Podemos imaginar um número infindável de situações, de objetivos ou atividades de aprendizagem para
um dado aluno. É por isso necessário ter critérios válidos de seleção e de estabelecimento de prioridades. Para questionarmos esta necessidade de usar critérios adequados de seleção e de priorização das atividades a aprender por um dado aluno, vamos apresentar algumas situações concretas sobre as quais nos devemos pronunciar quanto à sua adequabilidade. Situação 1: Um grupo de 4 alunos com deficiência intelectual acentuada, cujas idades variam entre os 15 e os 18 anos, encontra-se sentado numa mesa semicircular frente a uma terapeuta da fala. Esta emite o som da letra "S" e vai apontando para cada um dos alunos solicitando que cada um deles reproduza o som por ela emitido. Os alunos fazem alguns sons, babam-se ou deitam a língua de fora. A justificação da terapeuta: seguir um manual de treino da fala. Situação 2: Uma aluna com deficiência intelectual acentuada e alguns problemas de mobilidade e domínio do movimento dos braços e mãos, com a idade de 17 anos, está a ser ensinada por uma professora, na área de atividades da vida diária, a ser capaz de agarrar um ovo feito em plástico e a colocá-lo num recipiente próprio de um pequeno frigorífico de imitação. A justificação da professora: na sua formação, foi ensinada que se deveria fazer deste modo. Situação 3: A uma aluna de 9 anos de idade com deficiência intelectual grave, a professora está a procurar que ela aprenda a seguir visualmente o percurso de uma bola a rolar sobre a mesa. A bola é posta a rolar e fazem-se diversos incentivos à aluna para olhar e a seguir visualmente. A aluna de forma inconsistente ora olha a bola, ora se fixa em outros aspetos do ambiente da sala. A justificação da professora: este tipo de atividade corresponde à sua idade mental. Situação 4: Um aluno com 13 anos de idade, autista e com deficiência intelectual acentuada, é levado a passear num carrinho, pela sua professora, todas as manhãs pelas 10 horas. O passeio decorre nos corredores e salas da sua escola especial. A justificação do diretor e aceite pela professora: uma interrupção das atividades reduz a sua necessidade de autoestimulação. Situação 5: Um aluno de 14 anos de idade e com deficiência intelectual acentuada, com síndrome de Down e que vive com a sua mãe viúva, a frequentar uma escola especial, é ensinado pela sua professora a identificar os membros da equipa desportiva da sua cidade através da cor e dos números das camisolas. Justificação da professora: o aluno deve saber quem aplaudir quando vai ao estádio ver os jogos de futebol. Situação 6: Uma aluna de 15 anos de idade e com uma deficiência intelectual acentuada, com alguns problemas de comportamento, tal como, fechar-se na casa de banho após discussão com familiares ou professores, vive com os seus pais e frequenta uma escola especial. Nesta escola, o professor procura que a aluna seja capaz de comparar o seu peso e altura com as medições anteriores, o que faz todas as semanas. A justificação do professor: é necessário que a aluna aprenda a resolver operações matemáticas simples. Situação 7: Uma aluna de 14 anos de idade, com deficiência mental acentuada, comportamentos desajustados traduzidos em agressões verbais aos colegas e não cumprimento de regras, e com necessidade de medicamentação para controlar ataques epiléticos, frequenta uma escola do 2º ciclo regular com apoio de educação especial. Nesta escola um professor procura que a aluna identifique e verbalize quais as regras que deve cumprir com as pessoas com quem convive e com desconhecidos. A justificação do professor: esta atividade (verbalização das regras) fará com que a aluna melhore o seu relacionamento com os outros. Situação 8: Uma aluna de 13 anos de idade e com deficiência intelectual acentuada, tímida e que raramente convive com jovens da sua idade, vive só com a mãe e frequenta uma escola do 2º ciclo regular com apoio especial. Na escola a professora procura que a aluna aprenda a transcrever números de telefone para a sua agenda pessoal, números que lhe são ditos pelos colegas da turma. A justificação da professora: esta atividade facilita o relacionamento do aluno como outros colegas.
Fonte: Costa, A. M. B. (Coord.) (2000). Currículos Funcionais – Manual para a formação de docentes (pp. 143-144). Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.