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Ce Cad3
Conselho Escolar
e o respeito e a valorização do saber
e da cultura do estudante
e da comunidade
Brasília - DF
Novembro de 2004
CONSELHO ESCOLAR
E O RESPEITO E A VALORIZAÇÃO DO SABER E DA
CULTURA DO ESTUDANTE E DA COMUNIDADE
Sumário
Apresentação .............................................................................................................7
Introdução .................................................................................................................10
Referências ...............................................................................................................62
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Apresentação
“Tudo o que a gente puder fazer no sentido de
convocar os que vivem em torno da escola, e dentro
da escola, no sentido de participarem, de tomarem
um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo
o que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda,
considerando o trabalho imenso que se põe diante de
nós que é o de assumir esse país democraticamente.”
Paulo Freire
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Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE)
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco)
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O material instrucional do Programa é composto de um caderno instrucional
denominado Conselhos Escolares: Uma estratégia de gestão democrática da educa-
ção pública, que é destinado aos dirigentes e técnicos das secretarias munici-
pais e estaduais de educação, e seis cadernos instrucionais destinados aos con-
selheiros escolares, sendo:
Caderno 1 – Conselhos Escolares: Democratização da escola e constru-
ção da cidadania
Caderno 2 – Conselho Escolar e a aprendizagem na escola
Caderno 3 – Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da
cultura do estudante e da comunidade
Caderno 4 – Conselho Escolar e o aproveitamento significativo do tempo
pedagógico
Caderno 5 – Conselho Escolar, gestão democrática da educação e esco-
lha do diretor
Caderno de Consulta – Indicadores da Qualidade na Educação.
Este é um dos cadernos instrucionais, e pretende, assim como os demais,
servir de subsídio às secretarias estaduais e municipais de educação na reali-
zação de capacitações de conselheiros escolares, seja por meio de cursos
presenciais ou a distância. É objetivo também do material estimular o debate
entre os próprios membros do Conselho Escolar sobre o importante papel desse
colegiado na implantação da gestão democrática na escola.
O material instrucional não deve ser entendido como um modelo que o
Ministério da Educação propõe aos sistemas de ensino, mas, sim, como uma
contribuição ao debate e ao aprofundamento do princípio constitucional da
gestão democrática da educação.
Vale ressaltar que não é propósito deste material esgotar a discussão sobre
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o tema; muito pelo contrário, pretende-se dar início ao debate sobre essa ques-
tão, principalmente tendo como foco o importante papel do Conselho Escolar.
Muitos desafios estão por vir, mas com certeza este é um importante passo
para garantir a efetiva participação das comunidades escolar e local na gestão
das escolas, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade social da edu-
cação ofertada para todos.
Ministério da Educação
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Introdução
A cultura e o saber da comunidade fazem parte da vida do estudante a
ponto de constituírem a educação com a qual ele chega à escola.
As crianças, os adolescentes e os jovens formam-se na comunidade. Nela
produzem e desenvolvem hábitos, atitudes, sentidos, conhecimentos, destre-
zas e competências. Essa educação fez com que eles sejam quem são. Eles che-
gam à escola com a educação vivenciada na família e na comunidade. O seu
saber e patrimônio cultural não podem ser desrespeitados, nem devem ser
apenas o ponto de partida para a educação escolar. Seu saber e patrimônio
cultural devem fazer parte do processo da formação escolar.
Nesse processo, o Conselho Escolar pode dar uma importante contribui-
ção ao cumprir sua função de instância de democratização da educação e de
construção da cidadania (Caderno 1); é fundamental que ele acompanhe a
aprendizagem das crianças, adolescentes e jovens na escola (Caderno 2). O pro-
cesso de aprendizagem fica muito prejudicado se no trabalho pedagógico da
sala de aula não se leva em conta, não se respeita, não se trabalha e não se
valoriza o conhecimento do estudante e a cultura de sua comunidade (este
Caderno 3). Para tanto é fundamental que o Conselho zele pelo uso significati-
vo do tempo pedagógico na escola (Caderno 4) e participe da gestão democrá-
tica da instituição escolar (Caderno 5). No cumprimento desse seu papel de
acompanhar e apoiar, avaliar, fiscalizar e decidir são sugeridos indicadores
de qualidade para sua orientação (Caderno de consulta).
O que vamos encontrar neste caderno?
Neste caderno vamos refletir sobre a importância da presença do saber e
da cultura do estudante no processo didático-pedagógico da escola. Vamos,
também, refletir sobre a negação da educação para o cidadão, quando seu
saber e sua cultura não são reconhecidos e levados em consideração.
O Conselho Escolar, que reúne todos os segmentos da escola e representan-
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A cultura, o saber e o patrimônio cultural
da comunidade são parte integrante
e indispensável do currículo de uma escola
que contribui para a formação humana
das crianças, adolescentes e jovens.
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encontro dos saberes. Cada uma das três partes conclui com uma história re-
lacionada ao tema.
Na primeira, abordamos o processo de educação como a produção históri-
ca da existência humana. O respeito é a base para a socialização cultural. Fun-
dado no respeito ao saber e à cultura do estudante, o educador cultiva as dife-
renças, criando oportunidades para expandir os conhecimentos, ampliar a
convivência e a sensibilidade na formação do estudante. Para educar é funda-
mental respeitar e acolher características e ritmos diferentes dos estudantes.
Apontamos conseqüências do não-respeito e da não-valorização do saber do
estudante. A prática educativa que não respeita o conhecimento e a cultura do
estudante leva a práticas da pedagogia da exclusão. Identificamos alguns de-
safios para a superação de práticas que levam à exclusão. Essas práticas mere-
cem a vigilância do Conselho para sua superação no cotidiano escolar.
Na segunda parte, apresentamos elementos de uma prática educativa in-
clusiva, contribuindo no processo de emancipação das pessoas. Nesse proces-
so, o respeito e o cultivo das diferenças é fundamental, porque oportuniza e
garante acesso a todos no sentido de possibilitar que as diferentes habilidades
sejam apoiadas e desenvolvidas e as diferentes formas de pensar sejam res-
peitadas e desenvolvidas. Exemplificamos esse processo com a forma de tra-
balhar o conhecimento na prática educativa escolar. Nessa parte, encontram-
se elementos que merecem acompanhamento e apoio do Conselho para sua
implementação e ampliação.
Na última parte constam elementos que demonstram a importância da valo-
rização e da integração do saber do estudante e da cultura da comunidade e
indicam-se pistas para o encontro desse saber e da cultura com o saber e a cul-
tura escolar. O encontro dos saberes ocorre na relação entre o que se ensina e o
que o estudante já sabe. Esse encontro de saberes ocorre no respeito mútuo e no
confronto da diversidade. Respeitando os saberes diferentes, construídos nas
diversas relações sociais, e confrontando-os, ampliam-se os saberes.
14
Parte I
A escola, o Conselho Escolar e o
processo de formação humana
O
Conselho Escolar é o espaço que todos os segmentos da comunida-
de escolar e da comunidade local têm para discutir e encaminhar
ações que assegurem as condições necessárias à aprendizagem na
escola, para que as crianças, adolescentes e jovens possam ser cidadãos que
participam plenamente da vida social. A escola é a instituição especializada
da sociedade para oferecer oportunidades educacionais que garantam a edu-
cação básica de qualidade para todos. A prática educativa escolar tem a fun-
ção de contribuir para que cada um dos estudantes:
amplie seu conhecimento e a capacidade de descobrir, criar, questionar,
criticar e transformar a realidade;
amplie sua capacidade de viver, de se alegrar e de trabalhar com os ou-
tros, na co-responsabilidade sociopolítica e cidadã; e
torne maior sua sensibilidade para encontrar sentido na realidade, nas
relações e nas coisas, contribuindo para a construção de uma nova socia-
bilidade humana, fundada em relações sociais de colaboração, co-res-
ponsabilidade e solidariedade.
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
P
ara que a escola ofereça essa contri-
buição é preciso respeitar a história
de vida das crianças, seu conhecimen-
to, sua sensibilidade, seus valores, produzidos
na convivência cotidiana na sua comunidade.
A criança não é um recipiente no qual se des-
pejam coisas. A criança é um sujeito, ela pro-
duz conhecimento, ela constrói a sua fala.
Cada um expressa o que pensa de acordo com
o seu jeito. Se aprender fosse imitar ou repe-
tir o que é ensinado, falaríamos todos do
mesmo jeito, nossas risadas seriam iguais,
nosso jeito de caminhar, de olhar e sorrir se-
riam iguais. Cada pessoa é diferente. É na
diferença que está a originalidade, o sentido
e a riqueza de ser gente.
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
Educar
é totalmente diferente de treinar, domesticar,
adaptar, moldar, adequar, integrar.
Educar
não é enquadrar, incutir um padrão ou modelo,
mas é formar pessoas autônomas, sujeitos livres e
responsáveis.
EDUCAÇÃO É O PROCESSO
DE EMANCIPAÇÃO HUMANA
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
P
ara que as crianças se tornem autôno-
mas, livres, responsáveis e emancipa-
das, elas precisam se apropriar ou
incorporar a cultura da comunidade onde vi-
vem e, ao mesmo tempo, desenvolver condi-
ções pessoais e subjetivas para intervir origi-
nalmente no mundo, na construção da histó-
ria, na melhoria das condições de vida.
A existência humana é historicamente pro-
duzida, isto é, nós somos produto das relações
vividas. Essas relações consistem nas mais di-
versas formas de encontro e conflito entre
nossa base biológica, nosso corpo e o mun-
do, sociedade na qual estamos inseridos.
Relacionamo-nos com as coisas, com os outros
e, até, com nós mesmos. Muitas dessas rela-
ções dependem de nossa decisão, outras são
estabelecidas e nós somos envolvidos nelas.
A cada momento de nossas vidas somos resul-
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
tado provisório de nossa construção histórica, produzida nas relações que ti-
vemos com a natureza, com os outros e com nós mesmos. Esse resultado é
provisório porque somos incompletos e inacabados e estamos em permanen-
te construção. Amanhã seremos mais gente do que somos hoje, como hoje
somos mais gente do que éramos no passado de nós próprios.
Aprende-se construindo e reconstruindo saberes. Em cada momento de
nossas vidas estamos aprendendo com os outros, com nós mesmos.
O entorno social (a comunidade, a família, os parentes, os amigos e os
vizinhos) e os espaços em que nos situamos (bairro, cidade, região, país e
mundo) têm estreita relação com nossa produção humana. Nesse contexto,
a escola é a instituição especializada e indispensável para impulsionar essa
produção humana.
No entanto, é preciso realçar que numa sociedade contraditória, com inte-
resses opostos em jogo, a escola tende a reforçar os interesses dos grupos que
detêm maior poder na sociedade. Por isso, é indispensável que todos os que
integram a escola, em especial o Conselho Escolar, permaneçam atentos e vi-
gilantes, para evitar que a escola contribua para reforçar as condições e práti-
cas que ajudam a manter a injustiça e as desigualdades sociais. Somente dessa
forma a escola evitará a prática que discrimina o saber do estudante e a cultu-
ra da comunidade. Portanto, para que a escola cumpra sua função de criar as
condições para a aprendizagem do estudante, sua prática deve contribuir, antes
de tudo, para a emancipação das pessoas.
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
N
a escola pode ocorrer a pedagogia da discriminação. É preciso res-
peitar e cultivar as diferenças para que as pessoas possam decidir,
pensar e se tornar livres e responsáveis. Os seres humanos são di-
ferentes uns dos outros; seu comportamento é algo construído, elaborado e
dinâmico. Quando o saber e a cultura dos estudantes são desrespeitados, ne-
gam-se suas origens geopolíticas, étnicas e sociais com todas as suas contri-
buições e história. Esse desrespeito é discriminatório, abre caminho para a
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
D
ados oficiais sobre a educação
apontam problemas muito sérios,
tanto quantitativos (como dados
relativos à não-presença e matrícula e à não-
progressão das crianças, dos adolescentes e
dos jovens na escola), quanto qualitativos
(como o baixo desempenho da educação es-
colar brasileira).
De um lado, nega-se a educação ao cida-
dão pelo não-acesso. Ainda há muitas crian-
ças sem acesso à educação básica. O número
de brasileiros que não freqüentam a escola em
idade de educação obrigatória é significati-
vo. Os dados revelam a precariedade das con-
dições objetivas de muitos e denunciam, in-
clusive, situações de trabalho infantil.
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
A escola que
é incapaz de educar,
porque reforça a desigualdade social e
nega a educação para a emancipação.
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
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REFORÇO OU ENGESSAMENTO DA
DESIGUALDADE
Uma parábola sobre
a aptidão inapta e a inaptidão apta
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A escola, o Conselho Escolar e o processo de formação humana
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
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Parte II
A escola da inclusão
Pedagogia da emancipação
A
educação da pessoa é um processo amplo, que não se limita à edu-
cação escolar. Entretanto, a escola tem um papel indispensável e
insubstituível no processo da educação das pessoas.
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
P
ara que o cidadão se situe como sujeito
de sua história e da história de seu en-
torno, ele precisa se apropriar da rique-
za cultural produzida pela humanidade. Essa
apropriação é necessária para que ele se ins-
creva na sociedade, no seu tempo e espaço his-
tóricos. Além disso, é fundamental que ele
construa as condições subjetivas necessárias
para uma intervenção original.
A função da escola é assegurar essa apro-
priação e essa construção das condições sub-
jetivas do cidadão. Esses aspectos são essen-
ciais ao exercício da cidadania. Portanto, a es-
cola, no cumprimento de sua função
emancipadora, é indispensável para que o ci-
dadão tenha uma presença crítica e inovado-
ra no seu tempo e lugar.
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A escola da inclusão
(Re)Constrói o saber
Incorpora o patrimônio
historicamente acumulado
cultural da humanidade
Apropria-se do saber
produzido e acumulado
pela humanidade
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A escola da inclusão
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
AS FUNÇÕES DA ESCOLA
DA
INSERÇÃO SOCIAL
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A escola da inclusão
O
saber é mais amplo que o conhecimento. São três as dimensões do
saber: o pensar, o sentir e o agir. A sensibilidade e o respeito, a con-
vivência e a solidariedade, o compromisso e a responsabilidade, a
apropriação e a produção do conhecimento são aspectos importantes a serem
desenvolvidos na educação básica. Nesse sentido, a formação humana na es-
cola é um processo de aprendizagem integral. Nessa aprendizagem desenvol-
vem-se as condições subjetivas para ser sujeito e autor de seu futuro e contri-
buir para a construção da história.
Um dos aspectos mais importantes desse processo é a apropriação da ri-
queza cultural produzida pela humanidade. É fundamental que cada cidadão
construa em si o saber integrante da educação básica e aprenda a pensar criti-
camente, a produzir conhecimentos. O conhecimento é um objeto específico
do ato pedagógico de fundamental importância. Para ser sujeito e autor de
sua história, é indispensável que o estudante se aproprie do conhecimento
historicamente acumulado pela humanidade e desenvolva as condições para
produzir novos saberes.
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
U
m dos aspectos mais decisivos e
importantes para o Conselho Es-
colar é acompanhar a forma como
a escola trabalha o conhecimento.
O conhecimento pode ser entendido
como produto, como informação, ou pode
ser entendido como processo, como cons-
trução. Essas duas compreensões são opos-
tas e, por isso, determinam formas comple-
tamente diferentes de trabalhar com os es-
tudantes. Essa visão oposta de conhecimen-
to vem acompanhada de visões opostas de
sociedade, de pessoa humana e de educa-
ção. Não são só visões diferentes, são con-
traditórias.
Se a escola trabalhar o conhecimento
como simples informação a ser passada ao
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A escola da inclusão
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
estudante, ela não respeitará o saber que ele traz consigo, nem levará em con-
ta o patrimônio cultural da comunidade. Para ela, o conhecimento e o
patrimônio cultural da comunidade precisa ser substituído pelo saber consi-
derado erudito, científico. Essa é a educação bancária, denunciada por Paulo
Freire. Com essa visão de conhecimento, o trabalho pedagógico leva à
memorização de informações, e o máximo que o estudante consegue é repetir,
porque guardou na memória.
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A escola da inclusão
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
O
conhecimento como informação,
como produto, é um conjunto
de conteúdos. Como ele não se reduz
a informações, essa visão de conhecimento leva
à sua redução no ato pedagógico. Se o objeto do
trabalho pedagógico é o conhecimento como in-
formação, a função e o objetivo do ato pedagógi-
co é a transmissão de informações, de “saberes”,
para que eles sejam guardados na memória ou
retidos pelos estudantes. Os “conteúdos” ou as
informações devem ser “transmitidos” pelos pro-
fissionais da educação e devem ser “assimilados”
pelos educandos. O importante é que o estudan-
te “repita” determinados saberes, memorize-os,
tornando-se uma “enciclopédia ambulante”.
Nesse sentido, um computador e uma enciclopé-
dia “saberiam” muito mais do que as pessoas.
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A escola da inclusão
1
A heterogestão é a forma de gestão gerencial, na qual uns
planejam, controlam e mandam e outros executam, realizam e
obedecem. A co-gestão permite limitadas formas de participa-
ção dos subalternos na gestão. A autogestão implica o
compartilhamento da gestão.
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
O
conhecimento como processo,
como produção, é a construção do
saber. Se o objeto do trabalho pe-
dagógico é o conhecimento como constru-
ção, a função e o objetivo do ato pedagógico
é a ampliação do saber dos educandos so-
bre determinada realidade. O “conteúdo”,
as informações ou o saber “historicamente
acumulado pela humanidade” devem ser
trabalhados (e não “assimilados”) no ato
pedagógico. No confronto entre o saber do
educando e o saber da humanidade, o edu-
cando amplia o seu saber e constrói capaci-
dades e aptidões sociais, afetivas e
cognitivas. O importante é que o estudante
compreenda o contexto, construa seu dizer
e desenvolva seu raciocínio lógico e criativo
para participar ativamente da vida social.
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A escola da inclusão
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
CONHECIMENTO
Objeto do trabalho pedagógico
• Informação • Construção
• Produto CONCEPÇÃO • Processo
• A memória • A inteligência
• A repetição
TRABALHA MAIS • A criatividade
Ensinagem Aprendência
PROCESSO
individualista socioindividual
• Hierárquica • Democrática
GESTÃO DA ESCOLA
• Heterogestão • Compartilhamento
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A escola da inclusão
A
prática democrática da gestão da es-
cola na elaboração, na execução e na
avaliação do projeto político-pedagó-
gico decorre da “natureza” e do caráter funda-
mental do processo educativo, que é o objeto da
relação pedagógica: o conhecimento como processo,
como construção, como ampliação e produção do
saber e desenvolvimento de estruturas mentais com-
plexas é exigência para a emancipação humana.
O conhecimento é matéria do projeto político-
pedagógico da escola. A sua maneira de entendê-
lo, a visão que os segmentos escolares têm de co-
nhecimento, está vinculada a uma visão de edu-
cação, de pessoa humana e de sociedade.
A visão de conhecimento como informação e
produto entende a pessoa como um recurso para
a produção. O mais importante é formar a pes-
soa para o mercado de trabalho. A compreensão
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
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A escola da inclusão
CONCEPÇÕES
de conhecimento, de pessoa
de sociedade e de educação
Recurso Sujeito
Mercadoria PESSOA História
EXCLUSÃO INCLUSÃO
marginalidade SOCIEDADE universal
HETERONOMIA AUTONOMIA
Exploração, dominação Colaboração, co-responsabilidade
e opressão e solidariedade
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
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A escola da inclusão
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
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A escola da inclusão
Como essa história revela, a escola que não reconhece e não valoriza o co-
nhecimento do estudante corre o risco de não cumprir sua função. Cada mem-
bro da comunidade escolar, individual e coletivamente, é responsável para
que na prática educativa escolar se respeite e se integre o saber do estudante.
O Conselho Escolar, no cumprimento de sua função socioeducativa, acompa-
nha e avalia o cumprimento da função da escola. Para tanto, acompanha, ava-
lia e apóia o compromisso da escola com o saber e a cultura do estudante e da
comunidade. Mediando o encontro desse saber e dessa cultura com o saber e
a cultura da humanidade, a escola forma sujeitos da história e da cultura.
52
Parte III
O encontro dos saberes
O
respeito e a valorização do saber dos estudantes, a integração e a
ampliação desse saber, constituem o cerne e o propósito da educa-
ção básica. Aprender ou conhecer não acontece simplesmente por
transmissão, socialização ou troca. Embora no ato pedagógico haja aspectos
de “transmissão”, de “socialização” e de “troca”, a mediação pedagógica não
se reduz a isso. Aprender ou conhecer é resultado do encontro e do confronto
de saberes.
53
O encontro dos saberes
A
prender ou conhecer não se reduz à
transmissão e assimilação de conheci-
mento, nem à socialização do saber,
nem à troca de conhecimentos.
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
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O encontro dos saberes
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
P
ara que haja encontro de saberes é preciso promover situações em que
os estudantes se defrontem com os diferentes saberes. Quando há, apa-
rentemente, “transmissão de informações” ou “socialização de sabe-
res”, como em uma palestra ou aula expositiva, ou aparente “troca de infor-
mações”, como em um trabalho de grupo, a aprendizagem só acontece quan-
do há encontro dos saberes, confronto entre o que os ouvintes de uma exposi-
ção ou participantes do grupo pensam e a informação que é apresentada.
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O encontro dos saberes
A RIQUEZA DO CONHECIMENTO
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Conselho Escolar e o respeito e a valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade
O ESPELHO: ENCONTRO DE
SABERES
Uma parábola sobre o respeito ao
diferente
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O encontro dos saberes
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O encontro dos saberes
Experiências como essa mostram como nos tornamos mais gente no encontro
com outros. No enfrentamento de um problema concreto, confrontam-se conhe-
cimentos e saberes e todos acabam aprendendo, sabendo mais do que sabiam
antes. Nesse debruçar-se coletivo sobre um problema, todos aprendem a parti-
lhar, a pôr em comum e desenvolvem suas capacidades para a convivência co-
responsável e para a democracia. Nessa convivência de construção coletiva que
se realiza no encontro de saberes, as pessoas desenvolvem a sensibilidade e
encontram o sentido das coisas. Em decorrência, mudam o comportamento pes-
soal e ampliam suas capacidades de intervir na construção da história.
Como o professor e os outros participantes nessa experiência, em cada encon-
tro de saberes nos tornamos mais gente, construímos a nossa liberdade, a nossa
responsabilidade, a nossa alegria de conviver e o sentido de nossas vidas.
O Conselho Escolar é uma instância privilegiada para que a escola cumpra
sua função na formação das pessoas. Cada membro do Conselho é co-respon-
sável pelo respeito e pela valorização do saber do estudante e do patrimônio
cultural da comunidade e, ao mesmo tempo, pela construção coletiva, solidá-
ria e co-responsável desse respeito e dessa valorização.
63
Referências
AGUIAR, Márcia Ângela da Silva; FERREIRA, Naura Syria Carapeto (Orgs.).
Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. 3. ed. São Pau-
lo: Cortez, 2001.
––––––. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2000.
––––––. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
64
SILVA, T. T. da. Identidade e diferença: a perspectiva de estudos culturais.
Porto Alegre: Artmed, 1999.
65
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Departamento de Articulação e Desenvolvimento dos Sistemas de Ensino
Coordenação-Geral de Articulação e Fortalecimento Institucional dos Sistemas de Ensino
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 526 – Edifício-Sede
CEP 70047-901 – Brasília/DF
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