Hebreus a caminhada de fé (10:19—13:25)
A Fé Que Segue Adiante
(11:30, 31)
Atravessar o grande rio Jordão e conquistar a
cidade de Jericó foram dois atos inegáveis de fé,
realizados pelos israelitas pelo poder de Deus. No
mar Vermelho, parecia impossível ir adiante; mas
os israelitas foram pela fé. No rio Jordão, com Je-
ricó em vista, eles só fizeram uma pequena pau-
sa antes de obedecer à ordem de seguir adiante
pelo rio, acompanhando os sacerdotes que carre-
gavam a arca da aliança. Nos dois casos, o povo
atravessou as águas pisando em terra seca. Uma
vez é dito que esse fenômeno foi resultado de um
forte vento do leste e em outra vez é dito que tudo
aconteceu quando os pés dos sacerdotes tocaram
a flor d’água. Os israelitas tiveram que caminhar
adiante para demonstrar que sua fé era imbatível.
Deus não fez o trajeto por eles, nem faz nada que
deva ser feito para que nós recebamos a nossa sal-
vação individual.
UMA FÉ UNIDA (11:30)
30
Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó, de-
pois de rodeadas por sete dias.
O versículo 30 reafirma a fé de Israel nas grandes
experiências ligadas à conquista da terra prometida.
Este episódio descreve a nação de Israel se juntando
numa fé unida para fazer o que Deus ordenou.
Do ponto de vista de estilo, 11:29–38 tem sido
observado como uma das passagens mais belas
e comoventes de Hebreus. Ela mostra que a fé “é
aquilo que nos impele a ir sempre adiante, nunca
nos dando o luxo da retirada”1.
Discorrendo acerca do versículo 29, o texto
apresenta um grande contraste. O autor acabara
1 
Gerald F. Hawthorne, “Hebrews” em Comentário Bíblico
NVI: Antigo e Novo Testamento, ed. geral F. F. Bruce. Trad. Val-
demar Kroker. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 2124.
de observar que os israelitas atravessaram o mar
e foram poupados, ao passo que os egípcios fo-
ram tragados. Este evento transformou-se numa
saga nacional em Israel; ele foi imortalizado em
Salmos anos depois (78:13; 135:8, 9; 136:10–15).
Há um segundo contraste entre os justos que
pela fé rodearam Jericó e os descrentes que pe-
receram dentro da cidade (vv. 30, 31). Marchar e
gritar não derrubou os muros fortificados mais
do que sangue aspergido por si só preservou as
vidas dos primogênitos. Todavia, pela fé, os is-
raelitas obedeceram às ordens de Deus e este os
abençoou conforme prometera.
Os céticos tentam destruir a fé não só no An-
tigo Testamento mas também no Novo, quando
rejeitam fatos que são corroborados por autores
inspirados do Novo Testamento. Praticamente to-
dos os fatos sobrenaturais do Antigo Testamento
sobre os quais a crítica demonstra dúvida são con-
firmados em algum trecho do Novo Testamento
(veja 1 Coríntios 10:1, 2).
Atravessar o mar Vermelho foi tão espeta-
cular que o feito é celebrado há séculos com um
cântico (Êxodo 15:1–19). Tamanha vitória mere-
ceu um cântico. “A libertação pelo mar Vermelho
representa um tipo de batismo cristão, marcando
a fronteira entre o Egito de pecado e o deserto de
provação, vivenciados na igreja.”2
UMA FÉ OBEDIENTE (11:30)
Os muros de Jericó caíram pela fé – uma fé
obediente (v. 30). Nenhuma quantidade de passos
dados pela multidão de Israel poderia ter causa-
do a queda desses muros. É verdade que soldados
podem cruzar uma ponte numa marcha ritmada
2 
James Burton Coffman, Commentary on Hebrews. Aus-
tin, Tex.: Firm Foundation Publishing House, 1971, p. 293.
1
para fazê-la tremer e cair, mas muros não caem
por causa de marchas ou trombetas ao seu redor
(Josué 6).
Um rebelde egípcio, mencionado em Atos 21:38,
alegou que os muros de Jerusalém cairiam ao seu
comando, mas isso não aconteceu3. Não foram aríe-
tes do exército, mas a fé em Deus, que fez os muros
de Jericó desabarem, quando os homens de Israel
andaram sete dias em torno da cidade e deram um
sonoro grito (Josué 6:1–5, 12–20). A fé deles aumen-
ta quando pensamos no que deve ter acontecido,
enquanto os moradores caçoavam deles durante os
sete dias de marcha. A conquista de Jericó cravou o
selo de aprovação divina sobre o ato dos israelitas
tomarem a terra prometida dos pagãos perversos,
quando a iniquidade deles era total4.
Conquistar a cidade deve ter gerado um gran-
de ânimo em todo o acampamento. Com seus for-
tes muros e poderosos guerreiros, Jericó era um
adversário formidável para os israelitas5. O posto
militar avançado de Jericó tinha que ser derrota-
do antes de os vales no interior de Canaã serem
tomados. Após a queda dos muros, Israel certa-
mente tinha fé suficiente para seguir em frente
rapidamente e conquistar toda a cidade.
A arqueologia lança pouca luz sobre este perí-
odo de Jericó devido à erosão do local. Sem dúvi-
da, muitas pedras foram removidas, uma vez que
a cidade não foi reconstruída por quatro séculos.
(Compare Josué 6:26 com 1 Reis 16:34.)6 Era muito
mais fácil para os antigos reutilizar pedras do que
cortar novas pedras, e isso evidentemente acon-
teceu com Jericó. A cidade foi destruída muitas
vezes no curso da história. O montículo7 das anti-
gas cidades acabou ficando tão pequeno no topo
que tiveram que começar a construir uma nova
cidade nas proximidades.
3 
F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews, The New Inter-
national Commentary on the New Testament. Grand Rap-
ids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1964, p. 327,
n. 226.
4 
Os pecados dos cananeus foram, num sentido figura-
do, enchendo o “cálice” da ira a ser derramada por Deus,
até chegarem ao limite estabelecido por Deus (veja Gêne-
sis 15:16). Esse povo foi, então, destruído pelo poder e pela
aprovação de Deus.
5 
Simon J. Kistemaker, Exposition of the Epistle to the He-
brews, New Testament Commentary. Grand Rapids, Mich.:
Baker Book House, 1984, p. 347.
6 
Bruce, p. 327, n. 227.
7 
“Montículo” é o nome que arqueólogos dão a um mon-
te que revela camadas de comunidades antigas reconstruí-
das no mesmo sítio, após destruições causadas por guerra,
terremoto, incêndio ou deserção.
2
UMA FÉ INDIVIDUAL (11:31)
Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída
31
com os desobedientes, porque acolheu com paz
aos espias.
Raabe (v. 31) confessou sua fé aos espias isra-
elitas. Essa fé surgiu unicamente de informações
de segunda mão que ela obteve a respeito do Deus
de Israel (como acontece conosco), e ela creu que
Javé “é Deus em cima nos céus e embaixo na ter-
ra” (Josué 2:8–11; 6:22–25). Essa declaração con-
tradizia tudo o que os demais habitantes de Jericó
pensavam. A fé de Raabe levou-a a proteger os
espias e a mentir sobre a saída deles, resultando
na preservação de sua família. A fé de Raabe le-
vou-a à salvação, ao passo que a desobediência
dos habitantes de Jericó causou a destruição de-
les. A vida de Raabe foi transformada por sua fé, e
isto redundou em que ela fosse considerada justa
perante Deus (Tiago 2:25).
É maravilhoso encontrar no Antigo Testamen-
to – cuja atuação de Deus às vezes é considerada
tão severa – esta história de uma mulher de vil
reputação sendo redimida pela fé em Deus. Raa-
be tornou-se mais tarde esposa de Salmom e mãe
de Boaz, que gerou Obede, que gerou Jessé. Por-
tanto, ela foi tataravó do rei Davi e ancestral do
Messias (Mateus 1:5, 6). O resto do povo de Jericó
não creu no relato de que Deus estava com Israel;
e, assim, pereceu. A fé de Raabe levou-a ao arre-
pendimento, o que parecia já ter acontecido antes
da chegada dos espias8. Ela foi contra seu povo, o
que é sempre difícil.
PREGANDO SOBRE HEBREUS
QUANDO A FÉ AGE, A GRAÇA SE TORNA
EFICAZ (11:30, 31)
Josué foi encorajado a “ser forte e corajoso”
(Josué 1:9). Ele, assim como Moisés, foi um ho-
mem de fé; mas ele teve que manter seu zelo des-
temido diante de muita oposição. Ele agiu pela
fé atravessando o rio Jordão e conquistando Jeri-
8 
Flávio Josefo retratou Raabe como uma dona de hos-
pedaria. (Flávio Josefo, Antiquidades 5.1.2.) Eram comuns as
tentativas, entre os judeus, de fazer a profissão dela parecer
mais digna do que a de uma prostituta, mas esses esforços
são fracos e infundados. Hebreus 11:31 a descreve claramen-
te como uma meretriz. Veja também Tiago 2:25. Ela não era
uma prostituta de templos, mas uma meretriz por profissão.
(Bruce, p. 328, n. 228.)
có. Os muros de Jericó pareciam intransponíveis,
mas rodeando-os por sete dias com fé fez eles de-
sabarem.
Nossa salvação foi alcançada pela graça me-
diante a fé (Efésios 2:8, 9). Todavia, para que a
graça de Deus seja eficaz, é necessário haver uma
fé viva. A fé sem ação é chamada de “morta” e
“inoperante” (Tiago 2:17, 20).
Poderíamos dizer: “Pela graça mediante a fé
os muros de Jericó caíram quando foram rodeados
numa marcha por sete dias”. Do mesmo modo,
Raabe foi justificada, ou salva, pela graça, me-
diante a fé, quando demonstrou sua fé (baseada
nas evidências disponíveis a ela), protegendo os
espias. Tiago 2:25 ensina a mesma coisa, afirman-
do que ela foi “justificada por obras”, juntamente
com sua fé. Hebreus não ensina – nem outro li-
vro do Novo Testamento – que somos justificados
pela fé somente. Aqueles que pensam que Tiago
estava falando só de justificação aos olhos de ou-
tro ser humano e não da salvação de uma alma,
não consideraram Tiago 2:14: “Meus irmãos, qual
é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não
tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”
Tiago estava falando de salvação, e não meramen-
te de justificação aos olhos dos outros.
Jericó caiu. A arqueologia fornece evidências
da queda de muitas cidades antigas, mas “as for-
ças que operam no reino invisível, como o poder
da fé, não são trazidas à tona pela pá de uma
escavadeira”9.
RAABE, UM EXEMPLO DE FÉ (11:31)
Após a menção de todos os homens piedosos,
até esta altura de Hebreus 11, como Raabe, uma
mulher de moralidade reprovável, entrou nesse
grupo? Certamente, ela não foi acrescentada ape-
nas para manter os homens humildes ou para
confirmar o que Jesus diria aos homens presun-
çosos: “Publicanos e meretrizes vos precedem no
reino de Deus” (Mateus 21:31).
Raabe era uma mulher notável. Ele era uma
mulher de reputação má. Por ser pagã, não estava
sujeita à aliança e desconhecia a lei judaica. Talvez
ela fosse uma sacerdotisa numa religião pagã que
glorificava desejos sexuais e incentivava mais fer-
tilidade para a cidade. Todavia, ela foi justificada
pela fé. Raabe ouvira sobre o Deus de Israel. Ela
ficou impressionada e creu (Josué 2:9, 10). Apesar
Bruce, p. 327.
9 
de seu passado, ela foi salva por causa de sua fé e
é honrada nas Escrituras.
É estranho como alguns com pouca oportu-
nidade creem enquanto outros que são frequen-
temente expostos à Bíblia, pregação e igrejas
parecem indiferentes com o que ouviram sobre
Deus. A fé de Raabe pode ter sido primitiva e
fraca, mas ela foi movida a fazer grandes coisas
e enfrentar sério perigo para seguir sua nova fé.
A fé de Raabe incluiu comprometimento. É qua-
se um milagre da graça divina ela ser incluída na
genealogia de Jesus, o Filho de Deus (Mateus 1:5,
6). O exemplo dela nos mostra que, não importa
quão distante estejamos de Deus moralmente, Ele
pode nos atingir do céu com misericórdia e nos
salvar, se estivermos dispostos a nos arrepender-
mos como ela se arrependeu.
UM CASO DE ÉTICA?
Geralmente quando se estuda ética cristã, os
casos de mentira das parteiras no Egito é ana-
lisado (Êxodo 1:15–21) , bem como o de Raabe.
Esses casos levantam uma questão, pois ambos
parecem ser endossados pelas Escrituras. Mentir
para impedir um dano maior parece não ser con-
siderado um pecado no Antigo Testamento. As
parteiras mentiram para impedir a matança de
bebês inocentes no Egito, e a mentira de Raabe
protegeu os espias que entraram em Jericó. Essas
duas mentiras salvaram vidas.
Argumentar que Deus trata a questão de modo
diferente no Novo Testamento pode ser uma pre-
cipitação. Raabe obviamente queria ser identifi-
cada com o povo de Deus e mostrou seu mérito
por essa ação. Ela deve ter chegado ao ponto de
odiar sua vida pecaminosa e menosprezar seu
povo mau, no momento em que foi salva pelos
espias. Raabe agiu como um israelita; assim, no
coração e na vida, ela se juntou ao povo de Deus.
Parece que Israel foi favorável a receber conver-
tidas como Raabe e Rute, que era uma moabita
(Rute 1:22).
A DESTRUIÇÃO DE CIDADES (11:31)
Os céticos atacam a “imoralidade” das histó-
rias do Antigo Testamento com respeito à ordem
divina para destruir cidades e povos inteiros. Eles
contestam: “Como um Deus justo e amoroso pode
fazer tal coisa? Isso é incompatível com o Deus
do Novo Testamento!” A razão dada para essa
destruição é desobediência. A conduta excessiva-
3
mente imoral de cidades que estavam totalmente
entregues a religiões feitas por homens só poderia
ser corrigida com o extermínio. O povo estava em
total rebelião contra Deus e chegara a um ponto
sem volta. (Recapitule a exposição sobre 6:4–6.) A
natureza dos pecados por eles praticados exigiu
que essas cidades desaparecessem da terra pro-
metida.
Deus prometera que Israel possuiria a terra
quando a medida da iniquidade dos habitantes
nativos se enchesse por completo (Gênesis 15:16).
Quando entraram em Canaã, os israelitas eram
mais justos que os amorreus. Se tivessem obe-
decido à ordem divina, expulsando os povos ca-
naneus da terra, não teriam sido expostos a suas
idolatrias pagãs. O fracasso deles em fazer exa-
tamente conforme Deus instruiu levou-os, mais
tarde, à apostasia. Quando imitou os pagãos que
moravam à sua volta, Israel eliminou a razão
principal para Deus ter-lhes dado a terra.
Burton Coffman forneceu uma boa ilustra-
ção desse aspecto. Antigamente, os trens que
passavam pela estrada de ferro transcontinental
Moffatt Tunnel, no Colorado, enfrentavam mui-
ta dificuldade para subir e descer as montanhas;
por isso foram instalados dispositivos de descar-
rilamento em cada curva. O operador podia des-
carrilar um trem desgovernado a fim de que ele
não destruísse o povoado abaixo. Todo trem que
saísse do controle estava, portanto, condenado10.
Semelhantemente, Deus sabe quando as pessoas
são fadadas à destruição eterna. Para não conta-
minar Israel, Ele ordenou a destruição das tribos
que viviam em Canaã.
10 
Coffman, p. 295.

Autor: Martel Pace

© A Verdade para Hoje, 2016
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