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MARCOS L.

ROSA
UTE WEILAND

co-desenhando a cidade:
arquitetura + inteligência informal

1º edição
São Paulo 2017

ISBN 978-1-64008-513-8
08 A diferença que uma 64 Conselho Comunitário

ÍNDICE
aliança entre soluções de Miravalle
simples e arquitetura 66 Encontrando a Borda
pode fazer 74 CONSTRUINDO NOVAS
10 Uma troca urbana: PERSPECTIVAS
Novas Formas de 122 Hands of honour
Colaboração nas Cidades 124 A Cidade do Cabo e
14 Inteligência informal: a Questão da Moradia
compartilhando 132 VIRANDO A MESA
a cidade pública 160 Cure
30 Cidades sem fome 162 Desperdício e espaço
32 Produção abaixo 170 SUTRADHAR:
da rede elétrica O DESIGNER SOCIAL
36 urgente! EMERGENTE?
196 Biografias
PERSPECTIVAS
projetos podem servir como Depois de sete anos, sete

A diferença que modelos para iniciativas maiores,


de longo alcance.
Com orientação de autoridades
cidades e centenas de iniciativas
comunitárias, as práticas contem-
porâneas de planejamento

uma aliança
ou entidades públicas influentes, urbano começaram a ser questio-
os conceitos-chave desses nadas. É hora de os urbanistas
projetos menores podem ser desenvolverem novos processos
expandidos ou ajustados, num com base nas experiências de

entre soluções
esforço para lidar com os desa- iniciativas comunitárias. Para
fios da vida urbana em megaci- viabilizar esses processos, a Alfred
dades que crescem rapidamente. Herrhausen Gesellschaft iniciou o
Foi esta percepção que serviu projeto urbanxchanger em que os

simples e como trampolim para se iniciar


o Deutsche Bank Urban Age
(DBUA) Award, que reconhece
projetos exemplares organizados
urbanistas podem aprender com
iniciativas comunitárias, e
vice-versa, e em que os atores do
Norte Global podem aprender

arquitetura em âmbito local, destinados a


aprimorar o ambiente urbano,
e em consequência, a qualidade
com atores do Sul Global.
Creio firmemente que projetos
simples, se executados adequada

pode fazer
de vida dos residentes. Como tal, e cuidadosamente, têm o poten-
o prêmio pode ser visto como um cial não só para aprimorar
meio de facilitar iniciativas que fundamentalmente a qualidade
buscam soluções criativas a de vida nas vizinhanças em que
UTE ELISABETH WEILAND É A CEO DE Na metrópole moderna, políticas problemas diários foram iniciados, mas também em
urbanas bem-sucedidas se que confrontam uma grande outros ambientes. Seu imenso
GERMANY - LAND OF IDEAS. ELA FOI
baseiam amplamente em alian- parte da população mundial valor social deve primeiro ser
DIRECTORA-ADJUNTA DA ALFRED que mora na cidade. reconhecido, evidentemente,
ças temporárias. As cidades,
HERRHAUSEN GESELLSCHAFT (AHG), particularmente as megacidades, Estabelecido em 2007, o DBUA antes de poderem ser utilizados
O FÓRUM INTERNACIONAL DO se tornaram complexas demais Award foi apresentado em como modelo.
para serem governadas pela Mumbai, São Paulo, Istanbul, Acredito fortemente que esses
DEUTSCHE BANK, 2008-2016.
abordagem top-down mais Cidade do México, Cidade do projetos básicos têm um potencial
tradicional. Ademais, nestas Cabo, Rio de Janeiro e Nova vasto e inexplorado para trazer
paisagens urbanas que se Délhi. O objetivo do prêmio é paz e harmonia social a cidades
expandem continuamente tornar visível o invisível, revelar no mundo todo.
torna-se cada vez mais importan- o potencial urbano nas favelas,
te estimular e cultivar projetos municípios, bairros, Gecekondu-
urbanos básicos que buscam lar, ou favelas e constituir uma
aprimorar a vida dos habitantes porta de entrada para aqueles
das cidades. As evidências que nunca tiveram uma.
indicam que estes pequenos

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Uma troca urbana:

PERSPECTIVAS
pareada com uma equipe de habitacional em Cape Flats,
designers de Berlim. As quatro Cidade do Cabo.
equipes resultantes foram apre- Depois de discussões a longa
sentadas a uma iniciativa comuni- distância, os grupos se encontra-

Novas Formas de tária local selecionada da lista de


finalistas do Deutsche Bank Urban
Age Award.
ram pela primeira vez em cada
uma das quatro cidades respecti-
vas, onde foram apresentados às

Colaboração nas
Iniciativas comunitárias com um iniciativas comunitárias locais
forte impacto sobre, e interesse no através de oficinas. As oficinas
ambiente construído foram incluíram visitas aos locais,
escolhidas para o projeto. Além caminhadas urbanas, discussões

Cidades MARCOS L. ROSA É ARQUITETO E disso, procuramos iniciativas cujo multidisciplinares, conversas
trabalho estava ligado a macroes- informais, e sessões de design
PLANEJADOR URBANO, E CURADOR
truturas, relacionando-se portanto participativo com residentes
DO URBANXCHANGER à escala metropolitana, apesar de locais. Durante todo o projeto,
CO-DESENHANDO CIDADES designers entenderem a complexi- seus projetos serem focalizados no as equipes e comunidades traba-
'Co', como prefixo, indica parceria dade dos cenários cultural e social aprimoramento de espaços lharam com curadores e coorde-
ou igualdade. Refere-se a algo que eles encontram em seu urbanos em nível local. Nossos nadores locais, que foram atores-
feito conjuntamente, junto, e com trabalho, e para que as iniciativas critérios de seleção se apoiaram -chave na mediação do processo
relevância mútua. Co-design comunitárias captem o potencial na seguinte justificativa: embora o devido ao seu trabalho prévio
refere-se ao fazer das cidades de designers treinados para urbanxchanger reconheça a com as iniciativas comunitárias
coletivamente. Na tradução em contribuir para condições de vida fragilidade da ação isolada—devi- selecionadas.
português, adotamos a palavra e ambientes mais adequadas. do a seu caráter local—o progra-
desenho, embasados nessa noção Num esforço de forjar novas ma também analisa os mecanis- OS OBJETIVOS DE UM
do fazer, e com referência ao formas de colaboração em projetos mos usados para gerar mudança, PROCESSO ABERTO
entendimento de desenho urbano, nas cidades, o urbanxchanger foi e examina como aqueles mesmos Intencionalmente, não pedimos
como algo enfocado na escala e criado para aproximar a arquitetu- mecanismos poderiam ser aplica- para as equipes construírem nada,
experiência humana. Uma cidade ra do que referimos como uma dos em uma escala maior. mas que ouvissem e aprendessem
é o resultado de um esforço inteligência informal. Neste livro Esse pensamento levou a quatro uns com os outros, e em campo.
coletivo vertido no fazer de seus mostramos este processo através cenários distintos: as hortas Eles foram solicitados a testar
espaços, logo a questão que da colaboração entre designers, ou urbanas sob a rede elétrica em modos de ação colaborativos com
gostaríamos de focar aqui é como profissionais que atuam em temas São Mateus, São Paulo; os espaços a comunidade e a desenvolver
esses atos de fazer são realizados. urbanos, e iniciativas comunitárias comunitários ao longo de bordas uma abordagem local, orientada
Ao reconhecer o fato de que as locais em quatro cidades: São de Miravalle, Cidade do México; os para o processo, para lidar com os
cidades são o resultado do Paulo, Cidade do México, Cidade espaços autoconstruídos encon- desafios enfrentados por cada
coletivo, há um grande potencial do Cabo e Nova Délhi. trados ‘na borda’ da favela em uma das iniciativas, reimaginando
para mudança na maneira como Sangam Vihar, Nova Délhi; a a relação entre as iniciativas
elas são construídas atualmente. UM INTERCÂMBIO URBANO reciclagem das pessoas através de comunitárias, os praticantes
Mas para que a mudança aconte- Uma equipe desses profissionais de treinamento de capacitação, urbanos e a cidade. Em cada
ça, há uma necessidade para os cada uma das quatro cidades foi sendo usado para abordar a crise caso, o processo foi orientado

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PERSPECTIVAS
pela participação e negociação foram capazes de compartilhar as complexidades envolvidas em colaborar com os usuários—aceitos
ativas de todas as partes envolvi- seu trabalho e descobertas e a espaços urbanos—os meios de como experts em seus próprios
das no processo. refletir sobre seus processos, com produção nas cidades, bem como ambientes—em vez de desenhar
Vindas de diferentes cidades, base em feedback das outras de que modo os espaços são para eles. Tal abordagem também
as equipes foram solicitadas a usar equipes bem como no contato usados, apropriados e vivencia- postula o impacto e o papel da
suas diferentes perspectivas para com iniciativas comunitárias dos. Esses atos de transformação arquitetura e do design para
refletir se e como o conhecimento baseadas em Berlim. Esta fase do do espaço enfatizam o papel dos contribuir para modelar ambientes
urbano e a inteligência social de urbanxchanger envolveu reflexão ‘fazedores’ e modos de ‘fazer o urbanos adequados. É sobre
uma cidade poderia ser transferi- crítica sobre práticas experimen- lugar’ que resultam de uma encontrar o potencial para mudan-
da para o tecido sociocultural de tais que tinham sido desenvolvidas constelação de relações sociais ça engajando-se com os desafios
outra cidade. Foi considerado vital nas quatro cidades parceiras. acenando junto para um determi- impostos pelas vidas cotidianas dos
que essa troca de conhecimentos e Uma crítica das experiências foi nado lugar. habitantes. É sobre juntar forças
compartilhamento de experiências feita, juntamente com uma análise O processo de reflexão sobre políticas a fim de empoderar
fossem mutuamente relevantes e das ferramentas geradas através e crítica da experiência urbanx- residentes a transformar suas
benéficos. As iniciativas comunitá- do processo de trabalho e de um changer gerou conhecimento próprias realidades através de uma
rias deveriam ser capazes de questionamento da transferência crítico em duas áreas principais: abordagem prática, participativa
trocar experiências e se beneficiar de conhecimento adquirido com levantou questões e orientou e a partir dos recursos disponíveis.
com ideias compartilhadas a fim a experiência. ajustes às práticas desenvolvidas Finalmente, é sobre canalizar
de se ajudarem mutuamente a nas quatro cidades, e mostrou diferentes perspectivas em uma
superar os desafios que enfrentam. QUATRO NARRATIVAS como as experiências e o conhe- única direção inovadora
No processo de chegar a As quatro práticas apresentadas cimento ganho poderiam ser a fim de co-desenhar futuros
soluções, as equipes foram aqui revelam abordagens alterna- transferidos para a cidade possíveis: juntos, mutuamente
encorajadas a examinar o status tivas ao planejamento convencio- de Berlim. e conjuntamente.
quo do design do ambiente nal. O conhecimento que eles Isto enfatiza os diferentes níveis 'Co-desenhando cidades:
construído, para considerar a produziram está relacionado aos de colaboração envolvidos nesta arquitetura e inteligência informal’
noção de responsabilidade aspectos sociais e processuais do iniciativa. Não se trata simplesmen- refere-se a uma abordagem
compartilhada para o ambiente espaço, e podiam provar ser de te de o Sul aprender com o Norte, colaborativa com respeito à
construído, e tratar do impacto grande uso para comunidades, ou o contrário, ou sobre arquitetos, arquitetura, ao planejamento
social e político, ambiental e designers e governos. designers ou profissionais urbanos urbano e ao design e gerencia-
econômico de suas ações. Em Com base na experiência do aprenderem com iniciativas mento de espaços públicos, que
todos os casos, as soluções propos- urbanxchanger, sugerimos que o comunitárias, ou vice-versa. Mais potencializa comunidades locais,
tas foram testadas ou implementa- campo de estudos urbanos pode importante, o processo enfatiza o enquanto produz ganhos diretos
das no ambiente urbano. incorporar modos locais de fazer discurso do ‘co-’ como possibilida- para elas. O processo apresenta-
as coisas. Esta linha de pensamen- de em nível global e enfoca a ‘natu- do aqui identifica oportunidades
REFLEXÃO to aponta para uma revisão reza de participação’ muito e explora instrumentos alternati-
Mais tarde, as equipes se encon- necessária dos instrumentos discutida através das lentes do vos para intervir na construção de
traram em Berlim, uma cidade correntes disponíveis para inter- design, metodologias, ferramentas espaço coletivo.
considerada por alguns como um venção. Sugere uma mudança do e técnicas.
centro para inovação urbana design do objeto arquitetônico, No centro do urbanxchanger
contemporânea. Aqui, os times para um design capaz de articular está o conceito de co-design:

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PERSPECTIVAS
Inteligência
as cidades mais cuidadosamente
planejadas na Terra. Sua mágica
está na densidade, e não apenas
no quanto elas estão lotadas de

informal:
pessoas, mas na intensidade das
transações—social, financeira,
‘A cidade’, escreveu Lewis Mum- cooperativa, comunitária.
ford, ‘é um fato na natureza, como Pessoas fazendo e consertando,

compartilhando uma caverna, uma corrida de


cavalas ou um formigueiro. Mas é
também uma obra de arte cons-
ciente, e mantém dentro de sua
inventando, desmontando e
renovando, em encontros casuais
e no apoio mútuo.
A tentação da cidade informal é

a cidade pública estrutura coletiva muitas formas de


arte mais simples e pessoais.’
Há algo incômodo na ideia de
um formigueiro, mas a noção da
cidade informal como algo mais
sempre a de começar de novo—
planejar, reconstruir. Mas os
problemas que as cidades do
mundo enfrentam apresentam
uma escala quase incompreensí-
POR EDWIN HEATHCOTE
parecido a um organismo do que vel. O mundo dobrará sua taxa de
ESCRITOR, ARQUITETO a uma máquina modernista, soa urbanização por volta de 2050.
E DESIGNER E CRÍTICO DE verdadeira. É um assentamento Haverá o dobro de pessoas nas
DESIGN E ARQUITETURA DA feito sem arquitetos, sem plane- cidades, em comparação a hoje,
jadores, mas não sem arquitetura com dois bilhões delas vivendo em
FINANCIAL TIMES DESDE 1999
ou planejamento. Quando situações informais. Não há
falamos sobre sustentabilidade, soluções que possam ser impostas
falamos sobre energia incorpora- de cima. A mudança terá que vir
Convidamos o crítico de arquitetura e da nas estruturas da cidade— das ruas e dos cortiços, dos becos
design Edwin Heathcote para comparti- mas não falamos sobre a inteli- e dos morros, de baixo para cima.
lhar seu pensamento sobre as atividades gência incorporada na qual a Urbanxchanger é uma tentati-
realizadas no período de seis meses. Por cidade informal está tão va de catalisar essa mudança,
não estar envolvido no processo do claramente imersa. O caráter de essa engenhosidade, através de
projeto, nós lhe pedimos para examiná-lo improvisação, ad hoc, de infor- pesquisa e experimentação em
e escrever suas impressões do trabalho malidade é infindavelmente lugares específicos e com popu-
desenvolvido no urbanxchanger e para surpreendente. As pessoas fazem lações existentes, e então criar
analisar os resultados com um olhar novo. sua cidade como podem, com uma plataforma para comparti-
ferramentas e meios que lhes são lhar essa inteligência.
disponíveis. E embora possam
lhes faltar muitas comodidades
que esperamos de nossas cida-
des, esses lugares são pelo menos
tão urbanos—se não mais—que

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PERSPECTIVAS
DESPERDÍCIO DE ESPAÇO? mesmo das menores intervenções
O espaço pode ser escasso, o na definição do lugar e do
espaço pode ser abundante, espaço, e no aprimoramento
o espaço pode ser maldefinido. radical das condições urbanas
Mas é no uso inteligente e intenso através de meios mínimos.
do espaço que o espírito da Toda cidade tem seus próprios
cidade reside. problemas, e todo assentamento,
Seja intensidade, densidade ou suas próprias privações e carên-
limite, cada uma das intervenções cias, mas cada um deles pode
apresentadas aqui trata, à sua aprender algo com os outros.
maneira, da definição e deline- É desse potencial para trocas que
mento do espaço. Na borda da estamos falando.
Cidade do México o espaço
parece ser abundante, a paisa-
gem natural estende-se até onde
a vista pode alcançar; no entanto, Produção
é exatamente a questão de definir
o limite entre a cidade e o campo
que a manterá como um lugar
Abaixo da
especial. Fora de São Paulo, há
espaço de sobra, uma faixa de
terra não usada sob os cabos de
Rede Elétrica SÃO PAULO As redes de energia elétrica são instaladas em áreas lineares que cru-
força suspensos. Na densa A borda de qualquer megacida- zam regiões urbanas, isolando o espaço que ocupa. Esta iniciativa exemplifica
informalidade de Nova Délhi há de é maldefinida, um limite uma parceria forjada com os produtores locais, responsáveis pela administração
espaço urbano, mas ele é malde- dessas áreas, o que levou a concessões temporárias que permitem seu uso.
em fluxo constante, sendo
finido como um lugar. Na Cidade sempre testado, empurrado
do Cabo, o problema é a conten- e questionado. parte provocativa—está aqui, na de terra abaixo deles. O projeto
ção do espaço interior, a criação Vacila entre o urbano e o rural, borda leste de São Paulo. E esta trata tanto da falta de espaço
de uma estrutura para definir o entre a produtividade e o desper- resposta serpenteia ao longo do público verde na cidade, da falta
espaço. Em Berlim o problema é a dício, entre a agricultura, o espaço desperdiçado sob a rede de acesso a alimentos frescos
definição também— a estranha suburbano e a favela. de energia que gera eletricidade cultivados para os habitantes
anomalia de espaço comum É exatamente essa incerteza para a cidade. mais pobres da comunidade,
generoso que parece não ter uma que a torna tão cheia de Sob esse corredor de energia quanto da falta de oportunida-
finalidade específica e acaba potencial, um espaço está uma paisagem atenuada de des dos residentes locais para
não sendo usado. embrionário do possível. Mas agricultura urbana, trazida de complementar sua renda.
Os problemas de assentamen- como a cidade afeta o campo volta para a vida produtiva das Cidades Sem Fome, uma ONG
tos informais são considerados, sem que o rural desapareça, ou comunidades, em colaboração que funciona desde 2004, usa o
com frequência, intransponíveis. sem o achatamento informal de com a AES Eletropaulo, a empre- cultivo da terra como mecanismo
Os projetos urbanxchanger seu potencial? sa de eletricidade e proprietária não só para melhorar a nutrição
ilustram a tangibilidade até A resposta—pelo menos na dos cabos suspensos e da faixa de adultos e crianças, mas

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PERSPECTIVAS
também como uma forma de campo. O teto é uma estrutura pode aspirar facilmente—e as produzir comida orgânica própria,
reintegrar socialmente grupos simples de madeira coberto com condições que podem parecer para fugir da cidade e buscar as
marginalizados. O alimento tecido para criar um lugar de tão específicas—a faixa de terra raízes, aparece nas margens do
é sempre um foco da vida encontro—a cobertura mais não usada—são condições que Hemisfério Sul como um salva-vi-
social—mas a pobreza amplia básica para mesa e bancos. O prevalescem em toda cidade, das, a diferença entre a fome e o
sua importância. banheiro é outro espaço arquetí- seja o espaço público subutiliza- desejo, e fornecendo uma ferra-
Aglutinando-se ao trabalho pico, em que o dejeto se torna do, margens de ferrovias ou de menta para coesão e união social.
iniciado pelo Sr. Genival, pionei- fertilizante. E há um playground e infraestruturas. Com o uso Talvez seja exatamente neste
ro no cultivo da terra sob a rede um salão para ginástica, dois imaginativo, por parte da cidade, paradoxo que sua aplicabilidade
elétrica, este projeto representa lados da mesma moeda, que de suas caixas de água públicas universal resida. Aqui, a comida,
uma tentativa de formalizar os permite que os moradores da como pequenos parques públi- como em todas as nossas realida-
acordos com a empresa de cidade se movam livremente, cos, Medelim provou como pode des, está no coração de nossa
energia elétrica, para promover exercitem e aproveitem a ser produtivo reapropriar posses cultura e nossa sobrevivência.
o cultivo tanto como produção companhia uns dos outros e o ar urbanas das empresas de
quanto como atividade, e para
criar um espaço onde o alimento
pode ser testado, provado, discu-
fresco. O equipamento em ambos
é reciclado com engenhosidade—
pneus para arrastar ou onde se
utilidade pública. O esquema
São Mateus parece modesto em
comparação, mas é exatamente
encontrando
tido e as ideias, disseminadas.
Este projeto se baseia na
produção, na terra. Basta um
pode plantar, equipamentos
feitos de restos de madeira e de
metal reciclados. E o carrinho de
por isso que ele é reprodutível—
com os meios disponíveis mesmo
aos mais pobres. Onde falta
a borda
leve toque para que se manifeste alimentos é um veículo para clareza é na relação com a O projeto em Miravalle trata da
fisicamente. No entanto, também vender os produtos da terra e um cidade. A vasta escala de São infinidade de questões complexas
trata da criação de um espaço tótem para levar os frutos do Paulo significa que aqueles que do informal e, no processo de
urbano para suplementar um trabalho da comunidade para a moram em suas bordas gastarão fazer pequenas mudanças a situa-
pedaço da cidade que é denso cidade mais ampla—uma peça o início e o fim de seus dias indo e ções particulares, também
e mal servido. É paradoxal por de arquitetura móvel. vindo da cidade, para ir traba- redefine radicalmente a borda da
natureza—um espaço urbano no Não se trata de um projeto que lhar. Haverá algo suficiente para cidade em um lugar de produção
campo, uma faixa verde para a vai mudar o mundo. Está ligado a atraí-los para se deslocarem a e comunidade real, em vez de um
cidade da qual está separada, e um pedaço específico de terra um lugar ainda mais distante nos subúrbio dormitório inconveniente
uma plantação orgânica que não usada abaixo de um deter- poucos momentos preciosos de distante, disfuncional. Os proble-
compensa a energia ávida de minado tipo de infraestrutura, e seu tempo vago? Ou este é um mas tratados por este projeto são
carbono que é transportada deriva sua força das condições projeto para aqueles cujos possivelmente as preocupações
diretamente acima dela. específicas e do terreno fértil da empregos não os levam para o urbanas mais universais, e é
Os elementos do projeto, borda urbana de São Paulo. Mas, centro da cidade, ou para quem intrigante ver como soluções
desenvolvidos em colaboração talvez seja exatamente em sua não tem emprego? Os jovens, os dirigidas para as extremidades
com a ONG e produtores locais, modéstia, na simplicidade de idosos, as mulheres, os marginais? pobres de uma megacidade do
são despretensiosos —delibera- seus objetivos e na natureza ad É fascinante que o que no Hemisfério Sul podem parecer tão
damente ad hoc e impermanen- hoc de sua construção que se Hemisfério Norte parece ser um pertinentes para o tédio da
tes por se curvarem ao rural, em torne algo mais. Trata-se de algo projeto decadente, expressando metrópole moderna no clima
vez de tentar simular o urbano no a que qualquer comunidade uma burguesia urbana desejosa de ameno do Hemisfério Norte.

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PERSPECTIVAS
Subir em grupo pelo lado verde chegados as oportunidades que
do vulcão é como uma sessão de seus residentes tiveram? Trata-se
vínculo para a comunidade que o de uma nova vizinhança, agora
faz, e como um ato de apropriação formalizada, que evoluiu de um
cultural (mas não de posse física). assentamento informal. Estes
E permite uma visão voltada para seriam símbolos-limite de sucesso
a própria vizinhança—este ponto e consolidação? Ou de exclusão?
de vantagem coletiva simboliza o As intervenções anteriores
entendimento que a comunidade encontradas na paisagem são
adquire da escala, do contexto e muitas e variadas, todas construí-
do caráter do assentamento. das com meios modestos, fre-
Também é um vislumbre da quentemente com funções duais.
beleza—a paisagem, a topografia Um muro de contenção, necessá-
e a floresta. É uma qualidade que rio para dar a uma creche um
com tanta frequência falta aos playground construído em nível,
assentamentos informais—e às é transformado em anfiteatro,
vezes é fácil esquecê-la até mesmo fórum público e lugar de apresen-
quando se está presente. tações. Os degraus são criados
Uma vez feita a caminhada com tiras de pneus descartados,
ritual, a intenção é que a comuni- as árvores ganham bancos à volta
dade em si decida quais interven- de seus troncos. Essas estruturas
ções ela pode construir. Esta é uma são formadas usando-se mate-
CIDADE DO MÉXICO Visão de Miravalle a partir do vulcão. comunidade altamente organizada riais coletados da paisagem, e
que, nas últimas décadas, se a topografia é trabalhada com,
Trata-se de um esquema sobre O projeto começou com uma definiu cada vez mais socialmente, e não contra ela, de modo que a
bordas, nos contextos macro e caminhada em grupo. Se esta bem como fisicamente. Aqui, cada paisagem se torna uma caracte-
micro. De como a cidade termina pudesse ser vista como uma projeto é parte crítica da afirma- rística e não um obstáculo.
e como ela encontra a paisagem forma de marcar território ção de sua identidade. Diferente de uma escola
em sua borda, e de como os através de ação cívica, creio que Com base no desenvolvimento construída pelo governo que seria
limites são definidos dentro do seria considerada como um da comunidade existente, as de grande escala e complexa, a
assentamento, como a privacida- veículo para se entender o intervenções resultantes oscilam comunidade não construiu novas
de é mantida, ao mesmo tempo contexto—levar a paisagem para entre o sutil e o exagerado, o estruturas, amplas, mas negociou
em que se permite que a vida o domínio público psíquico. mágico e o questionável. e reformou as existentes, adequa-
cívica floresça. Além desses Isto é crítico aqui—como em A definição dos limites nesses das. A nova estrutura totêmica foi
ideais mais abstratos há uma todas as cidades—porque a contextos é sempre difícil—é um toldo adornado do ‘Domo de
série de intervenções que tratam definição da borda reflete a compreensível para uma Água’, transformando-o em um
das necessidades do dia a dia— percepção da cidade em si. comunidade querer definir a si e método engenhoso para coletar os
incluindo um domo para Londres tem seu cinturão verde, à sua borda, mas como isto afeta aguaceiros abundantes da
facilitar a coleta de água da Veneza tem sua lagoa, Miravalle aqueles que podem chegar no estação de chuvas, e armazenan-
chuva potável. tem seu vulcão. futuro? Isso irá negar aos recém- do a água em uma cisterna para

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PERSPECTIVAS
uso comunitário. Este se torna um pelas condições da vida diária:
marco do lugar e de uso, um tipo o instável, construções ad hoc, o
de poço de vila contemporâneo. desenvolvimento não planejado
Além desses projetos de que é de algum modo simultane-
paisagem, a colaboração com a amente tanto denso quanto
comunidade efetivou-se na esparso demais, a falta de
construção de formas físicas de continuidade e as questões
segurança. Em uma série de referentes aos equipamentos
mudanças que ecoam os princí- públicos, à terra e à legalidade.
pios de Jane Jacobs—olhos na Mas ela se estende para além das
rua, portas e quintais abertos, condições físicas e se torna um
mais conectividade—os espaços aspecto da vida em si. A falta de
públicos eram animados e acesso à educação e ao empre-
domésticos, tornando-se seguros go, a tendência ao crime, a
para todos através de interven- dependência de drogas e álcool,
ção mínima, mas bem pensada, o o isolamento social, a falta de
que também teve o efeito de comunidade—cada um desses
tornar o espaço público mais fatores contribui para uma
coerente e contido. O elemento existência na borda, em que todo
final da salvaguarda consistiu de elemento age como um lembrete
espaços de fechamento—base- da inadequação.
ando-se no princípio de que se Inúmeros arquitetos, ONGs,
um espaço parece ser cuidado, inventores, instituições de carida-
CIDADE DO CABO Processo de construção: reunir
ele será mais respeitado. Este é de, engenheiros e diversos vários atores para a construção de um protótipo.
sempre o caso? Talvez estes sejam outsiders propuseram soluções a
os passos que precisam ser esses problemas; no entanto, adequadas às diversas necessi- concluem o projeto, os residentes
dados como experimentos. poucas dessas soluções ganha- dades das comunidades—pro- com frequência recorrem a
Alguns podem funcionar, alguns ram mais adesão. Quando os pondo, em vez disso, uma manei- materiais encontrados e usam
podem desaparecer ou ser governos participam, os resulta- ra única de viver, e permitindo técnicas rudimentares para
adaptados. Mas, como meios de dos são quase invariavelmente pouca coisa mais. Elas não têm complementá-las. A falta de boas
intervenção com recursos fracassos—soluções fáceis como ser ampliadas para soluções explica Half a Good
mínimos e eficiência máxima, divulgadas em redes obscuras, acomodar oficinas ou garagens, House, de Alejandro Aravena, que
eles são inegavelmente efetivos. dispersas demais para fazer uma nem têm espaço extra para lhe deu o Prêmio Pritzker deste
cidade, as moradias parecidas acomodar familiares—e levam ano. Pode não ser uma solução
MESA VERTICAL demais e simplistas demais para pouco em conta condições altamente original, mas propõe
A condição fundamental da criar um cenário de rua. As culturais, sociais ou climáticas. uma moradia decente, urbana,
informalidade é a precariedade. próprias casas em geral são As soluções propostas por com a capacidade de adaptação
A incerteza existencial que gera a inadequadas, tornando-se outsiders podem ser inteligentes, e ampliação, e permite aos
ansiedade da vida informal é símbolos de dependência e não mas tendem a não durar muito. habitantes expressarem seus
exacerbada aparentemente de realização, e raramente são Assim que os idealizadores próprios desejos e necessidades

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PERSPECTIVAS
através da arquitetura, à medida A estrutura é simples—pilares olhando para as estruturas e fornecia maneiras de se cons-
que vão construindo. de aço (como os pés de uma espaciais e superestruturas (Ville truir acima dos centros históricos
Os arquitetos gostam dela porque mesa, conferindo verticalidade) e Spatiale, de Yona Friedman, existentes sem destruir o tecido
parece um meio-termo entre vigas de aço e a laje (o tampo da space-frames de Konrad Wachs- original. A Casa-Mesa é um tipo
top-down (Aravena tornou os mesa), e uma junção que parece manne os desenhos visionários de de versão miniaturizada, com a
projetos disponíveis) e bottom-up um tipo de coluna concreta Superstudio vêm à mente). Cada mesma idéia de liberdade em que
(os habitantes podem customizar capital. A laje pode ser o teto de um via que o arquiteto do futuro é o morador quem determina os
a arquitetura). E eles também um barraco existente, ou o pode ser empregado, não para materiais, a escala e a aparência
gostam porque parece que eles primeiro piso. A construção criar a moradia individual, mas a da casa. O arquiteto não dita as
estão fazendo alguma coisa. Ame- permite flexibilidade dentro da estrutura dentro da qual os condições, a estética ou o estilo
niza a culpa deles, ao proporem estrutura ou pode se tornar a habitantes seriam livres para de vida—mas fornece apenas a
que uma casa decente possa ser própria estrutura. O mais impor- construir seus lares como estrutura, ancorando a casa ao
oferecida aos pobres. Mas, ainda tante é que ela ancora a moradia quisessem. Esta foi uma visão lugar e a moradia à cidade.
assim é, necessariamente, uma ao chão—uma base sólida libertária, de ficção científica, que
solução patrocinada pelo estado para começar. transferia ideias contemporâneas
que demanda dinheiro e expertise A metáfora funciona para os de bases planetárias extra-terres-
em construção. trabalhadores e para os morado- tres e de paisagens pós-apocalíti-
A Casa-Mesa (Table House) é res. Os co-designers da Casa-Me- cas para cidades-dormitório,
uma arquitetura arquetípica— sa, Hands of Honour, são uma
pura estrutura, uma provisão iniciativa comunitária que
mínima de postes e vigas que trabalha nos Cape Flats com
NOVA DÉLHI Vista do assentamento a partir do Asola Wildlife Santuary.
fornecem uma base sólica, pouco desempregados locais e com
mais que isso. É a expressão aqueles que estão se recuperando
estrutural exatamente da estabili- da adicção a drogas. eles fazem
dade que falta à vida em assenta- móveis simples usando materiais
mentos informais. reciclados. O ponto alto é que as
Uma das coisas mais intrigan- pessoas também se reciclam, suas
tes sobre a Casa-Mesa é que ela vidas despedaçadas são emenda-
pode acomodar uma moradia das. O processo de construção e o
existente abaixo dela. Em terre- aprendizado das habilidades
motos, condições climáticas necessárias—solda, construção,
extremas (ou guerras nucleares, a colocação do concreto—consti-
como já houve), somos orientados tuem uma experiência valiosa,
a agachar sob uma mesa para e ajudam a construir a confiança
nos proteger contra a queda de e a colaboração.
entulhos. A mesa—a expressão Existe algo ligeiramente 1960s
mais elementar da vida familiar sobre a Casa-Mesa—a ideia da
e do alimento—torna-se um tipo megaestrutura tirada da escala
de arquitetura de proteção do informal. Muitos dos arquitetos
simbólica e literal. mais radicais do período estavam

20 21
PERSPECTIVAS
Desperdício TROCA:
e Espaço TRANSFERência,
Sangam Vihar é um assentamento ‘Schizo-Plan’–uma abordagem TRansação e
talvez de um milhão e meio de
pessoas na borda de Délhi. É um
território imenso, mas negligen-
definida por não ser determina-
damente um plano master–onde
um esforço de aumentar a
consciência sobre o potencial de
transformar o lixão na borda do
transformação
as equipes de projeto e diferentes
ciado, na fronteira entre a vozes da comunidade desenvol- assentamento em espaço público, Há uma ideia persistente que o
floresta e a megacidade. A veram ferramentas de micro e agindo, ao mesmo tempo, como Norte Global poderia aprender
vizinhança é habitada basica- macro planejamento para barreira para proteger a área com o Sul Global: a noção de que
mente por recém-chegados à facilitar a ação local, e se vulnerável do assentamento. a variedade surpreendente, a
cidade; logo, sua noção de comunicar com agências gover- Através da ativação do espaço inventividade, a engenhosidade
identidade e pertencimento está namentais em geral. urbano a iniciativa tenta, em e a velocidade com a qual os
muito em fluxo, algo ainda não Parte do projeto envolveu última instância, forjar um novo assentamentos informais podem
formado. Como uma colônia não marcar o território com o uso de diálogo entre os frágeis consti- responder a crises sucessivas
autorizada, não só falta provisão sinalização e a locacão de tuintes urbanos que não dispõem e a mudanças na situação,
de infraestrutura básica ao balões para estabelecer identi- de direitos nem de segurança. poderiam fornecer inspiração
assentamento quanto uma noção dade e comunicar legitimidade para as cidades rígidas, aparen-
de legitimidade; ela também é além do assentamento. Com temente estáticas e inflexíveis do
vulnerável a decisões de planeja- base nos símbolos onipresentes Hemisfério Norte.
mento–o plano master da cidade do Google Map, esses marcado- O contraste entre a inteligência
prevê um anel viário que poderia res se tornaram uma intervenção incorporada em áreas informais
abrir a área para especulação artística lúdica, quase pop, uma não planejadas, e a letargia, a
imobiliária. tentativa de estampar uma falta de responsividade e o puro
Este projeto complexo, colabo- noção de lugar na consciência desperdício frequentemente
rativo, é uma tentativa de consoli- coletiva da comunidade e da característicos do planejamento
dar a noção de comunidade, cidade. Cinco balões vermelhos nas cidades mais ricas, certamen-
localização e tecido físico dentro identificaram sítios e eventos ao te parece favorecer as primeiras.
de uma estrutura frágil. É um longo da borda para facilitar o Lemos que planejamento é a base
esforço para reforçar as ligações registro do assentamento, e de toda cidade civilizada; no
entre pessoas e lugar, mas estabelecer a borda verde como entanto, que espaço o sistema
também sinaliza a presença do a nova frente de Sangam Vihar. deixa para improvisação? Muitas
lugar–espacial e politicamente– Ao longo dos projetos de das cidades mais bem-sucedidas
dentro da vasta metrópole gestão de água e lixo, outras têm provado ser inadequadas
indiana. Para fazer isto, a iniciati- iniciativas incluíram a criação de para lidar com mudanças
va embarcou no chamado maquetes dos espaços verdes em radicais com as quais devem
lidar: imigração maciça de

22 23
PERSPECTIVAS
culturas muito diferentes; crises a legislação que demanda Os cidadãos do Norte Global
financeiras; populações envelhe- responsabilidade por qualquer passaram décadas aprimorando
cendo; o colapso de indústrias acidente ou evento não suas condições de vida e acaba-
pesadas; globalização. planejado. Seja o que for, ram se vendo isolados, preocupa-
A ironia é que o espaço está a transferência de conhecimento dos com a segurança e separados
lá. Na Alemanha Oriental, onde o parece problemática. de seus entes queridos. Podem os
planejamento tem respondido a O desafio para essas cidades— ‘commons’ urbanos podem ser
interesses políticos e sociais, e que poderiam ser prósperas—se ressuscitados para tratar dessas
não a uma agenda comercial, o adaptarem a condições em questões? Podemos usar as
espaço público é abundante, no mudança será tratar da atomiza- medidas aparentemente simples,
entanto adormecido. A terra de ção e alienação incorporadas em inventadas e adotadas nas
ninguém representada por seus momentos atuais. As cidades condições do informal, para
espaços comuns neglicenciados são medidas incessantemente em começar a levar a cidade a se
entre quadras residenciais e termos de PIB, transações finan- tornar unida novamente?
edifícios municipais deveria ceiras, valores de terra e agora Esta é uma questão sobre a
apresentar uma oportunidade mesmo em medidas questionáveis ideia de uma cidade. Para que
para se criar um território capaz de ‘alegria’. O arquiteto Teddy serve? Para quem ela é? As
de unir comunidades díspares, e Cruz sugeriu, em vez disso, que experiências do urbanxchanger
usar a cidade como espaço meçamos a densidade e o sucesso nos permitem entender melhor a
social. No entanto, isto não da cidade em termos de transa- humanidade que está no coração
acontece. Quer isto se deva à ções sociais e não financeiras. Se da cidade. Elas nos fazem pensar
relutância de comunidades este for o caso, então a miríade sobre o que é a cidade, como ela
acomodadas no convívio com os de encontros e barganhas, os é definida, e como podemos fazer
seus, ou quer seja porque as favores e as conversas trocados a nossa parte redesenhando-a
pessoas não têm modelos, a entre os vizinhos, o cuidado onde ela for considerada defi-
linguagem e a experiência para gratuito dos bebês como iniciativa ciente. A troca fornece um
ativar o espaço público é incerta. espontânea, e o cuidado dos entendimento de que a escassez
Ou mesmo, talvez por causa da idosos na família estendida, de nem sempre é uma questão de
maneira rígida como a cidade repente aparece como evidência recursos, mas pode ser a falta de
contemporânea é controlada— de sucesso. coesão, envolvimento e inclusão.
Há sempre algo a ser aprendido.

24 25
Cidades
O QUE É E QUANDO
FOI FUNDADA?
Cidades sem Fome é uma
organização Não governamental

sem
(ONG) fundada em 2004 em São

INICIATIVA COMUNITÁRIA
Paulo por Hans Dieter Temp,
um técnico em políticas
agrícolas e ambientais.

Fome

SÃO PAULO
ONDE E O QUÊ?
Cultivadas na Zona Leste da REALIZAÇÕES
cidade, as hortas comunitárias Até a presente data, a organiza-
geram lucros para as famílias que ção iniciou 21 hortas comunitárias
se dedicam a elas, ao mesmo e ajudou 115 pessoas a se torna-
tempo em que educam as rem produtores comunitários.
pessoas sobre os benefícios do Os participantes também rece-
cultivo orgânico. bem treinamento básico sobre
como administrar suas hortas
como pequenos negócios, ajudan-
IMPACTO SOBRE O do-os a se tornar financeiramente
AMBIENTE CONSTRUÍDO independentes. Além disso, 38
Antes e depois: as As hortas comunitárias modifi- hortas foram formadas em escolas
hortas comunitárias
modificam a paisagem
cam a paisagem urbana, trans- públicas e instituições educacio-
urbana, transformando formando terrenos públicos e nais, ajudando mais 650 pessoas.
terrenos ociosos. particulares ociosos através da
criação de espaços verdes que
contrastam com o ambiente BENEFÍCIOS PARA A COMUNIDADE
construído circundante, densa- Além de estimular a economia
mente habitado. local e gerar emprego, Cidades
sem Fome torna a comida fresca,
saudável e acessível disponível
aos moradores locais. O progra-
ma também oferece oportunida-
des para networking e interações
sociais, contribuindo para o
bem-estar geral da comunidade.

26 27
produção
A cozinha móvel foi construída Um almoço no
com as mesmas técnicas usadas domingo feito na
por vendedores de rua locais. horta proporcio-
Uma oficina de dois dias foi na um encontro
dada, durante a qual a equipe social agradável

abaixo
construiu uma cozinha móvel para convidados
para servir os almoços da co- —desde represen-
munidade aos fins de semana. tantes do governo,
A cozinha também serve como formadores de po-
espaço social, e é usada para líticas e arquitetos,

da rede
ajudar a vender a produção— a profissionais das
sendo móvel, pode ir da horta áreas da cultura
para as ruas da vizinhança. e gastronomia.

SÃO PAULO

O PROJETO
elétrica em São Mateus, o que é único
nessa iniciativa comunitária é que
paulo. Com 64 anos, Genival
começou a trabalhar sozinho,
a maioria das hortas tem sido mas mais tarde três outras
formadas em terrenos públicos e famílias juntaram-se a ele,
São Paulo é a maior cidade do baixa renda, a maioria trabalha
particulares negligenciados, seguidas pelo Cidades sem Fome,
Brasil. Hiperurbanizada e bem no centro da cidade e se desloca
como espaços de passagem que ofereceu suporte ao projeto.
distante da imagem exótica de um diariamente para o trabalho.
normalmente reservados para uso A horta tem um impacto local,
país tropical descontraído, é uma A área é caracterizada por forte
de grandes empresas de serviços verdejando 8.000 metros quadra-
metrópole multicultural cheia de expressão cultural, principalmen-
de utilidade pública. dos de terreno anteriormente
contrastes marcantes e que te através de música como samba
Cidades sem Fome atualmente vago, gerando renda para
resultam em desigualdades e funk. Embora São Paulo promo-
está expandindo suas operações
sociais. A diversidade de São va com frequência o desenvolvi-
em algumas hortas comunitárias
Paulo é expressa não só pelas mento urbano de suas áreas
em São Mateus, de modo a
várias camadas de sua socieda- centrais como um modelo exem-
permitir outras atividades que
de, mas também pelas inúmeras plar de bom planejamento, foi na
gerem renda. Novas iniciativas
culturas e etnicidades que Zona Leste da cidade—um lugar
propostas incluem desenvolver
abrangem sua população mista. que parece bem atrasado e
produtos locais para vender para
O bairro São Mateus, localiza- subdesenvolvido—que a equipe
comunidades vizinhas, cozinhar,
do na Zona Leste, a cerca de urbanxchanger encontrou a
realizar eventos e oferecer
20 quilômetros do centro de São inovação mais atraente.
refeições aos fins de semana, com
Paulo, é composto de casas que O trabalho de Cidades sem
objetivo educativo.
se escondem atrás de muros e Fome consiste basicamente de
grades, com uma falta clara de organizar e manter hortas na
A HORTA
espaços públicos abertos ou comunidade e em escolas. Além
O Sr Genival é a pessoa responsá-
verdes. A população local é um de garantir a sobrevivência de
vel por iniciar uma dessas hortas
misto de residentes de média e algumas das famílias mais pobres
sob a rede elétrica da AES Eletro-

28 29
residentes locais, e fornecendo Para focalizar no poten-
cial educativo de hortas
alimento orgânico a preços orgânicas, os designers
acessíveis, para a comunidade. compilaram um arquivo
Também protege e mantém o de ervas e plantas
locais com base no
terreno à volta das linhas de conhecimento popular
transferência da AES Eletropaulo, da comunidade.
como definido no acordo de
concessão assinado entre as
partes. O acordo também
estipula outras restrições, como a

SÃO PAULO

O PROJETO
proibição do cultivo de plantas
altas e árvores, e a construção de
estruturas permanentes.
Genival e sua esposa traba-
lham o dia todo na horta e solicitadas, tanto em termos
vendem parte do que produzem imediatos quanto no longo prazo.
em uma pequena loja na entrada Para atender às necessidades das
da horta. Eles também vendem e organizasse oficinas educativas, partes interessadas locais, e ao
sua produção no mercado local sem uma estrutura era difícil mesmo tempo projetar o futuro
uma vez por semana, e também receber adequadamente pessoas da iniciativa, a equipe chegou a
em estabelecimentos fora de São e acomodá-las para provarem as um plano contendo cinco cama-
Mateus. O fundador de Cidades comidas feitas com produtos das: o Telhado, o Banheiro, o
sem Fome, Hans Dieter Temp, locais. Era preciso ter um espaço Ginásio, o Playground e o a Horta
acreditava na necessidade da onde as pessoas pudessem pelo Vai para Fora.
construção de certos equipa- menos se sentar e conversar. O objetivo do plano era mudar
mentos, de modo a expandir suas Trabalhando junto com a as perspectivas das pessoas e as
atividades além do cultivo e comunidade, os designers interpretações que elas tinham
venda de alimentos. Embora o identificaram o que os produto- da área, e dar vida nova a
projeto oferecesse visitas à horta, res precisavam das construções A ACADEMIA/O GINÁSIO uma parte da cidade que
A horta funciona como um ginásio externo, antes era negligenciada.
um lugar para atividade física. Como as
atividades que exigem mais esforço, como
cavar, arar e colher, o ginásio também O TELHADO
oferece atividades terapêuticas como A infraestrutura necessária para
plantar, podar e aguar. Trabalhar na horta
permitir que a horta funcionasse
também é uma prática usada com sucesso
em várias terapias ocupacionais, parti- como um espaço de eventos foi
cularmente com idosos, crianças, aqueles dividida em elementos indivi-
que sofrem de depressão e dependentes
duais: um telhado, uma cozinha
químicos em recuperação.
Neste cenário, a horta contribui para a móvel, mesas e bancos. Esses
saúde física e mental, ajudando a aprimo- elementos foram desenhados e
rar a qualidade de vida de seus usuários.
construídos pela equipe em

30 31
quatro dias, seguindo-se um A HORTA VAI PRA FORA
evento piloto. Foram convidadas Ao estender a horta para além de
pessoas das áreas centrais da seus limites físicos atuais, a
cidade para um almoço e para equipe imaginou torná-la um tipo
conversar sobre seu trabalho e de ‘hub’ para a comunidade.
experiências no dia-a-dia. A horta pode se estender para a
O evento permitiu que a equipe vizinhança de inúmeras maneiras.
entendesse o que funcionou bem, A cozinha móvel pode ser deslo-
e quais os aspectos do projeto cada e atender a funções dife-
que ainda precisavam ser refina- rentes: pode ser usada como

SÃO PAULO

O PROJETO
dos. No contexto do plano de carrinho para vender tapioca
cinco camadas, o telhado foi o (como sugerido por Dona Sebas-
ponto de partida e também de tiana, que trabalha na horta);
valor simbólico: um exemplo como farmácia alternativa; ou
concreto de um esforço conjunto, como uma banca para vender
enfatizando a força do projeto. verduras ou comida preparada
usando-se produtos da horta.
Parte da horta também pode ser
usada como um espaço semi-pú-
blico contendo, por exemplo, um
playground e banheiros públicos,
O PLAYGROUND/O PARQUE
ou servindo como uma área para
A horta também pode ser usada como contemplação ou ponto de
lugar para brincar, entreter e ser entreti- encontro. Os produtos da horta Em uma escala mais ampla, Créditos do Projeto
do—não só para crianças, mas para pes-
também podem ser vendidos em este projeto é concebido para INICIATIVA COMUNITÁRIA
soas de todas as idades. As instalações
do playground são criadas reorientando estabelecimentos, restaurantes, servir de inspiração—não apenas Cidades sem Fome
ou ativando elementos existentes na hor- bares e farmácias locais. para outras hortas gerenciadas Equipe de São Paulo
ta. Incluem elementos espaciais pelo Cidades sem Fome, mas Vapor 324, Andrea Bandoni
(o terreno, diferentes níveis, limites e sha-
de screens), elementos materiais (pneus,
também para o resto da cidade. e Julia Masagão
restos de madeira, objetos de metal e Ressalta o potencial de áreas EQUIPE DE BERLIM
equipamentos, troncos de árvore, folha- subutilizadas para serem conver- ConstructLab
gem, areia e terra) e os próprios produtos
da horta (ervas, flores e vegetais).
tidas em espaços produtivos—de Participantes da equipe:
todas as formas: economicamen- Alexander Römer e
te, socialmente e criativamente. Pieterjan Grandry

CURADOR E PESQUISADOR LOCAL:


Marcos L. Rosa

32 33
SÃo Paulo

19,683,975
População Metropolitana

11,253,503
População Municipal

Zona Leste
(local da iniciativa)

7,947 3,300,000
Área Metropolitana População

km2

2,209 0,478
Área Metropolitana Urbanizada Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

km2

1,523 40%
Área Municipal Urbanizada Taxa de Desemprego Zona Leste

km2

34 35
MARCOS L. ROSA, ARQUITETO E Organizado por Hans Dieter, o em São Paulo deixava explícita a

urgente! URBANISTA DE SÃO PAULO FOI O


CURADOR E COORDENADOR LOCAL
DA OFICINA EM SÃO PAULO
projeto é responsável por uma
série de alianças na escala local
capazes de forjar o cultivo de
vontade de se ‘fazer’, de se
construir algo, ainda que isso não
fosse uma exigência dentro do

NOTAS SOBRE O PROCESSO


jardins produtivos em terrenos de projeto. Os integrantes do grupo
diferentes tipologias. Junto a somavam experiências ligadas ao
agricultores locais, transforma- ‘fazer’ incluindo a ação-teste
ram em hortas comunitárias terre- através da carpintaria, o desenho
nos baldios privados, espaços de objetos e produtos, e o uso de
ociosos em escolas e, com projeção e desenho como ferra-

SÃO PAULO
frequência, faixas lineares sob mentas empregadas para explo-
redes de transferência elétrica ou rar possibilidades de representa-
sobre gasodutos sob concessão. ção no espaço.
Embora essas inúmeras aplica- Seriam sete dias para se
ções demonstrem modelos poten- realizar algo. Iniciada a semana
Já em 1976, a arquiteta conflitos provenientes de entendi-
cialmente replicáveis—permitindo de trabalho, logo após a primeira
Lina Bo Bardi esclarecia a mentos distintos sobre um mesmo
um raciocínio em escala sobre a visita a três jardins, os participan-
urgência como o ‘não poder objeto geraram oportunidades
produção de alimentos orgânicos tes questionavam a constelação
esperar mais’. Referia-se ao para a ação coletiva. Abordamos
dentro da cidade—, um olhar do de hortas, demonstrando a
esvaziamento do conhecimento o co-desenho através de outras
designer busca desvelar questões vontade de conhecer outros
popular frente à modernização formas de um ‘fazer’ colaborativo,
locais e desafios relacionados ao jardins. A recusa imediata de Hans
urbana, às formas precárias de construído a partir da soma de
desenho e qualificação do espaço ao investimento do tempo com
viver em nossas cidades, à saberes distintos. A experiência
ainda pouco explorados nestas mais visitas nos dias seguintes
carência de qualidade espacial desse processo nos permite ainda
hortas, referentes tanto às situa- revelou uma questão latente que
relacionada a um modelo de pontuar aprendizados específicos
ções encontradas, como aos também percebemos em outras
urbanismo universal—frequente- que desvelam aspectos do
indivíduos ligados a cada jardim. localidades: nas quatro cidades
mente distante das questões reais, desenho com frequência pouco
A história de meu envolvimento onde se realizaram as oficinas,
da escala do homem, e em explorados e merecedores de um
com este projeto datava de 2008. condições espaciais frequente-
detrimento da experimentação olhar cuidadoso.
As atividades dentro do urbanx- mente precárias geravam necessi-
técnica conectada aos indivíduos. Em São Paulo, trabalhamos
changer iniciaram-se com uma dades urgentes. Somava-se a isso
Este espaço foi reservado para com a Organização Cidades Sem
visita que tinha como objetivo a percepção—por parte de nossos
o registro de notas sobre o proces- Fome que gerencia hortas em
apresentar o trabalho realizado parceiros—da oportunidade
so de trabalho realizado em São diversas áreas na Zona Leste da
pela organização ao grupo apresentada naquele encontro
Paulo, incluindo relato e avalia- cidade. Trata-se de uma região
participante e discutir aquilo que com designers para se construir
ção crítica com base em uma que sofreu com o processo de
poderia ser uma contribuição algo, eventualmente respondendo
experiência. Trata-se de um ponto espraiamento urbano agravado
relevante, e que poderia eventu- às suas urgências.
de vista particular relatado por pelo investimento desigual de
almente estar localizada em Decidimos responder à deman-
um arquiteto. A reflexão sobre recursos, caracterizando uma
um jardim. da, oferecendo nosso know-how e
este processo abriu uma oportu- geografia social desigual, própria
A escolha das equipes partici- o tempo disponível para construir
nidade para registrarmos como de nossas cidades.
pantes no experimento realizado algo, a partir de uma conversa

36 37
com a iniciativa parceira. Escolhe- se faziam conhecer conforme os Além disso, a opção pela constru- com a cobertura, mesas, cadeiras
mos a horta que apresentava mais dias iam passando e as atividades ção imediata, antecedendo um e cozinha móvel—ilustra formas
desafios: embora estivesse cotidianas se apresentavam com planejamento detalhado, deter- plausíveis de se gerar qualidades
localizada abaixo da linha de uma clareza que só se poderia ter minou o ‘fazer’ como uma adicionadas à horta que são

NOTAS SOBRE O PROCESSO


transferência de eletricidade estando ali. A partir destes maneira de experimentar as parte de um programa expandi-
como as duas outras, ocupava aprendizados, descobrimos que possibilidades de construção e do, construído a partir de deman-
uma grande área e dispunha de faltava um suporte para a venda possíveis usos, antecedendo uma das encaminhadas e da observa-
pouquíssima infraestrutura. dos produtos da horta, dentro e construção definitiva posterior. ção de atividades existentes no
Juntar ‘o que eu quero’ e ‘o que fora dela; pensávamos ainda que Esta atitude sugeria o uso da entorno e carentes de infraestru-
você quer’ com este projeto levou Dona Sebastiana poderia benefi- ação-teste como ferramenta e tura de suporte.

SÃO PAULO
a um processo de negociação ciar-se de uma cozinha móvel não do projeto em papel, como No entanto, este último passo-
inicialmente tenso. A demanda da para produzir seus crepes com os uma oportunidade de trabalhar a —o desenvolvimento de cenários
organização—bastante contun- produtos da horta, vendendo-os muitas mãos, abrindo o processo construídos junto às redes sociais
dente—era por uma cobertura, para a vizinhança; que os bancos de construção como um momento e atores locais—demanda tempo
uma cozinha, mesa e cadeiras, eram bem-vindos para receber os de troca e construção colaborati- e contato prolongado entre os
com o objetivo de construir na visitantes que aguardavam va na qual processos de autoria participantes. Somente com este
horta espaço com capacidade de enquanto seus pés de alface eram perdem o sentido. tempo e através de inúmeras
organizar almoços para receber colhidos; que as mesas e a Dentro desta ação-teste, ações continuadas se poderá
confortavelmente visitantes, uma cobertura criavam ainda uma a construção da cobertura, da revelar, experimentar e aprender
das atividades oferecidas. área de trabalho protegida cozinha móvel, da mesa e das estas outras possibilidades de uso.
Percebemos ali uma rara dentro do jardim. cadeiras incluía a possibilidade As hortas se tornaram o
oportunidade de se desenhar Além disso, no processo de de um cenário expandido que espaço—e este se configurou
junto a muitos atores, com a construção, eram os agricultores extrapolava as demandas iniciais. como o momento—onde e
possibilidade de se apontar uma quem melhor conheciam as Cada uma dessas partes funcio- quando se explorou o desenho da
transformação do espaço possível limitações e possibilidades do terre- nava como um dos muitos objetos escala local das hortas, a partir
dentro de muitas variantes no, os usos existentes as necessida- que poderiam catalisar outras do contato e troca com seus
limitadoras, sobretudo de recur- des e demandas existentes. qualidades espaciais através do atores locais.
sos materiais e de tempo. Projetar e construir ‘com’ a seu uso. A riqueza de uma A urgência, ou o ‘não poder
Este processo se mostraria comunidade—a partir do contato proposta assim estaria nas esperar mais’ de Bo Bardi tam-
revelador ao encontrar no jardim com os agricultores, vizinhos e situações possíveis apresentadas bém se traduz no fazer coletivo,
outras demandas e saberes. Seu com o marceneiro da organiza- aos atores locais. Desenharam-se em uma chamada para respostas
Genivaldo e Dona Sebastiana—os ção—, e a partir de um processo cenários ilustrando algumas práticas, porém cuidadosas, a
dois agricultores responsáveis de imersão no qual o escritório dessas possibilidades: a acade- questões cotidianas.
pelo jardim escolhido—trabalha- era o próprio canteiro de obras, mia de ginástica a céu aberto, o Os experimentos realizados em
vam diariamente no local contan- permitiu que o aprendizado banheiro seco e a compostagem, urbanxchanger exploram proces-
do com pouquíssima comodida- fosse multidirecional. a área de lazer, playground, a sos que têm como base questio-
de. Nos pareceu que a demanda Optamos por usar, dentro do saída do jardim do confinamento namentos sobre ouvir, comunicar-
pela infraestrutura para almoços jardim e no entorno direto, os entre muros. -se com e entender o outro, suas
poderia também dar apoio a recursos disponíveis—humanos, A estratégia da adição de demandas, com a ambição de
outros usos daquele espaço que materiais e ambientais. componentes ao jardim—iniciada questionar a utilidade do dese-

38 39
nho, ou do ‘desenhar junto’.
(Latour)
Há algo fascinante no ‘fazer
relacionado ao estar, ao contato

NOTAS SOBRE O PROCESSO


direto e prolongado com o lugar e
suas experiências: nos reconecta
com o lugar, sugere outras formas
de atuação, de aplicação e
experimentação de instrumentos
de desenho, manutenção e

SÃO PAULO
Linhas de
gerenciamento urbano. Essas transmissão
formas são capazes de rever e isoladas por muros
somar conhecimento a um em São Mateus.

urbanismo que tem de agir em


escala, ao pensar o espaço banal,
conectado em redes (virtuais e
reais). Aquele ‘não poder esperar
mais’ verificado na autoconstru-
ção de grandes porções de nossas
cidades—a notar, ricas e pobres—
insurge não apenas como um
mote para a atuação direta:
conclama novas urgências e novos
atores a enfrentar questões
sócio-espaciais através de um
fazer coletivo, naturalmente
político e transformador.

Jardim cultivado em
uma área de concessão
sob a rede elétrica onde
realizamos a oficina.

40 41
CARRINHOS
A existência de estruturas tempo-
rárias nas cidades Brasileiras—
carrinhos de pipoca, feiras-livres,
vendedores ambulantes, etc.—é

DE RUA uma manifestação histórica que

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
ilustra a complementaridade
entre o permanente e o temporá-
rio, o planejado e o improvisado,
o rígido e o flexível. A ideia de
usar um carrinho pronto neste

SÃO PAULO
projeto—manufaturado por
carpinteiros em uma oficina
no centro da cidade—foi tirar
proveito de uma estrutura preexis-
tente que muitos ambulantes
usam para vender frutas, água
de coco e outros alimentos. Este
carrinho em particular foi produ-
zido em uma oficina e depois
modificado para responder
à demanda específica do jardim
em São Mateus, a fim de ser usado
pela iniciativa comunitária local.

42 43
ALMOÇO
Um almoço no domingo feito na
horta proporciona um encontro
social agradável para convida-
dos — desde representantes do

NO
governo, formadores de políticas

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
e arquitetos, a profissionais das
áreas da cultura e gastronomia.

DOMINGO

SÃO PAULO

44 45
OS JARDINS
DA INICIATIVA

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
COMUNITÁRIA

SÃO PAULO
Desde 2004, Cidades sem Fome
opera na Zona Leste da cidade.
Mais de 21 jardins comunitários
e 115 jardineiros comunitários
cultivam produtos locais, geram
uma economia local e educam
as pessoas sobre os benefícios
da agricultura orgânica.

46 47
Durante a oficina em São Mateus

FOTOS DA construímos uma cozinha móvel,


um telhado, bancos e mesas para

OFICINA: acomodar almoços e encontros


comunitários de fim de semana

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
dentro da horta. Essas estruturas

IMPRESSÕES também foram projetadas para


dar apoio a atividades cotidianas,
como vender os produtos, prepa-

VISUAIS DO rar almoços e lanches e levá-los

SÃO PAULO
para fora dos muros do jardim.

PROCESSO DE No final do workshop, um evento-


-piloto de almoço de domingo foi
organizado na horta, onde

TRABALHO diferentes interessados—envolvi-


dos com o tema das hortas
orgânicas—foram convidados

REALIZADO EM a se encontrar, comer e comparti-


lhar aquela experiência dentro

SÃO MATEUS de uma rede expandida.

48 49
As ilustrações descrevem cinco

ILUSTRAÇÕES: camadas programáticas extras,


sugerindo acrescentar complexi-

O POTENCIAL dade ao padrão de uso atual no


espaço cultivado pela iniciativa

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
comunitária. Trata-se de acolher

DE USOS atividades para além do papel


utilitário previsto ao espaço da
linha de transferência elétrica e

ADICIONADOS do jardim produtivo criado

SÃO PAULO
abaixo dela. Os dois primeiros
dispositivos—o telhado e a

À ESTRUTURA cozinha—foram testados em


atividades realizadas durante

EXISTENTE a oficina, demonstrando o


possível uso para almoços
comunitários, encontros e lazer
contemplativo. As ilustrações
incluem ainda uma leitura do
jardim como encontrado,
a cozinha móvel, o churrasco,
sistemas de compostagem, a aca-
demia-jardim e o parque infantil.

50 51
Em São Paulo, a comunidade
pediu um espaço para receber
visitantes e promover atividades
dentro da horta. Imaginamos que
a horta poderia ser muito mais do
Como é que apenas um espaço para
eventos, mas percebemos que era
importante trabalhar 'com' os
agricultores, e não apenas ‘para'
eles. A equipe decidiu que, como
uma primeira intervenção deverí-
amos construir coletivamente a
possívelinfraestrutura que precisávamos,
e além disso, fazer um protótipo
de um evento. Numa outra etapa,
produzimos um plano mostrando
como desenvolver ainda mais o
espaço para acomodar diferen-
tes cenários pensados.

alinhar
urgências VAPOR324
+BANDONI
+MASAGÃO

locais com
um plano de
longo prazo?
Em um processo de envolvimento
direto que durou apenas quatro
dias, construímos uma estrutura de
telhado para abrigar um espaço
para eventos e também realizamos
A um evento piloto real na horta,
durante o qual um chef cozinhou
usando produtos cultivados no
local e os visitantes deram uma
volta pela horta para saberem
sobre a iniciativa. Apesar dos
conflitos que surgiram de diferentes
atitudestakeholders e expectativas e do
próprio prazo, bastante curto,
o processo coletivo foi um
sucesso estrondoso.

de
'fazer'
é
extremamente
potente! VAPOR324+BANDONI+MASAGÃO
A transferência
de conhecimento
nos levou a VAPOR324+BANDONI+MASAGÃO

realizar
e experimentar
Em Berlim percebemos que uma horta podia fazer
mais do que cultivar vegetais. Vimos hortas que
cumpriam uma função social e eram usadas como
lugares para aprender, recrear e ativar bolsões
subutilizados de terra urbana. As principais ques-
coisastões que as hortas urbanas enfrentam em Berlim são
sua natureza sazonal (em grande parte ficam
inativas no inverno), o fato de muitas delas serem
concessões temporárias, a inviabilidade de produ-
ção real de alimentos e a ausência de ligação entre
novas os agricultores para discutirem diferentes métodos e
abordagens. Esta observação—a importância da
transferência de conhecimento—nos levou a criar
uma plataforma onde informações sobre hortas
urbanas podem ser inseridas de uma forma diferen-
te. De volta ao Brasil, esses aprendizados inspiraram
outra ação: voltamos para a horta para registrar os
usos médicos atribuídos pela cultura popular às
plantas que cresciam lá, e estas foram compiladas
em um atlas.
MARCOS L. ROSA

O tempo é
fundamental
quando se
trabalha
com diferentes
partes
interessadas,
Embora nosso objetivo nunca fosse
necessariamente construir alguma
residentes coisa, recebemos uma clara deman-
da dos líderes comunitários para
responder a questões urgentes
através de melhorias construtivas,
a fim de transformar e melhorar
situações críticas.
locais e
comunidade
Propusemos Em São Paulo, o desenvolvimento
dos bairros centrais é reconhecido
como um modelo de bom planeja-
mento, mas foi no extremo leste da
cidade—um lugar considerado
inverter subdesenvolvido—que a equipe
encontrou inovações atraentes.

a direção da
troca urbana
para aprender
a partir da
periferia em vez
de impor modelos
MARCOS L. ROSA COM
VAPOR324+BANDONI+MASAGÃO

centrais às
bordas urbanas
Neste exercício, foram apresentados alguns
cenários possíveis aos agricultores urbanos
locais. Explorou-se o potencial de acrescentar
O ato de as funções demandadas pelos diferentes
usuários do terreno, além de se pensar em
abrir o jardim ao seu entorno, carente de
espaço público e áreas verdes. O evento
previsto na horta deu origem a conexões
'fazer' inesperadas entre os vizinhos locais e visitantes
convidados, e iniciou uma verdadeira rede
construída sobre o tema das hortas urbanas.
Através da criação colaborativa de coisas e
desvendou espaços, o nosso trabalho experimental e
prático desencadeou relações imprevistas
entre a horta, as estruturas recém-construídas,
os vizinhos e os convidados. Estes inicialmente
se materializaram durante um almoço de
diferentes domingo que também serviu para inaugurar
uma nova barraca para a venda de legumes e
verduras, uma cozinha móvel e um telhado,
mesas e bancos - todos os quais foram pensa-
abordagens dos para dar suporte cotidiano a diferentes
atividades relacionadas àquele jardim.

de design,
apresentando
uma alternativa à
simples renderização
de cenários MARCOS L. ROSA COM
VAPOR324+BANDONI+MASAGÃO

através de
projeção de imagem
Conselho
O QUE É E QUANDO
FOI FUNDADA?
Em 2006 várias organizações
locais se juntaram para formar o

Comunitário
Conselho Comunitário de Mira-
valle, com o objetivo de aprimo-
rar as condições na localidade.

de Miravalle ONDE E O QUÊ?


Miravalle foi construída sobre
terreno que fora usado antes
para agricultura no final dos anos
refeitório comunitário, um fórum
aberto, um centro de saúde, um

INICIATIVA COMUNITÁRIA
1980. Forma parte do bairro na centro de reciclagem e quadras
periferia da Cidade do México, e

CIDADE DO MÉXICO
de esportes. Além disso, a
está localizada no lado de um comunidade está interessada em
vulcão dormente, tendo visão à abordagens sustentáveis para o
paisagem urbana metropolitana desenvolvimento que os benefi-
abaixo. cie diretamente, fornecendo
coisas como acesso a água
acessível e a proteção da reserva
IMPACTO SOBRE O natural adjacente.
AMBIENTE CONSTRUÍDO
Preocupada com a falta de
espaços recreacionais e culturais REALIZAÇÕES E BENEFÍCIOS
seguros, a comunidade transfor- PARA A COMUNIDADE
mou muitos espaços públicos O Conselho Comunitário de
previamente abandonados em Miravalle tem criado uma rede
uma ampla variedade de instala- robusta para stakeholders,
ções e programas, incluindo uma especialistas e organizações
biblioteca, um centro digital, um civis locais. A cooperação entre
esses grupos permite a comuni-
cação aprimorada com
estruturas do governo. A ambi-
ção do conselho é estimular a
transformação local e, no
Complexo de equipa- processo, tornar-se um modelo
mentos comunitários
para a reativação sócio-cultural
com biblioteca, creche,
posto de saúde, visto em outras comunidades urba-
desde o domo. nas marginalizadas.

64 65
entender tanto os pontos fortes O ESPAÇO DA BORDA

Encontrando quanto as deficiências da abor-


dagem seguida em Miravalle.
Na borda de Miravalle, a vida
urbana e a reserva natural se

a Borda Os líderes comunitários decidiram


que era importante mapear esta
informação, o que foi feito
durante a oficina organizada na
encontram. O conflito criado por
uma população crescente e a
proteção do espaço natural está
causando pressão nesta fronteira.
NA MARGEM DA Cidade do México. Em algumas áreas, programas
CIDADE DO MÉXICO Três questões urgentes surgi- estabelecidos e instalações como
Cidade do México, a cidade que ram das discussões na oficina: a campos de esportes, agricultura
fora um lago, assenta-se em um importância de proteger a borda periurbana e escolas, impedem
vale não drenável cercada por da cidade; o uso efetivo de nova ocupação da terra. Progra-
serras montanhosas, sendo uma recursos locais; e a salvaguarda mações existentes do espaço da
delas a Sierra Santa Catarina. de espaços públicos. Em respos- borda apontam para uma estraté-
ta, três intervenções foram gia que poderia ser expandida:

CIDADE DO MÉXICO
Seus vulcões desempenham um
papel hidrológico muito impor- identificadas através de um proteção através de uso. Em vez
tante: suas encostas são permeá- Invasão da reserva natural. processo participativo com de cercar a reserva natural, ela
veis, permitindo que a água da representantes da comunidade: poderia se tornar um espaço de

O PROJETO
chuva se infiltre no aquífero manutenção e segurança de seus uma caminhada ao topo do habitação produtiva.
profundo, e impedindo que a espaços públicos, bem como a vulcão a fim de identificar
água corra para a cidade. Hoje, administração da reserva natural recursos locais; um sistema para
Pessoas das redondezas além de
partes da Sierra Santa Catarina adjacente. O Conselho Comunitá- captar água da chuva do telhado
Miravalle juntaram-as à expedição
estão sendo urbanizadas. O rio de Miravalle tem por objetivo de um edifício comunal; e a ao topo do vulcão. Reconhecer a
desenvolvimento na área significa prover soluções a esses problemas tomada de medidas relacionadas montanha como um provedor, e não
partilhados de urbanidade e à segurança em espaços urbanos como ameaça, mudou a perspectiva
que a água da chuva agora
direitos dos cidadãos. Também se a fim de salvaguardá-los. da comunidade.
escorre pelas ruas, em vez de ser
absorvida pela rocha nua, preocupa com o mau uso de Durante todo este processo, era
causando alagamentos em partes recursos locais, que, se adminis- importante ter em mente o papel
da Cidade do México. trados adequadamente, poderiam eco-hidrológico de Miravalle, e
Na borda da cidade, nas prover autonomia quando se trata reconhecer e refletir sobre as
encostas do vulcão Guadalupe, de questões críticas, como uma possibilidades que o território
fica a vizinhança de Miravalle. dependência onerosa de água oferece a seus habitantes. Por um
Em três décadas, Miravalle potável, que atualmente é entre- lado, existe a responsabilidade de
desenvolveu-se de um assenta- gue a Miravalle por caminhões. promover uma ecologia urbana
mento informal em um bairro que ajudará a reparar a função de
bem organizado e estruturado ENTENDENDO O infiltração das encostas. E por
politicamente. No entanto, QUE É NECESSÁRIO outro, a percepção de que o
apesar de todas as suas realiza- Através de caminhadas e discus- vulcão, se cuidado e administrado
ções, a comunidade ainda sões em grupo durante as refei- adequadamente, pode prover mui-
enfrenta desafios referentes à ções, a equipe começou a tas das riquezas necessárias.

66 67
um simples passeio recreativo,
o objetivo da caminhada foi
identificar recursos locais que
ajudariam a aprimorar as vidas
dos membros da comunidade. É
importante perceber que devido
à sua localização, Miravalle
assenta-se em uma posição
privilegiada dentro da periferia Esboço funcional da fonte-domo.
da Cidade do México.
tante para um bairro já e gerar uma nova noção de
economicamente desfavorecido. riqueza, com a percepção de
O USO DE RECURSOS LOCAIS
Por outro lado, e apesar do fato que os recursos locais são
Localizada em um dos terrenos
de Miravalle estar localizado em abundantes, e que as necessida-
mais secos, em Miravalle, o
um dos lugares mais secos da des da comunidade podem ser
fornecimento de água não é

CIDADE DO MÉXICO
Cidade do México, a água de sua atendidas internamente.
suficiente para a população e
chuva sazonal seria suficiente
Poster Recuperação de água pluvial: apresenta uma despesa impor-
Assim como as superfícies do vulcão para cobrir as necessidades da O DOMO-FONTE DE COLETA DA
guiam e represam água natural- área. A comunidade tem experi- ÁGUA DA CHUVA

O PROJETO
mente, os telhados das casas e o mentado a coleta da água da A iniciativa da fonte-domo que
domo podem servir como elementos chuva, mas com pouco sucesso. atualmente está sendo construída
coletores de água. Crédito: SMAQ +
A equipe sugeriu que o desafio dá nova função e significado a um
Rozana Montiel Architects.
reside em encontrar uma manei- espaço comum importante, mas
Com a promessa de instalações ra de escalar intervenções subutilizado. A água da chuva
recreacionais e o potencial para existentes, criando uma rede, em coletada via domo, que também
gerar renda, a borda será protegi- vez de fazer os indivíduos traba- funciona como um parlamento
da pelos próprios residentes. lharem por si mesmos. Tal sistema a céu aberto, fornecerá água
ajudaria a criar independência, potável para o público.
CAMINHADA PELO VULCÃO
A caminhada ao topo do vulcão
O jardim de infância em Miravalle é
criou uma estrutura para uma
um bom exemplo da capacidade que
série de eventos com o objetivo de a comunidade tem de criar espaços
aumentar a consciência em torno agradáveis e muitifuncionais, tirando
do valor da área natural, as vantagem da topografia e de recur-
possibilidades que ela oferece se Colhendo flores nas encostas do vulcão sos locais. Localizados na encosta
para enfeitar um santo de rua, e para uso íngreme, professores e pais usaram as
administradas adequadamente, e
em remédios tradicionais. Pode-se imaginar pedras vulcãnicas para construir um
seu potencial para absorver e as lavas vulcânicas esparramando-se pela muro de retenção, com degraus que
reter água se estratégias adequa- cidade através da vegetação contida nos dobram, tornando-se assentos para o
das para restaurar sua capacida- espaços urbanos verdes desenhados anfiteatro a céu aberto.
de forem empregados. Mais que para infiltrar e armazenar água.

68 69
FUNIL
integrar espaços abandonados, e
captura da água da chuva
CANTINA e filtração de pedra mostrar que a comunidade está se
COMUNITÁRIA apoderando deles. Assim o design
do espaço público do domo é
complementado por fechamentos
que regulam a relação de usuá-
rios com os vários espaços
públicos e semipúblicos, como as
coberturas de prédios, varandas
e entrada ao centro de saúde.
O design dessas estruturas pode
ser ainda expandido através de
oficinas com residentes, colocan-
do o envolvimento da comunida-
de no centro do projeto. Poster ilustrando o

CIDADE DO MÉXICO
HORTAS FOSSO ÁREA DE TUBULAÇÃO TANQUE FONTE COM BOMBA
fechamento do espaço.
CAPTURA DO DE ÁGUA DE BICICLETA
DOMO EXISTENTE EXISTENTE do encanamento VISÃO DO FUTURO
para a garrafa Rever as estratégias implementa-
das anteriormente em Miravalle

O PROJETO
infiltração da água captura e filtragem da água
da chuva através da chuva em água potável pareceu ter sido um ponto funda-
da paisagem
mental para esta comunidade que Créditos do Projeto
A água é coletada do telhado SALVAGUARDANDO já conquistou tantas realizações. INICIATIVA COMUNITÁRIA
de um edifício público existente, O ESPAÇO PÚBLICO Crescer para dentro em vez de Conselho Comunitário
e depois disso é empurrada por Miravalle destaca-se como uma expandir; reforçar estratégias que de Miravalle
uma bomba bicicleta, saindo pela comunidade por ter construído fazem uso de recursos locais e que EQUIPE DA CIDADE DO MÉXICO
fonte. A fonte permite livre acesso instalações como o domo - assu- fornecem ambientes seguros; Rozana Montiel | Estudio de
a água potável, limpa. A água mindo o controle social de lugares introduzir pequenas intervenções Arquitectura
também é bombeada para anteriormente negligenciados e para aprimorar a infraestrutura Rozana Montiel, Claudia Rodriguez,
tanques de armazenamento no perigosos. No entanto, paradoxal- existente—estes são os novos Daniel Jaramillo
topo do refeitório comunitário. mente, em uma escala menor essas propulsores do design, com os Colaboradores:
A água da chuva coletada via edificações criam com frequência residentes atuando como agentes- Hortense Blanchard, Daniel Rivera
telhado do domo será cantos, nichos e vielas inseguros. A -chave do processo de transfor-
EQUIPE DE BERLIM
purificada e acessível a todos. integração física desses espaços mação. Mudar a perspectiva da
SMAQ
O projeto não serve somente para como parte do bairro é essencial comunidade sobre sua posição
Participantes do escritório:
usar um recurso local disponível, para transmitir a ideia de que os geográfica—de uma cidade
Sabine Müller, Andreas Quednau
mas também como modelo para espaços são cuidados e mantidos. fronteiriça marginalizada para
e Irene Frassoldati
práticas de gerenciamento da uma localidade com uma paisa-
água urbana que podem ser FECHANDO O ESPAÇO gem extraordinária e acesso a CURADOR
replicadas nas vizinhanças, A equipe sugeriu que fechamentos recursos naturais - causará, Marcos L. Rosa
e na cidade. feitos com materiais visualmente espera-se, ainda mais transforma- COORDENADORA LOCAL
permeáveis seriam um modo de ções subsequentes. Ana Alvarez
70 71
Cidade do México Zona Leste/ miravalle
(local da iniciativa)

20,116,842 1,800,000
População Metropolitana: População de Iztapalapa:

8,918,653 13,000
População da Cidade:
População de Miravalle:

7,854
Área Metropolitana: Densidade Populacional:

Área Municipal:
km2
16,029 pessoas por km2

1,494
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH):

km2

Assentamentos Informais (Região Metropolitana):


0,72 (média Iztapalapa)

2%
Uso da Terra:

da terra (distrito federal)

Assentamentos Informais (Cidade): 93% Uso Urbano

20% da população (Região Metropolitana)

72 73
7% Reserva Natural
realizações existentes e da inclu- os arquitetos são vistos como um

CONSTRUINDO
ANA ÁLVAREZ TEM
são de uma perspectiva metropoli- luxo e não como profissionais que
REALIZADO UMA
tana, para antever o papel de oferecem soluções pra o espaço.
EXTENSA PESQUISA NA Miravalle ante os desafios enfren- Como resultado, mesmo que os

NOVAS
CIDADE DO MÉXICO tados por toda a cidade. detalhes do projeto proposto não
PARA PROJETOS “Eu sei que é difícil de acredi- tenham sido seguidos na íntegra
tar, mas nós não tínhamos perce- pelos construtores da comunidade,
INTERDISCIPLINARES E
bido o que havia atrás de nós ficou claro que a perspectiva mais

PERSPECTIVAS
FOI A COORDENADORA [à nossa porta] até a equipe de ampla e a abordagem multi-esca-
LOCAL NAQUELA urbanistas chegar e destacar o lar trazidas por essa experiência
CIDADE. potencial do vulcão. De repente foram, em si, uma contribuição
o vulcão apareceu para nós em substancial. Além disso, o fato de,

NOTAS SOBRE O PROCESSO


toda a sua grandeza e como um das muitas questões prevalentes,
provedor de água.” Aquela a equipe ter escolhido trabalhar
declaração, feita por um repre- com a questão de fornecimento de

CIDADE DO MÉXICO
“Somos arquitetos, e não assisten- sentantes comunitários pediram sentante de Miravalle enquanto água e inundação - tópicos que
tes sociais—trazemos soluções à equipe do urbanxchanger para explicava as contribuições do ligam os problemas locais a
para o espaço.” Essa afirmação trabalhar com eles a fim de projeto, resume o entusiasmo desafios metropolitanos - também
provocativa em um dos encontros equilibrar as forças e os desafios sentido pelos residentes locais posicionou a comunidade de um
do urbanxchanger em Berlim ficou do que eles conseguiram até então. enquanto olhavam para o cenário modo diferente, como um ator-
na minha mente por um tempo e As ações aparentemente simples esquecido ou para a paisagem -chave dentro da cidade à qual
me levou a perguntar como este realizadas no início de nosso até então não descoberta do ela pertence.
projeto-experimento aberto workshop local - andar, conversar vulcão, durante a apresentação As várias horas de conversas e
aconteceu no México. e deixar espaço para os moradores dos urbanistas - um momento em discussões e a estratégia de não só
Será que a parte mais impor- locais apresentarem e explicarem que eles partilharam com a apresentar um projeto de design,
tante do trabalho executado na seus problemas mais insignificantes comunidade o que eles viram, e mas de primeiro compartilhar real-
Cidade do México foi a modifica- - de fato, revelaram um conjunto em que eles sentiram um ponto de mente com a comunidade como as
ção física do domus em si? A de necessidades não visíveis à virada significativo. equipes liam e entendiam as
riqueza do que foi um processo primeira vista. Esta nova perspectiva, construí- coisas, enriqueceu a noção
intenso, multifacetado, de fato Aquela solicitação–aquele da conjuntamente, tornou-se coletiva de cidadania e criou a
ressaltou contribuições que, de momento–estabeleceu a base para ainda mais importante quando oportunidade para construir
formas diferentes, foram além da uma contribuição que tinha a ver outros desafios surgiram durante realmente uma perspectiva que
real intervenção espacial. com o espaço, mas que não o processo de coleta e armazena- poderia funcionar como “bússola
Miravalle é um lugar onde envolvia apenas construções ou mento da água da chuva no de intervenção espacial” para
muitas intervenções arquitetônicas o provimento de infraestrutura. Em domus (ver descrição do projeto outros futuros projetos além do
baseadas na comunidade já vez disso, o diálogo criou a estrutu- na Cidade do México). Em uma domus. Esta perspectiva mais
aconteceram e construir novas ra para um entendimento mais cidade onde 60% das construções ampla, claramente enraizada em
instalações tem sido uma maneira amplo de autonomia, bem-estar são feitos pelo setor informal, um entendimento do espaço,
de manter o engajamento da e cidadania, através do reconheci- muito sendo realmente construído recursos e infraestrutura, não é
comunidade. Como tal, os repre- mento de recursos locais, de pelos próprios moradores, algo que o assistente social

74 75
Uma abordagem multi-escalar: Discutir com
poderia ter trazido. Para o escopo reativar socialmente um espaço dificuldades, o projeto demons-
a comunidade não só a intervenção especí-
deste projeto, esta mudança de e como uma estratégia para trou que trabalhar em questões fica para o domus, mas também as questões
perspectiva apresentou uma evitar os efeitos colaterais negati- locais e com recursos disponíveis, mais amplas relacionadas como o ciclo de
água na área metropolitana na Cidade do
realização muito poderosa. vos de construção que resultaram mas com uma perspectiva
México e o papel do vulcão neste cenário,
Traduzir essa nova perspectiva de outras intervenções recentes metropolitana e em colaboração reforçou a noção coletiva de cidadania.
em intervenções específicas foi, em Miravalle. com a comunidade, pode ser tão
entretanto, um processo mais Até certo ponto, foi difícil importante quanto - se não mais
problemático durante o qual as perceber que o projeto do domus importante que -
várias partes interessadas arriscou deixar todos insatisfeitos. gerar projetos convencionalmente
(stakeholders) não encontraram Além disso, ele gerou preocupa- excelentes. Este provou ser o caso
um consenso pleno. Isto se deveu ções a respeito do compromisso da em uma cidade que continuará a
em parte às restrições de tempo e comunidade com os diferentes mudar e crescer sem urbanistas,

NOTAS SOBRE O PROCESSO


orçamento do projeto, mas patrocinadores. Claramente, ele mas não necessariamente sem
também parece ter havido uma deixou de ser considerado como sua influência.
falha de entendimento sobre o uma experiência e, como tal,

CIDADE DO MÉXICO
que seja design (luxo ou necessi- tornou-se um projeto que se
dade?) e um nível de confusão esperava que rendesse resultados
com relação à liderança: quem fora da comunidade para outras
(a comunidade ou a equipe?) iria instituições provedoras de recur-
liderar esse processo colaborativo sos locais e internacionais. Para uma comunidade que já realizou
de transformar realmente o Entretanto, uma das grandes grandes projetos de infraestrutura, investi-
gar pequenas ações tornou-se como uma
domus em um dispositivo para virtudes tanto dos representantes nova lente para entender seu potencial
armazenar água. da comunidade quanto dos e autonomia.
A comunidade foi responsável urbanistas foi sua capacidade de
por se aliar a outros parceiros expressar com honestidade e
financiadores (a Mexican Agency respeito suas posições em mo-
of International Cooperation e a mentos críticos no processo, e irem
Uruguayan Agency of Cooperation em frente todos juntos.
for Development) e representantes Esta experiência revelou a
da comunidade também adminis- complexidade de um projeto
trariam diretamente os operários e verdadeiramente colaborativo que
os materiais, como já tinham feito objetiva atacar problemas reais.
com outros projetos. Eles entende- Começar com uma proposta tão
ram os desenhos do projeto como aberta foi tão sugestivo quanto
esboços de uma ideia geral com desafiador porque ela deu aos
detalhes que podiam ser muda- participantes a liberdade para
dos, enquanto a equipe de explorar várias oportunidades
urbanistas via o projeto como um novas, mas também gerou dificul-
plano abrangente que envolvia dade em lidar com os resultados
uma proposta estética para dessas explorações. Apesar das

76 77
A COMUNIDADE
DE MIRAVALLE
E SEUS
ESPAÇOS ABERTOS

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
CIDADE DO MÉXICO

78 79
DA
OFICINA
IMAGENS

80
CIDADE DO MÉXICO

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS

81
Na borda de Miravalle, a vida

PROTEÇÃO urbana e a reserva natural se


encontram. O programa de usos
existente no espaço fronteiriço

DE aponta para uma estratégia que


pode ser expandida: a proteção
através do uso. A comunidade

FRONTEIRAS utiliza o espaço ao longo de sua


borda para o cultivo de milho e
legumes, também tem construído

ATRAVÉS campos esportivos, um centro


cultural, e o CECEAMI—um centro
de experimentação ecológica.

DO USO

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
Um exemplo excelente de boa
prática é o jardim de infância,

CIDADE DO MÉXICO
onde o desafio de uma topogra-
fia difícil se transformou em
múltiplas oportunidades: um
auditório ao ar livre, terraços
para a criação de animais e
o cultivo de plantas, e uma
escada de pneus para trilhas.

82 83
VULCÃO DE
GUADALUPE
O vulcão está cheio de vida
e recursos aos quais a cultura
humana pode se conectar, além
de apoiar. O vulcão é o lar do
falcão de cauda vermelha

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
(Buteo jamaicensis) e do cama-
leão mexicano (Llora Sangre),

CIDADE DO MÉXICO
bem como de diferentes espécies
de plantas silvestres e uma
variedade de minerais.

84 85
CAMINHADA
AO VULCÃO
Apesar da proximidade da olharam Miravalle do ponto de
comunidade com o vulcão vista do vulcão. A ironia disto não
Guadalupe, os habitantes volta- poderia ser maior considerando
ram as costas a esta reserva que Miravalle literalmente signifi-
natural. Nosso primeiro passo foi ca "Olhe para o vale" em espa-
projetar uma ação específica, nhol. Depois de ações localizadas

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
convidando os moradores locais como essas, as intervenções arqui-
a nos acompanhar em uma tetônicas nas comunidades

CIDADE DO MÉXICO
caminhada até o topo do vulcão podem ser mais eficazes: a
para aprender mais sobre ele. Isto transformação espacial começou
provocou um avanço social: pela com uma mudança positiva na
primeira vez, os moradores percepção daquele espaço.

86 87
FONTE NO DOMUS
Através de intervenções de baixo comunidade, que pode inspirar
custo, a estrutura de domus do a integração da reciclagem de
parlamento ao ar livre ganha água em residências particulares
outro uso: torna-se uma estrutura e outros espaços públicos,
de coleta de água da chuva que e também é um elemento público
fornece água potável para o visível que representa simbolica-
refeitório da comunidade. Convi- mente as soluções autônomas
da as pessoas a bombear água sustentáveis, auto-gestão
potável para uma fonte aberta e conscientização de Miravalle.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
pedalando em uma bicicleta fixa. Por último, a cúpula neutraliza o

CIDADE DO MÉXICO
O impacto social da intervenção é sentimento geral de que a água é
múltiplo. Descentraliza o abasteci- um recurso escasso que "aparece"
mento de água e estabelece um em casas e, em vez disso, restaura
precedente cultural para o uso um senso de responsabilidade
sustentável da água. Ele serve e dá aos moradores o controle
como uma ferramenta pedagógi- sobre a gestão local deste recurso.
ca de infraestrutura operada pela

88 89
SALVAGUARDA
A segurança em Miravalle é um são apropriados com usos
problema. Os santos de rua indesejáveis. "Envelopar" esses
“protegem” as vizinhanças bem espaços residuais—adicionando-
conservadas nas ruas sem saída e -os de uma função, como ocorre
a atividade econômica em no centro de saúde—pode definir
estabelecimentos que se abrem à o seu uso e acessibilidade, o que
rua mantém os “olhos nas ruas” identificamos como um meio para
(Eyes on the Street, de Jane Jaco- melhorar a segurança nestes

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
bs). Um dos líderes da comunida- locais. A ideia já foi aplicada pela
de deixa o portão da casa aberto própria comunidade como uma

CIDADE DO MÉXICO
num gesto de boas-vindas, mas os solução e pode muito bem ser
espaços indefinidos localizados incorporada em futuras atualiza-
em fragmentos do tecido urbano ções arquitetônicas.

90 91
ANA ALVAREZ

Às vezes
o processo
é mais
importante
do que oSerá que a parte mais importante
do trabalho desenvolvido na
Cidade do México foi a modifica-
ção espacial do domo em si?
A riqueza de um processo intenso
produto.e multifacetado apontou contri-
buições que, de maneiras diver-
sas, ultrapassaram a intervenção
direta no espaço.
Em um processo colaborativo
certas discordâncias ficam
claras logo de início. Outras
surgem durante o processo de
execução. Nesses processos,
tempo e recursos são funda-
mentais para afinar essas
discordâncias.
O ato
de
fazer
ANA ALVAREZ

é
revelador
Ver um
lugar familiar
através ASSEMBLEIA COMUNITÁRIA DE MIRAVALLE

de lentes
novas pode Sabemos que é difícil de acreditar,
mas não tínhamos percebido o que
tínhamos atrás de nós—ou logo
à frente de nossos olhos—até a
revelar equipe de urbanistas chegar e
apontar para o potencial do vulcão.
De repente, o vulcão apareceu para
nós em toda sua grandeza e como
provedor de água.

o enorme
potencial para
mudança
Iniciamos o urbanxchanger com poucas
expectativas, ao sermos convidados a partici-
par de uma plataforma de experimentação.
Entretanto, essa experiência se converteu em
um laboratório de ideias no curto, médio e
Uma longo prazos—ideias que vieram a fortalecer
nossa agenda de trabalho e abriram novas
frentes de ação com enorme potencial para
transformar o entorno urbano privilegiado
onde vive nossa comunidade.

troca
breve pode
contribuir
para uma
agenda
sólida ASSEMBLEIA COMUNITÁRIA DE MIRAVALLE

de ações
transformadoras
Explorar
Inovar, projetando de acordo com necessidades
e possibilidades locais e não copiando modelos
importados, de fora da comunidade. A viabiliza-
ção de recursos—principalmente a água—já
constitui parte de uma agenda inexplorada
previamente. Além disso, apresenta muitas
o uso possibilidades para a criação coletiva na
comunidade e na Sierra de Santa Catarina.
Com o urbanxchanger lançamos um projeto
piloto com um domus para a coleta de água
que ilustra para a comunidade uma forma
possível de adminisrtar o uso da água da chuva
e tem enorme potencial para ser replicado em
unidades habitacionais individuais.

de
recursos
locais
disponíveis
ASSEMBLEIA COMUNITÁRIA DE MIRAVALLE
ASSEMBLEIA
Sintonizar as COMUNITÁRIA

DE MIRAVALLE

expectativas
locais e externas
e estabelecer
cronogramas Por realmente em prática as
várias ideias geradas durante
o workshop continua a ser um
é uma tarefa desafio, como é negociar
efetivamente com diversos
stakeholders locais e externos.
Administrar requisitos de
tempo de diversos stakehol-
fundamental— ders no projeto, ao mesmo
tempo em que se lida com
outros projetos comunitários,
provou ser muito difícil.
Precisamos estabelecer
mas também critérios para trabalhar
melhor com profissionais
externos, a fim de obter um
fluxo de trabalho mais fluido
e efetivo, adequado a nossas
condições específicas e à
difícil—para disponibilidade de recursos
humanos e materiais.

a comunidade
A colaboração
com profissionais
de design nos deu
novo entendimento ASSEMBLEIA

COMUNITÁRIA
do que constitui DE MIRAVALLE

design e ajudou
As perspectivas
na preparação inovadoras trazidas
por urbanistas
complementaram
o trabalho que já
tinha sido feito,
de um plano de gerando um entendi-
mento mais ampo do
que constitui design
do ponto de vista
arquitetônico,
desenvolvimentoe a necessidade de
um planejamento
adequado—de tempo,
recursos e expectati-
vas—antes de iniciar
comunitário o processo de
construção.

mais integrado
O que define
um projeto
comunitário?
Trabalhar no
âmbito público?
Mais de uma vez surgiu a
A liderança questão de "com quem e para
quem" as equipes estavam
trabalhando. Esses momentos
deram início a um debate
interessante sobre o conceito de
do cidadão? projeto comunitário". Em vez
de ser considerado como algo
esperado, ele exigiu ser revisto
constantemente.

A ampla
participação
dos cidadãos? ANA ALVAREZ
Andar, conversar
e mapear podem
ser usados como
ferramentas
poderosas para
revelar problemas
menos evidentes,
ANA ALVAREZ

que não são


necessariamente as
menos importantes
Como designers e
arquitetos, temos
o cuidado de não
impor soluções:
concebemos com a
comunidade, e não
só para ela. Isso
torna as pessoas
receptivas aSMAQ+ROZANA MONTIEL ARCHITECTS

novas ideias
Quando se trata
de design, como SMAQ+ROZANA MONTIEL ARCHITECTS

introduzir uma
cultura de adaptação
e conexão com
o lugar, um cuidado
para os detalhes
e para o básico, Estávamos trabalhando
com uma comunidade que
quando o construiu seu bairro através
de trabalho duro e luta polí-
tica bem-sucedida. Além de
estradas, esgoto e ilumina-
financiamento ção pública, ao longo dos
anos foram construídas
instalações sociais ambicio-
sas com arquitetos e
e as expectativas dispositivos-teste sustentá-
veis. Contudo, essas inter-
venções permaneceram
tendem a privilegiar localizadas e pouco
exploradas, enquanto
faltam elementos básicos
como água potável
o novo, o grande e o e segurança urbana.

curto prazo?
Como o artista Theaster Gates disse,
a beleza não é um luxo, mas um serviço
básico. Achamos muito difícil transmitir
às pessoas a ideia de que o design é
importante, que não é supérfluo, mas parte
de uma visão estratégica, valiosa para
restaurar a dignidade no espaço público
e a qualidade de vida dos habitantes da
cidade. Esse desafio é encontrado inde-
pendentemente de a fonte de financiamen-
to ser top-down (de cima para baixo)
ou bottom-up (de baixo para cima).
Como
comunicamos
a necessidade
da beleza como
ferramenta
na produção SMAQ+ROZANA MONTIEL ARCHITECTS

da cidade
contemporânea?
SMAQ+ROZANA MONTIEL ARCHITECTS

Como
podemos
reimaginar
a autoria na
arquitetura
quando Trabalhar com comunida-
des requer uma mudança
na abordagem autoral em
relação ao projeto.
Arquitetos trabalham para
trabalhamos integrar forma e função,
mas muitas vezes o
processo de construção
feito pela comunidade
preserva apenas os
aspectos mais básicos de
com uma sua visão. Isso afeta
diretamente o paradigma
da autoria na arquitetura,
à medida que as conquis-
tas se tornam mais difíceis
de demonstrar.
comunidade?
SMAQ+ROZANA MONTIEL ARCHITECTS

Que Arquitetos interessados


em trabalhar com
comunidades não têm
possibilidades necessariamente os
meios para financiar
trabalho voluntário.
Há muito poucos
incentivos para seguir
os arquitetos esta direção profissio-
nal, seja pela falta de
patrocínio, ou porque
o patrocínio que existe
deixa muito pouco
podem buscar espaço para a ação.

para financiar
sistematicamente
projetos
comunitários sem
recorrer a uma
defesa direta?
No nosso trabalho com as comunida-
des urbanas, nós nos encontramos
desempenhando papéis profissionais
que às vezes superam nossas capaci-
Estamos dades como arquitetos – ligação entre
comunidade e autoridades públicas,
angariação de fundos, direito à cidade
e ensino. Como tal, nós realmente não
trabalhamos de uma forma "de cima
preparados para baixo" ou "de baixo para cima",
mas nos encontramos no "meio termo"
onde a maioria dos agentes envolvidos
tem evitado a responsabilidade. Ao
preencher lacunas e desempenhar tais
como papéis, nos expomos de forma que o
risco de comprometer a nossa reputa-
ção profissional quando os resultados,
dados todos os fatores envolvidos,
tornam-se questionáveis.

arquitetos
para entender
o papel público
que desempenhamos
ao projetar
SMAQ+ROZANA MONTIEL ARCHITECTS

para as
comunidades?
Hands of
O QUE É E QUANDO
FOI FUNDADA?
Hands of Honour é uma ONG
fundada na Cidade do Cabo em

Honour
2010 por Paul Talliard.

ONDE E O QUÊ?
Sediada em Retreat, um subúrbio
no extremo leste de Cape Flats, a
organização se preocupa em
‘melhorar pessoas, espaços e
objetos’. Ex-membros de gangues
e dependentes químicos têm a
oportunidade de aprender
habilidades em carpintaria,
construção e paisagismo, com a REALIZAÇÕES
esperança de se integrarem à vida O programa atingiu ótimos
econômica da cidade. resultados no curto espaço de
tempo que está funcionando,
IMPACTO SOBRE O ajudando a transformar vidas e a
AMBIENTE CONSTRUÍDO melhorar espaços urbanos

INICIATIVA COMUNITÁRIA
Além de desenhar e fazer móveis negligenciados. Dados estatísticos
com materiais doados e descar- oficiais anuais de criminalidade
refletem uma redução nos crimes

CIDADE DO CABO
tados, a equipe também faz
aprimoramentos em edificações e nas áreas em que Hands if Honour
espaços—centros comunitários, tem atuado e, até a presente data,
creches, jardins—atendendo a nove empregos em tempo integral
solicitações. Hands of Honour não e parcial foram criados, e onze
só contribui para um ambiente locais abandonados foram
construído aprimorado, mas transformados em espaços
também lida diretamente com as públicos seguros e atraentes.
questões de abuso de drogas, Além disso, dois outros projetos de
empoderamento de jovens e a geração de renda foram estabele-
Condições de cidos: Crosses4Change (cruzes
moradia precárias
criação de empregos. Os lucros
de seu trabalho são investidos em para túmulos) e Hands of the
e sempre temporá-
rias de moradia edifícios e em espaços comunitá- Rainbow Colours (cultivo de
na periferia da rios abandonados que acabaram vegetais orgânicos). O programa
Cidade do Cabo. se tornando paraísos para o de melhoramento Hands of
comportamento anti-social. Honour também recebeu oito
premiações locais e internacionais

122 123
casas decentes, ou não têm Em discussões extensas com

A Cidade do Cabo disposição para isso. O resultado


é uma condição aguda de
temporariedade que a equipe do
Clive, ficou claro que ele estava
profundamente desapontado
com suas condições de moradia.

e a Questão
urbanxchanger da Cidade do Ele tem esposa e um filho peque-
Cabo escolheu abordar. no, e duas irmãs mais velhas que
adorariam morar com ele, mas
A CASA DE CLIVE não há espaço. Ele está revoltado,

da Moradia
Clive é membro do Hands of pois é um homem orgulhoso que
Honour. Ele mora em uma casa quer cuidar de sua família, mas
construída por ele mesmo duran- não consegue. Esta condição de
te duas semanas depois que um incerteza e impotência é compar-
A Cidade do Cabo é dividida por pagar pelo transporte; incêndio queimou sua moradia e tilhada por muitas pessoas na
raça e classe. Tem uma popula- e ambientes insustentáveis que também destruiu as casas de seus comunidade de Clive, que estão
ção metropolitana perto de não são capazes de apoiar vizinhos. Ele recebeu da cidade convencidas de que seus casebres
quatro milhões de pessoas, muitas atividade comercial. um kit de emergência para vítimas são casas temporárias enquanto
das quais vivem em estruturas Não importa o quanto seja do incêndio, e construiu sua casa esperam pelas casas fornecidas
rudimentares temporárias, ou bem-intencionada a política usando esses materiais, junto com pelo estado. Infelizmente, algu-
barracos. A National Housing habitacional do governo, ela não outras sucatas que encontrou. Seu mas pessoas estão na espera há
Policy (Política Nacional de consegue equiparar a demanda desembaraço foi notável, mas a mais de 25 anos. A abordagem
Habitação) é dirigida para a com a oferta, causando uma casa não é adequada para proposta pelo urbanxchanger foi
produção de unidades habitacio- dificuldade política considerável ocupação humana. É fria no entendida imediatamente e
nais isoladas no lote de 44 metros para o estado, e contínua inquie- inverno e quente no verão, não é apoiada por Clive: encontrar uma
quadrados para famílias com tação civil. Fora da habitação à prova d’água e não tem água, forma de converter a

CIDADE DO CABO
renda abaixo da linha da pobreza fornecida pelo estado, a maioria luz nem esgoto. A água é coletada temporariedade em uma noção
—um espaço habitável mínimo em dos casebres são construídos de uma fonte pública, próxima, de permanência, em vez de
e o saneamento consiste de um simplesmente adicionar um ou

O PROJETO
um pequeno pedaço de terra, que pelos próprios moradores, usando
eles podem vender após sete materiais reciclados baratos, ou vaso portátil que é esvaziado dois andares ao casebre existente,
anos. Repetido por todo o país, terrenos não atendidos por regularmente pela cidade. como visto em outros lugares.
com reconhecimento insuficiente serviços públicos dois quais não A CASA DE CLIVE
de diferenças contextuais, 3,5 têm posse, resultando em assen- Clive é membro da Hands of
Honour. mora em uma casa
milhões dessas casas foram tamentos precários em acres que ele mesmo construiu
construídos desde 1994. distantes, construídos pelos durante duas semanas, após
O resultado é desastroso: a próprios moradores. O futuro da ter perdido sua moradia em
um incêndio que também des-
contínua expansão dos limites habitação na África do Sul truiu as casas dos vizinhos. Ele
da cidade para acomodar parece desolador face a um recebeu da cidade um kit de
moradia suburbana abaixo do sistema habitacional fadado ao emergência para as vítimas
do incêndio, e construiu sua
padrão; as pessoas morando fracasso, e as pessoas locais que casa usando esses materiais,
cada vez mais distantes de seus tomam iniciativa e ocupam terras, juntamente com outras suca-
locais de trabalho, incapazes de mas não são capazes de construir tas que ele encontrou.

124 125
A ESTRUTURA DE MESA QUE
PERMITE O EMPODERAMENTO
A ideia da estrutura de mesa
nasceu de discussões com Clive e
Paul Talliard, e se desenvolveu em
um conceito de design que traria
inúmeros benefícios: em primeiro
lugar, permitir que Clive se
encarregue da ampliação de sua
casa para acomodar sua família;
em segundo, transformar a
natureza temporária da estrutura
em uma mais permanente; e
finalmente, desenvolver a casa
verticalmente, uma vez que
o térreo está lotado. A Mesa
atinge todos esses objetivos de
Rendering da construção da Mesa: o protó-
uma maneira efetiva, em termos tipo com extensões (se alguma coisa já está A Mesa como facilitadora da empoderação —cenário futuro para a autoconstrução assistida.
de custo, e também engaja a construída no topo da Mesa).
imaginação do dono da casa, para construir e permite ao dono pela Alfred Herrhausen Gesells- área e o assentamento informal
dando-lhe controle sobre ela, e, decidir como ele ou ela quer chaft. Clive, o cliente original, adjacente está crivada de
por sua vez, empoderando-o. organizar os espaços internos da encontrou complicações dentro criminosos, gangues e dependen-
A estrutura de mesa é mínima, casa. A construção da Mesa está da comunidade local, onde, tes químicos; logo a ideia de
permanente, exige pouco trabalho ao alcance da capacidade das aparentemente, teria agredido morar em um piso acima do

CIDADE DO CABO
pessoas locais, sendo os materiais sua esposa, e foi considerado térreo parecia apelar fortemente
o único custo de capital, e a inadequado para receber a ao seu desejo de segurança.

O PROJETO
mão-de-obra foi oferecida pelo estrutura da mesa. Em consequ- Hands of Honour forneceu a
Hands of Honour. E há também a ência, a equipe teve que encon- mão-de-obra para a construção,
opção de desenvolver componen- trar outro local e cliente. Eles enquanto um construtor local
tes adicionais—escadas, sistemas tiveram permissão para construir administrou o processo. Os arqui-
de revestimento, etc—que podem uma Mesa em um local amplo de tetos dedicaram um tempo
ao longo do tempo, formar a base propriedade de um grupo de considerável projetando um
para um negócio lucrativo dirigido famílias que descendiam de sistema de conexões que permiti-
por empreendedores locais. escravos e ganharam o terreno riam a ampliação lateral da
da Igreja Metodista. Melissa, uma estrutura de mesa em todas as
O PROTÓTIPO mulher jovem casada e com dois quatro direções. Eles também
O primeiro Tafelhuis foi construí- filhos pequenos, foi escolhida tiveram que projetar um sistema
do com a concessão de €2.000 pela comunidade. para ganhar a de suporte para as quatro
casa. Ela mora em um estado de colunas, a fim de garantir a sua
Processo de construcão—vários atores
participando da construção do protótipo. insegurança intensificada pois a colocação certa com relação ao

126 127
Desenvolvimento de capacidades para a produção
local—ajudando Hands of Honour como empreende-
casebre, e foram corretos e PROJEÇÃO FUTURA dores sociais para a melhoria da favela
honestos. Desenvolveram um A resposta ao projeto foi nada
sistema deslizante fixado diago- menos que fenomenal, com as Créditos do Projeto
nalmente capaz de ajustar os famílias querendo estruturas
oferece uma maneira segura, INICIATIVA COMUNITÁRIA
tampos de mesa (de 2,4X2,4m, a parecidas erguidas sobre seus
relativamente efetiva, em termos Hands of Honour
um máximo de 4,4X4,4m) neces- casebres. Uma vez que as pessoas

CIDADE DO CABO
sários para acomodar barracos entendem o conceito de fazer de custo, para ampliar uma EQUIPE DA CIDADE DO CABO
de tamanhos diferentes. A casas permanentes para si moradia, e é aberta, ou indefini- Noero Architects
construção levava apenas dois mesmas onde elas moram, as da o suficiente para permitir ao Participantes do escritório:

O PROJETO
dias de trabalho, mas se estendia possibilidades são infindáveis, e dono assumir o controle e definir Jo Noero, Uno Pereira, David
em mais seis dias a fim de o potencial é ilimitado. O maior a casa de modo a se adaptar a long, Oliver Brow e Nikita
permitir a execução das funda- desafio que as pessoas enfrentam necessidades específicas. Final- Schweizer
ções de concreto. Dadas as é a capacidade e o know-how mente, a Mesa oferece aos EQUIPE DE BERLIM
oportunidades que a Mesa técnico para construir para cima, moradores de casebres a espe- BAU collaborative
oferece, o custo final de 12.000 que é a única forma que o rança de poderem criar raízes e Participantes do escritório:
South African Rands é considera- crescimento pode acontecer, pois fazer casas mais permanentes Rainer Hehl, Philipp Luy, Susie
do acessível para famílias de esses assentamentos são superlo- para si mesmos. Ryu, Tom Schöps e Justine
baixa renda. tados. A Mesa supera facilmente Olausson
esse problema, criando um novo CURADOR
andar plano e estável acima do Marcos L. Rosa
existente. O sistema resultante
COORDENADORA LOCAL
permite a densificação vertical,
Lindsay Bush
128 129
Cidade do Cabo Philippi
(local da iniciativa)

3,740,026 200,603
População:
População Metropolitana:

4,182
Densidade Populacional:

2,454
Área Metropolitana:

pessoas por km2

km2

0,71
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH):

13,6%
Assentamentos Informais em Área Metropolitana:

38%
da população Taxa de Desemprego:

56%
Assentamentos Informais:

da população

130 131
VIRANDO captar momentos. O mais inspira-
dor, acredito eu, foram as conver-
sas subsequentes anotadas
durante a semana de workshop na
andares, comparada com os
barracos menos sofisticados, de
lata e madeira, encontrados na
África do Sul? Como podemos nos

A MESA LINDSAY BUSH, ARQUITETA E


PESQUISADORA DE DURBAN, FOI
Cidade do Cabo, que deram uma
visão rica da gênesis do resultado
do projeto, o Tafelhuis—ou Table
Mountain, é o nome dado a uma
formação rochosa conhecida por
afastar do modelo fordista, de
cima para baixo, que separa os
trabalhadores, e nos aproximar
do sistema Um-carro’ da Volvo,
que oferece orgulho, responsabili-
A COORDENADORA LOCAL DO seu formato de mesa, marco na dade e uma oportunidade para
paisagem da cidade—ou o ver o fruto do trabalho de alguém?
URBANXCHANGER NA CIDADE
“Topo da Mesa”, como chamamos Como a produção de uma mora-
DO CABO. o projeto. dia pode se tornar uma oportuni-
O que é uma casa vs o que uma dade de treinamento durante o
casa faz na vida das pessoas? Será qual os participantes transmitem
A princípio parecia muito ousado. saltando de paraquedas para este um estado de temporalidade habilidades uns para os outros?
Encostada no balcão da cozinha resolver nossos problemas para permanente ou de permanência A estrutura protótipo será uma
de uma pensão em Cuba, aper- nós, e bastante protetores com as temporária? Quais serão as composição de pequenos elemen-
tando o telefone contra a orelha pessoas e projetos com os quais eu repercussões de agir fora da lei tos (por exemplo, tecnologia de
enquanto uma tempestade caía lá tinha desenvolvido fortes vínculos (construindo o protótipo sem bloco e viga) ou um sistema mais

NOTAS SOBRE O PROCESSO


fora, ouvia enquanto Marcos ao longo dos anos. Havia, no permissão)? Funcionários da sofisticado de fechamento tal
descrevia com entusiasmo o que entanto, algo imensamente prefeitura passarão um trator para como uma laje de concreto in-situ?
eles tinham em mente. Isso não vai atraente na proposta do urbanx- destruí-lo? Isso poderia prejudicar Podemos limitar a escala da

CIDADE DO CABO
funcionar nunca, pensei: comple- changer - tão aberta, com tanto a reputação dos envolvidos? intervenção por exemplo, para
xo demais, atores demais, tempo potencial, tantos resultados Poderia causar ciúmes ou proble- ferramentas exclusivamente
ou dinheiro insuficientes. Tinha possíveis - e eu pensei de novo em mas com os vizinhos? O que manuais? E finalmente, qual é o
dúvidas ainda quanto à todas aquelas vezes como funcio- constitui uma abordagem de potencial para a replicabilidade
capacidade de urbanistas, nária pública em que me disse- sucesso em um ambiente onde é em diferentes escalas por exem-
particularmente arquitetos, ram: ‘ isto não vai funcionar mais fácil pedir desculpas do que plo, Micro (a Casa)—Midi—(o
negociarem uma proposta tão nunca’ e, invariavelmente, eles pedir permissão? Agir coletiva- Entorno)—Macro (o Programa
aberta, e quanto à provável falta estavam errados. Quem sabe mente será um estímulo ou isso Nacional de Habitação)?
de interesse que enfrentaríamos desta vez a errada seria eu? causará irritação? Havia muita Somente quando todas as
por parte das iniciativas comuni- Como coordenadora local para discussão em torno de uma forma equipes se reagruparam pela
tárias que tinham participado no a Cidade do Cabo, concentrei diferente de olhar para a produ- última vez em Berlim para apre-
Prêmio em cada cidade, para meus esforços na identificação de ção de uma habitação: O que sentarem seus trabalhos, foi
participar de um projeto sem atores e na facilitação de relações podemos aprender com o modo possível captar a riqueza e
recompensa monetária explícita— e processos. Um ‘papel gentil’, de construir assentamentos diversidade das explorações
vivemos tempos difíceis aqui no consistia basicamente de observa- informais na América do Sul e intervenções que resultaram.
(hemisfério) Sul. Desconfiava da ção e documentação - incentivar, e Central—estrutura de concreto O urbanxchanger revelou novos
cultura de arquitetos estrangeiros ressaltar o que havia em comum, preenchida com tijolos, com vários modos de colaboração:
132 133
a verdadeira criação coletiva no entanto, estava mal preparada
(cocriação) que pode evoluir para vê-la de perto. Várias vezes
naturalmente sem as restrições eu me vi chocada com a volatili-
de algo que se deveria entregar. dade de uma vida vivida em
Embora isso tenha suscitado pobreza e me peguei refletindo
muito questionamento, também constantemente sobre minha
deu o espaço para os projetos própria vida, vivida exatamente do
evoluírem organicamente em outro lado de Table Mountain, mas
resposta a diferentes necessidades que era um mundo à parte. Como
e contextos. Deu às equipes uma profissionais do ambiente cons-
oportunidade para trabalhar em truído, contamos com o planeja-
maneiras–e com pessoas–que não mento—somos ensinados a sonhar
poderiam ser possíveis comumen- e a converter esses sonhos em algo
te, testar ideias, reexaminar e tangível—mas como morador em
possivelmente redefinir um barraco em Cape Flats, você
o próprio papel como arquiteto, simplesmente não pode planejar
urbanista ou empreendedor pois não tem ideia do que o futuro
social. O processo também deixou próximo reserva. Na semana
claras as limitações da educação seguinte você pode não ter Muitas mãos criam
mesas: A potência de
e da prática tradicionais, que não dinheiro suficiente para por pão juntar pessoas com
necessariamente nos equipam com na mesa para sua família, você

NOTAS SOBRE O PROCESSO


diferentes formações
as ferramentas para negociar a pode não ter mesa porque sua e experiências, habili-
dades e ideias diversas
complexidade das cidades de hoje. moradia pegou fogo, e você pode não pode ser negada.
Muitos foram os ‘aprendizados’ não ter mais sua filha, pois ela foi

CIDADE DO CABO
gerais do projeto, dos quais dois se pega no meio de fogo cruzado
destacaram para mim. O primeiro entre gangues, ao voltar para
foi a limitação de tempo. Traba- casa, da escola. Essa volatilidade
lhando com comunidades que foi ressaltada muitas vezes durante
evoluíram gradualmente ao longo nosso curto processo, mas toda vez
de vários anos, uma intervenção a equipe se ajustava, recalibrava e
focada em tão curto tempo amoldava. Sua perseverança
parecia ser inadequada, como um demonstrava que quando esses
projeto de 6 anos comprimido em dois mundos se juntam, indepen-
um período de 6 meses. O outro dentemente de diferenças e
‘aprendizado’ foi profundamente restrições e apesar de (ou talvez Em uma missão para ver o barraco de dois andares: Conhe-
cendo os homens do Hands of Honour foi enriquecedor e
pessoal. Tendo visitado com em parte devido a) situações nada
esclarecedor. Ao fundo está a silhueta de Table Mountain, no
frequência e trabalhado com ideais, coisas muito especiais outro lado da qual se aninha o região central – o City Bowl.
a comunidade onde o primeiro podem acontecer. Muitas pessoas nesta comunidade nunca foram
à 'Cidade do Cabo'.
cliente do Tafelhuis morava, pensei
conhecer muito bem a situação;

134 135
Hands of Honour é uma iniciativa

INICIATIVA comunitária localizada em Cape


Flats. Centra seu trabalho em um

COMUNITÁRIA, programa de treinamento de


habilidades em carpintaria,
construção e paisagismo com

PRIMEIRAS homens residentes nesta região,


porém desempregados, depen-
dentes ou usuários de droga em

VISITAS E processo de reabilitação.


O programa modernizou com

SEMANA sucesso edifícios abandonados


e espaços abertos dentro e ao
redor de seu bairro.

DE TRABALHO.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
CIDADE DO CABO

136 137
REUSO DE
MATERIAIS
DISPONÍVEIS
NO LOCAL
As visitas ao local incluíram longos
percursos ao longo das estradas
principais onde material de
construção de segunda mão pode
ser comprado. Estas portas,
janelas, telhas e estruturas de
madeira fazem parte da grande
variedade de materiais disponíveis
que são utilizados na autoconstru-

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
ção de casas naquela região.

CIDADE DO CABO

138 139
CONSTRUINDO
A“ESTRUTURA-MESA”
Renderizações conceituais fossem colocados corretamente
detalham o processo de constru- em relação à unidade existente.
ção passo a passo. Os arquitetos Desenvolveram um sistema de
passaram um tempo considerável deslizamento diagonalmente
projetando um sistema de cone- travado que poderia ser ajustado
xões que permitiriam a expansão para criar um topo de mesa de
lateral da estrutura da mesa em tamanhos diferentes (de 2.4x2.4m
todas as quatro direções. Eles a um máximo de 4.4x4.4m)
também tinham que projetar um necessário para acomodar
sistema de apoio para as quatro barracos existentes de
colunas para garantir que eles diferentes tamanhos.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
CIDADE DO CABO

140 141
Uma série de imagens descreve a

O PROTÓTIPO: construção do primeiro protótipo


da casa da tabela na Cidade do

CONSTRUINDO Cabo. A construção levaria


apenas dois dias, mas estendeu-se
ao longo de seis, a fim de permitir

A PRIMEIRA que as fundações de concreto


fossem concretadas. O primeiro

ESTRUTURA- Tafelhuis foi construído em um


local pertencente a um grupo de
famílias que eram descendentes

MESA NA de escravos e cujo direito à terra


tinha sido dado pela Igreja

CIDADE DO Metodista. Melissa, uma jovem


casada com dois filhos pequenos,
foi a destinatária escolhida por

CABO. essa comunidade para receber


o primeiro protótipo.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
CIDADE DO CABO

142 143
Um possível cenário futuro pode

PERSPECTIVA ser visualizado pela simulação de


um processo de construção

FUTURA
incremental, conforme ilustrado
aqui. Uma vez que as pessoas
entendem o conceito de fazer
casas permanentes para si
mesmas onde vivem, as trocas são
infinitas e o potencial, ilimitado.
Este sistema cria uma laje nova
e estável acima do existente.
Permite o adensamento vertical
e oferece uma maneira relativa-
mente econômica e segura de
expandir uma habitação.
Seu desenho é aberto o suficiente
para permitir que o proprietário
assuma a responsabilidade de
moldar a casa para atender às
suas necessidades particulares.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
CIDADE DO CABO

144 145
As pessoas têm
Ficamos tristes que os moradores de assentamentos
informais se mostraram em grande parte relutantes
medo deem colaborar na construção por medo de serem
repreendidos pelos líderes locais no comitê de
bairro, embora a comunidade pudesse se benefi-
ciar imensamente. Depois de décadas de um
sentimento de impotência criado pelo Apartheid,
as pessoas estavam com muito medo de tomar
agir e decisões por conta própria, mesmo aquelas que
as afetariam diretamente, tais como a execução
de instalações adequadas.

fazer a
mudança, são
desempoderadas
pela história
e política PAUL TALLIARD / HANDS OF HONOUR
A confiança Nós aprendemos que a
melhor maneira de avançar
é conhecer colaboradores e
beneficiários muito antes de
é um pré- começar a trabalhar com
eles. Somente uma vez que
a confiança mútua é adquiri-
da, é possível trabalhar em
conjunto como parceiros e
objetivando o bem maior.

requisito
para se
trabalhar
PAUL TALLIARD / HANDS OF HONOUR

com as
comunidades
Com a
co-criação,
não seLINDSAY BUSH

pode
identificar
o momento Quando o processo de design se manifesta
como a contação de histórias entre atores
em que específicos, as soluções se revelam
lentamente como resultado de uma
combinação de experiência, conhecimen-
to e criatividade. Cada ator preenche uma
parte diferente do espectro e eles se
juntam para formar um quadro completo
uma ideia de um possível futuro alternativo.

nasceu
"O que queremos é mais do mesmo ou algo
completamente diferente?" Na proposta na
Cidade do Cabo, havia a percepção de que
a fim de iniciar a conversão física e psicoló-
gica de 'temporário' para 'permanente', a
equipe precisaria romper completamente
Design com a maneira aceita de fazer as coisas,
e também com a lei—um movimento muito
corajoso e radical tanto para uma empresa
de arquitetura estabelecida, bem respeitada,
quanto para um novo empreendimento
social dinâmico.

como
provocação
poderia
possibilitar LINDSAY BUSH

a inversão
do status quo
Chegando em Berlim, vendo a cidade atra-
vés das lentes do Tafelhuis, o projeto recém
realizado na Cidade do Cabo, buscamos
encontrar relevância em uma possível
transferência de experiências entre as
Nenhuma cidades. Com referência a todos os temas
emergentes neste projeto (agricultura
urbana/habitação/espaço público/
gestão de resíduos/ natureza) pareceu ser
difícil para as equipes transplantarem ou
situação adaptarem objetos, sistemas ou processos
de um local para outro, pois o contexto era
diferente em todos os sentidos. Por outro
lado, os participantes foram mais capazes
de oferecer sugestões úteis, objetivas aos
pode ser projetos que estavam sendo desenvolvidos
pelas equipes de outras cidades, pois eles
os estavam vendo pela primeira vez, sem
lentes preexistentes.

vista
objetivamente
uma vez que ela
já está 'carregada'
ou 'distorcida'
pelo que foi visto
LINDSAY BUSH

ou feito antes
A realização RAINER HEHL,
BAU COLLABORATIVE

do projeto—da
ideia inicial
à construção da
estrutura—mesa—
Este foi o aspecto mais fascinante de
todo o processo e pode ser atribuído ao
fato de que a comunicação entre os
atores participantes – os escritórios
aconteceu colaboradores, Hands of Honour, o
construtor e as pessoas no local – fun-
cionou muito bem e a distribuição de
papéis foi clara. Este processo mostra
que, uma vez que as pessoas estão
realmente focadas em uma ideia e
em um curto
engajadas para fazer acontecer, a
realidade pode ser transformada muito
rapidamente. A ideia da mesa não é
nova (podemos pensar, por exemplo,
espaço nos conceitos de John Habraken), mas
permaneceu em um discurso. A realiza-
ção do primeiro protótipo para a
casa-mesa mostra que a arquitetura
pode começar a ter mais impacto
quando os atores certos são reunidos.
de tempo
A lição que JO NOERO,
NOERO ARCHITECTS

aprendemos foi
o reforço do conceito
do uso de recursos
disponíveis, atingindo
resultados máximos
com os meios mínimos
O estrutura-mesa foi feita por US$ 500 a unidade. Ficamos espanta-
dos com a facilidade com que a ideia foi adotada pelas pessoas
locais. Reafirmou nossa visão de que as pessoas pobres, embora
geralmente com baixo grau de instrução, estão agudamente sintoni-
zadas com o mundo das oportunidades e podem ver possibilidades
em contextos onde a maioria de nós veria apenas problemas.
A emoção e o engajamento gerados pelo projeto foram amplas
evidências do poder que uma ideia como esta pode ter para propor-
cionar às pessoas a esperança para o futuro. O desenvolvimento da
mesa também confirmou nosso ponto de vista de que o arquiteto tem
um papel a desempenhar no fornecimento de oportunidades de
habitação para aqueles de baixo nível econômico. Em vez de procu-
rar novas formas de ser um arquiteto no mundo, o projeto afirmou-
-nos que o bom design, a compreensão espacial e um conhecimento
profundo da técnica podem trazer benefícios substanciais para
o tipo de oportunidades de habitação que deveriam ser abertas em
cidades em processos de rápida transformação.
O QUE É E QUANDO

CURE FOI FUNDADA?


O Centre for Urban and Regional
Excellence (CURE India) é uma
organização de desenvolvimento
sem fins lucrativos que foi funda-
da em Délhi em 2001 por um REALIZAÇÕES
grupo de urbanistas. A CURE atualmente trabalha
com mais de 50 assentamentos de
baixa renda em Délhi, mobilizan-
ONDE O O QUÊ? do pessoas e projetando tecnolo-
Visando a melhoria da vida dos gia ecologicamente sustentável
pobres das cidades, a CURE para infraestrutura, água, sanea-
acredita em parcerias com mento e apoio ao trabalho.
comunidades. Luta para oferecer
um nível equitativo de serviço
entre as comunidades, de uma BENEFÍCIOS À COMUNIDADE
maneira conectada e abrangente As comunidades em que a CURE
que constrói a resiliência urbana. trabalha têm se tornado mais
limpas, mais prósperas e integra-
das, devido ao melhor acesso a
IMPACTO NO saneamento e outras melhorias
AMBIENTE CONSTRUÍDO básicas. O acesso à infraestrutura
A vida em
Sangam Vihar.
A CURE implementa projetos ajudou as pessoas a melhorar
inovadores de melhoria de suas casas, e tem aprimorado sua
favelas. Oferece abordagens noção geral de bem-estar.
alternativas ao planejamento As atividades da CURE também
mais tradicional da cidade, e resultaram em maior inclusão de
encoraja os administradores da comunidades dentro de Nova
cidade a des-pensar e des-plane- Délhi, conectando melhor as
jar suas atuais diretrizes e solu- pessoas com o governo local.
INICIATIVA COMUNITÁRIA
ções políticas. A organização funciona para a
prosperidade das comunidades
a longo prazo, encorajando
mudanças no comportamento,
NOVA DÉLHI

e ajudando as pessoas a gerar


vidas sustentáveis.

160 161
Desperdício
e espaço
Sangam Vihar, localizada no adensado continuamente desde
limite sul de Délhi, é a maior seu início em 1979, ao absorver
aglomeração de ‘colônias não migrantes de toda a Índia. Terra abandonada no lado posterior do assentamento.

autorizadas’ da Ásia—assenta-
mentos não planejados e não LUGARES ESQUECIDOS pessoas que moram na cidade, DOIS DESAFIOS
providos de serviços públicos que Embora Sangam Vihar tenha não se estenderam aos residentes O assentamento enfrenta dois
se proliferaram com o passar do solicitado a regularização muitos de Sangam Vihar, causando uma desafios importantes atualmente.
tempo sem permissão da Delhi anos atrás, ainda permanece fora infinidade de problemas. Estes A ameaça física mais imediata é a
Development Authority. Mais de do planejamento da cidade. Isto incluem contaminação da água inundação de partes de Sangam
um milhão de pessoas vivem tem duas consequências impor- do solo por fossas sépticas de Vihar. Fortes chuvas sasonais de
apertadas em uma área de cinco tantes para a vida de seus residências, inundação sazonal monção não encontram canais
quilômetros quadrados. As 30 residentes; em primeiro lugar, causada por canais de drenagem para drenagem devido ao aterro
colônias que abrangem Sangam torna a área muito vulnerável à entupidos e o surgimento das ilegal de lixo ao longo da borda
Vihar são demarcadas como evacuação da terra, pois os máfias que controlam o forneci- do santuário. Além disso, a água
quadras de terra agrícola residentes não têm direito de mento de água. da chuva que escoa mistura-se a
pertencente às vilas adjacentes. propriedade de seu imóvel ; em Sangam Vihar situa-se entre a químicos tóxicos dos aterros de
Face à escassez maciça de segundo lugar, serviços públicos cidade formal ao norte e o lixo, dando origem a problemas
habitação pública acessível na como água encanada, esgoto e Asola-Bhatti Wildlife Sanctuary de saúde. O atual Plano Master
cidade, o assentamento tem se coleta de lixo, disponíveis a (Santuário de Animais Selvagens de Délhi constitui a segunda
Asola-Bhatti) ao sul. Como a ameaça —política, e em última
sobrevivência dos residentes instância também física —à
depende da cidade onde as vizinhança. As autoridades de
pessoas trabalham, o santuário Délhi continuam a fechar os olhos
florestal é considerado ‘os fundos’ para o assentamento,
do assentamento, sendo a borda demarcando-o como terra
da floresta tratada como um florestal e agrícola, e forçando
terreno baldio. Os dejetos sólidos seu destino legal em um estado de
NOVA DÉLHI

O PROJETO

O novo plano master são enterrados lá, enchendo as limbo permanente e precário. O
preparado pela mu- piscinas de drenagem natural e os Plano Master também indica um
nicipalidade, mos-
trando o futuro anel
canais, e causando inundações e terceiro anel viário a ser construí-
viário em relação a riscos de saúde relacionados. do em breve para Délhi, passando
Sangam Vihar.

162 163
vida selvagem, através de uma tação do esquema. Estes incluem NÍVEL COMUNITÁRIO
série de intervenções. A segunda uma ecoforça-tarefa encarrega- A maior parte do lixo em Sangam
estratégia se apoia na primeira, da da manutenção do santuário. Vihar atualmente acaba sendo
buscando implementar medidas O plano tenta tratar dos depositada na borda verde do
para proteger o ecossistema do problemas de inundação e assentamento. Em nível comunitá-
santuário. Se o santuário da vida administração do lixo, propondo rio, o plano de ação para lidar
selvagem for reconhecido como medidas para lidar com o com o descarte de lixo sólido
recurso, e protegido, em vez de escoamento das águas da chuva, inclui a concepção de interven-
ser destruído, ele poderá servir plantando suculentas que ções e exercícios para tornar o
como impedimento político estabilizam o solo e a restaura- processo de limpeza um ritual, e
para o desenvolvimento do ção de reservatórios de água ao fazer da separação do lixo e do
futuro anel viário que ameaça longo da borda que atualmente descarte um jogo.
invadir o assentamento. estão contaminados com lixo.

FERRAMENTA (SCHIZO-PLAN)
Em Sangam Vihar, a borda não é
Negociações em larga
apenas a interface entre nature-
escala em relação
za e a cidade, mas também é ao santuário.
uma confluência de diferentes
partes urbanas interessadas —as
instituições públicas responsáveis
pela borda sul de Sangam Vihar, pelo bem-estar do santuário— e
o que resultaria numa pressão as comunidades sem voz que
maior para o desenvolvimento no habitam o desenvolvimento. A
corredor adjacente a ela. fim de tratar desse equilíbrio
desigual de poder, os arquitetos
DUAS ESTRATÉGIAS empregaram uma ferramenta
Ambos os desafios identificados inovadora de planejamento
apontam para o importante chamada o Schizo-Plan, que
papel que a borda verde sul objetiva tratar do desequilíbrio
pode desempenhar em encon- de poder de Sangam Vihar,
trar solucões para os problemas unindo as instituições e a
enfrentados pelo assentamento. comunidade em condição
Assim, o projeto propõe duas de igualdade.
estratégias gerais. A primeira
NOVA DÉLHI

busca transformar a borda NÍVEL INSTITUIÇÃO


O PROJETO

verde, atualmente uma porção O Schizo-Plan identifica inúmeros


de terra negligenciada e agredi- parceiros fundamentais que o
da, em um espaço bem usado, ajudarão a assegurar o sucesso a
que está ligado ao santurário da prazo mais longo e a implemen-

164 165
VISÃO GERAL Créditos do Projeto
A multiplicidade de níveis em INICIATIVA COMUNITÁRIA
que o Schizo-Plan trata da borda CURE
verde de Sangam Vihar revela EQUIPE DE NOVA DÉLHI
inúmeros pontos de partida
Anagram
possíveis para seu desenvolvi-
Participantes do Escritório:
mento a prazo mais longo, alguns
Madhav Raman, Vaibhav Dimri,
dos quais já foram acionados.
Akanksha Bansal, Akshay Shetty,
No futuro, além de mitigar
Akshay Srinivas, Ganesh Babu e
ameaças ambientais, a borda
Surendra Mohite
também pode oferecer nova
EQUIPE DE BERLIM
infraestrutura pública, como
FAR
toaletes e salas de banho, áreas
Participantes do Escritório: Marc
de lazer e um posto médico -
Frohn, Mario Rojas, Max Koch,
instalações atraentes e muito
Renders produzidos pela FAR/ANAGRAM ilustram soluções possíveis a serem Daniel Grenz e Elena Ambacher
necessárias, feitas junto com os
desenvolvidas e construídas pela comunidade em áreas identificadas como CURADOR
críticas dentro da área limite de Sangam Vihar. Visualização da reforma da residentes de Sangam Vihar.
Ludwig Engel
fossa que atualmente é usada como depósito de lixo.
COORDENADOR LOCAL
MARCADORES mento e daria à borda uma Nitin Bathla
O sucesso dessas estratégias presença crucial na comunidade.
depende de uma mudança na O marcador Google Maps
percepção que a comunidade onipresente, que flutua sobre
tem da área de terra ao longo da mapas virtuais, foi transformado
borda do santuário. Embora a em um balão que paira sobre a
área esteja relativamente perto borda verde de Sangam Vihar.
de muitas das casas em Sangam Esse marcador é facilmente
Vihar, simplesmente não é visível reconhecível, particularmente
através do labirinto urbano. entre a geração mais jovem que
Como resultado, o lixo ‘desapare- guarda o futuro do desenvolvi-
ce’ nela, fora da vista e da mente mento em suas mãos. Os balões
dos residentes do assentamento. foram usados para identificar
A fim de identificar sítios ecológi- sítios e eventos ao longo da borda
cos críticos como tanques que de Sangam Vihar que foram
têm sido cheios com lixo, e considerados críticos para sua
NOVA DÉLHI

também anunciar eventos ao recodificação. Estas pequenas


O PROJETO

longo da borda da floresta, as intervenções constituem uma O marcador digital onipresen-


te do Google Maps, que flutua
equipes conceberam um marca- parte do Schizo-Plan que busca
sobre seus mapas virtuais, foi
dor geográfico simples que seria estabelecer a borda verde como transformado em um balão
visível ao longo do desenvolvi- nova frente de Sangam Vihar. físico que paira sobre a borda
verde de Sangam Vihar.

166 167
Nova Délhi
16,349,841 1,000,000
População é de aproximadamente
População Metropolitana:

habitantes

11,034,555 75%
Porcentagem da População sem Água Encanada:
População Municipal:

habitantes

142,860
Densidade Populacional:

1,483
Área Metropolitana:

pessoas por km2


km2

Área Metropolitana Urbanizada:

1,113 km2

10%
Assentamentos Informais na Área Metropolitana:

da área urbanizada

Assentamentos Informais (Cidade):


Sangam Vihar

65%
(local da iniciativa)

da população

168 169
representação, comunicação e, ganhar com tais processos e

SUTRADHAR: mais tarde, maneiras de praticar


como um urbanista. Como aconte-
ce com tudo o que é novo, requer
muito tempo e esforço para se
projetos. Durante o curso do
projeto eu tive a impressão de que
foram os profissionais jovens de
escritórios de arquitetura que se

O DESIGNER SOCIAL descobrir e refinar esses novos


modos, mas por mais difícil que
um processo possa parecer, ele
aproximaram de profissionais do
escritório de iniciativas comunitá-
rias. A motivação deles para fazer

EMERGENTE?
oferece aprendizados muito design a uma parcela maior da
importantes para aqueles que são sociedade foi acompanhada pela
suficientemente corajosos para observação deles de que o
embarcar na viagem. Tenho processo formal de educação
tentado captar algumas dessas limitou-se a prepará-los para
NITIN BATHLA É ARQUITETO SOCIAL lições do exercício em Délhi, que projetar apenas para os dez
E PESQUISADOR BASEADO EM DÉLHI. mencionarei abaixo. porcento mais abastados da
FOI O COORDENADOR LOCAL DO Para fins de simplificação e sociedade. Os profissionais jovens
para provocar reflexão sobre o podem ser os mais abertos a
DEUTSCHE BANK URBAN AGE AWARD,
assunto, eu gostaria de sugerir mudar sua abordagem para o
DÉLHI, EM 2014 E DO chamar o que poderia ser a ‘nova design para comunidades.
URBANXCHANGER EM 2015-2016. profissão’ emergente deste Discussões abertas dentro da
processo de ‘Design Social’. Para comunidade ofereceram uma
Em 2014, a experiência de coorde- das de cima para baixo nas vidas trabalhar com a comunidade, um oportunidade para criar consciên-
nar o Deutsche Bank Urban Age de pessoas comuns. Continuei a Designer Social deve possuir certa cia sobre os desafios e engajar as
Award em Nova Délhi levou-me a desenvolver pequenas experiên- humildade e paciêcia, mas pessoas para superá-los. Na
perceber a capacidade de cias minhas, criadas junto com também desempenhar outro primeira semana de atividades em
inovação e a engenhosidade com comunidades, e refletia constante- papel, aquele do narrador. Em Nova Délhi organizamos dois
a qual as pessoas estavam mente sobre como esse conheci- uma conversa com Dra. Renu workshops ao ar livre que estavam
respondendo a desafios urbanos, mento adquirido recentemente Khosla (Diretora da CURE), numa abertos ao público: um em design
de baixo para cima. Além disso, podia ser aplicado a ações e noite de inverno em fevereiro, ela social em geral e o segundo para
motivou-me a encontrar novas como traduzir as lições em disse, ao resumir o projeto, que refletir sobre o processo específico

NOTAS SOBRE O PROCESSO


formas de prática que iriam ferramentas pedagógicas. Foi com uma de suas contribuições do projeto. Em minha opinião,
engajar as pessoas no nível local, esse espírito que eu aceitei com importantes tinha sido a criação estes foram momentos que
empoderar os marginalizados e entusiasmo o convite para partici- de um Sutradhar. Em hindi, provaram ser os mais esclarecedo-
ajudar a estimular a equidade par do urbanxchanger como Sutradhar significa narrador e res e que desencadearam discus-
social, e reposicionar comunida- coordenador local. facilitador, ou seja, aquele que sões mais duradouras que mais
NOVA DÉLHI

des no centro do processo de A proposta do projeto foi muito conecta os pontos e ajuda coisas tarde se tornaram relevantes no
design. Uma perspectiva totalmen- aberta e procurava sintetizar e fenômenos desconectados a se contexto da estratégia de design
te nova da cidade abriu-se maneiras novas e inovadoras de juntar e trabalhar perfeitamente. desenvolvida. Esses eventos
quando tive ciência das implica- engajar comunidades e fazer Os profissionais mais jovens também ajudaram a disseminar
ções de políticas urbanas adota- projetos com elas -, maneiras de poderiam ser os que mais têm a mensagens a uma audiência

170 171
maior e a espalhar a consciência através de inúmeras visitas, çamos um workshop de treina-
do potencial de soluções inovado- caminhadas, reuniões e discus- mento com a comunidade de
ras de design para responder a sões. Além disso, surgiu uma Savda Ghevra, experimentando a
problemas sociais que atacam a necessidade de encontrar um fabricação de móveis com o uso
cidade. Além de desenhos e equilíbrio entre abordagens de de recursos locais. Além disso,
técnicas de apresentação mais cima para baixo e de baixo para através de trabalho acadêmico na
tradicionais, a equipe explorou cima, que a equipe tentou fazer School of Planning and Architectu-
modos alternativos de transmitir com um Plano de Ação. O proble- re em Délhi e The Design Village
ideias usando objetos da vida real ma de inundação em Sangam em NOIDA, agora sou capaz de
Engajar-se e trabalhar com ONGs pode ter
que permitem a experiência Vihar, por exemplo, está muito um impacto bem maior do que intervenções
transferir os entendimentos
espacial. Em um estágio avançado mais relacionado à apatia do individuais. A CURE tem sido capaz de institu- pedagógicos desenvolvidos
da intervenção em Délhi, o balão governo, devido ao status não cionalizar muitas das ferramentas desenvol- através do processo urbanxchan-
vidas através do urbanxchanger no trabalho
em forma de ‘pino da Google’ foi claro do assentamento nos que eles fazem com comunidades em Délhi.
ger. Acredito que exercícios como
uma ferramenta importante para documentos oficiais do ‘master- esses ajudam a dissolver as
demarcar eventos físicos que plan’. Essa falta de clareza leva à comunidades com as quais ela barreiras superficiais existentes
acontecem em terra, tornando-os, falta de serviços e provisão de trabalha, e os métodos emprega- entre os hemisférios Norte e Sul, e
assim, mais visíveis e tangíveis para estruturas essenciais para a vida, dos provaram ser úteis para percebi não só o valor de proces-
os residentes locais. como a provisão de infraestrutura começar a assimilar novas ideias e sos transformadores que surgem
Novas tecnologias, mais especi- para drenagem e esgoto e a coleta conceitos e recontextualizá-os em de tal troca transnacional de
ficamente a Mídia Social, prova- de resíduos sólidos dentro da Délhi. Um exemplo disso é minha ideias, mas também como ideias
ram ser valiosas para estabelecer comunidade; portanto, a dinâmica colaboração continuada com o de lugares comuns podem entrar
uma ponte entre diferentes atores no nível de cima para baixo é vista CURE para desenvolver um progra- em sinergia de uma forma discre-
no processo. Através do uso de como tendo uma influência muito ma de subsistência em Savda ta, mas poderosa.
hashtags para divulgar e dissemi- profunda sobre a situação no nível Ghevra, uma colônia de reassen-
nar nosso trabalho e as ‘ações’ que da comunidade. A ferramenta tamento na borda oeste da
estão acontecendo, um número Schizo-plan concebida durante o cidade. Então, durante nossa visita
cada vez maior de residentes e processo urbanxchanger fornece a Berlim, Dra. Khosla e eu visita-
pessoas que trabalham localmente uma abordagem que alterna e mos a CUCULA, uma iniciativa em
no espaço da sociedade civil veio modera entre intervenções de Berlim descrita como uma ‘Empre-
a se conectar conosco e a partici- cima para baixo e de baixo para sa para Refugiados para Artesa-

NOTAS SOBRE O PROCESSO


par. Isto provou ser especialmente cima, e como tal permite que a nato e Design’. Profundamente
útil ao mesmo tempo em que intervenção vá além de ser apenas inspirados pelo que eles defen-
funcionou em uma área tão uma tática de guerrilha adotada diam e como eles lutavam pela
grande quanto Sangam Vihar. uma única vez. igualdade social através de uma
A cocriação é um processo Essa transferência intensa e atividade tão simples quanto se
NOVA DÉLHI

orgânico, não hierárquico, mais focada se revelou ser o trampolim reunir para construir um móvel, O que acontece depois: O processo de revi-
bem-feito através da igual partici- para iniciativas híbridas muito voltamos para Délhi e começamos são do projeto e transição pode render alguns
pação e da ausência de autorida- interessantes. O projeto urbanx- imediatamente a identificar resultados interessantes. Um programa de
sobrevivência centrado em torno de carpinta-
de. Requer tempo e deliberação changer foi o início de meu parceiros a fim de tentar algo ria e inspirado pelo workshop urbanxchanges
substanciais, atingidos, neste caso, engajamento com o CURE e as similar. Três meses depois, come- em Berlim, surgiu depois em Délhi.

172 173
Nos primeiros dois dias da oficina

A CONDIÇÃO de Nova Délhi, o grupo caminhou


pela borda da comunidade,

IMPOSTA PELA localizando problemas e direcio-


nando locais potenciais para
a intervenção. A análise desta

FRONTEIRA E condição encontrada na borda


revelou diferentes locais com

AS FUNDAÇÕES potencial para intervenção, como


as fossas de retenção de água
onde atualmente as fundações

À ESPERA de construção aguardam


futuras construções.

DE EDIFÍCIOS

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
NOVA DÉLHI

174 175
UM OLHAR SOBRE
A "CIDADE BANAL"
Apesar de provavelmente não representa mais de 50% do
surpreender ninguém à primeira produto interno bruto da cidade e
vista, os números de Délhi revelam opera majoritariamente através de
que quase 75% da população pontos de microempresas. Ainda
reside em assentamentos não que esses assentamentos possam
planejados. Estes assentamentos parecer comuns, eles oferecem
resultaram de um processo em que uma intensidade incomum de
a megacidade devorou as terras comércio e engenhosidade. Um
agrícolas em torno dela e assimi- grande problema com os assenta-
lou grandes bolsões de assenta- mentos informais na cidade, no
mentos muito densos em sua entanto, não é a falta de espaço,
estrutura de um grid planejado. mas sim de lugares. Apesar da
À medida que o processo conti- extrema riqueza e autenticidade
nua, os assentamentos informais garantidas por rituais públicos
tem ficado cada vez mais densos, e atos que formam uma parte
recebendo ondas de imigrantes essencial da vida cotidiana dos
que chegam. Estes assentamentos moradores das cidades indianas,
são no entanto muito vibrantes e há uma grande falta de comodi-
pacíficos em comparação com dades que poderiam ajudar a
outras regiões semelhantes do "Sul qualificar a vida pública.
Global". A economia informal

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
NOVA DÉLHI

176 177
DEMOCRATIZANDO
O PROJETO
O projeto, ou desenho, tem sido Este ensaio oferece uma perspecti-
durante décadas um processo de va de como isso foi desenvolvido
observação e criação. As práticas no caso de Délhi. Oficinas públicas
de projeto foram amplamente ajudaram a solicitar e divulgar
restritas ao espaço de escritório ideias do público e sobre o
de onde desenhos, ilustrações projeto. Foram organizados
e imagens surgiram para a workshops com a comunidade
construção posterior. No entanto, para tornar o processo lúdico e
como estamos reconhecendo a significativo. A parceria com CURE
realidade das massas que perma- significou que alguns dos kits de
neceram em grande parte fora dos engajamento público desenvolvi-
processos formais de construção dos por eles poderiam se tornar
das cidades, precisamos criar uma parte do processo de partici-
novas formas de engajamento e pação e colaboração no projeto.
de projeto baseado em processos.

ENSAIOS FOTOGRÁFICOS
NOVA DÉLHI

178 179
O NITIN BATHLA

Designer
social
deve Trabalhar com a comunidade requer
humildade e paciência. Todos gostam
de—e têm o direito a—ser ouvidos e
contribuir para o processo de design,
e isto é essencial para estimular uma
noção de co-criação do projeto.

ser
Os designers que trabalham com
comunidades precisam ter a capaci-
dade de trabalhar lateralmente, ouvir
e contribuir como co-criadores, em
vez de impor seus pensamentos
e ideias à comunidade.

humilde
Os profissionais NITIN BATHLA

mais jovens
devem ser os
que mais têm
a ganhar Durante o projeto, parece que os jovens
profissionais de escritórios de arquitetura
tornaram-se mais próximos dos represen-
com esses tantes da comunidade e da ONG.
A motivação deles de desenhar para um
setor maior da sociedade foi acompa-
nhada por uma nova consciência de que
sua educação formal de fato os prepa-
rou para projetar somente para os dez
processos por cento mais abastados, o que aumen-
tou a probabilidade de ficarem mais
abertos a mudar sua maneira de fazer
projetos em ambientes comunitários.

e projetos
NITIN BATHLA

Trabalhar
com ONGs
pode gerar
maior É interessante que no caso de Délhi, o parceiro
local era uma ONG bem-estabelecida e a interven-
ção aconteceu dentro de uma única comunidade
através de sua mediação. Como tal, a CURE desde
então foi capaz de adaptar os aprendizados do
impactoprocesso de design às intervenções realizadas em
outras partes da cidade. CURE está trabalhando
atualmente dentro de cinco comunidades em Délhi,
o que permitiu que o processo e as ferramentas
desenvolvidas chegassem a uma população maior
do que foi a intenção original.
do que
intervenções
individuais
A ideia que
Neste caso, essa visão criou três impactos
importantes no desenvolvimento urbano:
determinar uma borda, transformada em uma
nova frente—e não mais fundo—e aprimorar a
o design permeabilidade do solo. O trabalho da CURE é
basicamente local, então respondemos a
problemas das pessoas e da vizinhança. En-
quanto reconhecemos a importância da cidade
em nossa narrativa, muito do que fazemos fica
dentro dos limites do desenvolvimento de
também infraestrutura e da provisão de serviço.
Durante o desenvolvimento do projeto, sentimos
certa insegurança sobre nossa capacidade
como ONG para tratar desses impactos, princi-
palmente ante a política desenvolvimentista
atual, mas a omitimos, para futura referência.
pode ser
altamente
visionário
provou DR. RENU KHOSLA,
CENTRE FOR URBAN
AND REGIONAL
EXCELLENCE, [CURE]
ser nova
e provocativa
Isto é válido principalmente se o objetivo se torna
construir alguma coisa. Havia muito pouco tempo
para ajudar as comunidades a processarem as
informações, lidar com contestações e escolher um
projeto de construção coletiva pequeno, mas
verdadeiramente participativo. Supreendentemente,
as comunidades e seus processos se tornaram nosso
maior desafio. Tínhamos acabado de iniciar o
projeto com a comunidade e estávamos apenas
começando a descobrir a forte dinâmica que
sustentava suas relações. Por outro lado, o urbanx-
changer era uma intervenção que contemplava um
Para projeto de curto prazo para construção coletiva;
portanto, obviamente, os grandes temas - permeabi-
lidade, a borda, a nova frente - nunca foram debati-
das. Embora reconhecêssemos a restrição de tempo
dentro da ideia do projeto, percebemos a urgência
trabalhar das comunidades para mudar, direcionada para
construir, mudar e transformar o espaço urbano
como uma demanda a ser enfrentada.
Talvez também estivéssemos esquecendo a 'cola'
(sutradhar) que uniria todas as peças, e nós também.
com
comunidades
de maneira
apropriadamente
DR. RENU KHOSLA,
inclusiva, CENTRE FOR URBAN AND
REGIONAL EXCELLENCE,
[CURE]

o tempo é
fundamental
Embora fossem
ambiciosas, as ideias
geradas através da
transferência podem
DR. RENU KHOSLA,
ser incorporadas CENTRE FOR URBAN AND
REGIONAL EXCELLENCE,
[CURE]

gradativamente,
Devido aos vários workshops e discussões, o homem e as ideias
no futuro foram entendidos e incorporados em outras atividades de
projeto da CURE. A ideia do CUCULA—um jovem grupo de
desenhistas e fabricantes de móveis inovadores de Berlim—foi
adotada por um grupo local de carpinteiros e empreendedores
sociais que se juntaram para desenhar e fabricar móveis
refinados do tipo 'faça você mesmo' com um argumento social.
O treinamento foi dado e os primeiros móveis e brinquedos estão
sendo produzidos. Então, com base em discussões sobre a borda
de Sangam Vihar, começamos uma séria conversa com a Aravali
Biodiversity Team em outro local da borda. Um projeto de
recuperação de encosta ajudou, desde então, a comunidade
efetuar a limpeza e as casas asseguradas permaneceram livres
de enchente durante esta monção, e a água desperdiçada no
assentamento passou a ser capturada e tratada enquanto
descia em cascata pela encosta da montanha, resultando em
uma fonte mais limpa e verde. Nesta iniciativa, aparentemente,
as comunidades e o Estado reconheceram os limites espaciais
de sua ação no desenvolvimento urbano. Finalmente, a ideia
de permeabilidade está sendo transplantada para nosso projeto
em Noida como uma alternativa para pistas totalmente concre-
tadas, com o objetivo de reter tanto a capacidade de recarga de
água quanto de fácil acesso.
As ideias
transformadoras
DR. RENU KHOSLA,
CENTRE FOR URBAN AND
REGIONAL EXCELLENCE,
imaginadas em[CURE]

Nova Délhi são,


definitivamente,
de longo prazo; Sobretudo, iluminaram o sonho de
um projeto compreensivo para
todo o bairro. Talvez seja ambicio-
so demais repensar a borda, a
frente e a permeabilidade de uma
no entanto, vez só. Levará tempo para incubar
essas ideias e cultivar e construir
parcerias com a cidade/pessoas,
mas embora possamos não
alcançar nunca o verdadeiro
elas trouxeram objetivo—a mudança de política—
acreditamos realmente que tais
ideias tenham ajudado a expandir
os limites de nosso próprio
entendimento.
novas
perspectivas para
nosso trabalho
DR. RENU KHOSLA,
CENTRE FOR URBAN AND
REGIONAL EXCELLENCE,
Imaginava-se [CURE]

que os
arquitetos
fossem
pessoas
‘de ideias’
No CURE, esperávamos que esta fosse uma parceria
desse tipo—o CURE trazendo para a mesa suas ideias
sobre a comunidade e processos comunitários e as
equipes de arquitetos contribuindo com suas
qualificações para projetos. Imaginamos que fosse
'nós' educando 'eles'—construindo uma nova
e as ONG
narrativa de design social, oferecendo uma nova
lente pela qual nossos espaços seriam vistos.
Embora este desequilíbrio fosse esperado, clara-
mente subestimamos o conhecimento que nossos
parceiros arquitetos tinham ‘das pessoas’.
fossem
implementadoras
BIBLIOGRAFIA
mapeamento colaborativo em aprimoramento da vida dos pobres similar que é caracterizado por
Biografias Zurique, São Paulo e Rio de Janeiro. em áreas urbanas, mapeamento pesquisa site-specific, trabalho de
UTE E. WEILAND Seu trabalho inclui pesquisa social e humano, defesa de um design campo, e uma abordagem direta/
Ute Elisabeth Weiland é a CEO de experimental, ensino e design, com realizado na rua e público, prática ao design.
Germany - Land of Ideas. Ela foi foco em design participativo, para transferência de conhecimento,
Vice-diretora de Alfred Herrhausen repensar estruturas existentes. governança cívica e design espacial. ANDREA BANDONI
Gesellschaft (AHG), fórum www.marcoslrosa.com Trabalhando em um pequeno Andrea Bandoni é designer com forte
international do Deutsche Bank. escritório compartilhado no centro de foco em sustentabilidade e inovação.
Entrou na AHG em 2003, e tem atuado ANA ALVAREZ Délhi, Bathla desenvolve atualmente Ela é arquiteta (FAU USP) e mestre pela
como membro do Conselho Executivo Ana Alvarez formou-se em uma plataforma viva para estimular Design Academy Eindhoven.
da série de conferências Urban Age matemática, mas mudou o foco ao relações entre comunidades de base www.andreabandoni.com
em London School of Economics (LSE) completar seus estudos, e nos últimos e outros stakeholders responsáveis
desde 2004. Em 2010 Weiland dez anos tem trabalhado em vários pelo planejamento da cidade. JULIA MASAGÃO
tornou-se membro do Conselho de projetos de pesquisa urbana. Julia Masagão é arquiteta e
Administração de LSE Cities, um centro É cofundadora de Citámbulos, um LINDSAY BUSH planejadora urbana com mestrado
internacional que foca em como o coletivo interdisciplinar que produz Lindsay Bush é uma arquiteta e em Estratégias do Espaço de Berlin
design das cidades influi na livros e os expõem na Cidade do designer urbana que voltou para sua Weissensee School of Art. Ela trabalha
sociedade, cultura e ambiente. México. Citámbulos curou exposições cidade natal, Durban, em 2015. Viajou como designer gráfica, com foco em
Weiland coordenou o Deutsche Bank em diferentes locais, como Centro intensamente, trabalhando e programas culturais e publicações.
Urban Age Award em sete cidades Alemão de Arquitetura em Berlim e estudando em vários países diferentes. wwwjuliamasagao.com
diferentes desde sua incepção em Museu Nacional de Antropologia no Seus interesses profissionais incluem
2007. Fez a co-edição do livro México. Alvarez também colaborou regeneração urbana, informalidade VAPOR 324
Handmade Urbanism - from Community em filmes de diretores renomados, e design participativo. Bush tem O grupo, composto por quatro jovens
Initiatives to Participatory Models com Doris Dörie e Alonso Ruizpalacios, que contribuído com diversas publicações, arquitetos interessados em construção
Marcos L. Rosa [Jovis, 2013]. retratam o caráter singular da Cidade mais recentemente o capítulo Cape do espaço em três frentes: gráfica,
do México. Em 2015, Alvarez foi Town (Cidade do Cabo) de Handmade audiovisual e mídia arquitetural; cada
MARCOS L. ROSA co-curadora da exposição La vuelta Urbanism. Depois de trabalhar como uma delas preenche igualmente
Marcos L. Rosa é arquiteto e a la bici, exibida no Franz Mayer Gerente de um Programa para a papéis cruciais e complementares em
planejador urbanista (FAU USP) com Museum of Design. Ela também Cidade do Cabo onde seu foco era o seus vários e variados projetos.
Doutourado em Planejamento escreve e é co-autora do livro aprimoramento urbano, agora ela www.vapor324.com
Regional e Design Urbano pela Handmade Urbanism. presta consutoria a processos
Technical University of Munich (TUM). participativos, facilitando workshops CONSTRUCTLAB
Curador-chefe de urbanxchanger, NITIN BATHLA de co-criação e assistindo governos, ConstructLab é uma prática de
atualmente é Diretor de Conteúdo da Nitin Bathla é arquiteto e urbanista ONGs e comunidades a trabalhar construção colaborativa e uma rede
Bienal de Arquitetura de São Paulo. em Delhi, Índia. Desde que se formou juntos para tratar de questões europeia envolvida tanto em projetos
Rosa lecionou na TUM, em Munique, na ETH Zürich, tem investido em enfrentadas por moradores urbanos. efêmeros quanto permanentes.
no Federal Institute of Technology estabelecer uma prática de pesquisa Bush também leciona na School of Built Diferentemente do processo
(ETH), na Suíça e na Escola da Cidade e design com base social, para Environment and Development Studies arquitetônico convencional em que o
em São Paulo. Publicou vários livros, desenvolver e testar ferramentas de em University of KwaZulu-Natal. arquiteto projeta e o construtor
entre eles Microplanejamento, design para ação social. Em 2014 constrói, no constructLab os projetos,
Práticas Urbanas Criativas (2011), Bathla foi coordenador do Deutsche VAPOR 324 + BANDONI + a concepção e a construção
Handmade Urbanism - from Community Bank Urban Age Award em Délhi, MASAGÃO acontecem juntos. Os construtores-
Initiatives to Participatory Models (2013) tendo continuado a colaborar Vapor 324 uniu forças com Andrea designers dão vida ao local através de
e From Large Scale Infrastructures to ativamente com muitas iniciativas de Bandoni e Julia Masagão para formar sua presença, gerando uma sinergia
Network Urbanism (2016). Junto com a base que participaram no programa. a equipe urbanxchanger para São coletiva que combina conhecimento
Alfred Herrhausen Gesellschaft Seu trabalho segue uma variedade de Paulo. O resultado é uma equipe de existente e oportunidades inesperadas,
(2008-2013) e a ETH (2010-2011), Rosa temas urbanos socialmente arquitetos multidisciplinares com para fortalecer a noção de lugar.
criou e dirigiu plataformas para relevantes, como design participativo, diferentes habilidades, mas um estilo O ConstructLab liga o criativo e o

196 197
Holcim Award for Sustainable

BIBLIOGRAFIA
prático, o pensamento e o fazer. CLAUDIA RODRÍGUEZ para arquitetura e a prática de design
A prática foi iniciada em 1998 por Arquiteta com experiência em Construction por seu Plano Master urbano. O grupo está comprometido
Alexander Römer, e colaborou com planejamento local, design de paisagem para Xeritown em Dubai. O projeto com a transferência de conhecimento
uma longa lista de projetos, em países e processos participativos de design. especulativo do estúdio Ex-Palm foi e a implementação da melhor prática
da Europa e outros. Em 2005 o Envolveu-se em projetos relacionados publicado como Charter of Dubai no campo de sistemas urbanos e
constructLab juntou-se ao coletivo ao desenvolvimento local sustentável (lovis, 2012). naturais. Ao investigar a informalidade
francês EXYZT, do qual Alexander desde 2004. parceira em Taller de www.smaq.net urbana, a cultura popular e a
atualmente é membro permanente, Operaciones Ambientales - TOA - onde modernidade hibridizada, o BAU Co
participando em Metavilla, conduziu projetos de diversas escalas de NOERO ARCHITECTS busca aprimorar ambientes diários e
contribuição da França para a Bienal 2005 a 2011. Co-fundadora de Co- Estabelecido em Johannesburg em contribuir para a proliferação de uma
de Arquitetura de Veneza em 2006. Plataforma, uma associação que 1984, o Noero Architects atualmente arquitetura e cultura de design
O constructLab colaborou em projetos promove iniciativas e negócios sociais tem sede na Cidade do Cabo, e urbano. www.b-a-u.co
com inúmeros outros coletivos, entre para impacto socio-ambiental. completou mais de 200 projetos que
eles Raumlabor (Berlim), Esterni incluem centros comunitários e ANAGRAM ARCHITECTS
(Milão), Zoom (Grenoble) e Re- DANIEL JARAMILLO HINCAPIÉ culturais, e casas residenciais. O Anagram Architects foi estabelecido
Biennale (Veneza). Agrônomo com diploma em Receberam inúmeros prêmios em 2001 pelos parceiros Vaibhay Dimri
www.constructlab.net permacultura em trabalho comunitário, internacionais de design, entre eles o e Madhay Raman, formados pela
design local e assentamentos. RIBA Lubetkin Prize (RU) e o Ralph School of Planning and Architecture,
ROZANA MONTIEL + CLAUDIA Tem ampla experiência em design Erskine Award (Suécia), bem como Nova Délhi. A prática da empresa é
RODRIGUEZ + DANIEL JARAMILLO participativo e projetos comunitários diversos distinções e prêmios diversa, e abrange planejamento de
em toda América Latina, e na nacionais, entre eles três Prêmios de infraestrutura pública, design urbano,
ROZANA MONTIEL implementação de projetos de uso da Excelência do SAIA. Seu trabalho foi arquitetura, cenografia, bem como
Rozana Montiel é fundadora da terra que regenerem a função de exibido em bienais em Veneza, São móveis e design de interior.
empresa de arquitetura Rozana paisagens enquanto promovem Paulo e Chicago, no MAXXI em Roma, O Anagram Architects é reconhecido
Montiel | Estudio de Arquitectura com a produtividade social. no MoMA em Nova York e no Museu de internacionalmente por seu
sede no México, especializada em Arquitetura em Munique. compromisso em oferecer designs
design arquitetônico, SMAQ O fundador, Jo Noero foi indicado profundamente contextuais que
reconceitualizações artísticas do Fundado em Berlim em 2001 por Sabine para Professor Emérito de Arquitetura encorajam estilos de vida sustentáveis.
espaço e domínio público. Recebeu Müller e Andreas Quednau, SMAQ é um em UCT, em 2015, onde também Ambos usam práticas tradicionais e
vários prêmios, incluindo a menção estúdio colaborativo para arquitetura, trabalhou como Diretor da Escola de não convencionais para desenvolver
honrosa Emerging Voices urbanismo e pesquisa. Müller é Arquitetura e Planejamento entre soluções de design com uso eficiente
(Architectural League of New York Professora de Urbanismo em Oslo 2000 e 2005. Antes de assumir sua de recursos, contextualmente
2016), nominação como um dos três School of Architecture and Design, e posição na UCT, Noero morou na responsivas e culturalmente
arquitetos para o Schelling com Quednau trabalha como Professor América como Diretor de Estudos de relevantes. www.anagramarchitects.com
Architecture Foundation Prize 2016, a de Design Urbano em Leipniz University, Pós-Graduação em Washington
bolsa Arts and Culture National em Hanover. O estúdio conduziu University. Noero é Membro Honorário FAR FROHN&ROJAS
(FONCA) duas vezes, em 2010 e 2013, projetos de pesquisa urbana, bem do American Institute of Architects, um
a Holcim Foundation for Sustainable como projetos urbanos, de paisagem Membro Internacional do Royal O FAR frohn&rojas é um escritório de
Construction Grant 2007. Seu trabalho e arquitetura na África, Ásia, Europa e Institute of British Architects, e Fellow pesquisa e desenho arquitetônico
foi publicado e exibido no México, América do Norte e do Sul. Os atuais of the Academy of Schience of South ligado em rede, localizada em Berlim,
Espanha, França, Alemanha, Estados projetos do SMAQ incluem um novo Africa. Em 2910 Noero recebeu Santiago de Chile e Los Angeles.
Unidos, Inglaterra e China e foi empreendimento residencial em medalha de ouro de arquitetura do Através de seu nome, o escritório
apresentado nas bienais de São Wolsburg, um centro histórico em SAIA. www.noeroarchitects.com reconhece tanto sua anatomia
Paulo, Veneza, Roterdã e Lima. Rostock (Alemanha), Grorud Senter distribuída geograficamente quanto
Apresentou o projeto “Walk the Line” (Noruega), e um complexo habitacional BAU COLLABORATIVE um escopo profissional cada vez mais
na Bienal de Veneza de 2016. em Hanover. O SMAQ recebeu um AR Fundado em 2015 por Rainer Hehl, BAU amplo que está literalmente definindo
www.rozanamontiel.com Emerging Architecture Award por seus Co é um grupo de construção seu trabalho. Com sua configuração
banheiros públicos em Stuttgart e o internacional e uma rede colaborativa distribuída, o escritório procura se

198 199
BIBLIOGRAFIA
apropriar de modelos corporativos de
presença e distribuição global como
seus próprios meios de produção
efetivos. No entanto, não é uma
produção baseada no resultado,
onde a rápida execução de projetos e
cortes de custos são as únicas
preocupações, mas tomar esses
módulos como um meio de
estabelecer um tipo mais
diversificado de produção
arquitetônica em que ambos herdam
contradições entre geografias, bem
como a expansão de limites
disciplinares possibilitará que
ligações antes indetermináveis
prosperem. www.f-a-r.net

* Referências à descrição detalhada


das iniciativas comunitárias podem
ser encontradas diretamente nos
capítulos de cada cidade.

200 201
Linda Radau CIDADE DO MÉXICO ALLES BLAU
créditos GERENTE DE PROJETO (BERLIM) ROZANA MONTIEL | ESTUDIO DE Elisa von Randow e Julia Masagão

CRÉDITOS
ARQUITECTURA + RODRIGUEZ + DESIGN GRÁFICO
EDITORES Anja Paulus
JARAMILLO
GERENTE DE PROJETO (BERLIM) M. Lúcia G. Leite Rosa
Marcos L. Rosa Rozana Montiel, Claudia Rodriguez
TRADUÇÃO E REVISÃO DE ORIGINAL
CURADOR, URBANXCHANGER Ludwig Engel Daniel Jaramillo, Hortense Blanchard
CURADOR, ATÉ NOVEMBRO 2015 (BERLIM) Daniel Rivera MELI MELO PRESS
Ute E. Weiland
INICIOU O URBANXCHANGER BERLIM PAPER: PÓLEN BOLD, 90 g/m2
INICIATIVAS COMUNITÁRIAS SMAQ PRINT RUN 5,000 copies
CONVIDADAS Sabine Müller, Andreas Quednau,
EDITORA ASSOCIADA
SÃO PAULO Irene Frassoldati Esta publicação está licenciada sob
Lindsay Bush CIDADES SEM FOME Creative Commons Licence
EDITORA ASSOCIADA E EDITORA LOCAL CIDADE DO CABO
Hans Dieter Temp Attribution-Non-Commercial-
(CIDADE DO CABO) JO NOERO ARCHITECTS
Jonas Steinfeld NoDerivatives 4.0 International (CC
Jo Noero, Uno Pereira, David Long,
Genival de Morais Farias BY-NC-ND 4.0).
EQUIPE EDITORIAL Oliver Brown, Nikita Schweizer
Sebastiana de Farias Mais informações em: http://
BERLIN creativecommons.org/licenses/
Ana Alvarez CIDADO DO MÉXICO
BAU COLLABORATIVE by-nc-nd/4.0/. As imagens podem ou
EDITORA LOCAL (CIDADE DO MÉXICO) ASAMBLEA COMUNITARIA DE MIRAVALLE
Rainer Hehl, Philipp Luy, Susie Ryu, não permitir reuso e modificação.
Nitin Bathla CIDADE DO CABO Tom Schöps, Justine Olausson
EDITOR LOCAL (NOVA DÉLHI) HANDS OF HONOUR
NOVA DÉLHI
Paul Talliard
CRÍTICO CONVIDADO ANAGRAM
Glenda Hendricks
Madhav Raman, Vaibhav Dimri,
Edwin Heathcote Keith Petersen
Akanksha Bansal, Akshay Shetty,
ESCRITOR, ARQUITETO E DESIGNER, Mark Solomons (CONSULTORIA
Akshay Srinivas, Ganesh Babu,
CRÍTICO DE ARQUITETURA E DESIGN DE DE CONSTRUÇÃO)
Surendra Mohite
THE FINANCIAL TIMES DESDE 1999 NOVA DÉLHI
BERLIN
CURE
EQUIPE URBANXCHANGER FAR
Renu Khosla (DIRETORA)
Marc Frohn, Mario Rojas, Max Koch,
Ute E. Weiland Vishnu Jeesha (COORDENADOR
Daniel Grenz, Elena Ambacher
INICIADORA E SUPERVISORA DE PROJETO)
Tamneeq Tariq (COORDENADOR
Marcos L. Rosa
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
COMUNITÁRIO)
CURADOR, PESQUISADOR LOCAL
AOS CONSELHEIROS SENIORES
Megha Gupta (COORDENADOR
E COORDENADOR COMUNITÁRIO) Prof. Jörg Stollman
(SÃO PAULO) TECHNICAL UNIVERSITY OF BERLIN
Ana Alvarez
EQUIPES CONVIDADAS
Prof. Edgar Pieterse
PESQUISADORA LOCAL E COORDENADORA SÃO PAULO AFRICAN CENTRE FOR CITIES, CAPE TOWN
(CIDADE DO MÉXICO) VAPOR 324 + BANDONI + MASAGÃO
Jose Castillo Olea
Vapor 324, Andrea Bandon,
Lindsay Bush ARQUITECTURA911SC, MEXICO CITY
Julia Masagão
PESQUISADORA LOCAL E COORDENADORA
(CIDADE DO CABO) Prof. Jagan Shah
BERLIM NATIONAL INSTITUTE OF URBAN AFFAIRS,
Nitin Bathla CONSTRUCTLAB NEW DELHI
PESQUISADORA LOCAL E COORDENADORA Alexander Römer, Pieterjan Grandry
(NOVA DÉLHI) PRODUÇÃO

202 203
créditos de

CRÉDITOS
imagens p. 84-85: Smaq+Rozana Montiel ESTATÍSTICAS SÃO PAULO
architects / Ana Álvarez
p. 19: Marcos L. Rosa NOVA DÉLHI Prefeitura Municipal de São Paulo
p. 86-87: Smaq+Rozana Montiel
p. 22: Ana Álvarez (Cidade de São Paulo)
architects South Delhi Municipal Corporation
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p. 88-89: Smaq+Rozana Montiel www.mcdonline.gov.in
p. 27: Asif Khan Empresa Paulista de Planejamento
architects Census 2011, Census Organisation of
Metropolitano S.A (Emplasa)
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p. 127: Paul Talliard (Hands of Honour)
p. 35: Marcos L. Rosa www.planningcommission.nic.in CIDADE DO CABO
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Architects / Uno Pereira (Noero
p. 36: Vapor 324 www.delhi.gov.in www.statssa.gov.za
Architects)
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p. 129: BAU Collaborative + Noero
p. 37: Vapor 324 www.citiesofdelhi.cprindia.org
Architects
p. 38: Vapor 324 p. 130: BAU Collaborative + Noero
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Architects
p. 42-43: Marcos L. Rosa p. 131: Uno Pereira (Noero Architects) Censo 2010, Censo de población y
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João Paulo Pavone / João Paulo Pavone p. 142-143: BAU Collaborative + Noero www.inegi.org.mx
Andrea Bandoni Architects Oficina de Investigación Desarrollo
p. 46-47: Constructlab + Vapor 324 + p. 144-145: Oliver Brown / Uno Pereira Humano, United Nations Development
Bandoni + Masagão + Marcos L. Rosa (Noero Architects) Program (UNDP), México, 2014
p. 48-49: Marcos L. Rosa p. 146-147: BAU Collaborative + Noero www.mx.undp.org
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CIDADE DO MÉXICO Ordenamiento Territorial (PAOT), 2010
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p. 76: Smaq+Rozana Montiel architects p. 175: NitinBathla
p. 77: Marcos L. Rosa p. 176-177: NitinBathla
p. 78-79: Marcos L. Rosa / Ana Álvarez p. 178-179: Nitin Bathla / Daniel Grenz
p. 80-81: Smaq+Rozana Montiel p. 180-181: Moritz Gekeler / Daniel
architects Grenz
p. 82-83: Smaq+Rozana Montiel Akshay Srinivas / Akanksha Bansal
architects
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