesma equivalência pode
ser demonstrada através da prova, em algum sistema formal para o cálculo de predicados de
primeira ordem, de que ‘Pf(a) ↔ y (Ray & Py)’ é uma consequência lógica de ‘xy (Rxy
↔ y = f (x))’ (ex. 2.1.4 b). Essa última fórmula, intuitivamente, afirma que um objeto x
qualquer tem a relação denotada por ‘R’ com outro objeto y qualquer somente se y é o objeto
que a função denotada por ‘f’ associa a x.
Para eliminar as constantes funcionais de nossa linguagem formal, como ‘f’, em nosso
exemplo, devemos garantir que fórmulas em que ‘R’ ocorre só sejam verdadeiras em
estruturas em que a relação denotada por ‘R’ é uma função. Para tanto, podemos substituir
qualquer fórmula como ‘Pf(a)’ por uma outra como ‘x ((Rax & y (Ray ↔ y = x)) & Px)’.
Essa última fórmula, intuitivamente falando, afirma que há um indivíduo x com o qual o
indivíduo denotado por ‘a’ possui a relação denotada por ‘R’, que qualquer indivíduo com o
qual o indivíduo denotado por ‘a’ possuir tal relação é o mesmo que x, e que esse indivíduo
possui a propriedade denotada por ‘P’, o que equivale a dizer que o único indivíduo com o
qual o indivíduo denotado por ‘a’ possui a relação denotada por ‘R’ possui a propriedade
denotada por ´P’. Assim, fórmulas da forma 1 (( c 1 & 2 ( c 2 ↔ 2 = 1)) & 1)5
servem aos nossos propósitos de eliminar as constantes funcionais de nossas linguagens
formais.
Embora tenhamos estabelecido que o conjunto {x, y, z, ...} das variáveis individuais é
denumerável, não especificamos que símbolos devem aparecer depois de z. No caso das
constantes individuais e das constantes funcionais, embora possa haver infinitas delas em um
alfabeto para o cálculo de predicados de 1ª ordem, também não especificamos quais letras

4
Para generalizar o resultado, podemos mostrar que ‘n i ...m(
1
j1  jm )... i n -1
↔  (m+1 j1  jm 
& n i ...... i )’ é verdadeira em qualquer estrutura em que a constante predicativa ‘m+1’ seja interpretada
1 n -1

como denotando um conjunto de m+1-uplas ordenadas que contém a m+1-upla (x1, ..., xm, y) somente se y é o
valor da função denotada por ‘m’ aplicada à m-upla (x1, ..., xm), para qualquer constante predicativa n-ádica n,
qualquer constante funcional m-ádica m, e quaisquer variáveis individuais  i , ...,  i  j  j e .
1 n -1 1 m

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Se quisermos eliminar também a constante individual desse esquema, de modo que suas únicas constantes
sejam predicativas, basta especificar uma constante predicativa ‘’ satisfazendo as condições mencionadas
acima, e substituir 1 (( c 1 & 2 ( c 2 ↔ 2 = 1)) & 1) por 1 ((3 (3 & 2 (2 ↔ 2 = 3)) &
(31 & 4 (34 ↔ 4 = 1))) & 1).
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minúsculas podem ser utilizadas como constantes individuais e quais podem ser utilizadas
como constantes funcionais. Em um comentário acima, dissemos, de forma bastante
imprecisa, que letras minúsculas do início do alfabeto latino são usadas como constantes
individuais, ao passo que letras minúsculas do meio desse alfabeto são utilizadas como
constantes funcionais, e letras minúsculas do final do mesmo alfabeto são utilizadas como
variáveis individuais. Obviamente, não está claro onde termina o início do alfabeto latino e
começa o meio do mesmo, e onde termina o meio e começa o fim desse alfabeto. Podemos
especificar de modo exato esses conjuntos de símbolos, estabelecendo arbitrariamente as
letras do alfabeto latino que caem em um ou outro de tais conjuntos. Assim, podemos
estabelecer que o conjunto das constantes individuais inclui as letras de a até e, o conjunto das
constantes funcionais inclui as letras de f até t, e o conjunto das variáveis individuais inclui as
letras de u até z. Mas, nesse caso, os três conjuntos são finitos. Como devemos ter uma
quantidade infinitas de variáveis individuais, e quantidades eventualmente infinitas de
constantes individuais e de constantes funcionais, podemos acrescentar números subscritos às
letras minúsculas do alfabeto latino, de modo a termos variáveis individuais como x 2 e w945,
constantes individuais como a7 e d49, e constantes funcionais como f3 e h75. No caso das
constantes predicativas, como eventualmente teremos uma quantidade infinita delas, podemos
estabelecer, digamos, que serão utilizadas as letras maiúsculas do alfabeto latino de F a T, e
admitir números subscritos a essas letras, de modo a utilizarmos constantes predicativas como
G4 e P36. A razão de evitarmos utilizar letras maiúsculas do início do alfabeto latino como A e
B como constantes predicativas reside no fato de, normalmente, utilizarmos essas letras para
denotar conjuntos. Já letras maiúsculas do fim do alfabeto latino como X e Z costumam ser
utilizadas como variáveis de 2ª ordem em linguagens formais para o cálculo de predicados de
2ª ordem. Em termos práticos, dificilmente vamos precisar usar muitas constantes ou
variáveis em uma fórmula ou conjunto de fórmulas, de modo que, por exemplo, constantes ou
variáveis com números subscritos às letras do alfabeto latino nunca são usadas neste livro.
O uso do sinal de igualdade (=) em algumas fórmulas acima pode causar estranheza, já
que esse símbolo não aparece em nosso alfabeto B. Entretanto, como a igualdade é uma
relação binária, é possível representar sua restrição a indivíduos (excluindo igualdade entre
relações, funções, relações de relações, etc.) por meio de uma constante predicativa binária
qualquer. Nesse caso, podemos utilizar uma fórmula como ‘Iab’ para afirmar que o objeto
denotado por ‘a’ é o mesmo que o objeto denotado por ‘b’. Por uma concessão à praxe, vamos
admitir que o símbolo ‘=’ possa ser empregado no lugar de uma letra maiúscula do meio do
alfabeto latino como ‘I’, e que a constante predicativa ‘=’ possa ser utilizada entre os termos
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aos quais é aplicada, e não prefixada a eles. Desse modo, a fórmula ‘Iab’ passa a poder ser
escrita na forma ‘a = b’. Diferentemente das outras constantes predicativas, a constante ‘=’
terá uma interpretação fixa, isto é, que não vai variar de uma estrutura para outra, como
veremos na seção 2.2. Para que sistemas formais que envolvem linguagens que contém
fórmulas com a constante ‘=’ sejam corretos e completos, será necessário introduzir
postulados específicos para essa constante, como também veremos mais adiante.
Ao tecer essas considerações sobre os símbolos que vamos utilizar para construir
expressões e fórmulas do cálculo de predicados de 1ª ordem, já introduzimos diversas dessas
fórmulas. Na sequência, vamos definir formalmente os conceitos de expressão e fórmula do
cálculo de predicados de 1ª ordem.

DEF. 2.1.2: Uma expressão t sobre B é um termo em E(B) sse:


i) t  {a, b, c, ...}
ii) t  {x, y, z, ...}
iii) t = n (t1, t2, ..., tn), onde n  {fn, gn, hn, ...}, e ti é um termo, 1  i  n.

Como veremos mais adiante, quando formos especificar a semântica do cálculo de


predicados de 1ª ordem, os termos são expressões que denotam indivíduos, que são
determinados, quando não ocorrem variáveis no termo, como no caso de ‘b’ ou ‘g (f(a), c)’, e
indeterminados caso contrário, como no caso de ‘y’ ou ‘h (x)’. Como no cálculo de
predicados de 1ª ordem só falamos sobre as propriedades e relações entre indivíduos,
expressões como ‘h (x)’ serão sempre utilizadas como termos, denotando o valor da função
denotada por ‘h’ quando aplicada ao indivíduo não-determinado denotado por ‘x’, e nunca
como uma forma diferente de fazer referência à própria função denotada por ‘h’, como se
costuma fazer em livros ou artigos de matemática.

DEF. 2.1.3: Uma fórmula atômica é qualquer expressão sobre B da forma nt1t2...tn, onde n
 {Fn, Gn, Hn, ...}, e ti é um termo, 1  i  n.

DEF. 2.1.4: A linguagem formal sobre B, que designaremos por L(B), é o menor subconjunto
de E(B) que satisfaz as seguintes condições:
i) se  é uma fórmula atômica, então   L(B)
ii) se   L(B), então ~  L(B)
71

iii) se ,   L(B), então (  )  L(B)


iv) se   L(B), e   {x, y, z, ...}, então   L(B)
um elemento qualquer de L(B) é uma fórmula sobre B.

É interessante notar que L(B) possui fórmulas estranhas da forma xa, como xFa e
xFy, em que há uma quantificação sobre uma variável que não ocorre em a. Como veremos
na próxima seção deste capítulo, sobre a semântica do cálculo funcional de 1ª ordem,
fórmulas desse tipo têm as mesmas condições de verdade que as que resultam delas pela
supressão da quantificação, e portanto uma fórmula como xFa, por exemplo, deve ser
entendida como significando o mesmo que Fa.

DEF. 2.1.5: Em uma fórmula de L(B) da forma , a fórmula  é chamada de ‘escopo’ do
quantificador .

DEF. 2.1.6: Se   {x, y, z, ...}, e  é uma fórmula de L(B) na qual  ocorre uma ou mais
vezes, então uma dada ocorrência de  em  é dita livre sse essa ocorrência de  não está
dentro do escopo de um quantificador ; caso contrário, essa ocorrência de  em  é dita
ligada.

DEF. 2.1.7: Uma fórmula  de L(B) é uma fórmula fechada sse, para qualquer   {x, y,
z, ...}, não há ocorrências livres de  em ; caso contrário,  é uma fórmula aberta.

DEF. 2.1.8: Seja  uma fórmula de L(B), i uma variável e t um termo; então, dizemos que t é
livre para i em  sse i não ocorre dentro do escopo de um quantificador j, onde j é uma
variável que ocorre em t.

O sistema formal Q

Seja Q o seguinte sistema formal:


Q = L(B), PQ
PQ = AXQ  RIQ
72

AXQ = {  (  ), (  (  ))  ((  )  (  )), (~  ~)  ((~  ) 


),  []  [/t],  (  )  (  )}, onde ,  e  são fórmulas quaisquer de
L(B),   {x, y, z, ...}, t é um termo livre para  em [] no quarto esquema de axiomas e, no
quinto esquema,  não ocorre livre em . A notação [] deve ser lida ‘uma fórmula 
eventualmente contendo alguma ocorrência livre da variável ’, e [/t] deve ser lida ‘a
fórmula que resulta de  pela substituição de cada ocorrência da variável , se houver alguma,
pelo termo t’.
RIQ = {(( (  ), ), ), (,  )}, onde e  são fórmulas quaisquer de L(B) e   {x, y,
z, ...}.

Assim, Q possui um conjunto infinito de axiomas e um conjunto infinito de regras de


inferência. Cada axioma de Q se encaixa em um dos seguintes esquemas de axiomas,
aplicando-se sobre os esquemas AX4 e AX5 as restrições mencionadas acima:
AX1: (  (  ))
AX2: ((  (  ))  ((  )  (  )))
AX3: ((~  ~)  ((~  )  ))
AX4:  []  [/t]
AX5:  (  )  (  )
Quanto às regras de inferência, além das que se encaixam no esquema de regras de inferência
modus ponens, há outras que se encaixam no esquema chamado generalização, como se
segue:
GN: (,  )
ou, em forma de operação:
____
 

Como no caso do sistema formal M, vamos dispensar o uso do primeiro e último parênteses
nasfórmulas da forma (  ), escrevendo   . Também vamos usar as seguintes
abreviações:  v  para abreviar ~  ,  &  para abreviar ~ (  ~), e    para
abreviar (  ) & (  ), como fazíamos em M, e ainda  para abreviar ~~.

Exemplo 2.1.1
73

Vamos demonstrar em Q a validade da dedução x (Fx → Gx); Fa├ Ga.


1) x (Fx → Gx) P
2) Fa P
3) x (Fx → Gx) → (Fa → Ga) AX4
4) Fa → Ga 1, 3 MP
5) Ga 2,4 MP

Exercício 2.1.1
Demonstre a validade das seguintes deduções em Q:
1) xFx → ~xGx; Ga├ ~Fa
2) Fx & Gx├ xFx & xGx
3) Ff(x) → Gy; ~Ga├ ~Ff(b)
4) Nx → Ns(x); Na├ Ns(s(s(a)))

O sistema formal QDn

Vamos a seguir introduzir um sistema de dedução natural para o cálculo de predicados


de 1ª ordem, utilizando a linguagem formal L(B’), que é uma versão simplificada de L(B).
Para obter L(B’), basta modificar da seguinte maneira algumas de nossas definições
precedentes:

DEF. 2.1.9: B’ = B  {&, v, ↔, } - { fn, gn, hn, ...}.

DEF. 2.1.2’: Uma expressão t sobre B’ é um termo em E(B’) sse:


i) t  {a, b, c, ...}
ii) t  {x, y, z, ...}

DEF. 2.1.10: Uma fórmula atômica é qualquer expressão sobre B’ da forma n c 1 c 2... c n,
onde n  {Fn, Gn, Hn, ...}, e c i  {a, b, c, ...}, 1  i  n.
Desse modo, não há fórmulas atômicas abertas em QDn. De fato, a definição da linguagem
formal L(B’) vai nos mostrar que não há fórmulas abertas em QDn.
74

DEF. 2.1.11: A linguagem formal sobre B’, que designaremos por L(B’), é o menor
subconjunto de E(B) que satisfaz as seguintes condições:
i) se  é uma fórmula atômica, então   L(B’)
ii) se   L(B’), então ~  L(B’)
iii) se ,   L(B’), então (  ), (a & b), (a v b), (a ↔ b)  L(B’)
iv) se [ c ]  L(B’), então  c  c   L(B’), para qualquer c  {a, b, c, ...} e
qualquer  {x, y, z, ...}
um elemento qualquer de L(B’) é uma fórmula sobre B’.

DEF. 2.1.12: Em uma fórmula de L(B’) da forma  ou da forma ,a fórmula  é
chamada de ‘escopo’ do quantificador  ou , respectivamente.

DEF. 2.1.13: Se   {x, y, z, ...}, e  é uma fórmula de L(B’) na qual  ocorre uma ou mais
vezes, então uma dada ocorrência de  em  é dita livre sse essa ocorrência de  não está
dentro do escopo de um quantificador ou ; caso contrário, essa ocorrência de  em  é
dita ligada.

DEF. 2.1.14: Uma fórmula  de L(B’) é uma fórmula fechada sse, para qualquer   {x, y,
z, ...}, não há ocorrências livres de  em ; caso contrário,  é uma fórmula aberta.

Note-se que toda fórmula de L(B’) é fechada. Agora, chamemos L(B)+ ao conjunto
que resulta de L(B) por acréscimo de todas as abreviações admitidas de fórmulas de L(B). É
fácil verificar que L(B’)  L(B)+. De fato, L(B’) pode ser obtida de L(B) + eliminando-se as
fórmulas abertas e as fórmulas com ocorrências de constantes funcionais. No entanto, dadas
as propriedades semânticas das fórmulas abertas de L(B), que vamos analisar na seção
seguinte, e dado que qualquer fórmula fechada de L(B) em que ocorrem constantes
funcionais, como mostramos acima, é equivalente a uma fórmula em que tais constantes não
ocorrem, temos que qualquer proposição expressível por uma fórmula de L(B) é também
expressível por uma fórmula de L(B’). Em termos mais formais, para toda fórmula  de L(B)
há uma fórmula  de L(B’) tal que  é equivalente a .

Seja QDn o seguinte sistema formal:


QDn = (L(B’), PQDn)
75

PQDn = AXQDn  RIQDn


AXDn = 
RIQDn = {((, ), &  ( & , ( & , (, v (,  v ), (( v , ,
),), ((  ,   ),   ), (  ,   ), (  ,   ), ( {}├ , ├
  ), ((  , ), ), (~~, ), ( {}├  & ~, ├ ~), ([ c ], [ c /]), ([],
[/ c ]), ([ c ], [ c /]), (  {[ c ]}├ , ├ )}, onde é um conjunto de fórmulas de
L(B’); é um conjunto de fórmulas de L(B’) tal que ├ [ c / , e são fórmulas de
L(B’); [ c ] é uma fórmula de L(B’) em que ocorre uma dada constante individual c ; [ c
/]) é a fórmula que resulta de [ c ] por substituição de toda ocorrência da constante
individual c por uma determinada variável individual no 14º esquema, e a fórmula que
resulta de [ c ] por substituição de ao menos uma ocorrência da constante individual c por
uma determinada variável individual no 16º esquema;[] é uma fórmula de L(B) em que a
variável individual  ocorre livre, e [/ c ] é a fórmula que resulta de [] por substituição de
cada ocorrência da variável individual  pela constante individual c . Além disso, no 14º
esquema c deve ser uma constante individual que não ocorre nas premissas de uma dedução
em que o referido esquema é utilizado, e nem em hipóteses de uma dedução ou prova que
utiliza tal esquema, que sejam vigentes na linha em que a fórmula [ c /]) ocorre. No 17º
esquema, ainda, c deve ser uma constante individual que, além de satisfazer as mesmas
exigências atinentes ao 14° esquema, não ocorra nas fórmulas [ c / e .

Note-se que, assim como Q inclui M como um sub-sistema, no sentido de que o conjunto dos
postulados de M está contido no conjunto dos postulados de Q, assim também Dn é um sub-
sistema de QDn. De fato, os treze primeiros esquemas de regras de QDn correspondem aos
esquemas de regras de Dn. Os esquemas próprios de QDn, apresentados na forma de
operações sobre fórmulas de L(B’), são os seguintes:

[ c ]____
 [ c /]
A esse esquema vamos chamar ‘introdução universal’, e vamos usar a notação I para nos
referirmos a ele.

 []
76

[/ c ]
Esse é o esquema serão de ‘eliminação universal’, e vamos nos referir a ele com a notação
E.

[ c ]____
 [ c /]
Esse esquema será chamado de ‘introdução existencial’, e vamos nos referir a ele com a
notação I.

  {[ c ]}├ __


├ 
Esse esquema será chamado ‘eliminação existencial’, e vamos nos referir a ele com a notação
E.

Exemplo 2.1.2
Como exemplo de uma prova em QDn, vamos demonstrar que (xFx)  (~x~Fx) é
um teorema de QDn.

1) xFx H (PC)
2) Fa 1 E
3) x~Fx H (RAA)
4) ~Fa H (E)
5) P & ~P 2,4 CT
6) P & ~P 3, 4-5 E
7) ~x~Fx 3-6 RAA
8) (xFx)  (~x~Fx) 1-7 PC

Note-se que a aplicação da regra E na linha 6 da demonstração acima está de acordo


com as restrições à aplicação dessa regra que estão especificadas na definição de RI QDn. De
fato, a constante ‘a’ – pela qual substituimos a variável ‘x’ na hipótese da linha 4, que resulta
da fórmula existencial da linha 3 – não ocorre nas hipóteses das linhas 1 e 3, que estão
vigentes na linha 6, nem nas fórmulas [] ou  da aplicação de E na linha 6, que no caso
77

da demonstração acima são, respectivamente, as fórmulas das linhas 3 e 6. Note-se ainda que
foi com vistas a evitar problemas com as restrições em questão que utilizamos CT na linha 5,
em vez de uma I& com as linhas 2 e 4.

Exercício 2.1.2
Prove que as seguintes fórmulas são teoremas de QDn:
a) xFx ↔ ~x~Fx
b) xFx ↔ ~x~Fx
c) x (Fx & Gx) ↔ (xFx & xGx)
d) x (Fx & Gx) → (xFx & xGx)
e) (xFx v xGx) → x (Fx v Gx)
f) x (Fx v Gx) ↔ (xFx v xGx)
g) x (Fx → Gx) ↔ (xFx → xGx)
h) (xFx → xGx) → x (Fx → Gx)
i) x (Fx ↔ Gx) ↔ (xFx ↔ xGx)
j) ~x (Fx & ~Fx)
k) x (Fx v ~Fx)
l) xyz ((Fy → Gz) → (Fx → Gx))

Exercício 2.1.3
Prove que as seguintes deduções são válidas em QDn:
a) x (Fx → Gx), Fa├ Ga
b) x (Fx → Gx), ~Ga├ x~Fx
c) (xFx v xGx)├ ~Fa → Gb

Como mencionamos acima, a relação de igualdade entre indivíduos, como qualquer


outra relação entre indivíduos, pode ser representada por uma constante predicativa de um
alfabeto B para o cálculo de predicados de 1ª ordem. Entretanto, como também já
mencionamos, um sistema formal que inclua fórmulas envolvendo a constante predicativa ‘=’
– que escolhemos usar, por uma questão de hábito, para denotar a relação de igualdade entre
indivíduos – só poderá ser correto e completo se incluir postulados que regulem o
comportamento de tal constante. Isso se deve ao fato de que a validade de fórmulas ou
78

argumentos que envolvem a noção de igualdade depende também do significado que


atribuímos à igualdade, e não apenas daquele que atribuímos aos quantificadores e operadores
lógicos, ou seja, a constante ‘=’ é um termo lógico dos sistemas formais em cuja linguagem
ela aparece6.
Na sequência, vamos introduzir um sistema formal obtido a partir de Q, que vamos
chamar de Q=, por meio do acréscimo a P Q de alguns postulados envolvendo a constante ‘=’.

A linguagem L Q 
será idêntica a LQ, já que qualquer fórmula do tipo ‘t1 = t2’ é entendida
como sendo apenas uma notação alternativa para uma outro do tipo ‘It 1t2’, para uma dada
constante predicativa ‘I’. Depois disso, vamos obter a partir de QDn, da mesma forma, um
sistema formal ao qual vamos chamar de QDn=.

O sistema formal Q=

Seja Q= o seguinte sistema formal:


Q= = (L Q , P Q )  

L Q = L(B)

PQ 
= AX Q 
 RI Q 

AX Q 
= AXQ  {  = , 1 = 2 → ( → [1, 1/2])}, onde  é uma fórmula qualquer de

L(B); , 1, 2  {x, y, z, ...}, e [1, 1/2] é a fórmula que resulta de  pela substituição, se
houver, de ao menos uma ocorrência livre da variável 1 por 2, sendo 2 livre em  para a
ocorrência de 1 que 2 substitui.
RI Q = RIQ.

Assim, Q= possui, além dos 5 esquemas de axiomas de Q, os esquemas:

AX6:   = 
AX7: 1 = 2 → ( → [1, 1/2])

Uma instância de AX6 é x x = x, e x = y → (Fx → Fy), mas não x = y → (yFx →


yFy), é uma instância de AX7. A última fórmula não é uma instância de AX7, uma vez que

6
Exceto, é claro, se alguém quiser utilizar o símbolo ‘=’ para denotar algo diferente da igualdade.
79

y não é livre para x em yFx. Uma outra instância de AX7 é x = y → ((Fx → ~Rxz) → (Fx
→ ~Ryz)), em que apenas a segunda ocorrência de x em Fx → ~Rxz foi substituída por y.
Claramente, x = y → ((Fx → ~Rxz) → (Fy → ~Ryz)) também é uma instância de AX7.

Exemplo 2.1.3
Vamos demonstrar em Q= a validade da dedução x (Fx → Gx); Fa; a = b├ Gb.
1) x (Fx → Gx) P
2) Fa P
3) a = b P
4) x (Fx → Gx) → (Fa → Ga) AX4
5) Fa → Ga 1, 4 MP
6) Ga 2, 5 MP
7) x = y → (Gx → Gy) AX7
8) y (x = y → (Gx → Gy)) 7 GN
9) xy (x = y → (Gx → Gy)) 8 GN
10) xy (x = y → (Gx → Gy)) → y (a = y → (Ga → Gy)) AX4
11) y (a = y → (Ga → Gy)) 9, 10 MP
12) y (a = y → (Ga → Gy)) → (a = b → (Ga → Gb)) AX 4
13) a = b → (Ga → Gb) 11, 12 MP
14) Ga → Gb 3, 13 MP
15) Gb 6, 14 MP

Exercício 2.1.4
Demonstre a validade das seguintes deduções em Q=:
a) Fa, Fb, Fc, x (x = a v (x = b v x = c))├ xFx
b) x (Fx ↔ x = a)├ Pa ↔ x (Fx & Px)
c) xy (Rxy ↔ y = f (x))├ Pf(a) ↔ x (Rax & Px)
d) xy (Rxy ↔ y = f (x))├ xy (Rxy → z (Rxz ↔ z = y))

O sistema formal QDn=

Seja QDn= o seguinte sistema formal:


80

QDn= = (L QDn , P QDn )  

L QDn = L(B’)

P QDn 
= AX QDn 
 RI QDn 

AX QDn 
=

RI QDn = RIQDn  { c =

c , (([ c 1], c 1 = c 2), [ c 1/ c 2])}, onde c , c 1, c 2  {a, b,

c, ...}, [ c 1] é uma fórmula de L(B’) em que ocorre a constante individual c 1 , e [ c 1/ c 2]


é a fórmula que resulta de [ c 1] por substituição de ao menos uma ocorrência da constante
individual c 1 pela constante individual c 2 .

Assim, QDn= possui, além dos 17 esquemas de regras de inferência de QDn, dois
outros esquemas. Ao primeiro deles vamos chamar de ‘introdução da igualdade’, e representar
utilizando a notação I=. Ao segundo vamos chamar de ‘eliminação da igualdade’, e
representar utilizando a notação E=. Esses esquemas podem ser apresentados em forma de
operação, como na sequência:

I=
_______
c = c

E=
[ c 1]
c 1 = c 2

____________

[ c 1/ c 2]

Note-se que, no esquema de introdução da igualdade c = c é obtida de um conjunto


de premissas vazio. Sem dúvida, isso não passa de um artifício para manter como regra de
inferência um postulado que normalmente apresentaríamos como um axioma, pois, em uma
demonstração em QDn=, a regra de introdução de igualdade nos permite introduzir uma
instância de c = c em qualquer linha de prova, tal como ocorreria se c = c fosse um
esquema de axiomas. Assim, a única razão para introduzirmos esse postulado como uma regra
de inferência em QDn= reside no fato de pretendermos manter o modelo tradicional dos
81

sistemas de dedução natural, em que não há axiomas, e há uma regra de introdução e uma de
eliminação para cada termo lógico. O próprio uso dos termos ‘introdução’ e ‘eliminação’ na
designação das regras se deve à mesma razão, visto que na regra de eliminação da igualdade,
por exemplo, não eliminamos o símbolo de igualdade de nenhuma fórmula. Finalmente, é
importante notar que, ao admitir regras como I=, estamos relaxando o conceito de uma regra
de inferência, já o esquema em questão inclui apenas fórmulas de L(B’), e não pares
ordenados de n-uplas ordenadas de fórmulas de L(B’) e fórmulas de L(B’).

Exemplo 2.1.4
Vamos demonstrar em QDn= a validade da dedução x (Fx → Gx); Fa; a = b├ Gb.
1) x (Fx → Gx) P
2) Fa P
3) a = b P
4) Fa → Ga 1 E
5) Ga 2, 4 MP
6) Gb 3, 5 E=

Exemplo 2.1.5
Vamos demonstrar que a fórmula x x = x é um teorema de QDn=
1) a = a I=
2) x x = x 1 I

Exercício 2.1.5
Demonstre a validade das seguintes deduções em QDn=:
a) Fa, Fb, Fc, x (x = a v (x = b v x = c))├ xFx
b) x (Fx ↔ x = a)├ Pa ↔ x (Fx & Px)
c) x (Fx ↔ x = a)├ x (Fx → y (Fy ↔ y = x))

Os sistemas formais QDn e QDn= utilizam, ambos, a linguagem formal L(B’), que não
inclui fórmulas com constantes funcionais. Embora tenhamos mostrado que as constantes
funcionais são dispensáveis, assim como as constantes individuais, obtemos fórmulas muito
longas quando re-escrevemos fórmulas de L(B) em que ocorrem constantes funcionais
utilizando constantes predicativas no lugar destas últimas. Vamos então introduzir agora uma
82

extensão de QDn=, à qual vamos chamar de QDn+, que substitui L(B’) pela linguagem formal
L(B”), que resulta da anterior por acréscimo das fórmulas com constantes funcionais, e
apresenta algumas pequenas modificações nos postulados de QDn= relativos aos
quantificadores e à igualdade.

DEF. 2.1.15: B” = B  {&, v, ↔, }.

DEF. 2.1.16: Uma expressão t sobre B’ é um termo em E(B”) sse t é um termo em E(B).

DEF. 2.1.17: Um termo t é um termo fechado sse não ocorrem variáveis em t, do contrário t é
um termo aberto.

DEF. 2.1.18: Uma fórmula atômica é qualquer expressão sobre B” da forma nt1t2... tn, onde
n  {Fn, Gn, Hn, ...}, e ti é um termo fechado em E(B”), 1  i  n.

DEF. 2.1.19: A linguagem formal sobre B”, que designaremos por L(B”), é o menor
subconjunto de E(B”) que satisfaz as seguintes condições:
i) se  é uma fórmula atômica, então   L(B”)
ii) se   L(B”), então ~  L(B”)
iii) se ,   L(B”), então (  ), (a & b), (a v b), (a ↔ b)  L(B”)
iv) se [ c ]  L(B”), então  c  c   L(B”), para qualquer c  {a, b, c, ...} e
qualquer  {x, y, z, ...}
um elemento qualquer de L(B”) é uma fórmula sobre B”.

DEF. 2.1.20: Em uma fórmula de L(B”) da forma  ou da forma ,a fórmula  é
chamada de ‘escopo’ do quantificador  ou , respectivamente.

DEF. 2.1.21: Se   {x, y, z, ...}, e  é uma fórmula de L(B”) na qual  ocorre uma ou mais
vezes, então uma dada ocorrência de  em  é dita livre sse essa ocorrência de  não está
dentro do escopo de um quantificador ou ; caso contrário, essa ocorrência de  em  é
dita ligada.
83

DEF. 2.1.22: Uma fórmula  de L(B”) é uma fórmula fechada sse, para qualquer   {x, y, z,
...}, não há ocorrências livres de  em ; caso contrário,  é uma fórmula aberta.

Note-se que, tal como ocorre com L(B’), não há fórmulas abertas em L(B”).

O sistema formal QDn+

Seja QDn+ o seguinte sistema formal:


QDn+ = (L QDn , P QDn )
 

L QDn = L(B”)

P QDn = AX QDn  RI QDn


  

AX QDn =  

RI QDn = {((, ), &  ( & , ( & , (, v (,  v ), (( v , ,

),), ((  ,   ),   ), (  ,   ), (  ,   ), ( {}├ , ├


  ), ((  , ), ), (~~, ), ( {}├  & ~, ├ ~), ([t], [t/]), ([],
[/t]), ([t], [t/]), (  {[t]}├ , ├ ), t1 = t1, (([t1], t1 = t2), [t1/t2])}, onde é um
conjunto de fórmulas de L(B”); é um conjunto de fórmulas de L(B”) tal que ├ [t/ ,
e são fórmulas de L(B”); [t] é uma fórmula de L(B”) em que ocorre um dado termo t;
[t/]) é a fórmula que resulta de [t] por substituição de ao menos uma ocorrência do termo t
por uma determinada variável individual  no 14º esquema, e a fórmula que resulta de [t] por
substituição de toda ocorrência do termo t por uma determinada variável individual  no 16º
esquema; [] é uma fórmula de L(B) em que a variável individual  ocorre livre; [/t] é a
fórmula que resulta de [] por substituição de cada ocorrência da variável individual  pelo
termo t; t1 e t2 são termos fechados; [t1] é uma fórmula de L(B”) em que ocorre o termo t1, e
[t1/t2] é a fórmula que resulta de [t1] por substituição de ao menos uma ocorrência do termo
t1 pelo termo t2. Além disso, no 14º esquema t deve ser um termo que não ocorre nas
premissas de uma dedução em que o referido esquema é utilizado, e nem em hipóteses de uma
dedução ou prova que utiliza tal esquema, que sejam vigentes na linha em que a fórmula [
c /]) ocorre. No 17º esquema, ainda, t deve ser um termo que, além de satisfazer as mesmas
exigências atinentes ao 14° esquema, não ocorra nas fórmulas [t/] e .
84

Como é fácil perceber, há poucas diferenças entre os postulados de QDn+ e aqueles de


QDn=. De fato, a única diferença é a substituição – em cada uma das regras para
quantificadores e igualdade – de referências a uma dada constante individual c por
referências a um dado termo t.

Exemplo 2.1.6
Vamos demonstrar em QDn+ que g (b, a) = c é uma consequência lógica de xy g (x,
y) = g (y, x) e de g (a, b) = c.
1) xy g (x, y) = g (y, x) P
2) g (a, b) = c P
3) y g (a, y) = g (y, a) 1 E
4) g (a, b) = g (b, a) 3 E
5) g (b, a) = c 2, 4 E=

Exemplo 2.1.7
Vamos demonstrar que a fórmula Fh (a) → (xFx & xFh (x)) é um teorema de QDn+.
1) Fh (a) H (PC)
2) xFx 1 I
3) xFh (x) 1 I
4) xFx & xFh (x) 2, 3 I&
5) Fh (a) → (xFx & xFh (x)) 1-4 PC

Exercício 2.1.6
Demonstre a validade das seguintes fórmulas ou deduções em QDn=:
a) Fh (a) → xy (Fh (x) & Fy)
a) xy (Rxy ↔ y = f (x))├ Pf(a) ↔ x (Rax & Px)
b) xy (Rxy ↔ y = f (x))├ xy (Rxy → z (Rxz ↔ z = y))

A exemplo do que fizemos no capítulo anterior com os sistemas formais M e Dn,


podemos nos perguntar se os sistemas Q= e QDn+ são equivalentes, isto é, se  é um teorema
em Q= se e somente se  é um teorema em QDn+. Contudo, além da diferença no que se refere

aos operadores lógicos admitidos como primitivos, L Q também difere de L QDn pelo fato de
 
85

possuir fórmulas abertas, ao passo que L QDn só admite fórmulas fechadas. Assim sendo, não

podemos, de fato, provar que Q= e QDn+ são equivalentes, mas que QDn+ é equivalente ao
subsistema de Q= que gera como teoremas apenas aqueles teoremas de Q= que são fórmulas
fechadas. Chamemos de Qf= a esse subsistema de Q=. Claramente, se L(B)- é o conjunto das

fórmulas fechadas de L(B), e T Q é o conjunto dos teoremas de Q=, então o conjunto dos

teoremas de Qf= é T Q 
 L(B)-. O que vamos então mostrar é que, para toda fórmula  de L

Qf  ,  é um teorema em Qf= se e somente se  é um teorema em QDn+. Para o caso dos


operadores lógicos supomos que vamos fazer o mesmo que fizemos ao provar a equivalência
entre M e Dn. Vamos começar demonstrando que os teoremas de Qf= podem ser obtidos dos
postulados de QDn+.

DEF. 2.1.23: Seja  é uma fórmula de L(B) e 1, 2, ..., n as variáveis que ocorrem livres em
, então o fecho universal de  é a fórmula 12...n.

DEF. 2.1.24: Seja  é uma fórmula de L(B) e 1, 2, ..., n as variáveis que ocorrem livres em
; vamos representar a utilizando a notação a[x1, ..., xn]; seja b a fórmula a[x1/ c 1, ..., xn/ c
n], a fórmula que resulta de a por substituição de cada ocorrência da variável xi pela constante
individual c i, onde i ≤ i ≤ n, e sendo que c i não ocorre em a; então, dizemos que b é um
fecho individual de .

TEOREMA 2.1.1: Seja a um teorema qualquer de Q=; se a é fechada, então a é um teorema de


QDn+; se a é aberta, então o fecho universal de a é um teorema de QDn+.
Prova: por indução completa sobre o número n de linhas da menor prova de a em Q=.
Base: n = 1; como a menor prova de a em Q= tem 1 linha, a deve ser uma instância de um
axioma de Q=.
caso 1: a é uma instância de AX1, AX2 ou AX3;
sub-caso 1.1: a é fechada: como AX1, AX2 e AX3 pertencem também a P M, e como já

mostramos no capítulo precedente que PM pode ser obtido de PDn, e como PDn  P QDn , 

obviamente a pode ser demonstrada em QDn+.


Sub-caso 1.2: a é aberta: vamos representar a utilizando a notação a[x1, ..., xk]; seja b = a[x1/
c 1, ..., xk/ c k] um fecho individual de a; como b é fechada e é uma instância de AX1, AX2
ou AX3, temos pela parte 1.1 que b é um teorema de QDn+; tome-se a prova de b em QDn+ e,
86

após a última linha da mesma, acrescentem-se k aplicações de I, substituindo-se cada


ocorrência da constante individual c i, i ≤ i ≤ k, pela variável universalmente quantificada xi,
de modo a se obter o fecho universal de a; essas aplicações de I serão legítimas, já que as
constantes c i não ocorrem em a, possibilitando que todas as suas ocorrências sejam
substituídas pelas variáveis xi; logo o fecho universal de a é um teorema de QDn+.
caso 2: a é uma instância de AX4;
sub-caso 2.1: a é fechada: nesse caso, a deve possuir a forma [] → [/t], onde t é um
termo fechado qualquer, e sendo  a única variável livre de []; a pode então ser provada em
QDn+ da seguinte maneira:

1) [] H (PC)
2) [/t] 1 E
3) [] → [/t] 1-2 PC

sub-caso 2.2: a é aberta: tome-se um fecho individual b de a, e prove-se b como na parte 2.1;
obtenha-se o fecho universal de a por meio de tantas aplicações de I quantas forem
necessárias; essas aplicações de I são obviamente válidas, já que não há hipóteses vigentes
quando de sua aplicação.
caso 3: a é uma instância de AX5;
sub-caso 3.1: a é fechada: a tem então a forma  ( → ) → ( → ), sendo  uma
fórmula fechada e  a única variável livre de ; segue uma prova de a em QDn+.

1)  ( → ) H (PC)
2)  H (PC)
3)  → [/t] 1 E
4) [/t] 2,3 MP
5)  [t/] 4 I
6)  → [t/] 2-5 PC
7)  ( → ) → ( → [t/]) 1-6 PC7

7
Note-se que a aplicação de I na linha 5 da prova acima é legítima, desde que se tenha o cuidado de escolher
um termo t que não ocorre em , na aplicação de E na linha 3. Além disso, note-se também que – como ( →
)[/t] =  → [/t], já que  é fechada e, portanto, não possui ocorrências de  – a aplicação de E na linha 3
está correta. Por fim, como [t/] = , como é óbvio, temos que a fórmula  ( → ) → ( → [t/]) é
idêntica à fórmula  ( → ) → ( → ).
87

sub-caso 3.2: a é aberta: tome-se um fecho individual d de a, e prove-se d como na parte 3.1;
obtenha-se o fecho universal de a por meio de tantas aplicações de I quantas forem
necessárias; essas aplicações de I são obviamente válidas, já que não há hipóteses vigentes
quando de sua aplicação.
caso 4: a é uma instância de AX6; logo, a tem a forma   = e é necessariamente fechada;
segue uma prova de a em QDn+.

1) t = t I=
2)   =  1 I

caso 5: a é uma instância de AX7; como não há fórmulas fechadas da forma 1 = 2 → ( →


[1, 1/2]), a deve ser aberta; vamos representar g utilizando a notação g[x1, ..., xk], sendo
x3, ..., xk as variáveis livres que ocorrem em g, além, possivelmente, de x1 e x2; e tome-se
um fecho individual b = c 1 = c 2 → (’ → ’[ c 1, c 1/ c 2]) de a, onde g’ = g[ c 1/x1, ..., c

k /xk], obviamente, é um fecho individual de g; segue uma prova do fecho universal de a em


QDn+.

1) c 1 = c 2 H (PC)
2) g’ H (PC)
3) ’[ c 1, c 1/ c 2] 1, 2 E=
4) ’ → ’[ c 1, c 1/ c 2] 2-3 PC
5) c 1 = c 2 → (’ → ’[ c 1, c 1/ c 2]) 1-4 PC
6) xk ( c 1 = c 2 → (’ → ’[ c 1, c 1/ c 2])[ c k/xk]) 5 I
. I
. I
. I
5 + k) x1...xk (x1 = x2 → ( → [x1, x1/x2])) 5 + k - 1 I

Hipótese de indução (HI): o teorema 2.1.1 vale para todo j < n


Passo de indução: se a prova de a em Q= termina com uma instância de um axioma, então,
obviamente, a é uma instância desse axioma, e a menor prova de a em Q= possui uma única
88

linha, e esses casos já foram cobertos pela base desta prova por indução completa; temos,
então, apenas dois casos a considerar:
caso 1: a n-ésima linha da menor prova de a em Q= contém uma aplicação de MP; nesse caso,
a foi obtida das fórmulas b → a e b, que aparecem na prova de a em Q= nas linhas i e j,
respectivamente, sendo i < n e j < n; há quatro sub-casos a considerar:
sub-caso 1: a e b são fechadas: nesse caso, b → a e b são teoremas de QDn+ por HI, já que há
uma prova de b → a em Q= com i linhas, e uma outra de b com j linhas, e i < n e j < n; tome-
se uma prova de b → a em QDn+ com k linhas, e outra de b com m linhas, tome-se a
justaposição dessas duas provas, e obtenha-se a na k+m+1-ésima linha por aplicação de MP; a
prova resultante é, obviamente uma prova de a em QDn+.
sub-caso 2: a é fechada e b é aberta: por HI, temos que o fecho universal de b → a e o fecho
universal de b são teoremas de QDn+; tome-se a prova do fecho universal de b → a em QDn+;
justaponha-se a mesma com a prova do fecho universal de b em QDn+; nas linhas
subsequentes, aplique-se tantas vezes a regra E ao fecho universal de b quantas forem
necessárias para se obter em uma dada linha i um fecho individual b’ de b; a seguir, aplique-
se tantas vezes a regra E ao fecho universal de b → a, com as substituições adequadas de
variáveis por constantes individuais, quantas forem necessárias para se obter em uma dada
linha j o fecho individual (b → a)’ = b’ → a de b → a; na linha imediatamente seguinte,
obtenha-se a aplicando-se MP às fórmulas das linhas i e j; logo, a é um teorema de QDn+.
sub-caso 3: a é aberta e b é fechada: por HI, temos que o fecho universal de b → a e b são
teoremas de QDn+; tome-se a prova do fecho universal de b → a em QDn+; justaponha-se a
mesma com a prova de b em QDn+; nas linhas subsequentes, aplique-se tantas vezes a regra
E ao fecho universal de b → a quantas forem necessárias para se obter um fecho individual
(b → a)’ = b → a’ de b → a; na linha imediatamente seguinte, obtenha-se a’ aplicando-se MP
a b e a b → a’; por fim, aplique-se a a’ tantas vezes a regra de I quantas forem necessárias
para a obtenção do fecho universal de a a partir de a’ 8; logo, o fecho universal de a é um
teorema de QDn+.
sub-caso 4: a e b são abertas: por HI, temos que o fecho universal de b → a e o fecho
universal de b são teoremas de QDn+; tome-se a prova do fecho universal de b → a em QDn+;
justaponha-se a mesma com a prova do fecho universal de b em QDn+; nas linhas

8
Note-se que essas aplicações de I são legítimas. De fato, após termos justaposto as provas de b e do fecho
universal de b → a , somente essas duas fórmulas estão em linhas não descartadas da demonstração resultante,
de modo que não há hipóteses vigentes. Como o que segue são as aplicações de E e depois de I, não há
hipóteses vigentes quando da aplicação destas últimas. Como também não há premissas, já que se trata de uma
prova, e não de uma dedução, a legitimidade das aplicações de I em questão está garantida.
89

subsequentes, aplique-se tantas vezes a regra E ao fecho universal de b → a quantas forem


necessárias para se obter um fecho individual (b → a)’ = b’ → a’ de b → a; nas linhas
subsequentes, aplique-se tantas vezes a regra E ao fecho universal de b, com as substituições
adequadas de variáveis por constantes individuais, quantas forem necessárias para se obter o
fecho individual b’ de b; na linha imediatamente seguinte, obtenha-se a’ aplicando-se MP a b’
e a b’ → a’; por fim, aplique-se a a’ tantas vezes a regra de I quantas forem necessárias para
a obtenção do fecho universal de a a partir de a’ 9; logo, o fecho universal de a é um teorema
de QDn+.
caso 2: a n-ésima linha da menor prova de a em Q= contém uma aplicação de GN; nesse caso,
a tem a forma xb, e foi obtida de b, que aparece na prova de a em Q= na linha n-1.
sub-caso 2.1: b é fechada: nesse caso, a  L(B”), mas, como a é equivalente a b em Q=, e b é
fechada, basta mostrarmos que b é um teorema de QDn+; mas temos que isso é certamente o
caso, por HI, já que há uma prova de b em Q= com n-1 linhas.
sub-caso 2.2: a é fechada e b é aberta: por HI, o fecho universal de b é um teorema de QDn+;
mas como a única variável livre de b é x, o fecho universal de b é xb = a; logo, a é um
teorema de QDn+.
sub-caso 2.3: a e b são abertas: por HI, o fecho universal de b é um teorema de QDn+; vamos
representar b utilizando a notação b[x1, ..., xk, x], sendo x1, ..., xk e x as variáveis livres que
ocorrem em b; temos então que x1...xkx b[x, x1, ..., xk] é um teorema de QDn+; como a
= xb = x b[x, x1, ..., xk], o fecho universal de b, x1...xkx b[x, x1, ..., xk], é também o
fecho universal de a; logo, o fecho universal de a é um teorema de QDn+.

Agora, vamos provar que os teoremas de QDn+ podem ser obtidos a partir dos
postulados de Q=.

LEMA 2.1.2: Se há uma dedução de a[t] a partir de  em Q=, onde t é um termo qualquer que
não ocorre nas fórmulas de G, então há uma dedução de [t/] a partir de  em Q=, sendo x
uma variável individual qualquer.
Prova: por indução completa sobre o número n de linhas posteriores às ocupadas pelas
fórmulas de G na menor dedução de a[t] a partir de G em Q=.
Base: n = 1; a[t] não pode ter sido obtida de fórmulas em G por MP ou GN, pois t não ocorre
em G, e a aplicação dessas regras não introduz nenhum termo novo em uma demonstração;

9
Valem aqui, obviamente, as mesmas considerações feitas na nota anterior acerca das aplicações de I.
90

assim, a[t] deve ser uma instância de um axioma, e como a[t/x] é uma instância desse mesmo
axioma10, segue-se que há uma dedução de [t/] a partir de  em Q=.
Hipótese de indução (HI): o lema 2.1.2 vale para todo j < n
Passo de indução: se a menor dedução de a[t] a partir de G tem um número de linhas n > 1
posteriores às ocupadas pelas fórmulas de G, então a[t] deve ter sido obtida de fórmulas
anteriores na dedução por aplicação de MP ou GN;
caso 1: a[t] foi obtida por aplicação de MP: nesse caso, há uma fórmula da forma b → a[t] em
uma linha i < n da dedução de a[t] sob consideração, e a fórmula b está em uma linha j < n da
mesma dedução; por HI, há deduções de (b → a[t])[t/x] = b[t/x] → a[t/x] e b[t/x] a partir de G
em Q=; justaponha essa dedução de b[t/x] → a[t/x] à dedução de b[t/x] a partir de G, e
obtenha a[t/x] por MP; logo, há uma dedução de [t/] a partir de  em Q=.
caso 2: a[t] foi obtida por aplicação de GN: nesse caso, a[t] tem a forma (x1b)[t], e a
fórmula b está em uma linha i < n da dedução de a[t] sob consideração; segue-se por HI que
há uma dedução de b[t/x] a partir de G em Q=; apenas por uma questão de clareza, vamos
distinguir dois sub-casos:
sub-caso 1: t ≠ x1: nesse caso, a[t] = x1b[t], e a[t/x] = x1b[t/x]; tome a dedução de b[t/x] a
partir de G em Q= e, após a última linha da mesma, obtenha x1b[t/x] por GN; segue-se que
há uma dedução de [t/] a partir de  em Q=.
sub-caso 2: t = x1; nesse caso, a[t/x] = xb[x1/x]; tome a dedução de b[t/x] = b[x1/x] a partir
de G em Q= e, após a última linha da mesma, obtenha xb[x1/x] por GN; segue-se que há
uma dedução de [t/] a partir de  em Q=.

TEOREMA 2.1.3: Se há uma dedução de a a partir de G em QDn+, então há uma dedução de


a a partir de G em Q=.
Prova: por indução completa sobre o número n de linhas posteriores àquelas ocupadas por
premissas na menor dedução de a a partir de G em QDn+.
Base: n = 0; se n = 0, então a  G e, obviamente, há uma dedução de a a partir de G em Q=.
Hipótese de indução (HI): o teorema 2.1.3 vale para todo j < n
Passo de indução:
10
Por exemplo, a[a] = Fa → (Ga → Fa) é uma instância de AX1, como também o é a[a/x] = Fx → (Gx → Fx);
a[f(b)] = xGx → Gf(b) é uma instância de AX4, como também o é a[f(b)/x] = xGx → Gx; a[b] = xGx →
Gf(b) é uma instância de AX4, como também o é a[b/x] = xGx → Gf(x); a[a] = x (Fa → Gx) → (Fa →
xGx) é uma instância de AX5, como também o é a[a/x] = x (Fx → Gx) → (Fx → xGx); a[x] = x (Fa →
Gx) → (Fa → xGx) é uma instância de AX5, como também o é a[x/y] = y (Fa → Gy) → (Fa → yGy); a[x]
= x = y → ((Fx → ~Gx) → (Fx → ~Gy)) é uma instância de AX7, como também o é a[x/z] = z = y → ((Fz →
~Gz) → (Fz → ~Gy)).
91

Já sabemos que as regras de inferência de Dn podem ser obtidas a partir dos postulados de M

e, portanto, daqueles de Q=, já que PM  P Q ; logo, basta que mostremos que, se a foi

obtida por aplicação de uma das regras de inferência relativas aos quantificadores e à
igualdade, então há uma dedução de  a partir de  em Q=.
caso 1: a foi obtida por I; nesse caso, a tem a forma xb[t/x], e foi obtida de uma fórmula da
forma b[t], que aparece na dedução de a a partir de G em uma linha j < n, fora de qualquer
derivação hipotética, sendo que t não ocorre nas fórmulas de G; é desnecessário dizer que t
não ocorre em hipóteses vigentes, já que acabamos de mencionar que b[t] está fora de
qualquer derivação hipotética; temos, então, que há uma dedução de b[t] a partir de G em
QDn+ cuja menor prova tem menos que n linhas, donde se segue por HI que há uma dedução
de b[t] em Q=; logo, temos pelo lema 2.1.2 temos que há uma dedução de b[t/x] em Q=; tome
essa dedução e, após a última linha, obtenha xb[t/x] por GN; logo, há uma dedução de  a
partir de  em Q=.
caso 2: a foi obtida por E; nesse caso, a tem a forma b[x/t], e foi obtida de uma fórmula da
forma xb[x], que aparece na dedução de a a partir de G em uma linha j < n, fora de qualquer
derivação hipotética, como é óbvio11; segue-se que há uma dedução de xb[x] a partir de G
em QDn+ com j linhas e, portanto, que a menor dedução de xb[x] a partir de G em QDn+
tem um número de linhas inferior a n; logo, temos por HI que xb[x] é uma consequência
lógica de G em Q=; após a última linha da dedução de xb[x] a partir de G em Q=, introduza
a fórmula xb[x] → b[x/t], que é uma instância de AX4; depois, obtenha b[x/t] de xb[x] e
de xb[x] → b[x/t] por MP; logo, há uma dedução de  a partir de  em Q=.
caso 3: a foi obtida por I: nesse caso, a tem a forma xb[t/x], que em LQ= é uma abreviação
para ~x~b[t/x], e foi obtida de uma fórmula da forma b[t], que aparece na dedução de a a
partir de G em uma linha j < n, fora de qualquer derivação hipotética; segue-se por HI que há
uma dedução de b[t] a partir de G em Q=; agora, inicie uma dedução em Q= a partir de G 
{x~b[t/x]}; na sequência, introduza na dedução a fórmula x~b[t/x] → ~b[t], que é uma
instância de AX4; obtenha ~b[t] por MP, e insira a seguir a dedução de b[t] a partir de G 12;
agora, obtenha ~ (b[t] → ~~b[t]), uma fórmula cuja abreviação em LQ= é b[t] & ~b[t],
utilizando o teorema 1.3.3; temos, então, que há uma dedução de b[t] & ~b[t] em Q= a partir
11
De fato, se xb[x] estivesse dentro de alguma derivação hipotética, a também deveria estar, pois não é
possível aplicar E a uma fórmula em uma derivação hipotética descartada. Mas, nesse caso, não teríamos uma
dedução de a a partir de G em Qdn+, já que uma tal dedução nesse sistema deve ter a na última linha, a qual deve
estar fora de qualquer derivação hipotética.
12
Sem precisar repetir, naturalmente, a enumeração das fórmulas em G, que já aparecem no início dessa dedução
a partir de G  {x~b[t/x]}.
92

de G  {x~b[t/x]}, donde se segue pelo teorema 1.3.24 que há uma dedução de ~x~b[t/x]
em Q= a partir de G, isto é, há uma dedução de  a partir de  em Q=.
caso 4: a foi obtida por E: nesse caso, G acarreta a fórmula xb[t/x], e há uma dedução de a
a partir de G  {b[t]} em QDn+, sendo que t não ocorre nas fórmulas de G, nem em xb[t/x]
ou em a; como a dedução de a a partir de G  {b[t]} em QDn+ tem duas linhas a menos após
as premissas que as n linhas após as premissas da dedução de a partir de G, temos, por HI, que
há uma dedução de a a partir de G  {b[t]} em Q=; além disso, como a fórmula xb[t/x] deve
aparecer antes da hipótese b[t] na dedução de a a partir de G em QDn+, temos que xb[t/x] 
G, ou pode ser obtida de G em um número de linhas após as premissas inferior às n linhas
após as premissas da dedução de a partir de G; logo, temos por HI que há uma dedução de
xb[t/x] a partir de G em Q=; como t não ocorre nas fórmulas de G ou em a, se tomarmos a
dedução de a a partir de G  {b[t]} em Q=, e substituirmos toda ocorrência de t nas fórmulas
dessa dedução por uma variável x1 que não ocorre nas fórmulas da mesma, teremos,
obviamente, uma dedução de a a partir de G  {b[t/x1]} em Q=; pelo teorema da dedução,
temos G├Q= b[t/x1] → a; tome agora o conjunto G  {~b[t/x1]}; se há uma dedução de
xb[t/x] a partir de G em Q=, então, evidentemente, há uma dedução de xb[t/x] – isto é, de
~x~b[t/x], na forma não abreviada – a partir de G  {~b[t/x1]} em Q=; tome essa dedução
e, após a última linha, obtenha x1~b[t/x1] por GN; aplicando o lema 2.1.3, obtenha
x~b[t/x] e, em seguida, x~b[t/x] & ~x~b[t/x] (ou ~ (x~b[t/x] → ~~x~b[t/x]), na
forma não abreviada), por aplicação do teorema 1.1.3; como, então, G  {~b[x1]}├Q=
x~b[x] & ~x~b[t/x], segue-se pelo teorema da não contradição que G├Q=

tem a forma t = t, onde t é um termo fechado, e foi obtida por I=; a pode ser provada em Q=
da seguinte maneira:

1) x x = x AX6
2) x x = x → t = t AX4
3) t = t 1,2 MP

2.2. SEMÂNTICA
93

DEF. 2.2.1: Uma estrutura E é um par-ordenado (D, I), onde D é um conjunto não-vazio, e I é
uma função cujo domínio é {Fn, Gn, Hn, ...}  {a, b, c, ...}  {fn, gn, hn, ...}, tal que:
i) I ( c ) é um elemento de D, para todo c  {a, b, c, ...}
ii) I (n) é um conjunto de n-uplas-ordenadas de elementos de D, para todo n  {Fn, Gn,
Hn, ...}
iii) I (n) é um conjunto de n+1-uplas-ordenadas de elementos de D, para todo n  {fn, gn,
hn, ...}, sendo que, se uma n+1-upla (x1, x2, ..., xn, y)  n, então (x1, x2, ..., xn, z)  n sse y = z.

DEF. 2.2.2: Dada uma estrutura E = (D, I), uma atribuição E é uma função do conjunto dos
termos em D, tal que:
i) E ( c ) = I ( c ), para todo c  {a, b, c, ...}
ii) E () é um elemento de D, para todo   {x, y, z, ...}
iii) E (n (t1, t2, ..., tn)) é o elemento y de D tal que (E (t1), E (t2), ..., E (tn), y)  I (n), para
todo n  {fn, gn, hn, ...}.

DEF. 2.2.3: Se uma atribuiçãoE é idêntica a uma atribuição E, exceto, no máximo, que E
()  E () para um dado   {x, y, z, ...}, então, dizemos que E é -variante de E.

DEF. 2.2.4: Dada uma estrutura E = (D, I), uma valoração é uma função v  de L(B) em {0,E

1}, tal que:


i) v  (nt1t2...tn) = 1 sse (E (t1), E (t2), ..., E (tn))  I (n)
E

ii) v  (~) = 1 sse v  () = 0


E E

iii) v  () = 0 sse v  () = 1 e v  () = 0


E E E

iv) v  () = 1 sse v  () = 1 para toda atribuição E -variante de E.


E E

DEF. 2.2.5: Uma fórmula  é verdadeira em uma estrutura E (em símbolos: E╞ ) sse v  E

() = 1 dada qualquer atribuição E; uma fórmula  é falsa em uma estrutura E (em símbolos:

E ) sse v  () = 0 dada qualquer atribuição E.


E

DEF. 2.2.6: Uma estrutura E é modelo de um conjunto de fórmulas  (em símbolos E╞ ) sse
E╞  para toda fórmula   .
94

DEF. 2.2.7: Um conjunto de fórmulas  é satisfatível sse existe ao menos uma atribuição ,
tal que v() = 1 para toda fórmula   .

DEF. 2.2.8: Uma fórmula  é uma conseqüência lógica de um conjunto de fórmulas  (em
símbolos ╞ ) sse E╞  para toda estrutura E tal que E╞ .

DEF. 2.2.9: Uma fórmula  é uma verdade lógica (em símbolos╞ ) sse E╞  para toda
estrutura E.

Exercício 2.2.1: Seja E = (D, I) uma estrutura arbitrária tal que I (a) = o, onde o é um
elemento qualquer de D, I (F) = {o}, e I (P) é um subconjunto qualquer de D. Mostre que E╞
Pa ↔ x (Fx & Px).

Exercício 2.2.2: Seja E = (D, I) uma estrutura arbitrária tal que I (a) = o, onde o é um
elemento qualquer de D, I (f) = {(x, y)  D2 | y = f (x)}, sendo f uma função qualquer com
domínio D, I (R) = I (f), e I (P) é um subconjunto qualquer de D. Mostre que E╞ Pf(a) ↔ y
(Ray & Py).

2.3. METATEORIA

TEOREMA 2.3.1: q é consistente, isto é, não existe um  tal que  é uma fórmula de L(B), ├
 e ├ ~.
Prova: para todo   L(B), seja h () o resultado de se eliminar todos os quantificadores e
termos de , juntamente com os parênteses associados; claramente, para qualquer fórmula 
de L(B), h () é uma fórmula de L(A), com as constantes predicativas de  exercendo o papel
de variáveis proposicionais; além disso, é fácil perceber que h (~) = ~h (), e h (  ) =
h ()  h (); ora, é óbvio que h (AX1), h (AX2) e h (AX3) são tautologias, uma vez que
h (AX1) = AX1, e o mesmo para AX2 e AX3; h (AX4) é h ( []  [/t]), e h ( []
 [/t]) =    logo, h (AX4) é uma tautologia; h (AX5) é h ( (  )  ( 
)), e h ( (  )  (  )) = (  )  (  ), donde se segue que h (AX5) é
uma tautologia; agora, sejam  e  fórmulas de L(B), tais que h () e h () são tautologias, e
95

seja  uma fórmula de L(B) obtida de  e  por MP; nesse caso, uma das fórmulas  e  é da
forma   , a outra é ; ora, como h (  ) = h ()  h (), e tanto h (  ) como h ()
são tautologias, segue-se pelo lema 1.3.2 que h () é uma tautologia; suponha-se agora que 
e  são fórmulas de L(B), sendo que  foi obtida de  por GN; segue-se que  tem a forma
[t], e  a forma  [t/]; suponha-se, então, que h () é uma tautologia; como h () = h ()
= , segue-se que h () é uma tautologia; portanto, se  é um axioma de Q, h () é uma
tautologia, e se  foi obtida, por aplicação de uma regra de inferência de Q, de fórmulas tais
que as fórmulas de L(A) relacionadas a elas pela função h são tautologias, temos que h () é
uma tautologia; segue-se desse fato e da definição de teorema, que se  é um teorema de Q, h
() é uma tautologia; agora, suponha-se que há uma fórmula  de L(B), tal que  e ~ são
teoremas de Q; segue-se que h () e h (~) são tautologias; como h (~) = ~h (), temos que
~h () é uma tautologia; ora, como h () é uma tautologia, v (h ()) = 1 para toda valoração v;
e como ~h () é uma tautologia, temos que v (~h ()) = 1 para toda valoração v; segue-se daí
que v (h ()) = 0 para toda valoração v; mas já vimos que v (h ()) = 1 para toda valoração v,
donde se segue que não há nenhuma fórmula  de L(B), tal que  e ~ são teoremas de Q,
isto é, segue-se que Q é consistente.

Propriedades da noção de verdade

I - E  sse E╞ ~; E╞  sse E ~

Prova: i) suponha-se que E ; segue-se que v () = 0 dada qualquer atribuição13 ; nesse
caso, v (~) = 1 para toda atribuição , o que significa que E╞ ~; agora, suponhamos que
E╞ ~; segue-se que v (~) = 1 dada qualquer atribuição ; nesse caso, v () = 0 para toda

atribuição , o que significa que E ; portanto, E  sse E╞ ~; ii) vamos, agora,
admitir que E╞ ; daí resulta que v () = 1 dada qualquer atribuição ; segue-se que v (~)

= 0 dada toda atribuição  e que, portanto, E ~; admita-se agora que E ~; temos,
então, que v (~) = 0 dada toda atribuição , donde se segue que v () = 1 dada qualquer

atribuição  e que, portanto, E╞ ; conclui-se que E╞  sse E ~.

II - Não é o caso que E╞  e E 


13
E dados, obviamente, a função I e o domínio D de E. Vamos subentender essa observação em todas as
demonstrações.
96

Prova: suponha-se que E╞ ; segue-se que v () = 1 para toda atribuição ; agora, suponha-

se que E ; segue-se que v () = 0 para toda atribuição ; mas já vimos que v () = 1

para toda atribuição , donde se segue que não é o caso que E╞  e E .

III - Se E╞    e E╞ , então E╞ .
Prova: Se E╞   , então v (  ) = 1 para toda atribuição ; e se E╞ , então v () =1
para toda atribuição ; segue-se que v () = 1 para toda atribuição , o que significa que
E╞ .

IV - E    sse E╞  e E .

Prova: Suponha-se que E   ; segue-se que v (  ) = 0 para toda atribuição  e,

daí, que v () = 1 e v () = 0 para toda atribuição , isto é, segue-se que E╞  e que E ;

agora, suponha-se que E╞  e E ; segue-se que v () = 1 e v () = 0 para toda atribuição

 e, portanto, que v (  ) = 0 para toda atribuição , isto é, segue-se que E   ;

portanto, E    sse E╞  e E .

V - Dada uma atribuição , temos que: i) v ( & ) = 1 sse v () = v () = 1; ii) v ( v ) =
1 sse v () = 1 ou v () = 1; iii) v (  ) = 1 sse v () = v (); iv) v () = 1 sse v
() = 1 para ao menos uma atribuição  -variante de .
Prova: i) suponha-se que v ( & ) = 1, isto é, que v (~ (  ~)) = 1; segue-se que v (
 ~) = 0, isto é, que v () = 1 e v (~) = 0; de que v (~) = 0, segue-se que v () = 1;
portanto, v () = v () = 1; agora, suponha-se que v () = v () = 1; de que v () = 1 se
segue que v (~) = 0; portanto, como v () = 1 e v (~) = 0, segue-se que v (  ~) = 0
e, daí, que v (~ (  ~)) = 1, ou seja, v ( & ) = 1; temos, pois, que v ( & ) = 1 sse v
() = v () = 1; ii) suponha-se que v ( v ) = 1, isto é, que v (~  ) = 1; vamos supor,
além disso, que v () = 0 e v () = 0; de que v () = 0 se segue que v (~) = 1; e de que v
(~) = 1 e v () = 0 se segue que v (~  ) = 0; v (~  ) = 1 ex hypothesi, donde se
segue que não é o caso que v () = 0 e v () = 0, isto é, que ou v () = 1 ou v () = 1;
agora, suponha-se que ou v () = 1 ou v () = 1; se v () = 1, então v (~) = 0, e v (~
97

 ) = 1; se v () = 1, segue-se também que v (~  ) = 1; portanto se ou v () = 1 ou v


() = 1, então v (~  ) = 1, isto é v ( v ) = 1; segue-se que v ( v ) = 1 sse v () = 1
ou v () = 1; iii) suponha-se que v (  ) = 1, isto é, que v ((  ) & (  )) = 1;
segue-se pelo resultado i que v (  ) = v (  ) = 1; agora, suponha-se que v () 
v (); segue-se que ou v () = 1 e v () = 0, ou v () = 0 e v () = 1; no primeiro caso
segue-se que v (  ) = 0, e no segundo segue-se que v (  ) = 0; mas já vimos que v
(  ) = v (  ) = 1; portanto, não é o caso que v ()  v (), isto é v () = v ();
agora, suponha-se que v () = v (); segue-se que ou v () = v () = 1 ou v () = v () =
0; nos dois casos temos que v (  ) = v (  ) = 1; segue-se daí, por i, que v (( 
) & (  )) = 1, isto é, que v (  ) = 1; portanto, v (  ) = 1 sse v () = v (); iv)
suponha-se que v () = 1, isto é, que v (~~) = 1; segue-se que v (~) = 0 e, daí,
que v (~) = 0 dada ao menos uma atribuição  -variante de ; enfim, segue-se disto que v
() = 1 dada ao menos uma atribuição  -variante de ; agora, suponha-se que v () = 1
dada ao menos uma atribuição  -variante de ; segue-se que v (~) = 0 dada ao menos uma
atribuição  -variante de ; daí se segue que v (~) = 0; portanto, v (~~) = 1, isto é,
v () = 1; segue-se que v () = 1 sse v () = 1 dada ao menos uma atribuição  -
variante de .

VI - E╞  sse E╞ ; em particular,  é verdadeira em E sse o fecho universal de  é


verdadeiro em E.
Prova: i) suponha-se que E╞ ; segue-se que v () = 1 para toda atribuição ; agora,
suponha-se que v () = 0 dada alguma atribuição , digamos, 1; então v () = 0;
1

segue-se que há alguma atribuição  -variante de 1, tal que v () = 0; mas já vimos que v
() = 1 para toda atribuição , isto é, dada qualquer atribuição; portanto não há nenhuma
atribuição  tal que v () = 0, ou seja, v () = 1 para toda atribuição ; segue-se que
E╞ ; vamos, agora, supor que E╞ ; segue-se que v () = 1 para toda atribuição ;
daí se segue que v () = 1 para toda atribuição  -variante de ; mas como v () = 1 para
toda atribuição , e toda atribuição é -variante de si mesma, segue-se que v () = 1 para
toda atribuição , isto é, segue-se que E╞ ; portanto, E╞  sse E╞ ; ii) suponha-se que
as variáveis 1, 2, ..., n ocorrem livres em , e que  é verdadeira em E, isto é, E╞ ; segue-
se por i que E╞ n; ora, aplicando-se este mesmo resultado mais n-1 vezes, podemos obter
98

E╞ 12...n; agora, suponha-se que E╞ 12...n; segue-se por i que E╞


2...n; aplicando-se o mesmo resultado mais n-1 vezes, obtemos E╞ ; portanto, E╞ 
sse E╞ 12...n, isto é,  é verdadeira em E sse o fecho universal de  é verdadeiro em
E.

VII - Se  é uma instância de uma tautologia, então  é uma verdade lógica.


Prova: Pelo teorema 2 do n 1.3, temos que toda tautologia é um teorema do sistema formal
M; portanto, para provar a propriedade, basta demonstrar que se  é uma instância de um
teorema de M, então  é uma verdade lógica; seja  uma instância de um teorema de M;
então, dada a definição de teorema,  é uma instância de um axioma de M ou uma instância
de uma fórmula obtida de dois teoremas de M por aplicação de MP; consideremos o primeiro
caso: i)  é uma instância de um axioma de M; há, obviamente, três possibilidades: a)  é
uma instância de AX1; segue-se que  tem a forma   (  ), sendo  e  fórmulas de
L(B); suponha-se que há uma estrutura E tal que não é o caso que E╞ ; segue-se que, dada E,
v () = 0 para alguma atribuição ; temos, pois, que v (  (  )) = 0; portanto v() = 1
e v (  ) = 0; segue-se que v () = 1 e v () = 0; mas já vimos que v () = 1, donde
segue não há uma tal estrutura E tal que não é o caso que E╞ , ou seja E╞  dada qualquer
estrutura E, isto é,  é uma verdade lógica; )  é uma instância de AX2: segue-se que  tem
a forma (  (  ))  ((  )  (  )), sendo ,  e  fórmulas de L(B); suponha-se
que há uma estrutura E tal que não é o caso que E╞ ; segue-se que, dada E, v () = 0 para
alguma atribuição ; temos, pois, que v ((  (  ))  ((  )  (  ))) = 0; segue-
se que v (  (  )) = 1 e v ((  )  (  )) = 0; segue-se que v (  ) = 1 e v (
 ) = 0; segue-se que v () = 1 e v () = 0; agora, suponha-se que v () = 1; nesse caso, v
(  (  )) = 0, mas já vimos que v (  (  )) = 1; portanto v () = 0; mas, nesse
caso, v (  ) = 0, e, entretanto, já vimos que v (  ) = 1; segue-se que não há uma tal
estrutura E tal que não é o caso que E╞ , ou seja E╞  dada qualquer estrutura E, isto é,  é
uma verdade lógica; c)  é uma instância de AX3: segue-se que  tem a forma (~  ~) 
((~  )  ), sendo  e  fórmulas de L(B); suponha-se que há uma estrutura E tal que não
é o caso que E╞ ; segue-se que, dada E, v () = 0 para alguma atribuição ; temos, pois,
que v ((~  ~)  ((~  )  )) = 0; segue-se que v (~  ~) = 1 e v ((~  ) 
) = 0; segue-se que v (~   = 1 e v () = 0; agora, suponha-se que v () = 1; segue-se
99

que v (~  ~) = 0; mas já vimos que v (~  ~) = 1; portanto, v () = 0; segue-se que
v (~   = 0; mas já vimos que v (~   = 1; segue-se que não há uma tal estrutura E
tal que não é o caso que E╞ , ou seja E╞  dada qualquer estrutura E, isto é,  é uma
verdade lógica; isto conclui o primeiro caso, de modo que temos que se  é uma instância de
um axioma de M, então  é uma verdade lógica; consideremos, agora, o segundo caso: ii)  é
uma instância de uma fórmula obtida de dois teoremas de M por aplicação de MP;
obviamente, se  é uma instância de uma fórmula obtida de duas outras por MP,  pode ser
obtida por MP de instâncias dessas duas fórmulas; de fato, seja  a fórmula de L(A) de que 
é uma instância; então um dos dois teoremas de que  é obtida tem a forma   , e o outro é
; na seqüência   , , , substitua-se em cada fórmula as variáveis proposicionais que
ocorrem em  por fórmulas de L(B) tal como se fez na obtenção de  como instância de ; as
demais variáveis proposicionais, se houver, sejam substituídas por fórmulas quaisquer de
L(B), as mesmas variáveis proposicionais sendo substituídas pelas mesmas fórmulas, como é
óbvio; a seqüência resultante tem a forma   , , , sendo que    é uma instância de 
 ,  é uma instância de , e a seqüência é uma obtenção de  a partir das duas fórmulas
anteriores por MP; ora, se    e  são axiomas de M, segue-se por i que    e  são
verdades lógicas, isto é, E╞    e E╞  para toda estrutura E; daí, segue-se por III que E╞
 para toda estrutura E, ou seja, segue-se que  é uma verdade lógica; por recursão, está claro
que o mesmo ocorre se   ,  ou ambas são fórmulas obtidas de teoremas de M por MP;
portanto, se  é uma instância de um teorema de M,  é uma verdade lógica; segue-se que se
 é uma instância de uma tautologia  é uma verdade lógica.

VIII - Se as variáveis livres de  estão entre as variáveis da seqüência 1, 2, ..., k, e  e  são
atribuições tais que  (i) =  (i), 1  i  k, então v () = 1 sse v () = 1
Prova: Suponha-se que as variáveis livres de  estão entre as variáveis da seqüência 1, 2, ...,
k, e  e  são atribuições tais que  (i) =  (i), 1  i  k; vamos, então, provar por indução
sobre o número n de operadores e quantificadores de  que v () = 1 sse v () = 1:
Base: n = 0
Como  não possui operadores ou quantificadores, segue-se que  possui a forma mt1t2...tm;
segue-se que v () = 1 sse ( (t1),  (t2), ...,  (tm))  I (m), e v () = 1 sse ( (t1),  (t2), ..., 
(tm))  I (m); ora, é óbvio que, dada uma estrutura E qualquer, a função I está definida para
m, bem como para quaisquer constantes individuais e símbolos funcionais que ocorram em
100

; pois bem, se, para 1  i  m, ti é uma constante individual c , então  (ti) =  (ti) = I ( c );

se ti é uma variável , então, por hipótese,  (ti) =  (ti), já que, como é óbvio,  ocorre livre
em ; por fim, se ti tem a forma l (t1, t2, ..., tl), então  (ti) = y sse ( (t1),  (t2), ...,  (tl), y) 
I (l), e  (ti) = z sse ( (t1),  (t2), ...,  (tl), z)  I (l); ora, se para 1  j  l, tj é uma constante
individual ou uma variável, então, pelo que já mostramos, segue-se que  (tj) =  (tj) e, nesse
caso, x = z, isto é,  (ti) =  (ti); já se há algum tj da forma p (t1, t2, ..., tp), pode-se repetir o
procedimento, de modo a verificar a forma de tq, para 1  q  p; se todo tq é uma variável ou
uma constante individual, então  (tq) =  (tq), donde se segue que  (tj) =  (tj), e de novo
temos que  (ti) =  (ti); é óbvio que esse procedimento não pode continuar ad infinitum, pois
o comprimento de uma fórmula de L(B) é, por definição, sempre finito; portanto, para sermos
genéricos, podemos representar uma fórmula atômica  de L(B) por m ( c , , l),
significando que entre os m termos de  podem ocorrem constantes, variáveis e termos da
forma l (t1, t2, ..., tl); então l, por sua vez pode ser representado por l ( c , , p), caso
possam ocorrer entre os l termos de l constantes, variáveis e termos da forma p (t1, t2, ..., tp);
segue-se que qualquer fórmula atômica de L(B) deve ser do tipo
m ( c , , l ( c , , p (... ( c , )... ))), isto é, qualquer fórmula atômica de L(B) só pode
possuir termos da forma l (t1, t2, ..., tl) construídos a a partir de um símbolo funcional
aplicado apenas a constantes individuais e variáveis; portanto, dadas as condições
especificadas acima para a fórmula  e as atribuições  e ,  (ti) =  (ti); daí temos que (
(t1),  (t2), ...,  (tm))  I (m) sse ( (t1),  (t2), ...,  (tm))  I (m), isto é, v () = 1 sse v
() = 1.
Hipótese indutiva (HI): suponha-se que VIII vale para todo j < n
Caso 1:  = ~
Como o número j de operadores e quantificadores de  é menor que n, temos que HI vale para
; portanto v () = 1 sse v () = 1; suponha-se que v () = 1, isto é, v (~) = 1; segue-se
que v () = 0; daí temos que v () = 0 e, daí, que v (~) = 1, ou seja, v () = 1; a obtenção
de v () = 1 a partir de v () = 1 segue procedimento idêntico; portanto v () = 1 sse v ()
=1
Caso 2:  =   
Como o número j de operadores e quantificadores de , e o número i de operadores e
quantificadores de  são, ambos, menores que n, temos que HI vale para  e para , ou seja,
v () = 1 sse v () = 1, e v () = 1 sse v () = 1; suponha-se que v (  ) = 1; agora,
101

suponha-se que v (  ) = 0; segue-se que v () = 1 e v () = 0; daí e de HI segue-se que


v () = 1 e v () = 0; portanto, v (  ) = 0; mas v (  ) =1 por hipótese, donde se
segue que v (  ) = 1; a obtenção de v (  ) = 1 a partir de v (  ) = 1 segue o
mesmo procedimento; portanto v (  ) = 1 sse v (  ) = 1, isto é, v () = 1 sse v () =
1
Caso 3:  = 
Como o número j de operadores e quantificadores de  é menor que n, temos que HI vale para
; suponha-se que v () = 1, isto é v () = 1; segue-se que v’ () = 1 para toda atribuição
’ -variante de ; pois bem, podemos associar a cada uma dessas atribuições ’ o conjunto
das atribuições  que sejam idênticas a sua associada no valor atribuído às variáveis que
ocorrem livres em , variando livremente nos valores fornecidos às demais variáveis; então,
por HI e pelo fato de que v’ () = 1 para as atribuições ’ especificadas, teremos que v () =
1 para todas essas atribuições ; ora, é óbvio que todas as atribuições ’ -variantes de  estão
entre essas atribuições , de modo que v’ () = 1 para todas essas atribuições ’, ou seja,
v () = 1; temos, pois, que v () = 1; por meio de um raciocínio de natureza idêntica,
podemos obter v () = 1 a partir de v () = 1; portanto v () = 1 sse v () = 1
Temos, pois, por exaustão de casos, que se VIII vale para todo j < n, VIII vale também para n;
acrescentando a isso que VIII vale para n = 0, temos, por indução completa, que VIII vale
para qualquer fórmula  de L(B).

IX - Se  é uma fórmula fechada, então, para uma dada estrutura E qualquer, E╞  ou E╞ ~,

isto é, E╞  ou E .

Prova: Seja  uma fórmula fechada; ora, a propriedade VIII diz que se  e  são duas
atribuições que fornecem os mesmos valores para todas as variáveis livres de uma fórmula ,
então v () = 1 sse v () = 1; ou seja v () = 1 sse v () = 1 caso não haja uma variável livre
 de  tal que  ()   (); daí, como  não possui variáveis livres, temos que não há uma
variável livre de  tal que v ()  v (), dadas quaisquer atribuições  e ; segue-se que
v () = 1 sse v () = 1 dadas quaisquer atribuições  e ; agora, suponha-se que, dada uma
estrutura E, não é o caso que E╞  e nem que E╞ ~; segue-se do primeiro fato que v () = 0
para alguma atribuição , e do segundo se segue que v (~) = 0 dada alguma atribuição  e,
daí, que v () = 1; logo, temos que v () = 1 para toda atribuição , já que v () = 1 sse
102

v () = 1 dadas quaisquer atribuições  e ; mas já vimos que v () = 0 para alguma
atribuição ; portanto, dada uma estrutura E qualquer, ou E╞  ou E╞ ~; daí, por I, E╞  ou

E .

X - Se t e u são termos,  é uma atribuição, t’ resulta de t por substituição de toda ocorrência


de uma dada variável i em t por u, e ’ é uma atribuição idêntica a  exceto que ’ (i) =
 (u), então  (t’) = ’ (t).
Prova: Sejam t e u termos,  uma atribuição, t’ um termo que resulta de t por substituição de
toda ocorrência de uma dada variável i em t por u, e ’ uma atribuição idêntica a  exceto
que ’ (i) =  (u); provemos por indução sobre o número n de símbolos de t que  (t’) =
’ (t)
Base: n = 1
Obviamente, t é uma constante individual c ou uma variável j; no primeiro caso, t = t’ = c ,
e  (t’) = ’ (t) = I ( c ), dada qualquer estrutura E = (D, I); no segundo caso, se j  i, então t =
t’ = j, e, como  é idêntica a ’ exceto no valor atribuído a i, temos que  (t’) = ’ (t); já se j
= i, então t = i e t’ = u, donde se segue que  (t’) =  (u) e ’ (t) = ’ (i); daí, como ’ (i) =
 (u) ex hypothesi, de novo temos que  (t’) = ’ (t)
Hipótese indutiva (HI): X vale para todo k < n
Como n > 1, segue-se que t tem a forma m (t1, t2, ..., tm); nesse caso, t’ tem a forma m (t1’, t2’,
..., tm’); por definição ’ (t) = x sse (’ (t1), ’ (t2), ..., ’ (tm), x)  I (m) e  (t’) = y sse (
(t1’),  (t2’), ...,  (tm’), y)  I (m), dada qualquer estrutura E = (D, I); por HI,  (ti’) = ’
(ti), 1  i  m, já que, obviamente, o número de símbolos de cada t i, 1  i  m, é sempre menor
que n; segue-se que (’ (t1), ’ (t2), ..., ’ (tm), y)  I (m); ora, como, por definição, se (’
(t1), ’ (t2), ..., ’ (tm), x)  I (m), então (’ (t1), ’ (t2), ..., ’ (tm), y)  I (m) sse x = y,
segue-se que x = y, ou seja,  (t’) = ’ (t)
Temos, pois, que se X vale para todo k < n, X vale também para n; acrescentando a isso que
X vale para n = 1, temos, por indução completa, que X vale para qualquer termo t.

XI - Se [i] é uma fórmula contendo a variável i, t é um termo livre para i em [i], [i/t]
é a fórmula que resulta de [i] por substituição de toda ocorrência livre de i em [i] por t,
 é uma atribuição, e  é uma atribuição idêntica a , exceto que  (i) =  (t), então v ([t])
= 1 sse v ([i]) = 1.
103

Prova: Seja [i] uma fórmula contendo a variável i, t um termo livre para i em [i], [i/t]
a fórmula que resulta de [i] por substituição de toda ocorrência livre de i em [i] por t, 
uma atribuição, e  uma atribuição idêntica a , exceto que  (i) =  (t); vamos provar, por
indução sobre o número n de operadores e quantificadores em [i], que v ([t]) = 1 sse v
([i]) = 1.
Base: n = 0
Como n = 0, temos que [i] tem a forma mt1t2...tm; ora, como qualquer ocorrência de i em
[i] é livre, temos que [i/t] é mt1’t2’...tm’, sendo que ti’, 1  i  m, é o termo que resulta de
ti, 1  i  m, por substituição de toda ocorrência de i em ti por t; ora, por X temos que  (ti)
=  (ti’); agora, suponha-se que v ([i]) = 1; segue-se que ( (t1),  (t2), ...,  (tm))  I
(m); ora, daí e de que  (ti) =  (ti’) se segue que ( (t1’),  (t2’), ...,  (tm’))  I (m), isto é,
segue-se que v ([i/t]) = 1; a obtenção de v ([i]) = 1 a partir de v ([i/t]) = 1 segue o
mesmo procedimento; logo, v ([i/t]) = 1 sse v ([i]) = 1
Hipótese indutiva (HI): XI vale para todo p < n
Passo de indução:
Caso 1: [i] = ~[i]
Como o número p de operadores e quantificadores de [i] é menor que n, temos, por HI, que
XI vale para [i], isto é, v ([i/t]) = 1 sse v ([i]) = 1; agora, suponha-se que v ([i]) = 1,
isto é, que v (~[i]) = 1; segue-se que v ([i]) = 0 e, daí, que v ([i/t]) = 0; portanto,
temos que v (~[i/t]) = 1, isto é, temos que v ([i/t]) = 1; a obtenção de v ([i]) = 1 a
partir de v ([i/t]) = 1 segue o mesmo procedimento; logo, v ([i/t]) = 1 sse v ([i]) = 1
Caso 2: [i] = (  )[i]
Sejam {i} e {i}, respectivamente, as fórmulas  e  que ocorrem em [i], com as
possíveis ocorrências livres da variável i, e sejam {i/t} e {i/t}, respectivamente, a
fórmula que resulta de {i} por substituição de toda ocorrência livre de i por t, e a fórmula
que resulta de {i} pelo mesmo processo; como o número p de operadores e quantificadores
de  e o número q de operadores e quantificadores de  são, ambos, menores que n, temos, por
HI, que XI vale para  e para , isto é, v ({i/t}) = 1 sse v ({i}) = 1, e v ({i/t}) = 1 sse
v ( {i}) = 1; agora, suponha-se que v ([i]) = 1, isto é, que v ((  )[i]) = 1; suponha-
se, além disso, que v ((  )[i/t]) = 0; segue-se que v ({i/t}) = 1 e v ({i/t}) = 0 e, daí,
que v ({i}) = 1 e v ({i) = 0; logo, v ((  )[i]) = 0; mas v ((  )[i]) = 1 ex
104

hypothesi; portanto, v ((  )[i/t]) = 1, isto é, v ([i/t]) = 1; a obtenção de v ([i]) = 1 a


partir de v ([i/t]) = 1 segue o mesmo procedimento; logo, v ([i/t]) = 1 sse v ([i]) = 1
Caso 3: [i] = j[i]
Como o número p de operadores e quantificadores de [i] é menor que n, temos, por HI, que
XI vale para [i], isto é, v ([i/t]) = 1 sse v ([i]) = 1; agora, suponha-se que v ([i]) = 1,
isto é, que v (j[i]) = 1; segue-se que v’ ([i]) = 1 para toda atribuição ’ j-variante de ;
ora, como cada ’ é idêntica a , exceto que, possivelmente, ’ (j)   (j), e , por sua vez, é
idêntica a , exceto que  (i) =  (t), temos que cada ’ é idêntica a , exceto que ’ (i) = 
(t) e, possivelmente, que ’ (j)   (j); agora, tome-se todas as atribuições ’ j-variantes de
; elas são idênticas a  exceto, no máximo, no valor atribuído a j; logo, cada atribuição ’ é
idêntica a cada ’, exceto no valor atribuído a i e, possivelmente, no valor atribuído a j;
tomemos, então, todos os pares (’, ’), tais que ’ (j) = ’ (j); é óbvio que, em cada par, ’
é idêntica a ’, exceto no valor atribuído a i; de fato, ’ (i) =  (t), e ’ (i) =  (i); quanto a
’ (t), temos o seguinte: já que ’ é j-variante de , ’ (t) =  (t) se j não ocorre em t, do
contrário ’ (t)   (t); mas, como t é livre para i em [i], temos que i não ocorre dentro do
escopo de uma quantificação sobre uma variável que ocorre em t; logo, j não ocorre em t,
donde temos que ’ (t) =  (t); portanto, em cada par (’, ’), ’ é idêntica a ’, exceto que ’
(i) = ’ (t); daí, como XI vale para [i], e em cada par (’, ’) as atribuições ’ e ’
satisfazem as condições de XI sobre as atribuições  e , temos que v’ ([i/t]) = 1 sse
v’ ([i]) = 1, para cada um dos pares (’, ’); ora, acrescentando-se a isso que v’ ([i]) = 1
para cada atribuição ’, temos que v’ ([i/t]) = 1 para cada atribuição ’, ou seja, v
(j[i/t]) = 1, isto é, v ([i/t]) = 1; a obtenção de v ([i]) = 1 a partir de v ([i/t]) =
1 segue o mesmo procedimento; logo, v ([i/t]) = 1 sse v ([i]) = 1
Temos, pois, que se XI vale para todo p < n, XI vale também para n; acrescentando a isso que
XI vale para n = 1, temos, por indução completa, que XI vale para qualquer fórmula  de
L(B).

XII - Seja [i] é uma fórmula contendo a variável i, t um termo livre para i em [i], [i/t]
a fórmula que resulta de [i] por substituição de toda ocorrência livre de i em [i] por t, e
 uma atribuição; nesse caso, se v (i[i]) = 1 então v ([i/t]) = 1; portanto, ╞ i[i]
 [i/t].
105

Prova: Seja [i] é uma fórmula contendo a variável i, t um termo livre para i em [i],
[i/t] a fórmula que resulta de [i] por substituição de toda ocorrência livre de i em [i]
por t, e  uma atribuição; i) agora, suponha-se que v (i[i]) = 1; segue-se que v ([i]) =
1 para toda atribuição  i-variante de ; obviamente, uma dessas atribuições , digamos 1, é
tal que 1 (i) =  (t); portanto, já que v ([i]) = 1, temos, por XI, que v ([i/t]) = 1; ii)
1

agora, suponha-se que não é o caso que╞ i[i]  [i/t]; segue-se que há alguma estrutura
E tal que não é o caso que E╞ i[i]  [i/t]; daí, segue-se que, dada a estrutura E, v
(i[i]  [i/t]) = 0 dada alguma atribuição ; isto significa que v (i[i]) = 1 e v
([i/t]) = 0; mas já vimos que se v (i[i]) = 1, então v ([i/t]) = 1; portanto, ╞
(i[i]  [i/t]).

XIII - Se i não ocorre livre em , então╞ i (  )  (  i)


Prova: Suponha-se que i não ocorre livre em , e que não é o caso que╞ i (  )  (
 i); segue-se que há alguma estrutura E tal que não é o caso que E╞ i (  )  (
 i), isto é, v (i (  )  (  i)) = 0 para alguma atribuição ; segue-se disso
que v (i (  )) = 1 e v (  i) = 0, donde se segue que v () = 1 e v (i) = 0;
daí, temos que v () = 0 para alguma atribuição  i-variante de ; por VIII, v () = 1 sse
v () = 1 caso não haja uma variável livre j de  tal que  (j)   (j); ora, como  é idêntica
a , exceto no valor atribuído a i, e i não ocorre livre em , temos que não há nenhuma
variável livre j de  tal que  (j)   (j); daí, como v () = 1, temos que v () = 1;
portanto, já que v () = 0, segue-se que v (  ) = 0, donde se conclui que v (i (  ))
= 0; mas já vimos que v (i (  )) = 1; portanto, ╞ i (  )  (  i).

TEOREMA 2.3.2: Q é correto, isto é, todo teorema de Q é uma verdade lógica.


Prova: Por VII, AX1, AX2 e AX3 são verdades lógicas; por XII e XIII, respectivamente, AX4
e AX5 são verdades lógicas; por III, MP aplicada a verdades lógicas só produz verdades
lógicas; por VI, GN aplicada a verdades lógicas só produz verdades lógicas; logo, como um
teorema de Q é um axioma de Q ou uma fórmula obtida a partir dos axiomas por aplicações
de MP ou GN, temos que todo teorema de Q é uma verdade lógica.

DEF. 2.3.1: As fórmulas [i] e [i/j] são similares sse j é livre para i em [i] e [i] não
possui ocorrências livres de j.
106

LEMA 2.3.1: Se [i] e [i/j] são similares, então ├ i [i]  j [i/j].
Prova: Sejam a[i] e a[i/j] duas fórmulas similares; então a seguinte seqüência de fórmulas é
uma prova de i [i]  j [i/j]:
1) i [i]  [i/j] AX4
2) j (i [i]  [i/j]) 1 GN
3) j (i [i]  [i/j])  (i [i]  j [i/j]) AX5
4) i [i]  j [i/j] 2,3 MP
5) j [i/j]  [i] AX4
6) i (j [i/j]  [i]) 5 GN
7) i (j [i/j]  [i])  (j [i/j])  i [i] AX5
8) j [i/j]  i [i] 6,7 MP
9) (i [i]  j [i/j])  ((j [i/j]  i [i])  ((i [i] 
j [i/j]) & (j [i/j]  i [i]))) TAUT
10) (j [i/j]  i [i])  ((i [i]  j [i/j]) & (j [i/j]
 i [i])) 4,9 MP
11) (i [i]  j [i/j]) & (j [i/j]  i [i]) 8,10 MP
12) (i [i]  j [i/j]) 11 DEF 
Obviamente, os usos de AX4 e AX5 na prova acima são legítimos, dado o fato de que [i] e
[i/j] são fórmulas similares.

DEF. 2.3.2: Uma teoria de 1a ordem T é qualquer sistema formal (L(C), P), onde L(C) 
L(B), e P = PQ  PP, sendo que PQ é o conjunto dos postulados de Q (ou um outro conjunto de
postulados que gera o mesmo conjunto de teoremas), a que vamos chamar ‘postulados
lógicos’, e PP é um conjunto qualquer de postulados para L(C), ao qual vamos chamar
‘postulados próprios’ da teoria T.

DEF. 2.3.3: Uma teoria de 1ª ordem K’ é uma extensão da teoria de 1ª ordem K sse LK = LK’,
e, para qualquer fórmula   LK, ├K  implica que ├K’ .

Os resultados a seguir serão provados com respeito a qualquer teoria de 1 a ordem T.


Assim, como o cálculo de predicados de 1a ordem, claramente, é o conjunto de teorias de 1a
107

ordem (L(C), P) com L(C) = L(B) e P = P Q (ou a um outro conjunto de postulados que gera o
mesmo conjunto de teoremas), é óbvio que esses resultados valem para o cálculo de
predicados de 1a ordem.

LEMA 2.3.2: Se uma teoria de 1a ordem K é consistente e ├∕K ~, então a teoria K’, resultante
de K por adição de  como axioma é consistente.
Prova: Suponha-se que K é uma teoria de 1a ordem consistente, que ├∕K ~, e que K’ é a
teoria que resulta de K por adição de  como axioma; suponha-se agora que K’ seja
inconsistente; então, há uma fórmula   LK (LK’ = LK, como é óbvio) tal que ├K’  e ├K’ ~;
como ├K’  → (~ → ~), já que K’ é uma extensão de K, K é uma teoria de 1ª ordem e,
portanto, contém o cálculo funcional de 1ª ordem, segue-se por MP que ├ K’ ~; nesse caso, já
que ~ se segue dos axiomas de K’, temos que ~ se segue dos axiomas de K e de , isto é, 
├K ~, donde temos pelo teorema da dedução que ├ K  → ~; como ├K ( → ~) → ~,
segue-se por MP que ├K ~; mas já tínhamos por hipótese que ├∕K ~; portanto, K’ é
consistente.

LEMA 2.3.3 (lema de Lindenbaum): Se K = (LK, PK) é uma teoria de 1ª ordem consistente,
então há uma extensão K’ de K que é consistente, e completa no sentido de que, para toda
fórmula   LK, ├K’  ou ├K’ ~.
Prova: seja  seqüência 1, 2, ..., n uma enumeração de todas as fórmulas fechadas de LK;
seja J0, J1, ..., uma seqüência infinita de teorias de 1ª ordem, definida recursivamente como
segue: J0 = K; dado um ordinal k qualquer tal que k  , se ├∕ J k ~k+1, então Jk+1 é obtida
acrescentando-se k+1 ao conjunto dos axiomas de Jk; se ├ J k ~k+1, então Jk+1 = Jk; agora seja
AXJ
J  teoria de 1ª ordem tal que AX J ω = i

; obviamente, J é uma extensão de cada Ji,
i

e portanto também de J0, isto é, de K; vamos então provar que J é consistente, e que é
completa no sentido mencionado acima;
i) J é consistente: como, por definição de prova, as provas em J são seqüências finitas de
fórmulas, segue-se que uma prova de uma contradição em J deve envolver um número finito
de axiomas; como todo axioma de J é um axioma de Ji, para qualquer i < , segue-se que a
prova de uma contradição em J é a prova dessa contradição em Ji, para algum i < ; portanto,
se não há uma prova de uma contradição em alguma teoria Ji, para i < , isto é, se toda teoria
Ji é consistente, J também o é; agora, temos por hipótese que K, ou seja, J0, é consistente;
108

assuma-se que Ji é consistente, para algum i < ; se Ji+1 = Ji, então obviamente Ji+1 é
consistente; se Ji+1 ≠ Ji, então ├∕ J i ~i+1, donde se segue pelo lema 2 que Ji+1 é consistente;
ora, com isso temos uma prova por indução matemática de que Ji é consistente para todo i <
, e, como mostramos acima, isso implica que também J é consistente;
ii) J é completo: seja  uma fórmula qualquer de L K; então  = j+1 para algum j < ;
suponha-se que ├∕ J j ~j+1; segue-se que j+1 é um axioma em Jj+1 e, portanto, ├ J j  1 j+1, isto
é, ├ J j  1 ; vamos agora supor que ├ J j ~j+1; segue-se daí que Jj+1 = Jj e, portanto, que├ J j  1
~j+1, isto é, ├ J j  1 ~; logo, ├ J j  1  ou ├ J j  1 ~; como temos por construção que todo
teorema de Jj+1, dado qualquer j < , é um teorema de J, segue-se que dada qualquer fórmula
  LK, ├ J   ou ├ J  ~, isto é, J é completo.

TEOREMA 2.3.3 (teorema de Gödel): Toda teoria de 1ª ordem consistente K tem um modelo
cujo domínio é denumerável.
Prova: Seja K0 a teoria de 1ª ordem que resulta de K por adição de um conjunto denumerável
de constantes individuais {b1, b2, b3, ...} ao conjunto dos símbolos de LK, mantendo P K 0 =
PK;
- em primeiro lugar, vamos provar que K0 é consistente: suponha-se que K0 seja inconsistente;
então há uma prova, para alguma fórmula   L K 0 , da fórmula  & ~ em K0; substitua-se
toda ocorrência de bi, dado qualquer natural i > 0, nessa prova por uma variável do conjunto
dos símbolos de LK; essa substituição, obviamente, mantém os axiomas e a relação de
conseqüência lógica entre fórmulas na prova e a(s) fórmula(s) na prova da(s) qual(is) elas
foram obtidas originalmente por aplicação de regras de inferência; segue-se que a seqüência
de fórmulas resultante de tal substituição de constantes por variáveis ainda é uma prova de 
& ~, para  modificada do modo descrito; contudo, i não ocorre na prova que, logo, é uma
prova em K; segue-se que K é inconsistente; mas como temos por hipótese que K é
consistente, segue-se que K0 é consistente;
- agora, seja a seqüência 1[ i1 ], 2[ i2 ], ..., uma enumeração das fórmulas de K0 que
contêm no máximo uma variável livre, sendo que, para cada natural k > 0,  ik é a variável
que ocorre livre em k; se k não tem variáveis livres, considere-se que  ik = x; além disso,
seja b j1 ,b j2 , ..., uma seqüência das constantes bi de K0 que introduzimos acima, tal que,
para todo k > 0, b jk não ocorre na seqüência 1[ i1 ], 2[ i2 ], ...; ainda além disso, seja k,
para todo natural k > 0, a fórmula ~ ik k[ ik ] → ~k[b jk ], seja Km, para um natural m
qualquer, a teoria obtida de K0, tal que AX K m = AX K 0  {1, 2, ..., m}, e seja K a teoria
109

AXK m
obtida de K0, tal que AX K  = AX K 0  {1, 2, ... }, isto é, AX K  = m

; vamos

provar que K é consistente;


- por definição de prova, toda prova em K é uma seqüência finita de fórmulas envolvendo,
logo, um número finito de axiomas; portanto, toda prova em K é uma prova em Ki, para
algum i < ; logo, se Ki é consistente para todo i < , então K é consistente; já
demonstramos acima que K0 é consistente; suponha-se agora que Kn-1 é consistente, dado
algum n < ; além disso, vamos supor que Kn é inconsistente; dessa hipótese e do fato de que
├ K n  → (~ → ) segue-se que ├ K n ~n; como n é um axioma de Kn, e essa é a única
diferença entre Kn e Kn-1, temos que n├ K n - 1 ~n, donde se segue pelo teorema da dedução
que ├ K n - 1 n → ~n; daí e do fato de que ├ K n - 1 ( & ~) → ~ segue-se que ├ K n - 1 ~n, isto
é, temos que ├ K n - 1 ~ (~ in n[ in ] → ~n[b jn ]); daí e do fato de que ├ K n - 1 ~ ( → ) →
 temos que ├ K n - 1 ~ in n[ in ], e considerando também o fato de que ├ K n - 1 ~ ( → )
→ ~ temos que ├ K n - 1 ~~n[b jn ], donde se segue, pelo fato de que ├ K n - 1 ~~ → , que ├
Kn - 1 n[b jn ]; ora, ex hypothesi, b jn não ocorre em k[ ik ], para todo natural k > 0, do que
se segue que b jn não ocorre na seqüência 1, 2, ..., n-1; além disso, b jn não ocorre entre os
axiomas de K0, já que AX K 0 = AXK, e K não possui nenhuma das constantes bi; mas nesse
caso, b jn não ocorre em AX K n - 1 , e portanto, substituindo-se b jn por r, para um natural r
qualquer, na prova de n[b jn ] em Kn-1, sendo r uma variável que não ocorre nessa prova, o
resultado é uma prova de n[r] em Kn-1, isto é, temos que ├ K n - 1 n[r]; segu-se daí por GN
que ├ K n - 1 rn[r]; aplicando aqui o lema 2.3.1 temos que ├ K n - 1  in n[ in ]; mas já
vimos acima que ├ K n - 1 ~ in n[ in ], donde se conclui que Kn-1 é inconsistente, o que
contradiz nossa hipótese inicial; assim, temos que da hipótese de que Kn-1 é consistente se
segue que Kn é consistente; daí e do fato já verificado de que K0 é consistente se segue por
indução matemática que Ki é consistente dado qualquer natural i > 0, e nesse caso, pelas
razões que já mencionamos acima, temos também que K é consistente;
- uma vez que K é consistente, como acabamos de verificar, temos pelo lema 2.3.3 que há
uma entensão consistente e completa – no sentido especificado naquele lema – de K;
chamemos essa extensão de K de J; agora, seja E = (T, I) uma estrutura tal que T é o
conjunto denumerável dos termos fechados de K0 e I é uma interpretação tal que: a) I ( c ) = ‘
n n
c ’, para qualquer constante individual c de K0; b) I ( j (t1, t2, ..., tn)) = ‘ j (t1, t2, ..., tn)’,
n
para qualquer constante funcional  j de K0, sendo ti, 1 ≤ i ≤ n, um termo fechado de K0;
110

além disso, vamos admitir que E╞  mj t1t2...tm sse ├J  mj t1t2...tm, para qualquer constante

predicativa  mj de K0, sendo sendo ti, 1 ≤ i ≤ n, um termo qualquer de K0; agora vamos
provar que E é um modelo de K0, no sentido de que E é um modelo do conjunto dos teoremas
de K0; ora, como todo teorema de K0 é um teorema de J, se E é um modelo de J então E é um
m
modelo de K0; por construção, se  é uma fórmula atômica  j t1t2...tm, E╞  sse ├J ;
suponha-se agora que toda fórmula fechada  de K0, com um número p de operadores e
quantificadores menor que o número q de operadores e quantificadores de determinada
fórmula fechada  de K0, seja tal que E╞  sse ├J ; a) admita-se que  = ~; admita-se ainda
que E╞ ; segue-se que E╞∕ , e daí temos por nossa hipótese indutiva que ├ J∕ ; como J é
completa, temos então que ├J ~, isto é, temos que ├J ; agora, vamos supor que E╞∕ ;
segue-se E╞  e, logo, que ├J , dada nossa hipótese de indução; mas nesse caso, como J é
consistente, temos que ├J∕ ~, isto é, ├J∕ ; assim, E╞  sse ├J ; b) agora vamos supor que
 =  → ; admita-se ainda que E╞∕ ; segue-se que E╞  e E╞∕ ; daí temos pela nossa
hipótese de indução que ├J  e ├J∕ ; como J é completa, segue-se que ├J ~; daí,
considerando que ├J  → (~ → ~ ( → )), temos que ├J ~( → ), isto é ├J ~; dada a
consistência de J, segue-se daí que ├J∕ ; vamos agora admitir ├J∕ ; dada a completude de J,
segue-se daí que ├J ~, isto é ├J ~( → ); como ├J ~( → ) → , temos que ├J ; e como
├J ~( → ) → ~, temos que ├J ~; portanto, pela hipótese de indução temos que E╞  e
E╞∕ , já que, dada a consistência de J, ├J∕ ; mas desse fato se segue que E╞∕  → , isto é,
que E╞∕ ; desse modo E╞∕  sse ├J∕ , donde se segue que E╞  sse ├J ; c) vamos
finalmente supor que  = n; na enumeração 1[ i1 ], 2[ i2 ], ..., das fórmulas de K0  é,
digamos, k[ ik ]; se  é fechada, então, por nossa hipótese de indução, E╞  sse ├J ; pela
propriedade VI da noção de verdade, temos que E╞  sse E╞ n, isto é, E╞  sse E╞ ;
ora, se ├J , então ├J n por GN, e se ├J n então ├J  por AX4 e MP, e logo ├J  sse ├J
n, isto é, ├J  sse├J ; assim, temos que E╞  sse ├J ; já se  é aberta,  ik n;
suponha-se, então, que E╞  e ├J∕ ; dada a completude de J, segue-se que ├J ~, isto é, ├J
~n, o que é o mesmo que dizer que├ J ~ ik k[ ik ]; como ├J k, isto é, ├J ~ ik k[ ik
] → ~k[b jk ], temos por MP que ├J ~k[b jk ]; como por hipótese E╞ , isto é, E╞  ik k[
ik ], e como pela propriedade XII da noção de verdade E╞  ik k[ ik ] → k[b jk ], temos,

pela propriedade III da noção de verdade que E╞ k[b jk ]; daí, aplicando a hipótese de
indução temos que ├J k[b jk ]; mas já tínhamos verificado que ├ J ~k[b jk ], donde se segue
111

que J é inconsistente; no entanto, como temos por hipótese que J é consistente, concluímos
que se E╞  então ├J ; vamos agora admitir que ├J ; suponha-se, então, que E╞∕ , isto é
E╞∕ n, ou ainda E╞∕  ik k[ ik ]; segue-se daí, pela def. 2.2.4 v ( ik k[ ik ]) = 0
para toda atribuição , e daí, pela def. 2.2.3, temos que vt (k[ ik ]) = 0 para alguma
atribuição   ik -variante de ; já que todo termo t  T é fechado, temos por definição que t é
livre para  ik em k[ ik ]; daí, vamos considerar que a atribuição   ik -variante de 
mencionada acima é tal que  ( ik ) =  (t), para um dado termo t  T; segue-se pela
propriedade XI da noção de verdade que v (k[t]) = 0; mas, como o domínio de E é T,  (t) =
t para toda atribuição  e t  T, donde se segue que v (k[t]) = 0 para toda atribuição , e
portanto que E╞∕ k[t]; porém, camo por hipótese ├J , isto é, ├J  ik k[ ik ], temos por
AX4 que ├J k[t], donde se segue por nossa hipótese de indução que E╞ k[t], contradizendo o
resultado que obtivemos há pouco de que E╞∕ k[t]; assim, se ├J  então E╞ ; como já
tínhamos verificado que se E╞  então ├J , temos que E╞  sse ├J ; mas com isso
acabamos de verificar que se uma determinada fórmula fechada  de K0, com um número p de
operadores e quantificadores menor que o número q de operadores e quantificadores de
determinada fórmula fechada  de K0, for tal que E╞  sse ├J , então teremos que E╞  sse
├J ; e como já tínhamos demonstrado que E╞  sse ├J  no caso de  ser uma fórmula
atômica de K0, concluímos por indução completa sobre o número q de operadores e
quantificadores de  que E╞  sse ├J  para qualquer fórmula fechada  de K0; e como todo
teorema de J é um teorema de K0 – conforme havíamos já mencionado – temos que se├ K0 
então E╞ ; mas como temos também que todo teorema de K é um teorema de K0, segue-se
que se├K  então E╞ ; como isso quer dizer que E é um modelo de K, e como o domínio de
E, isto é, T, é um conjunto denumerável, temos que K tem, portanto, um modelo cujo domínio
é denumerável.

COROLÁRIO 2.3.1 (completude do cálculo funcional de 1ª ordem): Se  é uma verdade


lógica, então  é um teorema do cálculo funcional de 1ª ordem, isto é se╞  então ├Q  (mais
amplamente, se  é uma verdade lógica e é uma fórmula de L K, para uma dada teoria de 1ª
ordem K, então  é um teorema de K).
Prova: Como, de acordo com a propriedade VI da noção de verdade,  é uma verdade lógica
sse seu fecho universal é uma verdade lógica, e como, por AX4 e GN  é um teorema de Q
sse seu fecho universal é um teorema de Q, basta considerar o caso das fórmulas fechadas;
112

seja , então, uma fórmula fechada logicamente verdadeira de LK, para alguma teoria de 1ª
ordem consistente K (no caso de Q, o teorema 2.3.1 já demonstrou que se trata de um sistema
formal consistente); vamos supor que ├∕K ; pelo lema 2.3.2, segue-se que a teoria K’, que
resulta de K por adição de ~ como axioma, é consistente; daí segue-se pelo teorema 2.3.3
que K’ possui um modelo M cujo domínio é denumerável; assim, temos, por definição de
modelo para sistemas formais, que M╞ ~, donde se segue, pela propriedade I da noção de
verdade, que M╞∕ ; mas, como por hipótese  é uma verdade lógica, temos também que M╞
; assim, se temos ╞ , isto é, se  é uma verdade lógica, então ├K  para qualquer teoria de
1ª ordem consistente14 K (em particular, portanto ├Q ).

COROLÁRIO 2.3.2 (teorema de Gödel): uma fórmula   L(B) é uma verdade lógica sse  é
um teorema do cálculo funcional de 1ª ordem, isto é, sse ├Q .
Prova: Pelo teorema 2.3.2 temos que se ├Q  então ╞ , e pelo corolário 2.3.1 temos que se ╞
 então ├Q ; segue-se que ╞  sse ├Q .

COROLÁRIO 2.3.3 (teorema de Löwenheim-Skolem): Se uma teoria de 1ª ordem K possui


um modelo, então K possui um modelo denumerável.
Prova: Suponha-se que K é uma teoria de 1ª ordem que possui um modelo M; então, por
definição de modelo para sistemas formais, temos que, para qualquer fórmula  de LK, se ├K
 então M╞ ; daí, como pela propriedade II da noção de verdade temos que não é o caso que
M╞  e que M╞∕ , e como pela propriedade I da noção de verdade M╞∕  sse M╞ ~,
concluímos que não é o caso que M╞  e M╞ ~, e portanto que não é o caso que ├ K  e ├K
~; como isso quer dizer que K é consistente, segue-se pelo teorema 2.3.3 que K possui um
modelo denumerável.

14
É claro que o mesmo ocorre se K é uma teoria inconsistente, pois nesse caso qualquer fórmula de L K é um
teorema de K, mas esse é um caso destituído de interesse.

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