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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

10ª CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0010469-26.2019.8.16.0194, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO


METROPOLITANA DE LONDRINA – 15ª VARA CÍVEL
APELANTE: ELIANE CRISTINA PROCOPIO DE ANDRADE
APELADO: CONDOMÍNIO EDIFÍCIO GREEN POINT
RELATOR: DES. GUILHERME FREIRE TEIXEIRA

APELAÇÃO CÍVEL. CONDOMÍNIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA C/C INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS.
SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO AVIADO PELA
DEMANDANTE.
ANULAÇÃO DA DELIBERAÇÃO QUE PROIBIU A LOCAÇÃO POR TEMPORADA
DO IMÓVEL. MATÉRIA INCONTROVERSA NESTA SEDE. PERDA DE UMA
CHANCE. PRETENSÃO DE RECEBIMENTO DE INDENIZAÇÃO FUNDADA NA
EVENTUAL CONTINUIDADE DA LOCAÇÃO POR TEMPORADA DO
APARTAMENTO PELA PLATAFORMA “AIRBNB”. NÃO COMPROVAÇÃO DA
SÉRIA E REAL OPORTUNIDADE PERDIDA PELA PARTE. SENTENÇA
MANTIDA. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS.
APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.

VISTOS , relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0010469-26.2019.8.16.0194, do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba – 15ª Vara
Cível, em que é Apelante ELIANE CRISTINA PROCOPIO DE ANDRADE e é Apelado CONDOMÍNIO
EDIFÍCIO GREEN POINT.

1. RELATÓRIO.

Trata-se de apelação cível interposta por Eliane Cristina Procópio de Andrade em face
da r. sentença (mov. 57.1) proferida nos autos n° 0010469-26.2019.8.16.0194, de ação declaratória de
nulidade de assembleia geral ordinária c/c indenização por perdas e danos, que julgou parcialmente
procedente o pedido inicial, declarando nula a deliberação da assembleia geral ocorrida em 13.08.2019 e
condenando o requerido ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, fixados em
10% sobre o valor da causa.
O condomínio demandado opôs embargos de declaração (mov. 62.1), os quais foram
conhecidos e acolhidos para reconhecer a sucumbência recíproca, condenando as partes ao pagamento pro
rata dos ônus sucumbenciais.
Eliane Cristina Procópio de Andrade aviou apelação (mov. 75.1), alegando, em suma,
que, se não fosse a proibição de locação por temporada determinada na assembleia geral que foi declarada
nula, a possibilidade de continuidade da locação de seu imóvel pela plataforma Airbnb não seria hipotética ou
improvável, mas séria e real, de modo que faz jus ao recebimento de indenização com base na perda de uma
chance. Sustentou que locou seu apartamento pelo período de 30 meses, em janeiro de 2020, somente
porque estava proibida de realizar locação por temporada. Com base no exposto, requereu o acolhimento
integral da pretensão inicial para que o condomínio seja condenado ao pagamento de indenização pela
perda de uma chance, em valor a ser apurado em liquidação de sentença.
O apelado apresentou contrarrazões (mov. 79.1).
Em síntese, é o relatório.
2. FUNDAMENTAÇÃO.

Presentes os pressupostos de admissibilidade extrínsecos e intrínsecos, conheço do


recurso.

Síntese fática

Eliane Cristina Procópio de Andrade ajuizou ação declaratória de nulidade de


assembleia geral ordinária c/c indenização por perdas e danos em face de Condomínio Edifício Green Point
(mov. 1.1), narrando, em resumo, que é proprietária do apartamento nº 201 no condomínio demandado e
que, após receber uma proposta de trabalho fora de Curitiba, decidiu locar o imóvel através da plataforma de
locação temporária Airbnb, porém, foi “surpreendida com a convocação de Assembleia condominial onde foi
decido, por apenas 08 condôminos presentes, pela ilegal proibição da locação por temporada no Edifício” (fl.
02). Discorreu sobre o direito de propriedade, ponderando que a deliberação foi tomada em assembleia sem
o quórum adequado, sendo ilegal a vedação à locação, o que lhe acarretou prejuízos pela perda da chance
de alugar seu apartamento. Requereu, assim, a declaração de nulidade da assembleia realizada no dia
13.08.2019, bem como a condenação do demandado ao pagamento de indenização por perdas e danos,
decorrentes da impossibilidade de locação de seu imóvel, em montante a ser apurado em liquidação de
sentença.
O réu apresentou contestação (mov. 31.1), arguindo, preliminarmente, a falta de
interesse de agir, pois o apartamento está alugado desde 07.01.2020. No mérito, sustentou que “em que
pese a insistência da autora em querer usufruir o imóvel fora dos limites estabelecidos por decisão coletiva,
tomada por assembleia de condomínios legalmente convocada, fato é que o aluguel por temporada do
imóvel ultrapassa a utilização do bem para fins estritamente residenciais” (fl. 09). Teceu considerações a
respeito do direito de vizinhança e do mau uso da propriedade, rechaçando o pedido indenizatório.
Foi apresentada impugnação à contestação (mov. 36.1).
Instadas as partes sobre as provas que pretendiam produzir (mov. 37.1), ambas
pleitearam o julgamento antecipado do mérito (mov. 41.1 e 43.1).
A r. sentença julgou parcialmente procedente a pretensão inicial para declarar nula a
deliberação da assembleia realizada no dia 13.08.2019, afastando o pleito indenizatório (mov. 57.1 e 69.1),
daí advindo o apelo (mov. 75.1).

Perda de uma chance

Incontroversa, nesta sede, a nulidade da deliberação da assembleia geral ordinária


realizada em 13.08.2019, a qual proibiu a locação por temporada (mov. 1.8), cinge-se a discussão aos
eventuais danos materiais suportados pela demandante.
A teoria da perda de uma chance foi criada para compensar situações em que alguém,
praticando um ato ilícito, faz com que outra pessoa perca uma oportunidade de obter uma vantagem ou de
evitar um prejuízo.
O dano, nestes casos, não pode ser considerado como lucro cessante ou dano
emergente, mas como uma terceira categoria, algo intermediário entre eles. O que se repara é a perda da
chance de alcançar uma situação melhor, uma posição mais vantajosa que muito provavelmente se
alcançaria caso não se verificasse o ilícito.
No sistema jurídico pátrio, esta teoria vem sendo admitida, desde que o dano seja
real, atual e certo, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano potencial
ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável.
Sobre o assunto, leciona Flávio Tartuce:
A perda de uma chance está caracterizada quando a pessoa vê frustrada uma expectativa, uma
oportunidade futura, que, dentro da lógica do razoável, ocorreria se as coisas seguissem o seu curso
normal. A partir dessa ideia, como expõem os autores citados, essa chance deve ser séria e real.
Buscando critérios objetivos para a aplicação da teoria, Sérgio Savi leciona que a perda da chance
estará caracterizada quando a probabilidade da oportunidade for superior a 50% (cinquenta por
cento). (Manual de direito civil: volume único. 8ª ed. rev., atual. e ampl. em ebook. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2018, p. 530)

A este respeito, o Superior Tribunal de Justiça entende que “a chamada teoria da


perda da chance, de inspiração francesa e citada em matéria de responsabilidade civil, aplica-se aos casos
em que o dano seja real, atual e certo, dentro de um juízo de probabilidade, e não de mera possibilidade,
porquanto o dano potencial ou incerto, no âmbito da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável
(REsp 1.104.665/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, DJe de 4.8.2009)” (AgInt no
AREsp 1333056/PR, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe
03/02/2020).
Em consonância, este Colegiado exige que haja efetiva demonstração do dano
decorrente da perda de uma chance, senão vejamos:

APELAÇÃO.DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS EMERGENTES E LUCROS


CESSANTES. ATUAÇÃO DE ADVOGADO EM PROCESSO TRABALHISTA. ALEGAÇÃO DE
DESÍDIA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL, RAZÃO PELA QUAL A AUTORA TERIA SAÍDO
PERDEDORA. ATO ILÍCITO QUE DEVE SER AFERIDO À LUZ DA TEORIA DA PERDA DE UMA
CHANCE. PROBABILIDADE DE ÊXITO NÃO VERIFICADO. INEXISTÊNCIA DO DEVER DE
INDENIZAR. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
(TJPR - 10ª C.Cível - 0013705-62.2018.8.16.0083 - Francisco Beltrão - Rel.: DESEMBARGADORA
ANGELA KHURY - J. 16.11.2020) (grifei)

APELAÇÃO CÍVELE RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E


MORAIS. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS PARA A PROPOSITURA
DE DEMANDA TRABALHISTA. SENTENÇA QUE JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES OS
PEDIDOS INICIAIS. RECURSOS INTERPOSTOS POR AMBAS AS PARTES. ADVOGADOS RÉUS
QUE APRESENTARAM SOMENTE A FOLHA DE ROSTO DA PETIÇÃO INICIAL NA ESFERA
TRABALHISTA. EMENDA REALIZADA INTEMPESTIVAMENTE. SENTENÇA NA JUSTIÇA
ESPECIALIZADA QUE RECONHECEU A PRESCRIÇÃO. PEDIDO DE CONDENAÇÃO DOS
DEMANDADOS AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO PELA FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. NÃO COMPROVAÇÃO DA
REAL CHANCE DE ÊXITO CASO A PETIÇÃO INICIAL TIVESSE SIDO PROTOCOLADA EM SUA
INTEGRALIDADE. PEÇA INAUGURAL DA DEMANDA CÍVEL QUE NÃO CONTÉM
FUNDAMENTAÇÃO A RESPEITO. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. DANO MORAL. “QUANTUM
INDENIZATÓRIO”. MAJORAÇÃO OU REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. VALOR ADEQUADO AO
CASO. ATENÇÃO AO CARÁTER INDENIZATÓRIO E EDUCATIVO DA CONDENAÇÃO.
REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS SUCUMBENCIAL. POSSIBILIDADE. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS
RECURSAIS. ART. 85, §11, DO CPC/2015.APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E
DESPROVIDA.RECURSO ADESIVO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJPR - 10ª C.Cível - 0000868-30.2018.8.16.0194 - Curitiba - Rel.: DESEMBARGADOR
GUILHERME FREIRE DE BARROS TEIXEIRA - J. 13.07.2020) (grifei)

Cabe examinar, portanto, se o alegado prejuízo suportado pela autora pode ser
considerado real, atual e certo.
Do que se extrai dos autos, a partir da assembleia geral realizada em 13.08.2019, a
apelante ficou impossibilitada de locar seu apartamento por temporada (mov. 1.8).
Ela demonstrou que, entre 10.05.2019 e 19.08.2019, locou o apartamento por curtos
períodos onze vezes (mov. 1.12). Todavia, tal fato, por si só, não é suficiente para presumir que o imóvel
seria alugado outras vezes após o período da proibição determinada pelo condomínio.
Com efeito, o que há, neste caso, é a eventual possibilidade de que a autora locasse o
apartamento outras vezes através da plataforma Airbnb, não havendo comprovação da chance real e séria
de que ele continuaria a ser reservado durante o período de proibição, especialmente porque, no documento
de mov. 1.12, só há uma reserva datada após a assembleia realizada no dia 13.08.2019, não havendo
notícia, ainda, de que a demandante cancelou a referida reserva.
Além disso, o réu comprovou que a apelante locou o imóvel em janeiro de 2020 (mov.
31.3), o que foi por ela confirmado nas razões recursais, nas quais afirmou que a locação foi pelo período de
30 meses (fl. 05 – mov. 75.1), de modo que ela não deixou de auferir lucros com o apartamento, senão no
curto período entre setembro e dezembro de 2019.
Desse modo, não há como responsabilizar o apelado pela perda de uma chance, a
qual pressupõe razoável, séria e real oportunidade perdida pela parte, o que não restou satisfatoriamente
comprovado nos autos, já que a locação por temporada do apartamento por terceiros depende de diversos
fatores, inclusive sazonais, e, no caso, não há demonstração de nenhuma proposta perdida ou não aceita
pela recorrente.
Corroborando este entendimento, colaciono o seguinte aresto:

RECURSO DE APELAÇÃO– AÇÃO DE EXTINÇÃO DE CONDOMÍNIO CUMULADA COM PERDAS


E DANOS – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA – RECURSO DA AUTORA –
INSURGÊNCIA QUANTO À NÃO APLICAÇÃO DOS EFEITOS DA REVELIA – REJEITADA –
INCIDÊNCIA DO ART. 349 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – REQUERIDO QUE, MESMO
REVEL, MANIFESTOU-SE TEMPESTIVAMENTE SOBRE AS PROVAS QUE PRETENDIA
PRODUZIR – MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA REVELIA – EXEGESE DO ART. 345, INCISO IV, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – CONDENAÇÃO DO RECORRIDO POR ABUSO DE DIREITO E
INDENIZAÇÃO PELA PERDA DE UMA CHANCE – NÃO CABIMENTO – PROVAS DOCUMENTAL
E TESTEMUNHAL EMPRESTADA – FRAGILIDADE – NÃO DEMONSTRAÇÃO DE QUE O
INSUCESSO NA VENDA OU ALUGUEL DO IMÓVEL OCORREU EM FUNÇÃO DA CONDUTA DO
APELADO – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO QUANTO À EXISTÊNCIA DE PROPOSTAS
CONCRETAS DE COMPRA OU LOCAÇÃO DO BEM – REQUERENTE QUE NÃO CUMPRIU COM
O ÔNUS LHE IMPOSTO PELO ART. 373, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL –
SUCUMBÊNCIA – REDISTRIBUIÇÃO – POSSIBILIDADE – AUTORA QUE SAGROU-SE
VENCEDORA EM 50% (CINQUENTA POR CENTO) DOS PEDIDOS FORMULADOS NA PETIÇÃO
INICIAL – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO
(TJPR - 18ª C.Cível - 0001213-19.2017.8.16.0133 - Pérola - Rel.: DESEMBARGADORA DENISE
KRUGER PEREIRA - J. 16.12.2019) (grifei)

Consequentemente, deve ser mantida incólume a r. sentença.

Honorários recursais

Por fim, em atenção ao disposto no art. 85, § 11, do CPC/2015, fixo honorários
recursais em 5% sobre o valor atualizado da causa, a cargo da apelante.

3. CONCLUSÃO.

Ante o exposto, voto pelo conhecimento e desprovimento do apelo interposto pela


demandante, fixando honorários recursais, nos termos da fundamentação.

4. DECISÃO.

ACORDAM os integrantes da Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado


do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e negar provimento à apelação cível, nos termos da
fundamentação.
Presidiu a sessão o Desembargador Guilherme Freire Teixeira e dela participaram e
acompanharam o voto do Relator o Juiz Substituto em Segundo Grau Alexandre Kozechen e o
Excelentíssimo Senhor Desembargador Luiz Lopes.

Curitiba, 19 de agosto de 2021.

GUILHERME FREIRE TEIXEIRA


Desembargador Relator

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