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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................4
FAZENDO A DIFERENÇA...................................................................................................25
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................. 27
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................29
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O Autor
Ayres, Jonas
A igreja no horizonte pós-moderno. São José dos Pinhais: NAPEC, 20111.
30 p.: 14 x 21cm
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APRESENTAÇÃO
As boas obras devem ser prática cristã como fruto natural da recepção
genuína do Evangelho por cada ser humano que se denomina cristão. É
preciso ser um pouco mais prático, saindo do gueto e indo avante, entretanto,
de modo algum a ortodoxia pode ser ajustada, se transformando por demais
generosa, em função da ortopraxia. Em síntese, ortodoxia e ortopraxia devem
andar juntas, como atestado mútuo da veracidade da fé cristã.
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INTRODUÇÃO
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Emergente”, que lança mão de artifícios que se distanciam de modo muito
sutil do cristianismo ortodoxo.
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DEFININDO O PÓS-MODERNISMO
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Para os estudiosos da área, fica o desafio de definir o que significa este tempo.
Esperandio (2007, p.41) lança uma opinião sobre este tempo que confere com
o pensar de muitos:
Dando a explicação do porque do uso do termo “pós”, ele afirma que que o
que vivemos é na verdade o tempo do “hiper”:
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A cultura hipermoderna se caracteriza pelo enfraquecimento do poder regulador
das instituições coletivas e pela autonomização correlativa dos atores sociais em
face das imposições de grupo, sejam da família, sejam da religião, sejam dos
partidos políticos, sejam das culturas de classe. (...). Testemunho disso é a maré
montante de sintomas psicossomáticos, de distúrbios compulsivos, de depressões,
de ansiedades, de tentativas de suicídio, para nem falar do crescente sentimento
de insuficiência e autodepreciação. (...). À desregulação institucional
generalizada correspondem as perturbações do estado de ânimo, a crescente
desorganização das personalidades, a multiplicação de distúrbios psicológicos e
de discursos queixosos. (LIPOVETSKY, 2004, p.83-84).
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Após o fracasso da crença numa “perfeição humana” e na sua eventual
bondade, vendo o século XX ser manchado de sangue, mancha esta das duas
grandes guerras mundiais, uma guerra fria, estados governados por regimes
cruéis, ditadores e totalitaristas, inúmeras guerras civis, o vergonhoso
Holocausto efetuado pelos nazistas (como uma flecha no coração modernista
europeu), tensões na frança sob o regime do presidente Charles de Gaulle em
1968 (onde os jovens bradaram nas ruas o termo “é proibido proibir”) e
profundas mudanças no regime marxista, mudanças no pensamento quanto a
perfeição do modernismo foram minando tal época.
Derrida apregoa que os dicionários, por exemplo, dão a falsa impressão que as
palavras possuem definições e significados absolutos, inalteráveis. Para ele o
significado das coisas/palavras está ligado às experiências pessoais de cada
indivíduo, e como tais experiências mudam de forma constante, os
significados também mudam. Agindo assim, Derrira continuou a
“desconstruir” conceitos tradicionais firmados no pensamento humano. De
certa forma, a conseqüência macro do seu pensamento em nossos dias é o
relativismo, ou seja, tudo é relativizado por cada ser e a verdade e o absoluto
não passam de meros conceitos individuais. Sobre Derrida, Geisler diz (2002,
p. 248):
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Rorty por sua vez, com seu pensamento neo-pragmático afirma que a idéia da
verdade é apenas um mito. Em seu modo de pensar a “verdade” é aquilo que
sobrevive às objeções dentro do contexto cultural ao que é apresentado,
assim, o que é verdade continua sendo relativizado, não pelo individuo, mas
pelo ambiente sócio-cultural. Para Rorty, devemos abandonar a busca pela
verdade e nos contentarmos simplesmente com a interpretação.
Tal ambiente cria uma aparente sensação de que tudo está mais belo e livre e
que o homem pós-moderno é de fato o mais realizado de todos os tempos.
Poucos são francos em admitir seu verdadeiro sentimento de vazio e
confusão. Nas palavras de Miranda (2006, p.264):
Contudo, a lenta saída da modernidade, ainda que inexorável, não significa que o
evangelicalismo precise assumir a ordem pós-moderna. Com efeito, o
evangelicalismo provê um ponto de observação fundamental de onde criticar
aspectos da visão de mundo pós-moderna, não menos sua aparente reação
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exagerada à ênfase do Iluminismo na verdade. A verdade permanece um assunto
de importância apaixonante para o evangelicalismo, mesmo que exista uma
pressão cultural bastante forte na sociedade ocidental para conformar com sua
ótica prevalecente de “meu ponto de vista é tão bom quanto o seu”.
Mas afinal, o que significa para a humanidade o passar da era moderna para a
pós-moderna. Conforme Lipovetsky (2007, p.23) disse:
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IGREJA IMPREGNADA COM A FILOSOFIA PÓS-
MODERNA: A IGREJA EMERGENTE
Nasceu no final do século XX, mas floresceu no início do século XXI. Trata-se de
um movimento que prega a necessidade de uma nova compreensão do Evangelho
e da Espiritualidade, e de uma nova teologia com uma nova abordagem da
Bíblia. Um de seus mais famosos proponentes é o pastor americano Dan
1
“Ortodoxia Generosa” é também o nome de um livro de Brian McLaren, importante divulgador e
defensor do movimento Emergente. Publicado no Brasil pela Editora Palavra (Brasília, 2007). O tom
confuso do livro – adaptado ao contexto pós-moderno relativista e pluralista pode ser facilmente
identificado na capa do mesmo, onde o autor diz “Por que sou um cristão missional, evangélico,
pós-protestante, liberal/conservador, místico/poético, bíblico, carismático/contemplativo,
fundamentalista/calvinista, anabatista/anglicano, metodista, católico, verde, encarnacional,
deprimido-mas-esperançoso, emergente e inacabado”.
2
Não afirmo que o diálogo entre as religiões não deve ocorrer, mas que adentrar no ecumenismo
irrestrito que o pluralismo da pós-modernidade propõe pode levar o cristão à apostasia.
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Kimball, que lançou em 2003 o livro The Emerging Church: Vintage Christianity
for New Generations (Zondervan).3
3
Livro já publicado no Brasil com o título “A Igreja Emergente: Cristianismo clássico para as novas
gerações”, São Paulo: Vida, 2008.
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apologética cristã está atrasada e não deve permanecer defendendo a fé como
vem fazendo no decorrer da história. Defender a fé nos dias de hoje (pós-
modernismo), é ofensivo na mentalidade dos emergentes, tão pluralistas e
inclusivistas4.
4
Este pensamento não generoso de Brian McLaren para com a Teologia Sistemática e Apologética
está muito explícito nas linhas dos livros “Uma Ortodoxia Generosa” e “A Igreja do Outro Lado”.
5
O Homossexualismo é um fato na sociedade contemporânea. O homossexual deve ser respeitado
como ser humano, sendo repulsiva toda e qualquer forma de violência contra o cidadão seja por
palavras ou ações. Os homossexuais, assim como todo e qualquer cidadão, diante da lei têm seus
direitos e deveres. Entretanto, perante as premissas bíblicas, tais práticas são consideradas
pecaminosas, e a cultura secular não deve se infiltrar na igreja a ponto do cristianismo passar a
encarar esta prática como normal e aceitável. Uma ditadura gay tenta ser implantada no mundo,
sob o falso pressuposto de homofobia, onde o que de fato se observa é o levantar da bandeira
heterofóbica por parte das militâncias homossexuais.
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surgiu como um esforço deliberado para tornar o cristianismo mais
apropriado a uma cultura pós-moderna (MACARTHUR, 2007, p.46).
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Basta uma breve análise daquilo que o próprio McLaren afirma para perceber
que o movimento é nocivo à saúde da igreja cristã. Fazendo menção em todo
livro “Uma Ortodoxia Generosa” a uma gama variada de credos – e como os
cristãos tradicionais são “bitolados” – McLaren se mostra bastante
entusiasmado e receptivo com o pluralismo religioso que rege a pós-
modernidade. Provavelmente, o maior atestado deste pluralismo irrestrito de
McLaren seja o capítulo 15, intitulado “Por que sou católico”, onde o autor
relata um insólito episódio (MCLAREN, 2007, p.243-244):
6
Editora Palavra, Brasília, 2008.
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Por fim, outro autor que influencia o modelo Emergente é Stanley J. Grenz,
com seu livro “Pós Modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso
tempo”7.
7
Edições Vida Nova, São Paulo, 2008.
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CRÍTICA À IGREJA EMERGENTE
Hoje em dia, esse tipo de coisa [Igreja Emergente] goza de muita popularidade.
McLaren foi o autor ou o co-autor de cerca de uma dúzia de livros, e seu total
desprezo pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a
editora Zondervan e a organização Especialidades da Juventude trabalharam
em conjunto para iniciar uma linha de produtos chamada Emergente/EJ.
Publicam livros, DVDs e produtos de áudio num ritmo intenso e em abundância.
Entre os falsos ensinos que brotam da Igreja Emergente encontra-se uma forma
não tão sutil de ataque à autoridade da Bíblia – um claro sinal de apostasia. Eles
não mais afirmam: “Assim diz o Senhor” (apesar do uso dessa expressão por
mais de duas mil vezes na Bíblia), por temerem que isso ofenda aquelas pessoas
que apregoam a igualdade de todas as opiniões quanto ao seu valor. A Palavra de
Deus não é mais interpretada por aquilo que realmente diz; em vez disso, é
interpretada por aquilo que diz para você, desconsiderando, assim, o fato de que
a formação educacional e a experiência de vida de uma pessoa podem influenciar
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a maneira pela qual ela interpreta as Escrituras, a ponto de levá-la
irrefletidamente a um significado nunca planejado por Deus para aquele texto.
Muitos se assustam ao ler opiniões como a citada acima, mas nunca se deve
esquecer que, na história cristã, em praticamente 2.000 anos, inúmeras
investidas contra a ortodoxia surgiram, muitas delas explicitamente
contrárias aos padrões bíblicos e outras um pouco mais “amigáveis” e
“agradáveis”.
Mas o que deve ser notado aqui é que, no sistema de McLaren, a ortodoxia
realmente é uma questão de prática e não de crenças verdadeiras. Embora
reconheça que esta idéia é “escandalosa”, apesar disso, ele a afirma como a
mensagem central do seu livro [Uma Ortodoxia Generosa]. Francamente, é
difícil ver essa perspectiva como outra coisa, senão como a velha e familiar
incredulidade, arraigada numa rejeição dos ensinos claros das Escrituras.
McLaren elevou as boas obras do próprio pecador acima da importância da fé
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fundamentada na verdade do Evangelho. Não devemos admirar que ele sinta
grande afinidade com budistas e hinduístas. No campo final, muitas das idéias
dele a respeito do papel da retidão e das boas obras no cristianismo não diferem
fundamentalmente das idéias dessas religiões.
Por fim, vale lembrar que a Igreja Emergente no Brasil segue passos um pouco
diferentes da igreja americana. Os Emergentes no Brasil estão aparecendo
cada vez mais inseridos em igrejas novas ou velhas, mas que abriram as portas
para a filosofia relativista da pós-modernidade. Como praticamente tudo que
vem de fora encontra solo fértil na mentalidade espiritualista consumista do
brasileiro, não é de se estranhar que esta moda ainda venha a se manifestar de
modo intenso nos próximos anos.8
Para uma compreensão mais profunda sobre o perigo que este movimento
representa para a igreja, a leitura do livro “A Sedução das Novas Teologias”,
de Silas Daniel é muito proveitosa.9
8
Recentemente alguns modelos de igreja foram importados para o Brasil (efeitos da globalização
religiosa); uns ficaram, outros aos poucos caem no esquecimento (embora as feridas ainda
marquem a igreja). Modas como “A Benção de Toronto”; “Avivamento de Pensacola” e “Igreja em
Células no Governo dos 12 – G12” bagunçaram muito a eclesiologia brasileira.
CPAD, Rio de Janeiro, 2007. Ler em especial os capítulos 2 e 5.
9
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pensamento relativista. De fato é um grande desafio que não poderá ser
enfrentado (e vencido) enquanto a igreja permanecer lacrada entre quatro
paredes, dormindo em sua inércia. Levando em conta que tanto os
Emergentes como as pessoas moldadas pela filosofia pós-moderna anseiam por
algo mais prático, urge a necessidade de relembrar a necessidade do aspecto
prático do cristianismo.
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A INÉRCIA DA IGREJA CRISTÃ HODIERNA E A
NECESSIDADE DE OBRAS
Do outro lado da corda existe o sistema eclesiástico atual, que precisa dar
ouvido as criticas que o pensamento pós-moderno está fazendo, justamente
por estar dentro de um “sarcófago” em estado de inércia. No entanto, ao dar
ouvidos, não deve se deixar levar pelas filosofias que minam os fundamentos
da fé cristã. Vale entender que é necessário “aprender ainda outra língua – a
das formas de pensamento das pessoas com quem falará. (...) Cada geração
cristã defronta com este problema de aprender como falar ao seu tempo de
maneira comunicativa (SCHAEFFER, 2001, p.5).
A pergunta que fere como uma marreta na penha é: onde estão as boas obras e
o diferencial da igreja que se coloca como guardiões eternos da verdade?
Como manter uma ortodoxia sem boas-obras? Estamos vivendo um
cristianismo paradoxal? Jesus e seus discípulos, conforme descrito no Novo
Testamento, eram dedicados à exposição do Reino de Deus nos ensinos e na
prática. Neste sentido a igreja precisa ser mais relacional, conforme
Castañeira (2009) disse:
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Temos que revisar, então o modelo de Jesus cujo ministério público foi
essencialmente relacional. Ele andava no meio das multidões, ou então tinha
encontros privados com determinadas pessoas, até mesmo de noite. Ele sabia o
que era sentir o calor do meio-dia no deserto da Samaria, ou o frio da morte no
quarto de um adolescente. Ele deixou-se tocar por uma mulher cerimonialmente
impura, e tocou intencionalmente num leproso, isolado pela sociedade. Ele falou
de situações cotidianas, de sal e lâmpada, de sementes e pastores, de pais e filhos.
Essas idéias eram revolucionárias para o mundo de sua época. Lutero expôs
conceitos ímpares a seus ouvintes. Eles lhe deram ouvidos, e aconteceu uma
grande mudança religiosa e cultural. Milhares de pessoas tiveram acesso a
Deus de maneiras até então desconhecidas. Retirando camadas de tinta
desnecessárias e, ao mesmo tempo, redescobrindo elementos essenciais que
se haviam perdido, a obra de arte de Lutero foi parte do que veio a ser
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conhecido como Reforma. Graças a esse movimento, as igrejas no mundo
todo repensaram sua maneira de ser igreja, todos ganharam.
Em primeiro lugar, é preciso saber que não há boas obras senão apenas aquelas
que Deus mandou fazer. Também não existe pecado senão apenas aquele que
Deus proibiu. Por isso, quem quiser conhecer e praticar boas obras não precisa
conhecer senão o mandamento de Deus (...). Devemos aprender a perceber as boas
obras a partir dos mandamentos de Deus, e não baseados na aparência, na
grandeza ou na quantidade de obras em si mesmas, tampouco na opinião das
pessoas ou em leis ou costumes humanos.
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FAZENDO A DIFERENÇA
Em resumo: “Duas coisas são necessárias para que qualquer obra se qualifique
como boa diante de Deus: deve estar conforme a lei divina e deve proceder do
motivo certo” (KOEHLER, 2002, 122).
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Palavra, sem se deixar levar pela onda pós-moderna, por pior que seja o rótulo
recebido.
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Para maior profundidade de informações, a consulta à obra em questão é indispensável.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, está passada a hora da retomada missional da igreja, sair das paredes
do templo e agir de modo mais prático – ortopraxia sem descuidar da
ortodoxia. As palavras de Stott são perfeitas para tal definição (2007, p.194):
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A vida cristã é uma vida em família, na qual os filhos desfrutam da comunhão
com o Pai e com os irmãos. Mas não pense que as nossas responsabilidades como
cristãos terminam aqui. Os cristãos não formam um grupo fechado e arrogante,
interessado apenas em seu bem-estar. Ao contrário, todo cristão deveria
desenvolver um interesse profundo por todos os seus semelhantes, e procurar
servi-los de todas as formas. Isso faz parte da sua vocação cristã.
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REFERÊNCIAS
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_____________. A Igreja do outro lado. Brasília: Editora Palavra, 2008.
MEISTER, Mauro. Igreja Emergente, a igreja do pós-modernismo? Uma avaliação provisória.
in Revista Fides Reformata XI, n.º 1 (p.95-112). São Paulo, 2006
MIRANDA, Mário de França. A igreja numa sociedade fragmentada. São Paulo: Edições
Loyola, 2006.
MORELAND, J.P. & CRAIG, William Lane. Filosofia e cosmovisão cristã. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2005.
MORLEY, Brian K. in MACARTHUR, John. Pense biblicamente: recuperando a visão cristã de
mundo. São Paulo: Hagnos, 2005.
MUELLER, John Theodore. Dogmática cristã: um manual sistemático dos ensinos bíblicos.
Porto Alegre: Editora Concórdia, 2004.
SCHAEFFER, Francis. A morte da razão. São Paulo: ABU Editora; São José dos Campos:
Editora Fiel, 2001.
STOTT, John. Cristianismo básico. Viçosa: Editora Ultimato, 2007
TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. 4ª ed. São Paulo: ASTE, 2007.
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