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Decomposição da serapilheira em mata, bosque de sabiá e área de cultivo

agrícola
Tania Marta Carvalho dos Santos(1); Erica Livea Ferreira Guedes(2); João Manoel da Silva(2);
Ana Lígia Silva de Melo(2); José Soares Brito Neto(2); Felipe Alexandre Tenório(2); Thiago
Francisco da Silva(2); Geovanny Soares PauferroBarroso(2)
1)
Professor CECA/Universidade Federal de Alagoas CEP 57100-00, Rio Largo, AL tmcs@ceca.ufal.br; (2)Acadêmico do curso de
Graduação em Agronomia, CECA/Universidade Federal de Alagoas, CEP 57100-00, Rio Largo, AL, jm.agro@hotmail.com;

RESUMO – Objetivou-se avaliar a decomposição de microambientais, com as condições microclimáticas e as


frações de serrapilheira em três áreas: mata nativa com características da comunidade decompositora.
pouca perturbação antrópica; bosque de sabiá e sob Segundo Fernandes et al. (2006), a decomposição
monocultivo da cana de açúcar. Para avaliação da envolve grande variedade de micro-organismos do solo.
decomposição da serrapilheira foi utilizada a técnica de Conforme Aita & Giacomine (2003), as características da
sacolas de nylon as analises foram realizadas com 0, 30 serrapilheira que influenciam a sua decomposição são os
60 e 90 dias de incubação. Os menores valores de teores de nutrientes, lignina, polifenóis e a relação
biomassa remanescente foram observados no bosque de carbono/nitrogênio. Altos teores de lignina conferem ao
sabiá 86.48, 81.52 e 79.20, (30, 60 e 90 dias material difícil decomposição; a alta relação
respectivamente). Para a mata nativa observou-se valores carbono/nitrogênio,por sua vez, leva à imobilização do
de 93.80, 86.48 e 82.90 (30 60 e 90 dias respectivamente). nitrogênio, reduzindo assim a sua disponibilidade de N-
A maior velocidade na perda de biomassa foi verificada NH4+ (amônio) e N-NO3-(nitrato) no solo.
entre 30 e 60 dias de incubação. Objetivou-se avaliar a decomposição da serapilheira
de três ambientes: mata nativa; bosque de sabiá e sob
Palavras-chave: biomassa remanescente, litterbags, monocultivo da cana de açúcar.
ecossitema.
MATERIAL E MÉTODOS – Os experimentos foram
INTRODUÇÃO – A serapilheira é a principal via de conduzidos no Centro de Ciências Agrárias da
transferência no fluxo de nutrientes é fundamental para a Universidade Federal de Alagoas na cidade de Rio Largo-
sustentabilidade de um ecossistema, pois permite que, AL situada a 9° e 29'45" de latitude sul, 35° e 49'54,”
pelo menos em parte, ocorra o retorno ao solo de uma de longitude oeste e 165 m de altitude. Pela classificação
significativa quantidade de nutrientes absorvida pelas de Köppen, a área de estudo enquadra-se no tipo climático
plantas. Isso tem impacto positivo no balanço de As’, é tropical litorâneo úmido, com sol nos meses de
nutrientes no sítio, diminuindo os impactos que a colheita setembro até maio, da primavera até o verão, com
pode causar (Martius et al., 2004). A camada de temperatura variando em torno de 19°C à 32°C, com
serapilheira, juntamente com a parte aérea e radicular das chuva e temporais nos meses de junho até agosto, do
plantas, também protege o solo dos agentes erosivos e outono até o inverno, com temperaturas variando em
propicia condições para o restabelecimento de suas torno de 15°C à 26°C. A umidade relativa do ar é de
propriedades físicas, químicas e biológicas (Ikpe et al., 79,2% e o índice pluviométrico é 1.410 mm/ano. O
2003). experimento foi instalado em três áreas: mata nativa com
O processo de decomposição da matéria orgânica pouca perturbação antrópica; bosque de sabiá implantado
possibilita que parte do carbono incorporado na em 1999 ocupando uma área de aproximadamente
biomassa vegetal retorne à atmosfera como CO2 e outra 5.000m2 e o total de 1670 plantas; sob monocultivo da
parte, juntamente com os elementos minerais, sejam cana de açúcar, constituindo estas áreas os tratamentos
incorporadas ao solo. Estes mesmos minerais, Para avaliação da decomposição da serrapilheira foi
posteriormente, após o processo de mineralização, utilizada a técnica de sacolas de nylon (Dubeux Jr. et al.,
poderão ser reabsorvidos pelas raízes do vegetal, e 2006). Foi coletada a manta orgânica existente no solo,
também protege o solo dos agentes erosivos e propicia em diferentes graus de decomposição. Esse material foi
condições para o restabelecimento de suas propriedades secado em estufa a uma temperatura de ± 65°C até peso
físicas, químicas e biológicas (Gama-Rodrigues et al, constante, 10,0g da serapilheira seca, foram colocados em
2003). O processo de decomposição dentro dos sacolas de náilon (litterbags) medindo 20,0 cm x 20,0 cm,
ecossistemas varia de acordo com as condições confeccionadas com tela de náilon de malha de 1,0 mm.
Foram distribuídas sacolas de náilon na superfície e a
- FERTBIO 2012 Maceió (AL), 17 a 21 de setembro -
- Resumo Expandido -

profundidade de 5.0 cM totalizando 180 sacolas. apenas pela qualidade do substrato, mas também pela
Mensalmente, foram retiradas, aleatoriamente, 10 sacolas qualidade do ambiente. A vegetação dos ambientes da
que depois de coletadas, foram levadas ao laboratório mata e do bosque de sabiá permitem a melhor retenção da
onde o seu conteúdo foi examinado para retirada de umidade do solo.
partículas de solo e, em seguida, secada em estufa a ± 65°
até peso constante. A massa residual foi determinada em CONCLUSÕES – A decomposição foi mais intensa no
balança analítica com precisão de 0,01 grama. O bosque de sabia. A velocidade de decomposição foi maior
percentual de material remanescente do processo de entre 30 e 60 dias para os três ecossistemas estudados.
decomposição se deu através da aplicação da seguinte
fórmula: Remanescente (%) = massa inicial ×100 REFERÊNCIA
massa final
O delineamento experimental adotado foi inteiramente AITA, C.; GIACOMINI, S.J. Decomposição e liberação de
casualizado, com dez repetições, em esquema fatorial, nitrogênio de resíduos culturais de plantas de cobertura de solo
para se estudar os fatores tempo e profundidade. Os dados solteiras e consorciadas. R. Bras. Ci. Solos, 27:601-612, 2003.
foram submetidos a análise de variância (F= p>0,05) e as
FERNANDES, M.M.; PEREIRA, M.G.; MAGALHAES,
médias foram comparadas pelo teste de Scott Knot (p>0,05). L.M.S.. Aporte e decomposição de serrapilheira em áreas de
Foi utilizado o SISVAR 5.3 (FERREIRA, 2008). floresta secundária, plantio de sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia
Benth.) e andiroba (Carapa guianensis Aubl.) na flona Mário
RESULTADOS E DISCUSSÃO - A Figura 1 representa xavier, RJ. Ciênc. Floresta,16:163-175, 2006.
a curva de decomposição da serapilheira contida nas
sacolas de náilon, distribuídas nos transectos e expostas às FERREIRA, D.F. SISVAR: um programa para análises e ensino
condições climáticas. O solo sob cultivo de cana de estatística. R. Symposium, 6:36-41, 2008.
apresentou os maiores valores de biomassa remanescente
com valores variando de 97.6 a 88.1 (30 e 90 dias FREIRE, J.L.; DUBEUX JÚNIOR J.C. LIRA, B.M.A.;
FERREIRA, R.L.C. SANTOS M.V.F.; FREITAS, E.V.
respectivamente) consequentemente a menor taxa de Decomposição de serrapilheira em bosque de sabiá na Zona da
decomposição. Os menores valores de biomassa Mata de Pernambuco. Rev Bras Cienc Solo., 39:1659-1665,
remanescente foram observados no bosque de sabiá 2010
86.48, 81.52 e 79.20, (30, 60 e 90 dias respectivamente).
Para a mata nativa observou-se valores de 93.80, 86.48 e GAMA-RODRIGUES, A.C.. Ciclagem de nutrientes por
82.90 (30 60 e 90 dias respectivamente). A maior espécies florestais em povoamentos puros e mistos, em solos
velocidade na perda de biomassa foi verificada entre 30 e de tabuleiro da Bahia, Brasil. Viçosa, Universidade Federal de
60 dias de incubação. Viçosa, 1997. 107 p. (Tese de Doutorado).
Fatores bióticos e abióticos interferem na decomposição GAMA-RODRIGUES, A.C. da; BARROS, N.F.; SANTOS,
de resíduos orgânicos. Como o estudo foi realizado na M.L. Decomposição eliberação de nutrientes do folhedo de
estação seca, os baixos valores de pluviosidade e a espécies florestais nativas em plantios puros emistos no sudeste
temperatura do solo elevada com reflexos no conteúdo de da Bahia, Rev Bras Cienc Solo v.27, n.6, p.1021-1031, 2003.
água do solo, podem ter interferido no processo de
decomposição tornando-o mais lento. IKPE, F. N.; OWOEYE, L. G.; GICHURU, M. P. Nutrient
Witkamp (1966) salienta que as altas temperaturas são recycling potential of Tephrosia candida in cropping systems of
favoráveis às atividades biológicas, mas por outro lado, southeastern Nigeria. Nutr Cycl Agroecosys, 67:129-136, 2003.
aumentam o dessecamento do solo e do material, MARTIUS, C.; HOFER, H.; GARCIA, M. V. B.; ROMBKE, J.;
principalmente folhas consistentes e difíceis de serem HANAGARTH, W. Litter fall, litter stocks and decomposition
umedecidas. Segundo o autor a interdependência entre a rates in rainforest and agroforestry sites in Central Amazônia.
temperatura, umidade, estação do ano, composição do Nutr Cycl Agroecosys, 68:137-154, 2004.
substrato e a população dos microrganismos do solo torna
bastante complexa a avaliação global do processo de WITKAMP, M. Decomposition of leaf litter in relation to
decomposição em ambientes naturais. Para Gama- environment microflora and microbial respiration. Ecology,
Rodrigues (1997), as interações dos fatores abióticos e 47:194-201, 1966.
bióticos que regem a funcionabilidade dos ecossistemas
florestais atuam positiva ou negativamente na velocidade
de decomposição, mostrando assim que, mesmo em nível
local, o processo de decomposição não é influenciado

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Cana Mata Sabiá

y = 105,25e-0,0471x
90
y = 106,37e-0,0644x
75 y = 104,49e-0,0759x
Biomassa Remanescente (%)

60

45

30

15

0
0 30 60 90

Tempo de Incubação (dias)

Figura 1 - Biomassa remanescente (base na MS) da serapilheira em mata nativa; bosque de sabiá e sob monocultivo da cana de açúcar, em diversos
períodos de incubação.

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