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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos

Giovany de Jesus Malcher Figueiredo

2016
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos ii

Dedicatória

À Glalcia, o grande presente que Deus reservou pra mim.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos iii

Agradecimentos

Sou muito grato ao Professor Francisco Júlio Sobreira de Araujo Corrêa, meu
orientador de Mestrado e ao Professor Claudianor Oliveira Alves, meu orientador
de Doutorado, pelas grandes lições em Equações Elı́pticas que tive e continuo
tendo.
Agradeço também ao Alberto Cabada, Amanda Leão, Antonio Suarez,
Augusto Cesar Costa, Cristian Morales, Humberto Quoirin Ramos, Jefferson
Santos, João Santos Junior, Marcelo Furtado, Marcelo Montenegro, Marcos
Pimenta, Mateus Balbino Guimarães, Norihisa Ikoma, Paulo Marques, Rodrigo
Rodrigues, Rúbia Nascimento, Sara Barile, Uberlandio Severo, meus colegas
Professores, com quem tive a oportunidade de colaborar em artigos cientı́ficos aos
longos desses anos. Essas colaborações foram e são essenciais no meu aprendizado.
Por acreditar firmemente que é ensinando que se aprende, agradeço também
aos que orientei e oriento na Iniciação Cientı́fica, nos Programas de Mestrado
e Doutorado em Matemática da UFPA, como por exemplo Andreia Pinheiro,
Andrelino Santos, Braulio Breno Maia, Brena Souza, Caroline Souza, Claudia
Aline Santos, Dalmi Santos, Denilson Pereira, Elizabeth Sabino, Fernando Bruno
Martins Nunes, Gelson Santos, Genival Nunes, Genivaldo Correa, Italo Duarte,
Jefferson Macedo, Jessica Silva, Jeziel Correa, João Santos Junior, Kelmen
Barroso, Marcelo Paixão, Marco Antonio Freitas, Mateus Sousa, Rafael Abreu,
Ryan Moura e a Tarcyana Sousa.
Aqui registro um agradecimento especial ao governo brasileiro, mais
precisamente ao CNPQ, CAPES, UFPA E UNB pelo salário e bolsas que
recebo para fazer o que mais gosto que é aprender e ensinar, pela expansão
das Universidades Públicas nos últimos anos, pelas bolsas de meus alunos, pelo
suporte financeiro para viagens a congressos e pela oportunidade de estar sempre
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos iv

aprendendo.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos v

Resumo

Neste trabalho estudaremos a motivação fı́sica do problema de Dirichlet e


abordaremos algumas técnicas variacionais para a obtenção de soluções para
equações elı́pticas e as propriedades sobre as soluções encontradas . Essas técnicas
e esses estudos são: Minimização, Minimização com Vı́nculos, o Problema de
Autovalor, Regularidade de soluções, Princı́pio Variacional de Ekeland, Lema
de Deformação, Teorema do Passo da Montanha, Princı́pio e Concentração de
Compacidade de Lions, Identidade de Pohozaev, Teorema do Ponto de Sela,
Teoria de Gênero, e Método de Galerkin aplicado às equações elı́pticas.
Abstract: In this work we study the physical motivation of the Dirichlet
problem and we approach some variational techniques to obtain solutions for
elliptic equations and the properties on these solutions. These techniques
and these studies are: Minimization, Minimization with constraints, the
Eigenvalue Problem, Regularity of solutions, Ekeland’s Variational Principle,
Deformation Lemma, Mountain Pass Theorem, Concentration Compactness
Principle, Pohozaev Identity, Saddle Point Theorem, Genus Theory, and Galerkin
applied elliptic equations.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos vi

Notações

: fim de uma demonstração,


Br (x) : bola aberta de centro x e raio r,
→ : convergência forte,
* convergência fraca,
|A|
Z : medida de Z Lebesgue de um conjunto A,
f : denota f (x)dx,
Ω Ω
Z 1
s
s
|f |s = |f (x)| dx , 0 < s ≤ ∞,

Z 1
s
|f |s(IRN \Ω) = N
|f (x)|s dx , 0 < s ≤ ∞,
Z IR \Ω Z
kukp(IRN \Ω) = |∇u|p dx + V (x)|u|p dx
IRN \Ω IRN \Ω
A(h) = o(|h|) desde que | A(h)
|h|
| → 0 quando |h| → 0,
I d = {u : I(u) ≤ d}.
Conteúdo

Introdução 1

1 Motivação fı́sica 4
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 O Problema de Dirichlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 Minimização 14
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 Resultados sobre funcionais semicontı́nuos inferiormente . . . . . 14
2.3 Revisão sobre Espaços de Sobolev . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4 Revisão sobre diferenciabilidade de funcionais . . . . . . . . . . . 21
2.5 Método Variacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.6 Resolução de um problema sublinear . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.7 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3 Minimização com Vı́nculos 34


3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2 Teorema dos Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . 34
3.3 Resolução de um Problema Superlinear Subcrı́tico . . . . . . . . 37
3.4 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4 O Problema de Autovalor 41

vii
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos viii

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.2 O Problema Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.3 Estudo do espectro do Operador Laplaciano . . . . . . . . . . . . 43
4.4 Regularidade das autofunções associadas aos autovalores do
operador (−∆, H01 (Ω)) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.5 Caracterização variacional dos autovalores do operador (−∆, H01 (Ω)) 50
4.6 Propriedades do autovalor λ1 do operador (−∆, H01 (Ω)) . . . . . 53
4.7 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

5 Regularidade da solução do problema superlinear subcrı́tico 60


5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.2 Método Bootstrap . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.3 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

6 O Princı́pio Variacional de Ekeland 64


6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.2 Princı́pio Variacional de Ekeland . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6.3 Novamente o Problema Sublinear . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
6.4 Problema do tipo côncavo e convexo . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.5 Novamente o Problema Superlinear Subcrı́tico . . . . . . . . . . . 78
6.6 Um problema no IRN via Princı́pio Variacional de Ekeland . . . . 85
6.7 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

7 O Teorema do Passo da Montanha 94


7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
7.2 O Lema de Deformação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
7.3 O Teorema do Passo da Montanha . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
7.4 Novamente o problema superlinear subcrı́tico em domı́nio limitado 101
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos ix

7.5 Problema superlinear subcrı́tico em domı́nio limitado com o p-


Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
7.6 Um problema no IRN via Teorema do Passo da Montanha . . . . 109
7.7 Um problema no IRN via Teorema do Passo da Montanha com o
p-Laplaciano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
7.8 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 7 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

8 O Princı́pio de Concentração e Compacidade de Lions 123


8.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
8.2 O Lema de Concentração e Compacidade de Lions-Caso limite . . 123
8.3 Um problema com crescimento crı́tico em domı́nio limitado . . . 125
8.4 Um problema com crescimento crı́tico no IRN . . . . . . . . . . . 132
8.5 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

9 A Identidade de Pohozaev 138


9.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
9.2 Aplicações da Identidade de Pohozaev . . . . . . . . . . . . . . . 138
9.3 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 9 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

10 Ponto de Sela 141


10.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
10.2 Grau Topológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
10.3 O Teorema do Ponto de Sela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
10.4 Um problema não Ressonante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
10.5 Um problema Ressonante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
10.6 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . 154

11 O Método de Galerkin 155


11.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
11.2 O Teorema do ponto fixo de Brouwer . . . . . . . . . . . . . . . 155
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos x

11.3 O problema superlinear subcrı́tico . . . . . . . . . . . . . . . . . 159


11.4 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 11 . . . . . . . . . . . . . . . . . 167

12 A Teoria de Gênero 169


12.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
12.2 Propriedades de Gênero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
12.3 O problema sublinear via Gênero . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
12.4 O problema superlinear crı́tico via Gênero . . . . . . . . . . . . 172
12.5 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 12 . . . . . . . . . . . . . . . . . 177

Referências 179
Introdução

Essas notas de aulas são consequência das aulas que tivemos com os Professores
Francisco Júlio Sobreira de Araujo Corrêa e Claudianor de Oliveira Alves, além
dos planos de aulas da disciplina Introdução à Teoria dos Pontos Crı́ticos que
ministramos na UFPA, na UNICAMP e na UNB, dos estudos que realizamos para
o exame de qualificação no perı́odo do Doutorado e das orientações de Mestrado
e Doutorado que realizamos na UFPA e que estamos realizando na UNB.
O objetivo central deste trabalho é disponibilizar um material que possa ser
usado por alunos que pretendam escrever uma dissertação de Mestrado na área ou
por alunos que pretendam submeter-se a um exame de seleção ou qualificação que
são realizados nos cursos de Doutorado em Matemática em diversas Universidades
no Brasil.
Cada tópico mencionado no resumo será abordado em um dado capı́tulo,
no final do qual disponibilizaremos uma lista de exercı́cios que deverá ser
resolvida individualmente por cada aluno, como verificação do aprendizado e
complementação do conteúdo. Em geral, os exercı́cios são extensões de problemas
resolvidos em sala de aula com o Operador Laplaciano, considerando agora outros
operadores como, por exemplo, o Operador p-Laplaciano ou o Operador Bi-
Harmônico. Algumas aplicações que faremos em domı́nio limitado aparecerão
na lista de exercı́cios como aplicações no IRN .
Grosso modo, os pré-requisitos para o acompanhamento deste curso são os
cursos de Cálculo em Espaços de Banach, de Análise Funcional e Teoria da
Medida, entretanto, quando houver necessidade de resultados oriundos dessas
disciplinas, faremos uma breve, mas suficiente, revisão, de tal modo que, a falta
desses pré-requisitos não causará dificuldades para alunos que já cursaram Análise

1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 2

no IRN e Álgebra Linear.


Na realização deste trabalho fomos influenciados de forma contudente, pelos
livros e monografias mencionados a seguir e que recomendamos como leitura e
como material auxiliar para o estudo de outros temas que aqui não tratamos ou
para a resolução de novos exercı́cios.
Na monografia [3], com a elegância habitual com a qual escreve seus trabalhos
cientı́ficos, o Professor Claudianor de Oliveira Alves trata dos mesmos tópicos que
estamos tratando aqui, apresenta novos exercı́cios e trata também de técnicas
topológicas para a resolução de problemas elı́pticos, como por exemplo, Teorias
de Ponto Fixo. Além disso, problemas singulares também são considerados nesta
obra.
O livro [11] do Professor Djairo de Figueiredo é referência obrigatória para
todos aqueles que pretendem escrever sobre o tema. Neste livro, o Teorema do
Passo da Montanha é demonstrado usando o Princı́pio Variacional de Ekeland,
diferente da maioria das referências que usam o Lema da Deformação como
ferramenta para demonstrar o Teorema do Passo da Montanha.
A monografia [12] do Professor Marcelo Furtado é muito bem escrita e
apresenta uma ampla revisão sobre Espaços de Sobolev além de apresentar outros
exercı́cios além dos que aqui apresentamos.
O clássico livro [10] do Professor Davi Costa também é leitura obrigatória
para quem estuda os Problemas Elı́pticos em domı́nio limitado e com crescimento
subcrı́tico.
No trabalho [14], o Professor João Santos Junior estudou o espectro do
operador (−∆, H01 (Ω)) e a caracterização dos autovalores deste operador. Esses
assuntos são essenciais no estudo que faremos dos problemas ressonantes e não
ressonantes.
O livro [18] do professor Michel Willem é um manual de como contornar as
dificuldades oriundas de problemas com falta de compacidade. É o livro dual
daquele do Professor Davi Costa [10] no seguinte sentido: Este aborda problemas
no IRN ou com crescimento crı́tico.
Como o próprio tı́tulo deste trabalho deixa claro, este estudo é apenas uma
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 3

introdução e não tem outra pretensão que não seja esta.


Capı́tulo 1

Motivação fı́sica

1.1 Introdução
A maioria das equações diferenciais parciais surgem de modelos fı́sicos. Uma
outra classe importante surge de problemas em Geometria Diferencial. Na seção
seguinte, estudaremos a situação fı́sica cujo modelo matemático é o Problema de
Dirichlet.
Esse estudo será feito aqui no primeiro capı́tulo, pois este trabalho é destinado,
essencialmente, para alunos que estão iniciando na área das Equaçõs Elı́pticas e
nós acreditamos que é muito estimulante conhecermos os modelos fı́sicos das
equações que estudamos, embora as dificuldades matemáticas que surgem nesses
estudos são, por si só, motivos mais que suficientes para enveredarmos por essa
fascinante área.

1.2 O Problema de Dirichlet


Nessa seção, nossa apresentação seguirá o TCC-Trabalho de Conclusão de Curso
de Santos Junior [14].
Consideremos uma curva fechada simples C em IR3 que limita a região plana
Ω em z = 0 e uma membrana elástica, em repouso, de formato Ω, fixada pela sua
borda a C = ∂Ω. Suponhamos que sobre essa membrana exista uma distribuição
de peso, por unidade de área e no sentido negativo −z, dada por f (x, y), de tal
maneira que a deformação sofrida pela membrana seja ”pequena”e a sua borda

4
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 5

permaneça no plano z = 0. Gostarı́amos de saber qual é a forma de equilı́brio


estático adquirida pela membrana após à deformação, em outras palavras, que
tipo de configuração a membrana obterá após ter sido deformada ?
Para responder a essa pergunta, consideremos a função

u : Ω ⊂ IR2 −→ IR
(x, y) 7−→ u(x, y),
que a cada ponto (x, y) da membrana associa o número real positivo u(x, y) que
mede o deslocamento do ponto (x, y) com relação à posição de repouso. Utilizemos
a hipótese mecânica de que a densidade de energia necessária para a deformação
da membrana seja proporcional à taxa de variação de sua área. Observemos que
nesta situação a energia potencial da membrana em equilı́brio, isto é, após a
deformação, provém da energia potencial elástica acumulada internamente e da
energia potencial gravitacional.
Agora vamos calcular a taxa de variação da área da membrana e,
consequentemente, utilizando a hipótese mecânica, teremos obtido a densidade
de energia elástica acumulada na mesma. Para isso, consideremos a aplicação

X : Ω ⊂ IR2 −→ IR3
(x, y) 7−→ X(x, y) = (x, y, u(x, y))

que a cada ponto (x, y) da membrana em repouso, associa o ponto (x, y, u(x, y)),
o mesmo ponto após a dilatação. Sendo assim, um elemento de área da membrana
no estado inicial, dado pelo retângulo elementar de vértices

(x0 , y0 ); (x0 + 4x, y0 ); (x0 + 4x, y0 + 4y); (x0 , y0 + 4y)

se transforma no retângulo curvilı́neo de vértices

(x0 , y0 , u(x0 , y0 )); . . . ; (x0 , y0 + 4y, u(x0 , y0 + 4y)).

De estudos iniciais, sabemos que a área aproximada do retângulo curvilı́neo é


dada por
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 6

∂X ∂X
dA = (x0 , y0 ) × (x0 , y0 ) 4x4y

∂x ∂y
v
u !2 !2
u ∂u ∂u
= t
1+ (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) 4x4y. (1.1)
∂x ∂y

Quanto menores forem as dimensões 4x e 4y do retângulo inicial, melhor será a


aproximação. Assim a deformação local ou taxa de variação da área do retângulo
elementar será

v
u !2 !2
dA − 4x4y u ∂u ∂u
= t
1+ (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) − 1 ≥ 0.
4x4y ∂x ∂y

Notemos que a taxa de variação dada anteriormente é uma taxa de crescimento,


o que era de se esperar visto que a membrana está sendo esticada, além disso,
como a deformação é pequena, ela pode ser vista como sendo o percentual da
área do retângulo retilı́neo a que corresponde a variação da área desse retângulo.
Utilizando a hipótese mecânica mencionada, concluı́mos que a densidade de
energia potencial elástica acumulada no retângulo curvilı́neo é

v 
u !2 !2
u ∂u ∂u
dEe = α 1+ (x0 , y0 ) + (x0 , y0 ) − 1 ,
t 
∂x ∂y

onde α é a constante de proporcionalidade que tomaremos unitária. Assim, a


energia potencial elástica acumulada na membrana é dada por
v 
u !2 !2
∂u ∂u
Z  u 

Ee = t
1+ + − 1 dx dy,
Ω
 ∂x ∂y 

onde a integral acima representa a integral dupla sobre Ω. Por outro lado, a
densidade de energia potencial gravitacional do retângulo curvilı́neo pode ser
aproximada por

dEg = −f (x0 , y0 )u(x0 , y0 ),


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 7

pois estamos considerando os acréscimos 4x e 4y pequenos. Logo, a energia


potencial gravitacional da membrana deformada é dada por

Z
Eg = (−f u)dx dy.

Portanto a energia potencial total da membrana deformada será

v  
 u !2 !2
∂u ∂u
Z  u 

E = Ee + Eg =  1+ + − 1 − f u dx dy.
t 
Ω
 ∂x ∂y 

Neste momento é necessário fazermos algumas observações. Notemos que para


chegarmos à expressão anterior, tivemos que derivar parcialmente a função u, e
mais, foi preciso integrar tais derivadas, o que só faz sentido se u for, no mı́nimo,
de classe C 1 (Ω, IR). Portanto, é preciso garantir que o integrando acima, o qual é
dado por uma composição de funções, seja contı́nuo. Geometricamente, podemos
interpretar que a energia potencial total pode ser calculada para qualquer posição
que a membrana deformada X(Ω) possa adquirir, desde que a mesma não possua
dobras acentuadas ou quinas, lembrando que estamos supondo uma deformação
arbitariamente pequena.
Definiremos o conjunto K como sendo

n o
K = u : Ω −→ IR : u ∈ C 2 (Ω, IR); u(x, y) = 0, ∀ (x, y) ∈ ∂Ω

e em K definiremos o funcional
v  
u !2 !2
Z 
∂u ∂u
 u 

E(u) =  1+ + − 1 − f u dx dy.
t 
Ω
 ∂x ∂y 

O princı́pio mecânico de Dirichlet-Lagrange ou princı́pio da energia mı́nima


nos diz então que a posição que a membrana assumirá após à deformação será
aquela que, dentre todas as configurações geometricamente possı́veis, produzir o
menor valor para a sua energia potencial total E, ou seja, será um mı́nimo para
o funcional E no conjunto K.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 8

Do ponto de vista puramente matemático, esse princı́pio apresenta algumas


dificuldades. A primeira delas se refere á escolha do conjunto das ”possı́veis
configurações”, indispensável para a caracterização do mı́nimo. A segunda diz
respeito à existência de uma tal função u, no conjunto, que realize esse mı́nimo,
visto que o fato de o funcional ser limitado inferiormente em K garante a
existência do ı́nfimo, mas não garante que o mesmo seja assumido por algum valor
E(u). No entanto, deixaremos que nossa intuição fı́sica nos conduza e seremos
até mais ousados, procurando uma solução para este problema variacional no
subconjunto D ⊂ K, dado por

D = {u : Ω −→ IR : u ∈ C ∞ (Ω, IR); u(x, y) = 0, ∀ (x, y) ∈ ∂Ω} .

De agora em diante, com o objetivo de simplificar a notação e generalizar o


que será feito, passaremos a trabalhar com o funcional

Z
E(u) = F (u, ux , uy , x, y)dx dy

no conjunto K, e suporemos F (u, ux , uy , x, y) tão diferenciável quanto necessário.


No decorrer dos cálculos ficará claro que este é, de fato, um funcional mais geral
que o anterior.
Utilizaremos agora um método, introduzido no século XVIII, conhecido
como método de Euler-Lagrange, o qual nos fornece uma maneira sistemática
de transformar problemas variacionais em problemas de equações diferenciais,
estabelecendo assim uma conexão entre duas importantes áreas da Matemática.
Tal método consiste no seguinte, suponhamos que exista uma solução w ∈ K do
problema variacional anterior, então fixando arbitrariamente h ∈ K teremos que,
para todo λ ∈ IR

uλ = w + λh ∈ K.

Consideremos então a função

ϕ : IR −→ IR
λ 7−→ ϕ(λ) = E(uλ ).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 9

Como λ = 0 é um ponto de mı́nimo para ϕ, concluı́mos que

dϕ dE
0= (0) = (w + λh)

dλ dλ Z λ=0
d

= F (w + λh, wx + λhx , wy + λhy , x, y)dx dy .
dλ Ω λ=0

Chegamos em uma situação delicada em Matemática, visto que temos a


necessidade de derivar a integral de uma função, isto é, gostarı́amos de poder
derivar o integrando F (w + λh, wx + λhx , wy + λhy , x, y), permutando assim
os sinais de derivação e integração. Esta é uma dificuldade que deixa claro
a importância de se ter F tão diferenciável quanto necessário. Mas da regra
de Leibniz, é possı́vel permutar os sinais de derivação e integração quando o
integrando resultante da derivação do integrando anterior for contı́nuo. Portanto,

d
Z 
0= F (w + λh, wx + λhx , wy + λhy , x, y)dx dy

dλ Ω λ=0

implica

Z
∂F Z
∂F
0 = (w, wx , wy , x, y)hdx dy + (w, wx , wy , x, y)hx dx dy
Ω ∂u Ω ∂ux
Z
∂F
+ (w, wx , wy , x, y)hy dx dy. (1.2)
Ω ∂uy

Definamos agora o campo vetorial F = (f g)~i + 0~j. Desde que f, g ∈ C 1 (Ω, IR)
teremos F ∈ C 1 (Ω, IR2 ). Além disso, ∂Ω é uma curva fechada e simples, a qual
podemos considerar de classe C 1 , regular e orientada no sentido anti-horário.
Concluı́mos do Teorema da Divergência ou de Gauss no plano que

Z Z
hF, ηids = divF dx dy,
∂Ω Ω

onde η é a normal unitária exterior à Ω. Logo,

Z Z
∂(f g)
(f g)dy = dx dy. (1.3)
∂Ω Ω ∂x
Usando a regra da derivação do produto em (1.3) obtemos
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 10

Z
∂g Z Z
∂f
f dx dy = (f g)dy − gdx dy.
Ω ∂x ∂Ω Ω ∂x

Assim, se f = 0 em ∂Ω, segue-se que

Z
∂g Z
∂f
f dx dy = − gdx dy. (1.4)
Ω ∂x Ω ∂x

Fica justificado porque de termos sido mais exigentes e definido o conjunto


K, como um conjunto de funções duas vezes continuamente diferenciáveis, ao
invés de termos tomado funções apenas continuamente diferenciáveis, a qual é
uma regularidade suficiente para o cálculo da energia potencial da membrana
deformada. De fato, como

∂F ∂F
(w, wx , wy , x, y), (w, wx , wy , x, y), h ∈ C 1 (Ω, IR)
∂ux ∂uy
poderemos concluir de (1.4) que

Z
∂F Z
∂ 2F
hx dx dy. = − h dx dy (1.5)
Ω ∂ux Ω ∂x∂ux

Z
∂F Z
∂ 2F
hy dx dy = − h dx dy. (1.6)
Ω ∂uy Ω ∂y∂uy

Substituindo (1.5) e (1.6) em (1.2), resulta que

∂F
Z Z
∂ 2F
0 = (w, wx , wy , x, y)hdx dy − h (w, wx , wy , x, y)dx dy
Ω ∂u Ω ∂x∂ux
Z
∂ 2F Z
∂F
− h (w, wx , wy , x, y)dx dy = h (w, wx , wy , x, y)dx dy
Ω ∂y∂uy Ω ∂u
Z
∂ 2F Z
∂ 2F
− h (w, wx , wy , x, y)dx dy − h (w, wx , wy , x, y)dx dy
Ω ∂x∂ux Ω ∂y∂uy
Z
= (hφ)dx dy, ∀ h ∈ K,

onde
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 11

∂F ∂ 2F ∂ 2F
φ(x, y) = (w, wx , wy , x, y) − (w, wx , wy , x, y) − (w, wx wy , x, y)
∂u ∂x∂ux ∂y∂uy

e φ é contı́nua em Ω. Mostra-se que a única função contı́nua satisfazendo uma


condição tão restritiva é a função identicamente nula. Isto é, se w for solução do
problema variacional em K então, necessariamente, w deve satisfazer a equação
diferencial parcial representada pela condição

∂F ∂ 2F ∂ 2F
(w, wx , wy , x, y) = (w, wx , wy , x, y) + (w, wx , wy , x, y) (1.7)
∂u ∂x∂ux ∂y∂uy

acrescentada naturalmente da condição de fronteira w = 0 em ∂Ω.


Voltemos agora ao problema inicial da membrana e consideremos apenas a
situação em que a deformação é arbitrariamente pequena, para podermos utilizar
a estimativa abaixo

v 
u !2 !2 !2 !2 
∂u ∂u 1  ∂u ∂u  1
−1∼
u
t
1+ + =  + = k ∇u k2 .
∂x ∂y 2 ∂x ∂y  2

Tal estimativa resulta simplesmente do fato de a função f (x) = x ser
diferenciável no ponto x = 1. De fato,

f (1 + h) = f (1) + f 0 (1)h + r(h),


r(h)
onde lim = 0. Isto é,
h→0 h

√ 1
1 + h = 1 + h + r(h).
2
r(h)
Como lim = 0, podemos concluir que quando h se aproxima de zero, r(h)
h→0 h
se torna muito mais próximo de zero e, portanto, podemos utilizar a seguinte
aproximação

√ 1
1+h∼
= 1 + h.
2
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 12

Sendo assim, o funcional E toma a forma

Z 
1

E(u) = k ∇u k2 −f u dx dy,
Ω 2
onde
 !2 !2 
1  ∂u ∂u 
F (u, ux , uy , x, y) =  + − f u. (1.8)
2 ∂x ∂y 

De (1.7) e (1.8) concluı́mos que se w for uma solução do problema variacional,


então w satisfaz a equação

∂ 2w ∂ 2w
−∆w = + = f,
∂x2 ∂y 2
a qual é conhecida como equação de Poisson ou equação de Laplace não-
homogênea.
Desta forma, vemos que a caracterização da solução w do problema variacional
é feita pela equação de Laplace com termo não-homogêneo f , acrescentada da
condiço de fronteira w = 0 em ∂Ω. Mostrando que o problema diferencial
completo é descrito da forma
(
−∆w = f em Ω
w = 0 sobre ∂Ω,
chamado problema de Dirichlet para o operador de Laplace.
Reciprocamente, desde que ϕ é uma função real de uma variável real tão
diferenciável quanto necessário, para mostrarmos que 0 é um ponto de mı́nimo
para ϕ é suficiente verificar que sua derivada de ordem segunda em 0 é positiva.
De fato,

d2 ϕ d2 E
(0) = (w + λh)

2 2

dλ dλ λ=0
2 Z
d

= F (w + λh, w + λh , w + λh , x, y)dx dy

x x y y
dλ2( Ω

λ=0
2 2 2
)
Z
∂ F 2 ∂ F ∂ F
= 2
h + 2
(hx )2 + (hy )2 dx dy.
Ω ∂u ∂ux ∂u2y
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 13

Como

1n o
F (u, ux , uy , x, y) = (ux )2 + (uy )2 − f u,
2
resulta que

d2 ϕ Z ( 2
∂ F 2 ∂ 2F ∂ 2F
)
2 2
(0) = h + (hx ) + (hy ) dx dy
dλ2 Ω ∂u2 ∂u2x ∂u2y
Z n o
= (hx )2 + (hy )2 dx dy

> 0.

Desta forma mostramos que 0 é um ponto de mı́nimo para ϕ e, consequentemente,


fica provado que w é solução do problema variacional. Associar um problema
variacional a uma equação diferencial parcial constitui um importante método
de resolução em Equações Diferenciais Parciais denominado Método Variacional
direto, no qual associamos um funcional ao problema, definido em um
determinado espaço, e estudamos seus pontos crı́ticos, os quais serão soluções
da equação considerada.
Capı́tulo 2

Minimização

2.1 Introdução
Neste capı́tulo definiremos funcional semicontı́nuo inferiormente e mostraremos
algumas propriedades sobre essa classe de funções. Faremos também uma revisão
inicial sobre Espaços de Sobolev e como aplicação dos resultados estudados aqui,
mostraremos a existência de solução para um problema elı́ptico sublinear.

2.2 Resultados sobre funcionais semicontı́nuos


inferiormente
Nessa seção, nossa apresentação seguirá o trabalho [10] de Davi Costa.
Começaremos com a definição de funcional semicontı́nuo inferiormente:

Definição 2.1 Seja X um Espaço Topológico. Uma função φ : X → IR é um


funcional semicontı́nuo inferiormente quando o conjunto φ−1 (a, +∞) é
aberto em X, para qualquer a ∈ IR.

São exemplos de funcionais semicontı́nuo inferiormente:

Exemplo 2.1 Toda função φ : X → IR contı́nua é um funcional semicontı́nuo


inferiormente.

14
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 15

Exemplo 2.2 Consideremos φ : IR → IR definida por φ(x) = 0 para todo


x ∈ (−∞, 0] e φ(x) = 1 para todo x ∈ (0, +∞). A função φ é um funcional
semicontı́nuo inferiormente.

Observação 2.1 Se X é um Espaço Topológico que satisfaz o 1◦ axioma da


enumerabilidade, pode-se demonstrar que se φ : X → IR é tal que

ψ(x) ≤ lim inf ψ(xn ),


n→x∞

para qualquer seqûencia (xn ) ⊂ X tal que xn → x em X, então φ é um funcional


semicontı́nuo inferiormente.(veja exercı́cio 2 da lista de exercı́cios.)

Agora vamos ao primeiro resultado envolvendo essa classe de funções.

Teorema 2.1 Seja X um Espaço Topológico compacto e φ : X → IR um


funcional semicontı́nuo inferiormente. Então φ é limitado inferiormente e existe
u0 ∈ X tal que
φ(u0 ) = inf φ.
X


φ−1 (−n, +∞). Desde de que o funcional
[
Demonstração: Notemos que X =
n=1
φ é semicontı́nuo inferiormente, segue-se que φ−1 (−n, +∞) é aberto em X. Da
compacidade de X, existe n0 ∈ IN tal que
n0
φ−1 (−n, +∞).
[
X=
n=1

Assim, φ(x) > −n0 para todo x ∈ X e como consequência do Postulado de


Dedekind, existe c ∈ IR tal
c = inf φ.
X

Suponhamos, por contradição, que φ(x) > c para todo x ∈ X. Novamente



1
φ−1 (c + , +∞). Mais uma vez, da compacidade de
[
podemos escrever X =
n=1 n
X, existe k ∈ IN tal que
k
1
φ−1 (c +
[
X= , +∞).
n=1 n
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 16

Portanto, φ(x) > c + k1 , de onde concluı́mos que c + 1


k
é uma cota inferior
para o conjunto φ(X). Da definição de ı́nfimo, temos que c ≥ c + k1 , o que é um
absurdo. Logo existe u0 ∈ X tal que

φ(u0 ) = inf φ.
X

Vamos agora definir funcional fracamente semicontı́nuo inferiormente:

Definição 2.2 Seja X um Espaço Normado. Uma função φ : X → IR é um


funcional fracamente semicontı́nuo inferiormente quando φ é funcional
semicontı́nuo inferiormente considerando-se X com sua topologia fraca.

Teorema 2.2 Seja E um Espaço de Hilbert ou Banach reflexivo e φ : E → IR


um funcional tal que:
i) φ é fracamente semicontı́nuo inferiormente.
ii) φ é coercivo, isto é, φ(u) → +∞ quando kuk → +∞.
Então φ é limitado inferiormente e existe u0 ∈ E tal que

φ(u0 ) = inf φ.
E

Demonstração: Consideremos R > 0 tal que φ(u) ≥ φ(0), para todo u ∈ E com
kuk ≥ R. Desde que E é um Espaço de Hilbert ou Banach reflexivo, a bola B R (0)
é fracamente compacta. Além disso, a função φ restrita a bola B R (0) é fracamente
semicontı́nuo inferiormente. Do Terema 2.1, φ é limitado inferiormente e existe
u0 ∈ E, tal que
φ(u0 ) = inf φ ≤ φ(0) ≤ φ(u),
B R (0)

para todo u ∈ E, pela escolha de R.


Com esse resultado abstrato já é possı́vel mostrar a existência de soluções para
um problema elı́ptico, mas, para isso, precisamos de uma revisão sobre Espaços de
Sobolev e diferenciabilidade de funcionais, além da definição precisa de solução.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 17

2.3 Revisão sobre Espaços de Sobolev


Seja Ω um domı́nio do IRN , isto é um aberto e conexo do IRN com fronteira suave.
Definimos o seguinte Espaço de Banach:
∂u
H 1 (Ω) := {u ∈ L2 (Ω) : ∈ L2 (Ω)}
∂xi
Z Z 1/2
com kukH 1 (Ω) = |∇u|2 + |u|2 .
Ω Ω
Definimos também o seguinte subespaço fechado de H 1 (Ω):

H01 (Ω) := C0∞ (Ω)

com relação à norma k.kH 1 (Ω) .


Vamos agora definir imersão contı́nua e imersão compacta e, em seguida,
verificar as imersões que ocorrem em H 1 (Ω) e H01 (Ω).

Definição 2.3 Sejam E1 , E2 dois Espaços Normados tais que E1 ⊂ E2 . Diz-se


que E1 está imerso continuamente em E2 ou que a imersão E1 ,→ E2 é
contı́nua, quando a aplicação i : E1 → E2 tal que i(x) = x é uma aplicação
contı́nua.

Definição 2.4 Sejam E1 , E2 dois Espaços Normados tais que E1 ⊂ E2 . Diz-se


que E1 está imerso compactamente em E2 ou que a imersão E1 ,→ E2 é
compacta quando a aplicação i : E1 → E2 tal que i(x) = x é uma aplicação
compacta.

Vamos agora recordar as imersões contı́nuas e as imersões compactas sobre


o Espaços de Sobolev H 1 (Ω) e H01 (Ω). Esses resultados, assim como outros
correlatos que não serão usados aqui, poderão ser vistos em [2] e [7].
As seguintes imersões são contı́nuas:
(
Para todo s ∈ [2, 2∗ = 2N
N −2
] se N ≥ 3
H 1 (Ω) ,→ Ls (Ω)
e (
Para todo s ∈ [2, +∞) se N = 1 ou N = 2
H 1 (Ω) ,→ Ls (Ω).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 18

Como consequência dessas imersões, existe C > 0 tal que

|u|s ≤ CkukH 1 (Ω) ,


Z 1/s
para todo u ∈ H 1 (Ω), onde |u|s = |u|s .

Antes de enunciarmos as imersões compactas, recordemos a Desigualdade de
Poincaré:
Se Ω é um domı́nio limitado do IRN , então existe C > 0 tal que
Z Z
2
|u| ≤ C |∇u|2 ,
Ω Ω

para todo u ∈ H01 (Ω). Assim, sobre H01 (Ω) é possı́vel definir a norma kuk =
Z 1/2
|∇u|2 , a qual é equivalente a norma k.kH 1 (Ω) .

No capı́tulo 4, mostraremos que o menor número C que satisfaz a Desigualdade
de Poincaré está relacionada com um autovalor do operador (−∆, H01 (Ω)).
Se Ω é um domı́nio limitado do IRN , as seguintes imersões são compactas:
(
Para todo s ∈ [1, 2∗ = 2N
N −2
[ se N ≥ 3
H01 (Ω) ,→ Ls (Ω)
e (
Para todo s ∈ [1, +∞) se N = 1 ou N = 2
H01 (Ω) ,→ Ls (Ω).
Como consequência dessas imersões e desde que H01 (Ω) é um Espaço de Banach
reflexivo, para toda sequência limitada (un ) ⊂ H01 (Ω), existem (unj ) ⊂ (un ) e
u ∈ H01 (Ω) tal que
unj * u in H01 (Ω)
e
unj → u in Ls (Ω).

O número 2∗ = 2N
N −2
é chamado Expoente Crı́tico de Sobolev.
Vamos definir Função Carathéodory.

Definição 2.5 Uma função f : Ω × IR → IR é uma Função Carathéodory


quando a função fs : Ω → IR definida por fs (x) = f (x, s) é mensurável, para cada
s ∈ IR e a função fx : IR → IR definida por fx (s) = f (x, s) é contı́nua, para cada
x ∈ Ω.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 19

Com o objetivo de definirmos solução clássica, solução forte e solução fraca,


vamos considerar o seguinte problema:

(
−∆u(x) = f (x, u(x)) em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio do IRN , f : Ω × IR → IR é uma Função Carathéodory e


N
X ∂ 2u
∆u = 2
é o operador Laplaciano aplicado em u.
i=1 ∂xi

Definição 2.6 Uma solução clássica de (P ) é uma função u ∈ C 2 (Ω) tal que

−∆u(x) = f (x, u(x)), (2.1)

para todo x ∈ Ω e

u(x) = 0, (2.2)

para todo x ∈ ∂Ω.

Vamos recordar agora o Teorema da Divergência, o qual pode ser encontrado


em [13].

Teorema 2.3 Seja Ω um domı́nio limitado do IRN e η o vetor unitário normal


exterior à ∂Ω fronteira de Ω. Para qualquer campo vetorial F de classe C 1 (Ω)
vale a seguinte identidade:
Z Z
divF dx = F.η ds,
Ω ∂Ω

onde ds indica o elemento de área (N-1)-dimensional de ∂Ω.

Se u é uma solução clássica de (P ), usando o Teorema da Divergência no


campo vetorial F (x) = φ(x)∇u(x), onde φ ∈ C0∞ (Ω), temos que:
Z Z
∂u(x)
div(φ(x)∇u(x)) = φ(x) = 0,
Ω ∂Ω ∂η
de onde concluı́mos
Z Z
−∆u(x)φ(x) = ∇u(x)∇φ(x). (2.3)
Ω Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 20

Assim, se u é uma solução clássica de (P ), multiplicando ambos os membros


da equação (2.1) por φ ∈ C0∞ (Ω) e usando a identidade (2.3) obtemos
Z Z
∇u(x)∇φ(x) = f (x, u(x))φ(x).
Ω Ω

A identidade acima nos motiva a definirmos solução fraca de (P ).

Definição 2.7 Uma solução fraca de (P ) é uma função u ∈ H01 (Ω) tal que
Z Z
∇u(x)∇v(x) = f (x, u(x))v(x),
Ω Ω
para toda v ∈ H01 (Ω).

Observação 2.2 A função v ∈ H01 (Ω) que aparece na definição de solução fraca
é chamada de Função Teste.

Observação 2.3 Desde que uma solução fraca u de (P ) pertence a H01 (Ω), então
u(x) = 0 no sentido do traço.

Definição 2.8 Uma solução forte de (P ) é uma função u ∈ H 2 (Ω) H01 (Ω)
T

tal que

−∆u(x) = f (x, u(x)), (2.4)

quase em toda parte em Ω e

u(x) = 0, (2.5)

quase em toda parte em ∂Ω.

Observação 2.4 Na definição de solução forte, consideramos o Laplaciano no


sentido das distribuições, isto é,
Z
−∆ : H01 (Ω) → (H01 (Ω))0 , −∆u : H01 (Ω) → IR, −∆uφ = ∇u(x)∇φ(x).

Desta subseção concluı́mos que toda solução clássica de (P ) é uma solução


forte e uma solução fraca de (P ).

Observação 2.5 A tarefa de mostrar que uma solução fraca de um problema


elı́ptico é uma solução clássica não é imediata e depende de hipóteses adequadas
sobre a função f . Os resultados que mostram que uma solução fraca de
um problema elı́ptico é uma solução clássica são chamados de resultados de
regularidade.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 21

2.4 Revisão sobre diferenciabilidade de


funcionais
Definição 2.9 Dado um Espaço de Banach X e um funcional I : X → IR,
dizemos que I possui Derivada de Fréchet no ponto u ∈ X quando existir um
funcional linear T ∈ X 0 tal que
I(u + v) − I(u) − T v
lim = 0.
kvk→0 kvk
A Derivada de Fréchet no ponto u, quando existir, é única. Vamos denotá-la
simplesmente por I 0 (u).

Definição 2.10 Se A é um conjunto aberto em X, dizemos que I é de classe


C 1 em A ou que I ∈ C 1 (A, IR) quando a Derivada de Fréchet de I existir em
todo ponto u ∈ A e a aplicação I 0 : A → X 0 é contı́nua.

Definição 2.11 Dado um Espaço de Banach X e um funcional I : X → IR,


dizemos que I possui Derivada de Gateaux no ponto u ∈ X quando existir
um funcional linear T0 ∈ X 0 tal que
I(u + tv) − I(u) − T0 v
lim = 0, para todo v ∈ X.
t→0 t
A Derivada de Gateaux no ponto u, quando existir, é única. Vamos denotá-la
simplesmente por DI(u).

Observação 2.6 Os exercı́cios 6. e 7. da Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 2


provam que I é de classe C 1 em A quando a derivada de Gateaux de I em A e o
operador DI : X → X 0 existirem e DI for contı́nuo. Este resultado será usado
muitas vezes neste texto.

2.5 Método Variacional


Retornemos ao problema (P ) da seção 1.3. Com o objetivo de definir problema
com crescimento subcrı́tico, crı́tico e supercrı́tico, consideremos a Função
Carathéodory f : Ω × IR → IR com a seguinte condição de crescimento:

|f (x, t)| ≤ a + b|t|p−1 , para a, b > 0 dados (2.6)


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 22

com 1 < p ≤ 2∗ se N ≥ 3 e 1 < p < +∞ se N = 1 ou N = 2.

Definição 2.12 O problema (P ) tem crescimento superlinear subcrı́tico


quando a função f tem o crescimento (2.6) com N ≥ 3 e 2 < p < 2∗ .

Definição 2.13 O problema (P ) tem crescimento superlinear crı́tico


quando a função f tem o crescimento (2.6) com N ≥ 3 e p = 2∗ .

Definição 2.14 O problema (P ) tem crescimento supercrı́tico quando a


função f tem o crescimento (2.6) com N ≥ 3 e p > 2∗ .

Definição 2.15 O problema (P ) tem crescimento sublinear quando a função


f é da forma f (x, t) = |t|q−2 t com 1 < q < 2 ou f tem um crescimento
”semelhante”a |t|q−2 t.

Decorre da condição de crescimento 2.6 que


b
|F (x, t)| ≤ a|t| + |t|p
p
de onde segue que, para todo u ∈ H01 (Ω), temos
b
|F (x, u(x))| ≤ a|u(x)| + |u(x)|p .
p

Assim,
F (., u(.)) ∈ L1 (Ω) desde que 1 < p ≤ 2∗ .

Se p > 2∗ , então não podemos garantir que F (., u(.)) ∈ L1 (Ω).


Grosso modo, o método variacional consiste em associar ao problema (P ) um
funcional, de tal modo que pontos crı́ticos do funcional sejam soluções fracas do
problema (P ).
Recordemos que u ∈ H01 (Ω) é uma solução fraca de (P ) se
Z Z
∇u∇v = f (x, u)v, para toda v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

Assim, esta solução fraca será ponto crı́tico de um funcional I : H01 (Ω) → IR
se, e somente se, este funcional satisfizer
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 23

Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v − f (x, u)v, para toda v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

Portanto, o candidato natural a funcional associado ao problema (P ) é dado


por I : H01 (Ω) → IR, tal que
1Z 2
Z
I(u) = |∇u| − F (x, u).
2 Ω Ω

O lema, que será visto mais adiante, confirmará que, de fato, este é o funcional
associado ao problema (P ). Notemos que o funcional estará bem definido se, e
somente se, o problema (P ) tem um crescimento sublinear, subcrı́tico ou crı́tico.
Em outras palavras, quando o problema (P ) tem crescimento supercrı́tico, o
método variacional não pode ser aplicado. Pelo menos, não pode ser apliacado
diretamente.
Neste momento enunciaremos o Teorema da Convergência Dominada de
Lebesgue e o Teorema de Vainberg que usaremos na demonstração do próximo
lema. Estes Teoremas podem ser encontrado em [2] ou [7].

Teorema 2.4 (da Convergência Dominada de Lebesgue)


Seja A um conjunto mensurável do IRN e seja (fj ) uma sequência de funções
mensuráveis tal que

fj (x) → f (x) quase em toda parte em A,

onde f é uma função mensurável. Se existir uma função g ∈ L1 (A) tal que

|fj (x)| ≤ g(x) quase em toda parte em A,

então Z Z
lim fj (x) dx = f (x) dx
j→+∞ A A

Teorema 2.5 (de Vainberg) Sejam (fj ) uma sequência de funções em Lq (Ω)
e f ∈ Lq (Ω) tais que
fj → f em Lq (Ω).

Então, existe (fjk ) ⊂ (fj ) e uma função g ∈ Lq (Ω) tal que

|fjk (x)| ≤ g(x) quase em toda parte em Ω


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 24

e
fjk (x) → f (x) quase em toda parte em Ω.

Lema 2.1 Se Ω é um domı́nio limitado do IRN e f : Ω × IR 7→ IR é uma função


Caratheodory, então o funcional I : H01 (Ω) → IR dado por
1Z Z
I(u) = |∇u|2 − F (x, u)
2 Ω Ω

é tal que I ∈ C 1 (H01 (Ω), IR) com


Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v − f (x, u)v, para todo v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

I é chamado de Funcional de Euler-Lagrange ou Funcional energia.


Z
Demonstração: Vamos considerar I(u) = J1 (u) − J2 (u) com J1 (u) = 1
2
|∇u|2
Z Ω
e J2 (u) = F (x, u). Em seguida mostraremos que J1 , J2 ∈ C 1 (H01 (Ω), IR) com
Z Ω Z
J10 (u)v = ∇u∇v e J20 (u)v = f (x, u)v, para todo v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω
Inicialmente vamos calcular a Derivada de Gateux DJ1 .
1Z 2 1Z
J1 (u + tv) − J1 (u) |∇u + tv| − |∇u|2
= 2 Ω 2 Ω
t t
1Z 1Z
∇(u + tv)∇(u + tv) − |∇u|2
= 2 Ω 2 Ω
t
1
 Z Z 
2 2
= 2t ∇u∇v + t |∇v| .
2t Ω Ω

Portanto,

J1 (u + tv) − J1 (u) Z
DJ1 (u)v = lim = ∇u∇v.
t→0 t Ω

Mostraremos agora que o operador DJ1 é contı́nuo. Seja (un ) uma sequência
em H01 (Ω) tal que un → u em H01 (Ω).
Assim, para cada v ∈ H01 (Ω) com kvk ≤ 1 temos
Z Z
|[DJ1 (un ) − DJ1 (u)]v| = | ∇un ∇v − ∇u∇v| ≤ |∇un − ∇u||∇v|.
Ω Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 25

Da Desigualdade de Cauchy-Schwarz, obtemos


Z 1/2 Z 1/2
|[DJ1 (un ) − DJ1 (u)]v| ≤ |∇un − ∇u|2 |∇v|2
Ω Ω
= kun − ukkvk ≤ kun − uk.

Logo

kDJ1 (un ) − DJ1 (u)kH01 (Ω) := sup |[DJ1 (un ) − DJ1 (u)]v| ≤ kun − uk,
kvk≤1

mostrando pelos exercı́os 6. e 7. da


Z Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 2 que
DJ1 = J10 ∈ C(H01 (Ω), IR) e J10 (u)v = ∇u∇v.

Vamos calcular agora a derivada de Gateaux DJ2 . Para cada t ∈ IR com
0 < |t| < 1, para cada x ∈ Ω e para cada u, v ∈ H01 (Ω), consideremos a função
h : [0, 1] → IR dada por h(s) = F (x, u + stv). Observe que h0 (s) = f (x, u + stv)tv,
h(1) = F (x, u + tv) e h(0) = F (x, u).
Desde que h é contı́nua em [0, 1] e diferenciável em (0, 1), do Teorema do Valor
Médio, existe γ ∈ (0, 1) tal que

h(1) − h(0) = h0 (γ),

de onde concluı́mos
F (x, u + tv) − F (x, u)
| | = |f (x, u + γtv)||v|.
t

Da condição de crescimento (2.6) sobre a função f obtemos:

|f (x, u + γtv)||v| ≤ a|v| + b|u + γtv|p−1 |v|.

Portanto,

|f (x, u + γtv)||v| ≤ a|v| + Cb|u|p−1 |v| + C|v|p ∈ L1 (Ω).

Além disso, para uma sequência |tn | → 0 temos que

f (x, u(x) + γtn v(x))v(x) → f (x, u(x))v(x) pontualmente em Ω.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 26

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue


Z Z
J2 (u + tv) − J2 (u)
 F (x, u + tv) −
F (x, u) 
lim = lim Ω Ω
t→0 t t→0
Z t Z
= n→∞
lim f (x, u + γtn v)v = f (x, u)v.
Ω Ω
Z
Portanto, DJ2 (u)v = f (x, u)v. Mostraremos que o operador DJ2 é

contı́nuo. Seja (un ) uma sequência em H01 (Ω) tal que un → u em H01 (Ω).
Assim, das imersões contı́nuas

un → u em Ls (Ω), com 1 ≤ s ≤ 2∗ no caso N ≥ 3.

Do Teorema de Vainberg, existe (unj ) ⊂ (un ) e g ∈ Ls (Ω) tal que

unj (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|unj (x)| ≤ g(x) quase em toda parte em Ω.

Desde que f é uma Função Carathéodory,

[f (x, unj (x)) − f (x, u(x))]p/(p−1) → 0 quase em toda parte em Ω

e da condição de crescimento (2.6) sobre f obtemos:

|f (x, unj (x)) − f (x, u(x))|p/(p−1) ≤ C[|f (x, unj (x))|p/(p−1) + |f (x, u(x))|p/(p−1) ]
≤ 2(a + bg(x))p ∈ L1 (Ω).

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue

|f (x, unj (x)) − f (x, u(x))|Lp/(p−1) (Ω) → 0.

Assim, para todo v ∈ H01 (Ω), tal que kvk ≤ 1, temos


Z
|[DJ2 (unj ) − DJ2 (u)]v| = [f (x, unj ) − f (, xu)]v.

Desde que p/(p−1) e p são expoentes conjugados, da Desigualdade de Hölder,

|[DJ2 (unj ) − DJ2 (u)]v| ≤ |f (x, unj (x)) − f (x, u(x))|Lp/(p−1) (Ω) |v|Lp (Ω) .
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 27

Das imersões contı́nuas de Sobolev temos

|[DJ2 (unj ) − DJ2 (u)]v| ≤ C|f (x, unj (x)) − f (x, u(x))|Lp/(p−1) (Ω) kvk
≤ C|f (x, unj (x)) − f (x, u(x))|Lp/(p−1) (Ω) .

Portanto,

kDJ2 (unj ) − DJ2 (u)k = sup |[DJ2 (unj ) − DJ2 (u)]v|


kvk≤1

≤ C|f (x, unj (x)) − f (x, u(x))|Lp/(p−1) (Ω) ,

implicando que
lim DJ2 (unj ) = DJ2 (u).
j→+∞

Novamente dos exercı́cios 6. e 7. da Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 2, temos que


DJ2 (u) = J20 (u) é contı́nuo.
Algumas vezes, é importante saber se o funcional associado ao problema (P )
é de classe C 2 . Como por exemplo, quando estudamos a Teoria de Índice de
Morse ou quando queremos ter mais informações sobre a Variedade de Nehari.
Esta técnica e essa abordagem não serão estudadas neste texto. Entretanto,
para a completeza deste trabalho e com hipóteses adicionais sobre a função f ,
mostraremos o seguinte resultado:

Lema 2.2 Se a função f 0 : Ω × IR → IR é mensurável e

|f 0 (x, t)| ≤ C1 + C2 |t|p−2 com 1 < p ≤ 2∗ , (2.7)

então o funcional I : H01 (Ω) → IR dado por


1Z 2
Z
I(u) = |∇u| − F (x, u)
2 Ω Ω

é tal que I ∈ C 2 (H01 (Ω), IR) com


Z Z
I 00 (u)vw = ∇v∇w − f 0 (x, u)vw, para todo w ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

1
Z Para cada v ∈ H0 (Ω),
Demonstração: Z vamos considerar Φ(u) = Φ1 (u) − Φ2 (u)
com Φ1 (u) = ∇u∇v e Φ2 (u) = f (x, u)v. Em seguida mostraremos que
Ω Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 28

Z Z
Φ1 , Φ2 ∈ C (H01 (Ω), IR)
1
com Φ01 (u)vw = ∇v∇w e Φ02 (u)v = f 0 (x, u)vw, para
Ω Ω
todo w ∈ H01 (Ω).
Inicialmente vamos calcular a Derivada de Gateux DΦ1 .
Z Z
Φ1 (u + tw) − Φ1 (u) ∇(u + tw)∇v − ∇u∇v Z
Ω Ω
= = ∇v∇w
t t Ω

Portanto,

Φ1 (u + tv) − Φ1 (u) Z
DΦ1 (u)v = lim = ∇v∇w.
t→0 t Ω

A continuidade de DΦ1 é imediata e assim, pelos exercı́os 6. e 7.


Z da Lista de
0 1 0
Exercı́cios do Capı́tulo 2, DΦ1 = Φ1 ∈ C(H0 (Ω), IR) e Φ1 (u)vw = ∇v∇w.

Vamos calcular agora a Derivada de Gateaux DΦ2 . Para cada t ∈ IR com
0 < |t| < 1, para cada x ∈ Ω e para cada u, v, w ∈ H01 (Ω), consideremos
a função h : [0, 1] → IR dada por h(s) = f (x, u + stw)v. Observe que
h0 (s) = f 0 (x, u + stw)twv, h(1) = f (x, u + tw)v e h(0) = f (x, u)v.
Desde h é contı́nua em [0, 1] e diferenciável em (0, 1), do Teorema do Valor
Médio, existe γ ∈ (0, 1) tal que

h(1) − h(0) = h0 (γ),

de onde concluı́mos
f (x, u + tw)v − f (x, u)v
| | = |f 0 (x, u + γtw)||v||w|.
t

Da condição de crescimento (2.7) sobre a função f 0 obtemos:

|f 0 (x, u + γtw)||v||w| ≤ C1 |v||w| + C2 |u + γtw|p−2 |v||w|.

Portanto,

|f 0 (x, u + γtw)||v||w| ≤ C1 |v||w| + CC2 |u|p−2 |v||w| + C|w|p−1 |v| ∈ L1 (Ω).

Além disso, para uma sequência |tn | → 0 temos que

f 0 (x, u(x) + γtn w(x))v(x)w(x) → f 0 (x, u(x))v(x)w(x) pontualmente em Ω.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 29

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue


Z Z
Φ2 (u + tv) − Φ2 (u) f (x, u + tw)v − f (x, u) 

Ω Ω
lim = lim
t→0 t t→0
Z t Z
= lim 0
f (x, u + γtn w)vw = f 0 (x, u)vw.
n→∞ Ω Ω

Z
Portanto, DΦ2 (u)v = f 0 (x, u)vw.

A continuidade do operador DΦ2 segue dos mesmos argumentos já usados
acima. Logo,DΦ2 (u) = Φ02 (u).

2.6 Resolução de um problema sublinear


Vamos usar o Teorema 2.2 para encontrar solução fraca do problema sublinear

(
−∆u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio do IRN e 1 < q < 2.


Do Lema 2.1, o funcional associado ao problema (P ) é definido por
1Z 2 1Z
I(u) = |∇u| − |u|q
2 Ω q Ω
e Z Z
I 0 (u)v = ∇u∇v − |u|q−2 uv.
Ω Ω

Recordemos
Z que H01 (Ω) é um Espaço de Hilbert com
Z o produto interno
< u, v >= ∇u∇v que induz a norma < u, u >= kuk2 = |∇u|2 .
Ω Ω
Vamos mostrar que o funcional I é fracamente semicontı́nuo inferiormente.
Seja (un ) ⊂ H01 (Ω) tal que un * u em H01 (Ω).
Das propriedades da convergência fraca, kuk ≤ lim inf kun k ( A função norma
n→+∞
é fracamente semicontı́nua inferiormente). Assim,

kuk2 ≤ lim inf kun k2 .


n→+∞
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 30

Além disso, desde que 1 < q < 2, das Imersões Compactas de Sobolev, a
menos de subseqúência, un → u em Lq (Ω). Logo
1Z q 1Z
|un | → |u|q .
q Ω q Ω
Portanto,
1Z 2 1Z
I(u) = |∇u| − |u|q
2 Ω q Ω
1 1Z
 Z 
≤ lim inf |∇un |2 − |un |q
n→+∞ 2 Ω q Ω
= lim inf I(un ),
n→+∞

mostrando que I é fracamente semicontı́nua inferiormente.


Mostraremos que I é coercivo. Seja (un ) ⊂ H01 (Ω) tal que kun k → +∞.
Das imersões contı́nuas de Sobolev, a menos de subsequência,
1Z 2 1Z
I(un ) = |∇un | − |un |q
2 Ω q Ω
1Z C
≥ |∇un |2 − kun kq
2 Ω q
1 C
= kun k2 ( − ).
2 qkun kq−2

Desde que 1 < q < 2, temos que I(un ) → +∞, mostrando que I é coercivo.
Do Teorema 2.2, I é limitado inferiormente e existe u0 ∈ H01 (Ω) tal que

I(u0 ) = inf I(u).


u∈H01 (Ω)

Desde que I é diferenciável, I 0 (u0 ) = 0, ou seja I 0 (u0 )v = 0, para todo


v ∈ H01 (Ω). Portanto Z Z
∇u0 ∇v = |u0 |q−2 u0 v,
Ω Ω
mostrando que u0 é solução fraca de (P ).
Para finalizar este capı́tulo, é necessário justificar que a solução encontrada é
diferente da solução trivial.
Consideremos ψ ∈ C0∞ (Ω) tal que ψ(x) > 0, para todo x ∈ Ω e seja t > 0.
Assim temos que
t2 2 tq q
I(tψ) = kψk − |ψ|q < 0 para t suficiente pequeno.
2 q
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 31

Logo
I(u0 ) = inf I(u) ≤ I(tψ) < 0 = I(0),
u∈H01 (Ω)

para suficiente pequeno,de onde concluı́mos que u0 6= 0.

2.7 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 2


1. Sejam X um Espaço Topológico e ψ : X → IRum funcional. Mostre que ψ é
semicontı́nuo inferiormente se ψ −1 (−∞, a] é fechado, para qualquer a ∈ IR.

2. Sejam X um Espaço Topológico que satisfaz o 1◦ axioma da


enumerabilidade e ψ : X → IR um funcional. Mostre que ψ é semicontı́nuo
inferiormente se
ψ(x) ≤ lim inf ψ(xn ),
n→x∞

para qualquer seqûencia (xn ) ⊂ X tal que xn → x em X.

3. Dados os funcionais abaixo, justifique quais são semicontı́nuo inferiormente.


a) ψ(x) = 0 se x ≤ 0 e ψ(x) = 1 se x > 0.
b) ψ(x) = 0 se x < 0 e ψ(x) = 1 se x ≥ 0.
c) ψ(x) = 0 se x < 0, ψ(0) = 2 e ψ(x) = 1 se x > 0.

4. Sejam E um Espaço de Hilbert ou um Espaço de Banach reflexivo e C


um convexo fechado em E. Mostre que se ψ : X → IR é um funcional
fracamente semicontı́nuo inferiormente e coercivo, então existe x0 ∈ C tal
que
ψ(x0 ) = inf ψ.
C

5. Sejam E um Espaço de Hilbert, a : E ×E → IRuma forma bilinear contı́nua


satisfazendo a(u, u) ≥ αkuk2 , para todo u ∈ E e para algum α > 0 e
f : E → IR um funcional linear contı́nuo. Dado C um convexo fechado em
E, mostre que existe um único u0 ∈ C tal que

ψ(u0 ) = inf ψ,
C

onde ψ(u) = 21 a(u, u) − f (u).


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 32

6. Sejam X um Espaço de Banach e I : X → IR um funcional. Mostre que se


a Derivada de Frechet I 0 (u) em u ∈ X existe, então a Derivada de Gateaux
DI(u) em u ∈ X existe e I 0 (u) = DI(u).

7. Sejam X um Espaço de Banach e I : X → IR um funcional. Use o teorema


do valor médio e prove que se I tem Derivada de Gateuax contı́nua em
A ⊂ X, então I ∈ C 1 (A, IR).
Rt
8. Seja f : Ω × IR → IR uma Função Carathéodory e seja F (x, t) = 0 f (x, s) ds
a primitiva de f em relação à variável t. Mostre que, para toda função
u : Ω → IR mensurável, a função F (., u(.)) : Ω → IR é mensurável.

9. Consideremos o problema
(
−∆u = u2 em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IR3 .


a) Defina corretamente um funcional energia associado ao problema (P ) tal
que, se tal funcional for de classe C 1 , então pontos crı́ticos do funcional são
soluções fracas de (P ).
b) Mostre que tal funcional é de classe C 1 .

10. Refaça a questão anterior considerando agora o problema sublinear

(
−∆u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN e 1 < q < 2.

11. Use o método minimização para resolver o problema sublinear


(
−∆u + u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),
2∗
1 < q < 2, h ∈ L 2∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 33

12. Use o método minimização para resolver os problemas do tipo sublinear


a)

(
−∆p u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , 2 ≤ p < N e p − 1 < q < p.


Recordamos que o operador p-Laplaciano é definido por
N
∂ ∂u
 
|∇u|p−2
X
∆p u = , 1 < p < N,
i=1 ∂xi ∂xi

e uma solução deste problema é uma função u ∈ W01,p (Ω) tal que
Z Z
p−2
|∇u| ∇u∇φ = |u|q−2 uφ,
Ω Ω

para todo φ ∈ W01,p (Ω). A norma fixada em W01,p (Ω) é definida por
Z
p
kuk = |∇u|p .

b)

(
−∆p u + |u|p−2 u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),
p∗
2 ≤ p < N , p − 1 < q < p, h ∈ L p∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0,
pN
onde p∗ = N −p
.
Capı́tulo 3

Minimização com Vı́nculos

3.1 Introdução
Neste capı́tulo enunciaremos e demonstraremos o Teorema dos Multiplicadores
de Lagrange em Espaços de Banach e o usaremos para encontrar solução fraca
para um problema superlinear com crescimento subcrı́tico.

3.2 Teorema dos Multiplicadores de Lagrange


Nessa seção, nossa apresentação seguirá o trabalho [12] de Marcelo Furtado.
Antes de enunciar e demonstrar o Teorema dos Multiplicadores de Lagrange,
precisaremos do seguinte lema:

Lema 3.1 Seja X um Espaço de Banach e J, F ∈ C 1 (X, R). Suponha que


existam x0 , v, w ∈ X tais que J 0 (x0 )vF 0 (x0 )w 6= J 0 (x0 )wF 0 (x0 )v. Então o ponto
x0 não é extremo local de J restrito ao conjunto M = {x ∈ X : F (x) = F (x0 )} =
F −1 {x0 }.

Demonstração: Consideremos ψ : IR2 → IR2 definida por ψ(s, t) =


(f (s, t), g(s, t)), onde f (s, t) = J(x0 + sv + tw) e g(s, t) = F (x0 + sv + tw),
para cada (s, t) ∈ IR2 . Notemos que a função ψ é de classe C 1 e que, se [Jψ (0, 0)]
denota a Matriz Jacobiana de ψ no ponto (0, 0), então:

J 0 (x0 )v F 0 (x0 )v

= J 0 (x0 )vF 0 (x0 )w − J 0 (x0 )wF 0 (x0 )v 6= 0.

det[Jψ (0, 0)] =
J 0 (x0 )w F 0 (x0 )w

34
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 35

Segue então do Teorema da Função Inversa que existem vizinhanças abertas V e


W de (0, 0) e ψ(0, 0) = (J(x0 ), F (x0 )), respectivamente, tais que ψ : V → W é
um difeomorfismo.
Dado δ > 0 qualquer, vamos obter um ponto y0 (δ) ∈ M
T
Bδ (x0 ) tal
J(y0 ) > J(x0 ). Desse modo x0 não pode ser um máximo local de J restrito
a M . Para obter y0 como acima, vamos considerar δ 0 > 0 tal Bδ0 (0) ⊂ V e, além
disso,
δ
2δ 0 < . (3.1)
kvkX + kwkX

Com essa escolha temos que ψ é um difeomorfismo de Bδ0 (0) em W


c =

ψ(Bδ0 (0)). Como W


c é aberto podemos tomar  > 0 pequeno de modo que

(J(x0 ) + , F (x0 )) ∈ W
c . Seja agora (s , t ) ∈ B 0 (0) satisfazendo ψ(s , t ) =
0 0 δ 0 0

(J(x0 ) + , F (x0 )), isto é,

J(x0 + s0 v + t0 w) = J(x0 ) +  > J(x0 )

e
F (x0 + s0 v + t0 w) = F (x0 ).

Então y0 = x0 + s0 v + t0 w é tal que J(y0 ) > J(x0 ) e y0 ∈ M . Além disso,


como (s0 , t0 ) ∈ Bδ0 (0), podemos usar (3.1) para concluir que

ky0 − x0 kX = ks0 v + t0 wkX ≤ |s0 |kvkX + |t0 |kwkX


≤ 2k(s0 , t0 )kIR2 (kvkX + kwkX ) < δ,

o que mostra que y0 ∈ Bδ (x0 ). Logo, x0 não pode ser um máximo local de J
restrito a M . De maneira análoga podemos mostrar que x0 não pode ser ponto
de mı́nimo local da restrição de J a M . Isso conclui a demonstração.

Teorema 3.1 (dos Multiplicadores de Lagrange ) Sejam X um Espaço de


Banach, J, F ∈ C 1 (X, IR) e x0 ∈ X um extremo local de J restrito ao conjunto

M = {x ∈ X : F (x) = F (x0 )}.

Se F 0 (x0 ) 6= 0, então existe λ ∈ IR tal que

J 0 (x0 )v = λF 0 (x0 )v para qualquer v ∈ X.

O número real λ é chamado Multiplicador de Lagrange.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 36

Demonstração: Fixemos w ∈ X tal que F 0 (x0 )w 6= 0.


Desde que x0 é um extremante local de J restrito a M , do Lema 3.1 temos
que, para cada v ∈ X,

J 0 (x0 )vF 0 (x0 )w = J 0 (x0 )wF 0 (x0 )v.


J 0 (x0 )w
Escolhendo λ = F 0 (x0 )w
o Teorema fica provado.
O conjunto M é uma variedade de dimensão infinita e o espaço tangente em
um ponto u ∈ M é definido por

Tu M = {v ∈ X : F 0 (u)v = 0}.

A norma da derivada de J restrita a M é dada por

kJ 0 (u)k∗ = sup |J 0 (u)v| = sup J 0 (u)v.


v∈Tu M,kvk=1 F 0 (u)v=0,kvk=1

Lema 3.2 Se f, g ∈ X 0 , então

sup f (y) = min kf − λgkX 0 .


g(y)=0,kyk=1 λ∈IR

Demonstração: Notemos que, para todo λ ∈ IR, temos

sup f (y) = sup (f − λg)(y) ≤ sup (f − λg)(y) = kf − λgkX 0 ,


g(y)=0,kyk=1 g(y)=0,kyk=1 kyk=1

de onde concluı́mos que

sup f (y) ≤ inf kf − λgkX 0 .


g(y)=0,kyk=1 λ∈IR

Por outro lado, do Teorema de Hahn-Banach (ver [7]), existe fe ∈ X 0 tal que
fe estende f , isto é,

fe(x) = f (x) para todo x ∈ Kern g e kfekX 0 = kf k(Kern g)0 .

Notemos que Kern g ⊂ Kern (f − fe) e esta inclusão implica na existência


de λ∗ ∈ IR tal que
f − fe = λ∗ g.

Assim

sup f (y) = kf k(Kern g)0 = kfekX 0 = kf − λ∗ gkX 0 = min kf − λgkX 0 .


g(y)=0,kyk=1 λ∈IR
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 37

Corolário 3.1 A derivada de J restrito a M tem norma dada por

kJ 0 (u)k∗ = min kJ 0 (u) − λF 0 (u)kX 0 .


λ∈IR

Definição 3.1 Um ponto u ∈ M é um ponto crı́tico de J sujeito ao vı́nculo M


quando kJ 0 (u)k∗ = 0.

Como consequência desta definição, se u ∈ M é um ponto crı́tico de J sujeito


ao vı́nculo M , então do Corolário 3.1, existe λ ∈ IR tal que

kJ 0 (u) − λF 0 (u)kX 0 = 0,

isto é
J 0 (u) = λF 0 (u).

3.3 Resolução de um Problema Superlinear


Subcrı́tico
Vamos usar o Teorema 3.1 para encontrar solução fraca do problema superlinear
subcrı́tico

(
−∆u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio do IRN e 2 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 2 < q se N = 1 ou N = 2.


Consideremos os funcionais
1Z
J: H01 (Ω) → IR definido por J(u) = |∇u|2
2 Ω
e
1Z
F : H01 (Ω) → IR definido por F (u) = |u|q .
q Ω
Do Lema 2.1, temos que J, F ∈ C 1 (H01 (Ω), IR) e
Z
J 0 (u)v = ∇u∇v

Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 38

e Z
0
F (u)v = |u|q−2 uv,

para todo v ∈ H01 (Ω).
Além disso, consideremos

M = {u ∈ H01 (Ω) : F (u) = 1}

Mostraremos que, para todo u ∈ M , F 0 (u) 6= 0:


De fato, para todo u ∈ M ,
Z
F 0 (u)u = |u|q = q 6= 0.

Notemos também que J restrito a M é limitado inferiormente. Assim, do


Postulado de Dedekind, existe J∞ = inf J(u) e uma seqúência (un ) ⊂ M tal que
u∈M

J(un ) → J∞ ≥ 0.

Portanto,
1
kun k2 → J∞ ,
2
o que mostra que (un ) é limitada em H01 (Ω). Desde que H01 (Ω) é um Espaço de
Banach reflexivo, existe u0 ∈ H01 (Ω) tal que, a menos de subsequência,

un * u0 em H01 (Ω)

e das imersões compactas de Sobolev

un → u0 em Lq (Ω)

ou seja,
Z Z
|un |q → |u0 |q . (3.2)
Ω Ω

Por (3.2) e desde que (un ) ⊂ M temos


1Z q 1Z
|u0 | = lim |un |q = 1,
q Ω n→+∞ q Ω
o que mostra que u0 ∈ M e, portanto,

J∞ ≤ J(u0 ).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 39

Por outro lado, desde que a função norma é fracamente semicontı́nua


inferiormente, temos que ku0 k ≤ lim inf kun k, o que implica
n→+∞

1 1
J(u0 ) = ku0 k2 ≤ lim inf kun k2 = lim inf J(un ) = J∞ .
2 2 n→+∞ n→+∞

Logo,
J(u0 ) = J∞ = inf J(u).
u∈M

Assim, do Teorema 3.1, existe λ ∈ IR tal que

J 0 (u0 ) = λF 0 (u0 ).

Concluı́mos que podemos considerar u0 ≥ 0, pois podemos trocar u0 por |u0 |


que ainda teremos
J 0 (u0 ) = λF 0 (u0 ).
Portanto
J 0 (u0 )v = λF 0 (u0 )v,
para todo v ∈ H01 (Ω), o qual é equivalente a
Z Z
∇u0 ∇v = λ |u0 |q−2 u0 v
Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω), mostrando que u0 é solução fraca do problema


(
−∆u = λ|u|q−2 u em Ω
u(x) = 0 sobre ∂Ω.

Notemos que u0 6= 0, pois caso contrário, desde que u0 ∈ M , terı́amos


1Z
0= |u0 |q = 1,
q Ω
o que é um absurdo.
Logo
Z Z Z
2 q−2
0 < ku0 k = ∇u0 ∇u0 = λ |u0 | u0 u0 = λ |u0 |q = λq,
Ω Ω Ω

o que mostra que λ > 0.


Vamos agora construir a solução de (P ). Consideremos w = αu0 , com α a ser
escolhido posteriormente. Portanto
αλ λ q−1
−∆w = −∆(αu0 ) = −α∆u0 = αλuq−1
0 = (αu 0 )q−1
= w .
αq−1 αq−2
λ
Escolhendo α, tal que, αq−2
= 1, temo que w é solução fraca de (P ).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 40

3.4 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 3


1. Use o Teorema dos multiplicadores de Lagrange para obter uma solução
fraca para os problemas abaixo:
a) Encontre λ um número real positivo e u ∈ H01 (Ω) solução fraca do
problema

(
−∆u = λu em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN .


b)
(
−∆u + u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),

2 < q < 2∗ para N ≥ 3 ou 2 < q para N = 1 ou N = 2, h ∈


2∗
L 2∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0.
c)
(
−∆u + u = |u|q−2 u em Ω
(P ) ∂u
∂η
= 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , 2 < q < 2∗ para N ≥ 3 ou 2 < q


para N = 1 ou N = 2.
d)
(
−∆p u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , p < q < p∗ para N ≥ 3.


e)
(
−∆p u + |u|p−2 u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),
2∗
p < q < p∗ para N ≥ 3, h ∈ L 2∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0.
Capı́tulo 4

O Problema de Autovalor

4.1 Introdução
Neste capı́tulo estudaremos o espectro do operador (−∆, H01 (Ω)). Este estudo
é importantı́ssimo para alguns problemas que abordaremos aqui, como por
exemplo, problemas ressonantes e não ressonantes e para algumas técnicas que
não serão abordadas aqui, mas que também são importantes, como por exemplo,
técnicas de sub-supersolução e bifurcação.

4.2 O Problema Linear


Nessa seção, nossa apresentação seguirá o trabalho [14] de Santos Junior.
Começaremos estudando o seguinte problema, o qual é chamado linear porque a
função f dada no problema só depende de x ∈ Ω.

(
−∆u = f (x) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω ⊂ IRN é um domı́nio limitado, f ∈ L2 (Ω) é uma função dada.


Para mostrar que o problema (P ) tem uma única solução, usaremos o Teorema
da Representação de Riezs, cuja demonstração pode ser encontrada em [7].

Teorema 4.1 Seja H um Espaço de Hilbert com produto interno <, >H . Dado

41
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 42

g ∈ H 0 , existe um único u ∈ H tal que

< u, v >H = g(v), para todo v ∈ H.

Temos que

Z
hu, viH = ∇u∇v

é o produto interno usual de H01 (Ω), o qual é um Espaço de Hilbert com a norma
induzida

Z 1
2
2
k u k= | ∇u | .

Dada f ∈ L2 (Ω), consideremos o funcional g : H01 (Ω) → IR definido por


Z
g(v) = f v.

Notemos que da Desigualdade de Cauchy-Schwarz, o funcional g está bem


definido e é linear da linearidade da integral.
Para v ∈ H01 (Ω), temos novamente da desigualde de Cauchy-Schwarz e das
Imersões Contı́nuas de Sobolev

|g(v)| ≤ |f |L2 (Ω) |v|L2 (Ω) ≤ |f |L2 (Ω) kvk,

mostrando a continuidade de g.
Portanto, pelo Teorema da Representação de Riesz, segue-se que existe um
único u ∈ H01 (Ω) tal que

hu, viH = g(v), para todo v ∈ H01 (Ω),

isto é,

Z Z
∇u∇v = f v, para todo v ∈ H01 (Ω),
Ω Ω
mostrando que u ∈ H01 (Ω) é a única solução fraca do problema (P ).
Assim, fica bem definido o operador S : L2 (Ω) → H01 (Ω) definido por
S(f ) = u, onde u é a única solução do problema (P ). Na próxima seção,
estudaremos propriedades sobre o operador S.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 43

4.3 Estudo do espectro do Operador


Laplaciano
O primeiro resultado sobre o operador S é o seguinte:

Lema 4.1 O operador S é linear e contı́nuo.

Demonstração: Dadas f1 , f2 ∈ L2 (Ω) e α ∈ IR, obtemos únicas u1 , u2 ∈ H01 (Ω)


tais que S(f1 ) = u1 e S(f2 ) = u2 , isto é,

Z Z
∇u1 ∇v = f1 v, ∀v ∈ H01 (Ω) (4.1)
Ω Ω

Z Z
u2 ∇v = f2 v, ∀v ∈ H01 (Ω). (4.2)
Ω Ω

Multiplicando a igualdade em (4.2) por α e somando membro a membro a


igualdade resultante com a igualdade em (4.1), teremos

Z Z Z Z
∇u1 ∇v + α ∇u2 ∇v = f1 v + α f2 v, ∀v ∈ H01 (Ω)
Ω Ω Ω Ω

ou seja,

Z Z
(∇u1 ∇v + α∇u2 ∇v) = (f1 v + αf2 v), ∀v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

Utilizando as propriedades do produto interno no primeiro membro da


igualdade e a propriedade distributiva no segundo membro, obtemos

Z Z
(∇u1 + α∇u2 )∇v = (f1 + αf2 )v, ∀v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

Da linearidade do operador gradiente vem que

Z Z
∇(u1 + αu2 )∇v = (f1 + αf2 )v, ∀v ∈ H01 (Ω),
Ω Ω

mostrando que S(f1 + αf2 ) = S(f1 ) + αS(f2 ).


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 44

Vamos mostrar que S é contı́nuo.


Usando a solução u como Função Teste na definição de solução fraca, da
Desigualdade de Cauchy-Schwarz e das Imersões Contı́nuas de Sobolev, obtemos
Z
k S(f ) k2 =k u k2 = fu

≤ |u|L2 (Ω) |f |L2 (Ω) ≤ Ckuk|f |L2 (Ω) = C k S(f ) k |f |L2 (Ω) .

Assim,

k S(f ) k≤ C|f |L2 (Ω) ,

mostrando que S é limitado e, por ser linear, é contı́nuo.

Observação 4.1 Notemos que

S : L2 (Ω) → H01 (Ω) ,→ L2 (Ω),

onde H01 (Ω) ,→ L2 (Ω) é a imersão compacta de H01 (Ω) em L2 (Ω). Assim, da
continuidade do operador S,

S : L2 (Ω) → L2 (Ω)

é um operador compacto, isto é: um operador que leva sequências limitadas


em subsequências convergentes em L2 (Ω). Daqui em diante, sempre que
mencionarmos o operador S, estaremos fazendo referência a esse operador
compacto.

Lema 4.2 O operador S : L2 (Ω) → L2 (Ω) é um operador positivo, isto é:

hS(f ), f iL2 (Ω) ≥ 0.

Demonstração: Consideremos u = S(f ) e notemos que

Z Z
hS(f ), f iL2 (Ω) = hu, f iL2 (Ω) = uf = ∇u∇u = kuk2 ≥ 0.
Ω Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 45

Lema 4.3 O operador S : L2 (Ω) → L2 (Ω) é um operador simétrico, isto é:

hS(f ), giL2 (Ω) = hf, S(g)iL2 (Ω) .

Demonstração: Sejam u = S(f ) e v = S(g). Então,

Z Z
∇u∇w1 = f w1 , para todo w1 ∈ H01 (Ω) (4.3)
Ω Ω

Z Z
∇v∇w2 = gw2 , ∀w2 ∈ H01 (Ω). (4.4)
Ω Ω

Considerando w2 = u em (4.4) e w1 = v em (4.3), resulta que

Z Z Z
gu = ∇u∇v = f v.
Ω Ω Ω

mostrando que

hS(f ), giL2 (Ω) = hS(g), f iL2 (Ω) , ∀ f, g ∈ L2 (Ω).

Lema 4.4 O operador S : L2 (Ω) → L2 (Ω) é injetivo.

Demonstração: Notemos que


Z
0 = S(f ) = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω).

como L2 (Ω) ⊂ L1loc (Ω) e C0∞ (Ω) = H01 (Ω), resulta que f ∈ L1loc (Ω) e

Z
f v = 0, ∀ v ∈ C0∞ (Ω).

Logo, do Lema de Du Bois Raymond concluı́mos que f = 0.

Observação 4.2 O operador S : L2 (Ω) → L2 (Ω) não possui autovalor nulo.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 46

Os próximos resultados são propriedades do operador S. Para demonstrar


essas propriedades, precisaremos de alguns resultados da Análise Funcional cujas
demonstrações podem ser encontradas em [7].

Teorema 4.2 Sejam H um Espaço de Hilbert separável e T : H → H um


operador linear, compacto e autoadjunto. Então H admite uma base hilbertiana
formada por autofunções de T , ou seja, admite uma base (uj ) com j ∈ IN, tais
que T uj = µj uj , < ui , uj >H = 0 para i 6= j e < uj , uj >H = 1. Além disso, a
dimensão de qualquer autoespaço é finita.

Teorema 4.3 Sejam E um Espaço Normado com dimE = ∞ e T : E → E um


operador linear compacto. Então
(1) 0 ∈ σ(T ).
(2) σ(T )\{0} = V P (T )\{0}
(3) Ocorre uma, e somente uma, das seguintes alternativas:
(a) σ(T ) = {0};
(b) σ(T )\{0} é finito e, portanto, discreto;
(c) σ(T )\{0} é uma sequência convergindo para zero, onde V P (T ) é o conjunto
dos autovalores de T , σ(T ) é o espectro do operador T , ou seja, o complementar
em relação a IR do conjunto ρ(T ) formado por todos os reais λ que fazem de
T − λI uma bijeção de E em E, chamado resolvente.

Teorema 4.4 Sejam H um Espaço de Hilbert. T : H → H é um operador


autoadjunto se, e somente se, T : H → H é simétrico.

Agora podemos enunciar e demonstrar um dos principais resultados deste


capı́tulo.

Lema 4.5 O operador S : L2 (Ω) → L2 (Ω) admite uma sequência (µn ) de


autovalores com
lim µn = 0
n→∞

e L2 (Ω) possui uma base hilbertiana formada por autofunções de S.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 47

Demonstração: Desde que L2 (Ω) é um Espaço de Hilbert separável e S :


L2 (Ω) → L2 (Ω) é um operador simétrico, então do Teorema 4.4, o operador
S é autoadjunto. Além disso, S é compacto. Do Teorema 4.2, L2 (Ω) possui uma
base hilbertiana formada por autofunções de S. Para terminar a demonstração,
vamos mostrar que os ı́tens (a) e (b) do Teorema 4.3 não podem ocorrer. De fato,
se σ(S) = {0}, desde que V P (S) ⊂ σ(S), terı́amos que zero é um autovalor de
S, o que é um absurdo.
Se σ(S)\{0} fosse finito, do Teorema 4.2 terı́amos que L2 (Ω) é finito, o que é
um absurdo também.
Logo,
σ(S)\{0} = V P (S)\{0}
é uma sequência convergindo para zero.

Lema 4.6 Os autovalores do operador S : L2 (Ω) → L2 (Ω) são positivos.

Demonstração: Seja λ um autovalor de S. Assim, existe uma função f ∈ L2 (Ω)


com f 6= 0 tal que

S(f ) = λf.

Assim,

hS(f ), f iL2 (Ω) = hλf, f iL2 (Ω) = λ | f |2L2 (Ω) ≥ 0.

Portanto, λ ≥ 0 e, como λ 6= 0, concluı́mos que λ > 0.

Observação 4.3 Desde que V P (S) = µn → 0. podemos reordenar (µn ) tal que

µ1 > µ2 > µ3 > ... > µn → 0.

Definição 4.1 Dizemos que λ é um autovalor do laplaciano quando


Z Z
∇φ∇v = λφv, para todo v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

A função φ 6= 0 é chamada autofunção de (−∆, H01 (Ω)) associada ao autovalor


λ.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 48

1
Lema 4.7 O número real µ é um autovalor para S se, e somente se, λ = µ

um autovalor de (−∆, H01 (Ω)).

Demonstração: Se µ é um autovalor do operador S, então existe f 6= 0 em


L2 (Ω) tal que
S(f ) = µf ∈ H01 (Ω).

Logo, Z Z
∇(µf )∇v = f v,
Ω Ω

o qual é equivalente a Z Z
∇f ∇v = λ f v,
Ω Ω

onde λ = µ1 .

Observação 4.4 Concluı́mos do Lema anterior que o operador (−∆, H01 (Ω))
possui uma sequência de autovalores (λn ) tais que

λ1 < λ2 < λ3 < ... < λn → +∞.

4.4 Regularidade das autofunções associadas


aos autovalores do operador (−∆, H01(Ω))
Para esta seção, precisaremos de mais informações sobre os Espaços de Sobolev
e recordaremos os Teoremas de Agmon-Douglis-Nirenberg e de Schauder.
Para 1 ≤ p < ∞, k ∈ IN e Ω um domı́nio do IRN definimos os Espaços de
Banach:
W k,p (Ω) = {u ∈ Lp (Ω) : Dα u ∈ Lp (Ω) : |α| ≤ k}

com a norma  X Z 1/p


α p
kukW k,p (Ω) = |D u|

0≤|α|≤k
e
W0k,p (Ω) = C0∞ (Ω)

com respeito à norma k.kW k,p (Ω) .


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 49

Na definição de W k,p (Ω), Dα é o seguinte operador:

∂ |α|
Dα = ,
∂xα1 1 ∂xα2 2 ...∂xαNN
N
N
X
onde α = (α1 , α2 , ..., αN ) ∈ IN e |α| = αj .
j=1
Alguns exemplos do operador Dα .
∂ 6u
Se α = (1, 2, 3), então Dα u = .
∂x1 ∂x22 ∂x33
∂ 5u
Se α = (1, 0, 4, 0), então Dα u = .
∂x1 ∂x43
Notemos que D(0,0,...,0) u = u e W 1,2 (Ω) = H 1 (Ω).
De um modo geral, é usual a seguinte notação:

W k,2 (Ω) = H k (Ω) = {u ∈ L2 (Ω) : Dα u ∈ L2 (Ω) : |α| ≤ k}.

Uma importante propriedade sobre W k,p (Ω) são as seguintes Imersões


Contı́nuas.
Para kp > N > (k − 1)p tem-se

W j+k,p (Ω) ,→ C j,λ (Ω) para 0 < λ ≤ k − (N/p).

Para N = (k − 1)p tem-se

W j+k,p (Ω) ,→ C j,λ (Ω) para 0 < λ < 1.

Vamos enunciar agora o Teorema de Agmon-Douglis-Nirenberg.

Teorema 4.5 (de Agmon-Douglis-Nirenberg) Sejam Ω ⊂ IRN um domı́nio


limitado e f ∈ Lr (Ω) com r > 1. Se u ∈ H01 (Ω) é solução fraca do problema
linear (
−∆u = f (x) em Ω
u = 0 sobre ∂Ω,
então u ∈ W 2,r (Ω) e existe C > 0, independente de u tal que

kukW 2,r (Ω) ≤ C|f |Lr (Ω) .

Além disso, se f ∈ W k,r (Ω) então u ∈ W k+2,r (Ω).


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 50

Teorema 4.6 (de Schauder) Sejam Ω ⊂ IRN um domı́nio limitado e f ∈


C 0,α (Ω). Então existe u ∈ C 2,α (Ω) solução do problema linear
(
−∆u = f (x) em Ω
u = 0 sobre ∂Ω

e existe C > 0, independente de u tal que

kukC 2,α (Ω) ≤ C|f |C 0,α (Ω) .

Além disso, se f ∈ C k,r (Ω) então u ∈ C k+2,r (Ω).

Vamos ao principal resultado deta secção

Teorema 4.7 Se φ ∈ H01 (Ω) é uma autofunção associada a um autovalor λ do


operador (−∆, H01 (Ω)), então φ ∈ C ∞ (Ω).

Demonstração: Notemos que


(
−∆φ = λφ em Ω
φ = 0 sobre ∂Ω.

Assim φ ∈ H01 (Ω) ⊂ L2 (Ω). Usando o Teorma de Agmon-Douglis-Nirenberg


k vezes, obtemos:

φ ∈ H 2 (Ω) ⇒ φ ∈ H 4 (Ω) ⇒ φ ∈ H 6 (Ω) ⇒ ... ⇒ φ ∈ H k (Ω).

Para k suficientemente grande, temos que W k,r (Ω) ,→ C 1,α (Ω). Portanto,
φ ∈ C 1,α (Ω). Usando o Teorma de Schauder k vezes, obtemos:

φ ∈ C 1,α (Ω) ⇒ C 3,α (Ω) ⇒ φ ∈ C 5,α (Ω) ⇒ ... ⇒ φ ∈ C k,α (Ω).

Como k é arbitrário, concluı́mos que φ ∈ C ∞ (Ω).

4.5 Caracterização variacional dos autovalores


do operador (−∆, H01(Ω))
Vamos começar com a caracterização do primeiro autovalor λ1 . Veremos que o
inverso deste número real é a melhor constante na Desigualdade de Poincaré.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 51

Consideremos os funcionais

Z
J: H01 (Ω) → IR definido por J(u) = |∇u|2

e Z
F : H01 (Ω) → IR definido por F (u) = |u|2

e a variedade
M = {u ∈ H01 (Ω) : F (u) = 1}.

Do Teorema 3.1 (dos Multiplicadores de Lagrange), existem λ, J∞ ∈ IR e


u0 ∈ H01 (Ω) tais que
J 0 (u0 ) = λF 0 (u0 ),

onde J(u0 ) = J∞ = R inf J(u).


|u|2 =1

Assim Z Z
∇u0 ∇v = λ u0 v,
Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω).


Portanto, u0 é uma autofunção associada a λ, autovalor do operador
(−∆, H01 (Ω)).
Considerando v = u0 , obtemos

ku0 k2 = λ|u0 |L2 (Ω) .

Logo
J∞ = J(u0 ) = ku0 k2 = λ|u0 |L2 (Ω) = λ,

de onde concluı́mos que


λ1 ≤ J∞ .

Consideremos agora φ1 a autofunção associada a λ1 , primeiro autovalor do


operador (−∆, H01 (Ω)). Assim, |φ1 |L2 (Ω) = 1 e
Z Z
∇φ1 ∇v = λ1 φ1 v,
Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω).


Fazendo v = φ1 encontarmos
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 52

J∞ ≤ J(φ1 ) = kφ1 k2 = λ1 |φ1 |2L2 (Ω) = λ1 ,

implicando que
λ1 = J∞ = min kuk2 .
|u|L2 (Ω) =1

u
Agora para cada u ∈ H01 (Ω) com u 6= 0, consideremos v = |u|L2 (Ω)
. Temos que

kuk2
λ1 ≤ kvk2 = .
|u|2L2 (Ω)

Logo Z
1 Z
|u|2 ≤ |∇u|2 ,
Ω λ1 Ω
mostrando que o inverso do primeiro autovalor do operador (−∆, H01 (Ω)) é a
melhor ( menor) constante que verifica a Desigualdade de Poincaré. Além disso,

kuk2
λ1 = min kvk2 = min 2
,
|v|L2 (Ω) =1 u∈H0 (Ω),u6=0 |u|L2 (Ω)
1

o qual é a caracterização variacional de λ1 .


Para mostrar a caracterização variacional dos demais autovalores,
consideremos E1 o subespaço fechado de H01 (Ω) dado por

E1 = Vλ⊥1 = {v ∈ H01 (Ω) : v ⊥ Vλ1 }.

Temos que E1 é um Espaço de Banach com a norma induzida de H01 (Ω).


Considerando agora a variedade

M1 = {u ∈ E1 : |u|L2 (Ω) = 1},

segue-se do Teorema dos Multiplicadores de Lagrange que

J 0 (u) = λ2 F 0 (u).

Repetindo os argumentos acima obtemos

kuk2
λ2 = min .
u∈E1 ,u6=0 |u|2 2
L (Ω)
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 53

Novamente, repetindo os mesmo argumentos para o subespaço

Vλ2 )⊥
M
E2 = (Vλ1

e para a variedade
M2 = {u ∈ E2 : |u|L2 (Ω) = 1},

mostra-se que λ3 tem a seguinte caracterização variacional

kuk2
λ3 = min .
u∈E2 ,u6=0 |u|2 2
L (Ω)

De um modo geral,
kuk2
λj = min .
u∈Ej−1 ,u6=0 |u|2 2
L (Ω)

4.6 Propriedades do autovalor λ1 do operador


(−∆, H01(Ω))
Mostraremos ainda duas interessantes propriedades relativas ao primeiro
autovalor λ1 do operador (−∆, H01 (Ω)). Para isso, vamos recordar o Princı́pio
do Máximo Forte, cuja demonstração pode ser encontrada em [13].

Teorema 4.8 Seja Ω um domı́nio do IRN e

u ∈ C 2 (Ω)
\
C(Ω) com − ∆u ≥ 0(−∆u ≤ 0) em Ω.

Suponha que exista x0 ∈ Ω tal que

u(x0 ) = inf u(x) (u(x0 ) = sup u(x)).


x∈Ω x∈Ω

Então u é constante.

Enunciaremos a primeira propriedade.

Lema 4.8 O número real λ1 é o único autovalor cujas autofunções têm sinal
definido. Isto é, apenas as autofunções associadas a λ1 são estritamente positivas
ou estritamente negativas.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 54

Demonstração: Consideremos ϕ uma autofunção associada a λ1 e suponha


que

ϕ+ 6= 0,

onde ϕ+ (x) = max {ϕ(x), 0} ≥ 0 e ϕ− (x) = max {−ϕ(x), 0} ≥ 0. Note que

ϕ = ϕ+ − ϕ−

| ϕ |= ϕ+ + ϕ− .

Desde que ϕ ∈ H01 (Ω), temos ϕ+ , ϕ− ∈ H01 (Ω) e


Z Z
∇ϕ∇v = λ1 ϕv,
Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω).


Escolhendo v = ϕ+ , temos

k ϕ+ k2 = λ1 |ϕ+ |22 .

Assim,
k ϕ+ k2 ϕ+
λ1 = = J( )= min J(u)
|ϕ+ |22 |ϕ+ |22 u∈H01 (Ω),u6=0

e do Teorema Multiplicadores de Lagrange, resulta que

ϕ+
w=
| ϕ+ |22
é uma autofunção associada a λ1 , isto é,
(
−∆w = λ1 w em Ω
w = 0 sobre ∂Ω.

Temos que w ∈ C ∞ (Ω), w ≥ 0 e −∆w ≥ 0. Afirmamos que w(x) > 0, para


todo x ∈ Ω, pois se existisse x ∈ Ω, tal que w(x) = 0, terı́amo w constante e
como w = 0 em ∂Ω, concluiriamos que w = 0 em Ω, o que é um absurdo.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 55

Logo,
w(x) > 0, ∀ x ∈ Ω,

ou seja,
ϕ(x) = ϕ+ (x) > 0, ∀ x ∈ Ω.

Note que se tivessemos suposto ϕ− 6= 0, teriamos encontrado

ϕ(x) < 0, ∀ x ∈ Ω.

Seja agora ϕ uma autofunção associada a λ1 e seja ψ uma autofunção associada


a λj com j ≥ 2. Assim
Z Z
∇ϕ∇h = λ1 ϕh, ∀ h ∈ H01 (Ω)
Ω Ω

Z Z
∇ψ∇v = λj ψv, ∀ v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω

Considerando h = ψ e v = ϕ, obtemos

Z Z
∇ϕ∇ψ = λ1 ϕψ
Ω Ω

Z Z
∇ψ∇ϕ = λj ψϕ.
Ω Ω

Subtraindo membro a membro as igualdades acima, resulta que

Z
0 = (λj − λ1 ) ψϕ.

Desde que λj − λ1 > 0 e ϕ tem sinal definido, necessariamente ψ muda de sinal.

Lema 4.9 O autoespaço Vλ1 associado a λ1 tem dimensão 1.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 56

Demonstração: Sejam ϕ e ψ autofunções associadas a λ1 . Consideremos os


conjuntos

n o
A = t ∈ IR : ϕ(x) + tψ(x) ≥ 0, ∀ x ∈ Ω

n o
B = t ∈ IR : ϕ(x) + tψ(x) ≤ 0, ∀ x ∈ Ω .

Observe que A e B são fechados, visto que tomando arbitrariamente um elemento


t ∈ A, existirá uma sequência (tn ) ⊂ A tal que

tn → t.

Desde que tn ∈ A para todo n ∈ IN, resulta que,

ϕ(x) + tn ψ(x) ≥ 0, ∀ x ∈ Ω.

Passando ao limite de n → ∞, obtemos

ϕ(x) + tψ(x) ≥ 0, ∀ x ∈ Ω,

implicando que t ∈ A. De forma análoga, é possı́vel mostrar que B é fechado.


Vamos mostrar que A e B são ambos não-vazios. Para isso devemos considerar
os seguintes casos

(i) ϕ(x) > 0 e ψ(x) > 0, ∀ x ∈ Ω,


(ii) ϕ(x) > 0 e ψ(x) < 0, ∀ x ∈ Ω,
(iii) ϕ(x) < 0 e ψ(x) > 0, ∀ x ∈ Ω,
(iv) ϕ(x) < 0 e ψ(x) < 0, ∀ x ∈ Ω.

Estudaremos o primeiro caso. Neste caso vemos que 1 ∈ A. Considerando,


por contradição, que B = , temos que A = IR.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 57

Consideremos x0 ∈ Ω tal que ϕ(x0 ) = max ϕ(x), x1 ∈ Ω e (tn ) ⊂ IR tal que


x∈Ω

ϕ(x0 )
lim tn = > 0.
n→∞ ψ(x1 )

Desde que ϕ(x0 ) > 0 e ψ(x1 ) > 0, qualquer que seja n ∈ IN, temos

ϕ(x) − tn ψ(x) ≥ 0, ∀ x ∈ Ω.

Em particular
ϕ(x1 ) ≥ tn ψ(x1 ), ∀ n ∈ IN.

Passando ao limite de n → ∞, obtemos

ϕ(x0 )
ϕ(x1 ) ≥ ψ(x1 ) = ϕ(x0 )
ψ(x1 )

contradizendo o fato de ϕ(x0 ) ser o valor máximo de ϕ em Ω. Mostrando que B


também é não-vazio.
Os casos (ii), (iii) e (iv), seguem de argumentos semelhantes considerando no
caso (ii) que 0 ∈ A. No caso (iii), 0 ∈ B e no caso (iv), 1 ∈ B.
Desde que A ∪ B = IR e IR é conexo, devemos ter

A ∩ B = A ∩ B = A ∩ B 6=

pois do contrário A ∪ B seria uma cisão não trivial para IR, contradizendo sua
conexidade. Logo, existe t0 ∈ A ∩ B. Isto é existe t0 ∈ IR tal que

ϕ(x) − t0 ψ(x) = 0, ∀ x ∈ Ω,

mostrando que ϕ e ψ são linearmente dependentes. Portanto,

dim Vλ1 = 1.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 58

4.7 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 4


1. Encontre os autovalores e as autofunções do problema

00
(
−y = λy em (0, π)
(P )
y(0) = y(π) = 0.

2. Dado f ∈ L2 (Ω), use o Teorema de Lax-Milgran e mostre que o Problema


Linear
(
−∆u = f (x) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω

possui uma única solução fraca onde Ω é um domı́nio limitado.

3. Seja λ1 o primeiro autovalor do operador (−∆, H01 (Ω)). Mostre que, para
todo λ < λ1 ,
Z Z 1/2
2 2
kukλ = |∇u| dx − λu dx
Ω Ω

define uma norma equivalente em H01 (Ω) equivalente a norma usual.

4. Seja Ω um domı́nio limitado do IRN e 2 < q < 2∗ . Mostre que o problema


(
−∆u = λu + |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω

possui solução fraca positiva se, e somente se, λ < λ1 .

5. Consideremos o problema

(
−∆u = f (x, u) em Ω
(P1 )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN .


a) Assumindo que f (x, v) ∈ L2 (Ω) para todo v ∈ L2 (Ω), justifique que o
problema
(
−∆u = f (x, v) em Ω
(P2 )
u = 0 sobre ∂Ω,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 59

com v fixado tem solução única.


b) Consideremos o operador T : L2 (Ω) → L2 (Ω) definido por T (v) =
S(f (., v)), onde S é o operador solução associado a (P2 ).
Assumindo as hipóteses
i) Existe M tal que:

|f (x, t) − f (x, s)| ≤ M |t − s| para todo t, s ∈ IR e para todo x ∈ Ω

e
kSkM < 1.

Mostre que T é uma contração e conclua pelo Teorema do Ponto Fixo de


Banach que o problema (P ) tem solução única.
Capı́tulo 5

Regularidade da solução do
problema superlinear subcrı́tico

5.1 Introdução
Na seção 3.3, mostramos que o Problema Superlinear Subcrı́tico possui uma
solução fraca não trivial. Na seção seguinte, usaremos um método iterativo,
chamado bootstrap, para mostar que esta solução é clássica.

5.2 Método Bootstrap


Nessa seção, nossa apresentação seguirá o trabalho [3] de Claudianor Alves.
Consideremos o problema
(
−∆u = f (x, u) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN e a não linearidade f tendo um crescimento


superlinear subcrı́tico, ou seja

|f (x, t)| ≤ C1 + C2 |t|q−1

com 1 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 1 < q se N = 1, 2. Com esta condição de crescimento,



se u é uma solução do problema (P ), então fe = f (., u(.)) ∈ L2 /(q−1) (Ω). Assim,
∗ /(q−1)
do Teorema 4.5 (de Agmon, Douglis e Nirenberg), temos que u ∈ W 2,2 (Ω).
Agora vamos considerar dois casos:

60
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 61

q−1 2
1) 2∗
− N
≤ 0.
q−1 2
2) 2∗
− N
> 0.
q−1 2
Supondo inicialmente o caso 1, ou seja, que 1) 2∗
− N
≤ 0. Então, de
propriedades dos Espaços de Sobolev
∗ /(q−1)
W 2,2 (Ω) ,→ Ls (Ω) continuamente, para todo s ≥ 1.

Fixando s > N (q − 1), temos que u ∈ Ls (Ω) e fe ∈ Ls/(q−1) (Ω). Novamente,


do Teorema 4.5 (de Agmon, Douglis e Nirenberg), temos que u ∈ W 2,s/(q−1) (Ω),
para todo s > N (q − 1).
Das imersões continuas de Sobolev,
N (q − 1)
W 2,s/(q−1) (Ω) ,→ C 1,α (Ω) com 0 < α < 1 − ,
s
ou seja, u ∈ C 1,α (Ω). Assumindo a hipótese que f (., u(.)) ∈ C 0,α (Ω), temos
que fe ∈ C 0,α (Ω). Logo, do Teorema 4.6(do Teorema de Schauder), segue-se que
u ∈ C 2,α (Ω).
q−1 N (q−1)−22∗
Suponhamos agora o caso 2, ou seja, que 2) 2∗
− N2 = N 2∗
> 0. Então,
de propriedades dos Espaços de Sobolev
∗ /(q−1)
W 2,2 (Ω) ,→ Lt1 (Ω),
1 q−1 2 N (q−1)−22∗ N 2∗
onde t1
= 2∗
− N
= N 2∗
, ou seja, t1 = N (q−1)−22∗
.
Repetindo os argumentos anteriores, temos que fe ∈ Lt1 /(q−1) (Ω). Novamente,
do Teorema 4.5 (de Agmon, Douglis e Nirenberg), temos que u ∈ W 2,t1 /(q−1) (Ω).
Novamente, vamos considerar dois casos:
q−1 2
3) t1
− N
≤ 0.
q−1 2
4) t1
− N
> 0.
q−1 2
Supondo inicialmente o caso 3, ou seja, que 3) t1
− N
≤ 0. Então, de
propriedades dos Espaços de Sobolev

W 2,t1 /(q−1) (Ω) ,→ Ls (Ω) continuamente, para todo s ≥ 1.

Fixando s > N (q − 1), temos que u ∈ Ls (Ω) e fe ∈ Ls/(q−1) (Ω). Novamente,


do Teorema 4.5 (de Agmon, Douglis e Nirenberg), temos que u ∈ W 2,s/(q−1) (Ω),
para todo s > N (q − 1).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 62

Das imersões continuas de Sobolev,


N (q − 1)
W 2,s/(q−1) (Ω) ,→ C 1,α (Ω) com 0 < α < 1 − ,
s
ou seja, u ∈ C 1,α (Ω). Assumindo a hipótese que f (., u(.)) ∈ C 0,α (Ω), temos
que fe ∈ C 0,α (Ω). Logo, do Teorema 4.6(do Teorema de Schauder), segue-se que
u ∈ C 2,α (Ω).
q−1 N (q−1)−2t1
Suponhamos agora o caso 4, ou seja, que 2) t1
− N2 = N t1
> 0. Então,
de propriedades dos Espaços de Sobolev

W 2,t1 /(q−1) (Ω) ,→ Lt2 (Ω),


1 q−1 2 N (q−1)−2t1 N t1
onde t2
= t1
− N
= N t1
, ou seja, t2 = N (q−1)−2t1
.
Repetindo os argumentos anteriores, temos que fe ∈ Lt2 /(q−1) (Ω). Novamente,
do Teorema 4.5 (de Agmon, Douglis e Nirenberg), temos que u ∈ W 2,t2 /(q−1) (Ω).
Novamente, vamos considerar dois casos:
q−1 2
5) t2
− N
≤ 0.
q−1 2
6) t2
− N
> 0.
Notemos que nos casos ı́mpares, sempre chegamos que u ∈ C 2,α (Ω). Nos casos
pares, sempre chegamos ao estudo de dois novos casos.
Vamos considerar assim, somente os casos pares. Por recorrência, encontramos
1 q−1 2
= − , onde t0 = 2∗ .
tj tj−1 N

Portanto
1 q−1 2
= ∗
− ,
t1 2 N
1 q−1 2 (q − 1)2 2
= − = − q,
t2 t1 N 2∗ N
1 q−1 2 (q − 1)3 2
= − = ∗
− ((q − 1)2 + (q − 1) + 1),
t3 t2 N 2 N
4
1 q−1 2 (q − 1) 2
= − = ∗
− ((q − 1)3 + (q − 1)2 + (q − 1) + 1).
t4 t3 N 2 N
No caso geral, temos
1 (q − 1)j 2 j−1 j 1 2 2
 
k
X
= ∗
− (q − 1) = (q − 1) ∗ − − .
tj 2 N k=0 2 N (q − 1) − 1 N (q − 1) − 1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 63

Notemos que
1 2
 

− < 0 ⇔ q < 2∗ .
2 N (q − 1) − 1

Logo, existe j ∈ IN tal


q−1 2
− ≤0
tj N
e a iteração finaliza após um número finito de passos.

5.3 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 5


1. Seja Ω um domı́nio limitado do IRN e 1 < q < 2. Mostre que a solua̧o fraca
do problema
(
−∆u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω

é uma solução clássica.


Capı́tulo 6

O Princı́pio Variacional de
Ekeland

6.1 Introdução
Neste capı́tulo vamos enunciar e demonstrar o Princı́pio Variacional de Ekeland.
Trata-se de um Teorema provado por Ekeland em 1972 e é uma poderosa
ferramenta que resolve uma ampla classe de Equações Diferenciais Elı́pticas, como
por exemplo, o Problema Sublinear, o Problema do tipo Côncavo e Convexo, o
Problema Superlinar Subcrı́tico.

6.2 Princı́pio Variacional de Ekeland


Teorema 6.1 (Princı́pio Variacional de Ekeland) Sejam X um Espaço
Métrico Completo e Φ : X −→ (−∞, +∞] um Funcional Semicontı́nuo
Inferiormente. Suponhamos que Φ seja limitado inferiormente e sejam  > 0, λ >
0 e u ∈ X dados tais que

Φ(u) ≤ inf Φ + .
X 2
Então existe v ∈ X tal que

(a) Φ(v ) ≤ Φ(u);


1
(b) d(u, v ) ≤ ;
λ

64
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 65

(c) Para cada w 6= v ∈ X, Φ(v ) < Φ(w) + λd(v , w).

Demonstração: Desde que, se d é métrica, implica que λd também é uma


métrica, nesta demonstração é suficiente considerar λ = 1.
Consideremos a relação em X definida da seguinte forma:

w ≺ v ⇐⇒ Φ(w) ≤ Φ(v) − d(w, v).

Provaremos que ≺ é uma relação de ordem parcial em X, ou seja, ≺ é refexiva,


anti-simétrica e transitiva. De fato, considerando w ∈ X, então,

Φ(w) ≤ Φ(w) − d(w, w) =⇒ Φ(w) = Φ(w) ⇐⇒ w ≺ w,

provando que ≺ é reflexiva.


Consideremos agora w, v ∈ X, tais que w ≺ v e v ≺ w. Então

Φ(w) ≤ Φ(v) − d(w, v)

Φ(v) ≤ Φ(w) − d(v, w).

Segue das duas expressões anteriores que

2d(v, w) ≤ 0 =⇒ d(v, w) = 0 ⇐⇒ w = v,

pravando que ≺ é anti-simétrica.


Sejam w, v e u ∈ X tais que w ≺ v e v ≺ u. Então

Φ(w) ≤ Φ(v) − d(w, v)

Φ(v) ≤ Φ(u) − d(v, u),

de onde concluı́mos que

Φ(w) ≤ Φ(u) − d(v, u) − d(w, v),


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 66

o que implica

Φ(w) ≤ Φ(u) − d(w, u) + d(w, v) − d(w, v)


≤ Φ(u) − d(w, u) ⇐⇒ w ≺ u.

Provamos, portanto que ≺ é transitiva e assim, ≺ é uma relação de ordem


parcial em X.
Definamos agora uma sequência (An ) de subconjuntos de X. Comecemos com

u0 = u

e seja
A0 = {w ∈ X : w ≺ u0 } ,
onde u1 ∈ A0 satisfaz
1
Φ(u1 ) ≤ inf Φ + .
A0 1
.
Consideremos A1 = {w ∈ X : w ≺ u1 }, com u2 ∈ A1 satisfazendo
1
Φ(u2 ) ≤ inf Φ + .
A1 2

Seja A2 = {w ∈ X : w ≺ u2 }, com u3 ∈ A2 satisfazendo


1
Φ(u3 ) ≤ inf Φ + .
A2 3
Por recorrência, temos

An = {w ∈ X : w ≺ un } com un+1 ∈ An

tal que
1
Φ(un+1 ) ≤ inf Φ + .
An n+1
Notemos que An ⊃ An+1 para todo n ∈ IN, pois para w um elemento arbitrário
em An+1 , obtemos w ≺ un+1 . Desde que un+1 ∈ An segue que un+1 ≺ un e por
transitividade concluimos que w ≺ un . Portanto, w ∈ An .
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 67

Além disso, An é fechado, pois considerando {wk } ⊂ An tal que wk −→ w ∈


X, segue que

wk ≺ un ⇐⇒ Φ(wk ) ≤ Φ(un ) − d(wk , un ).

Como Φ é semicontı́nua inferiormente, então,

lim inf Φ(wk ) ≥ Φ(w).


k→+∞

Assim,

Φ(w) ≤ lim inf [Φ(un ) − d(wk , un )]


k→+∞
≤ lim inf Φ(un ) − lim inf d(wk , un )
k→+∞ k→+∞
≤ Φ(un ) − d(w, un ),

mostrando que

w ≺ un ⇐⇒ w ∈ An ,

ou seja, que An é fechado.


Notando que
diamAn = sup d(w, v),
w,v∈An

vamos mostrar que

diamAn+1 −→ 0 quando n → ∞.

Se w ∈ An+1 , então, w ≺ un+1 ≺ un e

d(w, un+1 ) ≤ Φ(un+1 ) − Φ(w).

Desde que
1
Φ(un+1 ) ≤ inf Φ +
An n+1
e

−Φ(w) ≤ − inf Φ,
An
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 68

temos
1 1
d(w, un+1 ) ≤ inf Φ + − inf Φ = ,
An n + 1 An n+1
ou seja,
1
d(w, un+1 ) ≤ .
(n + 1)

Consideremos agora w, v ∈ An+1 . Assim,


2
d(w, v) ≤ d(w, un+1 ) + d(un+1 , v) ≤ .
(n + 1)

Desde que
2
sup d(w, v) ≤ ,
w,v∈An+1 (n + 1)

obtemos
2
0 ≤ lim sup d(w, v) ≤ lim
n→+∞ w,v∈A n→+∞ (n + 1)
n+1

de onde concluimos que

diamAn+1 −→ 0 quando n → +∞.

Observemos que o único ponto de intersecção dos An satisfaz os ı́tens (a), (b)
\
e (c) do teorema. De fato, para An = {v } e desde que v ∈ A0 , temos da
n
definição de A0 que

v ≺ u0 = u ⇐⇒ Φ(v ) ≤ Φ(u) − d(v , u)

e portanto

Φ(v ) ≤ Φ(u),

provando (a). Por outro lado,


1
d(u, v ) ≤ (Φ(u) − Φ(v ))

1
≤ (inf Φ +  − inf Φ) = 1,
 X X
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 69

provando (b).
Além disso, se w 6= v , tem-se que w não se relaciona com v , pois caso
\
contrário, terı́amos w ∈ An . Logo
n

Φ(w) > Φ(v ) − d(v , w),

provando (c).
Uma consequência importante deste Teorema é o seguinte:

Corolário 6.1 Sejam E um Espaço de Banach e I : E → IR um Funcional


Semicontı́nuo Inferiormente que seja limitado inferiormente. Suponhamos que I
seja diferenciável no sentido de Frechét em todo u ∈ E. Então, dado δ > 0, existe
uδ ∈ E tal que
δ
I(uδ ) ≤ inf I(u) +
u∈E 2
e
kI 0 (uδ )kE 0 ≤ δ.

Demonstração: Considerando δ = λ =  no Princı́pio Variacional de Ekeland,


do ı́tem (a), temos
δ
I(uδ ) ≤ I(u) ≤ inf I +
E 2
e do ı́tem (c)
I(uδ ) < I(u) + kuδ − uk,

para todo u 6= uδ . Escolhendo u = uδ + δtv, para todo t > 0 e para todo v ∈ E,


temos
I(uδ ) < I(uδ + δtv) + δtkvk.

Assim,
I(uδ ) − I(uδ + δtv)
< δkvk
t
e passando ao limite de t → 0, encontrmos
v
−I 0 (uδ ) < δ,
kvk

para todo v ∈ E. Em particular, para −v ∈ E, temos


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 70

v
I 0 (uδ ) < δ,
kvk
implicando
v
|I 0 (uδ ) | < δ,
kvk
ou seja
v
kI 0 (uδ )kE 0 = sup |I 0 (uδ ) | < δ.
kvk≤1 kvk

Para enunciar e demonstrar uma segunda consequência do Princı́pio


Variacional de Ekeland, vamos precisar da seguinte definição:

Definição 6.1 (Sequência Palais-Smale e Condição Palais-Smale)


Sejam E um Espaço de Banach e I : E → IR um Funcional de classe C 1 . Se
existirem c ∈ IR e (un ) ⊂ E tais que

I(un ) → c

e
I 0 (un ) → 0,

dizemos que (un ) é uma sequência Palais-Smale no nı́vel c para I, ou


de forma resumida, (un ) é uma sequência (P S)c para I. Se tal sequência
possui uma subsequência convergente, diz-se que I satisfaz a condição Palais-
Smale no nı́vel c ou que I satisfaz a condição (P S)c .

Corolário 6.2 Sejam E um Espaço de Banach e I :→ IR um Funcional de classe


C 1 que seja limitado inferiormente. Então, existe (un ) uma sequência Palais-
Smale no nı́vel c para I, onde c = inf I(u).
u∈E

Demonstração: Do Corolário 6.1 para δ = n1 , temos

1
inf I(u) ≤ I(un ) ≤ inf I(u) +
u∈E u∈E 2n
e
1
kI 0 (un )kE 0 ≤ .
n
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 71

Passando ao limite de n → ∞ encontramos

I(un ) → c = inf I(u)


u∈E

e
I 0 (un ) → 0.

Corolário 6.3 Sejam E um Espaço de Banach e I :→ IR um Funcional de


classe C 1 que seja limitado inferiormente. Se I satisfaz a condição (P S)c com
c = inf I(u), então c é atingido em um ponto u0 ∈ E e u0 é ponto crı́tico de I.
u∈E

Demonstração: Do Corolário 6.2, existe (un ) ∈ E tal que

I(un ) → c = inf I(u)


u∈E

e
I 0 (un ) → 0.

Desde que I satisfaz a condição (P S)c , existe (unj ) ⊂ (un ) tal que

unj → u0 em E, para algum u0 ∈ E.

Da continuidade de I e I 0 , temos

I(u0 ) = lim I(unj ) = c

e
I 0 (u0 ) = lim I 0 (unj ) = 0.

6.3 Novamente o Problema Sublinear


Vamos usar o Corolário 6.3 para encontrar solução fraca do problema sublinear

(
−∆u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 72

onde Ω é um domı́nio do IRN e 1 < q < 2.


Da secção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido por
1Z 1Z
I(u) = |∇u|2 − |u|q
2 Ω q Ω
e Z Z
I 0 (u)v = ∇u∇v − |u|q−2 uv.
Ω Ω

Além disso, I é coercivo e portanto, limitado inferiormente.


Mostraremos que I satisfaz a condição (P S)c com c = inf I(u).
u∈H01 (Ω)

Seja (un ) ∈ H01 (Ω) tal que

I(un ) → c = inf I(u)


u∈H01 (Ω)

e
I 0 (un ) → 0.

Temos que (un ) é limitada em H01 (Ω), pois caso contrário, a menos de
subsequência,
kun k → ∞.

Da coercividade de I, terı́amos

I(un ) → c = inf I(u) = ∞,


u∈E

o que é um absurdo. Desde que H01 (Ω) é um Espaço de Banach reflexivo, temos
que
un * u em H01 (Ω).

Assim, das Imersões Contı́nuas de Sobolev, a menos de subsequência,

un → u em Ls (Ω) para1 < s < 2∗ .

Do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (Ω) tal que

un (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em Ω.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 73

Assim,

|un (x)|q−2 un (x)(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω

|un (x)|q−2 un (x)(un (x) − u(x)) ≤ 2|h(x)|q quase em toda parte em Ω.

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,


Z
|un |q−2 un (un − u) → 0. (6.1)

Agora, desde que (un − u) é limitada em H01 (Ω), temos que

I 0 (un )(un − u) = on (1),

isto é Z Z
∇un ∇(un − u) = |un (x)|q−2 un (un (x) − u(x)).
Ω Ω

De(6.1), obtemos Z
∇un ∇(un − u) = on (1).

Passando ao limite de n → ∞, encontramos

lim kun k2 = kuk2 .


n→∞

Logo,
Z
kun − uk2 = ∇(un − u)∇(un − u) = kun k2 − kuk2 = on (1),

mostarndo que I satisfaz a condição (P S)c . Do Corolário 6.3, u é solução fraca


do Problema Sublinear. Usando os mesmos argumentos usados na secção 2.6, u
é não trivial.

6.4 Problema do tipo côncavo e convexo


Consideremos o problema
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 74

(
−∆u = λ|u|q−2 u + |u|r−2 u em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN e 1 < q < 2 < r < 2∗ se N ≥ 3 e


1 < q < 2 < r se N = 1 ou N = 2. Esta condição de crescimento caracteriza o
Problema (P ) como do tipo côncavo e convexo.
Da secção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido por
1Z 2 1Z q 1Z
Iλ (u) = |∇u| − λ |u| − |u|r
2 Ω q Ω r Ω
e Z Z Z
Iλ0 (u)v = ∇u∇v − λ |u|q−2 uv − |u|r−2 uv,
Ω Ω Ω

onde λ é um parâmetro positivo.


Notemos que, fixando φ ∈ C0∞ (Ω) temos que,

 2
t tq Z tr Z

lim Iλ (tφ) = lim kφk2 − λ |φ|q − |φ|r = −∞,
t→∞ t→∞ 2 q Ω r Ω
isto é, I não é limitado inferiormente. Entretanto, o Princı́pio Variacional de
Ekeland será usado para mostrar a existência de solução para o Problema (P ).
Observemos que I é um Funcional Semicontı́nuo Inferiormente, pois I é de
classe C 1 .
Além disso, das Imersões Contı́nuas de Sobolev, existem constantes C1 , C2
tais que
1 1 1
Iλ (u) ≥ kuk2 − C1 λ kukq − C2 kukr .
2 q r
Considerando kuk = ρ, com ρ a ser escolhido posteriormente, temos,
1 1 1
Iλ (u) ≥ ( ρ2 − C2 ρr )−C1 λ ρq .
2 r q
 (1/r−2)
r
Para ρ < 4C2
, temos

1 2 1 1
ρ − C2 ρr > ρ2 .
2 r 4
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 75

Para essa escolha de ρ, encontramos


1 1
Iλ (u) ≥ ρ2 − C1 λ ρq .
4 q

Escolhendo agora λ∗ = 18 ρ2 Cq1 , existirá β = β(λ∗ ) > 0 tal que

Iλ (u) ≥ β, para todo u ∈ ∂Bρ (0) e para todo λ ∈ (0, λ∗ ). (6.2)

Além disso, das Imersões Contı́nuas de Sobolev,


1 1 1
−Iλ (u) ≤ |Iλ (u)| ≤ kuk2 + C1 λ kukq + C2 kukr ≤ K,
2 q r

para todo u ∈ B ρ (0) e para algum K > 0. Portanto, Iλ é limitado inferiormente


em B ρ (0).
Do Postulado de Dedekind, existe γ0 ∈ IR tal que,

γ0 = inf{Iλ (u) : u ∈ B ρ (0)}.

Para mostrar que γ0 < 0, consideremos φ ∈ C0∞ (Ω) e


ρ λZ 2 2−q
 
0 < t0 < min ,[ |φ|q ] .
kφk q Ω kφk2

Assim, t0 φ ∈ B ρ (0) e
γ0 ≤ Iλ (t0 φ) < 0.

Notemos que X = (B ρ (0), d) é um Espaço Métrico Completo com d(u, v) =


ku − vk, I é um Funcional Semicontı́nuo Inferiormente e limitado inferiormente
em X.
1
Para  = n
e da definição de ı́nfimo, existe (un ) ⊂ B ρ (0) tal que
1
γ0 ≤ Iλ (un ) < γ0 + .
n

Do Princı́pio Variacional de Ekeland para λ = n, existe (un ) ⊂ B ρ (0) tal que:


1
a) γ0 ≤ Iλ (un ) ≤ Iλ (un ) < γ0 + ,
n
1
b) kun − un k ≤
n
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 76

e
1
c) Iλ (un ) < Iλ (u) + kun − uk, para todo u 6= un .
n
De a) temos

Iλ (un ) → γ0 < 0. (6.3)

Combining (6.2) and (6.3) we conclude that

(un ) ⊂ intBρ (0).

Seja v ∈ H01 (Ω) com kvk ≤ 1. Assim, para cada n ∈ INfixado, existe t0 = t0 (n)
tal que
w = un + tv ∈ Bρ (0) para todo t ∈ (0, t0 ).

Por c), temos


1
Iλ (un ) < Iλ (un + tv) + t.
n
Portanto,
1 Iλ (un + tv) − Iλ (un )
− < .
n t
Passando ao limite de t → 0 obtemos

1
− < Iλ0 (un )v para todo v ∈ H01 (Ω) com kvk ≤ 1.
n
Para −v, encontramos

1
> Iλ0 (un )v,
n
de onde concluı́mos que
1
|Iλ0 (un )v| ≤ .
n
Logo,
1
kIλ0 (un )kH01 (Ω)0 ≤ ,
n
o que implica
Iλ0 (un ) → 0,

isto é, (un ) é uma sequência (P S)γ0 para Iλ .


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 77

Notemos que é suficiente provar que Iλ satisfaz a condição (P S)γ0 , pois neste
caso, existe (unj ) ⊂ (un ) tal que

unj → u em H01 (Ω)

e assim,
Iλ (u) = γ0 < 0 e Iλ0 (u)v = 0, para todo v ∈ H01 (Ω),

mostrando que u ∈ H01 (Ω) é ponto crı́tico de Iλ e, portanto, solução fraca do


Probleva Côncavo e Convexo.
Mostraremos que Iλ satisfaz a condição (P S)γ0 . Seja (un ) ∈ H01 (Ω) tal que

Iλ (un ) → γ0 e Iλ0 (un ) → 0. (6.4)

Note que (un ) é limitada pois (un ) ⊂ Bρ (0).


Desde que H01 (Ω) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de subsequência,

un * u em H01 (Ω),

e das Imersões Compactas de Sobolev,

un → u em Ls (Ω) para 1 < s < 2∗ .

Do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (Ω) tal que

un (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em Ω.

Assim,

λ|un (x)|q−2 un (x)(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω,

|un (x)|r−2 un (x)(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω,

λ|un (x)|q−2 un (x)(un (x) − u(x)) ≤ |h(x)|q quase em toda parte em Ω

e
|un (x)|r−2 un (x)(un (x) − u(x)) ≤ |h(x)|r quase em toda parte em Ω.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 78

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,


Z
λ |un |q−2 un (un − u) → 0 (6.5)

e
Z
|un |r−2 un (un − u) → 0. (6.6)

Agora, desde que (un − u) é limitada em H01 (Ω), temos que

Iλ0 (un )(un − u) = on (1),

isto é
Z Z Z
q−2
∇un ∇(un − u) = λ |un (x)| (un (x) − u(x)) + |un (x)|r−2 (un (x) − u(x)).
Ω Ω Ω

De(6.5) e (6.6), obtemos


Z
∇un ∇(un − u) = on (1).

Passando ao limite de n → ∞, encontramos

lim kun k2 = kuk2 .


n→∞

Logo,
Z
kun − uk2 = ∇(un − u)∇(un − u) = kun k2 − kuk2 = on (1),

mostarndo que Iλ satisfaz a condição (P S)γ0 . Do Corolário 6.3, u é solução fraca


do Problema Sublinear. Usando os mesmos argumentos usados na secção 2.6, u
é não trivial.

6.5 Novamente o Problema Superlinear


Subcrı́tico
Consideremos agora o problema

(
−∆u = f (u) em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 79

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN .


A novidade nesta seção é o aparecimento da função f que depende da solução
do Problema (P ). As hipóteses que serão dadas sobre a função f , inclui mas não
se restringe os casos potências estudados anteriormente. Algumas vezes a função
f é chamada de não linearidade.
As hipóteses sobre a função f : IR → IR de classe C 1 são as seguintes:

(f0 ) f (s) = 0 para todo s ≤ 0.

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 s

e
f 0 (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−2
onde 2 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 2 < q se N = 1 ou N = 2.
Notemos que, por (f1 ), dado  > 0, existem δ > 0 tal que:.

|f (s)| ≤ |s|, para todo |s| ≤ δ.

Por (f2 ), existe R, M > 0 tais que

|f 0 (s)| ≤ M |s|q−2 , para todo |s| ≥ R,

o que implica

|f (s)| ≤ M1 |s|q−1 , para todo |s| ≥ R e para algum M1 > 0.

Observemos ainda que,

|f (s)| ≤ M2 |s|q−1 , para todo δ ≤ |s| ≤ R e para algum M2 > 0.

Das três desigualdades anteriores, temos

|f (s)| ≤ |s| + M3 |s|q−1 , para todo δ ≤ |s| ≤ R e para algum M3 > 0. (6.7)
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 80

Tal crescimento caracteriza o Problema (P ) como um problema superlinear


com crescimento subcrı́tico.
Uma hipótese muito usada quando se tem uma não linearidade geral no
problema é a bem conhecida Condição de Ambrosseti e Rabinowitz, a qual
escrevemos a seguir.
Existem θ > 2 e R > 0 tais que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo |s| ≥ R,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0

f (s)
(f4 ) A função s → é crescente.
s

Abaixo temos exemplos de funções que satisfazem as hipóteses (f1 ) − (f4 ).

Exemplo 6.1 f (s) = |s|q−2 s, 2 < q < 2∗ .

k
|s|qi −2 s, 2 < qi < 2∗ .
X
Exemplo 6.2 f (s) =
i=1

Notemos que de (6.7), temos que


 K
|F (s)| ≤ |s|2 + |s|q ,
2 q
para algum K > 0.
Assim, da secção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido
por
1Z Z
I(u) = |∇u|2 − F (u)
2 Ω Ω

e Z Z
I 0 (u)v = ∇u∇v − f (u)v,
Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω).


Definamos agora a Variedade de Nehari associada ao funcional I dada por:

N = {u ∈ H01 (Ω)\{0} : I 0 (u)u = 0}.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 81

Z
2
Da definição, temos que, u ∈ N se, e somente se, u 6= 0 e kuk = f (u)u.

Do crescimento sobre a não linearidade f e das imersões contı́nuas de Sobolev,
temos a uma importante propriedade sobre a Variedade de Nehari:

Z
kuk2 = f (u)u ≤ C1 kuk2 + C2 kukq ,

implicando na existência de uma constante C > 0, independente de u ∈ N , tal


que

K ≤ kuk. (6.8)

Observemos ainda que, desde que f é de classe C 1 , temos que I é de classe


C 2 e o funcional J dados por
Z
0 2
J(u) = I (u)u = kuk − f (u)u

é de classe C 1 e além disso,


Z Z Z
0 0
J (u)v = 2 ∇u∇v − f (u)uv − f (u)v,
Ω Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω).


Para v = u, encontramos
Z Z
0 2 0 2
J (u)u = 2kuk − f (u)u − f (u)u 6= 0.
Ω Ω

Assim, N é uma variedade regular e é fechada pois N = J −1 {0}.


Vamos aplicar o Princı́pio Variacional de Ekeland no Espaço Métrico
Completo (N , d), onde d(u, v) = ku − vk.
Observemos que I é um Funcional Semicontı́nuo Inferiormente, pois I é de
classe C 2 .
Provaremos agora que I restrito a N é limitado inferiormente. De fato, para
u ∈ N , temos
1 0 1 1 2
Z
1 Z
1
I(u) = I(u)− I (u)u = ( − )kuk + [ f (s)s−F (s)]+ [ f (s)s−F (s)].
θ 2 θ |u|≤R θ |u|≥R θ

Da condição (f3 ), deduzimos


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 82

1 1 2
Z
1
I(u) ≥ ( − )kuk + [ f (u)u − F (u)].
2 θ |u|≤R θ

Considerando que a função g(s) = 1θ f (s)s − F (s) é contı́nua e limitada em


[−R, R], temos que existe M > 0 tal que

−g(s) ≤ |g(s)| ≤ M.

Portanto,

1 1
I(u) ≥ ( − )kuk2 − M |Ω|,
2 θ
mostrando que I restrito a N é coercivo e assim limitado inferiormente em N .
Do Postulado de Dedekind, existe c∗ ∈ IR tal que,

c∗ = inf{I(u) : u ∈ N }.

1
Para  = n
e da definição de ı́nfimo, existe (un ) ⊂ N tal que
1
c∗ ≤ I(un ) ≤ c∗ + .
n

Do Princı́pio Variacional de Ekeland para λ = n, existe (un ) ⊂ N tal que:

I(un ) → c∗

e
1
I(un ) < I(u) + kun − uk, para todo u 6= un .
n
Note que (un ) ⊂ N é limitada em H01 (Ω), pois de (f3 ) encontramos
1 1 1
c∗ + on (1) = I(un ) − I 0 (un )un ≥ ( − )kun k2 − M |Ω|.
θ 2 θ

Mostraremos I 0 (un ) → 0. De fato, Seja w ∈ N . Assim, para cada n ∈ IN


fixado, defina

hn : IR2 → IR por hn (t, s) = J(un + tw + sun ).

Assim, hn é de classe C 1 , pois hn = J ◦ Ψn , onde Ψn (t, s) = un + tw + sun .


Temos também que hn (0, 0) = J(un ) = 0, pois un ∈ N . Além disso,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 83

∂hn ∂(J ◦ Ψn ) ∂Ψn


(0, 0) = (0, 0) = J 0 (ψn (0, 0)) (0, 0) = J 0 (un )un 6= 0.
∂s ∂s ∂s

Do Teorema da Função Implı́cita, existe δ > 0 e uma aplicação Tn : (−δ, δ) →


IR tal que Tn ∈ C 1 , hn (t, Tn (t)) = 0, para todo t ∈ (−δ, δ) e Tn0 (0) = 0.
Note que δ não depende de n, pois por (f4 ), a sequência ( ∂hn
∂s
(0, 0)) não pode
convergir para zero.
Assim,
J(un + tw + Tn (t)un ) = 0 para todo t ∈ (−δ, δ),

implicando que un + tw + Tn (t)un ∈ N , para todo t ∈ (−δ, δ).


Considerando α : (−δ, δ) → N definida por α(t) = un + tw + Tn (t)un , temos
que α(0) = un e α0 (t) = w + Tn0 (t)un , implicando que α0 (0) = w.
Do ı́tem (c) do Princı́pio Varaiacionl de Ekeland,

1
I(un ) < I(α(t)) + ||un − α(t)k.
n
Portanto,

I(α(t)) − I(α(0)) 1 Tn
 
[ ]≥ − kwk + k un k .
t n t
Passando ao limite de t → 0 obtemos

1
 
I (α(0))α (0) ≥ − kwk + kTn0 (0)un k .
0 0
n
Logo,
1
I 0 (un )w ≥ − kwk,
n
ou seja,
w 1
I 0 (un ) ≥− .
kwk n
Argumentando como na seção anterior, (un ) ⊂ N é uma sequência (P S)c∗
para o funcional I restrito a N , isto é, do Corolário 3.1 da seção 3.2, temos

kI 0 (un )k∗ = min kI 0 (un ) − λJ 0 (un )k(H01 (Ω))0 = on (1).


λ∈IR
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 84

Portanto,

I 0 (un )un − λn J 0 (un )un = −λn J 0 (un )un = on (1)

Desde que, por (f4 ), (J 0 (un )un ) não converge para zero, temos que (λn ) =
on (1).
Logo

kI 0 (un )k(H01 (Ω))0 ≤ kI 0 (un ) − λJ 0 (un )k(H01 (Ω))0 + |λn |kJ 0 (un )k(H01 (Ω))0 = on (1),

mostrando que (un ) é uma sequência (P S)c∗ para I em H01 (Ω). Além disso, (un )
é limitada em H01 (Ω).
Como na seção anterior, é suficiente provar que I satisfaz a condição (P S)c∗ .
De fato, desde que H01 (Ω) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de
subsequência,
un * u em H01 (Ω),

e das Imersões Compactas de Sobolev,

un → u em Ls (Ω) para 1 < s < 2∗ .

Do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (Ω) tal que

un (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em Ω.

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω,

f (un (x))(un (x) − u(x)) ≤ |h(x)|2 + |h(x)|q quase em toda parte em Ω

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,


Z
f (un )(un − u) → 0. (6.9)

Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 85

Agora, desde que (un − u) é limitada em H01 (Ω), temos que

I 0 (un )(un − u) = on (1),

isto é Z Z
∇un ∇(un − u) = f (un )(un (x) − u(x)).
Ω Ω

De(8.3), obtemos Z
∇un ∇(un − u) = on (1).

Passando ao limite de n → ∞, encontramos

lim kun k2 = kuk2 .


n→∞

Logo,
Z
kun − uk2 = ∇(un − u)∇(un − u) = kun k2 − kuk2 = on (1),

mostrando que I satisfaz a condição (P S)c∗ . Do Corolário 6.3, u é solução fraca


do Problema (P ). Desde que u ∈ N , concluı́mos que u é não trivial.

6.6 Um problema no IRN via Princı́pio


Variacional de Ekeland
Nesta seção vamos usar um importante resultado devido a Lions cuja
demonstração pode ser encontrada em [18].

Lema 6.1 (Lema de Lions) Sejam R > 0 e 2 ≤ q < 2∗ . Se (un ) ⊂ H 1 (IRN ) é


limitada em H 1 (IRN ) e se
Z
sup |un |q → 0,
y∈IRN BR (y)

então
un → 0 em Ls (IRN ), para todo 2 < s < 2∗ .

Consideremos agora o problema


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 86

(
−∆u + u = f (u) em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ).

Recordemos que a norma fixada em H 1 (IRN ) é dada por


Z Z 1/2
kuk = |∇u|2 + |u|2 .
IRN IRN

As hipóteses sobre a função f : IR → IR de classe C 1 são as seguintes:

(f0 ) f (s) = 0 para todo s ≤ 0.

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 s

e
f 0 (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−2
onde 2 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 2 < q se N = 1 ou N = 2.
Como na seção 6.5, temos que

|f (s)| ≤ |s| + M3 |s|q−1 , para todo s ∈ IR e para algum M3 > 0. (6.10)

Quando o problema é posto no IRN , a condição de Ambrosetti e Rabinowitz é


global, ou seja,
Existe θ > 2 tal que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo s > 0,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
A função
f (s)
(f4 ) s→ ,
s
é crescente para todo s > 0.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 87

Notemos que de (6.10), temos que


 K
|F (s)| ≤ |s|2 + |s|q ,
2 q
para algum K > 0.
Assim, da seção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido
por
1Z 2 1Z 2
Z
I(u) = |∇u| + |u| − N F (u)
2 IRN 2 IRN IR
e Z Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v + uv − f (u)v,
IRN IRN IRN

para todo v ∈ H 1 (IRN ).


Definamos agora a Variedade de Nehari associada ao funcional I dada por:

N = {u ∈ H 1 (IRN )\{0} : I 0 (u)u = 0}.

Vamos aplicar o Princı́pio Variacional de Ekeland no Espaço Métrico


Completo (N , d), onde d(u, v) = ku − vk.
Novamente temos I é um Funcional Semicontı́nuo Inferiormente. Além disso,
I restrito a N é limitado inferiormente, pois para u ∈ N , temos
1 0 1 1 2
Z
1
I(u) = I(u) − I (u)u = ( − )kuk + N [ f (u)u − F (u)].
θ 2 θ IR θ

Da condição (f3 ), deduzimos

1 1
I(u) ≥ ( − )kuk2 ,
2 θ
mostrando que I restrito a N é coercivo e assim limitado inferiormente em N .
Do Princı́pio Variacional de Ekeland, existe (un ) ⊂ H 1 (IRN ) uma sequência
limitada tal que:
I(un ) → c∗

e
I 0 (un ) → 0.

Na seção anterior, foi suficiente mostrar que o funcional satisfazia a condição


Palais-Smale. Para isso, foi usado fortemente o fato de ocorrer imersão compacta
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 88

entre os espaços considerados. Aqui, há necessidade de mudar o argumento, pois


não há imersão compacta entre H 1 (IRN ) e os espaços Ls (IRN ).
Como na seção anterior, desde que H 1 (IRN ) é um Espaço de Banach Reflexivo,
a menos de subsequência,

un * u em H 1 (IRN ).

Vamos mostrar que o limite fraco u é ponto crı́tico do Funcional I.


Considerando φ ∈ C0∞ (IRN ), do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (supp φ)
tal que
un (x) → u(x) quase em toda parte em supp φ

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em supp φ.

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))φ(x) → f (u(x))φ(x) quase em toda parte em supp φ,

f (un (x))φ ≤ |h(x)||φ(x)| + |h(x)|q−1 |φ(x)| quase em toda parte em supp φ,

onde |h||φ| + |h|q−1 |φ| ∈ L1 (IRN ).


Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,
Z Z
f (un )φ → f (u)φ. (6.11)
IRN IRN

Assim, de I 0 (un )φ = on (1), passando ao limite de n → ∞, temos


Z Z Z
∇u∇φ + uφ = f (u)φ,
IRN IRN IRN

isto é,
I 0 (u)φ = 0, para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).

Desde que C0∞ (IRN ) = H 1 (IRN ), temos por densidade que

I 0 (u)v = 0, para todo v ∈ H 1 (IRN ),


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 89

mostrando que u ∈ H 1 (IRN ) é ponto crı́tico do Funcional I.


Por falta da imersão compacta, não é possı́vel afirmar que u 6= 0. Por isso,
precisamos continuar nosso estudo.
Se tivermos u 6= 0, neste caso u ∈ H 1 (IRN ) é solução fraca do problema (P ).
Se u = 0, vamos precisar do seguinte resultado:

Lema 6.2 Se (un ) é uma sequência (P S)c para I e limitada, então somente uma
das alternativas ocorrem:
a) un → 0 em H 1 (IRN )
ou
b) Existem (yn ) ⊂ IRN e R, β > 0 tais que
Z
|un |2 ≥ β > 0.
BR (yn )

Demonstração: Claramente se a) ocorre, então b) não pode ocorrer. Suponha,


por contradição que b) não ocorre. Então,
Z
sup |un |2 → 0.
y∈IRN BR (y)

Desde que (un ) é limitada, do Lema de Lions 6.1, temos que


Z
|un |q → 0.
IRN

Da condição de crescimento da função f , obtemos

Z
f (un )un → 0.
IRN

Assim

Z
kun k2 = f (un )un → 0.
IRN

Retornando ao estudo do Problema (P ), observemos que não podemos ter


un → 0, pois neste caso, terı́amos 0 ∈ N , o que não pode ocorrer.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 90

Portanto, do Lema 6.2, existem (yn ), R, β > 0 tais que


Z
|un |2 ≥ β > 0. (6.12)
BR (yn )

Considerando vn (x) = un (x + yn ), temos da invariancia do IRN por translação


que:
kvn k2 = kun k2 ≤ C,
Z Z
F (vn ) = F (un )
IRN IRN

e
I 0 (vn )ψ = I 0 (un )ψ(x − yn ).

Portanto, (vn ) é uma sequência (P S)c∗ para I, limitada tal que

vn * v em H 1 (IRN ),

onde v é ponto crı́tico do Funcional I. Para mostrar que v é não trivial, notemos
que de (8.8) encontramos
Z Z Z
|v|2 = lim |vn |2 = lim |un |2 ≥ β > 0.
BR (0) n→∞ BR (0) n→∞ BR (yn )

6.7 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 6


1. Use o Princı́pio Variacional de Ekeland para resolver o problema sublinear
(
−∆u + u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),
2∗
1 < q < 2, h ∈ L 2∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0.

2. Use o Princı́pio Variacional de Ekeland para resolver os problemas do tipo


sublinear
a)

(
−∆p u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 91

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , 2 ≤ p < N e p − 1 < q < p.


Recordamos que uma solução do problema acima é uma função u ∈ W01,p (Ω)
tal que Z Z
|∇u|p−2 ∇u∇φ dx = |u|q−2 uφ dx,
Ω Ω

para todo φ ∈ W01,p (Ω). A norma fixada em W01,p (Ω) é definida por
Z
p
kuk = |∇u|p dx.

b)

(
−∆p u + |u|p−2 u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),
p∗
2 ≤ p < N , p − 1 < q < p, h ∈ L p∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0,
∗ pN
onde p = N −p
.

3. Use o Princı́pio Variacional de Ekeland para resolver os seguintes problemas:


a)

(
−∆u + u = λh(x)|u|q−2 u + |u|r−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),
1 < q < 2 < r < 2∗ se N ≥ 3 ou 1 < q < 2 < r se N = 1 ou N = 2,
2∗
h ∈ L 2∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0 e λ > 0.
b)

(
−∆p u = λ|u|q−2 u + |u|r−2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , 2 ≤ p < N e p − 1 < q < p < r < p∗


e λ > 0.
c)

(
−∆p u + |u|p−2 u = λh(x)|u|q−2 u + |u|r−2 u em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 92

p∗
2 ≤ p < N , p − 1 < q < p < r < p∗ , h ∈ L p∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e
∗ pN
h 6= 0, onde p = N −p
e λ > 0.

4. Use o Princı́pio Variacional de Ekeland para resolver os seguintes problemas:


a)

(
−∆p u = f (u) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , 2 ≤ p < N e f : IR → IR uma função


de classe C 1 satisfazendo as seguintes hipóteses:

f (s)
(f1 ) lim = 0.
s→0 sp−1

f 0 (s)
(f2 ) lim sup < ∞,
s→+∞ sq−2
onde 2 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 2 < q se N = 1 ou N = 2.
Existem θ > p e r > 0 tais que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s,


Z s
para todo |s| ≥ r onde F (s) = f (t)dt.
0
A função

f (s)
(f4 ) s→ ,
s
é crescente para todo s > 0.
b)

(
−∆p u + u = f (u) em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 93

onde 2 ≤ p < N e f : IR → IR uma função de classe C 1 satisfazendo as


seguintes hipóteses:

f (s)
(f1 ) lim = 0.
s→0 sp−1

f 0 (s)
(f2 ) lim sup < ∞,
s→+∞ sq−2
onde 2 < q < 2∗ se N ≥ 3.
Existe θ > p tal que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s,


Z s
para todo |s| > 0 onde F (s) = f (t)dt.
0
A função

f (s)
(f4 ) s→ ,
s
é crescente para todo s > 0.
Capı́tulo 7

O Teorema do Passo da
Montanha

7.1 Introdução
Neste capı́tulo enunciaremos e demonstraremos o Lema de Deformação, o qual
é a principal ferramenta para demonstrarmos o celebrado Teorema do Passo
da Montanha de Ambrosseti e Rabinowitz. Nas seções seguintes, resolveremos
problemas superlineares com crescimento subcrı́tico em domı́nio limitado e no
IRN . Envolveremos os operadores Laplaciano e p-Laplaciano com o objetivo
principal de mostrar as principais diferenças entre esses operadores e os cuidados
que devemos ter com os problemas que envolvem este último operador.

7.2 O Lema de Deformação


Nossa apresentação nesta seção seguirá os trabalhos [12] de Marcelo Furtado e
[18] de Michel Willem.

Definição 7.1 Seja X um Espaço de Banach, I ∈ C 1 (X, IR) e


f = {u ∈ X : I 0 (u) 6= 0},
X
f→ X
o conjunto dos pontos regulares de I. Dizemos que a função ϕ : X f é um

campo pseudo-gradiente para I quando ϕ é localmente lipschitziana e

a) kϕ(u)kX ≤ 2kI 0 (u)kX 0

94
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 95

e
b) I 0 (u)ϕ(u) ≥ kI 0 (u)k2X 0 .

Por ser um texto introdutório, assumiremos aqui sem demonstração que, dado
um funcional I ∈ C 1 (X, IR), sempre existirá um campo pseudo-gradiente para I.
Agora já podemos enunciar e demonstrar o Lema da Deformação sem condição
de compacidade devido a Willem [18].

Lema 7.1 (Lema de Deformação) Sejam X um Expaço de Banach, I ∈ C 1 (X, IR)


e c ∈ IR,  > 0. Se

kI 0 (u)k ≥ 4, (7.1)

para todo u ∈ I −1 ([c − 2, c + 2]), então existe η ∈ C(X, X) tal que

/ I −1 ([c − 2, c + 2]),


(i) η(u) = u, ∀u ∈

(ii) η(I c+ ) ⊂ I c− ,

onde
I d := I −1 (] − ∞, d[).

Demonstração: Definamos a função

dist(u,X\A)
ψ : X → IR dada por ψ(u) = (dist(u,X\A)+dist(u,B))
,

onde

A := I −1 ([c − 2, c + 2]) e B := I −1 ([c − , c + ]).

Para mostrar que ψ está bem definida, vamos mostrar que

(dist(u, X\A) + dist(u, B)) > 0.

Suponha, por contradição, que exista u ∈ X tal que

(dist(u, X\A) + dist(u, B)) = 0.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 96

Desde que dist(u, B) = 0 e B é fechado, segue-se que u ∈ B, isto é,

c −  ≤ I(u) ≤ c + . (7.2)

Por outro lado, dist(u, X\A) = 0 implica que u ∈ X\A. Assim, existe uma
sequência (un ) ⊂ X\A tal que un → u em X, ou seja,

I(un ) < c − 2 ou I(un ) > c + 2.

Passando o limite de n → ∞ nas desigualdades na útima linha e da


continuidade do Funcional I, encontramos

I(u) ≤ c − 2 ou I(u) ≥ c + 2,

o que contradiz (7.2).


Além disso, desde a função distância é lipschitziana, temos que a fução ψ é
contı́nua e localmente lipschitziana.
Observemos também que ψ = 1 em B e ψ = 0 em X\A.
f → X um campo pseudo-gradiente para I e definamos
Seja ϕ : X
ϕ(u)
W (u) := −ψ(u) , u ∈ A,
kϕ(u)kX
:= 0, u ∈ X\A.

Notemos que W é localmente lipschtiziana e kW (u)k ≤ 1, para todo u ∈ X.


Assim, para cada u ∈ X, o problema de Cauchy
d
σ(t, u) = W (σ(t, u)),
dt
σ(0, u) = u,

possui uma única solução σ(., u) definida em IR com σ ∈ C(IR× X, X). (Veja [12,
Teorema 2.9]).
Consideremos a função η definida em X por η(u) := σ(1, u). Desde que W = 0
para todo u ∈ X\A, então σ(t, u) é constante para cada u ∈ X\A. Desde que
σ(0, u) = u, temos que η satisfaz (i).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 97

Notemos que,
d d
I(σ(t, u)) = I 0 (σ(t, u)) σ(t, u))
dt dt
0
= I (σ(t, u))W (σ(t, u)) = 0, (7.3)

para todo σ(t, u) ∈ X\A.


Para σ(t, u) ∈ A, encontramos
d d
I(σ(t, u)) = I 0 (σ(t, u)) σ(t, u))
dt dt
0
= I (σ(t, u))W (σ(t, u))
ψ(σ(t, u))
= −I 0 (σ(t, u))ϕ(σ(t, u)) .
kϕ(σ(t, u))kX

Desde que ϕ é um Campo Pseudo-Gradiente, por b),


d kI 0 (σ(t, u))k2X 0
I(σ(t, u)) ≤ −ψ(σ(t, u)) ≤ 0. (7.4)
dt kϕ(σ(t, u))kX

Por (7.3) e (7.4), temos I(σ(t, u)) é não-crescente em t.


Considerando u ∈ I c+ , se existir t ∈ [0, 1] tal que I(σ(t, u)) < c − , então
I(σ(1, u)) ≤ I(σ(t, u)) < c −  e (ii) ocorre.
Se u ∈ I c+ e se c −  ≤ I(σ(t, u)), para todo t ∈ [0, 1], temos

c −  ≤ I(σ(t, u)) ≤ I(σ(0, u)) ≤ I(u) ≤ c + , para todo t ∈ [0, 1].

Dessas desigualdades, inferimos que σ(t, u) ∈ B e ψ(σ(t, u)) = 1, para todo


t ∈ [0, 1].
Assim, de (7.4),
Z 1
d
I(η(u)) = I(σ(1, u)) = I(u) + I(σ(t, u))dt
0 dt
Z 1
kI 0 (σ(t, u))k2
≤ I(u) − ψ(σ(t, u))
0 kϕ(σ(t, u))kX
0
Z 1
kI (σ(t, u))k2X 0
= I(u) − .
0 kϕ(σ(t, u))kX

Do ı́tem a) da definição de campo Pseudo-gradiente, temos


1Z 1 0
I(η(u)) ≤ c +  − kI (σ(t, u))k.
2 0
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 98

Da hipótese (7.1), encontramos

I(η(u)) ≤ c +  − 2 = c − 

e (ii) também é satisfeita.

7.3 O Teorema do Passo da Montanha


Nesta seção enunciaremos duas versões do Teorema do Passo da Montanha. A
primeira é devida a Willem [18] e a segunda é devida a Ambrosetti e Rabinowitz
[4]

Teorema 7.1 (Teorema do Passo da Montanha-M.Willem) Sejam X um


Espaço de Banach e I ∈ C 1 (X, IR) com I(0) = 0. Suponha que:
existem α, ρ > 0 tais que

(H1 ) I(u) ≥ α > 0 para todo u ∈ X : kuk = ρ

e existe e ∈ X tal que kek > ρ e

(H2 ) I(e) < 0.

Então, para cada  > 0, existe u ∈ X tal que

(a) c − 2 ≤ I(u ) ≤ c + 2

(b) kI 0 (u )k < 4.

onde

0 < c = inf max I(γ(t))


γ∈Γ [0,1]

Γ = {γ ∈ C([0, 1], X) : γ(0) = 0, γ(1) = e}.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 99

Demonstração: Vamos inicialmente provar que c é finito. De fato, desde que


γ(0) = 0 ∈ Bρ (0), γ(1) = e ∈ X\Bρ (0) e γ([0, 1]) é conexo, temos que
\
γ([0, 1]) ∂Bρ (0) 6= ∅.

Logo, da hipótese (H1 ), temos

max I(γ(t)) ≥ α,
t∈[0,1]

implicando que c ≥ α > 0, ou seja, que c é um número real postivo.


Suponha agora, por contradição, que para algum  > 0 as condições (a) e (b)
não ocorram, ou seja, que ocorra

(c) c − 2 < I(u) < c + 2 ∀u ∈ X

(d) kI 0 (u)k ≥ 4 ∀u ∈ X.

Notemos que essas propriedades continuam válidas para todo 0 < 0 < .
Desde que c > 0 e diminuido  se necessário, temos

I(e) ≤ I(0) = 0 < c − 2. (7.5)

Em vista dos ı́tens (c) e (d), do Lema de deformação, existe η ∈ C(X, X) tal
que

/ I −1 ([c − 2, c + 2)


(i) η(u) = u se u ∈

(ii) η(I c+ ) ⊂ I c− .

Segue da definição de c que existe γ ∈ Γ tal que

max I(γ(t)) ≤ c + .
t∈[0,1]

Consideremos γb : [0, 1] → X definido por γb (t) = η(γ(t)).


Observemos que
γb (0) = η(γ(0)) = η(0)

e
γb (1) = η(γ(1)) = η(e).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 100

/ I −1 ([c − 2, c + 2]).


Por (7.5), temos 0, e ∈
Do Lemma da Deformação, η(0) = 0 e η(e) = e.
Portanto,
γb (0) = 0
e
γb (1) = e,
mostrando que γb ∈ Γ. Novamente do Lema da Deformação, para qualquer
t ∈ [0, 1], encontramos
γb (t) = η(γ(t)) ∈ I c− .

Desse modo
c ≤ max I(γb (t)) ≤ c − ,
t∈[0,1]

o que é um absurdo, provando assim o Teorema.

Observação 7.1 As hióteses (H1 ) e (H2 ) são chamadas, respectivamente, 1◦


geometria e 2◦ geometria do Teorema do Passo da Montanha.

Teorema 7.2 (Teorema do Passo da Montanha-Ambrosetti-Rabinowitz)


Sejam X um Espaço de Banach e I ∈ C 1 (X, IR) com I(0) = 0. Suponha que:
existem α, ρ > 0 tais que

(H1 ) I(u) ≥ α > 0 para todo u ∈ X : kuk = ρ

e existe e ∈ X tal que kek > ρ e

(H2 ) I(e) < 0.

Seja

0 < c = inf max I(γ(t)),


γ∈Γ [0,1]

onde

Γ = {γ ∈ C([0, 1], X) : γ(0) = 0, γ(1) = e}.

Se I satisfaz a condição (P S)c , então c é um valor crı́tico de I, isto é, existe


u ∈ X tal que
I(u) = c > 0 e I 0 (u) = 0.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 101

1
Demonstração: Para  = n
no Teorema anterior, temos que existe (un ) ⊂ X
tal que
I(un ) → c

e
I 0 (un ) → 0.

Desde que I satisfaz a consição (P S)c , existem (unj ) ⊂ (un ) e u ∈ X tal que

unj → u em X.

Da continuidade de I e I 0 , temos

I(u) = c > 0 e I 0 (u) = 0.

7.4 Novamente o problema superlinear


subcrı́tico em domı́nio limitado
Consideremos o problema

(
−∆u = f (u) em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN .


As hipóteses sobre a função contı́nua f : IR → IR são as seguintes:

(f0 ) f (s) = 0 para todo s ≤ 0.

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 s

e
f (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 102

onde 2 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 2 < q se N = 1 ou N = 2.


Notemos que, por (f1 ) e (f2 ), temos

|f (s)| ≤ |s| + M3 |s|q−1 , para todo s ∈ IR e para algum M3 > 0. (7.6)

Existem θ > 2 e R > 0 tais que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo |s| ≥ R,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
Notemos que de (7.6), temos que
 K
|F (s)| ≤ |s|2 + |s|q ,
2 q
para algum K > 0.
Assim, da secção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido
por
1Z 2
Z
I(u) = |∇u| − F (u)
2 Ω Ω
e Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v − f (u)v,
Ω Ω
para todo v ∈ H01 (Ω).
Vamos aplicar o Teorema do Passo da Montanha para mostrar a existência
de solução não trivial para o Problema (P ).
Notemos que, por um cálculo direto, I(0) = 0. Vamos mostrar agora que
I satisfaz a 1◦ geometria do Passo da Montanha. De fato, da condição de
crescimento da função F ,
1 2 1 Z 2 KZ
I(u) ≥ kuk −  |u| − |u|q .
2 2 Ω q Ω

Das Imesões Contı́nuas de Sobolev, existem C1 , C2 > 0 tais que

1 K
I(u) ≥ (1 − C1 )kuk2 − C2 kukq .
2 q
Portanto, desde que 2 < q, existem α, β > 0 de tal forma que

I(u) ≥ α > 0, para todo u ∈ H 1 (IRN ) com kuk = ρ.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 103

Mostraremos que I satisfaz a 2◦ geometria do Teorema do Passo da Montanha.


A hipótese (f3 )

θF (s) ≤ f (s)s para todo |s| ≥ R

implica
Z s Z s
θ f (τ )
dτ ≤ dτ.
R τ R F (τ )

Calculando os valores das integrais, obtemos


s s
θ ln τ ≤ ln F (τ ) .
R R

Das propriedades da função ln, encontramos

sθ F (s)
θ
≤ .
R F (R)

Portanto, existem C3 , C4 > 0 tais que

F (s) ≥ C3 sθ − C4 . (7.7)

Agora fixemos φ ∈ C0∞ (Ω) e t > 0 suficientemente grande tal que ktφk ≥ R.
Assim, da condição de crescimento (7.7)

t2 2 θ
Z
I(tφ) ≤ kφk − C3 t |φ|θ + C4 |Ω|.
2 Ω

Portanto, desde que θ > 2, obtemos, I(tφ) → −∞ quando t → ∞ e este


limite implica que, existe t∗ > 0 tal que e = t∗ φ ∈ H01 (Ω) com kek > ρ e I(e) < 0.
Assim, do Teorema do Passo da Montanha, existe (un ) ⊂ H01 (Ω) tal que

I(un ) → c > 0

e
I 0 (un ) → 0.

Notemos que (un ) é limitada em H01 (Ω), pois de (f3 ) encontramos


1 1 1
c + on (1) = I(un ) − I 0 (un )un ≥ ( − )kun k2 − M |Ω|.
θ 2 θ
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 104

Desde que H01 (Ω) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de subsequência,

un * u em H01 (Ω),

e das Imersões Compactas de Sobolev,

un → u em Ls (Ω) para 1 < s < 2∗ .

Do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (Ω) tal que

un (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em Ω.

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω,

f (un (x))(un (x) − u(x)) ≤ |h(x)|2 + |h(x)|q quase em toda parte em Ω,

onde h2 + hq ∈ L1 (Ω).
Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,
Z
f (un )(un − u) → 0. (7.8)

Agora, desde que (un − u) é limitada em H01 (Ω), temos que

I 0 (un )(un − u) = on (1),

isto é Z Z
∇un ∇(un − u) = f (un )(un (x) − u(x)).
Ω Ω

De (7.8), obtemos Z
∇un ∇(un − u) = on (1).

Passando ao limite de n → ∞, encontramos

lim kun k2 = kuk2 .


n→∞
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 105

Logo,
Z
2
kun − uk = ∇(un − u)∇(un − u) = kun k2 − kuk2 = on (1),

mostrando que I satisfaz a condição (P S)c . Do Teorema do Passo da Montanha,


u é solução fraca do Problema (P ). Desde que I(u) = c > 0, concluı́mos que u é
não trivial.

7.5 Problema superlinear subcrı́tico em


domı́nio limitado com o p-Laplaciano
Consideremos o problema

(
−∆p u = f (u) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN . Recordamos que o operador p-Laplaciano


é definido por
N
∂ ∂u
 
|∇u|p−2
X
∆p u = , 1 < p < N,
i=1 ∂xi ∂xi
e uma solução deste problema é uma função u ∈ W01,p (Ω) tal que
Z Z
p−2
|∇u| ∇u∇φ = f (u)φ,
Ω Ω

para todo φ ∈ W01,p (Ω). A norma fixada em W01,p (Ω) é definida por
Z
kukp = |∇u|p .

As hipóteses sobre a função contı́nua f : IR → IR são as seguintes:

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 |s|p−1

e
f (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 106

onde p < q < p∗ .


Notemos que, por (f1 ) e (f2 ), temos

|f (s)| ≤ |s|p−1 + M3 |s|q−1 , para todo s ≥ 0 e para algum M3 > 0. (7.9)

Existem θ > p e R > 0 tais que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo |s| ≥ R,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
Notemos que de (7.9), temos que
 K
|F (s)| ≤ |s|p + |s|q ,
p q
para algum K > 0.
Assim, da secção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido
por
1Z p
Z
I(u) = |∇u| − F (u)
p Ω Ω
e Z Z
I 0 (u)v = |∇u|p−2 ∇u∇v − f (u)v,
Ω Ω

para todo v ∈ W01,p (Ω).


Vamos aplicar o Teorema do Passo da Montanha para mostrar a existência
de solução não trivial para o Problema (P ).
Notemos que, por um cálculo direto, I(0) = 0. Vamos mostrar agora que
I satisfaz a 1◦ geometria do Passo da Montanha. De fato, da condição de
crescimento da função F ,
1 1 Z KZ
I(u) ≥ kukp −  |u|p − |u|q .
p p Ω q Ω

Das Imesões Contı́nuas de Sobolev, existem C1 , C2 > 0 tais que

1 K
I(u) ≥ (1 − C1 )kukp − C2 kukq .
p q
Portanto, desde que, p < q, existem α, β > 0 de tal forma que

I(u) ≥ α > 0, para todo u ∈ W01,p (Ω) com kuk = β.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 107

Mostraremos que I satisfaz a 2◦ geometria do Teorema do Passo da Montanha.


A hipótese (f3 ) implica que, existem C3 , C4 > 0 tais que

F (s) ≥ C3 sθ − C4 . (7.10)

Agora fixemos φ ∈ C0∞ (Ω) e t > 0 suficientemente grande tal que ktφk ≥ R.
Assim, da condição de crescimento (8.2)

t2 Z
I(tφ) ≤ kφk2 − C3 tθ |φ|θ + C4 |supp φ|.
2 Ω

Portanto, desde que θ > p, obtemos, I(tφ) → −∞ quando t → ∞ e este limite


implica que, existe t∗ > 0 tal que e = t∗ φ ∈ W01,p (Ω) com kek > ρ e I(e) < 0.
Assim, do Teorema do Passo da Montanha, existe (un ) ⊂ W01,p (Ω) tal que

I(un ) → c > 0

e
I 0 (un ) → 0.

Notemos que (un ) é limitada em W01,p (Ω), pois de (f3 ) encontramos


1 1 1
c + on (1) = I(un ) − I 0 (un )un ≥ ( − )kun kp − M |Ω|.
θ p θ

Desde que W01,p (Ω) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de


subsequência,
un * u em W01,p (Ω),

e das Imersões Compactas de Sobolev,

un → u em Ls (Ω) para p − 1 < s < p∗ .

Do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (Ω) tal que

un (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em Ω.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 108

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω,

f (un (x))(un (x) − u(x)) ≤ |h(x)|p + |h(x)|q quase em toda parte em Ω,

onde hp + hq ∈ L1 (Ω).
Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,
Z
f (un )(un − u) → 0. (7.11)

Recordemos uma desigualdade bastante conhecida no IRN .


Sejam x, y ∈ IRN e < . > o produto escalar usual neste espaço. Então, existe
um constante Cp > 0 tal que

< |x|p−2 x − |y|p−2 y, x − y >≥ Cp |x − p|p se p ≥ 2

e
|x − p|2
< |x|p−2 x − |y|p−2 y, x − y >≥ Cp se 1 < p < 2,
(|x| + |y|)2−p
onde |.| é a norma euclidiana.
Assim,
Z Z
Cp kun − ukp = Cp |∇un − ∇u|p ≤ h|∇un |p−2 ∇un − |∇u|p−2 ∇u, ∇un − ∇ui.
Ω Ω

Das propriedades do produto interno, encontramos


Z Z Z
Cp kun − ukp ≤ |∇un |p − |∇un |p−2 ∇un ∇u − |∇u|p−2 ∇u∇un .
Ω Ω Ω

Portanto, da convergência (7.11), obtemos

Cp kun − ukp ≤ I 0 (un )un − I 0 (un )u + on (1).

Passando ao limite de n → ∞, encontramos un → u em W01,p (Ω), mostrando


que I satisfaz a condição (P S)c . Do Teorema do Passo da Montanha, u é solução
fraca do Problema (P ). Desde que I(u) = c > 0, concluı́mos que u é não trivial.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 109

7.6 Um problema no IRN via Teorema do Passo


da Montanha
Consideremos agora o problema

(
−∆u + u = f (u) em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ).

Recordemos que a norma fixada em H 1 (IRN ) é dada por


Z Z 1/2
2 2
kuk = |∇u| + |u| .
IRN IRN

As hipóteses sobre a função contı́nua f : IR → IR são as seguintes:

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 s
e
f (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−1

onde 2 < q < 2∗ se N ≥ 3 ou 2 < q se N = 1 ou N = 2.


Como na seção 6.5, temos que

|f (s)| ≤ |s| + M3 |s|q−1 , para todo s ∈ IR e para algum M3 > 0. (7.12)

Existe θ > 2 tal que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo s > 0,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
Notemos que de (7.12), temos que

 K
|F (s)| ≤ |s|2 + |s|q ,
2 q
para algum K > 0.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 110

Assim, da seção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido


por
1Z 2 1Z 2
Z
I(u) = |∇u| + |u| − N F (u)
2 IRN 2 IRN IR

e Z Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v + uv − f (u)v,
IRN IRN IRN

para todo v ∈ H 1 (IRN ).


Vamos aplicar o Teorema do Passo da Montanha para mostrar a existência
de solução não trivial para o Problema (P ).
Notemos que, por um cálculo direto, I(0) = 0. Vamos mostrar agora que
I satisfaz a 1◦ geometria do Passo da Montanha. De fato, da condição de
crescimento da função F ,
1 1 Z KZ
I(u) ≥ kuk2 −  N |u|2 − |u|q .
2 2 IR q IRN

Das Imesões Contı́nuas de Sobolev, existem C1 , C2 > 0 tais que

1 K
I(u) ≥ (1 − C1 )kuk2 − C2 kukq .
2 q
Portanto, desde que 2 < q, existem α, β > 0 de tal forma que

I(u) ≥ α > 0, para todo u ∈ H 1 (IRN ) com kuk = ρ.

Mostraremos que I satisfaz a 2◦ geometria do Teorema do Passo da Montanha.


Da hipótese (f3 ), existem C3 , C4 > 0 tais que

F (s) ≥ C3 sθ − C4 . (7.13)

Agora fixando φ ∈ C0∞ (IRN ) e t > 0, temos da condição de crescimento (7.13)

t2 2 θ
Z
I(tφ) ≤ kφk − C3 t |φ|θ + C4 |supp φ|.
2 IRN

Portanto, desde que θ > 2, obtemos, I(tφ) → −∞ quando t → ∞ e este limite


implica que, existe t∗ > 0 tal que e = t∗ φ ∈ H 1 (IRN ) com kek > ρ e I(e) < 0.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 111

Assim, do Teorema do Passo da Montanha, existe (un ) ⊂ H 1 (IRN ) tal que

I(un ) → c > 0

e
I 0 (un ) → 0.

Notemos que (un ) é limitada em H 1 (IRN ), pois de (f3 ) encontramos


1 1 1
c + on (1) = I(un ) − I 0 (un )un ≥ ( − )kun k2 .
θ 2 θ

Desde que H 1 (IRN ) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de


subsequência,
un * u em H 1 (IRN ).

Vamos mostrar que o limite fraco u é ponto crı́tico do Funcional I.


Considerando φ ∈ C0∞ (IRN ), do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (supp φ)
tal que
un (x) → u(x) quase em toda parte em supp φ

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em supp φ.

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))φ(x) → f (u(x))φ(x) quase em toda parte em supp φ,

f (un (x))φ ≤ |h(x)||φ(x)| + |h(x)|q−1 |φ(x)| quase em toda parte em supp φ,

onde |h||φ| + |h|q−1 |φ| ∈ L1 (supp φ).


Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,
Z Z
f (un )φ → f (u)φ. (7.14)
IRN IRN

Assim, de I 0 (un )φ = on (1), passando ao limite de n → ∞, temos


Z Z Z
∇u∇φ + uφ = f (u)φ,
IRN IRN IRN
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 112

isto é,
I 0 (u)φ = 0, para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).

Desde que C0∞ (IRN ) = H 1 (IRN ), temos por densidade que

I 0 (u)v = 0, para todo v ∈ H 1 (IRN ),

mostrando que u ∈ H 1 (IRN ) é ponto crı́tico do Funcional I.


Por falta da imersão compacta, não é possı́vel afirmar que u 6= 0. Por isso,
precisamos continuar nosso estudo.
Se tivermos u 6= 0, neste caso u ∈ H 1 (IRN ) é solução fraca do problema (P ).
Se u = 0, observemos que não podemos ter un → 0, pois neste caso, da
continuidade de I, terı́amos I(0) = c = 0 , o que não pode ocorrer.
Portanto, do Lema 6.2, existem (yn ), R, β > 0 tais que
Z
|un |2 ≥ β > 0. (7.15)
BR (yn )

Considerando vn (x) = un (x + yn ), temos da invariancia do IRN por translação


que:
kvn k2 = kun k2 ≤ C,
Z Z
F (vn ) = F (un )
IRN IRN

e
I 0 (vn )ψ = I 0 (un )ψ(x − yn ).

Portanto, (vn ) é uma sequência (P S)c∗ para I, limitada tal que

vn * v em H 1 (IRN ),

onde v é ponto crı́tico do Funcional I. Para mostrar que v é não trivial, notemos
que de (8.8) encontramos
Z Z Z
|v|2 = lim |vn |2 = lim |un |2 ≥ β > 0.
BR (0) n→∞ BR (0) n→∞ BR (yn )
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 113

7.7 Um problema no IRN via Teorema do Passo


da Montanha com o p-Laplaciano
Vamos recordar o Lema de Brezis-Lieb que será usado nesta seção.

Lema 7.2 (Lema de Brezia Lieb) Seja Ω um domı́nio do IRN e consideremos


(hn ) ⊂ Ls (Ω) com s > 1 e tal que

hn (x) → h(x) q.t.p Ω.

Se existir C > 0 tal que Z


|hn |s ≤ C,

então
hn * h em Ls (Ω).

Observação 7.2 Recordemos ainda que


Z Z
hn * h em Ls (Ω) ⇔ hn g → hg,
Ω Ω

0 1 1
para todo g ∈ Ls (Ω), onde s
+ s0
= 1.

Consideremos o problema

(
−∆p u + |u|p−2 u = f (u) em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ).

Recordamos que uma solução deste problema é uma função u ∈ W 1,p (IRN ) tal
que Z Z Z
p−2 p−2
|∇u| ∇u∇φ + |u| uφ = f (u)φ,
IRN IRN IRN

para todo φ ∈ W 1,p (IRN ). A norma fixada em W 1,p (IRN ) é definida por
Z Z 1/p
p p
kuk = |∇u| + |u| .
IRN IRN

As hipóteses sobre a função contı́nua f : IR → IR são as seguintes:


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 114

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 |s|p−1

e
f (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−1
onde p < q < p∗ se N > p ou p ≤ q se N ≥ p.
Como na seção 6.5, temos que

|f (s)| ≤ |s|p−1 + M3 |s|q−1 , para todo s ∈ IR e para algum M3 > 0. (7.16)

Existe θ > p tal que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo s > 0,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
Notemos que de (7.16), temos que
 K
|F (s)| ≤ |s|p + |s|q ,
p q
para algum K > 0.
Assim, da seção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido
por
1Z p 1Z p
Z
I(u) = |∇u| + |u| − N F (u)
p IRN p IRN IR
e Z Z Z
0 p−2 p−2
I (u)v = |∇u| ∇u∇v + |u| uv − f (u)v,
IRN IRN IRN

para todo v ∈ W 1,p (IRN ).


Vamos aplicar o Teorema do Passo da Montanha para mostrar a existência
de solução não trivial para o Problema (P ).
Notemos que, por um cálculo direto, I(0) = 0. Vamos mostrar agora que
I satisfaz a 1◦ geometria do Passo da Montanha. De fato, da condição de
crescimento da função F ,
1 p 1 Z p KZ
I(u) ≥ kuk −  N |u| − |u|q .
p p IR q IRN
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 115

Das Imesões Contı́nuas de Sobolev, existem C1 , C2 > 0 tais que

1 K
I(u) ≥ (1 − C1 )kukp − C2 kukq .
p q
Portanto, desde que p < q, existem α, β > 0 de tal forma que

I(u) ≥ α > 0, para todo u ∈ W 1,p (IRN ) com kuk = ρ.

Mostraremos que I satisfaz a 2◦ geometria do Teorema do Passo da Montanha.


Da hipótese (f3 ), existem C3 , C4 > 0 tais que

F (s) ≥ C3 sθ − C4 . (7.17)

Agora fixando φ ∈ C0∞ (IRN ) e t > 0, temos da condição de crescimento (7.17)


tp Z
I(tφ) ≤ kφk2 − C3 tθ N |φ|θ + C4 |supp φ|.
p IR

Portanto, desde que θ > p, obtemos, I(tφ) → −∞ quando t → ∞ e este limite


implica que, existe t∗ > 0 tal que e = t∗ φ ∈ H 1 (IRN ) com kek > ρ e I(e) < 0.
Assim, do Teorema do Passo da Montanha, existe (un ) ⊂ W 1,p (IRN ) tal que

I(un ) → c > 0

e
I 0 (un ) → 0.

Notemos que (un ) é limitada em W 1,p (IRN ), pois de (f3 ) encontramos


1 1 1
c + on (1) = I(un ) − I 0 (un )un ≥ ( − )kun kp .
θ p θ

Desde que W 1,p (IRN ) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de


subsequência,
un * u em W 1,p (IRN ).

Vamos mostrar que o limite fraco u é ponto crı́tico do Funcional I.


Considerando φ ∈ C0∞ (IRN ), do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (supp φ)
tal que
un (x) → u(x) quase em toda parte em supp φ
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 116

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em supp φ.

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))φ(x) → f (u(x))φ(x) quase em toda parte em supp φ,

f (un (x))φ ≤ |h(x)|p−1 |φ(x)| + |h(x)|q−1 |φ(x)| quase em toda parte em supp φ,

onde |h|p−1 |φ| + |h|q−1 |φ| ∈ L1 (supp φ).


Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,
Z Z
f (un )φ → f (u)φ. (7.18)
IRN IRN

para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).


Com o mesmo raciocı́nio, provamos que
Z Z
|un |p−2 un φ → |u|p−2 uφ,
IRN IRN

para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).


Provaremos agora que

Z Z
p−2
|∇un | ∇un ∇φ → |∇u|p−2 ∇u∇φ,
IRN IRN

para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).


Seja ψ ∈ C0∞ (IRN ) tal que 0 ≤ ψ(x) ≤ 1, ∀x ∈ IRN e



 1, se x ∈ B1 (0)
ψ(x) = 

0, se x ∈ B2c (0).
Para cada ρ > 0, considere
!
x
Ψρ (x) = ψ . ,
ρ

Temos que
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 117



 1, se x ∈ Bρ (0)
ψρ (x) = 
c

0, se x ∈ B2ρ (0).
Definamos

Pn (x) =< |∇un |p−2 ∇un − |∇u|p−2 ∇u, ∇un − ∇u > .

Assim,
Z Z Z Z
0 ≤ Cp |∇un − ∇u|p ≤ Pn = Pn ψρ ≤ Pn ψ ρ .
Bρ (0) Bρ (0) Bρ (0) IRN

Portanto,
Z Z Z
p p
0 ≤ Cp |∇un − ∇u| ≤ |∇un | ψρ − |∇un |p−2 ∇un ∇uψρ
Bρ (0) IRN IRN
Z Z
− |∇u|p−2 ∇u∇un ψρ + |∇u|p ψρ
IRN IRN
= J1 − J2 + J3 + J4 + J5

onde Z Z Z
p p
J1 = |∇un | ψρ + |un | ψρ − f (un )un ψρ ,
IRN IRN IRN
Z Z Z
p−2 p−2
J2 = |∇un | ∇un ∇uψρ + |un | un uψρ − f (un )uψρ ,
IRN IRN IRN
Z Z
J3 = − |∇u|p−2 ∇u∇un ψρ + |∇u|p ψρ ,
IRN IRN
Z Z
p−2
J4 = |un | un uψρ − |un |p ψρ ,
IRN IRN
e Z Z
J5 = f (un )un ψρ − f (un )uψρ .
IRN IRN

Vamos estimar cada Ji , i = 1, 2, ..., 5.


Notemos que
Z
J1 = I 0 (un )(un ψρ ) − |∇un |p−2 un ∇un ∇ψρ .
IRN

Desde que
Z Z
p p
k(un ψρ )k = |∇(un ψρ )| + |un ψρ |p
IRN
Z Z IRN

≤ C[ |∇un |p + |un |p ]
IRN IRN
≤ Ckun kp ≤ C1 ,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 118

para alguma C1 > 0, temos que


Z
J1 = on (1) − |∇un |p−2 un ∇un ∇ψρ .
IRN

Notemos também que

Z Z
p−2
|∇un |p−1 |un ||∇ψρ |.

|∇un | un ∇ψρ ≤
IRN IRN

p
Da Desigualdade de Hölder com os expoentes p−1
e p, encontramos
Z Z (p−1)/p Z 1/p
p−2 p p p

|∇un | un ∇ψρ ≤ |∇un | |un | |∇ψρ | .
IRN IRN IRN

Recordando que (un ) ⊂ W01,p (IRN ) é limitada, temos que

Z Z 1/p
p−2 p p

|∇un | un ∇ψρ ≤ C1 |un | |∇ψρ | .
IRN

B2ρ (0)\Bρ (0)

Do Teorema de Vainberg, concluimos que


Z Z 1/p
p−2 p p

lim sup |∇un | un ∇ψρ ≤ C1 |u| |∇ψρ | .
n→∞ IRN B2ρ (0)\Bρ (0)

N N
Usando novamente a desigualdade de Hölder com os expoentes N −p
e p
,
obtemos
Z
p−2

lim sup N |∇un | un ∇ψρ
n→∞ IR
Z (N −p)/p Z N/p 1/p
p∗ N
≤ C1 |u| |∇ψρ | .
B2ρ (0)\Bρ (0) B2ρ (0)\Bρ (0)

Por uma mudança de variável, encontramos


Z Z (N −p)/p Z N/p 1/p
p−2 p∗ N

lim sup |∇un | un ∇ψρ ≤ C1 |u| |∇ψ| .
n→∞ IRN B2ρ (0) IRN

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,

Z
p−2

lim lim sup |∇un | un ∇ψρ = 0.
ρ→0 n→∞ IRN

Portanto
J1 = on (1) + oρ (1).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 119

Por um raciocı́nio análogo, encontramos

J2 = on (1) + oρ (1).

Da convergênica fraca
J3 = on (1).

Desde que un → u em Lsloc (IRN ) e ψρ tem suporte compacto, do Teorema da


Convergência Dominada de Lebesgue,

J4 = J5 = on (1).

Logo,
∂un ∂u
→ em Lploc (IRN ).
∂xi ∂xi
Em particular,
∂un ∂u
→ em Lp (BR ) ∀R > 0.
∂xi ∂xi

BR BR

Assim, do Teorema de Vainberg, fixado R = 1, existe uma subsequência


(u1n ) ⊂ (un ) tal que
∂u1n ∂u
(x) → (x) q.t.p em B1 .
∂xi ∂xi

Usando agora a imersão compacta na sequência (u1n ) e fixando R = 2, existe


uma subsequência (u2n ) ⊂ (un ) tal que
∂u2n ∂u
(x) → (x) q.t.p em B2 .
∂xi ∂xi

Seguindo este mesmo raciocı́nio, fixando k ∈ IN existe (ukn ) ⊂ (un ) tal que
∂ukn ∂u
(x) → (x) q.t.p em Bk .
∂xi ∂xi
Agora vamos mostrar que a sequência (ujj ) é tal que

∂ujj ∂u
(x) → (x) q.t.p em IRN .
∂xi ∂xi
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 120

∞ n o
∂ukn
[
∂u
Consideremos S = Sn , onde, Sn = x ∈ Bk : ∂xi
(x) 6→ ∂xi
(x) , temos
n=1
que |S| = 0.
Consideremos x ∈ IRN \S e j0 ∈ IN tal que x ∈ Bj0 , então

x ∈ Bj para j ≥ j0 .

Além disso,
∂uj0 n ∂u
(x) → (x) em Bj0 .
∂xi xi
∂ujj
Como ∂xi
(x) é uma subsequência de (uj0 n (x)) para j ≥ j0 , podemos concluir
que
∂ujj ∂u
(x) → (x) q.t.p em IRN .
∂xi ∂xi
Denotando ainda tal subsequência por (un ) obteremos:
∂ujj ∂u
(x) → (x) q.t.p em IRN .
∂xi ∂xi

Observemos que, para hn = |∇un |p−2 ∇un , temos que

hn (x) → h(x) q.t.p emIRN ,

onde h = |∇u|p−2 ∇u e além disso (hn ) é limitada em Lp/(P −1) (IRN ).


Do Lema de Brezis-Lieb encontramos
Z Z
|∇un |p−2 ∇un ∇φ → |∇u|p−2 ∇u∇φ,
IRN IRN

para todo φ ∈ W 1,p (IRN ).


Logo, de I 0 (un )φ = on (1), passando ao limite de n → ∞, temos
Z Z Z
p−2 p−2
|∇u| ∇u∇φ + |u| uφ = f (u)φ,
IRN IRN IRN

isto é,
I 0 (u)φ = 0, para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).

Desde que C0∞ (IRN ) = W 1,p (IRN ), temos por densidade que

I 0 (u)v = 0, para todo v ∈ W 1,p (IRN ),


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 121

mostrando que u ∈ W 1,p (IRN ) é ponto crı́tico do Funcional I.


Por falta da imersão compacta, não é possı́vel afirmar que u 6= 0. Por isso,
precisamos continuar nosso estudo.
Se tivermos u 6= 0, neste caso u ∈ W 1,p (IRN ) é solução fraca do problema (P ).
Se u = 0, observemos que não podemos ter un → 0, pois neste caso, da
continuidade de I, terı́amos I(0) = c = 0 , o que não pode ocorrer.
Portanto, por uma versão do Lema 6.2 para o espaço W 1,p (IRN ), existem (yn ),
R, β > 0 tais que
Z
|un |p ≥ β > 0. (7.19)
BR (yn )

Considerando vn (x) = un (x + yn ), temos da invariancia do IRN por translação


que:
kvn k2 = kun k2 ≤ C,
Z Z
F (vn ) = F (un )
IRN IRN
e
I 0 (vn )ψ = I 0 (un )ψ(x − yn ).

Portanto, (vn ) é uma sequência (P S)c∗ para I, limitada tal que

vn * v em W 1,p (IRN ),

onde v é ponto crı́tico do Funcional I. Para mostrar que v é não trivial, notemos
que de (8.8) encontramos
Z Z Z
p p
|v| = n→∞
lim |vn | = n→∞
lim |un |p ≥ β > 0.
BR (0) BR (0) BR (yn )

7.8 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 7


1. Use o Teorema do Passo da Montanha para resolver os seguintes problemas:
a)

(
−∆u + u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 122

2∗
2 < q < 2∗ se N ≥ 3 , h ∈ L 2∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0 .
b)

(
−∆p u + |u|p−2 u = h(x)|u|q−2 u em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),
p∗
p < q < p∗ , 2 ≤ p < N , h ∈ L p∗ −q (IRN )
T ∞ N
L (IR ), h(x) ≥ 0 e h 6= 0 .
Capı́tulo 8

O Princı́pio de Concentração e
Compacidade de Lions

8.1 Introdução
O Lema de Concentração e Compacidade de Lions é uma técnica eficiente para
resolver problemas com crescimento crı́tico. Nas seções seguintes, faremos uma
revisão das medidas de Radon, enunciaremos o Lema de Lions e, em seguida,
resolveremos alguns problemas com crescimento crı́tico.

8.2 O Lema de Concentração e Compacidade


de Lions-Caso limite
Seja Ω um domı́nio do IRN . Definamos os seguintes espaços de funções:

K(Ω) = {u ∈ C(Ω) : supp u ⊂⊂ Ω},

BC(Ω) = {u ∈ C(Ω) : |u|∞ = sup |u(x)| < +∞},


x∈Ω
e
k.kBC(Ω)
C0 (Ω) = K(Ω) .

Definição 8.1 Uma medida finita em Ω é um Funcional Linear Contı́nuo em

123
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 124

C0 (Ω). A norma de uma medida finita µ é dada por

kµk = sup | < µ, u > |,


u∈C0 (Ω),|u|∞ =1

onde <, > é o colchete de dualidade.

Denotaremos M(Ω) o espaço das medidas finitas ou espaço das medidas de


Radon e por M+ (Ω) o espaço das medidas finitas positivas, isto é, as medidas
µ ∈ M(Ω) tais que

< µ, u >≥ 0, para todo u ∈ C0 (Ω).

Se µ ∈ M(Ω), então existe uma medida de conjunto dµ sobre Ω tal que


Z
< µ, u >= u dµ.

Em particular, Z
dµ < ∞.
IRN

Uma sequência (µn ) converge fraco para µ no sentido das medidas de Radon
e escrevemos
µn * µ em M(Ω)

quando
< µn , u >*< µ, u >, para todo u ∈ C0 (Ω),

isto é, Z Z
u dµn → u dµ, para todo u ∈ C0 (Ω).
Ω Ω

Para finalizar essa revisão, vamos listar alguns resultados importantes sobre
as medidas M(Ω):
1) Toda sequência limitada de medidas finitas em Ω admite uma subsequência
fracamente convergente.
2) Se µn * µ, então kµk ≤ lim inf kµn k.
3) Se µ ∈ M+ (Ω), então kµk =< µ, 1 >= sup | < µ, u > |.
u∈C0 (Ω),|u|∞ =1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 125

Observação 8.1 Dada uma função ν ∈ L1 (Ω), definimos a seguinte medida


Z Z
ν : C0 (Ω) → IR, < ν , u >=
z}|{ z}|{
uν dx = u dν.
Ω Ω

Temos que ν ∈ M(Ω) e, portanto, L1 (Ω) ∼


= W ⊂ M(Ω). Usaremos a notação
z}|{

ν ∈ M(Ω).

Lema 8.1 (O Lema de PCCL - Caso Limite) Seja (un ) uma sequência em

D1,2 (IRN ) tal que un * u em D1,2 (IRN ), onde D1,2 (IRN ) = {u ∈ L2 (IRN ) : |∇u| ∈
L2 (IRN )}. Suponha que

νn = |un |2 * ν

e
µn = |∇un |2 * µ,

no sentido das medidas de Radon. Então,


i) Existe um conjunto J de ı́ndices, no máximo enumerável, duas famı́lias de
números reais não negativos (νj )j∈J e (µj )j∈J e uma famı́lia (xj )j∈J tais que

ν = |u|2 +
X
νj δxj
j∈J

e
µ ≥ |∇u|2 +
X
µ j δx j ,
j∈J

onde < δxj , φ >= φ(xj ), para toda φ ∈ C0 (Ω), chamada medida de Dirac de
massa 1.
ii)

2/2∗ X 2/2∗
Sνj ≤ µj e νj < ∞,
j∈J

kuk2
onde S = infN 2
.
u∈D1,2 (IR ),u6=0 |u| 2∗ N
L (IR )

8.3 Um problema com crescimento crı́tico em


domı́nio limitado
Consideremos o problema
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 126

∗ −2
(
−∆u = λf (u) + |u|2 u em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN .


As hipóteses sobre a função contı́nua f : IR → IR são as seguintes:

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 s
e
f (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−1

onde 2 < q < 2∗ .


Notemos que, por (f1 ) e (f2 ), temos

|f (s)| ≤ |s| + M3 |s|q−1 , para todo s ∈ IR e para algum M3 > 0. (8.1)

Existem θ > 2 e R > 0 tais que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo |s| ≥ R,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
Notemos que de (8.1), temos que

 K
|F (s)| ≤ |s|2 + |s|q ,
2 q
para todo s ∈ IR e para algum K > 0.
Assim, da secção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido
por
1Z Z
1 Z ∗
I(u) = |∇u|2 − λ F (u) − ∗ |u|2
2 Ω Ω 2 Ω
e Z Z Z
∗ −2
I 0 (u)v = ∇u∇v − λ f (u)v − |u|2 uv,
Ω Ω Ω

para todo v ∈ H01 (Ω).


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 127

Vamos aplicar o Teorema do Passo da Montanha para mostrar a existência


de solução não trivial para o Problema (P ).
Notemos que, por um cálculo direto, I(0) = 0. Vamos mostrar agora que
I satisfaz a 1◦ geometria do Passo da Montanha. De fato, da condição de
crescimento da função F ,
1 2 1 Z 2 KZ 1 Z ∗
I(u) ≥ kuk − λ  |u| − λ |u| − ∗ |u|2 .
q
2 2 Ω q Ω 2 Ω

Das Imesões Contı́nuas de Sobolev, existem C1 , C2 , C3 > 0 tais que


1 K C3 ∗
I(u) ≥ kuk2 − λ C2 kukq − ∗ kuk2 .
2 q 2

Para kuk ≤ 1, encontramos

1 K C3
I(u) ≥ (1 − λC1 )kuk2 − (λ C2 + ∗ )kukq .
2 q 2
Portanto, desde que 2 < q, existem α, ρ1 > 0 de tal forma que

I(u) ≥ α > 0, para todo u ∈ H 1 (IRN ) com kuk = ρ1 .

Considerando ρ = min{1, ρ1 }, encontramos I(u) ≥ α > 0, para todo u ∈


H01 (Ω) com kuk = ρ.
Mostraremos que I satisfaz a 2◦ geometria do Teorema do Passo da Montanha.
A hipótese (f3 ) implica que existem C4 , C5 > 0 tais que

F (s) ≥ C4 sθ − C5 . (8.2)

Agora fixemos φ ∈ C0∞ (Ω) e t > 0 suficientemente grande tal que ktφk ≥ R.
Assim, da condição de crescimento (8.2)

t2 Z
t2 Z ∗
I(tφ) ≤ kφk2 − λC3 tθ |φ|θ + λC4 |supp φ| − ∗ |φ|2 .
2 Ω 2 Ω
Portanto, desde que θ > 2, obtemos, I(tφ) → −∞ quando t → ∞ e este
limite implica que, existe t∗ > 0 tal que e = t∗ φ ∈ H01 (Ω) com kek > ρ e I(e) < 0.
Assim, do Teorema do Passo da Montanha, existe (un ) ⊂ H01 (Ω) tal que

I(un ) → cλ > 0
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 128

e
I 0 (un ) → 0.

Vamos mostrar agora que, sob condições especiais, o Funcional I satisfaz a


condição (P S)cλ .

1 N/2
Lema 8.2 O Funcional I satisfaz a condição (P S)cλ se cλ < N
S .

Demonstração: Notemos que (un ) é limitada em H01 (Ω), pois de (f3 )


encontramos
1 0 1 1 1 1 Z ∗
2
cλ + on (1) = I(un ) − I (un )un ≥ ( − )kun k − M |Ω| + ( − ∗ ) |un |2 .
θ 2 θ θ 2 Ω

Desde que H01 (Ω) é um Espaço de Banach Reflexivo, a menos de subsequência,

un * u em H01 (Ω),

e das Imersões Compactas de Sobolev,

un → u em Ls (Ω) para 1 ≤ s < 2∗ .

Do Teorema de Vainberg, existe h ∈ Ls (Ω) tal que

un (x) → u(x) quase em toda parte em Ω

e
|un (x)| ≤ h(x) quase em toda parte em Ω.

Assim, da continuidade de f , obtemos

f (un (x))(un (x) − u(x)) → 0 quase em toda parte em Ω,

f (un (x))(un (x) − u(x)) ≤ |h(x)|2 + |h(x)|q quase em toda parte em Ω,

onde h2 + hq ∈ L1 (Ω).
Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue,
Z
f (un )(un − u) → 0. (8.3)

Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 129

Afirmação 8.1 Z Z
2∗ ∗
|un | → |u|2 .
Ω Ω

Considerando esta afirmação por um momento, temos do Teorema de


Vaimberg, que Z
∗ −2
|un |2 un (un − u) → 0.

Agora, desde que (un − u) é limitada em H01 (Ω), temos que

I 0 (un )(un − u) = on (1),

isto é
Z Z Z
∗ −2
∇un ∇(un − u) = f (un )(un (x) − u(x)) + |un |2 un (un − u).
Ω Ω Ω

De (8.3), obtemos Z
∇un ∇(un − u) = on (1).

Passando ao limite de n → ∞, encontramos

lim kun k2 = kuk2 .


n→∞

Logo,
Z
kun − uk2 = ∇(un − u)∇(un − u) = kun k2 − kuk2 = on (1),

mostrando que I satisfaz a condição (P S)c . Do Teorema do Passo da Montanha,


u é solução fraca do Problema (P ). Desde que I(u) = cλ > 0, concluı́mos que u
é não trivial.
Provaremos agora a Afirmação 8.1. Estendendo por zero as funções de H01 (Ω)
fora de Ω, podemos considerar que H01 (Ω) ⊂ D1 (IRN ). Assim a menos de
subsequência,

∗ ∗
|∇un |2 * |∇u|2 + µ , and |un |2 * |u|2 + ν,

no sentido das medidas de Radon.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 130

Using o Lema 8.1, ou seja, o Princı́pio de Concentração e Compacidade de


Lions, obtemos um conjunto J de ı́ndices, no máximo enumerável, sequências
(xj ) ⊂ Ω, (µj ), (νj ), ⊂ [0, ∞), tais que

X X 2/2∗
ν= νi δxj , µ ≥ µj δxj , and Sνj ≤ µj , (8.4)
j∈J j∈J

para todo j ∈ J, onde δxj é a medida δ de Dirac de massa 1 em xj ∈ Ω.


Agora, para todo, % > 0, definimos φ% (x) := φ((x − xi )/%) where φ ∈
C0∞ (IRN , [0, 1]) é tal que φ ≡ 1 on B1 (0), φ ≡ 0 em IRN \ B2 (0) e |∇φ|∞ ≤ 2.
Desde (φ% un ) é limitada em H01 (Ω), I 0 (un )(φ% un ) → 0, isto é,
Z Z Z Z

un ∇un · ∇φ% dx = − φ% |∇un |2 + λ f (un )φ% un dx + |un |2 φ% + on (1).
Ω Ω Ω Ω

Por um cálculo direto, encontramos


Z
lim [ lim un ∇un · ∇φ% dx] = 0.
%→0 n→∞ Ω

Além disso, desde que f tem crescimento subcrı́tico e φ% tem suporte


compacto, fazendo n → ∞ na desigualdade acima
Z Z
φ% dν ≥ φ% dµ.
Ω Ω

Fazendo, % → 0 concluı́mos que

νi ≥ µ i .

Segue-se que
νi ≥ S N/2 . (8.5)

Mostraremos que a desigualdade (8.5) acima não pode ocorrer e, portanto, o


conjunto J é vazio. De fato, argumentando por contradição, suponhamos que,
νi ≥ S N/2 para algum i ∈ Λ. Desde que (un ) é uma sequência (P S)cλ , temos que
1
cλ = I(un ) − I 0 (un )(un ) + on (1).
2
Por (f3 ) obtemos
1 Z ∗ 1 Z ∗
cλ ≥ |un |2 + on (1) ≥ φ% |un |2 + on (1).
N Ω N Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 131

Fazendo n → ∞, temos
1 X 1 X 1
cλ ≥ φ% (xi )νi = νi ≥ S N/2 ,
N i∈Λ N i∈Λ N
o que é um absurdo. Assim, J é vazio e, portanto,
Z Z
2∗ ∗
|un | → |u|2 .
Ω Ω

1 N/2
Agora é suficiente mostrar que cλ < N
S .

Lema 8.3 Existe λ∗ > 0 tal que cλ < 1 N/2


N
S , para todo λ ∈ (λ∗ , +∞).

Demonstração: Se φ é a função que aparece na segunda geometria do Teorema


do Passo da Montanha, então do Teorema do Passo da Montanha, existe ηλ > 0
satisfazendo I(ηλ φ) = max I(ηφ). Portanto, de (f3 )
η≥0
Z
∗ ∗
kφk ≥2
ηλ2 −2 |φ|2 , (8.6)

o qual implica que (ηλ ) é limitado. Assim, existe uma sequência, λn → +∞ and
η0 ≥ 0 tal que ηλn → η0 quando n → +∞. Consequentemente, existe K > 0 tal
que

ηλ2n kφk2 ≤ K ∀n ∈ IRN ,

portanto
Z Z
∗ ∗
λn f (ηλn φ)ηλn φ + ηλ2n |φ|2 ≤ K ∀n ∈ IRN .
Ω Ω
Se η0 > 0, da última desigualdade encontramos
Z Z
∗ ∗
lim λn
n→∞
f (x, ηλn φ)ηλn φ + ηλ2n |φ|2 = +∞,
Ω Ω
o qual é um absurdo. Logo, concluı́mos que η0 = 0. Agora considere a curva
γ∗ (η) = ηe com η ∈ [0, 1]. Temos que γ∗ ∈ Γ e obtemos a seguinte estimativa
ηλ2
0 < cλ ≤ max I(γ∗ (η)) = I(ηλ φ) ≤ kφk2 .
η∈[0,1] 2
Desta maneira, se λ é suficiente grande, temos
ηλ2 1
kφk2 < S N/2 ,
2 N
de onde obtemos
1 N/2
0 < cλ < S .
N
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 132

8.4 Um problema com crescimento crı́tico no


IRN
Consideremos agora o problema

∗ −2
(
−∆u + u = λf (u) + |u|2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ).

Recordemos que a norma fixada em H 1 (IRN ) é dada por


Z Z 1/2
2 2
kuk = |∇u| + |u| .
IRN IRN

As hipóteses sobre a função contı́nua f : IR → IR são as seguintes:

f (s)
(f1 ) lim =0
s→0 s
e
f (s)
(f2 ) lim sup < +∞,
s→∞ |s|q−1

onde 2 < q < 2∗ .


Como na seção 6.5, temos que

|f (s)| ≤ |s| + M3 |s|q−1 , para todo s ∈ IR e para algum M3 > 0. (8.7)

Existe θ > 2 tal que

(f3 ) 0 < θF (s) ≤ f (s)s, para todo s > 0,


Z s
onde F (s) = f (t)dt.
0
Notemos que de (8.7), temos que

 K
|F (s)| ≤ |s|2 + |s|q ,
2 q
para algum K > 0.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 133

Assim, da seção 2.6, temos o funcional associado ao problema (P ) é definido


por
1Z 2 1Z Z
1 Z ∗
I(u) = |∇u| + 2
|u| − λ N F (u) − ∗ N |u|2
2 IRN 2 IRN IR 2 IR
e Z Z Z Z
0 ∗ −2
I (u)v = ∇u∇v + uv − λ f (u)v − |u|2 uv,
IRN IRN IRN IRN

para todo v ∈ H 1 (IRN ).


Vamos aplicar o Teorema do Passo da Montanha para mostrar a existência
de solução não trivial para o Problema (P ).
Notemos que, por um cálculo direto, I(0) = 0 e pelos estudos feitos nos
capı́tulos anteriores, temos que I satisfaz a 1◦ e a 2◦ geometrias do Passo da
Montanha.
Assim, do Teorema do Passo da Montanha, existe (un ) ⊂ H 1 (IRN ) tal que

I(un ) → cλ > 0

e
I 0 (un ) → 0.

Novamente de estudos realizados nas seções anteriores, un * u em H 1 (IRN ) e


1 N/2
cλ < N
S . Além disso, das Imersões Compactas de Sobolev,
Z Z
∗ −2 ∗ −2
|un |2 un φ → |u|2 uφ,
IRN IRN

para toda φ ∈ C0∞ (IRN ).


Assim, de I 0 (un )φ = on (1), passando ao limite de n → ∞, temos
Z Z Z Z
∗ −2
∇u∇φ + uφ = λ f (u)φ + |u|2 uφ,
IRN IRN IRN IRN

isto é,
I 0 (u)φ = 0, para todo φ ∈ C0∞ (IRN ).

Desde que C0∞ (IRN ) = H 1 (IRN ), temos por densidade que

I 0 (u)v = 0, para todo v ∈ H 1 (IRN ),

mostrando que u ∈ H 1 (IRN ) é ponto crı́tico do Funcional I.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 134

Por falta da imersão compacta, não é possı́vel afirmar que u 6= 0. Por isso,
precisamos continuar nosso estudo.
Se tivermos u 6= 0, neste caso u ∈ H 1 (IRN ) é solução fraca do problema (P ).
Se u = 0, vamos precisar do seguinte resultado:

Lema 8.4 Se (un ) é uma sequência (P S)c para I e limitada, então somente uma
das alternativas ocorrem:
a) un → 0 em H 1 (IRN )
ou
b) Existem (yn ) ⊂ IRN e R, β > 0 tais que
Z
|un |2 ≥ β > 0.
BR (yn )

Demonstração: Claramente se a) ocorre, então b) não pode ocorrer. Suponha,


por contradição que b) não ocorre. Então,
Z
sup |un |2 → 0.
y∈IRN BR (y)

Desde que (un ) é limitada, do Lema de Lions 6.1, temos que


Z
|un |q → 0.
IRN

Da condição de crescimento da função f , obtemos

Z
f (un )un → 0.
IRN

Assim,

kun k2 = |un |2 + on (1).

Portanto, a menos de subsequência,

kun k2 = d + on (1)

e

|un |2 = d + on (1).
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 135

Se d = 0, então o ı́tem a) está provado. Suponha, por contradição, que d > 0.


kun k2
Desde que S ≤ |un |22∗
, segue-se que

S ≤ d2/N .

Além disso,
1 1 ∗ 1
cλ + on (1) = I(un ) − I 0 (un )un ≥ |un |22∗ ≥ S N/2 ,
2 N N
o que é um absurdo. Logo, d = 0 e, portanto, kun k = on (1). Mas esta
convergência não pode ocorrer, pois da continuidade de I, terı́amos I(0) = c = 0.
Do Lema 8.4, existem (yn ), R, β > 0 tais que
Z
|un |2 ≥ β > 0. (8.8)
BR (yn )

Considerando vn (x) = un (x + yn ), temos da invariancia do IRN por translação


que:
kvn k2 = kun k2 ≤ C,
Z Z
F (vn ) = F (un )
IRN IRN
e
I 0 (vn )ψ = I 0 (un )ψ(x − yn ).

Portanto, (vn ) é uma sequência (P S)c∗ para I, limitada tal que

vn * v em H 1 (IRN ),

onde v é ponto crı́tico do Funcional I. Para mostrar que v é não trivial, notemos
que de (8.8) encontramos
Z Z Z
2 2
|v| = n→∞
lim |vn | = n→∞
lim |un |2 ≥ β > 0.
BR (0) BR (0) BR (yn )

8.5 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 8


1. Use o Teorema do Passo da Montanha para resolver os seguintes problemas:
a)
( ∗ −2
−∆p u = λ|u|q−2 u + |u|p u em Ω
(P )
u ∈ W01,p (Ω),
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 136

p < q < p∗ , 2 ≤ p < N , para todo λ > λ0 , para algum λ0 > 0, onde Ω é um
domı́nio limitado do IRN .
b)
∗ −2
(
−∆p u + |u|p−2 u = λ|u|q−2 u + |u|p u em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),

p < q < p∗ , 2 ≤ p < N , para todo λ > λ0 , para algum λ0 > 0 .


c)

(
−∆u = λu + f (x, u) em Ω
(P 1)
u ∈ H01 (Ω),

para todo λ < λ1 , onde Ω é um domı́nio limitado do IRN e λ1 o primeiro


autovalor associado ao problema

(
−∆u = λu em Ω
(P 2)
u ∈ H01 (Ω),

As hipóteses sobre f ∈ C(Ω × IR, IR) são:

f (x, s)
lim = 0,
s→0 s
uniformemente em Ω.

f (x, s)
lim = 0,
sq−1
s→+∞

uniformemente em Ω e para algum 2 < q < 2∗ .


Existe µ > 2 tal que
0 < µF (x, s) ≤ sf (x, s),
Z s
para todo |s| ≥ R, para algum R > 0, onde F (x, s) = f (x, t) dt.
0

2. Use o Princı́pio variacional de Ekeland e o Teorema do Passo da Montanha


para mostrar que existe λ∗ > 0 tal que , para todo λ ∈ (0, λ∗ ) os problemas
abaixo possuem pelo menos duas soluções distintas:
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 137

a)

∗ −2
(
−∆u = λ|u|q−2 u + |u|2 u em Ω
(P )
u ∈ H01 (Ω),

com 1 < q < 2.


b)

( ∗ −2
−∆p u = λ|u|q−2 u + |u|p u em Ω
(P )
u ∈ W01,p (Ω),

com p − 1 < q < p.


c)

∗ −2
(
−∆u + u = λ|u|q−2 u + |u|2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),

com 1 < q < 2.


d)

∗ −2
(
−∆p u + |u|p−2 u = λ|u|q−2 u + |u|p u em IRN
(P )
u ∈ W 1,p (IRN ),

com p − 1 < q < p.


Capı́tulo 9

A Identidade de Pohozaev

9.1 Introdução
Nasta seção seguinte, mostraremos um resultado de não existência de solução
devido ao Matemático russo Pohozaev. Desde que este texto é apenas
introdutório, aqui daremos apenas o enunciado da Identidade de Pohozaev,
indicando a demosntarção na referência [18]. Uma versão desta importante
desigualdade para o Operador p-Lapalciano pode ser vista em [1].

Lema 9.1 (A Identidade de Pohozaev) Seja Ω um domı́nio do IRN , g : IR →


IR uma função contı́nua e u ∈ H01 (Ω) 2
T
Hloc (Ω) uma solução fraca do problema

−∆u = g(u) em Ω e u = 0 sobre ∂Ω.

Então
N −2Z 1Z Z
|∇u|2 + |∇u|2 x.η(x) dSx = N G(u),
2 Ω 2 ∂Ω Ω
Rs 1
onde, G(s) = 0 g(s) ds com G ∈ L (Ω) e η(x) é o vetor normal exterior no
ponto x ∈ ∂Ω.
Se Ω = IRN , então
N −2Z Z
|∇u|2 = N G(u).
2 Ω Ω

9.2 Aplicações da Identidade de Pohozaev


Começaremos esta seção com a seguinte definição:

138
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 139

Definição 9.1 Um domı́nio Ω do IRN é dito estrelado com relação à orı́gem se


toda semi-reta partindo da orı́gem intesecta a fronteira de Ω em um único ponto.
Neste caso temos que

x.η(x) > 0, para todo x ∈ ∂Ω.

Aplicação 1
Se Ω é um domı́nio estrelado do IRN , então o problema

(
−∆u = |u|2 −2 u em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,
1 ∗
não tem solução não trivial. De fato, temos que G(u) = 2∗
|u|2 . Desde que Ω é
um domı́nio estrelado, da Identidade de Pohozaev,
N −2Z 1 Z ∗
|∇u|2 < ∗ |u|2 .
2N Ω 2 Ω

Portanto,
1 Z 2∗ 1 Z ∗


|u| < ∗
|u|2 ,
2 Ω 2 Ω
implicando que u = 0.
Aplicação 2
Considere o problema
(
−∆u + mu = λ|u|p−2 u em IRN
(P )
u ∈ H 1 (IRN ),

com λ, m > 0 e p > 2. Queremos encontrar um limite superior para valores de p


tal que o Problema (P ) tenha solução não trivial.
2
Considere g(s) = λ|s|p−2 s − ms. Então, G(s) = λp |s|p − m s2 .
Da Identidade de Pohozaev,
N −2Z 2
Z
|∇u| = G(u).
2N IRN IRN

Assim,

N −2Z Z
g(u)u = G(u),
2N IRN IRN
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 140

implicando
N −2Z Z
λ m
[λ|u| − m|u| ]= N [ |u|p − |u|2 ],
p 2
2N IRN IR p 2
o qual é equivalente a
N −2 1 N −2 1
 Z Z
λ − |u|p = m[ − |u|2 .
2N p IRN 2N 2 IRN

Portanto,
1 1 1 1
 Z  Z
p
λ ∗− |u| = m ∗ − |u|2 < 0,
2 p IRN 2 2 IRN

de onde concluı́mos que


p < 2∗ .

9.3 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 9


1. Use a identidade de Pohozaev para justificar que o problema abaixo não
tem solução não trivial se Ω é um domı́nio estrelado limitado.


−∆p u = |u|p −2 u em Ω
(
(P )
u ∈ W01,p (Ω),
Capı́tulo 10

Ponto de Sela

10.1 Introdução
Neste capı́tulo vamos enunciar o Teorema do Ponto de Sela de Rabinowitz. Nas
seç oes seguintes vamos definir Grau Topológico e faremos algumas aplica ões
deste Teorema.

10.2 Grau Topológico


Nesta seção faremos uma breve revisão da Teoria do Grau. Um estudo mais
detalhado pode ser visto em (ver [17]).
Sejam Ω um domı́nio limitado do IRN , ψ ∈ C 1 (Ω, IRN ) e y ∈ IRN tal que
y∈
/ ψ(∂Ω). Nosso objetivo é mostrar existência de solução da equação

ψ(x) = y.

Supondo que y é um valor regular de ψ, isto é, que det ψ 0 (x) 6= 0, para todo
x ∈ ψ − {y}, do Teroema da Função Inversa, podemos garantir que ψ − {y} contém
/ ψ(∂Ω) e Ω é compacto, o conjunto ψ − {y} é
somente pontos isolados. Como y ∈
finito e, portanto, fica bem definido o número inteiro

sig det ψ 0 (x) se ψ − {y} =
X

 6 ∅
deg(ψ, Ω, y) =  x∈ψ − {y}
 0 caso contrário,

141
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 142

onde (
1 se t > 0
sig(t) =
−1 se t < 0.

Este número inteiro é chamado Grau Topológico da função ψ em relação


a Ω no ponto y.
Vamos calcular o Grau Topológico de algumas funções para ilustrar o conceito.

Exemplo 10.1 ψ : Ω → IR com Ω = (−1, 1) dado por ψ(x) = x2 − 2 , 0 <  < 1.


Vamos calcular deg(ψ, Ω, 0). Notemos que ψ 0 (x) = 2x 6= 0 para x 6= 0. Além
disso, ψ −1 {0} = {, −}. Portanto, ψ 0 () > 0 e ψ 0 () < 0 implicando em
deg(ψ, Ω, 0) = 0.

Exemplo 10.2 ψ : Ω → IR com Ω = (0, 25 π) dado por ψ(x) = sen x. Vamos


calcular deg(ψ, Ω, π4 ). Notemos que ψ(0) 6= π4 , ψ( 25 π) 6= π
4
e ψ 0 (x) = cos x. Além
disso, ψ −1 { π4 } = {ξ1 , ξ2 , ξ3 }. Portanto, ψ 0 (ξ1 ) > 0, ψ (ξ2 ) < 0 e ψ 0 (ξ3 ) > 0
0

implicando em deg(ψ, Ω, π4 ) = 1.

Da definição de Garu Topológico, temos as seguintes propriedades:


Propriedade 1 - Normalização
Se Id : Ω → IRN , então deg(Id, Ω, y) = 1 se y ∈ Ω e deg(Id, Ω, y) = 0 se y ∈
/ Ω.
Propriedade 2 - Excisão
Se deg(ψ, Ω, y) 6= 0, então existe pelo menos um x ∈ Ω tal que ψ(x) = y.
Propriedade 3 - Aditividade
Se Ω1 , Ω2 ⊂ Ω são tais que Ω1 Ω2 = ∅ e y ∈
T S
/ ψ(Ω\Ω1 Ω2 ), então
deg(ψ, Ω, y) = deg(ψ, Ω1 , y) + deg(ψ, Ω2 , y).
Propriedade 4 - Continuidade
deg(ψ, Ω, y) = deg(φ, Ω, y) sempre que kψ − φkC 1 é suficiente pequeno.
Propriedade 5 - Invariancia por homotopia
Se H ∈ C([0, 1] × Ω, IRN ), y ∈
/ H([0, 1]Ω) e y é um valor regular de
H(t, .) ∈ C 1 (Ω, IRN ) para todo t ∈ [0, 1], então deg(H(t, .), Ω, y) = const, para
todo t ∈ [0, 1].
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 143

Utilizando a homotopia H(t, x) = tψ(x) + (1 − t)φ(x), podemos facilmente


verificar a seguinte propriedade
Propriedade 6
Se ψ, φ ∈ C 1 são tais que ψ = φ em ∂Ω e y ∈ ψ(∂Ω), então deg(ψ, Ω, y) =
deg(φ, Ω, y).

Observação 10.1 A definição acima pode ser estendida para valores crı́ticos e
para função ψ ∈ C(Ω, IRN ). Tal extensão, chamada Grau de Brouwer, é feita
por aproximação e preserva as seis propriedades acima.
O Grau de Brouwer também pode ser estentido para funções ψ definidas em
espaços de dimensão infinita que são da forma

ψ = I − K,

onde K é um operador compacto. Tal extensão, chamada Grau de Leray-


Schauder, preserva as seis propriedades acima.

10.3 O Teorema do Ponto de Sela


W um Espaço de Banach com dimV < ∞ e
L
Teorema 10.1 Seja X = V
I ∈ C 1 (X, IR) um funcional satisfazendo:
Existem α ∈ IR e uma vizinhança aberta D ⊂ V da orı́gem tais que

(H1 ) I(v) ≤ α para todo v ∈ ∂D.

Existe β > α tal que

(H2 ) I(w) ≥ β para todo w ∈ W.

Seja ainda
c = inf max I(γ(u)),
γ∈Γ u∈D
 
onde Γ = γ ∈ C(D, X) : γ(v) = v, para todo v ∈ ∂D .
Então c ≥ β e se I satisfaz a condição (P S)c então c é um nı́vel crı́tico de I.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 144

Demonstração: Vamos primeiramente mostrar que c ≥ β. É suficiente mostrar


que, para cada γ ∈ Γ fixado, vale
\
γ(Ω) W 6= ∅,

pois neste caso, escolhendo uγ ∈ D tal que γ(uγ ) ∈ W , da hipótese (H2 ), obtemos

max I(γ(u)) ≥ I(γ(uγ )) ≥ β,


u∈D

para todo γ ∈ Γ. Logo, c ≥ β.


Seja γ ∈ Γ e denotemos por P : X → V a projeção de X sobre V . Notemos que
P ◦ γ ∈ C(D, X). Além disso, se u ∈ ∂D ⊂ V , então P (γ(w)) = P (w) = w 6= 0.
/ (P ◦ γ)(∂D) e P ◦ γ = Id em ∂D. Identificando V = IRdimV , temos
Logo, 0 ∈
que deg(P ◦ γ, D, 0) está bem definido e da propriedade 6 do Grau de Brouwer,

deg(P ◦ γ, D, 0) = deg(Id, D, 0) = 1.

Da propriedade 2, existe uγ ∈ D ⊂ V tal que

P ◦ γ(uγ ) = 0.

Mas, para qualquer u ∈ V , se P ◦ γ(u) = 0, tem-se que γ(u) ∈ W . Logo,


\
γ(D) W 6= ∅.

Suponha, por contradição, que c não é valor crı́tico de I. Como β > α, do


β−α
Lema de Deformação com 0 <  < 2
, obtemos uma deformação contı́nua

η:X→X

satisfazendo
/ I −1 ([c − , c + ])
η(u) = u sempre que u ∈

e
η(I c+ ) ⊂ I c− .

Da definição de c, existe γ tal que

max I(γ(u)) ≤ c + 
u∈D
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 145

e definamos γe : D → X tal que γe (u) = η(γ(u)).


É suficiente mostrarmos que γe ∈ Γ, pois neste caso γe (D) ⊂ I c+ e assim, para
todo u ∈ D, temos que γe (u) = η(γ(u)) ∈ I c− . Portanto,

c ≤ max I(γe (u)) ≤ c − ,


u∈D

o que é um absurdo.
Mstraremos agora que γe ∈ Γ. Temos que γe ∈ C(D, X). Para todo u ∈ ∂D,
da hipótese (H2 ), temos

I(u) ≤ α < β − 2 ≤ c − 2,

/ I −1 ([c − 2, c + 2]).


implicando que u ∈
Portanto,
γe (u) = η(γ(u)) = u,

mostrando que γe ∈ Γ.

Observação 10.2 As hióteses (H1 ) e (H2 ) são chamadas, respectivamente, 1◦


geometria e 2◦ geometria do Teorema do Ponto de Sela.
A 1◦ geometria é satisfeita quando I é anti-coercivo em V . A 2◦ geometria
é satisfeita quando I é coercivo em W e leva conjuntos limitados em conjuntos
limitados.
Diferente do Teorema do Passo da Montanha, no Teorema do Ponto de Sela
o valor crı́tico c pode ser nulo.
A 1◦ geometria pode ser substituida por I(v) ≤ α, para todo v ∈ V .

10.4 Um problema não Ressonante


Consideremos o problema
(
−∆u = f (x, u) em Ω
u = 0 sobre ∂Ω.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 146

Definição 10.1 Dizemos que o problema acima é do tipo ressonante quando


f (x, s) f (x, s)
lim = λj , λj autovalor de (−∆, H01 (Ω)). Quando ocorre lim =λ
s→∞ s s→∞ s
para λ ∈ (λj , λj+1 ), dizemos que o problema acima é do tipo não-ressonante.

Nesta seção estudaremos um problema não-ressonante. Mais precisamente,


consideremos o problema

(
−∆u = λu + g(x, u) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , λ ∈ (λj , λj+1 ).


A hipótese sobre a função g : Ω × IR → IR é que g é contı́nua e limitada.
Notemos que

λs + g(x, s) ≤ λ|s| + |g(x, s)| ≤ λ|s| + M ∈ Lq (Ω), para todo q ∈ [1, 2∗ ].

Assim, fica bem definido o funcional associado


1Z λZ Z
I(u) = |∇u|2 − |u|2 − G(x, u),
2 Ω 2 Ω Ω
Rs
onde G(x, s) = 0 g(x, t) dt.
Temos que I ∈ C 1 (H01 (Ω), IR) com
Z Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v − λ uv − g(x, u)v,
Ω Ω Ω

para todo u, v ∈ H01 (Ω).


Cnsiderando V = span{φ1 , φ2 , ..., φj }, onde φi é uma autofunção associada ao
autovalor λi . Assim, se W = V ⊥ , temos que H01 (Ω) = V
L
W.
Da caracterização variacional dos autovalores, temos
kuk2
λj+1 ≤ , (10.1)
|u|22
para todo u ∈ W .
Para todo u ∈ V , temos

u = σ1 φ1 + σ2 φ2 + ... + σj φj .
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 147

Portanto,
j j j
kuk2 = k σi φi k2 ≤ σi2 kφi k2 = σi2 λi |φi |22 ,
X X X

i=1 i=1 i=1

o que implica
j j
2
σi2 |φi |22
X X
kuk ≤ λj = λj < u, σi φi >L2 (Ω) .
i=1 i=1

Logo,
j
2
σi φi >L2 (Ω) = λj < u, u >L2 (Ω) = λj |u|22 ,
X
kuk ≤ λj < u,
i=1

ou seja

kuk2 ≤ λj |u|22 , (10.2)

para todo u ∈ V .
Vamos provar que I satisfaz a 1◦ geometria de sela. De fato, para todo u ∈ V ,
usando a desigualdade (10.2), temos
1 λ 2
Z
I(u) ≤ ( − )kuk − G(x, u).
2 2λj Ω

Desde que g é limitada e das imersões contı́nuas de Sobolev, obtemos


1 λ
I(u) ≤ ( − )kuk2 + M1 kuk,
2 2λj
para algum M1 > 0. Desde que, λ > λj , temos que I restrito a V é anti-coercivo,
isto é,
I(u) → −∞ quando kuk → +∞.

Assim, dado α ∈ IR, existe R > 0 tal que


\
I(u) ≤ α, para todo u ∈ V ∂BR (0).

Vamos provar que I satisfaz a 2◦ geometria de sela. De fato, para todo w ∈ W ,


usando a desigualdade (10.1), a limitação sobre g e as Imersões de Sobolev, temos
que
1 λ
I(w) ≥ (1 − )kwk2 − M1 kuk.
2 λJ+1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 148

Logo, I restrito a W é coercivo. Assim I(w) → ∞ quando kwk → ∞.


Portanto, I restrito a W é limitado inferiormente, isto é,

I(w) ≥ β,

onde α é escolhido tal que β > α.


Vamos mostrar agora que I satisfaz a condição (P S)c com c dado no Teorema
do Ponto de Sela.
Seja (un ) ⊂ H01 (Ω) uma sequência (P S)c . Mostraremos que (un ) é limitada
em H01 (Ω). Suponha, por contradição, que (un ) não seja limitada. Então, existe
uma subsequência, que ainda denotaremos (un ), tal que kun k → ∞.
un
Consideremos a sequência vn = kun k
. Temos que vn é limitada em H01 (Ω) e, a
menos de subsequência,

vn * v em H01 (Ω),

vn → v em Ls (Ω) para 1 ≤ s < 2∗ ,

e
vn (x) → v(x) q.t.p em Ω.

Desde que
Z Z Z
∇un ∇ψ − λ un ψ − g(x, un )ψ = on (1),
Ω Ω Ω

para todo ψ ∈ H01 (Ω). Multiplicando ambos os membros da igualdade anterior


1
por kun k
, obtemos
Z Z Z
ψ
∇vn ∇ψ − λ vn ψ − g(x, un ) = on (1).
Ω Ω Ω kun k

Da convergência fraca, encontramos


Z Z Z Z
∇vn ∇ψ − λ vn ψ → ∇v∇ψ − λ vψ.
Ω Ω Ω Ω

Desde que g é limitada, obtemos


Z
ψ
g(x, un ) → 0.
Ω kun k
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 149

Portanto, Z Z
∇v∇ψ = λ vψ.
Ω Ω

Desde que λ não é autovalor, segue-se que v ≡ 0.


Logo,
c 1 2
Z
1
+ o n (1) = − λ|v n |2 − G(x, un ) .
kun k2 2 Ω kun k2

Da limitação de g, temos que 0 = 21 , o que é um absurdo. Logo (un ) é limitada


em H01 (Ω) e, a menos de subsequência,

un * u em H01 (Ω),

un → u em Ls (Ω) para 1 ≤ s < 22 ,

e
un (x) → u(x) q.t.p em Ω.

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue, concluı́mos,

kun − uk2 = I 0 (un )un − I 0 (un )u = on (1),

mostrando que o funciona I satisfaz a condição (P S)c .


Logo, do Teorema do Ponto de Sela, c é um valor crı́tico de I.

10.5 Um problema Ressonante


Nesta seção estudaremos um problema ressonante. Mais precisamente,
consideremos o problema

(
−∆u = λu + g(x, u) em Ω
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio limitado do IRN , λj−1 < λ = λj . No caso em que j = 1,


consideraremos j − 1 = −∞.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 150

A hipótese sobre a função g : Ω × IR → IR é que g é contı́nua e limitada. Além


disso, Z
G(x, u) → −∞,

quando kuk → ∞. Notemos que

λs + g(x, s) ≤ λ|s| + |g(x, s)| ≤ λ|s| + M ∈ Lq (Ω), para todo q ∈ [1, 2∗ ].

Assim, fica bem definido o funcional associado


1Z 2 λZ 2
Z
I(u) = |∇u| − |u| − G(x, u),
2 Ω 2 Ω Ω
Rs
onde G(x, s) = 0 g(x, t) dt.
Temos que I ∈ C 1 (H01 (Ω), IR) com
Z Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v − λ uv − g(x, u)v,
Ω Ω Ω

para todo u, v ∈ H01 (Ω).


Cnsideraremos
H01 (Ω) = H−
M M
H0 H+ ,

onde
H− = span{φ1 , φ2 , ..., φj−1 },

H0 = kern(−∆ − λj Id)

e
H0 )⊥ .
M
H+ = (H−

Vamos mostrar o caso j > 1. O caso j = 1 segue de adaptações naturais.


Vamos considerar
P− : H01 (Ω) → H− ,

P0 : H01 (Ω) → H0 ,

e
P+ : H01 (Ω) → H+

as respectivas projeções de H01 (Ω) sobre H− , H0 , H+ .


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 151

Notemos que, para cada u ∈ H01 (Ω), é única a decomposição

u = P− u + P0 u + P+ u.

Observe que por um cálculo direto,

kP− uk2 ≤ λj−1 |P− u|22 , (10.3)

e da caracterização variacional dos autovalores, temos


kP+ uk2
λj+1 ≤ . (10.4)
|P+ u|22
L
Consideremos V = H− e W = H0 H+
Vamos provar que I satisfaz a 1◦ geometria de sela. De fato, para todo u ∈ V ,
usando a desigualdade (10.3), temos
1 λj Z
I(u) ≤ ( − )kuk2 − G(x, u).
2 2λj−1 Ω

Desde que g é limitada e das imersões contı́nuas de Sobolev, obtemos


1 λj
I(u) ≤ ( − )kuk2 + M1 kuk,
2 2λj−1
para algum M1 > 0. Assim, temos que I restrito a V é anti-coercivo, isto é,

I(u) → −∞ quando kuk → +∞.

Assim, dado α ∈ IR, existe R > 0 tal que


\
I(u) ≤ α, para todo u ∈ V ∂BR (0).

Vamos provar que I satisfaz a 2◦ geometria de sela. De fato, consideremos


w = P0 w + P+ w ∈ W . Desde que P0 w ∈ H0 , temos kP0 wk2 = λj |P0 w|22 .
Logo,
1 λj Z
I(w) = kP0 w + P+ wk2 − |P0 w + P+ w|22 − G(x, P0 w + P+ w).
2 2 Ω

Desde que P0 w e P+ w são ortogonais em H01 (Ω) e em L2 (Ω), temos


1 1 λj λj
I(w) = kP0 wk2 + kP+ wk2 − |P0 w|22 + |P+ w|22
Z2  2 2  2Z
− G(x, P0 w + P+ w) − G(x, P0 w) − G(x, P0 w).
Ω Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 152

Usando o Teorema do Valor Médio para cada x ∈ Ω, temos

|G(x, P0 w + P+ w) − G(x, P0 w)|= |g(x, s)||P+ w|≤ M |P+ w|.

Usando a desigualdade (10.4), a desigualade acima e as Imersões de Sobolev,


temos que
1 λj 2
Z
I(w) ≥ (1 − )kP+ wk − M1 kP+ wk − G(x, P0 w).
2 λJ+1 Ω

Se kwk = kP0 wk + kP+ wk → ∞, então poderemos ter três situações:


1)kP0 wk → ∞ e kP+ wk → ∞.
2)kP0 wk → ∞ e kP+ wk limitado.
3)kP0 wk limitado e kP+ wk → ∞ .
Em qualquer um dos casos temos

I(w) → ∞,

mostrando que I é limitado inferiormente e, portanto, satisfaz a 2o geometria de


sela.
Mostraremos que I satisfaz a condição (P S)c . Seja (un ) ⊂ H01 (Ω) uma
sequeência (P S)c para I. Assim,
λj
on (1)kP+ un k ≥ I 0 (un )P+ un ≥ (1 − )kP+ un k2 − M1 kP+ un k,
λJ+1
implicando que (P+ un ) é limitada em H01 (Ω).
Com os mesmos argumentos encontramos

λj
on (1)kP− un k ≥ −I 0 (un )P− un ≥ ( − 1)kP− un k2 − M1 kP− un k,
λj−1

implicando que (P− un ) é limitada em H01 (Ω).


Além disso,

kun − P0 un k = kP+ un + P− un k ≤ kP+ un k + kP− un k ≤ K,

para alguma K > 0.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 153

Notemos também que, para todo u ∈ H01 (Ω), temos

kP0 uk2 = λj |P0 u|22 .

Logo, usando a identidade anterior, encontramos

Z Z
kun − P0 un k2 − λj |un − P0 un |2 = kun k2 − λj |un |2 .
Ω Ω

Assim,

1 2 1 Z 2
Z
c + on (1) = I(un ) = kun k − λj |un | − G(x, un )
2 2 Ω Ω
1 2 1 Z 2
Z
= kun − P0 un k − λj |un − P0 un | − G(x, un ).
2 2 Ω Ω
Z
Da última igualdade deduzimos que G(x, un ) é uma sequência limitada

Usando o Teorema do Valor Médio para cada x ∈ Ω, temos
Z Z Z
G(x, P0 un ) = [G(x, P0 un − G(x, un )]+ G(x, un ) ≤ M1 kP− un + P+ un k + K,
Ω Ω Ω

para algum K > 0.


Da hipótese sobre G, temos que (P0 un ) é limitada em H01 (Ω).
Logo (un ) é limitada em H01 (Ω) e, a menos de subsequência,

un * u em H01 (Ω),

un → u em Ls (Ω) para 1 ≤ s < 22 ,

e
un (x) → u(x) q.t.p em Ω.

Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue, concluı́mos,

kun − uk2 = I 0 (un )un − I 0 (un )u = on (1),

mostrando que o funciona I satisfaz a condição (P S)c .


Logo, do Teorema do Ponto de Sela, c é um valor crı́tico de I.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 154

10.6 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 10


1. Descreva todos os autovalores do problema
00
−u = λu em (0, π), u(0) = u(π) = 0.

Em seguida, mostre que o problema ressonante


00
u + u = sen t, em (0, π), u(0) = u(π) = 0

não possui solução e explique porque o Teorema do Ponto de Sela não pode
ser usado neste caso.

2. Considere o problema

−∆u = λ1 u + g(u) − h(x), x ∈ Ω, u ∈ H01 (Ω),

onde h ∈ C(Ω, IR), g ∈ C(IR, IR) é uma função crescente. Denotando por
g±∞ = lim g(s), mostre que a condição
s→±∞
Z Z Z
g−∞ φ1 < h(x)φ1 < g+∞ φ1 ,
Ω Ω Ω

é uma condição necessária e suficiente para a existência de solução do


problema, onde φ1 é a autofunção associada a primeiro autovalor λ1 do
operador (−∆, H01 (Ω)).
Capı́tulo 11

O Método de Galerkin

11.1 Introdução
Neste capı́tulo vamos estudar o Método de Galerkin para equações elı́pticas.
O ingrediente principal neste método é o Teorema de Ponto Fixo de Brouwer.
Seguiremos a Dissertação de Mestrado de C. A. A. dos Santos [17].

11.2 O Teorema do ponto fixo de Brouwer


Teorema 11.1 (Teorema do ponto fixo de Brouwer) Seja Br (x) ⊂ IRN a
bola de centro em x e raio r e f : B r (x) → B r (x) uma aplicação contı́nua.
Então, f tem um ponto fixo.

Demonstração: Vamos mostrar primeiro, o caso em que o centro x da bola é a


origem. Neste caso temos f : B r (0) → B r (0). Defina a aplicação ϕ : B r (0) → IRN ,
dada por ϕ(y) = y − f (y) que é contı́nua, pois é uma diferença de funções
contı́nuas. Vamos supor que

y − f (y) 6= 0, ∀y ∈ ∂Br (0)

ou equivalentemente,
ϕ(y) 6= 0, ∀y ∈ ∂Br (0),

pois, caso contrário, o teorema já estaria demonstrado para o caso em que x = 0.

155
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 156

Agora, defina a seguinte homotopia:

H : B r (0) × [0, 1] → IRN


(y, t) 7→ H(y, t) = y − tf (y).

Vamos mostrar que


0∈
/ H(∂Br (0) × [0, 1]),

isto é, H(y0 , t0 ) 6= 0, ∀y0 ∈ ∂Br (0) e ∀t0 ∈ [0, 1]. Se t = 1 temos

H(y, 1) = y − f (y) = ϕ(y) 6= 0, ∀y ∈ ∂Br (0),

mostrando que
0∈
/ H(∂Br (0) × 1).

Agora, vamos analisar o caso em que t ∈ [0, 1) e y ∈ ∂Br (0). Observe que,

||tf (y)|| = t||f (y)|| ≤ tr < r = |y|

e com isso,
||tf (y)|| < |y|.

Consequentemente,
tf (y) 6= y

de onde segue que

H(y, t) 6= 0, ∀y ∈ ∂Br (0) e ∀t ∈ [0, 1).

Portanto,
0∈
/ H(∂Br (0) × [0, 1]).

Desde que o grau é invariante por homotopia, então:

deg(H(., t), Br (0), 0) = constante, ∀t ∈ [0, 1]

e portanto,
deg(H(., 0), Br (0), 0) = deg(H(., 1), Br (0), 0).

Assim, segue que

deg(f, Br (0), 0) = deg(I, Br (0), 0) = 1,


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 157

então,
deg(ϕ, Br (0), 0) = 1 6= 0.

Agora, como consequência das propriedades do Grau de Brouwer, existe y0 ∈


Br (0) tal que ϕ(y0 ) = 0, implicando que

y0 − f (y0 ) = 0

e com isso y0 = f (y0 ). Portanto, a aplicação f tem um ponto fixo y0 ∈ B r (0).


Vamos agora provar o caso geral, onde o centro da bola B r é um ponto
qualquer x ∈ IRN . Considere a aplicação ϕ : B r (0) → B r (0), dada por
ϕ(y) = f (x + y) − x. A aplicação ϕ é está bem definida, é contı́nua e
ϕ(B r (0)) ⊂ B r (0), pois

|ϕ(y)| = |f (x + y) − x| ≤ r,

isto é, ϕ(y) ∈ B r (0). Assim, ϕ tem um ponto fixo z ∈ B r (0), ou seja, ϕ(z) = z,
implicando que
f (x + z) = x + z.

Denotando,
w = x + z ∈ B r (x)

concluı́mos que f (w) = w. Mostrando que f tem um ponto fixo em B r (x).


O Teorema acima vale em situações mais gerais, como por exemplo

Teorema 11.2 Seja K ⊂ IRN um conjunto compacto e convexo, f : K → K


uma aplicação contı́nua. Então f tem um ponto fixo.

Demonstração: Desde que K é um compacto do IRN , existe uma bola de centro


em 0 e raio R tal que K ⊂ B R (0). Desde que K é fechado e convexo, seja
Pk : IRN → K a aplicação definida da seguinte maneira, dado x ∈ IRN , Pk (x) ∈ K
é o único ponto tal que

|x − Pk (x)| = min |x − y|.


y∈K

Defina f˜ : B R (0) → K ⊂ B R (0) por f˜(x) = f (Pk (x)). Observe que f˜ é contı́nua
pois é composição de funções contı́nuas. Então, do Teorema do Ponto Fixo de
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 158

Brouwer, f˜ possui um ponto fixo x0 . Como a imagem desta aplicação está contida
em K, segue da definição de Pk que

Pk (x0 ) = x0 .

Assim, x0 = f (Pk (x0 )) = f (x0 ), o que prova o resultado.


Como aplicação do Teorema do Ponto Fixo de Brouwer, temos o seguinte
resultado que tem fundamental importância nesta seção:

Teorema 11.3 (Lema fundamental) Seja f : IRN → IRN uma aplicação


contı́nua tal que < f (x), x >≥ 0, ∀x ∈ ∂BR (0). Então, existe x0 ∈ B R (0)
verificando f (x0 ) = 0.

Demonstração: Suponha, por contradição, que

f (x) 6= 0, ∀x ∈ B R (0)

e defina

g : B R (0) → B R (0)
−Rf (x)
x 7→ g(x) = .
||f (x)||

Observe que g verifica g(B R (0)) ⊂ B R (0), pois


|| − Rf (x)|| R||f (x)||
||g(x)|| = = = R,
||f (x)|| ||f (x)||

mplicando que g(x) ∈ B R (0). Além disso, g é contı́nua, pois f é contı́nua por
hipótese. Portanto, pelo Teorema do Ponto Fixo de Brouwer, a função g tem um
ponto fixo em B R (0). Seja x0 tal ponto fixo de g, isto é, x0 = g(x0 ). Desta forma,

||x0 || = ||g(x0 )|| = R > 0.

Por outro lado,


* +
2 2 −Rf (x0 ) −R
R = ||x0 || =< x0 , x0 >=< x0 , g(x0 ) >= x0 , = < x0 , f (x0 ) > .
||f (x0 )|| ||f (x0 )||
Desde que, por hipótese,
< x0 , f (x0 ) >≥ 0,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 159

temos que,
−R
0 < R2 = (x0 , f (x0 )) ≤ 0,
||f (x0 )||
o que é um absurdo. Portanto, existe x0 ∈ B R (0) tal que f (x0 ) = 0.

Observação 11.1 Observe que na reta real o Lema fundamental equivale ao


Teorema do Valor Intermediário.

Observação 11.2 : Se < f (x), x >> 0, ∀x ∈ ∂Br (0), o ponto y que verifica
f (y) = 0 deve pertencer ao conjunto Br (0).

11.3 O problema superlinear subcrı́tico


Consideremos o problema
(
−∆v = f (x, v) em Ω
(P )
v = 0 sobre ∂Ω,
N
onde Ω ⊂ IR é um domı́nio limitado e a função

f : Ω × IR → IR

uma função Carathéodory verificando a seguinte condição de crescimento:


|f (x, v)| ≤ C(x)|v|p , (f1 )

onde C : Ω −→ IR é uma funa̧ão em L (Ω) e
(
N +2
1<p ≤ N −2
, se N ≥ 3
1 < p, se N = 2.

Observação 11.3 : A condição (f1 ) pode ser trocada por uma condição do tipo

f (x, t) f (x, t)
lim =0 e lim < +∞
t→0 t t→±∞ |t|p

uniformemente em x ∈ Ω.

f (x, t)
De fato, se lim = 0, então dado  > 0, existe δ tal que para todo t ∈ IR
t→0 t
f (x, t)
com |t| < δ, teremos que < , logo |f (x, t)| < |t|. Como  é arbitrário

t
podemos tomar |t| ≤ |t|p .
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 160

f (x, t)
E se lim < +∞, então dado C1 > 0, existe k > 0 tal que para todo
t→±∞ |t|p

f (x, t) |f (x, t)|
t ∈ IR com |t| > k teremos que < C1 , logo < C1 , e assim,

|t|p |t|p
|f (x, t)| < C1 |t|p , ∀t ∈ IR : |t| > k.

Analisemos o caso em que δ ≤ |t| ≤ k. Como este é um intervalo em IR que é


fechado e limitado, então ele é compacto. Sendo f uma função Carathéodory,
f (x, t)
então é uma função contı́nua, e portanto, aplicada em um conjunto
|t|p
|f (x, t)|
compacto, ela é limitada. Logo, ≤ C2 , e portanto |f (x, t)| ≤ C2 |t|p
|t|p
para todo t ∈ IR tal que δ ≤ |t| ≤ k.
Agora, seja C = max{C1 , C2 , 1}, então

|f (x, t)| ≤ C|t|p

que é exatamente a condição (f1 ).


Sendo H01 (Ω) um Espaço de Hilbert separável, fixemos então

β = {w1 , w2 , ..., wn , ...}

uma base Hilbertiana do mesmo. Para cada m ∈ IN defina

Wm = [w1 , w2 , ..., wm ]

o espaço de dimensão finita gerado pelo conjunto {w1 , w2 , ..., wm }. Segue que os
espaços (Wm , || ||, ) e (IRm , | |) são isomorfos, através da aplicação natural

T : Wm → IRm

dada por
m
X
v= ξi wi 7→ T (v) = (ξ1 , ξ2 , ..., ξm ) = ξ
i=1

onde || . || e | . | são as normas usuais em H01 (Ω) e IRm . Além disso,


Z Z m m
Z X
||v||2 = |∇v|2 = ξi wi |2 = |ξi |2 |∇wj |2
X
|∇
Ω Ω i=1 Ω i=1
m Z m m
|ξi |2 |∇wi |2 = |ξi |2 ||wi ||2 = |ξi |2
X X X
=
i=1 Ω i=1 i=1
2
= |ξ| .
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 161

Assim,
||v|| = |ξ| = |T (v)|.

Nosso objetivo agora é mostrar que, para cada m ∈ IN, existe vm ∈ Wm


verificando a seguinte igualdade
Z Z
∇vm ∇ϕ = f (x, vm )ϕ, ∀ϕ ∈ Wm . (11.1)
Ω Ω

Para cada m ∈ IN defina a seguinte função

F : IRm → IRm

dada por F (ξ1 , ..., ξm ) = (F1 (ξ), F2 (ξ), ..., Fm (ξ)) sendo
Z Z
Fj (ξ) = ∇v∇wj − f (x, v)wj , ∀j = 1, 2, ..., m,
Ω Ω
m
ξi wi ∈ H01 (Ω). Queremos mostrar que
X
onde ξ → v =
i=1

i) Existe r > 0 tal que (F (ξ), ξ) ≥ 0 para todo ξ satisfazendo |ξ| = r;

ii) F : IRm −→ IRm é contı́nua.

Observe o seguinte
m
X
(F (ξ), ξ) = Fj (ξ)ξi .
j=1

Assim, Z Z
ξj Fj (ξ) = ∇v∇(ξj wj ) − f (x, v)(ξj wj )
Ω Ω
consequentemente
Z m
X Z m
X
(F (ξ), ξ) = ∇v∇ (ξj wj ) − f (x, v) (ξj wj )
Ω j=1 Ω j=1
Z Z
= ∇v∇v − f (x, v)v
ZΩ Z Ω
= |∇v|2 − f (x, v)v (11.2)
Ω Ω

Usando a condição (f1 ) obtemos


Z Z
f (x, v)v ≤ |f (x, v)||v|
Ω Ω Z
≤ C1 |v|p+1

= C1 |v|p+1
p+1 ,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 162

desde que
N +2
p+1≤ + 1 = 2∗
N −2
das Imersõs contı́nuas de Sobolev, existe C2 > 0 tal que

|v|p+1 ≤ C2 ||v||

e como Z
|∇v|2 = ||v||2 ,

então, de (11.2)

(F (ξ), ξ) ≥ ||v||2 − C||v||p+1 = ||v||2 (1 − C||v||p−1 ).

Note que, fazendo kvk = r e ρ = r2 (1 − Crp−1 ), para obtermos

(F (ξ), ξ) ≥ ρ > 0
1
basta considerar r = 1 . Logo, para todo ξ ∈ IRm tal que |ξ| = r teremos
2C p−1

(F (ξ), ξ) > 0, visto que kvk = |ξ|.

Observação 11.4 : As constantes r e ρ são independentes de m ∈ IN.

Mostremos que F é contı́nua. Considere


m
X m
X
vn = ξnj wj e v = ξj wj
j=1 j=1

onde
ξn = (ξn1 , ξn2 , ..., ξnm ) −→ ξ = (ξ1 , ξ2 , ..., ξm ).

Então,
Z Z m m
2 2
ξj wj )|2
X X
||vn − v|| = |∇(vn − v)| = |∇( ξnj wj −
Ω Ω j=1 j=1
Z m m Z
2 2
|∇wj |2
X X
= |∇ (ξnj − ξj )wj | = |ξnj − ξj |
Ω j=1 j=1 Ω
m m
|ξnj − ξj |2 ||wj ||2 = |ξnj − ξj |2 = |ξn − ξ|2 .
X X
=
j=1 j=1
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 163

Como ξn → ξ temos que vn → v em Wm . De acordo com a definição de Fj temos


que Z Z
Fj (ξn ) = ∇vn ∇wj − f (x, vn )wj
Ω Ω

e Z Z
Fj (ξ) = ∇v∇wj − f (x, v)wj .
Ω Ω

Seja g : Wm → IR definida por


Z
g(u) = ∇u∇wj , ∀u ∈ Wm .

Observe que g é um funcional linear contı́nuo. De fato, g é linear da linearidade


do gradiente e da integral, e sendo v ∈ Wm , pela desigualdade de Hölder obtemos
Z Z
|g(v)| = | ∇v∇wj | ≤ |∇v∇wj | ≤ ||v|| ||wj || = ||v||.
Ω Ω

Portanto, g ∈ (Wm )0 . Desde que vn → v em Wm , temos que g(vn ) → g(v) em IR,


ou seja, Z Z
∇vn ∇wj −→ ∇v∇wj . (11.3)
Ω Ω

Agora mostraremos que


Z Z
f (x, vn )wj −→ f (x, v)wj .
Ω Ω

Desde que f (x, .) : IR → IRé contı́nua e vn → v em H01 (Ω), por imersão compacta,
existe uma subsequência{vnk } ⊂ {vn } tal que vnk → v em Lk (Ω) para 1 ≤ k < 2∗
se N ≥ 3, e para 1 ≤ k < +∞ se N = 2 para k ∈ [1, 2∗ ). Logo, do Teorema de
Vainberg,

i) vnk (x) → v(x) q.t.p. em Ω;

ii) |vnk (x)| ≤ h(x), ∀n ∈ IN, q.t.p. em Ω, com h ∈ Lk (Ω).

De (i) obtemos

f (x, vnk (x))wj (x) −→ f (x, v(x))wj (x) q.t.p. em Ω.

E mais

|f (x, vnk (x))wj (x)| ≤ C|vnk (x)|p |wj (x)| ≤ C|h(x)|p |wj (x)|.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 164

Observe que, em particular, h ∈ Lp+1 (Ω) e wj ∈ Lp+1 (Ω). Logo, podemos


concluir que |vnk |p |wj | ∈ L1 (Ω). Assim,pelo Teorema da Convergência Dominada
de Lebesgue, Z Z
f (x, vnk )wj −→ f (x, v)wj . (11.4)
Ω Ω

De (11.3) e (11.4) podemos concluir que


Z Z Z Z
∇vnk ∇wj − f (x, vnk )wj → ∇v∇wj − f (x, v)wj ,
Ω Ω Ω Ω

ou seja,
Fj (ξnk ) → Fj (ξ), ∀j ∈ IN,

implicando que
F (ξnk ) → F (ξ).

Agora, suponhamos por contradição que a convergência

F (ξn ) → F (ξ) (11.5)

não ocorra, então existe ε0 > 0 e {F (ξnj )} ⊂ {F (ξn )} tal que

|F (ξnj ) − F (ξ)| ≥ ε0 , ∀j ∈ IN (11.6)

usando {F (ξnj )} na primeira parte da demonstração, obtemos uma subsequência


{F (ξnjk )} ⊂ {F (ξnj )} tal que

F (ξnjk ) → F (ξ) em IRm .

Assim, existe nj0 ∈ IN tal que


ε0
|F (ξnjk ) − F (ξ)| < , ∀njk ≥ nj0
2
o que é um absurdo por (11.6). Logo, a convergência (11.5) ocorre, mostrando
assim que, F é contı́nua.
Portanto do Teorema 11.3 (Lema fundamental), existe ξm ∈ IRm com |ξm | ≤ r,
tal que F (ξm ) = 0, ou seja, existe vm em Wm verificando

kvm k ≤ r, ∀m ∈ IN e Fj (ξm ) = 0, ∀j = 1, 2, ..., m,


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 165

implicando que
Z Z
∇vm ∇wj = f (x, vm )wj , ∀j = 1, 2, ..., m.
Ω Ω

Multiplicando a igualdade por um escalar qualquer αj , para cada j = 1, 2, ..., m


e somando-as, obtemos:
Z m
X Z m
X
∇vm ∇( αj wj )dx = f (x, vm )( αj wj ),
Ω j=1 Ω j=1

logo Z Z
∇vm ∇ϕ = f (x, vm )ϕ, ∀ϕ ∈ Wm . (11.7)
Ω Ω

Como Wm ⊂ H01 (Ω), ∀m ∈ IN e sendo r um número pequeno que não depende


de m podemos considerar r ≤ 1, então a sequência vm ⊂ H01 (Ω) é limitada.
Assim, a menos de subsequência, existe v ∈ H01 (Ω) tal que

vm * v em H01 (Ω).

Fixemos k ∈ IN e considere m ≥ k, então Wk ⊂ Wm e


Z Z
∇vm ∇ϕk = f (x, vm )ϕk , ∀ϕk ∈ Wk .
Ω Ω

Notemos que g : H01 (Ω) → IR definida por


Z
g(u) = ∇u∇ϕk , ∀u ∈ H01 (Ω)

é um funcional linear contı́nuo. De fato, g é linear da linearidade do gradiente e


da integral. Mostremos que g é contı́nuo. Seja v ∈ H01 (Ω), pela desigualdade de
Hölder, Z Z
|g(v)| = | ∇v∇ϕk | ≤ |∇v∇ϕk | ≤ kvkkϕk k.
Ω Ω

Como vm * v em H01 (Ω), temos que


Z Z
∇vm ∇ϕk −→ ∇v∇ϕk , ∀ϕk ∈ Wk (11.8)
Ω Ω

e mais, por imersão compacta, a menos de subsequência vm → v em Ls (Ω) para


1 ≤ s < 2∗ se N ≥ 3, e para 1 ≤ s < +∞ se N = 2, e pelo Teorema de Vainberg,
a menos de subsequência
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 166

i) vm (x) → v(x) q.t.p. em Ω

ii) |vm (x)| ≤ h(x), ∀m ∈ IN, q.t.p. em Ω, com h ∈ Ls (Ω).

Desde que f (x, .) é contı́nua e da convergência em (i) temos que

f (x, vm (x)) → f (x, v(x)) q.t.p. em Ω

Da condição de crescimento sobre f obtemos

|f (x, vm (x))ϕk (x)| ≤ C1 |vm (x)|p |ϕk (x)| ≤ C1 |h(x)|p |ϕk (x)|.
p+1
Desde que h ∈ Ls (Ω), temos em particular que hp ∈ L p (Ω). Além disso,
ϕk ∈ Lp+1 (Ω). Assim, segue que C|h|p ϕk ∈ L1 (Ω). Do Teorema da Convergência
Dominada de Lebesgue
Z Z
m→+∞
f (x, vm )ϕk −→ f (x, v)ϕk . (11.9)
Ω Ω

Portanto, da unicidade do limite


Z Z
∇v∇ϕk = f (x, v)ϕk . (11.10)
Ω Ω

Sendo β = {w1 , w2 , ..., wn , ...} uma base Hilbertiana para H01 (Ω), então todo
elemento ϕ ∈ H01 (Ω) é limite de uma sequência {ϕk } ⊂ H01 (Ω) tal que ϕk ∈ Wk .
Ou seja,
k→+∞
ϕk −→ ϕ em H01 (Ω). (11.11)

Mostremos agora que Z Z


∇v∇ϕk −→ ∇v∇ϕ. (11.12)
Ω Ω

Observe que, como mostramos anteriormente, a função g : H01 (Ω) → IR definida


por Z
g(ϕ) = ∇v∇ϕ,

é um funcional linear contı́nuo. De (11.11), a convergência em (11.12) se verifica.


Ainda de (11.11), por imersão compacta, temos que

ϕk → ϕ em Ls (Ω)
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 167

para 1 ≤ s < 2∗ se N ≥ 3, e para 1 ≤ s < +∞ se N = 2para s ∈ [1, 2∗ ). E assim,


pelo Teorema de Vainberg, a menos de subsequência,

i) ϕk (x) −→ ϕ(x) q.t.p. em Ω

ii) |ϕk (x)| ≤ h2 (x), ∀k ∈ IN, q.t.p em Ω, com h2 ∈ Ls (Ω).

De (i) decorre que

f (x, v(x))ϕk (x) −→ f (x, v(x))ϕ(x) q.t.p. em Ω.

E, de (ii) decorre que

|f (x, v(x))ϕk (x)| ≤ C1 |v(x)|p |ϕk (x)| ≤ C1 |v(x)|p |h2 (x)|.


p+1
Desde que v p ∈ L p (Ω) e, em particular h2 ∈ Lp (Ω), segue que C|v|p |h2 | ∈ L1 (Ω).
Do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue, temos que
Z Z
f (x, v)ϕk −→ f (x, v)ϕ. (11.13)
Ω Ω

Como ϕ é arbitrária em H01 (Ω)), de (11.10), (11.12), (11.13) e da unicidade do


limite, obtemos Z Z
∇v∇ϕ = f (x, v)ϕ, ∀ϕ ∈ H01 (Ω), (11.14)
Ω Ω
provando que v é uma solução fraca para o problema (P ).

11.4 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 10


1. 
Usando o Método de Galerkin, mostre existência de solução para o problema
q
 −∆v = λv + f (x, v)
 em Ω
v>0 em Ω (P )2


v=0 sobre ∂Ω.
onde λ > 0 é um parâmetro, 0 < q < 1, f : Ω × IR → [0, ∞) é uma
função localmente Lipschitz com

f (x, 0) = 0 (11.15)

e
|f (x, v)| ≤ C(x)|v|p , (11.16)
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 168

onde (
N +2
1<p ≤ N −2
, se N ≥ 3
1<p se N = 2.
e C : Ω → IR é uma funço em L∞ (Ω) e Ω ⊂ IRN é um domı́nio limitado.
Capı́tulo 12

A Teoria de Gênero

12.1 Introdução
Neste capı́tulo vamos estudar a Teoria de Gênero e um Teorema devido a Clark
[9] para mostrar a multiplicidade de soluções para o problema sublinear e para o
problema superlinear com crescimento crı́tico.

12.2 Propriedades de Gênero


Iniciamos considerando algumas noções básicas do Gênero de Krasnoselskii que
serão usadas no decorrer deste texto.
Seja E um Espaço de Banach. Vamos denotar por A a classe de todos os
subconjuntos fechados A ⊂ E \ {0} que são simétricos com relação a orı́gem, isto
é, u ∈ A implica −u ∈ A.

Definição 12.1 Seja A ∈ A. O Gênero de Krasnoselskii σ(A) de A é definido


como sendo o menor inteiro positivo k tal que existe uma aplicação ı́mpar
φ ∈ C(A, IRk ) tal que φ(x) 6= 0, para todo x ∈ A. Se tal k não existe, definimos
σ(A) = ∞. Além disso, da definição, σ(∅) = 0.

No que segue, estabeleceremos algumas propriedades de Gênero que serão


usadas nas seções seguintes. Mais informações poderão ser encontradas nas
referências [4], [8], [10] and [16].

169
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 170

Teorema 12.1 Seja E = IRN and ∂Ω a fronteira de um aberto, simétrico e


limitado Ω ⊂ IRN com 0 ∈ Ω. Então σ(∂Ω) = N .

Corolário 12.1 σ(S N −1 ) = N .

Como consequência deste Corolário, se E é de dimensão infinita, separável e


S é a esfera unitária de E, então σ(S) = ∞.
Agora estabeleceremos um resultado devido a Clark [9].

Teorema 12.2 Seja J ∈ C 1 (X, IR) um funcional satisfazendo a condição Palais-


Smale. Além disso, suponha que
i) J é limitado inferiormente e par;
ii) Existe um compacto K ∈ A tal que σ(K) = k e sup J(x) < J(0). Então J
x∈K
possui, pelo menos, k pares de pontos crı́ticos distintos e seus correspondentes
valores crı́ticos são menores que J(0).

Este resultado é uma consequência de um Teorema de multiplicidade


involvendo um funcional invariante sob a ação de um grupo topológico compacto.

Proposição 12.1 Se K ∈ A, 0 ∈
/ K and γ(K) ≥ 2, então K tem infinitos
pontos.

12.3 O problema sublinear via Gênero


(
−∆u = |u|q−2 u em Ω
(P )
u(x) = 0 sobre ∂Ω,

onde Ω é um domı́nio do IRN e 1 < q < 2.


Do Lema 2.1, o funcional associado ao problema (P ) é definido por
1Z 2 1Z
I(u) = |∇u| − |u|q
2 Ω q Ω
e Z Z
0
I (u)v = ∇u∇v − |u|q−2 uv.
Ω Ω
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 171

Ja vimos que I satisfaz a condição (P S) e que é limitado inferiormente. Além


disso, I é par.
Consideremos {e1 , e2 , ...} uma base hilbertiana de H01 (Ω) e para cada k ∈ IN
seja Xk = span{e1 , e2 , ..., ek }, o subespaço de H01 (Ω) gerado por k vetores
e1 , e2 , ..., ek . Notemos que Xk ,→ Lq (Ω) com imersão contı́nua. Assim, as normas
de H01 (Ω) e Lq (Ω) são equivalentes sobre Xk e, portanto, existe um número real
positivo C(k) o qual depende de k, tal que ,
Z
2
−C(k)kuk ≥ − |u|q ,

para todo u ∈ Xk . Logo,


1 1
I(u) ≤ kuk2 − C(k)kukq .
2 q
Assim,
1 1
 
q
I(u) ≤ kuk kuk2−q − C(k) .
2 q
Seja R um real positivo tal que
1 2−q 1
R < C(k).
2 q

Considere K = {u ∈ Xk : kuk = R1 }, onde 0 < R1 < R. Para todo u ∈ K, temos


1 2−q 1
 
I(u) ≤ R1qR − C(k)
2 1 q
q 1 2−q 1
 
< R R − C(k)
2 q
< 0 = I(0),

o qual implica
sup I(u) < 0 = I(0).
K

Desde que Xk e IRk são are isomórficos e K e S k−1 são homeomórfos, concluı́mos
que σ(K) = k. Do Teorema de Clarke, I tem, pelo menos, k pares de pontos
crı́ticos distintos. Desde que k é arbitrário, obtemos infinitos pontos crı́ticos
distintos de I.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 172

12.4 O problema superlinear crı́tico via Gênero


Consideremos o problema

∗ −2
(
−∆u = λ|u|q−2 u + |u|2 u em Ω,
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,
onde 1 < q < 2, Ω ⊂ IRN é um domı́nio limitado, e λ é um número real positivo.
O funcional associado ao problema (P ) é dado por
1Z 2 λZ 1 Z ∗
I(u) = |∇u| − |u| − ∗ |u|2 .
q
2 Ω q Ω 2 Ω
Notemos que
Z Z Z
0 q−2 ∗ −2
I (u)φ = ∇u∇φ − λ |u| uφ − |u|2 uφ,
Ω Ω Ω

para todo φ ∈ H01 (Ω). Portanto, pontos crı́ticos de I são soluções fracas de (P ).
Desde que I não é limitado inferiormente, vamos usar o mesmo argumento
encontrado em [5], para usar a Teoria de Gênero.
Das Imersões Contı́nuas de Sobolev, temos
1 1 1 ∗
I(u) ≥ kuk2 − λ kukq − ∗ 2∗ /2 kuk2 = g(kuk2 ),
2 Sq q 2S
onde Sq é a melhor constante da Imersão H01 (Ω) ,→ Lq (Ω) e S é a melhor constante
∗ λ 1 ∗
na Imersão H01 (Ω) ,→ L2 (Ω) e g(t) = 21 t − q/2 tq/2 − ∗ 2∗ /2 t2 /2 .
qSq 2S
Portanto, existe λ∗ > 0 tal que, se λ ∈ (0, λ∗ ), então g atinge seu máximo
positivo, cujo gráfico é o primeiro abaixo.
Considerando λ ∈ (0, λ∗ ), denotando por R0 < R1 as únicas raı́zes de
g, façamos o seguinte truncamento sobre I: Considerando φ ∈ C0∞ ([0, +∞)),
0 ≤ φ(t) ≤ 1, para todo t ∈ [0, +∞), tal que φ(t) = 1 se t ∈ [0, R0 ] e φ(t) = 0 se
t ∈ [R1 , +∞). Agora, consideremos o funcional truncado.
1Z λZ 1 Z ∗
J(u) = |∇u|2 − |u|q − φ(kuk2 ) ∗ |u|2 .
2 Ω q Ω 2 Ω
λ
Notemos que J ∈ C 1 (H01 (Ω, IR)) e J(u) ≥ g(kuk2 ), onde g(t) = 12 t− q/2
tq/2 −
qSq
1 ∗ /2
φ(t) t2 , cujo gráfico é o segundo abaixo.
2∗ S 2∗ /2
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 173

Notemos que, se kuk2 ≤ R0 , então J(u) = I(u) e se kuk2 ≥ R1 , então


Z
λZ
J(u) = 21 |∇u|2 − |u|q .
Ω q Ω
Assim, concluı́mos que o funcional J é coercivo e, portanto, J é limitado
inferiormente.
Agora, mostraremos que J satisfaz a condição (P S)c , para alguns valores de
c. Para isto, precisamos de um resultado técnico.

Lema 12.1 Seja (un ) ⊂ H01 (Ω) uma sequência limitada tal que

I(un ) → c and I 0 (un ) → 0.

Se
1 N/2
c< S − λC(q, N, Ω),
N
então existe λ∗ > 0 tal que, para todo λ ∈ (0, λ∗ ), temos, a menos de subsequência,
(un ) é convergente em H01 (Ω), onde C(q, N, Ω) é uma constante positiva que
depende somente de q, N, Ω.

Demonstração: Passando a subsequência, podemos supor que


∗ ∗
|∇un |2 * |∇u|2 + µ e |un |2 * |u|2 + ν no sentido das medidas de Radon.
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 174

Argumentanto como no Capı́tulo 8, temos

νi ≥ S N/2 . (12.1)

Provaremos que esta desigualdade não pode ocorrer e, portanto, o conjunto


dos ı́ndices no Princı́pio de Concentração e Compacidade de Lions é vazio. De
fato, argumentando por contradição, suponha que νi ≥ S N/2 , para algum i ∈ Λ.
Assim,
1
c = I(un ) − I 0 (un )un + on (1).
2

Portanto,
1 1 Z 1 Z ∗
c ≥ −λ( − ) |un |q + |un |2 + on (1)
q 2 Ω N Ω
1 1 Z 1 Z ∗
≥ −λ( − ) |un |q + ψ% |un |2 + on (1).
q 2 Ω N Ω

Fazendo n → ∞, obtemos
1 1 Z 1 Z ∗ 1 X
c ≥ −λ( − ) |u|q + |u|2 + ψ% (xi )νi
q 2 Ω N Ω N i∈Λ
1 1 Z q 1 Z ∗ 1 X
= −λ( − ) |u| + |u|2 + νi
q 2 Ω N Ω N i∈Λ
1 N/2 1 1 Z 1 Z ∗
≥ S − λ( − ) |u|q + |u|2 .
N q 2 Ω N Ω

Da desigualdade de Hölder encontramos

q/2∗
1 N/2 1 1 2∗ −q
Z
2∗
c ≥ S − λ( − )|Ω| 2 ∗
|u|
N q 2 Ω
1 Z ∗
+ |u|2 .
N Ω

1 2∗ 1 1 2∗ −q
Seja f (t) = t − λ( − )|Ω| 2∗ tq . Esta função atinge o mı́nimo absoluto
N q 2
no ponto
1/(2∗ −q)
Nλ 1 1 2∗ −q

t0 = ( − )|Ω| 2∗ .
2q q 2
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 175

Portanto, concluı́mos que


1 N/2
c ≥ S − λC(q, N, Ω),
N
o qual é uma contradição. Assim, argumentando como no Capı́tulo 8,

kun − uk = on (1).

Observação 12.1 Pelo Lema 12.1 concluı́mos, para λ > 0 suficientemente


pequeno,
1 N/2
S − λC(q, N, Ω) > 0
N
e, portanto, se (un ) é uma sequência limitada tal que I(un ) → c, I 0 (un ) → 0 com
c < 0, então (un ) tem uma subsequência convergente.

Lema 12.2 Se J(u) < 0, então kuk2 < R0 e J(v) = I(v), para todo v em uma
vizinhança de u. Além disso, J verifica a condição (P S)c para c < 0.

Demonstração: Desde que g(kuk2 ) ≤ J(u) < 0, then kuk2 < R0 e J(u) = I(u).
Além disso, desde que, J é um funcional contı́nuo, concluı́mos que J(v) = I(v),
para todo v ∈ BR0 /2 (0). Agora, se (un ) é uma sequência tal que J(un ) → c < 0
e J 0 (un ) → 0, para n suficientemente grande, I(un ) = J(un ) → c < 0 e
I 0 (un ) = J 0 (un ) → 0. Desde que J é coercivo, temos que (un ) é limitado em
H01 (Ω). Do Lema 12.1, para λ suficientemente pequeno,
1 N/2
c<0< S − λC(q, N, Ω)
N
e, portanto, a menos de subsequência, (un ) converge em H01 (Ω).
Agora, construiremos uma sequência apropriada de valores crı́ticos negativos
para o funcional J.

Lema 12.3 Dado k ∈ IN, existe  = (k) > 0 tal que

γ(J − ) ≥ k,

onde J − = {u ∈ X : J(u) ≤ −}.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 176

Demonstração: Fixemos k ∈ IN, seja Xk o subespaço k-dimensional de H01 (Ω).


Assim, existe C(k) > 0 tal que
Z
−C(k)kukq ≥ − |u|q ,

para todo u ∈ Xk .
Considerando ρ > 0 tal que kuk = ρ, temos
ρ2 λ
J(u) ≤ − C(k)ρq .
2 q
Escolhendo ρ suficientemente pequeno, existe  = (k) tal que

I(u) < −.

para todo u ∈ Xk e com u ∈ S, onde S = {u ∈ Xk : kuk = ρ}. Portanto,


concluı́mos que S ⊂ J − . Desde que J − é simétrico e fechado, do Corolário 12.1,

γ(J − ) ≥ γ(S) = k.

Definimos agora, para cada k ∈ IN, os conjuntos

Γk = {C ⊂ H01 (Ω) : C é fechado , C = −C and γ(C) ≥ k},

Kc = {u ∈ H01 (Ω) : J 0 (u) = 0 e J(u) = c}


e o número
ck = inf sup J(u).
C∈Γk u∈C

Lema 12.4 Dado k ∈ IN, o número ck é negativo.

Demonstração: Do Lema 12.3, para cada k ∈ INexiste  > 0 tal que γ(J − ) ≥ k.
/ J − and J − ∈ Γk . Por outro lado,
Além disso, 0 ∈

sup J(u) ≤ −.


u∈J −

Portanto,

−∞ < ck = inf sup J(u) ≤ sup J(u) ≤ − < 0.


C∈Γk u∈C u∈J −

O Próximo Lema permite provarmos a existência de pontos crı́ticos de J.


Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 177

Lema 12.5 Se c = ck = ck+1 = ... = ck+r para algum r ∈ IN, então existe λ∗ > 0
tal que
γ(Kc ) ≥ r + 1,

para λ ∈ (0, λ∗ ).

Demonstração: Desde que c = ck = ck+1 = ... = ck+r < 0, do Lema 12.1


e do Lema 12.4, temos que Kc é compacto. Além disso, Kc = −Kc . Se
γ(Kc ) ≤ r, então existe um conjunto simétrico e fechado U com Kc ⊂ U tal
que γ(U ) = γ(Kc ) ≤ r. Notemos que podemos escolher U ⊂ J 0 porque c < 0.
Do Lema da Deformação [6] temos um homeomorfismo ı́mpar η : H01 (Ω) → H01 (Ω)
tal que η(J c+δ −U ) ⊂ J c−δ para alguma δ > 0 com 0 < δ < −c. Assim, J c+δ ⊂ J 0
e da definição de c = ck+r , existe A ∈ Γk+r tal que sup < c + δ, isto é, A ⊂ J c+δ e
u∈A

η(A − U ) ⊂ η(J c+δ − U ) ⊂ J c−δ . (12.2)

Mas γ(A − U ) ≥ γ(A) − γ(U ) ≥ k e γ(η(A − U )) ≥ γ(A − U ) ≥ k. Então


η(A − U ) ∈ Γk e isto contradiz (12.2). Portanto, este Lema é provado.
Agora se −∞ < c1 < c2 < ... < ck < ... < 0 com ci 6= cj , desde que cada ck é
valor crı́tico de J, obtemos infinito pontos crı́ticos de J e, portanto, o Problema
(P ) tem infinitas soluções.
Se existirem duas constantes ck = ck+r , então c = ck = ck+1 = ... = ck+r e do
Lema 12.5, existe λ∗ > 0 tal que

γ(Kc ) ≥ r + 1 ≥ 2

para todo λ ∈ (0, λ∗ ). Da Proposição 12.1, Kc tem infinitos pontos, isto é, o
Problema (P ) tem infinitas soluções.

12.5 Lista de Exercı́cios do Capı́tulo 12


1. Encontre os valores de λ tal que o problema abaixo tem infinitas soluçoes:

(
−∆u = λ|u|q−2 u + |u|p−2 u em Ω,
(P )
u = 0 sobre ∂Ω,
Uma introdução à teoria dos pontos crı́ticos 178

onde 1 < q < 2 < p < 2∗ , Ω ⊂ IRN é um domı́nio limitado, e λ é um número


real positivo.
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