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Manual

MÓDULO 4 | UNIDADE 3: NATUREZA DO CRIME

Diana Saraiva
EMPRESA DE FORMAÇÃO X, SA | CURSO DE SEGURANÇA PRIVADA
Manual Natureza do Crime

Índice

Nota prévia................................................................................................................................2
Crimes públicos.........................................................................................................................2
Crimes semi-públicos...............................................................................................................3
Crimes particulares...................................................................................................................4

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Manual Natureza do Crime

1. Nota prévia

Para apuramento da natureza de um crime dever-se-á consultar a lei


substantiva: quando a lei utiliza o termo “queixa”, o crime é semi-público; quando
utiliza a expressão “acusação particular”, o crime é particular; quando não utiliza
nenhuma daquelas expressões, o crime é público. Vejamos os seguintes exemplos:
 “O procedimento criminal depende de queixa” – art. 153.º, n.º 2 do CP (crime de
ameaça) – crime semi-público;
 “O procedimento criminal pelos crimes previstos no presente capítulo depende de
acusação particular” – art. 188.º, n.º 1 do CP (crimes de difamação e de injúria) –
crime particular;
 “Quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8 a 16 anos” – art. 131.º do
CP (crime de homicídio) – crime público.

2. Crimes públicos

Nos crimes públicos, o MP, depois de tomar conhecimento da notícia do crime,


promove, obrigatória e oficiosamente (mesmo contra a vontade do titular dos
interesses ofendidos), o processo penal, dando início à fase de inquérito – arts. 48.º, 1.ª
parte e 262.º, n.º 2 do CPP.
O MP adquire a notícia de crime por conhecimento próprio, por intermédio dos
órgãos de polícia criminal ou mediante denúncia (art. 241.º do CPP). Qualquer pessoa
pode denunciar um crime público, todavia não é obrigada a fazê-lo. Já sobre as
entidades policiais e funcionários (na aceção do art. 386.º do CP), impende a obrigação
de denunciar os crimes de que tomarem conhecimento no exercício das suas funções e
por causa delas – arts. 242.º e 244.º do CPP.
Depois de proceder às diligências de investigação, o MP decide, com plena
autonomia, se o arguido deverá ou não ser submetido a julgamento.
O legislador atribui ao MP a titularidade da ação penal, competindo-lhe
colaborar com o tribunal na descoberta da verdade e na realização do direito,
obedecendo em todas as intervenções a critérios de estrita objetividade e legalidade –
arts. 53.º, n.º 1 do CPP e 219.º, n.º 1 da CRP.

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A falta de promoção do processo pelo MP, nos termos do art. 48.º do CPP,
constitui nulidade insanável, que deve ser oficiosamente declarada em qualquer fase
do procedimento – art. 119.º, al. b) do CPP.
Não sendo obrigatório, o ofendido pode constituir-se assistente, assumindo a
posição de colaborador do MP, a cuja atividade subordina a sua intervenção no
processo.
Deduzindo o MP acusação por crime público, o assistente poderá também
deduzir acusação pelos factos acusados pelo MP, por parte deles ou por outros que não
importem uma alteração substancial1 daqueles – art. 284.º, n.º 1 do CPP. A acusação do
assistente por crime público é facultativa e, quando deduzida, é sempre subordinada à
do MP – art. 69.º, n.º 1 do CPP.
Exemplos de crimes públicos previstos no CP: homicídio (art. 131.º), incitamento ou
ajuda ao suicídio (art. 135.º), infanticídio (art. 136.º), participação em rixa (art. 151.º),
sequestro (art. 158.º), roubo (art. 210.º), extorsão (art. 223.º), bigamia (art. 247.º).

3. Crimes semi-públicos

Nos crimes semi-públicos, a promoção do processo penal por parte do MP está


dependente da apresentação de queixa por parte do ofendido ou de outras pessoas a
quem a lei confere esse direito – arts. 49.º, n.º 1 do CPP e 113.º do CP.
Após a apresentação de queixa, o MP dá início à fase de inquérito (arts. 262.º e
segs. do CPP), desenvolvendo-se toda a tramitação a partir daí como se o crime fosse
público.
Também nos crimes desta natureza o ofendido pode constituir-se assistente,
não sendo, porém, obrigatório fazê-lo – art. 68.º do CPP.
Se o MP deduzir acusação por um crime semi-público, o assistente poderá
também deduzir acusação pelos factos acusados pelo MP, por parte deles ou por
outros que não importem uma alteração substancial daqueles – art. 284.º, n.º 1 do CPP.
Assim, tal como nos crimes públicos, a acusação do assistente é facultativa e, quando
deduzida, é sempre subordinada à do MP.
Exemplos de crimes semi-públicos previstos no CP: ofensa à integridade física simples
(art. 143.º, n.º 2), ameaça (art. 153.º, n.º 2), violação do domicílio ou perturbação da vida
privada (arts. 190.º e 198.º), introdução em lugar vedado ao público (arts. 191.º e 198.º),
1
«Alteração substancial dos factos» aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de um
crime diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis – art. 1.º, al. f) do CPP.

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violação de correspondência ou de telecomunicações (arts. 194.º e 198.º), gravações e fotografias


ilícitas (art. 199.º, n.º 3), furto (art. 203.º, n.º 3), dano (art. 212.º, n.º 3), burla (art. 217.º, n.º
3).

4. Crimes particulares

Os crimes particulares são aqueles cujo procedimento exige obrigatoriamente:


i. Apresentação de queixa pelo ofendido ou por outras pessoas a quem a lei confere
esse direito – arts. 50.º, n.º 1 do CPP e 113.º e 117.º do CP;
ii. Manifestação da intenção de constituição de assistente – art. 246.º, n.º 4, 2.ª parte
do CPP;
iii. Constituição de assistente – arts. 50.º, n.º 1, 68.º, n.º 2 e 246.º, n.º 4 do CPP;
iv. Dedução de acusação particular – arts. 50.º, n.º 1 e 285.º, n.º 1 do CPP.
A exigência de queixa e de acusação particular nos crimes particulares justifica-
se pela diminuta gravidade da infração e pela especial natureza dos valores em causa.
Após a apresentação de queixa, inicia-se a fase de inquérito (arts. 262.º e segs.
do CPP), finda a qual, diversamente do que acontece nos crimes públicos e semi-
públicos, o MP notifica o assistente (indicando se, durante o inquérito, foram
recolhidos indícios suficientes da verificação do crime e de quem foram os seus
agentes) para que este deduza acusação particular – art. 285.º, n.º 1 do CPP.
Depois de o assistente apresentar a acusação particular, o MP poderá acusar
pelos menos factos, por parte deles ou por outros que não importem uma alteração
substancial daqueles – art. 285.º, n.º 4 do CPP. Aqui, é a acusação do MP que se
encontra subordinada à do assistente.
Exemplos de crimes particulares previstos no CP: difamação (arts. 180.º e 188.º), injúria
(arts. 181.º e 188.º), ofensa à memória de pessoa falecida (arts. 185.º e 188.º), dano (art. 212.º,
n.º 4), alteração de marcos (art. 216.º, n.º 3), burla (art. 217.º, n.º 4), burla para obtenção de
alimentos, bebidas ou serviços (art. 220.º, n.º 3), infidelidade (art. 224.º, n.º 4).

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